ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 46° SEMANA DE ESTUDOS

 

LIVRO DO CÉU VOLUME 1 

(9) Recordo que às vezes, depois de renovadas estas crucifixões me dizia:

(10) "Amada do meu coração, desejo ardentemente não só crucificar-te a alma e comunicar-te as
dores da cruz ao corpo, mas desejo selar-te também o corpo com o selo das minhas chagas, e
quero ensinar-te a oração para obter esta graça, a oração é esta: "Eu me apresento diante do trono
supremo de Deus, banhada no sangue de Jesus Cristo, pedindo-lhe que, pelo mérito de suas
preclaríssimas virtudes e de sua Divindade, me conceda a graça de crucificar-me".

(11) E eu, apesar de que sempre tive aversão a tudo o que pode aparecer exteriormente, como
ainda a tenho, no ato em que Jesus dizia, isto me sentia infundir tal anelo de satisfazer o desejo
que Ele mesmo dizia, que também eu me atrevia a dizer a Jesus que me crucifica na alma e no
corpo, e algumas vezes lhe dizia: "Esposo Santo, coisas exteriores não gostaria, e se alguma vez
me atrevo a dizê-lo, é porque Tu mesmo me dizes, e também para dar um sinal ao confessor de
que és Tu quem obra em mim. De resto não queria outra coisa senão que aquelas dores que me
fazes sofrer quando me renovas a crucificação, fossem permanentes, não queria essa diminuição
depois de algum tempo, e só isso me basta, e que da aparência externa, quanto mais o possas
manter oculto, tanto mais me contentará".

2-47
Julho 18, 1899

(1) Continua quase sempre o mesmo. Desta vez me parecia que em meu coração estivesse
Jesus Sacramentado, e desde a hóstia santa espargia tantos raios de luz em meu interior, e a
meu coração saíam tantos fios de luz, que se entrelaçavam todos esses raios de luz, parecia-
me que Jesus com seu amor atraía todo meu coração, e meu coração com aqueles fios atraía
e amarrava Jesus a estar comigo.

* * * * * *

2-48
Julho 22, 1899

Como a cruz torna a alma transparente.

(1) Esta manhã o meu adorável Jesus fazia-se ver com uma cruz de ouro pendurada ao
pescoço, toda resplandecente, e que ao olhá-la se comprazia imensamente. De repente,
encontrou-se presente o confessor e Jesus disse-lhe: "Os sofrimentos dos dias passados
aumentaram tanto o resplendor da cruz que, olhando para ela, sinto-me muito feliz".

(2) Depois se dirigiu a mim e me disse: "A cruz comunica tal resplendor à alma, de torná-la
transparente e assim como quando um objeto é transparente lhe podem dar todas as cores que
se queira, assim a cruz, com sua luz dá todas as linhas e formas mais belas que jamais se
possam imaginar, não só pelos outros, mas também pela própria alma que os
experimenta. Além disso, em um objeto transparente logo se descobre o pó, as pequenas
manchas e até qualquer escurecimento; assim é a cruz, como faz transparecer à alma, logo
descobre os pequenos defeitos, as mínimas imperfeições, tanto que não há mão mestra mais
hábil que a cruz, para ter a alma preparada para torná-la digna habitação do Deus do Céu".
(3) Quem pode dizer o que compreendi da cruz e quão invejável é a alma que a possui?

(4) Depois disto me transportou para fora de mim mesma e me encontrei sobre uma escada
altíssima, sob a qual havia um precipício e por acréscimo os degraus desta escada eram
móveis e tão estreitos que mal se podia apoiar a ponta dos pés; o que mais dava terror era o
precipício e o não poder encontrar apoio de nenhum tipo, e querendo agarrar-se dos degraus,
estes se caíam junto; ver que quase todas as outras pessoas caíam infundia calafrio nos
ossos; Mas não se podia evitar passar por aquela escada. Então o tentei, mas assim que subi
dois ou três degraus, vendo o grande perigo que corria de cair no abismo, comecei a chamar a
Jesus para que viesse em minha ajuda, então, sem saber como, encontrei a Jesus junto a mim
e me disse:

(5) "Minha filha, isto que tu viste é o caminho que percorrem todos os homens nesta terra; os
degraus móveis, sobre os quais não podem apoiar-se para ter um sustento, são os apoios
humanos, as coisas terrenas, que se querem apoiar sobre elas, em vez de lhes dar uma ajuda
dão-lhes um empurrão para precipitarem-se mais cedo no inferno. O meio mais seguro é o
caminhar quase voando, sem se apoiar sobre a terra, à força dos próprios braços, com os
olhos em si mesmos, sem olhar aos demais e também tendo-os todos atentos a Mim para ter
ajuda e força, assim se poderá facilmente evitar o precipício".

3-57 Abril 2, 1900

Jesus julga não segundo as obras que se fazem, mas segundo a vontade com que se obra.

(1) Esta manhã sofri muito pela ausência de meu amado Jesus, mas Ele recompensou minhas
penas satisfazendo um desejo meu de querer saber uma coisa que há muito desejava. Então,
depois de ter girado e girado em busca de Jesus, e que agora o chamava com a oração, agora
com as lágrimas, agora com o canto, pois talvez pudesse ficar ferido por minha voz e se deixasse
encontrar, mas tudo em vão. Tenho repetido meus gemidos; a quem encontrava perguntava sobre
Ele, finalmente, quando meu coração se sentia despedaçado e que não podia mais, o encontrei,
mas o via de costas, e lembrando-me de uma resistência que lhe fiz, a que direi no livro do
confessor (3) pedi perdão e assim parece que nos pusemos de acordo, tanto que ele mesmo me
perguntou o que queria, e eu lhe disse: "Diga-me para conhecer sua Vontade sobre meu estado,
especialmente o que devo fazer quando me encontro com poucos sofrimentos e Você não vem, e
se você vem é quase como sombra; então, não te vendo, meus sentidos os sinto em mim mesma,
e encontrando-me nesta posição sinto como se pusesse do meu e não fosse necessário esperar a
vinda do confessor para sair daquele estado".
(2) E Jesus: "Sofras ou não sofras, venha Eu ou não venha, teu estado é sempre de vítima, muito
mais que esta é minha Vontade e a tua, e Eu julgo não segundo as obras que se fazem, senão
segundo a vontade com que se obra".
(3) E eu: "Senhor meu, está bem como dizes, mas me parece que estou inútil e se perde muito
tempo, e sinto um incômodo, um temor, e além disso fazer vir ao confessor, me atormenta a alma
que não fosse Tua vontade".
(4) E Ele: "Pensas tu que seja pecado fazer vir ao confessor?"
(5) E eu: "Não, mas temo que não seja Tua Vontade".
(6) E Ele: "Deves fugir do pecado, mesmo da sua sombra, mas do resto não deves preocupar-te".
(7) E eu: "E se não fosse a tua vontade, em que aproveitaria estar assim?" (8) E Ele: "Ah, me
parece que minha filha quer fugir do estado de vítima, não é verdade?"
(9) E eu, ficando vermelho, disse: "Não Senhor, digo isto pelas vezes que não me fazes sofrer e
não vens, de resto faz-me sofrer e eu não me preocuparei".
(10) E Jesus: "E a mim parece-me que queres fugir. Além disso, você sabe que horas eu reservei
para vir aqui e comunicar minhas dores, se a primeira, a segunda, a terceira, ou talvez a última
hora? Por isso distraindo-te de Mim e esforçando-te por sair ocupar-te-ás em outra coisa, e Eu
vindo não te encontrarei preparada, darei a volta e irei a outra parte".
(11) E eu toda assustada "Jamais seja, ó Senhor. Não quero saber outra coisa senão a tua
Santíssima Vontade".

(12) E Ele: "Permanece calma e espera o confessor".
(13) Dito isto, ele desapareceu. Parece que me sinto aliviada de um grande peso por este falar de
Jesus, mas com tudo isto não diminuiu em mim a pena dolorosa quando Jesus me priva Dele.

4-102
Janeiro 14, 1902

Não se é digno de Jesus se não se esvazia de tudo.
Em que consiste a verdadeira exaltação.

(1) Estando em meu estado habitual veio meu adorável Jesus e me disse:
(2) "Minha filha, não pode ser verdadeiramente digno de Mim, senão só quem esvaziou tudo de
dentro de si, e se encheu tudo de Mim, de modo a formar de si mesmo um objeto todo de amor
divino, tanto, que meu amor deve chegar a formar sua vida e a me amar não com seu amor, mas
com meu amor".
(3) Depois acrescentou: "O que significam aquelas palavras: "Depôs do trono os poderosos e tem
exaltado os pequenos?" Que a alma destruindo-se totalmente a si mesma se enche toda de Deus,
e amando a Deus com o próprio Deus, Deus exalta a alma a um amor eterno, e esta é a verdadeira
e a maior exaltação e ao mesmo tempo a verdadeira humildade".
(4) Depois continuou: "O verdadeiro sinal para conhecer se se possui este amor, é se a alma não
se ocupa de nenhuma outra coisa senão de amar a Deus, de fazê-lo conhecer, e fazer que todos o
amem".
(5) Depois, retirando-se em meu íntimo ouvi que rezava dizendo:
(6) "Sempre Santa e indivisível Trindade, vos adoro profundamente, vos amo intensamente, vos
agradeço perpetuamente por todos e nos corações de todos".
(7) E assim a passei, ouvindo quase sempre que rezava dentro de mim e eu junto com Ele.

4-117
Março 10, 1902

A pena do amor é mais terrível que o inferno.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me fora de mim mesma, e como ia buscando a
meu adorável Jesus e não o encontrava, repetia as buscas, os prantos, mas tudo em vão, não
sabia o que fazer, meu pobre coração agonizava e sentia uma dor tão aguda que não sei explicar,
Só sei dizer que não sei como fiquei viva. Enquanto me encontrava nesta dolorosa situação, mas
sempre procurando-o, sem poder nem um momento abster-me de fazer novas buscas, finalmente o
encontrei e lhe disse: "Senhor, como te fazes cruel comigo? Olhe um pouco Tu mesmo se são
penas que eu possa tolerar". E toda sem forças me abandonei em seus braços, e Jesus
compadecendo-me toda e olhando-me disse:

(2) "Filha amada minha, tens razão, acalma-te, acalma-te que estou contigo e não te deixarei;
pobre filha, como sofres, a pena do amor é mais terrível que o inferno. Que coisa tiraniza mais, o
inferno, um amor contraposto, um amor odiado? O que pode tiranizar a uma alma mais que o
inferno? Um amor amado. Se você soubesse quanto sofro Eu ao te ver por minha causa tiranizada
por este amor; para não me fazer sofrer tanto deveria estar mais tranqüila quando te privo de
minha presença. Imagine você mesma, se Eu sofro tanto ao ver sofrer a quem não me ama e me
ofende, quanto mais sofrerei ao ver sofrer a quem me ama?"

(3) Então eu ao ouvir isto, toda comovida disse: "Senhor, diz-me ao menos se queres que me
esforce para sair deste estado sem esperar o confessor quando Tu não vens".
(4) E Ele acrescentou: "Não, não quero que tu saias deste estado antes que venha o confessor,
deixa todo o temor, eu ponho-me no teu interior tendo as tuas mãos nas minhas, e ao contato de
minhas mãos saberá que estou com você".
(5) Assim, quando me vem o desejo de querê-lo, sinto-me apertar as mãos pelas de Jesus, e
sentindo o contato divino me tranquilizo e digo: "É verdade, está comigo". Outras vezes vindo mais
forte o desejo de vê-lo, sinto-me apertar mais forte as mãos pelas suas e me diz:
(6) "Luísa, minha filha, estou aqui, aqui estou, não me procure em outro lugar".
(7) E assim parece que estou mais tranquila.

6-89
Dezembro 29, 1904

A fraqueza humana é falta de vigilância e de atenção.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava pensando nos acontecimentos mais
humilhantes que sofreu Nosso Senhor, e em mim mesma sentia horror, mas depois dizia entre
mim: "Senhor, perdoa aqueles que te renovam estes momentos dolorosos, porque é a muita
debilidade que o homem contém". Enquanto estava nisto, o bendito Jesus, assim que veio, disse-
me:

(2) "Minha filha, o que se diz fraqueza humana, na maioria das vezes é falta de vigilância e de
atenção de quem é cabeça, isto é: pais e superiores, porque a criatura quando é vigiada e
observada, e não se dá a liberdade que quer, a debilidade não tendo seu alimento (o encobrir a
debilidade é alimento para piorar na debilidade), por si mesma se destrói".
(3) Depois continuou: "Ah! Minha filha, assim como a virtude permeia a alma de luz, de beleza, de
graça, de amor, como uma esponja seca se impregna de água, assim o pecado, as fraquezas
encobertas impregnam a alma, como uma esponja se impregna de lama, de trevas e fealdade, e
até de ódio contra Deus".

7-54
Outubro 14, 1906

A própria estima envenena a Graça. Purgatório de uma alma por ter negligenciado a comunhão.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma com Jesus
menino, e parecia que dizia a um sacerdote:
(2) "A auto-estima envenena a Graça em ti e nos demais, porque, devendo por teu ofício prover
a Graça, se as almas advertem, porque facilmente se adverte quando há este veneno, que o
que dizes e fazes o faz para ser estimado, a Graça já não entra sozinha, mas junto com o
veneno que tu tens, e portanto em vez de ressurgir à vida encontram a morte".
(3) Depois acrescentou: "É necessário esvaziar-te de tudo para poder te encher do Todo que é
Deus, e tendo em ti o Todo, darás o Tudo a todos aqueles que virão a ti, e Tudo aos demais
encontrarás tudo à tua disposição, de modo que ninguém saberá negar-te nada, nem sequer a
estima, e mais, de humana a terás divina como convém ao Todo que habita em ti".
(4) Depois disto via uma alma do purgatório que ao ver-nos se escondia e nos fugia, e era tal a
vergonha que ela sentia que permanecia como esmagada. Eu fiquei espantada, porque em vez
de correr para o menino, fugia; Jesus desapareceu e eu me aproximei dela perguntando-lhe a
causa desta atitude, mas ela estava tão envergonhada que não podia dizer palavra, e tendo-a
forçado me disse:
(5) "Justa justiça de Deus, que tem selado sobre minha testa a confusão e tal temor de sua
presença, que estou obrigada a evitá-lo, obro contra meu mesmo querer, porque enquanto me
consumo por querê-lo porque enquanto me consumo por amá-lo, outra pena me inunda e fujo
dele. Oh Deus, vê-lo e fugir dele são penas mortais e inexprimíveis! Mas me mereci estas
penas distintas das de outras almas, porque levando uma vida devota deixei muitas vezes de
comungar por coisas de nada, por tentações, por frialdades, por temores, e também, alguma
vez para poder acusar-me disso perante o confessor e fazer-me ouvir que não recebia a
comunhão. Entre as almas isto se tem como um nada, mas Deus faz disto um severísimo juízo,
dando-lhes penas que superam as outras penas, porque são faltas mais diretas ao amor. Além
de tudo isto, Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento arde de amor e pelo desejo de dar-se às
almas, sente-se morrer continuamente de amor, e a alma podendo aproximar-se a recebê-lo e
não o fazendo, é mais, fica indiferente com tantos inúteis pretextos, é uma afronta e um
desprezo tal que Ele recebe, que se sente delirar, queimar, e não pode dar desafogo a suas
chamas, sente-se como sufocar por seu amor, sem que encontre a quem dar parte, e quase
enlouquecendo vai repetindo:
(6) "Os excessos de meus amores não são tomados em conta, mas são esquecidos, mesmo
aquelas que se dizem minhas esposas não têm ânsias de me receber e de me fazer desabafar
ao menos com elas, ah, em nada sou correspondido! Ah, não sou amado, não sou amado!"
(7) E o Senhor, para me fazer purgar estas faltas, fez-me tomar parte na dor que Ele sofre
quando as almas não o recebem. Esta é uma pena, é um tormento, é um fogo que comparado
ao mesmo fogo do purgatório, pode-se dizer que este é nada".
(8) Depois disto encontrei-me em mim mesma, atónita pensando na pena daquela alma,
enquanto para nós se tem verdadeiramente como um nada deixar a santa comunhão.

9-52
Novembro 1, 1910

A consumação na unidade de vontades, forma a unidade suprema

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, a unidade suprema é quando a alma chega a tal estreiteza de união com minha
Vontade, que consome qualquer sombra de seu querer, de modo que não se distingue mais qual
seja meu Querer e qual o seu. Assim, o meu Querer é a vida desta alma, de maneira que tudo o
que disponho tanto sobre ela como sobre os outros, em tudo está contente, qualquer coisa lhe
parece conveniente para ela, a morte, a vida, a cruz, a pobreza, etc., as olha todas como coisas
suas e que servem para manter sua vida. Chega a tanto, que até os castigos não a assustam mais,
senão que em tudo está contente do Querer Divino, tanto que lhe parece que se Eu o quero ela o
quer, e se ela o quer o Senhor o faz, Eu faço o que ela quer, e ela faz o que quero Eu.

Este é o último ponto da consumação de tua vontade na minha, que tantas vezes te pedi, e que a
obediência e a caridade para com o próximo não te permitiram, tanto, que muitas vezes Eu tenho
cedido ante ti em não castigar, mas tu não cedeste a Mim, Por isso sou obrigado a esconder-me de
ti, para estar livre quando a justiça me atormenta e os homens chegam a provocar-me para tomar o
flagelo em minha mão para castigar as pessoas. Se te tivesse Comigo, com a minha vontade no
ato de açoitar, talvez houvesse diminuído o flagelo, porque não há poder maior nem no Céu nem
na terra, que uma alma que em tudo e por tudo está consumada em minha Vontade; esta chega a
debilitar-me e desarma-me como lhe aprouver. Esta é a unidade suprema; além disso, há a
unidade baixa, na qual a alma está resignada, sim, mas não vê minhas disposições como coisa
sua, como sua vida, nem se faz feliz nela, nem perde sua vontade na minha. A esta vejo, sim, mas
não chega a me apaixonar, nem chego a enlouquecer por ela como o faço com aquelas da unidade
suprema".

+ + + +

9-53
Novembro 3, 1910

A alma: Paraíso de Jesus na terra.

(1) Esta manhã o bendito Jesus se fazia ver em meu interior em ato de recrear-se e aliviar-se de
tantas amarguras que lhe dão as criaturas, e disse estas simples palavras:
(2) "Tu és meu Paraíso na terra, minha consolação".
(3) E desapareceu.

10-52
Fevereiro 3, 1912

Se não se encontra em uma alma a pureza, o justo agir e o amor, não pode ser espelho de Jesus.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre amável Jesus veio, e pondo-me a sua santa
mão debaixo do queixo disse-me:
(2) "Minha filha, tu és o reflexo da minha glória".

(3) Depois acrescentou: "No mundo me são necessários espelhos onde ir olhar-me. Uma fonte só
pode servir como espelho para que as pessoas possam olhar-se, quando a fonte é pura, mas não
ajuda que a fonte seja pura se as águas são turvas; é inútil àquela fonte vangloriar-se da
preciosidade das pedras nas quais está fundamentada se as águas são turvas; nem o sol pode
fazer perpendiculares seus raios para fazer aquelas águas prateadas e comunicar-lhes a variedade
das cores; nem as pessoas podem olhar um para o outro.

Minha filha, as almas virgens são a semelhança da pureza da fonte, as águas cristalinas e puras são o justo agir, o sol que faz
perpendiculares seus raios sou Eu, a variedade das cores é o amor. Então, se Eu não encontrar
em uma alma a pureza, o justo agir e o amor, não pode ser meu espelho, estes são meus espelhos
nos quais faço refletir minha glória, todos os demais, apesar de serem virgens, não só não posso
me olhar neles, mas querendo fazer não me reconheço neles. E o sinal de tudo isto é a paz, por
isso conhecerás quão escassos espelhos tenho no mundo, porque pouquíssimas são as almas
pacíficas".

11-54
Maio 21,1913

Como se forma a verdadeira consumação.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, Jesus sempre gentil me disse:
(2) "Minha filha, Eu quero a verdadeira consumação em você, não fantástica, mas verdadeira,
mas de modo simples e factível. Suponha que lhe viesse um pensamento que não é para Mim,
você deve destruí-lo e substituí-lo com o divino, e assim terá feito a consumação do pensamento
humano e terá adquirido a vida do pensamento divino; assim também se o olho quer olhar
alguma coisa que me desagrada ou que não se refere a Mim, e a alma se mortifica, tem
consumado o olho humano e tem adquirido o olho da Vida Divina, e assim o resto de seu ser.

Oh! , como estas novas Vidas Divinas sinto-as correr em Mim e tomam parte em todo meu obrar,
amo tanto estas vidas, que por amor delas cedo a tudo. Estas almas são as primeiras diante de
Mim, e se as abençoo, através delas vêm abençoadas as demais; são as primeiras beneficiadas,
amadas, e por meio delas vêm beneficiadas e amadas as demais".

48. João e Tiago falam a Pedro sobre o encontro com o Messias.
12 de outubro de 1944.

48.1Sobre o Mar da Galiléia vem raiando uma belíssima aurora. O céu e a
água têm brilhos rosados, pouco diferentes daqueles que esplendem
suavemente por entre os muros dos pequenos jardins do povoado lacustre,
jardins dos quais se elevam e se deixam ver, quase lançando-se sobre as
vielas as frondes despenteadas e vaporosas das árvores frutíferas.
O povoado começa a despertar, com uma ou outra mulher que vai à fonte
buscar água, ou a algum tanque lavar roupa e com os pescadores que
descarregam as cestas de peixe, fazendo negócio com os mercadores em alta
voz, que vieram de outros lugares, ou levam peixes para casa. Eu disse um
povoado, mas não é tão pequeno. É um tanto humilde, ao menos do lado que
o vejo, embora vasto e extenso na parte mais longa do lago.
48.2 João aparece no fim de uma pequena estrada, indo apressado em
direção ao lago. Tiago o segue, mas muito mais calmo. João olha os barcos
que já chegaram à margem, mas não vê aquele que está procurando. Agora
ele acaba de enxergá-lo, mas está a algumas centenas de metros da beira,
atento às manobras para atracar, e grita bem alto, levando as mãos à boca
com um longo: “Oh-é!”, que deve ser um sinal combinado entre eles. E
depois, quando percebe que o ouviram, agita os braços em gestos largos, que
indicam: “Vinde, vinde!”
Os homens do barco, pensando quem sabe o que, agarram os remos, e o
barco vai mais veloz do que só com a vela, que eles amainaram, talvez para
conseguirem ir mais depressa. Quando estão a uns dez metros da margem,
João não espera mais. Tira o manto e a veste longa, e os lança sobre a praia,
tira as sandálias, levanta a túnica, tendo-a segura com uma mão quase à
virilha, e entrando na água, vai ao encontro dos que estão chegando.
– Por que vós dois não viestes? –pergunta André. Pedro, amuado, não
diz nada.
– E tu, por que não vieste comigo e o Tiago? –responde João a André.
– Eu fui pescar. Não tenho tempo para perder. Tu desapareceste com
aquele homem…
– Eu te havia feito sinal para que fosses. 48.3É Ele mesmo. Se ouvisses
que palavras!… Ficamos com Ele o dia todo e até tarde da noite. E agora,
viemos dizer-vos: “Vinde.”
– É Ele mesmo? Estais certos disso? Nós só o vimos naquele dia em
que o Batista no-lo mostrou.
– É Ele, pois, não o negou.
– Qualquer um pode dizer o que lhe interessa para impor-se aos
crédulos. Já não é a primeira vez… –resmunga Pedro, descontente.
– Oh! Simão. Não digas assim. Ele é o Messias! Ele sabe tudo! Ele te
está ouvindo!
João ficou magoado e consternado com as palavras de Simão Pedro.
– Ora essa! O Messias! E se mostra justamente a ti, a Tiago e André!
Três pobres ignorantes! Vai querer coisas bem diferentes o Messias! Ele me
está ouvindo! Mas, meu pobre rapaz, os primeiros dias do sol da primavera
te fizeram mal. Vamos, vem trabalhar. Será melhor. Deixa de histórias.
– Ele é o Messias, eu te asseguro. João Batista dizia coisas santas, mas
este fala como Deus. Quem não for o Cristo, não pode dizer semelhantes
palavras.
48.4 – Simão, eu não sou um jovenzinho. Eu já tenho muitos anos, sou
calmo e sensato. Tu sabes disso. Eu falei pouco, mas ouvi muito nestas horas
em que estivemos com o Cordeiro de Deus, e eu te digo que verdadeiramente
ele não pode ser senão o Messias. Por que não acreditar? Por que não querer
crer? Tu o podes fazer, porque não o ouviste. Mas eu creio. Somos pobres e
ignorantes? Ele bem disse que veio para anunciar a Boa Nova do Reino de
Deus, do Reino de Paz, aos pobres, aos humildes, aos pequenos, mais do que
aos grandes. Ele disse: “Os grandes já têm as suas delícias. Não são delícias
invejáveis, se comparadas àquelas que Eu venho trazer. Os grandes já têm
seu modo de chegar a compreender, somente pela força do estudo. Mas Eu
venho aos ‘pequenos’ de Israel e do mundo, àqueles que choram e esperam,
àqueles que procuram a Luz e têm fome do verdadeiro Maná; não é pelos
doutos que a luz e os alimentos são doados, pois o que eles dão é somente
opressão, escuridão, prisão e desprezo. Eu chamo os ‘pequenos.’ Eu vim
para virar o mundo de cabeça para baixo. Porque Eu abaixarei o que agora
está no alto, e elevarei o que agora está sendo desprezado. Quem quer
verdade e paz, quem quer vida eterna, venha a Mim. Quem ama a Luz, venha.
Eu sou a Luz do mundo.” Não foi assim que Ele disse, João?
Tiago falou de modo calmo, mas comovido.
– Sim. E Ele disse ainda: “O mundo não me amará. O grande mundo,
porque se corrompeu com vícios e comércios idolátricos. O mundo aliás,
não me quererá. Porque, como filho das Trevas, não ama a Luz. Mas a terra
não é feita só do grande mundo. Nela existem aqueles que, mesmo estando
misturados com todos, do mundo não são. Há alguns que são do mundo,
porque nele foram aprisionados como os peixes pela rede”: ele falou
justamente assim, porque nós estávamos conversando à margem do lago e
Ele apontava as redes que vinham arrastadas com os peixes para a praia.
Disse mais: “Vede. Nenhum daqueles peixes queria cair na rede. Também os
homens, intencionalmente, não iriam querer cair como presas de Mamon.
Nem mesmo os mais malvados porque estes, pela soberba que os cega, não
crêem que não tenham o direito de fazer o que fazem. O verdadeiro pecado
deles é a soberba. Deste pecado nascem todos os outros. Mas aqueles que
não são completamente maus, ainda mais não iriam querer ser de Mamon.
Eles caem por leviandade, por um peso que os arrasta para o fundo, que é a
culpa de Adão. Eu vim para tirar aquela culpa e para dar, na esperança da
hora da Redenção, uma tal força aos que em Mim crerem, que será capaz de
livrá-los do laço que os prende, tornando-os livres para Me seguirem: a Luz
do mundo!”
48.5 – Mas, então, se Ele falou mesmo assim, é preciso irmos para Ele, e
logo.
Pedro, com os seus impulsos tão sinceros, que me agradam tanto, de
repente decidiu, e já vai começando a fazer o que decidiu, apressando-se
para acabar os trabalhos da descarga, pois o barco já chegou à margem, e os
empregados já o puxaram para fora d’água, descarregando também as redes,
as cordas e o velame.
– E tu, André, por que foste tão tolo, para não teres ido com eles?
– Mas, Simão! Tu me censuraste, porque eu não consegui fazer que eles
viessem comigo. A noite inteira ficaste resmungando isso, e agora me
censuras porque eu não fui com eles?!…
– Tens razão… Mas eu não o tinha visto… E tu, sim… Deves ter visto
que Ele não é como nós… Ele deve ter alguma coisa de mais belo do que os
outros!…
– Oh! Sim –diz João–. Ele tem um rosto! Uns olhos! Não é verdade,
Tiago? Uns olhos! E uma voz!… Oh! Que voz! Quando Ele fala, dá a
impressão de que estás no Paraíso.
– Depressa, depressa! Vamos procurá-lo. Vós (fala aos empregados),
levai tudo para Zebedeu, e dizei-lhe que faça o que for preciso. Nós
voltaremos esta noite para a pesca.
Vestem-se todos de novo, e põem-se a caminho. 48.6Mas Pedro, depois de
andar uns metros pára, agarra João por um braço, e lhe pergunta:
– Disseste que Ele sabe tudo e que ouve tudo…
– Sim. Imagina que quando nós, vendo a lua alta, dissemos: “Que é que
estará fazendo o Simão?”, Ele disse: “Ele está lançando a rede e não se
conforma em ter que fazer isso sozinho, porque vós não saístes com o barco
gêmeo, justamente numa noite de tão boa pesca… Ele não sabe que, daqui a
pouco, não pescará senão com outras redes e que os peixes que apanhará
serão outros.”
– Misericórdia divina! É verdade! Então, Ele ouviu também… também o
que eu disse, julgando-O menos do que um mentiroso… Eu já não posso ir
até Ele.
– Oh! Ele é muito bom. Certamente sabe que tu pensaste assim. Ele já o
sabia. Porque, quando nós O deixamos, dizendo que viríamos a ti, Ele disse:
“Ide. Mas não vos deixeis vencer pelas primeiras palavras de escárnio.
Quem quer vir Comigo, deve saber ter a cabeça erguida, diante das
zombarias do mundo e das proibições dos parentes. Porque Eu estou acima
do sangue e da sociedade, e triunfo sobre eles. E quem está Comigo, também
triunfará eternamente.” E disse também: “Sabeis falar sem medo. Quem vos
ouvir, virá, porque é homem de boa vontade.”
– Ele falou assim? Então, eu vou. 48.7Fala, vai falando Dele, enquanto
vamos indo. Onde Ele está?
– Em uma pobre casa. Deve ser de pessoas amigas.
– Mas, Ele é pobre?
– É um operário de Nazaré. Assim Ele disse.
– E de que vive agora, se não está mais trabalhando?
– Não lhe perguntamos. Talvez os parentes O estejam ajudando.
– Melhor seria levarmos peixes, pão, frutas… alguma coisa. Vamos
perguntar a algum rabi, pois Ele é mais do que um rabi, mas de mãos
vazias!… Os nossos rabinos não querem ser assim…
– Mas Ele quer. Não tínhamos mais do que vinte moedas, eu e o Tiago
juntos, e oferecemos a Ele, como é costume fazer com os rabinos. Mas Ele
não as queria. Nós, então, insistimos e Ele disse: “Deus vo-los restitua, nas
bênçãos dos pobres. Vinde Comigo”, e prontamente as distribuiu aos
pobrezinhos, que Ele sabia onde moravam, e a nós, que estávamos
perguntando: “E para Ti, Mestre, não guardas nada?”, Ele respondeu: “A
alegria de fazer a vontade de Deus e de servir à sua glória.” Nós lhe
dissemos também: “Tu nos estás chamando, Mestre. Mas nós somos todos
pobres. Que é que te devemos trazer?” Ele nos respondeu com um sorriso,
que nos fez sentir o gosto do Paraíso: “Um grande tesouro quero de vós.”
Nós Lhe dissemos: “Mas … nada temos?” E Ele respondeu: “É um tesouro
de sete nomes, que até o mais pobre pode ter, mas o rei mais rico não pode
possuir; vós o tendes, e Eu o quero. Ouvi os nomes deste tesouro: caridade,
fé, boa vontade, reta intenção, continência, sinceridade e espírito de
sacrifício. Isto Eu quero de quem me segue, só isto, e vós o tendes. Está
dormindo como uma semente, sob um solo invernal, mas o sol da minha
primavera o fará nascer em setêmplice espiga.” Assim Ele falou.
– Ah! Isto me assegura que é o verdadeiro Rabi, o Messias prometido.
Não é duro com os pobres, não pede dinheiro… Basta isto para chamá-lo o
Santo de Deus. Vamos tranqüilos.
E tudo termina

CAPÍTULO 16
PROSSEGUE A NARRAÇÃO DA INFÂNCIA DE MARIA  SANTÍSSIMA NO TEMPLO ; O SENHOR PREVINE-A PARA
O SOFRIMENTO; A MORTE DE S EU PAI SÃO JOAQUIM.
Crescimento de Maria
660. Havíamos deixado nossa soberana princesa, Maria Santíssima no
templo pelos três anos de idade. Desviamonos do assunto para dar alguma notícia das
virtudes, dons e revelações divinas que, ainda menina na idade, mas adulta em suma sabedoria, recebia do Altíssimo e
exercitava em suas faculdades.
Crescia a Menina Santíssima em idade e graça diante de Deus e dos homens,
mas em tal proporção que sempre a devoção ultrapassava a natureza. A graça nunca
lhe foi medida pela idade, mas sim pela divina vontade, e pelos altos fins aos quais
a destinava a impetuosa corrente da divindade, que se ia represar e descansar nesta
cidade de Deus.
Prosseguia o Altíssimo concedendo-lhe dons e favores, renovando continuamente as maravilhas de
seu poderoso braço, como se Ele existisse unicamente para Ela. Correspondia Sua Alteza
naquela tenra idade, enchendo o coração do Senhor de tão perfeito agrado, que aos
santos anjos do céu causava grande admiração. Presenciavam os espíritos celestiais
certa porfia e admirável competição entre o Altíssimo e a Princesa Menina. Para enriquecê-la, o poder divino tirava, cada dia, de
seus tesouros, novos e antigos benefícios (Mt 13,52), reservados só para Ela.
Nessa terra abençoada não se perdia a semente da palavra eterna. Seus
dons e favores não davam apenas cento por um (Lc 8,8) como no maior dos santos,
mas com admiração do céu, uma tenra menina excedia em amor, agradecimento,
louvor e todas as virtudes possíveis, aos mais elevados e ardentes serafins. Não
passava tempo, lugar, ocasião ou ato nos quais não praticasse o supremo, então
possível, da perfeição.

Maria e a Leitura da Bíblia

661. Nos primeiros anos de sua infância, sendo já manifesta sua capacidade para ler as Escrituras,
lia-as assiduamente. Estando cheia de sabedoria, conferia em seu coração os conhecimentos, que
pelas divinas revelações recebia, com o que nas Escrituras estava revelado para todos.
Nesta leitura e meditação, fazia contínuas e fervorosas súplicas pela redenção do gênero humano e encarnação do Verbo divino. Lia mais freqüentemente
as profecias de Isaías, Jeremias e os Salmos, por estarem mais expressos e repetidos
nestes profetas, os mistérios do Messias e da lei da graça. Além do que neles compreendia, propunha aos santos anjos questões
altíssimas e admiráveis.
Sobre o mistério da humanidade santíssima do Verbo falava com incomparável ternura, considerando que se faria
criança, nascendo de mãe virgem, criandose como os demais homens, para sofrer e
morrer por todos os filhos de Adão.

Maria meditava o mistério da Encarnação

662. Estas conferências e perguntas, respondiam-lhe os seus anjos e
serafins, iluminando-a, confirmando-a e abrasando seu ardente e virginal coração
em novas chamas do divino amor. Sempre porém, lhe ocultavam sua altíssima dignidade, mesmo quando, com humildade
profundíssima, muitas vezes Ela se oferecia por escrava do Senhor e da feliz mãe que
Ele escolheria para nascer no mundo.
Outras vezes, com admiração, perguntava aos anjos: - Príncipes e senhores meus, é possível que o Criador haja de
nascer de uma criatura, fazendo-a sua Mãe?
O Onipotente e Infinito que criou os céus e neles não cabe, há de encerrar-se no seio
de uma mulher e se vestir da limitada natureza humana? Aquele que veste de beleza
os elementos, os céus e os anjos, há de se fazer passível? É possível que de nossa
mesma natureza chegue a existir mulher tão feliz, que possa chamar Filho ao mesmo
que do nada a fez, e ouça chamar-se Mãe pelo que é incriado, e criador de todo o
universo? Oh! inaudito milagre! Se o mesmo Autor não o revelasse, como poderia a
capacidade terrena formar conceito tão magnífico? Oh! Maravilha das maravlhas! Oh! felizes os olhos que a virem "
tempos que a merecerem! ° A estes afetos e amorosas exclamações respondiam os santos anjos ex"
pondo-lhe os mistérios divinos, exceto o que a Ela se referia.
A sua compreensão das Escrituras excedeu a dos profetas e apóstolos
663. Qualquer um dos elevados, humildes e abrasados afetos da menina
Maria eram aquele cabelo da Esposa que feria o coração de Deus (Ct 4,9) com tão
doce flecha de amor que, se não fora conveniente esperar a sua oportuna idade,
para vir a conceber e dar à luz o Verbo, não teria podido - a nosso modo de entender -
conter-se o agrado do Altíssimo, sem tomar logo nossa humanidade em suas entranhas.
Ainda que, desde sua infância, na graça e merecimentos, já tivesse capacidade, isso não aconteceu, para que melhor
fosse dissimulado c encoberto o mistério da Encarnação. A honra de sua Mãe
Santíssima estaria também mais oculta e segura, correspondendo seu virginal parto à idade natural do das outras mulheres.
Durante esta espera, entretinha  o Senhor com os afetos e agradáveis
cânticos que, a nosso modo de entender, escutava atento da Filha, Esposa e, em
breve, digna Mãe do eterno Verbo. Foram tantos e tão elevados os cânticos e salmos
compostos por nossa Rainha e Senhora que - segundo a luz que disto me foi dada
- se ficassem escritos, a santa Igreja teria maior número deles do que todos os dos
profetas e santos.
Além de compreender e dizer tudo quanto eles escreveram, Maria Puríssima
disse e entendeu tudo quanto eles não o conseguiram. Ordenou o Altíssimo que
sua Igreja militante tivesse nas escrituras dos apóstolos e profetas o necessário e
superabundante. O que revelou à sua Mãe Santíssima reservou escrito em sua mente
divina, para na Igreja triunfante manifestar o que for conveniente à glória acidental
dos bem-aventurados.

Deus condescendeu com a humildade de Maria

664. Além disso, para engrandecer sua prudentíssima humildade e deixar
aos mortais este raro exemplo de tão excelente virtude, condescendeu a divina
dignação com a vontade de Maria, Senhora nossa, que sempre quis esconder o
segredo do Rei (Tb 12, 7). E quando foi necessário revelar parte dele, para o serviço de Sua Majestade e benefício da Igreja,
procedeu Maria Santíssima com tão divina prudência que, sendo mestra, não deixou
de ser sempre humilíssima discípula.
Em sua infância, consultava os santos anjos e seguia seus conselhos. Depois do nascimento do Verbo humanado,
teve a seu Unigênito por mestre e modelo de todas as suas ações. Terminado os
mistérios de Cristo e subindo Ele ao céu, a grande Rainha do universo obedecia aos
Apóstolos, como no decurso desta História diremos.Esta foi uma das razões por que
São João Evangelista, escrevendo os mistérios desta Senhora no Apocalipse, os
encobria com tantos enigmas, o que tornou possível serem aplicados à toda a
Igreja militante e triunfante.

Deus prepara a Menina Maria para os sofrimentos

665. Determinou o Altíssimo que a plenitude de graças e virtudes da Princesa Maria antecipassem ao mais alto grau de
merecimento que ela iria alcançar, mediante árduas e magnânimas ações, no modo
possível a seus tenros anos.
Numa das suas visões divinas, disse-lhe o Senhor: - Esposa e pomba minha, amo-te com amor infinito e de ti quero
o mais agradável a meus olhos, e a plena satisfação de meus desejos. Não ignoras,
minha filha, o oculto tesouro encerrado nas provações e penalidades, que a cega
ignorância dos mortais aborrece e que meu Unigênito, quando se vestir da natureza
humana, ensinará pelo caminho da cruz, com sua doutrina e exemplo.
Deixa-la-á por herança a seus escolhidos, assim como a escolheu para si,
estabelecerá a lei da graça, alicerçando sua firmeza e excelência na humildade e paciência da cruz e sofrimentos. Assim o exige a
condição da natureza dos homens, ainda mais após o pecado que a deixou depravao
da e inclinada ao mal. É também conforme à minha equidade e providência que os
mortais conquistem a coroa da glória por meio do sofrimento e da cruz, pelos quais
meu Filho Unigênito humanado a mereceu para eles.
Por esta razão, entenderás, minha esposa, que, tendo-te escolhido para minhas delícias e havendo-te enriquecido
com meus dons, não será justo que minha graça esteja inativa em teu coração, nem
teu amor se prive de seu fruto, nem te falte a herança de meus eleitos. Assim, quero
que te prepares a padecer tribulações e penalidades por meu amor.

Maria oferece-se para tudo o que Deus quiser

666. A esta proposta do Altíssimo, respondeu a invencível Princesa Maria, com maior constância de coração
do que tiveram no mundo todos os santos mártires. Disse a Deus: - Senhor Deus meu
e Rei Altíssimo, todas minhas operações e faculdades e o mesmo ser que de Vós
recebi, dediquei a vosso beneplácito, para que em tudo seja ele cumprido ao gosto de
vossa infinita sabedoria e bondade. Se me permitis escolher alguma coisa, quero somente padecer por vosso amor até a morte.
Suplico-vos, bem meu, façais desta vossa escrava um sacrifício e holocausto
de paciência aceitável a vossos olhos.
Reconheço, Senhor e Deus poderoso e liberalíssimo, minha dívida e que nenhuma
entre todas as criaturas, vos deve tanto, nem todas reunidas estão obrigadas como
Eu sozinha, a mais incapaz para a retribuição que desejo dar à vossa magnificência.
Se, porém, aceitais por alguma paga o padecer por Vós, venha sobre mim todas as
tribulações e dores da morte. Somente peço vossa divina proteção e, prostrada ante o
trono real de Vossa Majestade infinita, vos suplico que não me desampareis.
Lembrai-vos, meu Senhor, das promessas que por nossos antigos pais e
profetas fizestes a vossos fiéis de auxiliar o justo, estar com o atribulado, consolar o
aflito e ser sua sombra e defesa no combate da provação. Verdadeiras são vossas palavras, infalíveis e certas vossas promessas
e antes faltará o céu e a terra que a realização delas. Não poderá a malícia da criatura
extinguir vossa caridade por aquele que esperar em vossa misericórdia. Faça-se em
mim vossa perfeita e santa vontade.

Deus anuncia-lhe a morte de S. Joaquim

667. Aceitou o Altíssimo este sacrifício matutino da terna esposa, a menina Maria Santíssima, e com agradável
semblante lhe disse: - És formosa em teus pensamentos, filha do príncipe, minha
pomba e dileta. Aceito teus desejos, agradáveis a meus olhos, e para satisfazê-los,
participo-te que se aproxima o tempo que determinei, para teu pai Joaquim passar da
vida terrena à imortal e eterna. Morrerá brevemente, descansará em paz e será conduzido ao limbo, onde com os santos
aguardará a redenção da estirpe humana.
Este aviso do Senhor não perturbou nem alterou o real coração da Princesa
do céu, Maria. O amor dos filhos aos pais é justo tributo da natureza. Como a Menina
Santíssima possuía este amor em toda perfeição, não podia evitar a natural dor pela
falta de seu pai São Joaquim, a quem, como filha, santamente amava.
Sentiu a tema e meiga menina Maria este doloroso afeto, compatível com
a serenidade de seu magnânimo coração.
Agindo em tudo com grandeza, na plenitude da graça e da natureza, orou fervorosamente por seu pai. Pediu ao Senhor
que, como poderoso e verdadeiro Deus, o auxiliasse na passagem de sua ditosa morte, o defendesse do demônio,
principalmente naquela hora, e o colocasse entre o número de seus eleitos, pois em
vida havia confessado e engrandecido seu santo e admirável nome. E, para mais empenhar o Senhor, ofereceu-se a fidelíssima
filha para sofrer por seu santo pai Joaquim tudo o que Deus ordenasse.

Maria envia seus anjos para assistirem a São Joaquim

668. Aceitou Sua Majestade esta petição e consolou a divina Menina, assegurando-lhe que assistiriam a seu pai, e
como misericordioso e piedoso remunerador dos que O amam e servem, o colocaria
entre os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó.
Em seguida preveniu-a novamente, para receber e padecer outros trabalhos.
Oito dias antes da morte do santo patriarca Joaquim, teve Maria Santíssima outro aviso do Senhor; declarando-lhe o dia e hora
em que morreria, como de fato sucedeu, tendo-se passado apenas seis meses depois que nossa Rainha entrara no templo.
Depois que Sua Alteza recebeu estes avisos do Senhor, pediu aos doze anjos - que disse acima eram os citados por
São João no Apocalipse, (Ap 21, 12) - assistissem a seu pai enfermo, o consolassem e confortassem, como o fizeram. Para
a última hora de seu trânsito enviou todos os de sua guarda, e pediu ao Senhor os
manifestasse a seu pai, para maior consolo seu. Em tudo acedeu o Altíssimo ao desejo
de sua eleita, única e perfeita. O grande e ditoso patriarca Joaquim viu os mil anjos
da guarda de sua filha Maria, por cujas petições e votos lhe superabundou a graça
do Todo-poderoso. Por ordem Dela disseram os anjos a São Joaquim estas palavras:
Os anjos consolam São Joaquim e revelam a dignidade de sua filha Maria

669. Homem de Deus, seja o Altíssimo e poderoso tua eterna salvação,
e do lugar santo envie o auxílio necessário e oportuno para tua alma. Maria, tua filha,
nos envia para te assistirmos, nesta hora em que vais pagar ao Criador o tributo da
morte natural. Ela é fidelíssima e poderosa intercessora tua perante o Altíssimo. Parte
deste mundo, Joaquim consolado e alegre, em nome e santa paz do Altíssimo, que te
fez pai de tão bendita filha. Por seus ocultos juízos, até agora, Ele não te manifestou
o mistério e dignidade com que investirá tua filha.

Agora, porém, quer que o conheças para o exaltares, louvares, suavizando
com o júbilo espiritual desta notícia, a natural tristeza e dor da morte. Maria, tua
filha e nossa Rainha, é a escolhida pelo braço do Onipotente, para em suas entranhas vestir de carne e dar forma humana ao
Verbo divino. Será a bem-aventurada Mãe do Messias e a bendita entre as mulheres,
superior a todas as criaturas, e inferior somente a Deus.

Tua felicíssima filha será a reparadora do que a linhagem humana perdeu
pela primeira culpa. Será o alto monte onde se há de formar e estabelecer a nova lei da
graça. Uma vez que já deixas neste mundo sua restauradora e uma filha pela qual Deus
lhe prepara o oportuno remédio, parte dele com a alma em júbilo. De Sião o Senhor te
abençoe (SI 127,5) e te constitua entre os santos, para chegares à visão e gozo da
feliz Jerusalém.

A alma de São Joaquim anuncia no limbo a proximidade da redenção

670. Quando os santos anjos dirigiram a São Joaquim essas palavras, encontrava-se presente sua esposa Sant* Ana,
assistindo à cabeceira do leito. Por divina disposição as ouviu e compreendeu. No
mesmo momento o santo patriarca perdeu a fala. Entrando pela comum vereda de
todos os mortais começou a agonizar, num maravilhoso combate, entre o júbilo de tão
alegre nova e a dor da morte.
Neste conflito, fez com as potências interiores muitos e fervorosos atos de
amor divino, fé, admiração, louvor, humildade, ação de graças e outras virtudes que
exercitou heroicamente. Absorto assim no conhecimento de tão divino mistério, chegou ao termo
da vida natural com a preciosa morte dos santos (SI 115, 15). Sua
santíssima alma foi levada pelos anjos ao limbo dos santos pais e justos.
Para novo consolo e luz da prolongada noite em que estes viviam, ordenou o
Altíssimo que a alma do santo patriarca Joaquim lhes servisse de embaixador
junto àquela congregação de justos. Participou-lhes que começava a despontar o
dia da eterna luz, havendo já nascido, filha de Joaquim e Ana, a aurora Maria Puríssima;
dela nasceria o sol da divindade, Cristo, redentor de todo o gênero humano. Ouviram os santos pais e justos do limbo estas
notícias. Com a alegria que ela lhes causou, fizeram novos cânticos de louvor ao Altíssimo.

Idade de São Joaquim ao morrer

671. A feliz morte do patriarca São Joaquim sucedeu seis meses, como
acima disse, depois que sua filha Maria Santíssima entrou no templo. Aos três
anos e meio de idade, portanto, já ficava sem pai na terra. Tinha o Patriarca sessenta
e nove anos de idade, assim distribuídos: aos quarenta e seis desposou Sant'Ana;
depois de vinte anos de matrimônio, tiram Maria Santíssima, acrescentando^
três e meio da Menina, resultam os sessenta e nove e meio e alguns dias, mais menos 6.

Atos da Menina Maria após o falecimento de seu santo Pai

672, Falecido o pai de nossa Rainha, voltaram logo os santos anjos de sua
guarda à sua presença, e lhe relataram quanto havia sucedido no trânsito do santo patriarca. Imediatamente a Menina
prudentíssima, com orações, solicitou o conforto para sua mãe Sant'Ana, pedindo
ao Senhor que a dirigisse e lhe assistisse na soledade em que ficava, sem o esposo.
Sant* Ana também enviou à filha o aviso do falecimento, que foi dado primeiro
à mestra de nossa divina Princesa. Deveria participá-lo à Menina, procurando consolála. Assim fez a mestra e a Menina
sapientíssima a ouviu amavelmente, com paciência e modéstia de rainha, pois não
ignorava o sucesso que lhe referiam como novidade. Sendo em tudo perfeitíssima,
dirigiu-se imediatamente ao templo, para renovar o sacrifício de louvor, humildade,
paciência e outras virtudes e orações, procedendo sempre com passos tão ligeiros
quanto formosos (Ct 7, 1) aos olhos do Altíssimo. Para dar toda a plenitude a estes
atos, pedia aos santos anjos que cooperassem com Ela e a auxiliassem a bendizê-lo e louvá-lo.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CÉU.

Utilidade e necessidade do sofrimento

673. Minha filha, medita muitas vezes, interiormente, o apreço que deves
ter pela graça das provações que a oculta Providência, com justiça, distribui aos
mortais. Estes são os juízos que por si mesmos justificam (SI 18, 10-11), mais
estimáveis que as pedras preciosas e o ouro, mais doces que o favo de mel, para
quem tem acertado o paladar da razão.
Desejo que saibas que o padecer e ser atribulada a criatura, inocente ou não,
é favor do qual seria digna só por grande misericórdia do Altíssimo. Além disso, padecer pelas próprias culpas, tem também
muito de justiça. De acordo com isto, pondera a comum insipiência dos filhos de
Adão, que só apetecem prazeres, graças e favores sensíveis ao seu gosto. Desvelamse e trabalham para lançar longe de si tudo
quanto é penoso. Guardam-se de serem tocados pela dor dos trabalhos. Quando
sua maior felicidade estaria em procurá-lo com diligência, empregam-na toda em afastar o que merecem, e sem o que não poderão
ser felizes nem bem-aventurados.

A cruz, caminho para Deus

674. Se o ouro fugisse da fornalha, o ferro da lima, o grão do moinho e do
debulhador, as uvas da prensa, tornar-seiam inúteis, sem preencherem o fim para
que foram criados. Como, então, se deixam enganar os mortais que, cheios de feios
vícios e abomináveis culpas, pretendem,
sem a fornalha e a lima dos padecimentos,
tomar-se puros e dignos de gozar de Deus
eternamente?
Se, mesmo inocentes seriam incapazes e desmerecedores de receber o bem
infinito por prêmio e coroa, como o serão estando nas trevas e inimizade do mesmo
Deus? Não bastando isto, os filhos da perdição empregam todo o desvelo em se
conservar indignos e inimigos de Deus.
Lançam de si a cruz dos trabalhos, que são o caminho para voltar a Deus, luz para o
entendimento, desengano do aparente, alimento dos justos, único meio da graça,
preço da glória. Acima de tudo, é legítima herança de meu Filho e Senhor que a escolheu para si e seus eleitos, nascendo e
vivendo sempre em trabalhos e morrendo na Cruz.

Conformidade

675. Por aqui, minha filha, deveras avaliar o preço do padecer, incompreendido pelos mundanos.
Por serem indignos desta divina ciência, assim como a
ignoram, a desprezam. Alegra-te e consola-te nas tribulações, e quando o Altíssimo
se dignar enviar-te alguma, procura ir ao seu encontro para recebê-la como bênção
sua e penhor de seu amor e glória.
Dilata o coração pela magnanimidade e constância para, na ocasião de
sofrer, te portares do mesmo modo como na prosperidade, de acordo com os propósitos que então fazias. Não cumpras com
tristeza o que prometias com alegria (2Cor 9,7). O Senhor ama quem é o mesmo no dar
e no prometer. Sacrifica, pois, teu coração e faculdades em holocausto de paciência e
cantarás, com novos cânticos de alegria e louvor, as justificações do Altíssimo quando, durante tua peregrinação te distinguir
e tratar como sua, com o sinal de sua amizade: os trabalhos e a cruz das tribulações.

Exemplo de Cristo e sua Mãe

676. Adverte, caríssima, que meu Filho Santíssimo e eu desejamos
possuir, entre as criaturas, alguma alma que haja chegado ao caminho da cruz.
Queremos poder ensinar-lhe, ordenadamente, esta divina ciência; afastá-la da
sabedoria mundana e diabólica, na qual os filhos de Adão, com cega porfia, querem se avantajar,
lançando de si a saudável disciplina dos trabalhos.
Se queres ser nossa discípula, entra nesta escola, onde só se ensina a
doutrina da cruz, e procura nela o descanso e verdadeiras delícias. Com esta
sabedoria não se coaduna o amor terreno, dos deleites sensíveis e riquezas;
nem a vã ostentação e pompa que fascina os fracos olhos mundanos, ambiciosos
de honra vã e do precioso e grande que atrai a admiração dos ignorantes
Tu, minha filha, escolhe para ti melhor parte, entre os desconhecidos *
esquecidos do mundo. Do mesmo De Jesus humanado eu era Mãe, e por isso Senhor
de toda a criação, juntamente com meu Filho Santíssimo. No entanto, fui pouco
conhecida, e Sua Majestade muito desprezada pelos homens. Logo, se esta doutrina
não fosse a mais estimável e segura, não a teríamos ensinado com nosso exemplo e
palavras. Esta é a luz que brilha nas trevas (Jo 1, 5), amada pelos escolhidos e detestada pelos réprobos.

ESTUDO 46 VIDA INTIMA


Parte 2

12-46
Maio 20, 1918

A vontade de Deus concentra tudo.

(1) Continuando meu habitual estado, estava dizendo a meu doce Jesus: "Como gostaria de ter
teus desejos, teu amor, teus afetos, teu coração, etc., para poder desejar, amar, etc., como Tu".
E meu sempre amável Jesus me disse:
(2) "Minha filha, Eu não tenho desejos, afetos, mas o todo está concentrado em minha Vontade,
minha Vontade é tudo em Mim. Deseja quem não pode, mas Eu tudo posso; gostaria de amar
quem não tem amor, mas em minha Vontade está a plenitude, a fonte do verdadeiro amor, e
sendo infinito, em um ato simples de minha Vontade possuo todos os bens, que transbordando
de meu Ser descem para bem de todos. Se Eu tivesse desejos seria infeliz, me faltaria alguma
coisa, mas Eu tudo possuo, por isso sou feliz e faço felizes a todos. Infinito significa poder tudo,
possuir tudo, fazer felizes a todos.

A criatura, porque é finita, não possui tudo, nem pode
abraçar tudo, eis por que contém desejos, ânsias, afetos, etc., que como tantos degraus pode
servir-se deles para subir ao Criador e tomar nele as qualidades divinas e encher-se tanto, até
transbordar para o bem dos outros. Se depois a alma se concentra toda ela em minha Vontade,
perdendo-se toda em meu Querer, então não copiará minhas qualidades, senão que de um só
gole me absorverá em si, e não terá mais nela desejos e afetos próprios, senão só a Vida de
meu Querer, que dominando-a toda, lhe fará desaparecer tudo e lhe fará reaparecer em toda
minha Vontade".

13-44
Dezembro 23, 1921

Quem trabalha e vive no Querer Divino dá o campo a Jesus para fazer sair novas obras,
novo amor e nova potência. Efeitos do sonho de Jesus.

(1) Sentia-me toda imersa no Divino Querer, e meu doce Jesus ao vir me disse:
(2) "Filha de meu Querer, conforme obras e vives em meu Querer, assim faz sair de minha
Vontade outros atos novos de dentro dela, me dá o campo para novas obras, para novo amor, e
para nova potência. Como me sinto feliz de que a criatura vivendo em meu Querer me dá o
campo para obrar, em troca quem não vive em minha Vontade me ata as mãos e faz inútil meu
Querer para ela, enquanto meu Ser é levado pela força irresistível de meu amor ao movimento,
à obra, e só quem vive em minha Vontade me dá livre campo, e Eu animo até seus menores
atos com meu Querer Divino, não desdenho nem as coisas mais baixas para pôr neles o selo
de virtude divina. Eis por que amo tanto a quem vive em meu Querer, e circundo cada um de
seus atos com tanta graça, com tanta dignidade e decoro, porque quero a honra, a glória de
meu obrar divino, por isso seja atenta e pensa bem que se tudo o que faz não o faz em minha
Vontade, dará a inutilidade a seu Jesus. Ah! se soubesse quanto me pesa ócio, como me
contrista, estaria mais atenta, não é verdade?"

(3) Depois disto, estava prestes a fechar os olhos ao sono e dizia para mim: "Também o meu
sono no teu Querer, aliás, o meu respiro se transforme no teu, a fim de que o que fazia Jesus
quando dormia o faça também eu, mas verdadeiramente o meu Jesus dormia? E Jesus voltou e
acrescentou:

(4) "Minha filha, brevíssimo era o meu sono, mas dormia, mas não dormia para Mim, mas para
as criaturas. Eu, como cabeça representava toda a família humana e devia estender minha
humanidade sobre todos, para dar-lhes repouso. Eu via todas as criaturas cobertas por um
manto de perturbações, de lutas, de inquietudes; quem caía em culpa e ficava triste, quem
dominado por tirânicas paixões que queria vencer e ficava perturbado, quem queria fazer o bem
e lutava por fazê-lo; em suma, não havia paz, Porque a verdadeira paz se possui quando a
vontade da criatura retorna à Vontade de seu Criador, de onde saiu; fora de seu centro,
separada de seu princípio não há paz.

Então, minha humanidade adormecida se estendia sobre
todos, envolvendo-os como dentro de um manto, como a galinha quando chama seus pintinhos
sob suas asas maternas para fazê-los dormir; assim, estendendo-me sobre todos, chamava a
todos meus filhos sob minhas asas para dar, a quem, o perdão da culpa, a quem a vitória sobre
as paixões, a quem a força na luta, para dar a todos a paz e o repouso, e para não dar-lhes
temor e dar-lhes ânimo o fazia dormindo, quem teme de uma pessoa que dorme?
(5) Agora, o mundo não mudou, é mais, está mais do que nunca em lutas e por isso quero a
quem durma em meu Querer, para poder repetir os efeitos do sono de minha Humanidade".
(6) Então, com um sotaque aflito, repetiu: "E onde estão os meus outros filhos? Por que não
vêm todos a Mim para receber o repouso e a paz? Chame-os, chame-os juntos".
(7) E parecia que Jesus os chamava pelo nome, um por um, mas poucos eram os que vinham.

14-48
Agosto 2, 1922

Semelhança na maior pena de Jesus: O afastamento da Divindade nas penas.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, me via toda confusa e como separada de meu
doce Jesus, tanto que ao vir lhe disse: "Meu amor, como as coisas mudaram para mim, antes
me sentia tão fundida Contigo que não percebia nenhuma divisão entre Tu e eu, e nas mesmas
penas que sofria Tu estavas comigo. Agora tudo ao contrário, se sofro me sinto dividida de Ti, e
se te vejo diante de mim ou dentro de mim, é com aspecto de um juiz que me condena à pena,
à morte, e já não toma parte nas penas que Tu mesmo me dá, porém me diz: Eleve-se sempre
mais; em troca eu descendo". E Jesus interrompendo o meu falar disse-me:

(2) "Minha filha, como te enganas, isto acontece porque tu aceitaste, e Eu marquei em ti as
mortes e as penas que Eu sofri por cada criatura. Também a minha Humanidade se encontrava
nestas dolorosas condições, Ela era inseparável da minha Divindade, no entanto, sendo a
minha Divindade intangível nas penas, e não capaz de sofrer sombra de penas, a minha
Humanidade encontrava-se sozinha no sofrimento, e minha Divindade era apenas espectadora
das penas e mortes que Eu sofria, antes me era juiz inexorável que queria o pagamento de
cada pena de cada criatura. Oh, como minha humanidade tremia, ficava esmagada ante aquela
luz e Majestade Suprema ao me ver coberto pelas culpas de todos, e das penas e mortes que
cada um merecia!

Foi a maior pena da minha Vida, que enquanto era uma só coisa com a
Divindade e inseparável, nas penas permanecia só e como separado. Por isso, se te chamei à
minha semelhança, que maravilha que enquanto me sentes em ti me vês espectador de tuas
penas que Eu mesmo te infrinjo e te sentes como separada de Mim? Não obstante sua pena
não é outra coisa que a sombra da minha, e assim como minha Humanidade não ficou jamais
separada da Divindade, assim te asseguro que jamais fica separada de Mim, são os efeitos o
que sente, mas então mais que nunca formo uma só coisa contigo, por isso ânimo, fidelidade e
não temas".

16-53
Março 2, 1924

As almas que fazem a Vontade de Deus farão o giro na sua luz e serão como as primeiras criadas por Deus.

(1) Estava a pensar como podia acontecer que o meu doce Jesus, como pensava, falava, trabalhava, etc., estendia seus pensamentos em cada pensamento de criatura, em cada palavra e obra. E
meu amado Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(2) "Minha filha, não há nada para se maravilhar, em Mim estava a Divindade com a luz interminável de sua Vontade Eterna; nesta luz Eu descobria em modo facilíssimo cada pensamento, palavra,
batida e ato das criaturas, e conforme Eu pensava, a luz que Eu continha levava meu pensamento
a cada pensamento das criaturas, e assim minha palavra e todo o resto que eu fazia e sofria. Veja,
também o sol possui esta virtude, sua luz é uma e sem dúvida quantos não ficam inundados por
essa luz? Se se pudesse ver todo o interior do homem, pensamentos, batidas, afetos, como o sol
com sua luz invade a cada um, assim faria correr sua luz em cada pensamento, batida, etc. Agora,
se isso pode fazer a luz do sol, sem que ele desça do alto para dar a cada um seu calor e sua luz,
e no entanto não é outra coisa que a sombra da minha luz, muito mais posso fazer Eu que contenho luz imensa e interminável.

Além disso, minha Vontade Divina que contém esta virtude, assim
que a alma entra em meu Querer abre a corrente da luz que minha Vontade contém, e minha luz
invadindo a todos, leva a cada um o pensamento, a palavra, o ato que entrou na corrente de sua
luz. Por isso não há coisa mais sublime, maior, mais divina, mais santa, que viver em mim Querer;
as gerações de seus atos são incalculáveis, assim que a alma quando não está unida com minha
Vontade nem entra nela, não faz seu percurso nem abre a corrente de sua luz interminável, portanto tudo o que faz permanece pessoal e individual; seu bem, sua oração é como uma pequena luz
que se acende em uma sala, que não tem virtude de dar luz a todos os cantos da casa, muito me-
nos pode dar luz ao exterior, e se falta o óleo, isto é a continuidade de seus atos, a pequena luz se
apaga e fica às escuras".

(3) Depois estava a fundir-me no eterno Divino Querer, pondo-me diante de todos para poder levar
à Divina Majestade, como a primeira de todos, todos os atos das criaturas, a correspondência de
todo, o amor delas. Mas enquanto fazia isto pensava para mim: "Como pode ser que eu possa ir
diante de todos se nasci depois de tantas gerações? No máximo eu deveria ficar no meio, entre as
passadas e as futuras gerações que virão; é mais, por minha indignidade deveria me colocar no
último e atrás de todos". E meu amável Jesus movendo-se em meu interior me disse:

(4) "Minha filha, toda a Criação foi criada para que todos fizessem a minha Vontade. A vida das
criaturas deviam correr em meu querer como corre o sangue nas veias, deviam viver nele como
verdadeiros filhos meus, nada lhes devia ser estranho de tudo o que a Mim pertence, Eu devia ser
seu terno e amoroso Pai, e eles deviam ser meus ternos e amorosos filhos. Agora, como a finalidade da Criação foi esta, apesar de outras gerações terem sido antes, o que diz nada, serão postas depois, e minha Vontade porá primeiro aqueles que serão e que foram fiéis em manter íntegra a finalidade para a qual foram criados; estes, tenham vindo antes ou depois, ocuparão a primeira ordem ante a Divindade. Com ter mantido a finalidade da Criação, serão distintos entre todos e apontados como refulgentes gemas com a auréola de nossa Vontade, e todos lhes deixarão a passagem livre para que ocupem seu primeiro posto de honra.

Não há do que maravilhar-se, também neste submundo acontece assim:
Imagina um rei no meio de sua corte, de seus ministros, deputados, exércitos, mas chega seu filho,
o pequeno príncipe, e apesar de que todos os demais sejam
grandes, quem não lhe dá passo livre o pequeno príncipe para que tome seu posto de honra ao
lado do rei, seu pai? Quem trata com o rei com essa familiaridade digna de um filho? Quem gosta-
ria de criticar esse rei e a esse filho, por que apesar de que este filho seja o menor de todos, se
eleva sobre todos e toma seu lugar primeiro e legítimo junto ao rei seu pai? certo, nenhum; é mais,
todos respeitariam o direito do pequeno principezinho desce mais abaixo ainda, imagina uma família, um filho nasceu primeiro, mas não quis se ocupar em fazer a vontade do pai, não tem quis estudar nem trabalhar; ficou como entontecido em seu lazer formando a dor do pai; depois vem à luz
outro filho, e este, ainda que mais pequeno, faz a vontade do seu pai, estuda, torna-se um professor digno de ocupar os mais altos cargos.

Agora, quem é o primeiro nessa família, quem recebe
seu posto de honra junto ao pai? Não é acaso o que chegou ao último? Assim que minha filha, só
aqueles que terão conservado neles a finalidade integral da Criação serão meus verdadeiros filhos
legítimos; com fazer minha Vontade mantiveram neles o sangue puro de seu Pai Celestial, o qual
lhes deu todas as diretrizes de sua semelhança, por isso será muito fácil reconhecê-los como nossos legítimos filhos. Nossa Vontade os conservará nobres, puros, frescos, todo amor por Aquele
que os criou; e como filhos nossos que sempre estiveram em nossa Vontade e que jamais deram
vida à sua, serão como os primeiros por Nós criados, que nos darão a glória, a honra da finalidade
pela qual todas as coisas foram criadas. Por isso o mundo não pode terminar, esperamos a geração de nossos filhos, que vivendo em nosso Querer nos darão a glória de nossas obras; eles
terão por vida só meu Querer; será tão natural em eles fazer a Divina Vontade, espontaneamente,
sem esforço, como é natural o batimento cardíaco, o respiro, a circulação do sangue, assim que
eles não a terão como lei, porque as leis são para os rebeldes, mas como vida, como honra, como
princípio e como fim. Por isso minha filha, só te interessa minha Vontade e não queiras preocupar-te de outra

21-13
Abril 8, 1927

Como todas as figuras e símbolos do antigo testamento simbolizavam os filhos da Divina
Vontade. Como Adão, do ponto mais alto se precipitou ao ponto mais baixo.

(1) Estava seguindo os atos que o Querer Divino havia feito em toda a Criação, também buscava
os atos que havia feito tanto em nosso primeiro pai Adão como em todos os santos do antigo
testamento, especialmente onde o Supremo Querer havia feito ressaltar sua potência, sua força,
sua virtude vivificadora, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(2) "Minha filha, as maiores figuras do antigo testamento, enquanto eram figuras e figuravam o
futuro Messias, encerravam ao mesmo tempo os dons, a figura, e simbolizavam todos os dons que
teriam possuído os filhos do Fiat Supremo. Adão foi a verdadeira e perfeita imagem, quando foi
criado, dos filhos do meu Reino. Abraão foi símbolo dos privilégios e do heroísmo dos filhos de
meu Querer e assim como chamei Abraão a uma terra prometida que manava leite e mel, fazendo-
o dono daquela terra, terra tão fecunda que era invejável e ambicionada por todas as outras
nações, era todo símbolo do que teria feito com os filhos de minha Vontade. Jacó foi outro símbolo
deles, porque descendendo dele as doze tribos de Israel, devia nascer no meio deles o futuro
Redentor que devia retomar de novo o Reino do Fiat Divino a meus filhos. José foi o símbolo do
domínio que os filhos da minha vontade teriam tido, e como ele não deixou morrer de fome a tantos
povos e até aos seus irmãos ingratos, assim os filhos do Fiat Divino terão o domínio e serão causa
de não deixar perecer os povos que pedirão deles o pão da minha Vontade. Moisés foi figura do
poder, Sansão símbolo da força dos filhos de meu Querer. Davi simbolizava o reinar deles.

Todos os profetas simbolizavam a graça, as comunicações, as intimidades com Deus, que mais do que
eles teriam possuído os filhos do Fiat Divino. Olha, todos estes eram nada mais que símbolos,
figuras deles, o que será quando forem postos fora a vida destes símbolos? Depois de todos
aqueles veio a Celestial Senhora, a Soberana Imperatriz, a Imaculada, a sem mancha, minha Mãe,
Ela não era símbolo nem figura, mas a realidade, a verdadeira Vida, a primeira filha privilegiada da
minha Vontade, e eu olhava na Rainha do Céu a geração dos filhos do meu Reino, era a primeira
incomparável criatura que possuía íntegra a Vida do Querer Supremo, e por isso mereceu
conceber o Verbo Eterno e amadurecer em seu coração materno a geração dos filhos do eterno
Fiat. Depois veio a minha própria Vida, na qual vinha estabelecido o Reino que deviam possuir
estes filhos afortunados. Por tudo isto podes compreender que tudo o que Deus fez desde o
princípio desde a Criação do mundo, que faz e que fará, sua finalidade principal é de formar o
Reino de sua Vontade no meio das criaturas. Esta é toda nossa mira, esta é nossa Vontade e a
estes filhos serão dados todos nossos bens, nossas prerrogativas, nossa semelhança; e se eu te
chamo a seguir todos os atos que minha Vontade fez tanto na criação do universo quanto nas
gerações das criaturas, não excluindo aqueles que fez em minha Mãe Celestial, nem os que fez em
minha própria Vida, é para concentrar em ti todos os seus atos, fazer-te dom deles para poder
fazer sair de ti todos juntos os bens que possui uma Vontade Divina para poder formar com decoro,
honra e glória, o Reino do eterno Fiat. Por isso, seja atenta em seguir minha Vontade".

(3) Depois estava pensando entre mim: "Como é que Adão ao subtrair-se da Vontade Divina, de tal
altura se precipitou tão baixo? E Jesus movendo-se dentro de mim disse-me:

(4) "Minha filha, assim como na ordem natural, quem cai de um ponto altíssimo, ou morre ou fica
tão desfeito e deformado que lhe é impossível readquirir seu estado anterior de saúde, de beleza,
de altura e ficará como um pobre aleijado, cego, corcunda e coxo, e se este for pai, Dele sairiam as
gerações dos aleijados, dos cegos, dos corcundas e dos coxos, assim na ordem sobrenatural,
Adão caiu de um ponto altíssimo, ele havia sido posto por seu Criador num ponto tão alto que
ultrapassava a altura do céu, das estrelas, do sol, viver em minha Vontade habitava acima de tudo,
em Deus mesmo. Vês então de onde se precipitou Adão?

Da altura de onde caiu foi um milagre que não pereceu totalmente, mas se não morreu,
o golpe que recebeu na queda foi tão forte, que
foi inevitável ficar aleijado, desfeito e deformado de sua insólita beleza, ele ficou despojado de
todos os bens, entorpecido no agir, Então, em seu intelecto, uma febre contínua o debilitava, que
enfraquecendo-lhe todas as virtudes não sentia mais a força para dominar-se, o mais belo caráter
do homem, o domínio de si mesmo, desapareceu, e entraram as paixões a tiranizá-lo, a fazê-lo
inquieto e triste, e como era pai e cabeça das gerações, pôs fora a família dos aleijados.
(5) O não fazer minha Vontade creem que seja coisa de nada, ao contrário é a ruína total da
criatura, e por quantos atos de mais vontade própria faz, tantas vezes de mais aumenta seus
males, sua ruína, e se escava o abismo mais profundo onde precipita-se".
(6) Então pensava entre mim: "Se Adão por uma só vez que se subtraiu da Divina Vontade caiu tão
baixo e trocou sua fortuna em miséria, sua felicidade em amargura, o que será de nós que tantas e
tantas vezes nos subtraímos desta adorável Vontade?" Mas enquanto isso eu pensava, meu
amado e único bem acrescentou:

(7) "Minha filha, Adão caiu tão baixo porque se subtraiu de uma Vontade expressa de seu Criador,
na qual vinha encerrada a prova para prová-lo em sua fidelidade a Aquele que lhe havia dado a
vida e todos os bens que possuía. Muito mais do que o que Deus lhe pedia, diante dos tantos bens
que gratuitamente lhe tinha dado, era que se privasse, dos tantos frutos que lhe tinha outorgado, só
de um fruto por amor Àquele que tanto lhe tinha dado.

E neste pequeno sacrifício que Deus queria dele, tinha-lhe feito saber que não queria outra
coisa senão estar seguro do seu amor e da sua
fidelidade. Adão deveria ter-se sentido honrado de que seu Criador queria estar seguro do amor de
sua criatura. A culpa aumentou porque aquele que o atraiu e persuadiu a cair não era um ser
superior a ele, senão uma vil serpente, seu capital inimigo. Sua queda trouxe consequências mais
graves porque era a cabeça de todas as gerações, portanto todos os membros deviam sentir como
conatural os efeitos do mal de sua cabeça. Veja então que quando uma Vontade minha é
expressa, querida e mandada, o pecado é mais grave e as consequências são irremediáveis, e só
minha mesma Vontade pode reparar tanto mal, como aconteceu a Adão; em troca quando não é
expressa, se bem que a criatura está em dever de pedir para conhecer minha Vontade em seu agir,
se dentro de seu ato entra um bem é a pura glória minha; mas se não é expressa, não é tão grave
o mal e é mais fácil encontrar remédio, e isto faço a cada criatura para provar sua fidelidade e
também para pôr ao seguro o amor com o que dizem que me amam; Quem é aquele que não quer
estar seguro de um terreno que adquire, tanto que até chega a fazer as escrituras? Quem é aquele
que não quer estar seguro da fidelidade de um amigo, da lealdade verdadeira de um servo? Então
para estar seguro faço saber que quero os pequenos sacrifícios, os quais lhe levarão todos os
bens, a santidade, e realizarão a finalidade para a qual foram criados; ao contrário, se forem
relutantes, tudo estará transtornado nelas e todos os males lhe choverão em cima. Mas não fazer
minha Vontade é sempre um mal, mais ou menos grave segundo o conhecimento que dela se
possui".

+ + + +

21-14
Abril 12, 1927

Como a Divina Vontade é equilibrada. Deus na Criação colocou todas as relações entre o
homem e as coisas criadas. Exemplo de uma cidade. A nuvem luminosa.

(1) O meu pobre estado torna-se cada vez mais penoso pelas privações do meu doce Jesus. Que
duro martírio e morte sem a doce e amada esperança de reencontrar a vida; a dor de havê-lo
perdido me atordoa, me petrifica e expande sobre minha pobre alma um orvalho maléfico, que
exposto aos raios de um sol ardente, em vez de me vivificar seca, e tirando-me os humores vitais,
como fazem as geadas com as plantas, se não me faz morrer me murcha e me tira o mais belo da
vida. Oh! como me seria mais doce a morte, mas bem seria para mim a festa mais bela, porque
encontraria Aquele que amo, que curaria todas as minhas feridas. Oh! privação de meu Sumo Bem
Jesus, quão dolorosa e impiedosa és, por isso o adorável Querer chamou a todos a chorar minha
dura sorte, chamou ao céu com sua imensidão a chorar por Aquele que tanto suspiro; chamou as
estrelas com seu trêmulo cintilante a chorar junto comigo, a fim de que com seu pranto dirijam os
passos de Jesus para mim para não me fazer sofrer mais; chamo ao sol para que converta sua luz
em lágrimas e seu calor em dardos acesos para atacar a Jesus e dizer-lhe: "Fá-lo depressa, não
vês que não pode mais, e como todos derramamos lágrimas amargas por aquela que te ama e que
sendo uma sua vontade com a nossa, estamos todos obrigados a chorar junto com ela?" Chamo a
tudo o que é criado a sofrer e a chorar junto comigo por uma pena tão grande, incalculável e sem
medida, qual é a tua privação; Quem não deveria chorar? Oh! como gostaria de converter o
murmúrio do mar em vozes piedosas para te chamar, o serpenteio dos peixes para ensurdecer-te,
gostaria de converter o canto dos pássaros em gemidos para te enternecer. Jesus, Jesus, quanto
me faz sofrer! Oh, quanto me custa seu amor! Mas enquanto aliviava a minha dor, a minha doce
Vida moveu-se dentro de mim e disse-me:
(2) "Minha filha, estou aqui, não temas, se soubesses quanto sofro ao te ver penar por minha
causa, sinto mais pena por teu sofrimento que pelos sofrimentos de todas as demais criaturas
unidas juntas, porque tuas penas são de nossa filha, membro da nossa Família Celestial e as sinto
muito mais que se fossem minhas. Quando está nossa Vontade na criatura tudo se torna comum e
inseparável de Nós".
(3) Então eu ao ouvir isto, dolorida como estava disse que isto era verdade nas palavras, mas que
nos atos me parecia que não o era, pois, como é que me faz sofrer tanto para te fazer voltar, e
quando está por vir atrasas o retorno, tanto que eu mesma não sei o que mais fazer, nem a quem
mais recorrer? Põe-me na impotência de poder encontrar-te e nem sequer em tua mesma Vontade
consigo encontrar-te, porque Ela é imensa e Tu te escondes em sua imensidão e eu perco o
caminho de teus passos e te extravio. Portanto, é bom falar, e os fatos, onde estão? Se sofrias
tanto por minha dor, devias ter-te apressado para vir àquela que não conhece nem outro amor nem
outra vida senão a tua". E Jesus me apertando a Si, todo comovido acrescentou:
(4) "Pobre filha, ânimo, você não sabe realmente o que significa viver em minha Vontade, Ela
possui o perfeito equilíbrio e todos os atributos estão em suma concórdia, um não é inferior ao
outro, e quando é necessário castigar os povos pelos tantos pecados, minha justiça exige estes
vazios de que você esteja privada de Mim para poder equilibrar-se mandando os flagelos que
merecem, por isso te põe como a um lado em minha Vontade e faz seu curso.

Quantas vezes se encontrou minha gemente Humanidade com estes obstáculos de minha justiça, e Eu tive que ceder
por amor do equilíbrio de minha Vontade. Você gostaria de desequilibrar, estando Nela, a ordem de
meus atributos? Não, não, minha filha, deixa que minha justiça faça seu curso e teu Jesus estará
como antes, sempre contigo. Não sabes tu que em minha Vontade deves sofrer o que sofreu minha
Humanidade, onde Ela foi tão exigente e inexorável Comigo por causa da Redenção? Assim para
ti, torna-se exigente e inexorável por causa do Reino do Fiat Supremo. Por isso minha Humanidade
se esconde, porque minha justiça quer fazer seu curso e manter seu equilíbrio".
(5) Jesus bendito fez silêncio e depois acrescentou:

(6) "Minha filha, ao pôr fora a Criação, minha Vontade pôs em vínculos de união todos os seres,
assim que todos estavam em relações entre eles, cada um possuía seu fio elétrico de comunicação
entre uma e a outra; o homem possuía tantos fios elétricos por quantas coisas criadas existiam,
porque sendo o rei de tudo, era justo e necessário que tivesse a comunicação com toda a Criação
para ter domínio sobre ela. Agora, assim que se subtraiu da Divina Vontade rompeu o primeiro fio
de comunicação e ficou como uma cidade, que se rompe o fio primário que comunica a corrente
elétrica fica às escuras, e apesar de existirem os demais fios elétricos, não têm mais virtude de dar
luz a toda a cidade, porque a fonte de onde vem a luz, estando quebrada, nem ela pode dá-la nem
os fios recebê-la. Portanto ficou como uma cidade às escuras, e suas relações, os fios elétricos de
comunicação não funcionavam mais.

A fonte da luz havia-se retirado dele, porque ele mesmo havia
rompido a comunicação e ficou como um rei deposto, destronado e sem domínio, sua cidade
estava carente de toda luz, envolto nas trevas da própria vontade. Minha Vontade quando possuída
pela alma simboliza uma cidade cheia de luz e que tem comunicação com todas as partes do
mundo, aliás, suas comunicações se estendem no mar, no sol, nas estrelas, no céu; a esta cidade
chegam de todas as partes provisões de todo tipo, assim que é a mais rica, provida de tudo e por
meio das comunicações é a mais conhecida do Céu e da terra, tudo a ela aflui e é a mais amada.
Todo o contrário para quem não possui minha Vontade: Vive em escassez, sofre fome, apenas as
migalhas lhe são concedidas por piedade, frequentemente é saqueada pelos inimigos, sofre a
escuridão e vive na mais esquálida miséria".

(7) Depois disto, sentindo-me oprimida pela privação de meu doce Jesus, com o acréscimo de
outras penas minhas, estava oferecendo tudo no adorável Querer e para obter o triunfo de seu
Reino. Agora, enquanto fazia isto olhei o céu estofado de nuvens brancas e brilhantes e meu doce
Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(8) "Minha filha, olha que belas são essas nuvens, como tapam o céu e formam um belo ornamento
à abóbada azul, mas quem é que mudou a escuridão e fez fugir as trevas, as sombras negras e as
transformou em nuvens brancas e resplandecentes? O sol, investindo-as com a sua luz, fez-lhes
perder a escuridão e transformou-as em nuvens de luz. Então são nuvens, mas já não são nuvens
que dão trevas e escurecem a terra, mas nuvens que dão luz, e enquanto antes que as invistam o
sol pareciam que faziam afronta com sua escuridão, tirando-lhe o belo de seu azul, agora lhe
fazem honra e lhe formam um belo ornamento.

Agora minha filha, as penas, as mortificações, minhas privações, as circunstâncias dolorosas,
são como nuvens para a alma, que dão trevas, mas
se a alma faz correr tudo em minha Vontade, Esta, mais que sol as investe e as converte em
fulgidíssimas nuvens de luz, de modo que formam o mais belo ornamento no céu da alma. Na
minha Vontade todas as coisas perdem a parte escura que oprime e parece que faz afronta à
pobre criatura, e tudo serve para lhe dar luz e adorná-la com resplandecente beleza e Eu vou
repetindo a todo o Céu: Vede quão bela é a filha de minha Vontade, adornada por estas nuvens
brancas e fúlgidas; ela se nutre de luz e meu Querer investindo-a com sua luz a converte em
esplêndida luz".





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