ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 40º SEMANA DE ESTUDOS

 

Continuação do relato da Infância da Luisa Piccarreta

Agora, mais tarde, por volta dos doze anos, começou outro período da minha vida: comecei a ouvir a voz interna de Jesus, especialmente na Comunhão. Lembro que a primeira vez foi quando tinha nove anos, e no mesmo dia recebi o Sacramento do Santo Crisma.

"Portanto, então não raramente [Jesus] se fazia sentir em meu interior quando eu comungava. Às vezes eu ficava horas inteiras ajoelhada, quase imóvel, depois da Comunhão, e ouvia a voz interna dizendo; e agora ela me repreendia se eu não fui boa, cuidadosa e, se no decorrer do dia eu tinha me distraído algumas vezes, oh, como essa voz me repreendia, e acabou me dizendo: “Mas você me diz que me ama; e onde e isso é verdade?" Eu senti como se estivesse morrendo de dor ao ouvir isso, e prometi ficar mais atenta e Jesus acrescentou: "Vou ver, vou ver mesmo se é verdade esse novo propósito...!; Só palavras não são suficientes para mim, mas eu quero fatos!"

A comunhão tornou-se minha paixão predominante. Dentro acentuava todas as minhas afeições, eu tinha certeza que eu ouvi sobre isso Nosso Senhor; e quanto me custou ficar sem ele porque fui obrigada pela família a ir com eles para a fazenda e tive que passar longos meses sem missa e sem comunhão! Quantas vezes eu chorei quando vi árvores, flores, toda a Criação...! Eu disse a mim mesma: “As obras de Jesus elas estão ao meu redor; só Jesus não está comigo... Ah, fale comigo você, flor, você, sol, você, céu, você, água cristalina que flui no nosso lago, fale-me de Jesus; vocês são obras de suas mãos, dê-me notícias Dele ...! " E pareceu-me que todo Ele me falou. Cada coisa criada me falou de cada qualidade de

Jesus, e eu chorando porque não pude receber Aquele que todas as coisas que amavam e que sabiam tão bem contar sobre a beleza, o amor, a bondade de Jesus, chorei e comecei a ficar doente.

Até na meditação ouvi a voz de Jesus, mas às vezes eu sentia falta dele; em vez disso, na Comunhão, nunca. E quantas vezes, meditando, fiquei duas ou três horas sem conseguir me desapegar; como eu li o ponto e parei, então o ouvi a voz de Jesus em meu interior, que, fazendo-se passar por Mestre, me explicou a meditação.

Desde então, o amável Jesus me deu em meu interior lições sobre a cruz, sobre mansidão, sobre sua vida, seu nascimento... Ele disse: “Minha filha, sua vida deve estar entre nós na casa de Nazaré. Se você trabalha, se você reza, se você come, se você anda, você deve ter uma mão em Mim, a outra para nossa Mãe, e um olhar para São José, para ver se seus atos correspondem aos nossos, para que você possa dizer: 'Eu faço o meu modelo acima do que Jesus, a Mãe Celeste e São José fazem, e então eu o segui. Dependendo do modelo que Ele fez : ¨Eu quero você repetidora da minha minha Vida oculta; eu quero encontrar em ti as obras da minha mãe, as do meu querido São José e minhas próprias obras”.

Fiquei confusa e disse a Ele: “Meu amado Jesus, me eu não posso fazer". E Ele: “Minha filha, coragem, não desanimes; se você não sabe como fazer, peça-me para ensiná-la, e eu a marcarei imediatamente; Eu vou te dizer como fizemos, minhas intenções, o amor contínuo dos três, que eu era o mar e eles eram os rios que estavam sempre cheios, de modo que um transbordava no outro, tanto que tínhamos pouco tempo para conversar; pelo tanto que estavámos absorvidos no amor. Você vê o quão longe você está? Muito você tem que fazer para chegar até nós; Você deve ficar muito calada e atenta, e eu não quero você atrás, mas no meio de Nós¨

        Eu lembro, que muito menina, eu quase tive vontade de me fazer ser freira, e desde que fui para as freiras na escola, senti um afeto um pouco pressionado por elas, mas mesmo assim Eu queria, bem porque eu queria ser como uma delas; mas no meu interior senti Jesus me censurando por essa afeição, e enquanto prometia não amar outro além de Jesus, eu recairia novamente, e Jesus voltaria para me dar repreensões amargas. O único carinho que eu lembro, que senti na minha vida de uma forma especial, porque não senti depois mais amor com qualquer um. Que tirania é uma afeição natural e talvez até inocente, para o pobre coração humano! Eu me lembro disso com terror; censuras internas me puseram na cruz; parecia-me que minha afeição segurava Jesus na cruz, e Jesus, por sua vez, me punha na cruz, e por isso não gozei da verdadeira paz, porque é da natureza do amor humano lutar contra um pobre coração. Ter paz e amar as pessoas de um jeito especial, diferente que não existe no mundo, e se existe significa não ter consciência, e mesmo que fosse com um propósito santo ou indiferente.

Mas o abençoado Jesus fez isso parar imediatamente, e aqui está como.

Uma manhã pedi à minha mãe que me mandasse visitar a Superiora, e consegui-o com dificuldade e sacrifício. Como eu fui

pedi-lhes que deixassem a Superiora vir falar comigo, e depois disso me responderam que ela que estava muito ocupada e não podia vir; eu fiquei como ferida ao ouvir isso. Fui à igreja e desabafei minha dor com Jesus, e Ele se arriscou para me fazer parar. Ele me falou de seu Amor e da inconstância do amor das criaturas, e como ele absolutamente queria que eu terminasse com esse desejo, me dizendo que:

"Quando um coração não está vazio, eu o recuso, nem posso começar o trabalho que planejei fazer no fundo da alma ... "Mas quem pode dizer tudo o que ele me disse no meu interior? Lembro-me que acabou ali, e meu coração permaneceu destemido, sem saber amar mais ninguém nem nada.

Então eu sempre orei a Jesus para que Ele me fizesse vir para

para me tornar uma freira, e muitas vezes eu pedia a Ele, quando eu O sentia no meu interior, se minha vocação religiosa se realizasse, e Jesus me assegurou dizendo:

Sim, você vou te contentar; verá que será freira”. Fiquei toda feliz em ser assegurado por Jesus, e tentei arranjar a família para obter o consentimento, o que era contrário, especialmente a

mãe; ela veio chorar e me disse que me teria feliz se eu quisesse me tornar uma freira de clausura, mas de freiras ativas, ela nunca me deixaria ir.

Mas para falar a verdade, eu queria me tornar uma freira ativa, porque aquelas que eu conhecia tinham sido minhas professoras, mas minha longa doença veio e pôs fim à minha vocação;

E muitas vezes eu reclamei com Jesus e disse a Ele: “E ainda você me contou uma mentira, você me fez uma piada, me prometendo que eu deveria me tornar freira!" E muitas vezes Jesus me assegurou que estava me dizendo a verdade, dizendo-me: “Não sei enganar nem zombar; a ligação que eu estava fazendo para você era mais especial: quem nunca, tornando-se freira, mesmo nas religiões mais estritas, não pode andar, não tem ar, não gosta de nada?

E quantas vezes nas religiões eles deixam o mundinho entrar e sim eles têm um grande momento deles? E eu permaneço como se estivesse de lado. Ah, minha filha, quando chamo um estado, sei como realizar minha chamada; o lugar me é indiferente, a vestimenta religiosa que conheço para Mim não diz nada quando na substância da alma é que o que teria que ser se ela tivesse entrado na religião; e, portanto, te digo isso: você é e será a verdadeira freira do meu Coração!"

 

2-42
Junho 23, 1899

Vai ao confessor com Jesus e pede por ele.

(1) Tendo ouvido a Santa Missa e recebido a comunhão, o meu amado Jesus fazia-se ver de
dentro do meu coração, depois senti-me a sair de mim mesma, mas sem Jesus. Vi o meu
confessor, e como ele me tinha dito que depois da comunhão viria Nosso Senhor, e que lhe
pedisse por ele, então assim que o vi disse-lhe: "Pai, o senhor disse-me que Jesus devia vir e
não veio". E Ele me disse:
(2) "Porque não o sabes encontrar, por isso dizes que não veio, olha bem, pois está em teu
interior".
(3) Olhei em mim e vi os pés de Jesus que saíam de meu interior, logo os tomei com a mão e
tirei a Jesus, abracei-o e vendo-o com a coroa de espinhos na cabeça a tirei e a dei na mão ao
confessor dizendo-lhe que a cravasse em minha cabeça e assim o fez, mas o que, por quanto
força fazia não conseguia fazer penetrar nem uma só coluna; eu lhe disse: "Mais forte, não
tema que eu vá sofrer muito, porque como você vê está Jesus que me dá a força". Mas por
mais que eu tentasse, tudo era inútil, então me disse: "Não está em minhas forças o poder
fazer isto, porque sendo osso o que devem penetrar estes espinhos, eu não os tenho".
(4) Então dirigi-me ao meu doce Jesus dizendo: "Tu vês que o pai não sabe pô-la, introduz-a
um pouco Tu mesmo". E Jesus estendeu as suas mãos e, num instante, fez penetrar na minha
cabeça todos aqueles espinhos, com indizível dor e contentamento.
(5) Depois disto, juntamente com o confessor, pedimos a Jesus que derramasse em mim a sua
amargura, para livrar as nações de tantos flagelos que lhes estão ordenados, como hoje, que
estava preparada uma saraivada um pouco longe de nós, então o Senhor, para condescender
com as nossas orações, derramou um pouco.
(6) Além disso, como eu continuava a ver o confessor, comecei a implorar a Jesus por ele,
dizendo: "Meu bom e amado Jesus, peço-te que concedas a graça ao meu confessor, de fazer
tudo teu, segundo o teu coração, e ao mesmo tempo dá-lhe a saúde corporal. Tu viste como
ele cooperou comigo para te aliviar, tanto a cabeça dos espinhos, como para te fazer derramar
as tuas amarguras, e se não conseguiu cravar-me os espinhos na cabeça, não foi para não te
aliviar, nem por sua vontade, mas porque não tinha força; por isso, também por isto deves me
escutar; assim que me diz, ó meu só e único Bem, o farás bem tanto na alma como no corpo?"
(7) Mas Jesus me ouvia e não me respondia, e eu mais me esforçava em rogar-lhe dizendo:
"Esta manhã não te deixarei nem deixarei de rogar se não me der sua palavra de que me
ouvirá favoravelmente no que te peço para ele".
(8) Mas Jesus não dizia uma palavra. De repente nos encontramos rodeados de pessoas,
estas pareciam que se sentavam ao redor de uma mesa, comendo, e nela também estava
minha porção, e Jesus me disse:
(9) "Minha filha, tenho fome".
(10) E eu: "Dou-te a minha parte, não estás contente?"
(11) E Jesus: "Sim, mas não quero que vejam que estou aqui".
(12) E eu: "Está bem, farei ver que a tomo para mim, e sem que se dêem conta te o darei". E
assim o fizemos.
(13) Logo depois, Jesus, levantando-se e pondo os seus lábios à minha frente, começou a
fazer um ruído com a sua boca, como um som de trombeta, todas aquelas nações
empalideciam e tremiam, dizendo entre elas: "O que acontece, o que acontece? Ah Agora nós
vamos morrer!"
(14) Eu disse-lhe: "Meu Senhor Jesus, que fazes? Como, até agora não queria ser visto e logo
se põe a fazer ruído, fique quieto, fique quieto, não faça que as pessoas tenham medo, não vê
como todos se assustam?"

(15) E Jesus: "Agora é nada, o que será quando de repente fizer soar mais forte? Será tal o
temor do que serão presas, que muitos e muitos deixarão a vida".
(16) E eu: "Meu Jesus adorável, que dizes? Sempre nisso, que queres fazer justiça, mas não,
misericórdia, misericórdia, peço-te para o teu povo".
(17) Depois, tomando seu aspecto doce e benigno, e voltando a ver o confessor, comecei de
novo a importuná-lo e Jesus me disse:
(18) "Farei com seu confessor como com aquela árvore enxertada, que não se reconhece mais
a árvore velha, tanto na alma como no corpo, e em penhor disto te dei em suas mãos como
vítima, para que se sirva disso".

3-42
Fevereiro 23, 1900

O sinal mais certo para saber se um estado é a Vontade de Deus.

(1) Esta manhã depois de ter perdido quase a esperança de que o bendito Jesus viesse, de
improviso veio e me renovou as penas da crucificação e me disse:
(2) "O tempo chegou, o fim se aproxima, mas a hora é incerta".
(3) E eu, sem prestar atenção ao significado das palavras que dizia, fiquei em dúvida se devia
atribuí-lo à minha completa crucificação ou bem aos castigos, e disse-lhe: "Senhor, quanto temo
que o meu estado não seja Vontade de Deus".
4) E Ele: "O sinal mais certo para saber se é Minha vontade um estado, é que se sente a força para
sustentar esse estado".
(5) E eu: "Se fosse tua Vontade não sucederia esta mudança, que não vens como antes".
(6) E Ele: "Quando uma pessoa se torna familiar numa família, não se usam tanto essas
cerimônias, essas considerações que se usavam antes quando era estranha. Assim faço Eu. No
entanto, isto não é sinal que seja vontade dessa família não querer tê-la com eles, nem que não a
amem mais que antes. Por isso fica quieta, deixa-me fazer a Mim, não queiras atormentar-te o
cérebro nem perturbar a paz do coração; quando chegar o tempo oportuno conhecerás o meu
agir".

4-46
Janeiro 6, 1901

Jesus comunica-se aos três magos com o amor, com a beleza e com a potência.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, parecia-me ver quando os santos Magos chegaram à
caverna de Belém; assim que chegaram à presença do Menino, Ele se deleitou em fazer brilhar
externamente os raios de sua Divindade, comunicando-se aos Magos em três modos: Com o amor,
com a beleza e com a potência. De modo que ficaram arrebatados e prostrados ante a presença do
Menino Jesus; tanto, que, se o Senhor não tivesse retirado a seu interior os raios de sua Divindade,
teriam permanecido ali para sempre sem poder se mover mais. Então, assim que o Menino retirou
a Divindade, voltaram em si mesmos os santos Magos, sacudiram-se estupefatos ao ver um
excesso de amor tão grande, porque nessa luz o Senhor lhes tinha feito compreender o mistério da
Encarnação. Depois levantaram-se e ofereceram os dons à Rainha Mãe, e Ela falou longamente
com eles, mas não sei dizer tudo o que disse, só recordo que lhes inculcou fortemente não só sua
salvação, senão que tomassem a peito a salvação de seus povos, não tendo medo nem mesmo de
expor suas vidas para obter a tentativa.
(2) Depois disso eu me aposentei em mim mesma e me encontrei com Jesus, e Ele queria que eu
lhe dissesse alguma coisa, mas eu parecia tão ruim e confusa que não me atrevia a dizer-lhe nada;
então vendo que não dizia nada, Ele mesmo continuou falando sobre os Santos magos me
dizendo:
(3) "Ao ter-me comunicado em três modos aos Magos, obtive três efeitos, porque jamais me

comunico às almas inutilmente, senão que sempre recebem algum proveito. Então, comunicando-
me com o amor obtiveram o desapego de si mesmos, com a beleza obtiveram o desprezo das

coisas terrenas, e com a potência ficaram seus corações atados a Mim, e obtiveram a coragem de
arriscar o sangue e a vida por Mim".
(4) Depois acrescentou: "E tu, o que queres? Diz-me, amas-me muito? Como gostarias de me
amar?".
(5) E eu, não sabendo o que dizer, aumentando a minha confusão, disse: "Senhor, não quero outra
coisa que a Ti, se me perguntares se eu te amo, não tenho palavras para saber o que dizer, só sei
dizer que sinto esta paixão de que ninguém me pode ganhar a amar-te, e que eu seja a primeira a
amar-te acima de todos, e que nenhum me possa superar, mas isto ainda não me agrada, para
estar contente quereria amar-te com teu mesmo amor, e assim poder amar-te como te amas Tu
mesmo. ¡ Ah sim! Só então cessariam meus temores sobre o amor".
(6) E Jesus, contente, pode-se dizer dos meus desatinos, estreitou-me tanto a Ele, de modo que
me via dentro e fora transfundida n'Ele, e comunicou-me parte do seu amor. Depois disto voltei em
mim mesma, e me parecia que por quanto amor me é dado, tanto possuo a meu Bem; e se pouco
o amo, pouco o possuo.

6-41
Junho 3, 1904
Quem se deixa dominar pela cruz, destrói na alma três reinos maus que são: o mundo, o demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são:
o reino espiritual, o divino e o eterno.

(1) Esta manhã, como não vinha o bendito Jesus, sentia-me toda oprimida e cansada. Depois, ao
vir disse:
(2) "Minha filha, não queiras cansar-te no sofrimento, faz como se a cada instante começasses a
sofrer, porque quem se deixa dominar pela cruz destrói na alma três reinos maus, que são: o
mundo, o demônio e a carne, e estabelece outros três reinos bons que são: o reino espiritual, o
divino e o eterno".
(3) E desapareceu.

7-45
Setembro 18, 1906

A paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus.

(1) Depois de ter esperado muito, sentia-me toda oprimida e um pouco perturbada, pensando no
por que não vinha meu adorável Jesus. Então veio e me disse:
(2) "Minha filha, a paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus, assim que uma alma em paz é
sempre luz, e sendo luz está sempre unida à Luz eterna, da qual toma sempre nova luz para
poder dar também luz aos demais; assim se queres sempre nova luz, esteja em paz”.

9-44
Setembro 3, 1910

O que Jesus faz a uma alma, o faz com efeitos a todos.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o bendito Jesus veio como menino; me beijava, me
abraçava, me acariciava, e muitas vezes voltava com beijos e abraços. Eu me maravilhava de que
Jesus havia chegado ao excesso de entreter-se comigo, vilíssima, com beijos e abraços. Eu lhe
correspondia, mas timidamente, e Jesus com uma luz que saía dele me fez compreender que o vir,
é sempre um grande bem, não só para mim mas para o mundo inteiro, porque ao amar e
desafogar-se com uma alma, o faz com toda a família humana, porque naquela alma há tantos
vínculos que unem a todos: vínculos de semelhança, vínculos de paternidade e de filiação, vínculos
de fraternidade, vínculos por ter saído e ter sido criados todos por suas mãos, vínculos por ter sido
todos redimidos por Ele, e porque nos vê marcados com o seu sangue. Então, vendo tudo isso,
amando e favorecendo uma alma, os outros são amados e favorecidos, se não em tudo, pelo
menos em parte. Então, vindo a mim Jesus bendito, e encontrando-nos em tempo de castigos
beijando-me, abraçando-me, acariciando-me e olhando para mim, queria fazer isto a todos os
outros e evitá-los, se não de todo, pelo menos em parte, os flagelos.
(2) Depois disto via um jovem, creio que era um anjo que ia marcando aqueles que deviam ser
tocados pelo castigo. Parecia que era um grande número de pessoas.

10-43
Novembro 18, 1911

Em que consiste a verdadeira crucificação. A crucificação exterior durou apenas três horas,
mas a crucificação de todas as partículas de seu Ser, e a crucificação de sua vontade humana na Vontade do Pai, durou toda a Vida.

(1) Lamentando-me com Jesus de suas privações, especialmente nestes dias em que nem sequer
me fazia ver nada, o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, aqui estou em teu coração, e se não te faço ver nada é porque deixei o mundo em
poder de si mesmo, e tendo me retirado deles, te retirei também a ti, e por isso nestes dias não vê
o que acontece, mas para ti estou sempre atento a ver e escutar que queres, você me pediu
alguma coisa? Tiveste necessidade dos meus ensinamentos e Eu não te dei ouvidos? Estou a
ajudar-te tanto, que te pus em condições de não sentir necessidade de nada, a tua única
necessidade é o meu Querer e que se cumpra em ti a consumação do amor. Minha Vontade é
como uma mola, e por quanto mais a alma penetra dentro de meu Querer, mais esta mola de
minha Vontade se amplia, e a alma toma mais parte em todos meus bens, então, neste período da
sua vida, quero que você esteja atenta a formar a perfeita consumação de você no amor".
(3) E eu: "Mas doce amor meu, eu temo muito pelo meu estado presente, meu amor, que mudança!
Tu sabes, também o sofrimento me deixou, parece que tem medo de vir a mim, não é este um sinal
funesto?"
(4) E Jesus: "O que tu dizes é falso filha minha, se Eu não te tivesse como atada tu te levantarias, o
que significa esse não poder mover-te por ti mesma? Ter necessidade dos outros em suas coisas?
Não significa que tenho você amarrada? Havendo-te libertado das amarras da minha presença, o
meu amor usa outros artifícios para te manter atada Comigo, e deves saber que a verdadeira
crucificação não consiste em ser crucificada nas mãos e pés, senão em todas as partículas da
alma e do corpo, agora tenho mais crucificação do que antes. Para mim, quanto tempo durou a
crucificação exterior nas mãos e nos pés? Apenas três horas, mas a crucificação de todas as
partículas do meu Ser, e a crucificação da minha vontade na Vontade do Pai duraram toda a minha
vida. Não queres imitar-me também nisto? Ah! Se Eu quisesse te libertar em verdade, você ficaria
bem, como se não tivesse estado na cama nem sequer um dia. Mas te prometo que voltarei logo".

11-45
Janeiro 22,1913

As Três Paixões de Jesus.

(1) Estava pensando na Paixão de meu sempre amável Jesus, especialmente no que sofreu no
jardim, então me encontrei toda imersa em Jesus e Ele me disse:
(2) "Minha filha, minha primeira Paixão foi o amor, porque o homem ao pecar, o primeiro passo
que dá no mal é a falta de amor, portanto, faltando o amor precipita-se na culpa; por isso, o Amor
para refazer-se em Mim desta falta de amor das criaturas, fez-me sofrer mais que todos, quase
me triturou mais que sob uma prensa, deu-me tantas mortes por quantas criaturas recebem a
vida.

(3) O segundo passo que acontece na culpa é defraudar a glória de Deus, e o Pai para refazer-
se da glória tirada pelas criaturas fez-me sofrer a Paixão do pecado, isto é, cada culpa me dava

uma paixão especial; se a paixão foi uma, O pecado, ao contrário, deu-me tantas paixões por
todas as culpas que serão cometidas até ao fim do mundo; e assim recusou a glória do Pai.
(4) O terceiro efeito que produz a culpa é a debilidade no homem, e por isso quis sofrer a Paixão
pelas mãos dos judeus, esta é a minha terceira Paixão, para refazer o homem da força perdida.
(5) Assim que com a Paixão do amor se refez e se pôs em justo nível o Amor, com a Paixão do
pecado se refez e se pôs a nível a glória do Pai, com a Paixão dos judeus se pôs a nível e se
refezu a força das criaturas. Tudo isto sofri no jardim, foi tal e tanto o sofrimento, as mortes que
sofri, os espasmos atrozes, que teria morrido de verdade se a Vontade do Pai tivesse chegado a
que Eu morresse".
(6) Depois, continuei a meditar, quando o meu amável Jesus foi lançado pelos inimigos na
torrente de Cedron. O bendito Jesus se fazia ver em um aspecto que movia a piedade, todo
banhado com aquelas águas imundas e me disse:
(7) "Minha filha, ao criar a alma a vesti de um manto de luz e de beleza; o pecado tira este manto
de luz e de beleza e a cobre com um manto de trevas e de feiúra, tornando-a repugnante e
nauseante, e Eu para tirar este manto tão nauseante que o pecado põe na alma, permiti que os
judeus me jogassem nesta torrente, onde fiquei como que coberto dentro e fora de mim, porque
estas águas pútridas me entraram até as orelhas, nos narizes, na boca, tanto, que os judeus
tinham asco de me tocar. ¡ Ah, quanto me custou o amor das criaturas, até me tornar nauseante
a mim mesmo!"

42. A morte de José. Jesus é a paz de quem sofre e de quem morre.

5 de fevereiro de 1944, 13:30 horas.

42.1Poderosamente, esta visão penetra em mim, enquanto eu estou
procurando corrigir o fascículo, como também o que me foi ditado sobre as
falsas religiões de agora. Vou descrevê-la, à medida que a vou vendo.
Vejo o interior de uma oficina de carpinteiro. Parece-me que duas das
paredes da oficina são formadas por paredes rochosas, como se tivesse sido
aproveitada uma gruta natural, para com ela formar os cômodos da casa.
Aqui estão justamente os lados norte e oeste, que são de rocha, enquanto que
as duas outras paredes, do sul e do leste, são de reboco, como as nossas.
No lado norte, há uma curva côncava na superfície da rocha, que foi
escavada para servir de lareira rudimentar, sobre a qual está uma panelinha
com verniz ou cola, não sei bem. A lenha, queimada durante anos naquele
lugar, tingiu tanto a parede, que ela parece alcatroada, de tão preta. Um
buraco na parede, transposto por uma espécie de grande telha inclinada,
fazia-se de chaminé aspirando a fumaça da lenha. Mas este buraco deve ter
cumprido mal a sua tarefa, porque as outras paredes também estão muito
enegrecidas, e no momento uma nuvem de fumaça, está sendo espalhada pela
oficina toda.
42.2 Jesus trabalha com umas grandes tábuas. Está aplainando-as e depois
as encosta na parede, atrás de Si. A seguir, pega uma espécie de banco, que
está preso dos dois lados no torno, o solta, olha se o trabalho está certo,
esquadreja-o em todos os sentidos e, em seguida, vai até a chaminé, pega a
panelinha, procurando algo dentro dela, com um pauzinho ou pincel, não sei:
só vejo a parte que ficou fora, parecida com um cabinho.
Jesus está com uma veste cor de avelã escura, e sua túnica é um tanto
curta, com as mangas arregaçadas acima dos cotovelos e com uma espécie
de avental na frente, no qual ele limpa os dedos, depois de ter tocado a
panelinha.
Ele está sozinho. Trabalha continuamente, mas com calma. Nenhum‐
movimento desordenado, impaciente. É exato e incessante em seu trabalho.
Não se aborrece com nada, nem com um nó na madeira que não se deixa
aplainar, nem com uma chave de parafusos (assim me parece), que lhe cai
duas vezes do banco, nem com a fumaça espalhada, que lhe deve incomodar
os olhos.
De vez em quando, Ele levanta a cabeça, e olha para a parede do lado
sul, onde há uma porta fechada, como se estivesse escutando alguma coisa. A
um dado momento, Ele abre uma porta que está na parede do lado leste, e
que dá para a rua. Vejo um pedaço de uma viela poeirenta. Parece que Ele
está esperando alguém. Depois, volta ao trabalho. Não está triste, mas está
sério. Torna a fechar a porta, e retoma o trabalho.
42.3Enquanto está ocupado em fabricar alguma coisa, que me parece as
partes de uma roda, a mamãe entra. Ela entra por uma porta do lado sul.
Entra apressadamente e corre até Jesus. Está vestida de azul escuro, e sem
nada na cabeça. Uma simples túnica ajustada à cintura por um cordão da
mesma cor. Chama com aflição o Filho, e se apóia com ambas as mãos em
um dos seus braços, com gestos de súplica e de dor. Jesus a acaricia
passando-lhe o braço sobre o ombro, e a conforta. Depois sai com ela,
deixando logo o trabalho e tirando o avental.
Penso que o senhor quer saber também as palavras que foram ditas.
Foram bem poucas, da parte de Maria:
– Oh! Jesus! Vem, vem. Ele está mal!
Estas palavras são ditas com lábios que tremem, e com o brilho do
pranto nos olhos avermelhados e cansados. Jesus só diz: “Mãe!” Mas está
tudo nesta palavra.
Entram no quarto ao lado, todo cheio da luz do sol, que entra por uma
porta escancarada, que dá para um pequeno jardim cheio de luz e de verde,
no qual voam pombos entre a agitação, causada pelo vento, de umas roupas
que estão estendidas para secar. O quarto é pobre, mas arrumado. Há uma
enxerga, coberta com pequenos colchões (eu digo pequenos colchões porque
certamente são coisas altas e macias, mas não se trata de uma cama como a
nossa). Sobre ela, apoiado em muitos travesseiros, está José. Está morrendo.
Di-lo claramente o rosto lívido, o olhar apagado, o peito ofegante e a
imobilidade do corpo todo.
42.4Maria se coloca à sua esquerda, pega-lhe a mão enrugada e lívida nas
unhas, a fricciona, a acaricia, a beija, enxuga-lhe com um lenço o suor, que
faz riscos que brilham nas têmporas encavadas, a lágrima, que pára no canto
do olho, e lhe banha os lábios com um pano de linhomolhado em um líquido
que parece vinho branco.
Jesus se põe à direita. Soergue com agilidade e cuidado o corpo, que se
deixa cair e o endireita sobre os travesseiros, que ajeita com Maria.
Acaricia sobre a fronte o agonizante, e procura reanimá-lo.
Maria chora baixinho, sem fazer barulho, mas chora. Grandes lágrimas
rolam ao longo das faces pálidas, e até sobre a veste azul escuro, e parecem
safiras brilhantes.
José volta a si por algum tempo, olha fixamente Jesus, dá-lhe a mão,
como querendo dizer-lhe alguma coisa, e para ter, ao contato divino, força na
última provação. Jesus se inclina sobre aquela mão, e a beija. José sorri.
Depois, ele se vira, para procurar Maria, sorrindo também para ela. Maria
se ajoelha junto à cama, procurando sorrir. Mas, não se saiu bem, e curva a
cabeça. José lhe coloca a mão sobre a cabeça, com uma casta carícia, que
parece uma bênção.
Não se ouve mais nada, a não ser o esvoaçar e o arrulhar dos pombos, o
roçar das folhas, o barulho da água e, no quarto, a respiração do moribundo.
Jesus anda ao redor do leito, pega um banco e faz Maria sentar-se,
dizendo-lhe somente: “Mamãe.” Depois volta ao seu lugar e pega de novo a
mão de José entre as suas. É uma cena tão real, que eu choro com dó de
Maria.
42.5Depois Jesus, curvando-se sobre o moribundo, em voz baixa recita um
salmo. Eu sei que é um salmo, mas agora não posso dizer qual
[69]
. Começa
assim:
– “Protege-me, ó Senhor, porque em Ti pus a minha esperança… Em
favor dos santos, que estão na terra, ele cumpriu admiravelmente todos os
seus desejos… Bendirei ao Senhor que me dá conselhos… Tenho sempre o
Senhor diante de mim. Ele está à minha direita, para que eu não vacile. Por
isso se alegra o meu coração, e exulta a minha língua, e também meu corpo
repousará na esperança. Porque Tu não abandonarás a minha alma na mansão
dos mortos, nem permitirás que o teu santo veja a corrupção. Far-me-ás
conhecer os caminhos da vida, cumular-me-ás de alegria com a tua face.”
José se reanima todo e, com um olhar mais vivo, sorri para Jesus e lhe
aperta os dedos.
Jesus responde com um sorriso ao sorriso e com uma carícia ao aperto
de mão, e continua docemente, curvado sobre o seu pai adotivo:
– “Quão amáveis são os teus Tabernáculos, ó Senhor. Minha alma se
consome de desejo pelos átrios do Senhor. Até o pardal tem uma casa, e a
rolinha um ninho para os seus filho tes. Eu desejo os teus altares, ó Senhor.
Felizes aqueles que habitam a tua casa… Feliz o homem que encontra em Ti
a sua força. Ele tem preparadas em seu coração as ascensões do vale de
lágrimas ao lugar escolhido. Ó Senhor, escuta a minha oração… Ó Deus,
volta o teu olhar para a face do teu Cristo…”
José com um soluço, olha para Jesus, e faz sinal de querer falar, como
para abençoá-lo. Mas não pode. Vê-se que ele está compreendendo, mas já
não pode falar. Contudo, ele se sente feliz, e olha, animado e confiante para
o seu Jesus.
Jesus continua:
– “Oh! Senhor, Tu foste propício à tua terra, livraste Jacó da
escravidão… Mostra-nos, ó Senhor, a tua misericórdia, e dá-nos o teu
Salvador. Quero ouvir o que me diz dentro de mim o Senhor Deus.
Certamente Ele falará de paz ao seu povo pelos seus santos e por quem a Ele
se volta de coração. Sim, a tua salvação está próxima… e a glória habitará
sobre a terra… A bondade e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se
beijaram. A verdade surgiu da terra e a justiça a olhou do Céu. Sim, o
Senhor se mostrará benigno, e a nossa terra dará o seu fruto. A justiça
caminhará diante Dele, e deixará no caminho os seus rastros.” Tu viste esta
hora, ó pai, e por ela foi que te cansaste tanto. Tu ajudaste esta hora a se
formar, e o Senhor te dará a recompensa. Eu te digo isto –acrescenta Jesus,
enxugando uma lágrima de alegria, que desce lentamente pela face de José.
Depois continua:
– “Ó Senhor, lembra-te de Davi, e de toda a sua mansidão. Como ele
jurou ao Senhor: não entrarei em minha casa, não me deitarei, não darei sono
aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, nem descanso às minhas
têmporas, enquanto eu não encontrar um lugar para o Senhor, uma morada
para o Deus de Jacó… Levanta-te, ó Senhor, e vem ao teu repouso, Tu e a
Arca da tua santidade (Maria compreende, e tem uma explosão de pranto).
Sejam revestidos de justiça os teus sacerdotes, e façam festa os teus santos.
Pelo amor de Davi, teu servo, não nos negue o rosto do teu Cristo. O Senhor
prometeu a Davi com juramento, e cumprirá: ‘Porei sobre o trono o fruto do
teu seio.’ O Senhor escolheu a sua morada… Eu farei florescer o poder de
Davi, preparando uma tocha acesa para o meu Cristo.”
42.6Obrigado, meu pai, por Mim e por minha mãe. Tu foste para Mim
um pai justo, e o Eterno te colocou como guarda do seu Cristo e da sua
Arca. Tu foste a tocha acesa por Ele e, para com o Fruto do ventre santo,
tiveste entranhas de caridade. Vai em paz, ó pai! A viúva não ficará
desamparada. O Senhor predispôs que ela não fique sozinha. Vai tranqüilo
para o teu repouso. Eu te digo.
Maria chora com o rosto curvado sobre as cobertas (parecem mantos)
estendidas sobre o corpo de José, que vai esfriando. Jesus apressa os seus
confortos, pois a respiração se torna mais difícil, e o olhar se torna
anuviado.
– “Feliz o homem que teme o Senhor, e põe nos seus mandamentos todo
o seu prazer… A justiça dele permanece nos séculos dos séculos. Entre os
homens retos, surge nas trevas como uma luz, o misericordioso, o benigno, o
justo… O justo será lembrado para sempre… A sua justiça é eterna, o seu
poder se elevará até à glória…”
Tu terás esta glória, meu pai. Logo virei buscar-te com os Patriarcas que
te precederam, para ires à glória que te espera. Que o teu espírito exulte com
esta minha palavra.
“Quem repousa no auxílio do Altíssimo, vive sob a proteção do Deus do
Céu.”
Tu já estás nesse lugar, meu pai.
“Ele me livrou do laço dos caçadores e das palavras ásperas. Ele te
cobrirá com as suas asas e debaixo de suas penas encontrarás refúgio. A sua
verdade te defenderá como um escudo, não temerás os espantos noturnos…
Não se aproximará de ti o mal… porque aos seus anjos Ele deu a ordem de
guardar-te em todos os teus caminhos. Eles te levarão em suas mãos, para
que o teu pé não tropece nas pedras. Caminharás sobre a áspide e o
basilisco, e esmagarás o dragão e o leão. Porque esperaste no Senhor, Ele te
diz, ó pai, que te libertará e protegerá. Porque elevaste a Ele a tua voz, Ele
te ouvirá, estará contigo na última tribulação, te glorificará depois desta
vida, fazendo-te ver desde agora a sua Salvação”, e fazendo-te entrar na
outra, pela Salvação que agora te está confortando e que logo, oh!, logo virá,
te repito, cingir-te com um abraço divino e levar-te Consigo, à frente de
todos os Patriarcas, lá para o lugar onde está preparada a morada do Justo
de Deus, que para Mim foi um pai bendito.
Vai, na minha frente, dizer aos Patriarcas que a Salvação já está no
mundo e que o Reino dos Céus logo será aberto para eles. Vai, pai. A minha
bênção te acompanhe.
42.7A voz de Jesus se faz mais alta, para chegar até à mente de José,
que já se vai mergulhando nas névoas da morte. O fim é iminente. Ele já
respira com dificuldade. Maria o acaricia. Jesus se assenta sobre a beira da
cama, abraça e atrai para Si o agonizante, que exala o último suspiro, sem
fazer nenhum movimento.
É uma cena cheia de uma paz solene. Jesus coloca novamente o
Patriarca na cama e abraça Maria, que, no fim se aproximou de Jesus na
angústia que sentia.
42.8 Jesus diz:
– A todas as mulheres que estão sendo torturadas por alguma dor, Eu
ensino a imitar Maria na sua viuvez: unindo-se a Jesus.
Aqueles que pensam que Maria não sofreu as penas do coração, estão
errados. Minha mãe sofreu. Ficai sabendo disso. Santamente, porque tudo
nela era santo, mas profundamente.
Aqueles que pensam que Maria amava o seu esposo com um amor
tépido, visto que ele era um esposo para as coisas espirituais, e não para as
carnais, estão igualmente errados. Maria amava intensamente o seu José, ao
qual dedicou seis lustros (30 anos) de uma vida de fidelidade. Para Ela José
foi pai, esposo, irmão, amigo e protetor.
Agora, ela se sentia sozinha, como uma vara de videira ao qual foi
cortada a árvore em que se apoiava. Sua casa ficou como que ferida por um
raio. Ficou dividida. Antes era uma unidade na qual os membros se
sustinham um ao outro. Agora, vinha a faltar a parede mestra, sendo este o
primeiro dos golpes desferido naquela Família, sinal de que dentro em breve
o seu amado Jesus também a deixaria.
A vontade do Eterno, que tinha querido que ela fosse esposa e mãe,
agora lhe impunha a viuvez e a entrega de seu Filho. Maria diz entre
lágrimas, um dos seus sublimes “sim.” “Sim, Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra.” E, para ter força naquela hora, ela Me abraça.
Sempre Maria abraçou Deus nas horas mais graves da sua vida. No
Templo, quando chamada para as núpcias; em Nazaré, quando chamada para
a Maternidade; ainda em Nazaré, derramando as lágrimas da viuvez; em
Nazaré no suplício da separação do Filho; no Calvário, em que sofreu a
tortura de Me ver morrer.
42.9Aprendei, vós que chorais. Aprendei, vós que morreis. Aprendei, vós
que viveis para morrer. Procurai merecer as palavras que Eu disse a José.
Serão a vossa paz em vossa agonia. Aprendei, vós que morreis, a merecer a
presença de Jesus perto de vós, para vosso conforto. Mesmo se não tiverdes
merecido, ousai chamar-me para perto de vós. Eu virei. Com as mãos cheias
de graça e de conforto, o coração cheio de perdão e amor, com os lábios
cheios de palavras de absolvição e encorajamento.
A morte perde toda a sua aspereza, se ela acontecer nos meus braços.
Crede nisso. Eu não posso abolir a morte, mas posso torná-la suave para
quem morre confiando em Mim.
O Cristo disse para todos vós, em sua Cruz: “Senhor, a Ti entrego o
meu espírito.” Ele o disse, pensando na sua e nas vossas agonias, nos
vossos terrores, nos vossos erros, nos vossos temores, nos vossos desejos
de perdão. Ele o disse com o coração dilacerado, antes mesmo do golpe da
lança, numa dilaceração mais espiritual do que física, para que as agonias
daqueles que morrem pensando Nele, sejam amenizadas pelo Senhor e o
espírito deles passe da morte à Vida, da dor ao júbilo eterno.
42.10Esta, pequeno João, é a lição de hoje. Sê boa, e não temas. A minha
paz refluirá em ti sempre, através da palavra e através da contemplação.
Vem. Faz de conta que és José, que tem por travesseiro o peito de Jesus, e
Maria como enfermeira. E repousa entre nós, como um menino em seu berço.

 

[69] não posso dizer qual, mas depois Maria Valtorta anota a lápis, nas próprias páginas autografas, os diversos reenvios, que
referidos à neo-Vulgata são: Salmos 16; 84; 85; 91; 112; 132.
[70] disse, em: Lucas 23,46 (609.22).




A VIRTUDE DA FORTALEZA EM MARIA SANTÍSSIMA.

A fortaleza e seus atos

571. A virtude da fortaleza, terceira entre as quatro cardeais, serve para
moderar as operações da paixão irascível, principalmente consigo mesmo. É verdade
que o concupiscível, a que pertence a  temperança, é anterior ao irascível. O apetite da paixão concupiscível gera a paixão
irascível, contra o que estorva o apetecido.
Apesar disso, trata-se primeiro da irascível e de sua virtude, a fortaleza,
porque na prática, ordinariamente se consegue o apetecido pela intervenção da
irascível, que supera aquilo que o impede.
Por isto, a fortaleza é mais nobre e excelente que a temperança, de que falarei no
capítulo seguinte.

As duas espécies de fortaleza

572. O controle da paixão irascível pela virtude da fortaleza, reduz-se a
duas espécies de operações: usar da ira conforme a razão, nas circunstâncias que
a tornem louvável e honesta, ou deixar de se irar reprimindo a paixão, quando é mais
conveniente detê-la que praticá-la.
Ambos comportamentos são louváveis ou censuráveis, segundo o fim
visado e as circunstâncias que os acompanham. A primeira destas operações, ou
espécies, recebeu o nome de fortaleza, chamada por alguns doutores belicosidade.
A segunda denomina-se paciência, a mais nobre e superior fortaleza, que principalmente possuem e possuíram os santos.
Invertendo os valores e os nomes, os mundanos costumam chamar à paciência
pusilanimidade, e à presunção impaciente e temerária fortaleza, por não compreenderem os verdadeiros atos desta virtude.

Maria, forte e suave

573. Não teve Maria Santíssima movimentos desordenados na irascível,
para reprimir pela fortaleza. Na inocentíssima Rainha todas as paixões estavam
ordenadas e submetidas à razão, e esta a Deus que a governava em todas as ações
e movimentos. Teve, porém, necessidade desta virtude para se opor aos entraves
que o demônio, por diversos modos lhe criava, para não vir a conseguir tudo o que,
prudentíssima e ordenadamente, apetecia para Si e para seu Filho Santíssimo.

Nesta corajosa resistência e combate, ninguém entre todas as criaturas foi
mais forte. Todas reunidas não puderam chegar à fortaleza de Maria, nossa Rainha,
pois não sofreram tantas pelejas e contradições do comum inimigo. Quando, porém,
se fazia necessário usar desta fortaleza  ou belicosidade com as criaturas humanas,
era suave e forte, ou para melhor dizer, era tão forte quão suavíssima no agir. Somente
esta divina Senhora, entre as criaturas, pôde copiar em suas obras aquele atributo
do Altíssimo que, nas suas, une a suavidade com a fortaleza (Sb 8,1).
Ao praticar assim a fortaleza, nossa Rainha não sentiu, em seu generoso
coração, desordenado temor já que era superior a tudo. Tampouco se mostrou
impávida e audaz além da medida. Não podia deslizar a estes extremos viciosos
porque, com suma sabedoria, conhecia os temores que devia superar e a audácia que
devia evitar. Assim estava vestida, como única mulher forte, de fortaleza e formosura
(Pr 31, 25).

A paciência de Maria Santíssima
574. A parte da fortaleza que consiste na paciência, foi em Maria Santíssima
mais admirável. Somente Ela participou da excelência da paciência de Cristo, seu Filho
Santíssimo, no padecer e sofrer sem culpas, mais que todos os que as cometeram.
Toda a vida desta soberana Rainha foi uma contínua tolerância de
sofrimentos, especialmente na vida e morte de nosso Redentor Jesus Cristo, onde a
paciência excedeu a todo o pensamento de criaturas. Só o mesmo Senhor que lha outorgou pôde dignamente dá-la a conhecer.
Jamais esta candíssima pomba se indignou, faltando à paciência com criatura alguma, nem lhe pareceu grande algum
trabalho e moléstia, das imensas que padeceu, nem se contristou por isso, nem deixou
de receber tudo com alegria e ação de graças. Se a paciência (conforme o Apóstolo), é o primeiro filho da caridade (ICor
13, 4), e nossa Rainha foi a Mãe do amor (Eclo 24,24), também o foi da paciência
Pelo amor deve medir-se a paciência, pois quanto mais amarmos e apreciarmos o bem eterno, acima de todo o
visível, tanto mais nos determinamos a padecer qualquer pena para alcançá-lo e
não perdê-lo. Por esta razão, foi Maria Santíssima pacientíssima acima de todas
as criaturas, e, para nós, mãe desta virtude.
Recorrendo a Ela, acharemos esta torre de David com mil escudos de paciência (Ct 4,
4), com os quais se armam os fortes da Igreja, e da milícia de Cristo, nosso Senhor.

Nada pode vencer a paciência de Maria

575. Não teve jamais nossa pacientíssima Rainha atitudes feminis de
fraqueza, nem tampouco de ira exterior, porque tudo previa com divina luz e sabedoria. Esta não lhe evitava a dor, antes a
aumentava, pois ninguém pôde conhecer o peso das culpas e ofensas infinitas contra Deus, como as conheceu esta Senhora.
Mas nem por isso se alterou seu invencível coração. Seu semblante e seu íntimo jamais
mudaram, quer pelas maldades de Judas, quer pelas contumélias e desacatos dos fariseus.
Mesmo que na morte de seu Filho Santíssimo (Mt 27) todas as criaturas e
elementos insensíveis pareceram querer perder a paciência contra os mortais, não
podendo suportar a injúria e ofensa de seu Criador, somente Maria mostrou-se inalterável. Estaria disposta para receber Judas,
os fariseus e sacerdotes, se depois de haverem crucificado a Cristo, nosso Senhor, recorressem a Ela como a Mãe de
piedade e misericórdia.

Por que Maria nunca se irou?

576. Bem pudera a mansíssima Imperatriz do céu indignar-se e irar-se contra os que a seu Filho Santíssimo deram tão
afrontosa morte, sem deixar esta ira passar dos limites da razão e virtude, pois o mesmo
Senhor castigou justamente este pecado.
Estando eu com este pensamento, foi-me respondido que o Altíssimo
dispôs que esta grande Senhora não tivesse estes movimentos e operações, ainda
que razoavelmente os poderia ter. Não queria torná-la, mesmo indiretamente, acusadora dos pecadores, por tê-la escolhido
como advogada e medianeira deles.
Seri a mãe de misericórdia e por Ela viriam aos homens todas as que o Senhor
queria prodigalizar aos filhos de Adão.
Deste modo haveria quem dignamente abrandasse a ira do justo Juiz, intercedendo pelos culpados. Somente em relação ao
demônio esta Senhora executou a ira, o necessário para a paciência, a tolerância e
para vencer os impedimentos que este inimigo, antiga serpente, lhe opunha à prática do bem.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU.

Vícios contrários à fortaleza

581. Minha filha, se atentamente, como eu te mando, procurares entender a
necessidade e predicados da virtude da fortaleza, ela te entregará a rédea da paixão
irascível, uma das que mais rapidamente se alteram c perturbam a razão. Será também o
instrumento para realizares o mais alto e perfeito das virtudes, como o desejas. Será
força com que resistirás e vencerás os obstáculos, que teus inimigos suscitam
para te amedrontar no mais difícil da perfeição.
Adverte, porém, caríssima, que a potência irascível serve a concupiscível.
Acende-se para resistir ao que estorva a concupiscência de conseguir o que apetece. Daqui procede que, se a concupiscência
se desorienta, amando o que é vicioso ou bem apenas aparente, logo a irascível se
desordena após ela, e em lugar da fortaleza virtuosa, nascem muitos vícios execráveis e feios.
Daqui entenderás, porque do desordenado apetite da própria excelência
e vã glória, gerados pela soberba e vaidade, nascem tantos vícios da paixão irascível:
discórdias, contendas, rixas, jactância, gritos, impaciência, pertinácia. E ainda outros
vícios da mesma paixão concupiscível: hipocrisia, mentira, cobiça de vaidade,
curiosidade, e desejar a criatura parecer mais do que é, e não o que verdadeiramente
lhe pertence por seus pecados e baixeza.

A paciência

582. De todos este vícios tão feios ficarás livre, se energicamente mortificares c dominares os movimentos
desordenados da concupiscível, mediante a temperança, da qual adiante falarás.
Quando, todavia, apeteceres e amares o justo e conveniente, e para consegui-lo te
valeres da fortaleza e da irascível bem ordenada, seja de maneira a não te excederes. Sempre há perigo de se irar com
zelo da virtude, quem está sujeito a seu próprio e desordenado amor. Às vezes,
este vício se disfarça e se encobre com capa de bom zelo, e a criatura deixa-se
enganar: ira-se pelo que apetece para si, querendo atribuí-lo ao zelo de Deus e bem do próximo.
Por isto, é tão necessária e louvável a paciência que nasce da caridade e é acompanhada pela largueza e magnanimidade
Quem ama deveras ao sumo e verdadeiro bem, facilmente sofre a perda da honra e glória aparentes, e com magnanimidade
a despreza por abjeta e sem valor.
Mesmo quando as criaturas lha oferecem, não a estima, e nos demais trabalhos se
mostra invencível e constante. Deste modo conquista, quanto possível, o bem da perseverança e da paciência.


SUPLICA PELOS PREGADORES.

Roguei-lhe ainda desse a todos aqueles que se entregam a este exercício e obra tão sublime de pregar as máximas eternas e as misericórdias divinas, grande zelo pela sua glória e honra e pela salvação do próximo, com conhecimento ainda de si mesmos, reconhecendo serem meros instrumentos e não se apropriando da glória e da honra, mas dando tudo a Ele, enquanto por Ele tudo Ihes foi dado. Pedi-Ihe comunicasse virtude as palavras deles para produzirem efeito nos corações dos ouvintes. O Pai me prometeu. Na verdade, não deixa de faze-lo, embora as graças divinas não tenham em todos efeito, porque muitos, obcecados pela vaidade e amor de si mesmos, apropriam-se do que e exclusivamente dom de Deus, e assim suas palavras não conseguem efeito nos corações dos ouvintes. Em vão se afadigam, sem retirar mérito algum; ao contrário, tem de mérito, enquanto roubam ao Pai a glória só a Ele devida, apropriando-se do que é de Deus. Senti grande pesar e supliquei ao Pai fizesse que ao menos os ouvintes aproveitassem, e Ihes desse novas luzes e graça maior. Prometeu-me faze-lo, e o Pai amoroso não omite o que lhe pedi, porque mo prometeu. Vi que em muitos as graças divinas produziriam efeito e obteriam seu intento. Duro, de fato, cego e obstinado é o coração que resiste a graça e as luzes divinas que meu Pai lhe comunica, porque fá-lo com amor e mesmo com violência. Dai, quem não aproveitar tantas luzes e tantas graças, não terá motivo de lamentar-se senão da própria dureza. Naquela noite, por conseguinte, que passei a tratar com o Pai deste particular, vi, um a um, todos aqueles que se empenhariam neste exercício da pregação. Vi todos os seus sentimentos e seus fins, conheci todas as suas necessidades e por todos orei em particular, pedindo para cada um o necessário. Quanto me afadiguei por eles junto do Pai, e quantas graças Ihes obtive em particular e em geral! Uma vez obtido isso do Pai, agradeci-lhe por parte de todos. Alegrei-me muito e com isso me congratulei por todos aqueles que via haverem de cumprir devidamente o seu ministério, e conforme requerido por meu Pai e pelo fruto a colher destas fadigas bem ordenadas, pelo gosto que senti, como também pelo prazer de meu Pai, pedi a este conferisse-Ihes grande recompensa. Em verdade meu Pai prometeu-me grandes coisas para cada um deles. Grande e imensa será a recompensa e a Glória que receberão de meu Pai. Se há de remunerar tão largamente o  mínimo feito por seu amor, pode-se avaliar o que há de dar a quem se empenhou em obra que tanto lhe apraz, dá-lhe tanta glória e é tão proveitosa ao próximo.

SÚPLICA PELOS PAIS

Pedi-Ihe ainda graça e assistência para minha querida Mãe e José, no tempo em que deviam ficar sem a minha pessoa, para que a dor não Ihes tirasse a vida. Previa que suas almas, seria  traspassadas de suma dor, porque sendo assaz intenso o amor que me dedicavam, à proporção do amor, sentiriam dor pela perda de seu único bem. Embora já soubesse e visse como meui Pai os assistia com muita providência e os dirigia naquela tribulação, dando-Ihes total conformidade a sua vontade, todavia fiz isto por eles, querendo mostrar-me verdadeiro Filho de Maria, e enquanto tal, fazer o que era justo por Mãe tão amorosa e digna. O mesmo fiz por S. José, seu puríssimo esposo e meu pai adotivo. Supliquei ainda ao Pai desse perfeita resignação a todos aqueles genitores que deviam perder os filhos, embora muito caros, a fim de que a dor sentida ao se privarem deles, para consagrá-los ao serviço do Pai e para cumprir a vontade divina, não os surpreenda de modo que, entregues a dor, façam esta oferta mais coagidos do que por amor, e com isto fiquem despojados do mérito que adquiririam, se consagrassem com amor e resignação os seus frutos ao serviço de quem Ihos concedeu. O Pai tudo me concedeu com suma liberalidade, e vi como ordenaria tudo com muita providencia, operaria e disporia tudo com suma sabedoria. Vi também que muitos não aproveitariam a grata, as luzes e ajudas do Pai, deixando-se superar pelo afeto apaixonado em demasia a prole, e por isso não se entregariam com tranquilidade à vontade divina e as divinas disposições. Senti pesar por estes, tanto mais que verificava serem vãs para eles tantas súplicas minhas ao Pai e tanta graça que este Ihes concederia. De novo roguei ao Pai usasse de maior misericórdia para com eles e tivesse deles compaixão, esperando com paciência a conformidade a sua vontade. Em verdade, nisto ainda mostrou-se liberal meu Pai. Vi com quanta paciência esperaria, e depois que, com todo amor receberia e premiaria a débia vontade daqueles que por longo tempo se demonstrassem adversos. O Pai amoroso compadecer-se-ia de sua fraqueza, mostrando-se pronto a receber sua conformidade, cada vez que eles Iha oferecessem. Agradeci ao Pai por tanta paciência e bondade. Agradeci-lhe também por todos, e fiz tudo o que é devido à um Pai tão bom e amoroso.



12-43
Abril 16, 1918

Jesus vem oculto nas penas.

(1) Continuando meu habitual estado, meu pobre coração me sentia oprimido e em penas
amargas que não é necessário dizê-las aqui, e meu sempre amável Jesus vindo me disse:
(2) "Minha filha, Eu mando as penas às criaturas a fim de que nas penas me encontrem a Mim.
Eu estou como envolvido nas penas, e se a alma sofre com paciência, com amor, rompe o
envoltório que me cobre e me encontra a Mim, de outra maneira Eu ficarei oculto na pena e ela
não terá o bem de me encontrar, e Eu não terei o bem de revelar-me".
(3) Depois acrescentou: "Eu sinto uma força irresistível de expandir-me para as criaturas,
gostaria de expandir minha beleza para torná-las todas belas, mas a criatura sujando-se com a
culpa rechaça a beleza divina e se cobre de fealdade; gostaria de expandir meu amor, mas elas
amando o que não é meu vivem entorpecidas pelo frio e meu amor fica rejeitado; tudo gostaria
de comunicar-me ao homem, cobri-lo tudo em minhas mesmas qualidades, mas sou rejeitado, e
rejeitando-me forma um muro de divisão entre Eu e ele, que chega a romper qualquer
comunicação entre a criatura e o Criador. Mas apesar de tudo Eu continuo me expandindo, não
me retiro, para poder encontrar ao menos um que receba minhas qualidades, e encontrando-o
lhe dobro as graças, as centuplicas, me despejo tudo nele, até fazer dele um portento de graça.
(4) Por isso tira esta opressão de teu coração, derrama-te em Mim e Eu verterei em ti. Já te
disse Jesus e basta, não pense em nada e Eu farei e pensarei em tudo".

13-40
Dezembro 10, 1921

A fecundidade de um ato no Divino Querer.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, o meu sempre amável Jesus veio dizendo-me:
(2) "Minha filha, como é grande um ato feito no meu Querer. Veja, se você perguntasse ao sol,
quantas sementes você fecundou? Quantas vezes multiplicou desde que surgiu sobre nosso
horizonte? Nem o sol, nem nenhuma criatura, por mais sábia que fosse poderia responder-te,
nem sequer com um número aproximado, nem quantas sementes fecundou, nem quantas
vezes multiplicou. Agora, um ato feito em meu Querer é mais que sol, que multiplica as
sementes, não humanas mas divinas, ao infinito. Oh! como ultrapassa a fecundidade e a
multiplicidade das sementes que o sol fecundou, acontece uma inovação no mundo espiritual,
uma harmonia pela qual todos são atraídos. Os mais dispostos ao ouvir a harmonia tem fervor,
milhares e milhares de efeitos surgem como tantas sementes, e como o ato feito em meu
Querer leva consigo a potência criadora, fecunda essas sementes em modo incalculável para a
mente limitada, Então os atos feitos no meu Querer são sementes divinas que levam consigo a
potência criadora, que mais que sol fecundam, não só isso, senão que criam as sementes e as
multiplicam ao infinito. Estes atos me dão lugar para novas criações, põem em movimento
minha potência, são os portadores da Vida Divina".

16-48
Fevereiro 18, 1924

Todas as coisas criadas têm um só Som:  Eu te amo.

(1) Estava segundo meu costume fundindo-me no Divino Querer para encontrar todas as coisas
criadas e poder nelas dar minha correspondência de amor por mim e por todos. Enquanto fazia isto
pensava : "Meu Jesus diz que tudo criou por amor de mim e por amor de cada um, mas como pode
ser isto se muitas coisas criadas eu nem sequer as conheço? Como tantos peixes que se agitam
no mar, tantos pássaros que voam pelo ar, tantas plantas, tantas flores, tanta variedade de beleza
que contém todo o universo, quem os conhece? Apenas em pequeníssimo número; portanto, se eu
nem sequer sei, especialmente eu que levo anos e anos confinada em uma cama, como pode dizer

que todas as coisas criadas têm a marca, o selo de seu te amo para mim?" Enquanto isso pensava,
meu doce Jesus se moveu em meu interior em ato de prestar atenção para me ouvir e me disse:

(2) "Minha filha, e no entanto é verdade que todas as coisas criadas têm cada uma amor distinto
para você; também é verdade que você não as conhece todas, mas isto diz nada, é mais, te revela
principalmente meu amor e te diz a claras notas que meu te amo por ti está perto e longe, escondido e à vista.
Eu não faço como as criaturas que quando estão perto são todo amor, mas assim que
se afastam se esfriam e não sabem mais amar; meu amor é estável e fixo, e não importa se está
perto ou distante, escondido e secreto, tem um mesmo som nunca interrompido: te amo. Olhe, você
conhece a luz do sol, é verdade, e recebe sua luz e seu calor por quanto quer, mas outra luz te
sobra, tanto, que enche toda a terra. Se você quiser mais luz, o sol a daria, e ainda toda.

Agora, toda a luz do sol te diz meu te amo, a próxima e a distante, é mais, conforme percorre a terra assim
leva a melodia de meu te amo para ti, sem dúvida você não conhece nem os caminhos que percorre
a luz, nem as terras que ilumina, nem as pessoas que apreciam a influência benéfica de raios
solares, mas enquanto você não sabe tudo que faz a luz, você está nessa mesma luz, e se não a
tomar toda é porque te falta a capacidade de ser capaz de absorver tudo em você, mas apesar disso
você não pode dizer que toda a luz do sol não te diz te amo, é mais, faz mais desabafo de amor,
porque conforme vai invadindo a terra vai narrando a todos meu te amo; assim também todas as
gotas de água, você não as pode beber tudo e trancá-los em você, mas apesar disso você não pode
dizer que não dizem te amo. Assim que todas as coisas criadas, conhecidas ou não conheci-
das, todas têm o selo de meu amo-te, porque todas servem à harmonia do universo, ao decoro da
Criação, à maestria de nossa mão criadora.

Eu fiz como um pai rico e terno, amante de seu filho, e
devendo o filho sair da casa paterna para tomar estado, o pai prepara um suntuoso palácio com
incontáveis aposentos, onde cada uma contém algo que possa servir a seu filho, mas como estas
estadias são muitas, o filho nem sempre as vê, é mais, algumas nem as conhece, porque não teve
necessidade de se servir delas, e apesar disto, se pode acaso negar que em cada estadia não
tenha havido um amor paterno especial para com o filho, havendo ainda a bondade paterna provi-
da ao que ao filho podia não ser necessário? Assim tenho Feito eu, este filho saiu de dentro de
meu seio e nada quis que lhe faltasse, é mais, criei muitas e muito variadas coisas, e um goza de
uma coisa e outro de outra, mas tudo só tem um som: eu te amo".

19-40
Julho 23, 1926

Temores de ser deixada por Jesus. Quem vive no Querer Divino
perde toda via de saída, nem Jesus pode deixá-la nem ela pode
deixá-lo. A Criação é espelho, a Vontade Divina é Vida.

(1) Tendo esperado e suspirado muito a vinda de meu doce Jesus, pensava entre mim: "Como
farei, se quem forma minha vida me deixa só e abandonada, poderia eu viver? E se eu vivo, porque
agora entendo que não são as penas que fazem morrer, pois se assim fosse, depois de tantas
privações suas estaria morta, as penas ao mais fazem sentir a morte, mas não a sabem dar, fazem
viver esmagada e esmagada como debaixo de uma prensa, mas o poder da morte pertence
apenas ao Querer Supremo". Enquanto eu pensava assim, o meu adorável Jesus mexeu-se dentro
de mim, e fez-se ver que tinha uma corrente de ouro nas mãos e se deleitava em fazê-la passar
entre mim e Ele, de modo que ficávamos atados juntos, e com um amor e bondade toda paterna
me disse:.
(2) "Minha filha, por que teme que te deixe? Escuta, Eu não posso tolerar este temor em ti, tu
deves saber que nas condições em que te pus, o mar de meu Querer que dentro e fora de ti corre,
no qual tu voluntariamente, não forçada, te ofereceste nele, tem ampliado tanto seus confins, que
nem eu nem tu encontraremos o caminho para sair. Então, se você quiser me deixar, não
encontrará o caminho, e por quanto queiras girar, girarás sempre nos confins intermináveis de
minha Vontade, muito mais que teus atos feitos nela te fecharam todo caminho de saída. E se eu
quisesse deixar-te, não o poderia fazer, porque não saberia para onde ir para me afastar dos
confins da minha Vontade, ela está em todo o lado, e para onde quer que vá, encontrar-me-ia
sempre contigo. Quanto mais eu faço com você como uma pessoa que possui um quarto grande, e
amando a outra pessoa inferior a ela, de mútuo acordo a toma e a outra vai, mas como a casa é
grande, se esta se afasta e gira em sua casa, aquela a perde de vista e se lamenta, mas sem
razão, pois se a casa é sua, poderá deixá-la? As coisas próprias não são deixados, portanto, ou ele
vai voltar para casa em breve, ou talvez ele está em algum quarto de sua própria casa. Por isso, se
te dei a minha Vontade para tua habitação, como posso deixar-te e separar-me d‟Ela? Por quanto
sou potente, nisto sou impotente, porque sou inseparável de meu Querer, por isso ao máximo me
afasto em meus confins e você me perde de vista, mas não é que te deixe, e se você girasse em
nossos confins logo me encontraria, por isso em lugar de temer, me espere, e quando menos
pensares, vais encontrar-me todo apertado a ti".
(3) Depois disto estava fazendo meus acostumados atos no Supremo Querer, e diante de minha
mente se fazia presente toda a ordem que convém ter na Divina Vontade, o que se deve fazer e até
onde se pode chegar, em suma, tudo o que Jesus mesmo me ensinou, e pensava entre mim:
"Como poderão fazer tudo isto as criaturas? Se eu que tomo da fonte me parece que não faço
tudo, muitas coisas deixo para trás e não chego àquela altura que Jesus diz, o que será daqueles
que tomarão de minha pequena força?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:.

(4) "Minha filha, muitas coisas que criei na Criação, nem todas te servem a ti, nem as gozas, muitas
outras não as conheces, mas se não te servem a ti servem aos demais, se não as gozas e as
conheces tu, gozam e conhecem os demais, e se as criaturas não tudo tomam, Todas servem à
minha grande glória e para fazer conhecer minha força, minha majestade, meu grande amor, e a
multiplicidade de tantas coisas criadas fazem conhecer a sabedoria, o valor do Artífice Divino, que
é tão hábil que não há nada que não saiba fazer. Agora, se tantas coisas tirei fora na criação do
mundo, que devia servir à natureza e que devia ser como espelho no qual o homem, olhando-se,
devia reconhecer seu Criador, e todas as coisas criadas deviam ser caminhos para retornar ao seio
paterno de onde tinha saído, muito mais é necessário fazer conhecer mais coisas do Reino de
minha Vontade, que deve servir como vida da alma e como centro onde Deus deve ter seu trono.
Agora, a multiplicidade das coisas que te fiz conhecer serve para mostrar quem é esta Vontade
Divina, como não há coisa mais importante, mais santa, mais imensa, mais potente, mais benéfica
e que tem virtude de dar vida, que Ela. Todas as outras coisas, por quanto boas e santas, são
sempre na ordem secundária, só Ela tem sempre o primeiro lugar, e onde não está Ela não pode
haver vida. Por isso, os muitos conhecimentos sobre a minha Vontade servirão a minha própria
Vontade como glória e triunfo, e servirão às criaturas como caminho para encontrar a vida e
recebê-la, e a sua altura e imensidão servirão às criaturas para que jamais se detenham, mas que
sempre caminhem para alcançá-la, por quanto possam, e a multiplicidade dos conhecimentos
servirá à liberdade de cada uma para tomar aqueles que quiserem, porque cada conhecimento
contém a Vida, e se se rompe o véu do conhecimento encontrarão dentro, como rainha, a Vida da
minha Vontade; portanto, conforme tomam e fazem, Tanto mais crescerá a Vida da Minha Vontade
neles. Por isso se atenta em manifestar os méritos, as riquezas infinitas que possui, a fim de que o
Céu de meu Querer seja mais belo, mais atrativo, mais majestoso, como o é, que o céu da Criação,
a fim de que arrebatados por sua beleza, pelos bens que contém, possam todos suspirar o vir a
viver no Reino da minha Vontade"..

20-43
Dezembro 29, 1926

Como na Humanidade de Nosso Senhor foi formada a nova criação do reino da Vontade Suprema.

(1) Meu doce Jesus, ao vir, mostrava que levava no meio de seu peito um Sol, muito estreito entre
seus braços e, aproximando-se de mim, tomou aquele Sol do meio de seu peito e com suas mãos
o pôs no meio do meu, depois me tomou minhas mãos entre as suas e as cruzou firmemente sobre
aquele Sol dizendo-me:
(2) "Este Sol é minha Vontade, tenha-o estreitado, não o deixe jamais escapar, porque Ele tem o
poder de converter-te a ti e todos teus atos em luz, de modo a incorporar-te toda n'Ele, até formar
um só Sol".
(3) Depois disto estava pensando em tudo o que meu doce Jesus tinha feito em sua vinda à terra
para a Redenção, para unir-me a seus atos e pedir por amor de seus mesmos atos que fizesse
conhecer sua Vontade para fazê-la reinar, e meu adorado Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, assim que minha humanidade foi concebida, assim comecei uma nova criação,
para estender o Reino de minha Vontade sobre todos os atos que fazia minha humanidade. Todos
meus atos que fazia dentro e fora de minha Humanidade, estavam animados por uma Vontade
Divina que continha a potência criadora, e por isso meus atos recebiam a nova criação e se
convertiam em atos de Vontade Divina, e Eu estendia em meu interior e em todos os meus atos
externos seu Reino. Com efeito, quem destruiu e rejeitou este Reino da minha Vontade no
homem? Sua vontade humana, que rejeitando-a de si mesma não se deixou dominar, animar pela
minha, mas fez-se dominar e animar pela sua e aí formou o reino das misérias, das paixões e das
ruínas. Agora, minha humanidade, antes de tudo, devia refazer e voltar a chamar este Reino do
Querer Supremo em Mim, na minha natureza humana, para poder dispor-me a formar a Redenção
e assim poder dar ao gênero humano os remédios para salvar-se. Se não tivesse posto em Mim
este Reino a salvo, não lhe tivesse dado seus direitos de domínio, não teria podido formar o bem
da Redenção; minha Vontade Divina teria sido inexorável em ceder-me seus bens se não tivesse
tido primeiro o direito de formar seu Reino em Mim, e depois, como segundo ato, me entregava os
remédios para salvar as criaturas.

Assim que minha Vontade Suprema se punha em atitude de
ação em todos meus atos, Ela dominava e triunfante investia com sua potência criadora minhas
lágrimas e gemidos infantis, meus suspiros, batidas, passos, obras, palavras e penas, em suma,
tudo, e conforme os investia os embelezava com sua luz interminável e formava a nova criação de
seu Reino em todos meus atos, por isso por cada coisa a mais que Eu fazia, o Fiat Divino ampliava
os confins de seu Reino em minha Humanidade. Agora, se a Criação foi chamada do nada e foi
formada sobre a base de minha palavra criadora que disse e criou, mandou e todas as coisas
tomaram seu lugar de ordem e de harmonia, ao contrário, da criação do Reino de meu Supremo
Querer não se contentou com o nada para formá-lo, mas quis como garantia de segurança, a base,
os fundamentos, os muros e todos os atos e penas da minha Humanidade Santíssima para formar
a criação do seu Reino. Vê então quanto custou este reino do meu Querer, com quanto amor o
desenvolvi em Mim, por isso este reino existe, não resta mais que fazê-lo conhecer para fazer sair
em campo todos os bens que contém. Por isso o que quero de você, é que assim como minha
Humanidade deixou livre a minha Vontade para fazê-lo formar seu Reino, assim você me deixe
livre, não se oponha em nada, a fim de não encontrar em você nenhuma oposição, meus atos
corram em você e tomem seu posto de honra, se alinhem todos ordenados para continuar em ti a
vida do Reino da minha Vontade".

(5) Depois disto o meu doce Jesus como um relâmpago fugiu e eu queria segui-lo, mas com
grande amargura minha via naquele relâmpago que deviam vir doenças contagiosas que estarão
em quase todas as nações, sem excluir a nossa Itália, parecia que muitos morriam por elas, até
chegar a despovoar as casas, em algumas nações atacava mais forte o flagelo, mas quase todas
serão tocadas, parece que se dão a mão em ofender ao Senhor, e Nosso Senhor castiga a todos
com os mesmos flagelos, mas eu espero que queira se acalmar, assim os povos sofrerão menos.

21-10
Março 26, 1927

Quem possui a Divina Vontade é o apelo a todos os atos dela. Tantas vezes ressurge na Vida
Divina por quantos atos se fazem na Divina Vontade. Como quem não faz a Divina Vontade é o ladrão da Criação.

(1) Estava pensando entre mim: "Quando giro na Suprema Vontade seguindo seus atos na Criação
e na Redenção, parece que todas as coisas falam, que todas têm algo a dizer sobre este admirável
Querer, em troca quando estou ocupada em outra coisa, todas as coisas se põem em silêncio,
Parece que não têm nada a dizer". Mas enquanto isso pensava, o sol penetrou em minha pequena
câmara e sua luz batia sobre minha cama e eu me senti investida por sua luz e seu calor; enquanto
estava nisto saiu uma luz de dentro de mim, e lançando-se na luz do sol, ambas luzes se beijaram.
Eu fiquei surpreendida e meu doce Jesus me disse:

(2) "Minha filha, como é bela minha Divina Vontade situada em ti e no sol, Ela quando reside na
alma e faz um doce encontro com suas obras, faz festa e mergulhando em seus mesmos atos que
faz nas coisas criadas, se beijam reciprocamente e uma fica e a outra luz regressa triunfante a seu
posto, a exercer seu ofício querido por minha mesma Vontade. Então, a alma que possui minha
Vontade é o apelo a todos os atos dela e assim que se encontram, súbito se reconhecem, e por
isso quando você gira na Criação e na Redenção todas as coisas te falam, são os atos de minha
Vontade que te falam nelas, porque é justo que quem a possui conheça a vida dela, que enquanto
parece dividida em tantas coisas criadas e distinta em tantos atos diversos, porém é um ato só, e
quem a possui é necessário que esteja ao dia de todos seus atos para formar um ato só com todos
os atos de minha Vontade".

(3) Depois, seguindo os atos que o Fiat Supremo tinha feito na Redenção, cheguei ao momento em
que meu doce Jesus estava em ato de ressurgir da morte e eu estava dizendo: "Meu Jesus, assim
como meu te amo te seguiu até o limbo, e investindo todos os habitantes daquele lugar, pedimos-
te todos juntos que apresses o Reino do teu Fiat Supremo sobre a terra, assim quero imprimir meu
te amo contínuo sobre a tumba de sua Ressurreição, a fim de que assim como sua Divina Vontade
fez ressurgir a sua Santíssima Humanidade como cumprimento da Redenção e como novo
contrato que restituía o Reino de sua Vontade sobre a terra, assim meu te amo incessante,
seguindo todos os atos que fez na Ressurreição, Te peça, te rogue, te suplique que faça ressurgir
as almas em sua Vontade, a fim de que seu Reino seja estabelecido no meio das criaturas". Agora,
enquanto isto e outras coisas dizia, o meu amado Jesus moveu-se dentro de mim e disse-me:

(4) "Minha filha, cada ato feito na minha Vontade, tantas vezes faz ressurgir na Vida Divina, e por
quantos mais atos faz nela, tanto mais cresce a Vida Divina e tanto mais se completa a glória da
Ressurreição. Assim que a base, a substância, a luz, a beleza, a glória, vem formada pelos atos
feitos em minha Vontade; Ela, tanto mais pode dar, tanto mais pode embelezar e engrandecer, por
quanto mais contato teve com Ela. Aliás, quem sempre viveu em meu Querer, como teve seu
domínio sobre todos os atos da criatura, possuirá o ato sempre novo de meu Fiat, assim que o ato
novo e contínuo das bem-aventuranças não só o receberá de Deus, mas em virtude da minha
Vontade que possuiu na terra, possuirá em si mesma o ato novo das bem-aventuranças, que,
fazendo-o sair de si investirá toda a Pátria Celestial, por isso haverá tal harmonia entre o ato novo
de Deus e o ato novo de quem possuiu meu Querer, que formará o mais belo encanto daquela
morada celestial. Os prodígios do meu Querer são eternos e sempre novos".

(5) Depois disto pensava entre mim: "Como é que Adão de um posto tão alto quando foi criado por
Deus, caiu tão baixo depois do pecado". E meu sempre amável Jesus movendo-se em meu interior
me disse:
(6) "Minha filha, na Criação uma foi a Vontade que saiu em campo ao criar todas as coisas, e com
direito só a esta lhe correspondia o domínio, o regime e o desenvolvimento de sua mesma Vida em
cada coisa e ser por Ela criados. Agora, o homem com subtrair-se de nossa Vontade, não foi mais
uma a vontade que reinava sobre a terra, mas duas, e como a humana era inferior à Divina,
esvaziou-se de todos os bens deste Fiat Supremo e fazendo a sua tirou o posto à Vontade Divina,
e isto foi o maior dos sofrimentos, muito mais que esta vontade humana tinha saído e tinha sido
criada pela Vontade Divina para que tudo fosse propriedade sua, domínio seu. Agora, o homem
com subtrair-se da nossa, se fez réu por roubar os direitos divinos, e fazendo sua vontade, nada
mais lhe pertencia das coisas criadas por este Fiat, assim que devia encontrar um lugar onde não
se estendesse nossa obra criadora, mas isto lhe era impossível, este lugar não existe, e enquanto
não estava com nossa Vontade, tomava de suas coisas para viver, servia-se do sol, da água, dos
frutos da terra, de tudo, e estes eram roubos que nos fazia. Então o homem que não fez a nossa
vontade tornou-se o ladrãozinho de todos os nossos bens.

Como foi doloroso ver que a Criação devia servir a tantos desertores, a tantos que não pertenciam ao Reino do Fiat Divino, e por
quantas criaturas deviam vir à luz e não deviam viver em nosso Reino e fazer-se dominar por
nossa Vontade, tantos postos perdia sobre a terra. Aconteceu como numa família que, em vez de
mandar e dominar o pai, governam e dominam todos os filhos, os quais nem sequer estão de
acordo entre eles, quem manda uma coisa e quem outra; Qual é a dor deste pobre pai ao ver-se
retirado o domínio pelos filhos e ver a confusão e a desordem desta família? Muito mais doloroso
foi para meu Fiat Supremo que a obra de suas próprias mãos criadoras lhe tirava o domínio, e
fazendo sua vontade se pôs contra a minha, tirando-lhe o direito de reinar. Minha filha, não fazer
minha Vontade é o mal que encerra todos os males, é o desabamento de todos os bens, é
destruição da felicidade, da ordem, da paz, é a grande perda do meu Reino divino".



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