ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 45° SEMANA DE ESTUDOS

 

LIVRO DO CÉU VOLUME 1

(6) E sucedeu que, tendo passado cinco ou seis dias daquelas penas tão intensas, com grande
aflição minha, começaram a diminuir, e então pedi ao meu amado Jesus que me renovasse a
crucificação, e Ele, às vezes cedo e às vezes não, Tinha prazer em me transportar aos lugares
santos e me participava as penas de sua dolorosa Paixão. Agora a coroa de espinhos, agora a
flagelação, agora levava a cruz ao calvário e agora a crucificação.

Às vezes um mistério por dia e,às vezes, tudo num dia, segundo Ele gostava, e isto era para a minha alma de grande dor e
contentamento. Mas me resultava amarguíssimo quando mudava a cena, e em vez de sofrer eu,
era espectadora de ver sofrer a meu amadíssimo Jesus as penas da dolorosa Paixão. Ah, quantas
vezes eu estava no meio dos judeus junto com a Mãe Rainha para ver meu amado Jesus sofrer!
Ah, sim, como é verdade que é mais fácil sofrer-se a si mesmo do que ver sofrer a pessoa amada!
Outras vezes, renovando o meu doce Jesus estas crucifixões, recordo que me disse:

(7) "Amada minha, a cruz faz distinguir os réprobos dos predestinados. Bem como no dia do juízo
os bons se alegrarão ao ver a cruz, assim desde agora se pode ver se algum se salvará ou se
perderá, se ao apresentar-se a cruz a alma a abraça, a leva com resignação, com paciência e beija
e agradece à mão que a envia, é sinal de que é salvo; se ao contrário, ao apresentar-se a cruz se
irritam, a desprezam e chegam até me ofender, pode dizer que é um sinal de que essa alma se
encaminha pela via do inferno; assim farão os réprobos no dia do juízo, que ao ver a cruz se
afligirão e blasfemarão.

A cruz diz tudo, a cruz é um livro que sem engano e a claras notas te diz e
te faz distinguir o santo do pecador, o perfeito do imperfeito, o fervoroso do morno. A cruz
comunica tal luz à alma, que desde agora não só faz distinguir o bom do réu, senão faz conhecer
quem deve ser mais ou menos glorioso no Céu, quem deve ocupar um posto superior ou um posto
menor. Todas as outras virtudes estão humildes e reverentes diante da virtude da cruz, e
enxertando-se com ela recebem maior brilho e esplendor".

(8) Quem pode dizer que chamas de desejos ardentes punha em meu coração este falar de Jesus?
Sentia-me devorar pela fome de sofrer, e Ele para satisfazer minhas ânsias, ou bem, para dizê-lo
melhor, o que Ele mesmo me infundia, renovava-me a crucificação.

2-46
Julho 14, 1899

Jesus não pode deixar quem o ama.

(1) Meu adorável Jesus continua estes dias fazendo-se ver pouquíssimas vezes, sua visita é
como um raio, que enquanto se quer seguir vendo-o foge, e se alguma vez se detém um pouco
é quase sempre em silêncio, outras vezes diz alguma coisa, mas assim que se vai me parece
que se leva essa palavra junto com a luz que me vem de sua palavra, tanto que depois não
recordo nada do que disse, e minha mente fica na mesma confusão de antes. ¡ Que estado
miserável! Meu amado Jesus, tenha piedade desta miserável, continue fazendo uso de sua
misericórdia. Agora, para não me alongar e dizer dia por dia o que passei, direi aqui tudo junto,
algumas palavras que me disse nestes últimos dias.
(2) Lembro-me que depois de ter derramado lágrimas amarguíssimas, Jesus, fazendo-se ver e
eu me lamentando com Ele porque me tinha deixado, chamou muitos anjos e santos e
dirigindo-se a eles disse: "Ouçam o que diz, que eu a deixei, digam-lhe, posso eu deixar
aqueles que me amam? Ela me amou, como posso deixá-la?" E os santos concordaram com o
Senhor e eu fiquei mais humilhada e confusa do que antes.

(3) Noutra ocasião, dizendo-lhe que: "No final acabarás por me deixar de todo". Jesus disse-
me:

(4) "Filha, não posso deixar-te, e como penhor disto pus em ti os meus sofrimentos".
(5) Depois, encontrando-me ocupada com o pensamento: "Como permitiste Senhor que viesse
o sacerdote, tudo poderia ter acontecido entre Tu e eu". Em um instante me encontrei fora de
mim mesma, estendida sobre uma cruz, mas não havia ninguém que pudesse me pregar, eu
comecei a pedir ao Senhor que viesse a crucificar-me e Jesus veio e me disse:

(6) "Veja como é necessário que o sacerdote esteja no meio de minhas obras, e isto é ajuda
também para cumprir a crucificação; é certo que se não há ninguém, por ti só não podes
crucificar-te, sempre se necessita da ajuda dos demais".

3-50
Março 11, 1900

Encontro com uma alma do purgatório.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã via o bom Jesus mais aflito do que de costume,
ameaçando com uma mortandade de gente, e via em certos lugares que muitos morriam. Depois
passei pelo purgatório e reconhecendo a uma amiga falecida perguntava-lhe várias coisas sobre
meu estado, especialmente se é Vontade de Deus este estado, se é verdade que é Jesus que vem,
ou bem o demônio, porque lhe dizia: "Como tu te encontras diante da Verdade e conheces com
clareza as coisas, sem que possas enganar-te podes dizer-me a verdade sobre as minhas
circunstâncias".

(2) E ela disse-me: "Não temas, o teu estado é a vontade de Deus e Jesus ama-te muito, por isso
manifesta-se a ti".

(3) E eu, dizendo-lhe algumas das minhas dúvidas, pedi-lhe que visse ante a luz da verdade se
eram verdadeiras ou falsas e fizesse-me a caridade de me vir dizer, e que se o fizesse, eu em
recompensa mandava-lhe celebrar uma missa em sufrágio, e ela acrescentou:

(4) "Se o quer o Senhor, porque nós estamos tão imersos em Deus, que não podemos sequer
mover as pestanas se não concorre Ele; nós habitamos em Deus como uma pessoa que habitasse
em outro corpo, que tanto pode pensar, falar, ver, agir, caminhar, porque lhe é dado por aquele
corpo que a circunda por fora, porque em nós não é como em vós que tendes o livre arbítrio, a
própria vontade terminou, nossa vontade é só a Vontade de Deus, dela vivemos, nela encontramos
todo nosso contentamento e Ela forma todo nosso bem e nossa glória".
(5) E mostrando uma satisfação indescritível por esta Vontade de Deus, nos separamos.

4-50
Janeiro 24, 1901

Luísa pergunta a Jesus a causa da sua privação. Jesus repreende-a.

(1) Tendo passado os dias anteriores em silêncio e algumas vezes também privada de meu
adorável Jesus, esta manhã ao vir lamentei-me com Ele dizendo: "Senhor, como é que não vens,
como mudaram as coisas, vê-se que é, ou por castigo dos meus pecados que me privas da tua
amável presença, ou que não me queres mais neste estado de vítima, ah! te peço que me faça
conhecer sua Vontade; se não pude opor-me quando quis de mim o sacrifício, muito menos agora,
que não sendo mais merecedora de ser vítima me quer tirar.

(2) E Jesus, interrompendo o meu discurso, disse-me: "Minha filha, Eu, com ter-me feito vítima pelo
gênero humano, tomando sobre Mim todas as fraquezas, as misérias, e tudo o que merecia o
homem, ante a Divindade represento a cabeça de todos, e a natureza humana, sendo Eu a cabeça
ante a Divindade, Encontra em Mim um poderoso escudo que a defende, protege, desculpa e
intercede. Agora, como você se encontra no estado de vítima, vem representar ante Mim a cabeça
da geração presente, pelo que deve mandar algum castigo para bem dos povos e para chamá-los
a Mim, se Eu viesse contigo segundo meu costume, só de me mostrar a você já me sinto aliviado e
as dores se mitigam, e me acontece como a alguém que sentisse uma forte dor e pelo espasmo
grita, se a este lhe cessasse a dor deixaria de gritar e lamentar-se. Assim me acontece a Mim,
diminuindo minhas penas, naturalmente não sinto mais a necessidade de mandar esse castigo;
além disso você, ao me ver, também naturalmente busca me reparar e tomar sobre ti as penas dos
demais, não pode fazer menos que fazer seu ofício de vítima ante minha presença, E se você não
o fizesse, o que não pode ser jamais, eu ficaria chateado com você. Eis a causa da minha
privação, não porque queira punir os teus pecados, tenho outras maneiras para purificar-te, mas
recompensar-te-ei, nos dias em que vier te duplicarei as minhas visitas, não estás contente por
isso?"

(3) E eu: "Não Senhor, amo-te sempre, qualquer que seja a causa não cedo em ficar um só dia
privada de Ti". Enquanto eu dizia isto, Jesus desapareceu e eu retornei em mim mesma.

4-51
Janeiro 27, 1901

A firmeza da fé está na firmeza da caridade.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, o meu adorável Jesus quase se fez ver, e não sei por
que me disse:
(2) "Minha filha, toda a solidez da fé católica está na solidez da caridade, que une os corações e os
faz viver em Mim".
(3) Depois, lançando-se em meus braços queria que eu o reconfortasse. Tendo feito por quanto
pude, logo Ele me fez isso e desapareceu.

6-47
Junho 20, 1904

As almas vítimas são filhas da Misericórdia.

(1) Depois de ter esperado muito, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, chegou a tanto a perfídia humana, de esgotar por sua parte minha misericórdia,
mas minha bondade é tanta, de constituir as filhas da misericórdia, a fim de que também por parte
das criaturas não fique esgotado este atributo, e estas são as vítimas que estão em plena posse da
Vontade Divina por haver destruído a própria, porque nestas, o recipiente dado a elas por Mim ao
criá-las está em pleno vigor, e tendo recebido a partícula de minha Misericórdia, sendo filha a
fornece a outros. Entende-se, no entanto, que para administrar a misericórdia aos outros deve ser
encontrada ela na justiça".

(3) E eu: "Senhor, quem pode ser encontrado na justiça?"
(4) E Ele: "Quem não comete pecados graves e quem se abstém de cometer pecados veniais
ligeiros, por sua própria vontade".

7-50
Outubro 5, 1906

Jesus é dono da alma.

(1) Continuando o meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma junto com Jesus
menino. Desta vez parecia que tinha vontade de brincar, se apertava a meu peito, a meus

braços, e enquanto me olhava com muito amor, agora me abraçava, agora com sua cabecinha
me empurrava quase me golpeando, agora me beijava tão forte que parecia que queria me
fechar e fundir dentro de Sim, E enquanto fazia isso eu sentia uma grande dor, tanto que me
sentia desfalecer, e Ele apesar de me ver sofrer assim, não me prestava atenção, é mais, se
via em meu rosto que eu sofria, porque não me atrevia a lhe dizer nada, o fazia mais forte, me
fazia sofrer mais. Agora, depois de ter desabafado bem me disse:

(2) "Minha filha, Eu sou seu dono e posso fazer de você o que quero. Deves saber que sendo
tu coisa minha, não és dona de ti, e se ages por teu próprio arbítrio, ainda num pensamento,
num desejo, num coração, deves saber que me farias um furto".

(3) Neste momento via o confessor, que não estando bem queria como aliviar seus sofrimentos
sobre mim, e Jesus a toda pressa com a mão o rejeitou, e disse:

(4) "Primeiro devo me aliviar Eu das minhas penas, que são muitas, e depois você".
(5) E, enquanto isso dizia, aproximou-se da minha boca e derramou um líquido amargo, e eu
confiei-lhe o confessor, pedindo-lhe que o tocasse com a sua mãozinha e o fizesse ficar bem.
Ele tocou e disse: "Sim, sim". E desapareceu.

10-49
Janeiro 20, 1912

O amor quando não une pelas boas, busca unir com as aflições, com os contrastes e mesmo com as santas maldades.

(1) Retornando meu sempre amável Jesus, via-se que ia estreitando os corações; e as almas
resistindo a estas estreitas faziam com que a graça ficasse incapacitada, e Jesus tomava esta
graça em seu punho e a levava àqueles poucos que se deixavam cingir; também me trouxe uma
boa parte. Quando vi isto, disse-lhe:

"Doce vida minha, Tu és tão bom comigo ao dar-me parte da
graça que os outros rejeitam, porém eu não noto estreitos, mas bem me sinto livre, e tanto, que
não sei ver nem a largura, nem a altura, nem a profundidade dos confins nos quais me encontro".
(2) E Jesus: "Filha amada minha, minhas estreias as adverte quem, não deixando-se atar muito
bem por Mim, não pode entrar a viver em Mim, mas quem se deixa atar por Mim como Eu quero,
passa a viver em Mim, e vivendo em Mim tudo é amplitude, estreitos não existem mais, a estreiteza
dura até que a alma tem a paciência de se deixar estreitar por Mim, até desfazer seu ser humano,
para viver na Vida Divina, e depois, passando a viver em Mim, Eu a tenho ao seguro, faço-a
espaciar em meus intermináveis confins, não tenho mais necessidade de usar ataduras, mas bem,
muitas vezes devo forçá-las para colocá-las um pouco fora, para fazer-lhes ver os males da terra e
fazê-las perorar com maior ânsia a salvação de meus filhos, e conseguir-lhes o perdão pelos
merecidos castigos, e elas se sentem como sobre espinhos e me forçam porque querem entrar em
Mim, lamentando-se de que não é para elas a terra. Quantas vezes não o fiz contigo? Devo ter-me
mostrado indignado para te fazer estar um pouco em teu lugar, de outra maneira não terias durado
um minuto fora de Mim, meu coração sabe o que sofri ao te ver fora de Mim, agitar-te, afanar-te,
chorar, enquanto os outros fazem isto para não se deixar atar tu o fazias por viver em Mim, e
quantas vezes não tu mesma te aborreceste por este meu agir? Não se lembra que também
estivemos em controvérsia?"

(3) E eu: "Ah! sim, lembro-me, precisamente anteontem estava já por me zangar porque me
puseste fora de Ti, mas como te vi chorar pelos males da terra, chorei junto Contigo e se me
passou a raiva; é propriamente um menino, oh! Jesus, mas sabe por que é menino? Por amor.
Para dar amor e para ter amor chega às diabruras, não é verdade Jesus? Depois de uma raiva, de
um desgosto, uma aflição que passamos juntos, não nos amamos de mais?"
(4) E Ele: "Certamente, é necessário amar para poder compreender o amor, e o amor quando não
une pelas boas, procura unir com as aflições, com os contrastes e também com as santas
maldades".

47. O encontro com João e Tiago. João de Zebedeu é o puro entre os discípulos.

25 de fevereiro de 1944.

47.1 Vejo Jesus que caminha ao longo da faixa verde que costeia o Jordão. Ele voltou mais ou menos ao mesmo lugar que viu o seu batismo. É perto do vau do Jordão, que parece ser muito conhecido e freqüentado como meio de passar-se à outra margem, na direção de Peréia. Mas o lugar, antes tão povoado, agora parece quase deserto. Só algum viajante, a pé ou montado em jumentos ou cavalos, é que o percorre. Jesus parece nem perceber isso. Ele prossegue por sua estrada, subindo novamente para o norte, como que absorto em seus pensamentos. Ao chegar à altura do vau, encontra-se com um grupo de homens de diversas idades, que discutem animadamente entre si, separando-se depois, uma parte para o sul e a outra para o norte. Entre aqueles que se dirigem ao norte, vejo João e Tiago.

47.2 João é o primeiro a avistar Jesus, monstrando-o ao irmão, e aos companheiros. Falam eles ainda um pouco entre si e, depois, João se põe a caminhar rapidamente para alcançar Jesus. Tiago o segue mais devagar. Os outros não se interessam, continuando a caminhar lentamente e discutindo. Quando João chega perto de Jesus, às suas costas, à distância de uns dois ou três metros, grita: – Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo! Jesus se vira, e olha para ele. Os dois estão a poucos passos um do outro. Eles se observam. Jesus, com seu aspecto sério e indagador. João, com seus olhos puros e risonhos, no belo rosto tão juvenil, que parece feminino. Podem-se lhe dar uns vinte anos e, sobre a face rosada, não tem ainda mais do que alguns poucos pelos loiros, como uma veladura dourada. – A quem estás procurando? –pergunta Jesus. – A Ti, Mestre. – Como sabes que eu sou mestre? – Foi o Batista que me disse. – E, por que me chamas Cordeiro? – Porque o ouvi chamar-te assim, um dia em que ias passando, há pouco mais de um mês. – Que queres de Mim?

– Que nos digas palavras de vida eterna, e nos consoles. – Quem és tu? – João de Zebedeu, sou eu, e este é Tiago, meu irmão. Somos da Galiléia. Somos pescadores. Mas somos também discípulos de João. Ele nos dizia palavras de vida, nós o escutávamos, porque queríamos seguir a Deus e, com a penitência, merecer o seu perdão, preparando os caminhos do coração para a vinda do Messias. Tu és o Messias. João o disse, porque viu o sinal da Pomba pousar sobre Ti. Disse –nos também: “Eis o Cordeiro de Deus.” Eu, então, digo a Ti: Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo, dá-nos a paz, porque não temos mais quem nos guie, e nossa alma está turbada. – Onde está João? – Herodes o pôs na prisão, em Maqueronte. Os mais fiéis entre os seus discípulos tentaram libertá-lo. Mas não é possível. Nós estamos voltando de lá.

47.3Deixa-nos ir Contigo, Mestre. Mostra-nos onde é que moras. – Vinde. Mas sabeis o que estais pedindo? Quem me segue deverá deixar tudo: sua casa, seus parentes, seu modo de pensar, e até a vida. Eu vos farei meus discípulos e meus amigos, se quiserdes. Mas Eu não tenho riquezas, nem privilégios. Sou pobre, e o serei ainda mais, até o ponto de não ter nem onde encostar a cabeça, serei perseguido pelos lobos mais do que uma ovelha perdida. Minha doutrina é ainda mais severa do que a de João, porque proíbe também o ressentimento. Ela dirige-se não tanto ao exterior, quanto ao espírito. Tereis que renascer, se quereis ser meus. Quereis fazer assim? – Sim, Mestre, só Tu tens palavras que nos dão luz. Elas descem e, onde havia trevas e desolação, pois estávamos sem guia, derramam a claridade do sol. – Vinde, então, e vamos. Eu vos irei ensinando pelo caminho.

47.4 Jesus diz: – O grupo dos que me haviam encontrado era numeroso. Mas só um me reconheceu. Aquele que tinha a alma, o pensamento e a carne limpos de toda luxúria. Insisto no valor da pureza. A castidade é sempre fonte de lucidez de pensamento. A virgindade também purifica, conservando a sensibilidade intelectiva e afetiva, aperfeiçoando-a, o que só pode ser experimentado, por quem é virgem.

47.5 Pode-se ser virgem, de muitos modos. De modo forçado, especialmente as mulheres, quando não foram escolhidas para o casamento. Assim devia ser também com os homens. Mas não é assim, e isso é mal, porque de uma juventude precocemente conspurcada pela libidinagem não poderá sair nada mais do que um chefe de família doente em seus sentimentos e, muitas vezes, também em seu corpo. Há uma virgindade desejada, ou seja, aquela dos que se consagram ao Senhor, num impulso de vontade. Bela virgindade! Sacrifício agradável a Deus! Mas nem todos sabem permanecer naquele candor do lírio que está firme em seu pedúnculo, estendido ao céu, sem conhecer a lama do chão, aberto somente ao beijo do sol de Deus e de seus orvalhos. Muitos permanecem fiéis, materialmente, ao voto feito. Mas infiéis em seu pensamento, que lamenta e deseja aquilo que eles sacrificaram. Estes são virgens só pela metade. Se a carne está intacta, o coração não está. Seu coração fermenta, ferve, exala fumaças de uma sensualidade, tanto mais refinada e reprovada, quanto mais ela foi sendo criada por um pensamento que acaricia, alimenta e aumenta continuamente imagens de satisfações ilícitas, até para quem está livre, e quanto mais para quem está consagrado por votos a Deus. Aparece então, a hipocrisia do voto. Em aparência, ele existe, mas de fato, em substância, não. E, em verdade, eu vos digo que, entre quem vem a Mim com o seu lírio despedaçado pela imposição de um tirano e quem vem com o seu lírio não materialmente despedaçado, mas coberto pela baba, pelo transbordamento de uma sensualidade acariciada e cultivada, para poder encher com ela as horas de solidão, Eu chamo de “virgem” ao primeiro, e de “não virgem” ao segundo. Ao primeiro, dou coroa de virgem e uma dupla coroa de martírio: uma, pela carne ferida; e outra, pelo coração ferido por uma mutilação não desejada.

47.6 O valor da pureza é tal, que, como viste, satanás se preocupa, em primeiro lugar, em convencer-me a que me entregue à impureza. Ele sabe bem que a culpa da sensualidade desmantela a alma e a torna presa fácil das outras culpas. Todo o trabalho de satanás se concentrou neste ponto capital, para me vencer. O pão, a fome, são as formas materiais que simbolizam o apetite, os apetites de que satanás procura tirar proveito para os seus fins. Bem outro era o alimento que ele me oferecia, para fazer-me cair como um bêbado aos seus pés! Depois, teria vindo a gula, o dinheiro, o poder, a idolatria, a blasfêmia, a abjuração de Lei divina. Mas o primeiro passo para conquistarme era esse. O mesmo que usou para ferir Adão[83].

47.7 O mundo escarnece dos puros. Os culpados de lascívia os golpeiam. João Batista é uma vítima da luxúria de dois obscenos. Mas, se o mundo tem ainda um pouco de luz, isto se deve aos puros que ainda há no mundo. São esses os servos de Deus, que sabem compreender a Deus e repetir as palavras Dele. Eu disse[84]: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.” Mesmo desde esta terra. Eles, cujo pensamento não é perturbado pela fumaça da sensualidade, é que “vêem” a Deus e O ouvem, O seguem, e O indicam aos outros.

47.8 João, filho de Zebedeu, é um puro. É o mais Puro dos meus discípulos. Que alma de flor, em um corpo de anjo! Ele me chama com as palavras do seu primeiro mestre, e me pede que lhe dê paz. Mas a paz, ele a tem em si mesmo, pela sua vida pura. Eu o amei por essa sua pureza, à qual eu confiei os ensinamentos, os segredos e a Criatura mais querida que Eu tinha. Ele foi o meu primeiro discípulo, que me teve amor desde o primeiro instante em que me viu. Sua alma estava intimamente unida com a minha, desde o dia em que ele me tinha visto passar ao longo do Jordão e me tinha visto apontado pelo Batista. Mesmo que ele não me tivesse encontrado depois, na minha volta do deserto, me teria procurado tanto, até conseguir encontrar-me, porque quem é puro, é humilde e desejoso de instruir-se na ciência de Deus, e vai, como a água que vai ao mar, àqueles que ele reconhece serem mestres na doutrina celeste”.

47.9 Jesus ainda diz: – Eu não quis que tu falasses sobre a tentação de sensualidade do teu Jesus. Mesmo que a tua voz interior te fez entender o motivo de satanás para atrair-me à sensualidade, Eu preferi falar disso. E não pensais além. Era necessário falar. Agora vai avante. Deixa a flor de satanás sobre suas areias. Vem atrás de Jesus, como João. Cami nharás entre os espinhos, mas encontrarás, como rosas, as gotas de sangue de Quem as derramou por ti, para vencer a carne, também em ti.

47.10 Antecipo uma observação. Diz[85] João em seu Evangelho, falando do encontro Comigo: “E, no dia seguinte”. Parece com isso que o Batista me tivesse mostrado no dia seguinte ao batismo, e que, logo, João e Tiago me seguiram, mas isso contrasta tudo o que disseram os outros evangelistas a respeito dos quarenta dias passados no deserto. Mas deveis ler assim:
“(Tendo já acontecido a prisão de João), um dia depois os dois discípulos de João Batista aos quais ele me havia mostrado, dizendo: ‘Eis o Cordeiro de Deus’, ao me verem de novo, chamaram e me seguiram.” Depois da minha volta do deserto. Juntos voltamos às margens do lago da Galiléia, onde Eu tinha ido refugiar-me, para, de lá, iniciar a minha evangelização. Os dois falaram de Mim aos outros pescadores, depois de terem estado Comigo por todo o caminho, e por um dia inteiro na casa hospitaleira de um amigo da parentela de minha casa. Mas a iniciativa foi de João, cuja alma a vontade de penitência e a sua pureza tinha tornado tão limpa, que era uma verdadeira obra-prima de limpidez, sobre a qual a Verdade se refletia nitidamente, dando-lhe também a santa audácia dos puros e dos generosos, que não temem andarem avante, onde está Deus, onde está a verdade, a doutrina, o caminho de Deus. Quanto Eu o amei por essa sua simples e heróica característica!”.

[83] para ferir Adão. O homem-filho de Deus — assim anota Maria Valtorta numa cópia dactilografada — tinha já sido ferido pela soberba da desobediência. Sobrava o homem animal, e foi ferido pela luxúria porque, perdida a Graça, pecou como homem natural. Jesus era Deus e Homem. Intocável como Deus. Por isso, apenas como “Homem” podia ser tentado por Satanás. [84] Eu disse, em: Mateus 5,8 (170.5.11). [85] Diz, em: João 1,35.


CAPÍTULO 15
OUTRO MODO DE VISÃO E COMUNICAÇÃO QUE MARIA SANTÍSSIMA
TINHA COM OS SANTOS ANJOS QUE A ASSISTIAM.

0 amor de Deus e as coisas terrenas

646. Tal é a força e eficácia do amor e da divina graça n a criatura, que pode nela apagar a imagem do pecado e do homem terreno (ICo r 15 , 49), criando outro ser novo e celestial. Sua conversação será nos céus (Fl 3, 20), entendendo, amando e agindo não como criatura terrena, mas celestial e divina . A força do amor arrebata o coração e a alma, transportando-a de onde anima, para levá-la e transformá-la no que ama . Esta verdade cristã é crida por todos, compreendida pelos doutores e experimentada pelo s santos . Em nossa Rainha e Senhora deve ser considerada com privilégios tão singulares, que não pode ser comparada ao s exemplos de outros santos, e é impossível de ser explicada e compreendida, mesmo com entendimento de anjos. Mãe do Verbo , era Maria Santíssima Senhora de toda a criação. Sendo, porém, imagem viva de seu Filho Unigênito, à imitação Dele, usou tão pouco das criaturas visíveis das quais era Senhora , que ninguém nelas teve menos parte , salvo o necessário para o serviço do Altíssimo, e conservação da vida natural de seu Filho Santíssimo e sua.

A visão celestial da Mãe de Deus

647. A este olvido e alheiamento de todo o terrestre, deveria corresponder a vivência celestial. Esta seria proporcionada à dignidade d e Mãe de Deu s e Senhora do s céus , cuja s comunicações substituíam devidamente a s relações terrenas. Por isto , era necessário e coe rente que a Rainha e Senhora do s anjos fosse singularmente privilegiada, no obséquio d e seu s vassalo s e cortesãos , e com ele s tratasse por um modo diferente do usado por quaisquer criatura s humanas, ainda a s mai s santas. No capítulo 23 do primeiro Livro, disse algo das múltiplas aparições ordinárias com que s e manifestavam à nossa Rainha e Senhora, os santos anjos e serafins destinados à sua guarda. No capítulo precedente fica m declarados , em geral , os modos e formas de visões sobrenaturais que Sua Alteza tinha. E advirta-se que, em qualquer espécies de visões, as suas eram muito mais excelentes e divinas, quer na substância e modo, quer no s efeitos que produziam em sua alma santíssima.

Maria e a comunicação angélica

648. Deixe i para descrever neste capítulo outro modo e privilégio mais singular concedido pelo Altíssimo à sua Mãe, quando vi a e s e comunicava com seus santos anjos da guarda e com outros, que cm diversa s ocasiões a visitavam . Este modo de visão e comunicação era o mesmo que as ordens e hierarquias angélicas têm entre si.
Cada Cada um dos espírito s celestes conhece ao s demais em si mesmos , sem outra nova espécie para mover o entendimento, d o que a mesma substância e natureza do anjo conhecido. Além disso, os anjos superiores iluminam os inferiores, informando-os dos mistérios ocultos, cuja revelação os superiores recebem imediatamente do Altíssimo. Vão comunicando e passando esta iluminação do primeiro até
o último, sendo esta ordem conveniente a grandeza do supremo Rei e Governador de toda a criação. Daqui se entende que esta tão ordenada iluminação ou revelação, não faz parte da glória essencial dos santos anjos Esta todos recebem imediatamente da divindade, cuja visão e fruição s e comunica a cada um, segundo a medida dos próprios merecimentos. Um anjo não poderia tomar outro essencialmente bem-aventurado , só pelo fato de iluminá-lo ou revelar-lhe qualquer mistério , porque então não veriam Deus face a face, e sem isto não poderiam ser bem-aventurados , nem teriam conseguido seu último fim.

Comunicação angélica

649. Sendo Deus, porém, objeto infinito e espelho voluntário, independente de quanto pertence à ciência beatífica dos santos , ainda restam infinitos segredos e mistérios que lhes podem ser revelados, especialmente par a o governo da Igreja e do mundo. Nestas iluminações é observada a ordem que fica explicada. Como estas revelações estão fora da glória essencial, o carecer de sua notícia não é para os anjos ignorância ou privação de ciência , mas chama-se nesciência ou negação, e a revelação chama se iluminação o u purificação desta nesciência . Acontece, a nosso modo de entender, como se os raio s do sol penetrassem muitos cristais, colocados em ordem paralela, participando todos da mesma luz, comunicada dos primeiros aos últimos. Só uma diferença há neste exemplo: a respeito dos raios do sol, as vidraças ou cristais agem passivamente, sem outra atividade que a do sol, que a todos ilumina com sua ação. Os santos anjos, porém, são pacientes em receber a iluminação dos
superiores, e agentes cm comunicá-la aos inferiores, comunicação feita com louvor, admiração c amor , tudo procedendo do supremo Sol da justiça, Deus eterno e imutável.

Maria gozou dessa ordem de visões

650. Nesta maravilhosa ordem de revelações sobrenaturais , introduziu o Altíssimo sua Mãe Santíssima, par a que gozasse dos privilégios próprios dos cortesãos do céu . Para isto, destinou o s serafins, dos quais falei no cap. 14 deste Livro, os mais supremos e imediato s à divindade. O mesmo ofício era desempenhado também p r outro s anjos de sua guarda, conforme a divina vontade dispunha, quando e como era conveniente. A todos estes anjos e a outros, conhecia a Rain a em si mesmos , sem dependência dos sentidos e imaginação, e sem impedimento do corpo mortal e terreno. Mediante esta vista e conhecimento, os serafins e anjos do Senhor a iluminavam e purificavam , revelando à sua Rainha muitos mistérios, cujo conhecimento recebiam do Altíssimo. Ainda que este modo de visão intelectual e iluminação não era contínuo em Maria Santíssima, foi, entretanto, muito freqüente, particularmente quando , para lhe dar ocasião de maiores merecimentos e diferentes afetos de amor, se lhe encobria e ausentava o Senhor, como direi adiante. Nestas ocasiões , os anjos desempenha vam mais este ofício, sempre numa ordem da sucessiva iluminação, até chegar à Rainha.

Considerações
651. Esta forma de iluminação não derrogava a dignidade d e Mãe de Deus c Senhora dos anjos. Neste favor, e no modo de sua participação , não eram levadas em consideração a dignidade e santidade d e nossa soberana Princesa , pelas quais era superior a todas as ordens angélicas, mas sim ao estado e condição de sua natureza humana corpórea e mortal. Vivendo em carne passível, com a natural necessidade de usar dos sentidos, elevá-la a o estado e operações angélicas foi grande privilégio, ainda que merecido por sua santidade e dignidade. Creio que a mão poderosa do Altíssimo tenha concedido este favo r a outras almas nesta vida mortal, ainda que não tão freqüentemente como à sua Mãe Santíssima, nem com tanta plenitude de luz e demais condições , tão excelentes a Ela concedidas. Se muitos doutores, não sem grande fundamento , admite m a visão beatífica a São Paulo, Moisés e os outros santos, muito mais crível será terem recebido alguns viadores este conhecimento próprio da natureza angélica , pois tal conhecimento não é outra coisa senão ver intuitivamente a substância do anjo. Deste modo, esta visão concorda , no que concerne à luz, com a primeira de que falei no capítulo passado, e por ser intelectual concorda com a terceira acima descrita, ainda que não se produzam por espécies impressas.

Disposições espirituais para ver intuitivamente os anjos

652. Não há dúvida que este favor não é comum , mas muito raro e extraordinário, exigindo na alma grande disposição de pureza de consciência. Não se coaduna com afetos terrenos, imperfeições voluntárias e afeição ao pecado, pois para ser introduzida na ordem dos anjos, a alma deve ter vida mais angélica que humana. Se faltasse esta semelhança, pareceria deformidade a união de extremos tão opostos. Com a divina graça, entretanto, pode a criatura, mesmo de corpo terreno e corruptível, renunciar a todas as paixões e inclinações depravadas, morrer ao visível, apagar suas espécies da memória, e viver mais no espírito do que na carne. Chegando a gozar de verdadeira paz, tranqüilidade e sossego de espírito, que lhe comuniquem serenidade doce , amorosa e suave pelo Sumo Bem, então estará menos incapaz* para se r elevada à visão do s espírito s angélicos, com claridade intuitiva. Então deles receberá as divinas revelações, que eles comunicam entre si, e os efeitos admiráveis resultantes desta visão.

Efeitos desta visão em Maria Santíssima

653. Os efeitos recebido s por nossa soberana Rainha , correspondente s à sua pureza e amor, não podem caber em humana ponderação. Era incomparável a luz divina que recebia na visão dos serafins. De certo modo , neles se refletia a imagem d a divindade , como em espirituais e puríssimos espelhos , onde Maria Santíssima a contemplava em seus infinitos atributos e perfeições. Em alguns efeitos era-lhe manifestada também , por admirável modo , a glória que os mesmo s serafins gozavam, pois isto resulta em grande parte de se ver claramente a substância do anjo . Com a vista de tais objetos, ficava toda inflamada na chama do divino amor, e muitas vezes arrebatada em milagrosos êxtases. Nestas ocasiões, prorrompia , com eles e outros anjos, em cânticos de incomparável glória e louvor da divindade. Admiravam-se disso os espíritos celestiais, porque embora fosse por eles iluminada no entendimento na vontade lhe ficavam muito inferiores Pela força do amor , velozmente subia para se unir com o último e sumo bem onde imediatamente recebia novas influiências da torrente (SI 35,9) da divindade com que era alimentada. Se os serafins não tivessem presente o objeto infinito, princípio e termo de seu amor beatífico, poderiam ser discípulos de Maria Santíssima nesse amor, assim como nas ilustrações do entendimento, Ela era discípula deles.

Outro modo de ver os anjos e os efeitos da visão

654. Além desta forma de visão imediata da natureza espiritual angélica, existe outra inferior e mais comum para outras almas: a visão intelectual por espécies infusas , ao modo da visão abstrativa da divindade, conforme deixe i explicada. Este modo de visão angélica teve a Rainha do céu algumas vezes , mas não freqüentemente como o primeiro. Se bem para outras almas justas, este benefício de conhecer os anjos e santos, por espécies intelectuais infusas , é muito raro e estimável, para a Rainha dos anjos não era necessário, pois comunicava-se com eles d e modo mais elevado, salvo quando o Senhor dispunha que se ocultassem. Neste caso, faltava-lhe aquela vista imediata para que maior mérito e exercício, e os via apenas por espécies intelectuais ou imaginárias , com o disse no capítulo passado . Em outras almas, estas visões angélicas por espécies produzem divinos efeitos, porque vêem aquela s supremas substâncias como reflexos e embaixadores do supremo Rei. Com elas entretém a alma doces colóquios sobre o Senhor e sobre tudo o que é celeste e terreno. Em tudo é iluminada, instruída , corrigida , guiada, dirigida e excitada a elevar-se à união perfeita do amor divino e a praticar o mais puro, perfeito, santo e sublime da vida espiritual.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU, MARIA SANTÍSSIMA .
Cuidado dos anjos pelos homens

655. Mina filha, admirável é o amor, fidelidade e cuidado dos espíritos angélicos em assistir às necessidades dos mortais, e muito censurável o esquecimento, ingratidão e grosseria da parte dos homens em reconhece r esta dívida . No segredo do peito do Altíssimo, cuja face contemplam (Mt 18,10) na luz beatífica, conhecem estes celestiais espíritos o infinito e paternal amor do Pai dos céus pelos homens terrenos. Ali sentem digno apreço e estima pelo Sangue do Cordeiro, com que foram comprados (ICor 6 , 20) e resgatados, e compreendem quanto valem as almas adquiridas com o tesouro da Divindade. Disto nasce nos santo s anjos o desvelo e atenção no guardar e beneficiar as alma s que , por estimá-la s tanto , o Altíssimo confiou à sua custódia . Quero que entendas como, por este sublime serviço do s anjos , o s mortais receberiam grandes influências de luz e incomparáveis favores do Senhor, s e não os impedissem com o óbice de seus pecados e abominações, e com o esquecimento d e tão estimável favor. Visto que fecham o caminho que Deus , com inefável providência , havia escolhido para dirigi-los à felicidade eterna, condenam-se muitos que poderiam se salvar com a proteção dos anjos, se não inutilizassem este benefício e socorro.

Exortação ao culto dos anjos

656. Filha caríssima, já que muitos homens vivem tão adormecidos, sem advertir nas paternais obras de meu Filho e Senhor , quero que sejas singularmente agradecida, pois com tanta liberalidade te favoreceu, dando-te anjos para te guardarem. Atende à sua presença , ouve seus ensinamentos co m reverência , deixa-te guiar por sua luz, respeita-os como embaixadores do Altíssimo. Pede-lhes auxílio par a seres purificada de tuas culpas, libertada de imperfeições, inflamada n o divino amor . Possas chega r a um estado tão espiritualizado, que esteja s idônea par a tratar com eles, ser sua companheira e participar de suas divinas iluminações, pois não as negará o Altíssimo, se te dispuseres como deves e eu quero.

Maria explica a razão de suas comunicações com os anjos

657. Como desejaste saber, com aprovação da obediência, a razão dos anjos s e comunicarem comigo por tantos modos de visões , respondo a teu desejo , explicando-te melhor o que com a divina luz entendeste e escreveste. As razões foram: o liberal amor do Altíssimo em favorecer-me, e a minha condição de viadora no mundo. A este estado não era possível nem conveniente a uniformidade no s ato s da s virtudes , por cujo meio dispunha a divina Sabedoria elevar-me acima de toda a criação. Tendo que proceder como viadora, humana e sensível, n a diversidade d e sucesso s e obras virtuosas, umas vezes agia como espiritualizada e independente do s sentidos , e neste caso os anjos tratavam-me como se tratam entre si . Como agem uns com os outros, assim agiam comigo. Outras vezes era necessário padecer e ser afligida na parte inferior da alma, na sensibilidade ou no corpo; ora padecia necessidades, ora solidão e desamparos interiores. Segundo a vicissitude destes efeitos e estados , recebia o s favores e visitas dos anjos . Deste modo, em certas ocasiões falava com eles por inteligências; noutras, por visão imaginária, ou ainda por visão corpórea e sensível, conforme o meu estado e necessidade exigiam e era disposto pelo Altíssimo.

Meios para receber essas graças e recompensa delas

658. Por todos estes modos, foram minhas potências e sentidos ilustrados e santificados com obras divinas, influências e favores . Devi a conhecê-la s por experiência, e através de todas receber os influxos d a graça sobrenatural . Não obstante a gratuidade destes favores, quero, minha filha, que saibas: se o Altíssimo foi comigo tão magnífico e misericordioso, guardou sua equidade tal ordem, que não me favoreceu tanto apenas por minha dignidade de Mãe, mas também levou em consideração minhas obras e disposições, pelas quais colaborei com a assistência de sua divina graça. Afastando minhas potências e sentidos de todo o comércio com as criaturas, é renunciando a todo o sensível e criado, converti-me ao sumo bem, entregando-me com todas as minhas forças e vontade unicamente ao seu santo amor. Por esta disposição de minha alma, Ele santificou minhas potências. Com tantos benefícios, visões e ilustrações das mesmas potências, retribuiu a privação de todo o deleitável humano e terrestre que, por seu amor se haviam imposto. Foi tal a recompensa que de minhas obras recebi em carne mortal, que não podes entender nem escrever , enquanto nela vives . Tão grande é a liberalidade e bondade do Altíssimo que, antecipadamente, dá este pagamento em penhor daquele que tem reservado para a vida eterna.

Como obter tais graças

659. É certo que, por estes meios, o poder de Deus dispôs , desde minha Conceição, fosse dignamente preparada à encarnação do Verbo em meu seio. Minhas potências e sentidos deveriam ser santificados e proporcionados à convivência que teriam com o Verbo encarnado. Se. porém, a s demais almas se dispuserem à minha imitação , vivendo não segundo a carne, mas com a vida pura e espiritual, afastadas do contágio terreno, o Altíssimo é tão fiel com quem assim o empenha, que não lhe negará seus benefícios e favores, segundo a equidade de sua divina providência.

ESTUDO 45 VIDA INTIMA

12-47
Maio 23, 1918

Os vôos da alma no Querer Divino.

(1) Esta manhã meu doce Jesus não veio, e eu a passei entre suspiros, ânsias e amarguras,
mas toda imersa em sua Vontade. Chegada a noite não podia mais, e o chamava e o voltava a
chamar, meus olhos não se podiam fechar, me sentia inquieta, a qualquer custo queria a Jesus;
enquanto me encontrava nisto veio e me disse:
(2) "Minha pomba, quem pode te dizer os vôos que faz no meu Querer, o espaço que percorre,
as extensões que voa? Ninguém, ninguém, nem mesmo você saberia dizer! Eu, só Eu posso
dizer, que Eu meço as fibras, que Eu numero o vôo de teus pensamentos, de teus batimentos,
e enquanto voa vejo os corações que tocas; mas não te detenhas, voa a outros corações e
chama e volta a chamar e voa de novo, e sobre suas asas leva meu amor a outros corações
para me fazer amar, e depois, em um só vôo vêem a meu coração para tomar descanso, para
depois reiniciar vôos mais rápidos. Eu me divirto com minha pomba e chamo os anjos, a minha
Mamãe a se divertir Comigo. Mas olha, eu não vou te dizer tudo, o resto eu vou dizer no Céu,
oh, quantas coisas surpreendentes eu vou te dizer!"
(3) Depois pôs-me a mão na testa e acrescentou:
(4) "Deixo-te a sombra da minha Vontade, o fôlego do meu Querer, dorme".
(5) E adormeci.

13-43
Dezembro 22, 1921

A finalidade de amar a Deus, abre a alma para receber a corrente de todas as suas 
graças. A Divina Vontade é a maior de todas as virtudes.

(1) Continuando meu habitual estado, meu sempre amável Jesus se fazia ver dentro de uma luz
deslumbrante, e esta luz desfazendo-se em chuva de luz caía sobre as almas, mas muitas não
recebiam esta corrente de luz porque estavam como fechadas, e a corrente corria até onde
encontrava almas abertas para recebê-la, e meu doce Jesus me disse:

(2) "Minha filha, a corrente de minha graça entra nas almas que operam por puro amor, a única
finalidade de me amar tem abertas às almas para receber a corrente de todas minhas
graças. Amor sou Eu, amor são elas, assim que elas estão em contínuas correntes para Mim e
Eu para elas; ao contrário, aqueles que trabalham por fins humanos estão fechados para Mim,
sua corrente está aberta a tudo o que é humano, e a corrente do que é humano recebem; quem
age com o fim de pecar recebe a corrente da culpa, e quem opera por fins diabólicos recebe a
corrente do inferno. A finalidade do agir dá as diversas tintas ao homem, que o transforma, ou
em belo ou em horrível, ou em luz ou em trevas, ou em santidade ou em pecado; qual é a
finalidade do agir, tal é o homem, por isso em minha corrente nem todos entra, e como é
rejeitada pelas almas que estão fechadas a Mim, então se descarrega com mais ímpeto e
abundância às almas abertas a Mim".

(3) Dito isto desapareceu, mas depois voltou e acrescentou:
(4) "Você me saberia dizer por que o sol ilumina toda a terra? Porque é muito maior que a terra,
e como é maior tem a capacidade de tomar em sua luz toda a circunferência da terra; se fosse
menor iluminaria uma parte, mas não toda, assim que as coisas menores são envolvidas e
absorvidas pelas coisas maiores. Agora, minha Vontade é a maior de todas as virtudes, por isso
todas as virtudes ficam diminuídas e perdidas em meu Querer, é mais, ante a virtude da
santidade de meu Querer, as outras virtudes tremem por reverência ante meu Querer, Sem Ele,
as virtudes acreditam fazer algo grande, mas ao contato com a santidade e potência da virtude
de minha Vontade, vêem que não fizeram nada, e para dar-lhes o selo de virtude estou
obrigado a submergi-las no mar imenso de minha Vontade. Minha Vontade não só tem o
primado sobre tudo, senão que dá as diferentes tintas de beleza às virtudes, põe nelas as tintas
divinas, o esmalte celestial, sua luz deslumbrante; então, se as virtudes não são revestidas por
meu Querer, serão boas, mas não belas com a beleza que arrebata, que encanta, que apaixona
Céu e Terra".

(5) Depois o meu doce Jesus me transportou para fora de mim mesma, e me fez ver que
debaixo do mar se abriam canais de água, que fazendo-se caminho debaixo de terra
inundavam os fundamentos das cidades, e em algumas partes se derrubavam edifícios, em
outras os faziam desaparecer, abrindo-se estes turbilhões de água engoliam tudo debaixo da
terra, e Jesus todo aflito me disse:
(6) "O homem não quer corrigir-se e minha justiça é forçada a golpeá-lo, muitas serão as
cidades que serão castigadas pela água, pelo fogo, por terremotos".
(7) E eu: "Meu amor, o que dizes? Não o farás". E enquanto queria rogar-lhe desapareceu".

14-47
Julho 30, 1922

Luísa sente repugnância de publicar os escritos. Lamentos de Jesus.

(1) Fazendo copiar, segundo a obediência do confessor, dos meus escritos o que Jesus me
tinha dito sobre as virtudes, eu queria fazê-lo copiar sem dizer que Jesus me tinha dito, e Ele ao
vir, desagradando-se me disse:
(2) "Minha filha, por que queres esconder-me? Eu sou um desonrado e é por isso que não
queres que se faça menção de Mim? Quando se diz um bem, um dito, uma obra, uma verdade
de uma pessoa desonrada, não se quer dizer quem seja para não fazer perder a estima, a
glória, o prestígio e o efeito que há naquele bem, naquele dito, etc., porque se se diz quem é,
não será apreciado e perderá todo o belo, sabendo que a fonte de onde vem não merece
nenhum apreço, ao contrário, se é pessoa de bem e honorável, primeiro se diz o nome da
pessoa para fazer ressaltar e apreciar principalmente o que disse ou fez, e depois diz-se o que
fez ou disse. Então eu não mereço que o meu nome seja posto à frente das minhas palavras?
Ah, como você me trata mal! Não esperava esta pena de ti, e no entanto fui tão magnânimo
contigo, manifestei-te tantas coisas de Mim, fiz-te conhecer tantas coisas, e as mais íntimas de
Mim, o que não fiz com os demais. Deveria ter sido mais generosa em me fazer conhecer, em
vez disso foi a mais mesquinha. Os outros, aquele pouco que lhes disse, teriam querido tocar
trombetas para me fazer conhecer e amar, em troca você quer me esconder, isto em verdade
não me agrada".
(3) E eu, quase confusa e humilhada no máximo eu disse-lhe:
(4) "Meu Jesus, perdoe-me, Você está certo, é a grande repugnância que eu sinto, esse dever
colocar a minha vontade no modo como devo sair me tortura. Tu tens piedade de mim, dá-me
mais força e graça e alarga mais o meu coração, a fim de que jamais te possa dar esta pena".
(5) E Jesus: "Eu te abençoo a fim de que seu coração receba mais Graça e seja mais dado em
me fazer conhecer e amar".

16-52
Fevereiro 28, 1924

O Senhor suspendeu os bens que tinha estabelecido na
Criação, para dá-los às almas que devem viver em seu Querer.

(1) Enquanto rezava, sentia o meu amável Jesus dentro de mim, que agora rezava, agora sofria,
agora como se estivesse trabalhando, e freqüentemente me chamava por meu nome, e eu dizia:
"Jesus, o que queres, o que estás a fazer? Parece-me que estás muito ocupado e sofres muito, e
enquanto me chamas, atraído por tuas ocupações esqueces-te que me tens chamado e não me diz
nada".
(2) E Jesus: "Minha filha, estou tão ocupado em ti porque estou desenvolvendo todo o trabalho do
viver em meu Querer. É necessário que primeiro o faça em você, e enquanto o faço amarro todo
seu interior na interminável luz de minha Vontade, a fim de que sua pequena vontade humana fique
concatenada e nela tome seu lugar, e alargando-se nela receba todo o bem que a Vontade Divina
quer dar à vontade humana. Você deve saber que, enquanto a Divindade decretou a Criação, pôs
fora de Si tudo o que devia dar à criatura, os dons, as graças, as carícias, os beijos, o amor que lhe
devia manifestar; e assim como pôs fora o sol, as estrelas, o céu azul e tudo o mais, assim pôs fora
todos os dons com os quais devia enriquecer as almas.

Agora, enquanto o homem se subtraiu da Vontade Suprema, rejeitou todos estes dons,
mas a Divindade não os retirou em Si mesma, mas
deixou-os suspensos em Sua Vontade esperando que a vontade humana se vinculasse à sua e
entrasse na primeira ordem por Ela criado, para pôr em corrente com a natureza humana os dons
por Ela estabelecidos, assim que estão suspensas em minha Vontade todas as finezas de amor, os
beijos, as carícias, os dons, as comunicações e as minhas inocentes diversões que devia ter tido
com Adão se não tivesse pecado. Minha Vontade quer entregar estes enxames de bens que tinha
estabelecido dar às criaturas, e por isso quero estabelecer a lei do viver em meu Querer, para pôr
em vigor entre Criador e criatura todos estes bens suspensos, por isso estou trabalhando em você,
para reordenar sua vontade com a Divina, assim poderei dar início e pôr em comum os tantos bens
que até agora estão suspensos entre Criador e criatura. Me interessa tanto este reordenamento da
vontade humana com a Divina e que de todo viva nela, que até enquanto isto não me obtenha Sinto como se a Criação não tivesse meu objetivo primário.

Além disso, Eu criei a Criação não Porque
dela tinha necessidade, era mais que suficientemente feliz por Mim mesmo, e se a criei foi só por-
que aos tantos bens que continhamos em Nós mesmos queríamos acrescentar uma diversão fora
de Nós, por isso tudo foi criado, e dentro de um intenso desabafar do mais puro amor nosso, colocamos fora com nosso sopro onipotente esta criatura, para poder entreter-nos com ela, e ela fazer-
se feliz conosco e com todas as coisas criadas por nós por seu amor. Agora, não foi destruir a nossa finalidade, que quem devia servir só para nos fazer gozar e entreter-nos juntos, com subtrair-se
da nossa Vontade nos serviu de amargura, e afastando-se de nós, em vez de conosco entreteve se
com as coisas criadas por Nós, com suas mesmas paixões, e a Nós nos afastou? Não foi isso um
colocar de cabeça a finalidade de toda a Criação? Veja então como é necessário que nos refaçamos de nossos direitos, que a criatura retorna ao nosso seio para recomeçar nossos entretenimentos, mas deve retornar onde o homem fez começar nossa dor e vincular-se com nó indissolúvel com nossa Vontade Eterna, deve deixar a sua para viver da Nossa. Por isso estou trabalhando
em tua alma, tu segue o trabalho de teu Jesus que quer pôr em corrente os dons, as graças suspensas que há em minha Vontade".

20-45
Janeiro 4, 1927

Como cada novo ato de Vontade Divina leva uma nova Vida Divina. Como quem ouve a
verdade e não a quer levar a cabo fica queimado. Trabalho da Divina Vontade nas almas.

(1) Meu pobre coração hora gemia e hora agonizava pela dor da privação do meu amado Jesus. As
horas me parecem séculos e as noites intermináveis sem Ele, o sono foge de meus olhos, se ao
menos pudesse dormir, pois assim se adormeceria minha intensa dor, possivelmente me traria um
pequeno alívio, mas que, em vez de dormir me faço toda olhos, e olhos abertos, não fechados,
olhos meus pensamentos que querem correr para ver onde se encontra Aquele que busco e não
encontro; olho meu ouvido para ouvir ao menos o ligeiro golpe de seus passos, o eco doce e suave
de sua voz; meus olhos olham, talvez possam ver ao menos o relâmpago de sua vinda fugaz. Oh
como me custa sua privação, como suspiro seu retorno!

Agora, enquanto me encontrava entre as ânsias de querê-lo, meu doce Jesus se moveu em meu interior e se fazia ver dentro de mim,
sentado junto a uma mesinha de luz, todo ocupado e atento a ver toda a ordem do que Ele havia
manifestado sobre sua Santíssima Vontade, se tudo estava escrito, se faltava alguma coisa, e até
onde devia chegar para completar tudo o que concerne a sua Santíssima Vontade, tudo o que se
referia a seu Querer, as palavras, os conhecimentos, nas mãos de Jesus tomavam a imagem de
raio de luz, os quais Ele ordenava sobre essa mesinha de luz, e estava tão concentrado e ocupado
que, por quanto eu dizia, chamava-o, não me dava atenção. Então eu fiz silêncio, contentando-me
em estar perto e olhá-lo. Depois de um longo silêncio me disse:

(2) "Minha filha, quando se trata de coisas que se referem ao meu Querer, céus e terra estão
silenciosos e reverentes para serem espectadores de um ato novo desta Vontade Suprema, cada
ato novo d‟Ela leva a todos uma Vida Divina a mais, uma força, uma felicidade, uma beleza
arrebatadora. Por isso a Vontade Divina trabalhadora que põe fora de Si um ato seu, é a coisa
maior que pode existir no Céu e na terra; céus novos, sóis mais belos podem sair de um ato a mais
de minha Vontade. É por isso que quando se trata d‟Ela, tu e eu temos de pôr tudo de lado e tratar
apenas do Eterno Fiat. Não se trata de reordenar em ti uma vontade humana, uma virtude
qualquer, mas sim se trata de reordenar uma Vontade Divina e trabalhadora, por isso se necessita
demasiado, e Eu, estando ocupado em coisas que mais me correspondem e que levarão o grande
bem de um ato novo desta Suprema Vontade, não faço caso de tuas chamadas, porque quando se
trata de fazer o mais, as coisas menores se fazem a um lado".

(3) Depois disto estava seguindo o meu apaixonado Jesus na Paixão, e tendo chegado ao ponto
quando Herodes o assediava a perguntas e Ele calava-se, pensava em mim: "Se Jesus tivesse
falado talvez aquele se tivesse convertido". E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(4) "Minha filha, Herodes não me pediu para conhecer a verdade, mas para bisbilhotar e zombar de
Mim, e se Eu tivesse respondido teria zombado dele, porque quando falta a vontade de conhecer a
verdade e de realizá-la, falta o humor na alma para receber o calor que leva consigo a luz de
minhas verdades; este calor não encontrando a umidade para fazer germinar e fecundar a verdade,
queima demais e faz secar o bem que pode produzir. Acontece como ao sol, que quando não
encontra a umidade nas plantas, seu calor serve para secar e queimar a vida das plantas, mas se
encontra umidade faz prodígios, por isso a verdade é bela, é amável, é a restauradora e
fecundadora das almas, com o seu calor e luz forma prodígios de desenvolvimento, de graças e de
santidade, mas isto para quem ama conhecê-la para fazê-la; mas para quem não ama fazê-la, a
verdade zomba deles em vez de ficar zombada".

(5) Depois disto, enquanto escrevia sentia tal desfalecimento de forças que o fazia
trabalhosamente, não me sentia colocar as palavras por Jesus para me facilitá-lo, nem a plenitude
da luz mental que qual mar se faz em minha mente, que devo me contentar em tomar poucas gotas
de luz para escrever sobre o papel, de outra maneira se quisesse colocar tudo, faria como uma
pessoa que vai no mar e gostaria de tomar toda a água do mar em sua mão, por quanto tome, tudo
lhe escapa, em troca se toma poucas gotas pode ter êxito em levá-las consigo. Então tudo era
fadiga em mim, na alma, no corpo, em tudo. Então me sentindo tão mal pensava em mim: "Talvez
não seja mais Vontade de Deus que eu escreva, de outra maneira teria me ajudado como das
outras vezes, ao contrário é tanta a fadiga, o esforço que devo fazer, que não posso seguir adiante,
por isso se Jesus não o quer, tampouco eu o quero". Mas enquanto isso eu pensava, meu doce
Jesus saiu de dentro de mim e me disse:

(6) "Minha filha, quem deve possuir o Reino de minha Vontade não só a deve fazer e deve viver
nela, mas também deve sentir e sofrer o que sente e sofre minha Vontade nas almas; o que você
sente não é outra coisa que a condição na que se encontra nas criaturas, como corre
cansativamente, quantos esforços não deve fazer para subjugar as criaturas para fazê-las fazer
sua Vontade, como a têm reprimida na sua lhe tiram o mais belo de sua Vida neles, qual é sua
energia, sua alegria, sua força, e é obrigada a agir sob a pressão de uma vontade humana,
melancólica, débil e inconstante. Oh! sob que pesada opressão, amarga, esmagadora, têm a minha
Vontade as criaturas, não queres tu tomar parte em suas penas? Minha filha, tu deves ser como
uma tecla, para que minha Vontade, qualquer som que queira fazer, tu deves te prestar a formar
esse som que quer fazer, e quando tenha formado em ti todos os sons que Ela possui, sons de
alegria, de fortaleza, de bondade, de dor, etc., a sua vitória de ter formado em ti o seu Reino será
completo. Por isso pensa mais bem que é uma melodia diversa e distinta que quer fazer em ti, é
uma tecla a mais que quer adicionar em tua alma, porque no Reino do Fiat Supremo quer
encontrar todas as notas do concerto musical da Pátria Celestial, para que nem mesmo a música
falte em seu Reino".

20-45
Janeiro 4, 1927

Como cada novo ato de Vontade Divina leva uma nova Vida Divina. Como quem ouve a
verdade e não a quer levar a cabo fica queimado. Trabalho da Divina Vontade nas almas.

(1) Meu pobre coração hora gemia e hora agonizava pela dor da privação do meu amado Jesus. As
horas me parecem séculos e as noites intermináveis sem Ele, o sono foge de meus olhos, se ao
menos pudesse dormir, pois assim se adormeceria minha intensa dor, possivelmente me traria um
pequeno alívio, mas que, em vez de dormir me faço toda olhos, e olhos abertos, não fechados,
olhos meus pensamentos que querem correr para ver onde se encontra Aquele que busco e não
encontro; olho meu ouvido para ouvir ao menos o ligeiro golpe de seus passos, o eco doce e suave
de sua voz; meus olhos olham, talvez possam ver ao menos o relâmpago de sua vinda fugaz. Oh
como me custa sua privação, como suspiro seu retorno! Agora, enquanto me encontrava entre as
ânsias de querê-lo, meu doce Jesus se moveu em meu interior e se fazia ver dentro de mim,
sentado junto a uma mesinha de luz, todo ocupado e atento a ver toda a ordem do que Ele havia
manifestado sobre sua Santíssima Vontade, se tudo estava escrito, se faltava alguma coisa, e até
onde devia chegar para completar tudo o que concerne a sua Santíssima Vontade, tudo o que se
referia a seu Querer, as palavras, os conhecimentos, nas mãos de Jesus tomavam a imagem de
raio de luz, os quais Ele ordenava sobre essa mesinha de luz, e estava tão concentrado e ocupado
que, por quanto eu dizia, chamava-o, não me dava atenção. Então eu fiz silêncio, contentando-me
em estar perto e olhá-lo. Depois de um longo silêncio me disse:

(2) "Minha filha, quando se trata de coisas que se referem ao meu Querer, céus e terra estão
silenciosos e reverentes para serem espectadores de um ato novo desta Vontade Suprema, cada
ato novo d‟Ela leva a todos uma Vida Divina a mais, uma força, uma felicidade, uma beleza
arrebatadora. Por isso a Vontade Divina trabalhadora que põe fora de Si um ato seu, é a coisa
maior que pode existir no Céu e na terra; céus novos, sóis mais belos podem sair de um ato a mais
de minha Vontade. É por isso que quando se trata d‟Ela, tu e eu temos de pôr tudo de lado e tratar
apenas do Eterno Fiat. Não se trata de reordenar em ti uma vontade humana, uma virtude
qualquer, mas sim se trata de reordenar uma Vontade Divina e trabalhadora, por isso se necessita
demasiado, e Eu, estando ocupado em coisas que mais me correspondem e que levarão o grande
bem de um ato novo desta Suprema Vontade, não faço caso de tuas chamadas, porque quando se
trata de fazer o mais, as coisas menores se fazem a um lado".

(3) Depois disto estava seguindo o meu apaixonado Jesus na Paixão, e tendo chegado ao ponto
quando Herodes o assediava a perguntas e Ele calava-se, pensava em mim: "Se Jesus tivesse
falado talvez aquele se tivesse convertido". E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(4) "Minha filha, Herodes não me pediu para conhecer a verdade, mas para bisbilhotar e zombar de
Mim, e se Eu tivesse respondido teria zombado dele, porque quando falta a vontade de conhecer a
verdade e de realizá-la, falta o humor na alma para receber o calor que leva consigo a luz de
minhas verdades; este calor não encontrando a umidade para fazer germinar e fecundar a verdade,
queima demais e faz secar o bem que pode produzir. Acontece como ao sol, que quando não
encontra a umidade nas plantas, seu calor serve para secar e queimar a vida das plantas, mas se
encontra umidade faz prodígios, por isso a verdade é bela, é amável, é a restauradora e
fecundadora das almas, com o seu calor e luz forma prodígios de desenvolvimento, de graças e de
santidade, mas isto para quem ama conhecê-la para fazê-la; mas para quem não ama fazê-la, a
verdade zomba deles em vez de ficar zombada".

(5) Depois disto, enquanto escrevia sentia tal desfalecimento de forças que o fazia
trabalhosamente, não me sentia colocar as palavras por Jesus para me facilitá-lo, nem a plenitude
da luz mental que qual mar se faz em minha mente, que devo me contentar em tomar poucas gotas
de luz para escrever sobre o papel, de outra maneira se quisesse colocar tudo, faria como uma
pessoa que vai no mar e gostaria de tomar toda a água do mar em sua mão, por quanto tome, tudo
lhe escapa, em troca se toma poucas gotas pode ter êxito em levá-las consigo. Então tudo era
fadiga em mim, na alma, no corpo, em tudo. Então me sentindo tão mal pensava em mim: "Talvez
não seja mais Vontade de Deus que eu escreva, de outra maneira teria me ajudado como das
outras vezes, ao contrário é tanta a fadiga, o esforço que devo fazer, que não posso seguir adiante,
por isso se Jesus não o quer, tampouco eu o quero". Mas enquanto isso eu pensava, meu doce
Jesus saiu de dentro de mim e me disse:

(6) "Minha filha, quem deve possuir o Reino de minha Vontade não só a deve fazer e deve viver
nela, mas também deve sentir e sofrer o que sente e sofre minha Vontade nas almas; o que você
sente não é outra coisa que a condição na que se encontra nas criaturas, como corre
cansativamente, quantos esforços não deve fazer para subjugar as criaturas para fazê-las fazer
sua Vontade, como a têm reprimida na sua lhe tiram o mais belo de sua Vida neles, qual é sua
energia, sua alegria, sua força, e é obrigada a agir sob a pressão de uma vontade humana,
melancólica, débil e inconstante. Oh! sob que pesada opressão, amarga, esmagadora, têm a minha
Vontade as criaturas, não queres tu tomar parte em suas penas? Minha filha, tu deves ser como
uma tecla, para que minha Vontade, qualquer som que queira fazer, tu deves te prestar a formar
esse som que quer fazer, e quando tenha formado em ti todos os sons que Ela possui, sons de
alegria, de fortaleza, de bondade, de dor, etc., a sua vitória de ter formado em ti o seu Reino será
completo. Por isso pensa mais bem que é uma melodia diversa e distinta que quer fazer em ti, é
uma tecla a mais que quer adicionar em tua alma, porque no Reino do Fiat Supremo quer
encontrar todas as notas do concerto musical da Pátria Celestial, para que nem mesmo a música
falte em seu Reino".


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