ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 48° SEMANA DE ESTUDOS

 

Parte 2

LIVRO DO CÉU VOL. 1

56b Depois de ter aplicado a minha alma a sua dor, então me
pareceu estar disposta a receber a absolvição. Toda humilhada
e confusa como estava, e prostrada aos pés do bom Pai Jesus,
com os raios que enviava à minha mente, tratava de me
estimular principalmente à dor dizendo, se bem não recordo
tudo: “Grande, supremo foi o mal que fiz a Ti. Estas potências minhas
e estes sentidos do corpo deviam ter sido tantas línguas para te louvar,
ah, em troca foram como tantas víboras venenosas que te mordiam e
procuravam até mesmo te matar. Mas, Pai Santo, perdoe-me, não
queiras me afastar de Ti pelo grande mal que cometi pecando”.
E Jesus: “E tu, prometes não pecar mais e afastar do teu
coração qualquer sombra de mal que possa ofender o teu
Criador?”
E eu: “Ah sim, com todo o coração te prometo. Mas bem quero mil
vezes morrer que voltar a pecar, nunca mais, nunca mais”.
E Jesus: “E Eu te perdoo e aplico à tua alma os méritos de
minha Paixão e quero lavá-la em meu Sangue”.
E, enquanto dizia isto, levantou a sua mão direita abençoada
e pronunciou as palavras da absolvição, exatas às palavras que
o sacerdote diz, e no ato em que isto fazia, de sua mão corria
um rio de sangue, e minha alma ficava toda inundada por ele.
Depois disso me disse: “Vem, ó filha, vem fazer penitência por
teus pecados beijando minhas feridas”. Toda trêmula me
levantei e lhe beijei suas Sacratíssimas Chagas e depois me
disse: “Minha filha, sê mais atenta e vigilante, porque hoje te
dou a graça de não cair mais no pecado venial voluntário”.
Depois me fez outras exortações que não recordo bem e
desapareceu.

2-51

31 de julho de 1899

 

( Sem título )

 

( 1 ) Continuando Jesus a vir esta manhã, mas sempre em silêncio, mas eu estava muito feliz enquanto eu tinha meu tesouro Jesus, porque tendo ele eu tinha todo o meu conteúdo, eu entendia muitas coisas ao vê-lo de sua beleza, de sua bondade e muito mais, mas como foi tudo por meio da inteligência e por meio de comunicação intelectual, portanto a boca não sabe expressar nada, então eu os passo em silêncio.

+   +   +   +

2-52

1º de agosto de 1899

 

Silêncio e choro de Jesus pelas criaturas.   Na pureza.

 

( 1 ) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus, transportando-me para fora de mim mesmo, mostrou-me a corrupção em que caiu a raça humana.   É horrível pensar assim! Enquanto eu estava entre essas pessoas, Jesus disse quase chorando:

( 2 ) “Ah! cara, como você está desfigurado, deformado, dispensado, oh! homem, eu fiz de você para ser meu templo vivo e você, em vez disso, fez de você a morada do diabo; olhe também para as plantas, por estarem cobertas de folhas e flores e frutos, elas te ensinam a honestidade, a modéstia que você deve ter do seu corpo e você tendo perdido toda a modéstia e até o temor natural que você deveria ter, você se tornou pior das feras, tanto que não tenho mais ninguém que se pareça com você.   Você era minha imagem, mas agora você não se reconhece mais, pelo contrário, você me deixa tão horrorizado com suas impurezas, que me deixa doente ao vê-lo e você mesmo me obriga a fugir de você”.

( 3 ) Enquanto Jesus dizia isso, senti-me atormentado pela dor ao ver meu amado Jesus tão amargurado, por isso lhes disse:   "Senhor, você está certo de que já não encontra nada de bom no homem e que ele chegou a tal quem não sabe mais obedecer às leis da natureza, então se você quiser olhar para o homem, você não fará nada além de enviar castigos, então eu imploro que você aponte à sua mercê e assim tudo será remediado”.   Enquanto eu dizia isso, Jesus me disse:

( 4 ) "Filha, dá-me um alívio das minhas dores".

( 5 ) No ato de dizer isso, ele tirou a coroa de espinhos que parecia encarnada em sua adorável cabeça e a enfiou na minha, senti dores muito amargas, mas fiquei feliz por Jesus ter se revigorado   . disse:

( 6 ) “Filha, amo muito as almas puras e como das impuras sou obrigado a fugir, estas ao invés como por ímã sou atraído a ficar com elas.   Às almas puras empresto de bom grado minha boca para fazê-las falar com a mesma língua que a minha, para que não tenham que fazer um último esforço para converter as almas; nas ditas almas tenho o prazer não só de continuar a minha Paixão, e assim continuar ainda a Redenção, mas o que é mais, me alegro sumamente de glorificar nelas minhas mesmas virtudes".

3-52

15 de março de 1900

 

Jesus se sente desarmado pelas almas vítimas.

 

(1) Ainda sem vir, eu estava com muita dor e senti uma febre para entrar em delírio.   Agora, já que o confessor veio celebrar o sacrifício divino, comungei, mas não vi meu querido Jesus como de costume, então comecei a dizer minhas bobagens:   “Diga-me meu bem, por que você não aparece?   Desta vez, parece-me que ele não lhe deu a oportunidade de escapar! Como, em boa hora, em boa forma, você me deixa?   Ai, nem os amigos desta terra agem assim! Quando eles têm que ficar longe, pelo menos eles se despedem, e você, nem se despede?   Como, isso é feito?   Perdoe-me se falo assim, é a febre que me faz delirar e enlouquecer”.   Quem pode dizer todas as bobagens que eu disse a ele?  Seria uma perda de tempo.   Ora, enquanto eu delirava e chorava, Jesus, ora mostrou uma mão, ora um braço, quando vi o confessor que me deu a obediência para sofrer a crucificação, e Jesus, como que forçado pela obediência, fez-se ver e Eu imediatamente a Ele:   "Por que você não apareceu?"    E Ele, mostrando um aspecto sério, disse:

(2) "Não é nada, não é nada, é que eu quero castigar a terra e eu, mesmo estando em boas mãos com apenas uma criatura, me sinto desarmado e não tenho forças para pôr a mão nos castigos, porque me mostrando você começa a dizer, se você vê que eu tenho que mandar castigos:   "Derrame-me, faça-me sofrer".   E me sinto conquistado por você e nunca coloco minha mão em punições, e os homens não fazem nada além de se tornarem mais ousados”.

(3) Agora, continuando o confessor a repetir a obediência para me fazer sofrer a crucificação, Jesus mostrou-se lento para me obrigar a fazer esta obediência, ao contrário das outras vezes em que quis imediatamente que eu me submetesse, e disse-me:

(4) "E você, o que você quer fazer?"

(5) E eu:   "Senhor, o que quiseres".

(6) Então, voltando-se para o confessor com um olhar sério, disse-lhe:

(7) "Você também quer me amarrar, dando-lhe essa obediência para me fazer sofrer?"

(8) E enquanto dizia isso, começou a compartilhar em mim as dores da cruz e depois, mostrando-se aplacado, derramou sua amargura e acrescentou:

(9) "O confessor, onde está ele?"

(10) E eu:   "Senhor, não sei para onde ele foi, é certo que não o vejo mais conosco."

(11) E Ele:   "Eu quero, porque já que ele me restaurou, eu quero restaurá-lo".

4-53

31 de janeiro de 1901

 

Jesus Cristo explica-lhe a grandeza da virtude da paciência.

 

( 1 ) Como eu estava em meu estado habitual, meu doce Jesus não vinha, então depois de uma longa espera, assim que o vi, Ele me disse:

( 2 ) “Minha filha, a paciência é superior à pureza, porque sem paciência a alma se desencadeia facilmente, e é difícil manter-se pura, e quando uma virtude precisa da outra para ter vida diz-se, a superior para isso; de fato, pode-se dizer que a paciência não é apenas a custódia da pureza, mas é uma escada para subir a montanha da fortaleza, de modo que, se alguém subir sem a escada da paciência, cairá imediatamente do mais alto para o mais baixo.   Além disso, a paciência é o germe da perseverança, e esse germe produz ramos chamados firmeza.  Oh, como é firme e estável a alma paciente no bem empreendido, não leva em conta a chuva, a geada, o gelo, o fogo, mas toda a sua conta é levar ao fim o bem que começou, porque não há loucura maior do que aquele que hoje faz o bem porque gosta, amanhã porque não encontra mais prazer o deixa de fora; O que se diria de um olho que em uma hora tem visão e em outra permanece cego? De uma língua que ora fala e ora fica muda? Ah! sim minha filha, só a paciência é a chave secreta para abrir o tesouro das virtudes, sem o segredo desta chave as outras virtudes não saem para dar vida à alma e enobrecê-la”.

+   +   +   +

4-54

5 de fevereiro de 1901

 

Ele vê duas donzelas servindo justiça:   tolerância e dissimulação.

 

( 1 ) Esta manhã Jesus abençoado me transportou para fora de mim mesmo, mas Ele se mostrou em um estado que moveu até as pedras à compaixão.   Oh! como sofria e parecia que, não aguentando mais, queria se aliviar um pouco, como se procurasse ajuda.   Senti meu pobre coração romper-se de ternura, e imediatamente puxei a coroa de espinhos, colocando-a em mim para aliviá-lo, então disse: ".   “Meu doce bem, já faz algum tempo que você não renovou as dores da cruz para mim, peço-lhe que as renove hoje, para que você fique mais aliviado”.

( 2 ) E Ele: “Meus amados, é preciso que se peça justiça para que isso seja feito; pois as coisas chegaram a tal ponto que ele não pode permitir que você sofra”.

( 3 ) Eu não sabia pedir justiça, quando apareceram duas donzelas que pareciam estar servindo à justiça, e uma se chamava tolerância, a outra dissimulação; e tendo pedido que me crucificassem, a tolerância pegou minha mão e a pregou, sem querer terminar, então eu disse: “Ah! santa dissimulação, você consegue me crucificar, não vê que a tolerância me deixou, deixe-me ver o quanto você é melhor em dissimular”.   Daí ele tem a tarefa de me crucificar, mas com tanta agonia, que se o Senhor não me tivesse sustentado em seus braços, eu certamente teria morrido de dor.   Depois disso, o abençoado Jesus acrescentou:

( 4 ) “Filha, é preciso ao menos que às vezes você sofra essas dores, e se não fosse assim, ai do mundo! o que seria dele".

( 5 ) Então eu rezei para ele por várias pessoas, e me encontrei em mim mesmo.

+   +   +   +

4-55

6 de fevereiro de 1901

 

A satisfação perfeita de Jesus é encontrar-se na alma.

 

( 1 ) Encontrando-me no meu estado habitual, o bendito Jesus, vindo, disse-me:

( 2 ) “Minha filha, quando minha graça se encontra na posse de mais pessoas, celebre mais; acontece que com aquelas rainhas, quanto mais as donzelas se penduram em seus signos e fazem uma coroa ao redor delas, mais elas se divertem e celebram.   Você se fixa em Mim e olha para Mim, e permanecerá tão tomado por Mim, que todo o material cairá morto para você, e você deve se fixar tanto em Mim, a ponto de atrair-Me todo para você, porque eu acho em você Eu mesmo posso encontrar a minha em você a complacência perfeita.   Portanto, encontrando em você todos os meus prazeres possíveis de estar em uma criatura humana, não posso desagradar tanto o que os outros fazem comigo”.

( 3 ) E enquanto ele dizia isso ele se encerrou dentro de mim, e tudo se agradou.   Quão afortunado eu me consideraria se viesse a atrair meu amado Jesus completamente para dentro de mim.

6-49

14 de julho de 1904

 

A vida é um consumo contínuo.

 

( 1 ) Os meus dias vão-se tornando cada vez mais penosos devido às quase contínuas privações do meu adorável Jesus, eu mesmo não sei porque me sinto devorado pela alma e também pelo corpo por esta separação.   Que arquivo surdo.   Meu único e único consolo é a Vontade de Deus, porque se eu perdi tudo, até Jesus, esta santa e doce Vontade de Deus está apenas em meu poder, além de sentir-me devorar até o corpo, me iludo que ela não demore tanto a dissolução dela, pois vejo que sinto sucumbir, e por isso espero que algum dia, o Senhor me chame para Si e acabe com essa dura separação.   Então, esta manhã, depois de ter lutado, oh! quanto, quando ele veio e me disse:

( 2 ) “Minha filha, a vida é uma consumação contínua, uns a consomem por prazeres, outros por criaturas, alguns por pecar, outros por interesses, alguns por caprichos, há muitos tipos de consumação.   Agora, quem forma esta consumação inteiramente em Deus, pode dizer com toda a certeza: "Senhor, a minha vida foi consumida por amor a Ti, e não só me consumi, mas morri só por teu amor".   Portanto, se você se sente continuamente consumido pela minha separação, pode dizer que morre continuamente em Mim e sofre tantas mortes por meu amor.   E se consumires o teu ser para Mim, na medida em que é consumação de ti, adquires o mesmo divino em ti”.

+   +   +   +

6-50

22 de julho de 1904

 

A única estabilidade é o que faz CONHECER o progresso da vida divina na alma.

 

( 1 ) Continuando meu estado habitual, quando o bendito Jesus veio e me disse:

( 2 ) "Minha filha, quando a alma se propõe a não pecar, ou a fazer um bem e não realiza as intenções feitas, o sinal é que elas não são feitas com toda a vontade, e que a luz divina não tenha contato com a alma, porque quando a vontade é verdadeira e a luz divina, ela te faz saber o mal a evitar, ou o bem a fazer e dificilmente a alma não realiza o que se propôs, e isso porque o divino a luz não vê a estabilidade da vontade, não te dá a luz necessária para evitar um e fazer o outro, no máximo podem ser momentos de infortúnio, abandono de criaturas ou algum outro acidente que a alma parece querer destruir para Deus, que ele quer mudar sua vida, mas assim que o vento dos acidentes muda, logo muda a vontade humana.  Assim, em vez de vontade e luz, podemos dizer uma mistura de paixão de acordo com as mudanças dos ventos.   Mas a única estabilidade é aquela que dá a conhecer o progresso da vida divina na alma, porque sendo Deus imutável, quem o possui participa da sua imutabilidade para o bem”.

7-47

2 de outubro de 1906

 

Como nossos sofrimentos podem elevar-se a Jesus.

( 1 ) Tendo comungado, senti-me fora de mim e vi uma pessoa muito oprimida de várias cruzes, e bendito Jesus que disse:

( 2 ) “Diga a ela que no ato que ela sente como se estivesse sendo alvo de perseguições, de ferroadas, de sofrimentos, ela pensa que eu estou presente para ela e que o que ela está sofrendo pode ser usado como cura e remédio para minhas feridas; para que seus sofrimentos me sirvam agora para curar meu lado, agora minha cabeça, e agora minhas mãos e pés muito doloridos, exacerbados pelas graves ofensas que as criaturas Me fazem, e esta é uma grande honra que faço a ela, dando-lhe Eu mesmo o remédio para curar minhas feridas e, ao mesmo tempo, dar-lhes o mérito da caridade de ter me curado”.

( 3 ) Enquanto ele dizia isso, vi muitas almas no purgatório, que ao ouvirem isso, todas espantadas, disseram:

( 4 ) “Você é afortunado por receber tantos ensinamentos sublimes, que adquire mérito para curar um Deus, que supera todos os outros méritos a esse respeito, e sua glória será tão distinta dos outros quanto o céu da terra.   Oh! se tivéssemos recebido tais ensinamentos, que nossos sofrimentos pudessem servir para curar um Deus, quantas riquezas de mérito adquiriríamos e que agora estamos privados delas”.

9-44

3 de setembro de 1910

 

O que Jesus faz com uma alma, ele o faz com efeitos em todas.

 

(1) Estando em meu estado habitual, o bendito Jesus veio como uma criança; ele me beijou, me apertou, me acariciou, e muitas vezes ele retribuiu com beijos e abraços.   Espantava-me que Jesus tivesse transcendido comigo, muito covarde, para ficar comigo com beijos e abraços.  Devolvi-os, mas tímidos, e Jesus com uma luz que vinha Dele, me fez entender que vir, é sempre um grande bem, não só para mim, mas para o mundo inteiro, para que com amor e desabafo com uma alma, passa a preocupar toda a humanidade, porque nessa alma há tantos laços que unem a todos: laços de semelhança, laços de paternidade e filiação, laços de fraternidade, laços de tudo ter saído e criado por suas mãos , laços de ter sido todos redimidos por ele e que nos vê marcados com seu sangue.   Portanto, vendo tudo isso, amando e favorecendo uma alma, os outros permanecem amados e favorecidos, se não no todo, pelo menos em parte.  Por isso, vindo a mim bendito Jesus, e encontrando-se em tempos de flagelos, beijando-me, abraçando-me, acariciando-me e olhando-me, quis olhar todos os outros e poupá-los em alguma parte, se não em tudo.

(2) Então, depois disso, vi um jovem, creio que era um anjo que marcava aqueles que seriam tocados pelo flagelo.   Parecia que um grande número de pessoas estava sendo levado.


Parte 2

50. Em Betsaida na casa de Pedro. O encontro com Filipe e Natanael.

15 de outubro de 1944.
[…].
50.1Mais tarde (às 9:30 horas) preciso descrever isto.
João bate à porta da casa onde Jesus está hospedado. Aparece uma
mulher, que ao vê-lo, vai chamar Jesus.
Saúdam-se com a saudação da paz. E depois:
– Vieste sem demora, João –diz Jesus.
– Eu vim para dizer-te que Simão Pedro te pede que passes por
Betsaida. Ele falou de Ti a muitos. Esta noite não fomos pescar. Ficamos
rezando, como sabemos, e renunciamos ao lucro porque… o sábado ainda
não havia terminado. Esta manhã estivemos andando pelas ruas, falando de
Ti. Há pessoas que gostariam de te ouvir. Irás então, Mestre?
– Vou. Mesmo se Eu deva ir a Nazaré, antes de Jerusalém.
– Pedro te levará de Betsaida a Tiberíades, com seu barco. Assim irás
mais depressa.
–Então, vamos.
Jesus pega o manto e o alforje. Mas João lhe toma este último. Lá se vão
os dois, depois de terem saudado a dona da casa.
50.2A visão me mostra a saída do povoado e o começo da viagem para
Betsaida. Mas não ouço discursos, ao contrário, a visão tem uma
interrupção, mas continua, na entrada de Betsaida. Compreendo que é essa a
cidade, porque vejo Pedro, André e Tiago, junto com algumas mulheres que
estão esperando Jesus na entrada do povoado.
– A paz esteja convosco. Eis-me aqui.
– Obrigado, Mestre, por nós e pelos que Te estão esperando. Hoje não é
sábado, mas, dirás tuas palavras aos que estão esperando para Te ouvir?
– Sim, Pedro. Eu o farei. Na tua casa.
Pedro está exultante:
– Então, vem. Esta é minha mulher, esta é a mãe do João, e estas são as
amigas delas. Mas há outros também à tua espera: são parentes e amigos
nossos.
– Avisa-os que partirei de tarde, mas que antes falarei a eles.
Deixei de dizer que, tendo eles partido de Cafarnaum ao pôr-do-sol, os
vi chegar a Betsaida pela manhã.
– Mestre, eu Te peço. Fica uma noite em minha casa. O caminho para
Jerusalém é longo, mesmo que eu o encurte para Ti, com o barco até
Tiberíades. Minha casa é pobre, mas honesta e amiga. Fica conosco esta
noite.
Jesus olha para Pedro e para os outros, que estão todos esperando a
resposta. Jesus os olha perscrutador. Depois, sorri e diz:
– Sim.
Nova alegria para Pedro.
Muitas pessoas estão olhando das portas, fazendo sinais com os olhos.
Um homem chama Tiago pelo nome, fala-lhe baixo, indicando Jesus. Tiago
anui, e o homem vai conversar com outros, que ficaram esperando numa
encruzilhada.
Entram na casa de Pedro. Uma cozinha grande e enfumaçada. Em um
canto há redes, cordas e cestas para a pesca. No meio, a lareira larga e baixa
que, por enquanto, está apagada. Das duas portas opostas se vê a rua e o
pequeno pomar com uma figueira e uma videira. Do outro lado da rua, vê-se
o cérulo das ondas do lago. Além do pomar, está a parede escura de outra
casa.
– Ofereço a Ti o que tenho, Mestre, e como sei…
– Melhor e mais não poderias, porque me ofereces com amor.
Dão a Jesus água para se refrescar e depois, pão e azeitonas. Jesus
prova uns poucos bocados, mais para mostrar que aceita, depois recusa,
agradecendo.
Do outro lado do pomar e da rua alguns meninos estão observando com
curiosidade. Mas não sei se são filhos de Pedro. Só sei que, de vez em
quando, ele lhes dá uns olhares ameaçadores, para barrar os pequenos
invasores. Jesus sorri, e diz:
– Deixa-os à vontade.
– Mestre, queres descansar? Ali é o meu quarto, aquele é o de André.
Escolhe. Não faremos barulho, enquanto descansas.
– Por acaso, não tens um terraço?
– Sim. A videira faz um pouco de sombra, mesmo que esteja ainda quase
sem folhas.
– Leva-me, então, ao terraço. Prefiro descansar lá em cima. Lá, pensarei
e rezarei.
– Como quiseres. Vem.
Do pequeno pomar, uma escadinha sobe para o teto, que é um terraço
limitado por um baixo muro. Aqui também há redes e cordas. Mas quanta luz
do céu e quanto azul do lago!
Jesus se assenta em um banco, com as costas apoiadas ao muro. Pedro
lida com uma vela, que estende perto da videira para fazer uma proteção
contra o sol. Há brisa e silêncio. Jesus está visivelmente gostando.
– Eu já me vou, Mestre.
– Vai. Tu e João, ide dizer que, ao pôr-do-sol, falarei aqui.
Jesus fica só e faz uma longa oração. Exceto dois casais de pombos, que
vão e vêm dos ninhos, e um gorjeio de pássaros, não há barulho nem pessoas
em torno de Jesus que reza. As horas passam calmas e serenas.
50.3Depois, Jesus se levanta, dá uns passos pelo terraço, olha o lago, sorri
para uns meninos que estão brincando na rua e que lhe sorriem, olha a rua, na
direção da pracinha, que fica a uns cem metros da casa. Depois desce. Vai
até a cozinha:
– Mulher, vou passear à beira do lago.
Sai, e de fato vai para a beira do lago, junto dos meninos. E lhes
pergunta:
– O que estais fazendo?
– Nós queríamos brincar de guerra. Mas ele não quer e, então, vamos
brincar de pesca.
O “ele” que não quer é um homenzinho de corpo delgado, mas com um
rosto que revela grande perspicácia. Talvez ele perceba que, delgado como
é, ao fazer “a guerra”, poderia sair perdendo, e por isso, defende a paz.
Jesus aproveita o assunto para falar aos meninos:
– Ele tem razão. A guerra é um castigo de Deus para a punição dos
homens, e sinal de que o homem não é mais verdadeiro filho de Deus.
Quando o Altíssimo criou o mundo, fez todas as coisas: o sol, o mar, as
estrelas, os rios, as plantas, os animais, mas não fez as armas. Criou o
homem, e lhe deu olhos para que tivesse olhares de amor, boca para dizer
palavras de amor, ouvido para ouvi-las, mãos para dar socorro e carícias,
pés para correrem velozes até o irmão necessitado, e coração capaz de amar.
Deu ao homem a inteligência, a palavra, os afetos, os gostos. Mas não deu o
ódio. Por que? Porque o homem, criatura de Deus, devia ser amor, como
Deus é Amor. Se o homem tivesse continuado a ser criatura de Deus, teria
permanecido no amor, e a família humana não teria conhecido nem guerra
nem morte.
– Mas ele não quer brincar de guerra, porque perde sempre (eu já tinha
adivinhado isso).
Jesus sorri, e diz:
– Não é preciso não querer aquilo que nos prejudica, só porque nos
prejudica. Mas é preciso não querer uma coisa, quando ela prejudica a
todos. Se um, diz: “Eu não quero isto, porque vou perder”, ele é egoísta. Ao
contrário, o bom filho de Deus diz: “Irmãos, eu sei que vou ganhar, mas eu
vos digo: não vamos fazer isso, porque vós teríeis prejuízo.” Oh! Como esse
compreendeu bem o mandamento principal! Quem sabe me dizer qual é?
Em coro, as onze bocas dizem:
– “Amarás o teu Deus com todo o teu ser e ao teu próximo como a ti
mesmo.”
– Oh! Sois uns meninos muito inteligentes!
50.4
Ides todos à escola?
– Sim.
– Quem é o mais inteligente?
– Ele.
É o magrinho, que não quer brincar de guerra.
– Como te chamas?
– Joel.
– É um grande nome! Ele diz
[91]
: “… o fraco diga: ‘sou forte’.” Mas
forte no quê? Na lei do verdadeiro Deus, para estar entre aqueles que Ele
vai julgar como santos seus, no vale da decisão final. Mas esse juízo já está
perto. Não no vale da decisão, mas no monte da Redenção. Lá, entre o sol e
a lua, escurecidos de horror, e as estrelas tremendo num pranto de piedade,
serão julgados e separados os filhos da Luz, dos filhos das Trevas. Toda
Israel saberá que o seu Deus veio. Felizes aqueles que o tiverem
reconhecido. A eles mel, leite e águas claras lhes descerão aos corações, e
os espinhos se tornarão rosas eternas. Quem de vós quer estar entre aqueles
que vão ser julgados santos de Deus?
– Eu! Eu! Eu!
– Amareis, então, o Messias?
– Sim! Sim! A Ti! A Ti! Nós Te amamos! Nós sabemos quem és! Simão
e Tiago nos disseram, e nossas mães também. Leva-nos Contigo!
– Na verdade, Eu vos levarei, se fordes bons. Nada mais de palavras
feias, nem atitudes prepotentes, nem brigas, ou respostas más aos pais.
Oração, estudo, trabalho, obediência. Eu vos amarei e virei estar convosco.
Os meninos estão todos em círculo em volta de Jesus. Parece uma corola
de cores matizadas, apertada ao redor de um longo pistilo azul escuro.
50.5Um homem já maduro aproximou-se curioso. Jesus se vira para
acariciar um menino, que lhe está puxando a veste, e o vê. Fita-o
intensamente. O homem o saúda, enrubescendo, mas não diz nada.
– Vem, segue-me!
– Sim, Mestre.
Jesus abençoa os meninos e, ao lado de Filipe (chama-o pelo nome),
volta para casa. Sentam-se no pequeno pomar.
– Queres ser meu discípulo?
– Quero… mas não ouso ter esperança de o ser.
– Eu te chamei.
– Então, eu sou. Eis-me aqui.
– Sabias de Mim?
– André me falou de Ti. Ele me disse: “Aquele por quem tu suspiravas,
chegou.” Porque André sabia que eu vivia suspirando pelo Messias.
– A tua espera não foi decepcionada. Ele está diante de ti.
– Meu Mestre e meu Deus!
– És um israelita de reta intenção. Por isso Eu me manifesto a ti.
50.6
Um outro teu amigo está esperando, também ele um sincero israelita.
Vai dizer-lhe: “Encontramos Jesus de Nazaré, filho de José, da estirpe de
Davi, Aquele de quem falaram Moisés e os Profetas.” Vai!
Jesus ficou sozinho, até que Filipe volta com Natanael-Bartolomeu.
– Eis um verdadeiro israelita, no qual não há fraude. A paz esteja
contigo, Natanael!
– Como me conheces?
– Antes que Filipe fosse chamar-te, Eu te vi debaixo da figueira.
– Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel!
– Porque Eu disse ter-te visto, enquanto pensavas debaixo da figueira, tu
crês? Verás coisas bem maiores do que esta. Em verdade Eu vos digo que os
céus estão abertos, e pela fé, vereis os anjos descerem e subirem sobre o
Filho do homem: Eu que te falo.
– Mestre! Eu não sou digno de tão grande favor!
– Crê em Mim, e serás digno do Céu. Queres crêr?
– Quero, Mestre.
50.7A visão tem aqui uma interrupção e continua sobre o terraço cheio de
gente; outras pessoas estão no pequeno pomar de Pedro. Jesus está falando.
– Paz aos homens de boa vontade. Paz e bênção às suas casas, às suas
mulheres, aos seus filhos. A graça e a luz de Deus reine nelas e nos corações
que nelas habitam.
Vós desejastes ouvir-me. A Palavra está falando. Fala aos honestos com
alegria, fala aos desonestos com dor, fala aos santos e aos puros com deleite,
fala aos pecadores com piedade. Ela não se nega. Veio para derramar-se
como um rio, que irriga as terras necessitadas de água, às quais leva
refrigério com suas ondas, e alimento com o seu limo.
Vós desejais saber o que se requer para ser discípulos da Palavra de
Deus, do Messias que é o Verbo do Pai, que vem reunir Israel, para ouvir
novamente as palavras do imutável e santo Decálogo, e se santifique com
elas, purificando o homem quanto ele puder por si mesmo, para a hora da
Redenção e do Reino.
Aí está. Falo aos surdos, aos cegos, aos mudos, aos leprosos, aos
paralíticos, aos mortos: “Levantai-vos, ficai curados, ressurgi, caminhai,
abram-se em vós os rios da luz, da palavra, do som, para que possais ver,
ouvir e falar de Mim.” Mais do que aos corpos, Eu falo aos vossos espíritos.
Homens de boa vontade, vinde a Mim sem temor. Se o espírito está ferido,
Eu o curo. Se está doente, Eu o torno são. Se está morto, Eu o ressuscito. Eu
quero só a vossa boa vontade.
Será difícil o que Eu vos estou pedindo? Não. Eu não vos imponho as
centenas e centenas de preceitos dos rabinos. Eu vos digo: Guardai o
Decálogo. A Lei é una e imutável. Muitos séculos se passaram desde a hora
na qual essa lei foi dada bela, pura, fresca como um filho recém-nascido,
como uma rosa que acaba de se abrir sobre a haste. Simples, limpa, suave
para se seguir. No correr dos séculos, as culpas e as tendências a
complicaram com outras leis menores, com pesos e restrições, com
excessivas e penosas cláusulas. Eu vos reporto à Lei, assim como o
Altíssimo a deu. Mas Eu vos peço para o vosso bem, recebei-a com o
coração sincero dos verdadeiros israelitas daquele tempo.
Vós, os humildes, murmurais, mais com os corações do que com os
lábios, que a maior culpa está nos homens importantes. Eu sei. No
Deuteronômio se diz tudo o que deve ser feito: não era necessário nada mais.
Mas não julgueis quem pede aos outros, e não a si. Vós façais tudo o que
Deus diz. E sobretudo, esforçai-vos para serdes perfeitos nos dois
mandamentos principais. Se amardes a Deus com todo o vosso ser, não ireis
cometer pecado, que é uma dor causada a Deus. Quem ama não quer causar
dor. Se amardes o próximo como a vós mesmos, não sereis mais que filhos
respeitosos para com os vossos pais, esposos fiéis aos consortes, homens
honestos nos negócios, sem violências com os inimigos, sem mentira nos
vossos depoimentos, sem inveja de quem possui, sem concupiscência, sem
luxúria para com a mulher do próximo. Não querendo fazer aos outros o que
não quereríeis que fosse feito a vós, não roubaríeis, não mataríeis, não
caluniaríeis, não entraríeis, como os cucos, nos ninhos dos outros.
Mas, ao contrário, Eu vos digo: “Levai à perfeição a obediência aos
dois preceitos de amor: amai também os vossos inimigos.”
Oh! Como vos amará o Altíssimo, que tanto ama o homem, que se tornou
inimigo Dele pela culpa de origem e por seus pecados individuais, a ponto
de enviar-lhe o Redentor, o Cordeiro, que é o seu Filho , Eu que vos falo, Eu,
o Messias prometido, para remir-vos de toda culpa, se souberdes amar como
Ele.
Amai. Que o amor seja para vós escada por onde, tendo-vos tornado
anjos, subireis, como viu Jacó, até o Céu, ouvindo o Pai dizer a todos e a
cada um: “Eu serei o teu protetor por onde andares, e te reconduzirei a esta
cidade: ao Céu, ao Reino Eterno.”
A paz esteja convosco.
50.8O povo diz palavras de uma aprovação comovida, e se afasta
lentamente. Ficam Pedro, André, Tiago, João, Filipe e Bartolomeu.
– Partes amanhã, Mestre?
– Amanhã, ao alvorecer, se não te desagrada.
– Desagradar-me que Tu vás, sim. Mas por causa da hora, não. É, aliás,
propícia.
– Irás pescar?
– Esta noite, quando sair a lua.
– Fizeste bem, Simão Pedro, por não teres ido pescar na noite passada.
O sábado ainda não havia terminado. Neemias, em suas reformas, quis
que
[92]
em Judá fosse respeitado o sábado. Ainda agora muita gente aos
sábados põe em movimento as prensas, carrega fardos, transporta vinho e
frutas, vende e compra peixes e cordeiros. Vós já tendes seis dias para isso.
O sábado é do Senhor. Só uma coisa podeis fazer aos sábados: praticar a
bondade para com o próximo. Mas o lucro deve ser absolutamente excluído
dessa ajuda. Quem por causa do lucro viola o sábado, não pode ter senão o
castigo de Deus. Faz uma coisa de utilidade? Vai ter que descontá-la com as
perdas nos outros seis dias. Faz uma coisa sem utilidade? Então, em vão
cansou o seu corpo, não lhe concedendo o descanso que a Inteligência
estabeleceu para ele, deixando alterar-se pela ira o seu espírito por ter-se
afadigado inutilmente, chegando até a praguejar. Enquanto que o dia de Deus
há de ser passado com o coração unido a Deus, em doce oração de amor. É
preciso ser fiel em tudo.
– Mas… os escribas e os doutores, que são tão severos conosco… não
trabalham aos sábados, nem mesmo dão um pão ao próximo, para não ter o
trabalho de estender o braço para dá-lo… mas a usura, eles praticam
também nos sábados. Será por não ser um trabalho material, que a usura se
pode praticar aos sábados?
– Não. Nunca. Nem no sábado, nem em nenhum outro dia. Quem pratica
a usura, é desonesto e cruel.
– Então, os escribas e os fariseus…
– Simão, não julgues. Tu não faças assim.
– Mas eu tenho olhos para ver…
– Existirá só mal para se ver, Simão?
– Não, Mestre.
– Assim sendo, por que olhar só o mal?
– Tens razão, Mestre.
50.9 – Então, amanhã, na alvorada, partirei com João.
– Mestre…
– Que tens a dizer, Simão?
– Mestre… vais a Jerusalém?
– Tu já estavas sabendo disso.
– Eu também vou lá pela Páscoa… e também André e Tiago…
– Então? Queres dizer que gostarias de ir Comigo. Mas, e a pesca? E o
teu ganha-pão? Me disseste que gostas de ter dinheiro, e Eu vou ficar por lá
muitos dias. Primeiro, vou ver minha mãe. Para lá irei na volta, onde me
deterei a pregar. Como farás, então?
Pedro fica perplexo, combalido… mas depois se decide:
– Por mim… eu vou também. Prefiro a Ti, que ao dinheiro!
– Eu também vou.
– Eu também.
– E nós também, não é Filipe?
– Então, vinde. Vós me ajudareis.
– Oh! –Pedro fica excitado só com a idéia de ajudar a Jesus–. Como
faremos?
– Depois Eu vos direi. Não tereis que fazer mais do que Eu vos disser,
para fazer bem. O obediente sempre faz bem. Agora, vamos rezar, e depois
cada um irá para a sua casa.
– E Tu, Mestre, que irás fazer?
– Eu vou rezar ainda. Eu sou a Luz do mundo, mas sou também o Filho
do homem. Devo por isso sempre alcançar a Luz, para ser o Homem que
redime o homem. Rezemos.
Jesus diz um salmo. É aquele que começa assim:
– “Quem repousa na ajuda do Altíssimo, viverá sob a proteção do Deus
do Céu. Dirá ao Senhor: ‘Tu és o meu protetor, o meu refúgio. És o meu
Deus, Nele a minha esperança. Ele me livrou do laço dos caçadores e das
palavras ásperas’ etc…”. Eu o encontro no livro 4°[93]
. É o segundo do livro
4°, parece-me ser o de n° 90 (se é que leio bem os números romanos).
A visão termina assim.
[91] diz, em: Joel 4,10; e dos versículos sucessivos são retiradas as imagens do juízo.
[92] quis que, em: Neemias 13,15-22.
[93] livro 4°, porque a Bíblia usada por Maria Valtorta traz a antiga sub-divisão em 5 livros da colectânea dos Salmos. O
segundo salmo do quarto livro é o Salmo 90, tornado Salmo 91 na numeração das versões modernas.


CAPÍTULO 18
PROSSEGUEM AS PROVAÇÕES DE NOSSA RAINHA PERMITIDAS PELO SENHOR, ATRAVÉS DAS CRIATURAS
E DA ANTIGA SERPENTE.

Novos sofrimentos de Maria Santíssima

689. Continuava o Altíssimo ocultando-se à Princesa do céu. A esta provação, que era maior, acrescentou outras
para lhe aumentar o mérito, graça, recompensa, e mais inflamá-la no castíssimo amor.
Lúcifer, o grande dragão e antiga serpente, observava atento as heróicas
virtudes de Maria Santíssima. Ainda que não pudesse ser testemunha de vista das
interiores, por lhe serem ocultas, estava à espreita das exteriores. Estas eram tão altas
e perfeitas quanto bastava para atormentar a soberba e indignação deste invejoso
inimigo, pois a pureza e santidade da menina Maria eram-Ihe o maior de todos os insultos.

Conciliábulo no inferno

690. Impelido por este furor, reuniu no inferno um conciliábulo para
consultar, sobre este negócio, aos mais graduados príncipes das trevas.
Reunidos, expôs este arrazoado:
- Estou a recear e temer que o grande triunfo que gozamos no mundo, com a posse de
tantas almas submetidas à nossa vontade, venha a ser destruído e humilhado por
meio de uma mulher. Não podemos esquecer este perigo, pois o conhecemos desde
nossa criação, tendo-nos sido avisado ainda, por modo de cominação (Gn 3,15), que
a mulher nos esmagaria a cabeça. Portanto, convém estar alerta, sem nos descuidar.
Já tivestes notícia de uma Menina, nascida de Ana, que vai crescendo em
idade e distinguindo-se nas virtudes. Tenho observado suas ações, movimentos e
obras. Ao chegar o tempo comum do uso da razão, em que os homens começam a
sentir as paixões da natureza, não descobri Nela os efeitos de nossa semente e malícia,
como costumam se manifestar nos demais filhos de Adão.
Vejo-a sempre ordenada e perfeitíssima, sem poder incliná-la às infantilidades pecaminosas,
humanas ou naturais das outras crianças. Por estes indícios, receio que seja a escolhida para
Mãe daquele que há de se fazer homem.

Suspeitas de Lúcifer

691. Apesar de tudo, não consigo me persuadir disto. Nasceu como os
outros, sujeita às leis comuns da natureza, foi levada por seus pais ao templo como as
demais mulheres. Ali fizeram orações e oferenda para que a eles, e a Ela, se perdoasse a culpa. Não obstante, ainda que Ela
não seja a destinada contra nós, os grandes princípios de sua infância prometem,
para o futuro, extraordinária virtude e santidade.
Eu não posso tolerar seu modo de proceder com tanta prudência e discrição.
Sua sabedoria me abrasa, sua modéstia me irrita, sua paciência me revolta, sua humildade me aniquila e esmaga. Toda Ela me
provoca insuportável raiva, detesto-a mais que a todos os filhos de Adão. Tem não sei
que força especial, pois muitas vezes quero dela me aproximar e não posso. Se lhe
envio sugestões não as aceita.
Todas minhas diligências até agora se desvaneceram sem obter resultado. Remediar isto é interesse de todos nós,
empregando o maior cuidado para que nosso império não se arruine. Desejo mais
a destruição desta única alma do que de todo o mundo. Dizei-me, agora, que meios
usaremos para vencê-la e acabar com Ela.
A quem o fizer, ofereço os prêmios de minha liberalidade.

Conselho de um demônio

692. Ventilou-se o caso naquela confusa sinagoga - somente para nosso
dano concorde - e, entre outros pareceres,
declarou um daqueles medonhos conselheiros: - Príncipe e senhor nosso, não te
atormentes com tão pequeno cuidado, que uma fraca mulherzinha não será tão
invencível e poderosa, como somos nós todos que te seguimos.
Tu enganaste Eva (Gn 3,4), derribando-a do feliz estado que tinha e, por
ela, venceste sua cabeça, Adão. Com então, não vencerás essa Mulher, sua des
cendente, que nasceu depois da sua primeira queda? Conta certo com a vitória
e, para alcançá-la, determinemos perseverar em tentá-la, ainda que resista muitas
vezes. Sendo necessário que abdiquemos em alguma coisa de nossa grandeza e presunção,
não reparemos nisso, a troco de conseguir enganá-la. Se não bastar, procuraremos destruir sua honra e lhe tiraremos
a vida.

Outras sugestões diabólicas

693. A isto, outros demônios, dirigindo-se a Lúcifer, acrescentaram: -
Temos experiência, ó poderoso príncipe, que para derrubar muitas almas, é meio
poderoso e eficaz valer-nos de outras criaturas, para fazer o que por nós mesmos
não conseguimos. Por este modo, forjaremos a ruína desta mulher, observando para
isto o tempo e circunstâncias mais oportunas que se oferecerem em seu proceder.
Acima de tudo, importa que apliquemos toda nossa sagacidade e astúcia, para que
por algum pecado venha a perder a graça.
Em lhe faltando este apoio e proteção dos justos, perseguí-la-emos e dominá-la-emos
como a desamparada, sem haver quem a possa livrar de nossas mãos, e trabalharemos até reduzi-la ao desespero da salvação.

Lúcifer encarrega-se pessoalmente de tentar a Cristo e Maria

694. Agradeceu Lúcifer estas sugestões e encorajamentos, dados pelos
seus sequazes e colaboradores de maldade. Por sua vez, ordenou aos mais astutos
na malícia, o acompanhassem, constituindo-se novamente por chefe de tão árdua
empresa, não querendo fiá-la de outras mãos. Embora auxiliado por outros demônios, o próprio Lúcifer, pessoalmente, era
sempre o primeiro a tentar Maria, como a seu Filho Santíssimo no deserto, e em todo
o decurso de suas vidas, como veremos adiante.

Começam os demônios a tentar a Menina Maria

695. Por este tempo, continuava nossa divina Princesa na saudosa tristeza
pela ausência de seu Amado, quando aquela infernal quadrilha investiu de tropel para
tentá-la. A força divina, porém, que lhe fazia sombra, impediu os esforços de
Lúcifer, para se aproximar muito dela e executar tudo quanto projetava.
Com permissão do Altíssimo no entanto, lançou em
suas faculdades, grosseiras sugestões e diversos pensamentos de suma iniqüidade
e malícia, pois não evitou o Altíssimo que a Mãe da graça fosse também tentada em
tudo, mas sem pecar (Hb 4, 15), como depois seria seu Filho Santíssimo.

Atitude da Menina Maria nas tentações

696. Neste novo combate, não se pode facilmente conceber quanto padeceu
o puríssimo e ilibado coração de Maria, vendo-se cercada de sugestões tão estranhas, e distantes de sua inefável pureza e
da elevação de seus divinos pensamentos.
Percebendo a antiga serpente que a grande Senhora se encontrava aflita e
entristecida, pretendeu com isto cobrar maior ânimo. Cego pela sua mesma soberba, pois desconhecia o segredo do céu,
animava a seus infernais ministros, dizendo-lhes: Persigamo-Ia agora, persigamo-la,
pois parece que já conseguimos nossos intentos e começa a sentir tristeza, o caminho da desconfiança.
Nesta ilusão, enviaram-lhe novos pensamentos de desânimo e desconfiança
e, com terríveis imaginações, em vão a combateram, porque a pedra da generosa
virtude, quando ferida, com mais força solta faíscas e fogo de amor divino. Manteve-se nossa invencível Rainha tão
superior e insensível ao bombardeio do inferno, que em seu interior nem se alterou,
nem deu atenção a tantas sugestões, senão para melhor se reconcentrar em suas
incomparáveis virtudes, e mais elevar a chamava do divino incêndio de amor que em
seu peito ardia.

O demônio pretende tirar a vida de Maria Santíssima

697. Ignorando o dragão a oculta sabedoria e prudência de nossa soberana
Princesa, ainda que reconhecesse sua força imperturbável, persistia em sua antiga
soberba, acometendo a cidade de Deus por diversos meios e ataques. Não obstante o
astuto inimigo variar técnicas, suas armas não passavam de insignificante formiga
contra um muro de diamante.
Era nossa Princesa a mulher forte
(Pr 31,11) em quem pôde confiar o coração de seu esposo, sem receios de ver
frustrados seus desejos. Seu ornamento era a fortaleza (Idem 31,25) que a enchia de
encantos; sua veste de gala, a pureza e caridade.
Não podia suportar a imunda e altiva serpente este objeto, cuja vista o
ofuscava e exasperava com nova confusão. Pretendeu, então, tirar-lhe a vida,
esforçando-se muito com todo o esquadrão de espíritos malignos. Nesta labuta
levaram algum tempo, sem maior resultado que no resto.

Reflexões da escritora

698. Grande admiração me produziu o conhecimento deste oculto
sacramento, considerando quanto se exercitou o furor de Lúcifer contra Maria
Santíssima durante seus primeiros anos, e, por outro lado, a oculta e vigilante
proteção do Altíssimo para defendê-la. Vejo quanto o Senhor estava atento à sua
Esposa, escolhida e única entre todas as
criaturas. Vejo também todo o inferno transformado em raiva, estreando contra Ela tal
indignação, como até então não haviam empregado com outra criatura, e a facilidade com que o poder divino desvanecia
todo o poder e astúcia infernal.
Oh! infelicíssimo e mísero Lúcifer, quão maior é tua soberba e arrogância que
tua fortaleza! (Is 16,6). Não passas de anão fraquíssimo, para tão louca presunção
Desengana-te e não te prometas tantos triunfos, pois uma frágil Menina esmagou
tua cabeça e te deixou vencido, em tudo por tudo.
Confessa que vales e sabes muito pouco, pois ignoraste o maior sacramento
do Rei que te humilhou, mediante o instrumento que desprezavas, uma criança, fraca
mulher nas condições de sua natureza Como seria grande tua debilidade, se os
mortais se valessem da proteção do Altíssimo e do exemplo, imitação e intercessão desta vitoriosa triunf adora, Senhora
dos anjos e dos homens!

A oração de Maria durante a tentação

699. Entre estas tentações e combates, era incessante a fervorosa oração de
Maria Santíssima, dizendo ao Senhor: - Agora, meu Deus altíssimo, que estou na
tribulação, fica comigo (Sl 90,15); agora, que de todo meu coração vos chamo e
procuro vossas justificações (Sl 118,145), cheguem minhas súplicas aos vossos ouvidos; agora, que padeço violência,
respondei por Mim (Is 38,14); Vós meu Senhor e meu Pai, sois minha fortaleza e
meu refúgio (Sl 30, 4), e por vosso santo nome me livrareis do perigo, me guiareis
por seguro caminho e me alimentareis como filha vossa.
Repetia também muitos mistérios da sagrada Escritura, especialmente
os Salmos que falam contra os inimigos invisíveis. Com estas armas invencíveis,
sem perder um átomo de paz, igualdade e conformidade interior, mas confirmandose sempre mais nessas disposições, com o
puríssimo espírito elevado nas alturas, pelejava, resistia e vencia a Lúcifer, obtendo para si incomparável merecimento e
complacência do Senhor.

Novas tentações por intermédio das criaturas

700. Vencidas estas invisíveis tentações e combates, começou a serpente
novo duelo, por intervenção das criaturas.
Insuflou algumas faíscas de inveja contra Maria Santíssima, no coração das meninas,
suas companheiras, que residiam no templo. Este achaque era de remédio tanto mais
difícil por o terem contraído ao ver a exatidão de nossa divina Princesa na prática de todas as virtudes, pelas quais, em
sabedoria e graça, crescia diante de Deus e dos homens.
Onde reponta a ambição da honra, as mesmas luzes da virtude aprisionam,
obscurecem a razão e acendem a labareda da inveja. Administrava o dragão às incautas
meninas muitas sugestões interiores.
Persuadiu-as que a presença daquele sol, Maria Santíssima, deixava-as na sombra,
menos estimadas e suas negligências chamavam mais a atenção da mestra e dos
sacerdotes, pois só Maria era a preferida na estimação de todos.

A Menina Maria perseguida e maltratada pelas colegas

701. Acolheram esta má semente as companheiras de nossa Rainha. Pouco
advertidas e adestradas nas batalhas espirituais, deixaram-na crescer, até degenerar
em interior aversão por Maria Puríssima.
Este ódio transformou-se em indignação ao vê-la e tratá-la, chegando a não poderem
suportar a modéstia da cândida pomba.
Instigava-as o dragão, insuflando nas descuidadas meninas, a mesma
raiva que ele concebera contra a Mãe das virtudes. Persistindo a tentação,
começaram aparecer seus efeitos: as meninas
revelaram-na entre si, ignorando o espírito que as movia.
Combinaram molestar e perseguir a ignorada Princesa do mundo, até
despedi-la do templo.
Chamando-a à parte, dirigiramlhe palavras pesadas, tratando-a arrogantemente de farsista,
hipócrita, que só cuidava em conquistar com fingimento, as boas graças da mestra e dos sacerdotes;
que desacreditava às demais companheiras, murmurando delas, exagerando suas
faltas, quando Ela mesma era a mais inútil de todas. Por tudo isto, a detestavam tanto
como ao inimigo.

A reação de Maria

702. Estas, e outras muitas contumélias, foram ouvidas pela prudentíssima
Virgem que, sem se alterar, com serena humildade, respondeu: - Minhas amigas e
senhoras, tendes certamente razão em dizer que sou a menor e mais imperfeita de
todas. Vós, porém, minhas irmãs, mais advertidas, haveis de perdoar minhas faltas e
ensinar minha ignorância, guiando-me para acertar em fazer o melhor e vos dar gosto.
Suplico-vos, amigas minhas, que ainda que eu seja tão inútil, não me negueis
vossa graça, não acrediteis que desejo desmerecê-la, pois vos amo e reverencio
como serva. Se-lo-ei em tudo o que quiserdes, experimentai minha boa vontade,
ordenai-me e dizei o que desejais de mim.

Continuaram as animosidades
703. Estas humildes e suaves razões da modesta Maria, não abrandaram o
coração endurecido de suas amigas e companheiras, possuídas pela sanha furiosa
do dragão. Pelo contrário, aumentando sua raiva, ele as instigava e irritava mais,
para que aquela doce medicação viesse a entumecer mais a picada da serpente e o
veneno que derramara contra a mulher do grande sinal do céu (Ap 12,15). Continuou
esta perseguição muitos dias, sem que a humildade, paciência, modéstia e tolerância da
divina Senhora fossem capazes de abrandar o ódio de suas companheiras.
Avançou o demônio a proporlhes muitas sugestões, cheias de temeridade, para agredirem a
humilíssima ovelha e a maltratarem até lhe tirarem a vida.

Não permitiu o Senhor que tão sacrílegos pensamentos fossem executados.
O máximo a que chegaram foi injuriá-la com palavras e dar-lhe alguns empurrões.
Esta batalha travava-se em segredo, sem ter chegado ao conhecimento da
mestra e dos sacerdotes. Durante esse tempo, ia Maria Santíssima adquirindo
incomparáveis merecimentos e dons do Altíssimo, com a oportunidade de praticar
tantas virtudes, em relação a Deus, e às criaturas que a perseguiam e odiavam. Por
elas fez heróicos atos de caridade e humildade, dando bem por mal, bênçãos por
maldições, orações (ICor 4,13) por blasfêmias, cumprindo, em tudo, o mais perfeito
e elevado da divina lei.
Para com Deus, exercitou as mais excelentes virtudes, rogando pelas criaturas que
a perseguiam, humilhando-se, com admiração dos anjos, como se fora a mais vil
dos mortais e merecedora de quanto lhe faziam. Todos estes atos excediam à compreensão
dos homens e ao mais elevado mérito dos serafins.

As perseguições chegam ao conhecimento da mestra e dos sacerdotes

704. Aconteceu certo dia que, instigadas aquelas meninas pela tentação
diabólica, levaram a princesa Maria a um aposento retirado. Ali, parecendo-lhes
estar mais seguras, cobriram-na de injúrias e desmedidas contumélias, para irritar sua
mansidão, e ver se Ela quebraria sua invencível modéstia com algum gesto impaciente. Visto a Rainha não estar sujeita
a qualquer vício, mesmo por um só instante quando foi mais necessário a paciência
mais invencível se mostrou, respondendolhes com maior agrado e doçura.
Ofendidas por não conseguirem seu desordenado intento, puseram-se a
gritar, de modo que foram ouvidas no templo, mais do que era costume, produzindo
grande surpresa e confusão. Acudiram ao barulho os sacerdotes e a mestra, e permitindo o Senhor esta nova aflição para sua
Esposa, perguntaram severamente o motivo daquela inquietação.
Calando-se a mansíssima pomba, responderam as outras meninas com muita
indignação: - Maria de Nazaré nos inquieta e exaspera com seu gênio insuportável.
Longe de vossa presença nos contraria e provoca, de tal sorte que se não sair do
templo, não será possível manter paz com Ela. Se a toleramos se toma altiva, se a
repreendemos, zomba de nós, prostrandose a nossos pés com fingida humildade,
para depois murmurar e criar discórdias entre nós.

Maria é repreendida pela mestra e pelos sacerdotes

705. Os sacerdotes e a mestra levaram a Senhora do mundo a outro aposento,
e ali a repreenderam com a severidade que merecia o crédito que, por então, deram
às suas companheiras. Exortaram-na a que se emendasse, e procedesse como quem
vivia na casa de Deus, do contrário ameaçaram-na despedi-la, expulsando-a do
templo. Esta ameaça foi o maior castigo que lhe poderiam impor, ainda quando tivesse
alguma culpa, sendo, não obstante, inocente de todas as que lhe imputavam.
Quem tiver luz e inteligência do Senhor para compreender um pouco da
profundíssima humildade de Maria Santíssima, entenderá algo dos efeitos que
em seu candidíssimo coração produziam estes mistérios, porque se julgava o mais
vil dos nascidos, e a mais indigna de viver entre eles, e pisar a terra.

Comoveu-se um pouco a prudentíssima Virgem com esta ameaça, e entre
lágrimas respondeu aos sacerdotes: - Senhores, agradeço o favor que me fazeis,
repreendendo-me e ensinando-me, como a imperfeita e pobre mulher. Suplico-vos,
porém, me perdoeis, pois sois ministros do Altíssimo. Desculpando meus defeitos, me
dirijais em tudo, para que eu acerte melhor do que até agora, a dar gosto à Sua Majes-
tade e às minhas irmãs e companheiras.
Com a graça do Senhor, prometo-o novamente, começando desde hoje.

A resposta da Virgem

706. Acrescentou nossa Rainha outras razões de dulcíssima singeleza e
modéstia. Com isto, a deixaram a mestra e os sacerdotes, advertindo-a novamente
na doutrina, da qual Ela era mestra sapientíssima. Dirigiu-se logo às meninas,
suas companheiras, e prostrando-se aos seus pés, pediu perdão, como se os defeitos
que lhe imputavam, pudessem existir em quem era Mãe da inocência.
Receberam-na melhor por enquanto, julgando suas lágrimas efeitos do
castigo dos sacerdotes e mestra, que elas haviam inclinado às suas más intenções. O
dragão, que ocultamente ia urdindo essa teia, alçou a maior altivez e presunção ao
incauto coração daquelas meninas e, como tinham aberto caminho pelos sacerdotes,
prosseguiram com maior audácia em desacreditar a puríssima virgem e preveni-los
contra Ela. Para isto, instigadas pelo demônio, forjaram novas invenções e mentiras.

Nunca, entretanto, permitiu o Altíssimo que, da escolhida para Mãe
Santíssima de seu Unigênito, fosse dita ou presumida coisa muito grave ou menos
decente. Permitiu somente que a falsa indignação das meninas do templo chegasse
a exagerar muito algumas pequenas e imaginárias faltas que lhe imputavam. O
máximo que fizeram foi demonstrar sua exasperação com muitas artimanhas pueris.
Isto, mais a repreensão da mestra e dos sacerdotes, foi para nossa humilíssima
Senhora ocasião de praticar virtudes, aumentar os dons do Altíssimo e adquirir
méritos em plenitude, conforme as divinas intenções.

Oração de Maria Santíssima

707. Em tudo agiu nossa Rainha, agradando plenamente o Senhor, que se
recreava com o suavíssimo perfume daquele humilde nardo (Ct 1,11), maltratado
e desprezado pelas criaturas que o desconheciam. Insistia nos queixumes e gemidos
pela prolongada ausência de seu amado.
Numa destas ocasiões, lhe disse:
- Meu sumo Bem e Senhor, se vós que sois meu Dono e Criador me desamparastes, não é muito que o resto das
criaturas me aborreçam e se voltem contra mim. Tudo o merece minha ingratidão pelos vossos benefícios.
Não obstante, sempre Vos reconheço e confesso por meu refúgio e meu tesouro. Só vós sois meu bem,
meu amado e descanso. Mas, se estais ausente, como sossegará meu aflito coração?
As criaturas agem comigo como devem. Ainda não chegam a tratar-me como
mereço, porque Vós, Senhor e Pai meu, sois parco em castigar e liberalíssimo em premiar.
Descontai, Senhor, minhas negligências, com a dor de vos terdes ocultado a
meu interior. Pagai largamente o bem que vossas criaturas me granjeiam,
obrigandome a reconhecer vossa bondade e minha
vileza. Levantai, Senhor, a indigente do pó da terra (lRs 2, 8), transformai a que é
pobre e vilíssima entre as criaturas, e veja eu vosso divino rosto e serei salva (Sl 79»4).

Consideração da autora

708. Não é possível, nem necessário, relatar tudo o que sucedeu a nossa
grande Princesa, nesta prova de sua virtude. Por ora, sirva-nos Ela de vivo exemplo
para levarmos com magnanimidade quaisquer trabalhos, penas e duros golpes,
necessários para satisfazer por nossos pecados, e dobrar nossa cerviz ao jugo da
mortificação.
Não cometeu culpa, nem se achou dolo em nossa inocentíssima pomba, que
padeceu, com humilde silêncio e paciência, ser injustamente aborrecida e perseguida.
Em sua presença, sintamo-nos confusos por reputar uma leve injúria por ofensa
imperdoável, que exige vingança, sendo todas muito leves, para quem tem a Deus
por inimigo.
Poderoso era o Altíssimo para afastar de sua eleita e Mãe qualquer perseguição e contrariedade. Mas, se nisso
houvesse usado o seu poder, não o teria manifestado em sustentá-la na perseguição, nem lhe teria dado penhor tão seguro
de seu amor, nem Ela teria adquirido os preciosos frutos do amor aos inimigos e
perseguidores. De todos esses bens nos fazemos indignos, quando nos agravos
nos alteramos contra as criaturas; quando, com soberba de coração, resistimos a Deu
que em tudo as governa, não nos querendo sujeitar a nosso Criador e justificador, que
sabe o que precisamos para nossa salvação.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU MARIA SANTÍSSIMA.

A vingança e o perdão das ofensas

709. Já que estás ponderando o exemplo destes sucessos, minha filha, quero
que ele te sirva de doutrina e ensinamento.
Guarda-os com apreço no coração e alargao para receber com alegria as perseguições
e calúnias das criaturas, se mereceres participar desta graça.
Os filhos da perdição que, servindo à vaidade, ignoram o tesouro do padecer
injúrias e perdoá-las, consideram a vingança ponto de honra. Enganam-se, pois ainda
em termos da lei natural é o mais vil e feio de todos os vícios, porque se opõe à razão
e nasce de coração desumano, irracional e feroz.
Pelo contrário, o que perdoa e esquece as injúrias, ainda que não possua
fé divina nem a luz do Evangelho, toma-se, por esta magnanimidade, superior e rei da
própria natureza. Dela possui o que há de mais nobre e excelente, e não se abaixa à
vilíssima sujeição de se assemelhar, pela vingança, a uma fera irracional.

A vingança opõem-se à natureza e à graça

710. Se o vício da vingança é tão contrário à natureza, considera, caríssima,
qual será sua oposição à graça. Quão odioso e detestável é o vingativo aos olhos de
meu Filho Santíssimo, que se fez homem, morreu e padeceu somente para perdoar, e
para que o gênero humano obtivesse perdão das injúrias que fizera ao Senhor.
A vingança nega estas suas intenções e obras, contradiz à sua natureza
e bondade infinitas. Quanto está em seu poder, o vingativo destrói a Deus e suas
obras, merecendo ser por ele destruído. A diferença entre o que perdoa as injúrias e
o vingativo é a mesma que entre o filho único, herdeiro, e o inimigo mortal; este
provoca toda a força da indignação de Deus, e o outro merece e adquire todos os
bens, pois com a virtude do perdão, tomase imagem perfeitíssima do Pai celestial.
Quanto o perdoar agrada a Deus e beneficia a alma

711. Quero, alma, que entendas: sofrer injúrias com serenidade de coração
e perdoá-las totalmente por amor do Senhor, será mais grato a seus olhos do que
se, por tua vontade, fizesses rígidas penitências e derramasses teu próprio sangue.
Humilha-te aos que te perseguem, ama-os e roga por eles de todo o coração. Com isto
conquistarás para teu amor o coração de Deus, subirás à perfeição da santidade, e
vencerás todo o inferno.
Com esta humildade e mansidão, eu confundia aquele dragão que a todos
persegue; seu furor não podia tolerar estas virtudes, e mais rápido que o raio fugia de
minha presença. Assim, obtive grandes vitórias para minha alma, e gloriosos triunfos
para a exaltação da divindade. Quando alguma criatura se alterava contra mim,
não concebia indignação contra ela, porque a
reconhecia por instrumento do Altíssimo, para meu próprio bem, governada por sua
providência. Este conhecimento, mais a consideração de ser ela criatura de meu
Senhor, capaz de sua graça, inclinava-me a amá-la sincera e profundamente.
Não sossegava até remunerar-lhe este benefício,
alcançando-lhe, quanto me era possível, a salvação eterna.

Exortação à prática do perdão

712. Procura, pois e esforça-te
por imitar o que compreendeste e escreveste. Mostra-te mansíssima, pacífica e
amável aos que te forem molestos. Estima-os sinceramente, de coração, e não
atraias a vingança do Senhor, tomando-a de seus instrumentos, nem desprezes a
estimável pérola das injúrias. Quanto estiver em teu poder, paga sempre o mal
com o bem (Rm 12, 14), agravos com benefícios, ódio com amor, vitupérios
com louvores, maldições com bênçãos.
Deste modo, serás filha perfeita de teu Pai (Mt 5, 45), esposa amada de teu Senhor,
e minha queridíssima amiga.


1

12-49
Junho 4, 1918

Repetição das reparações de Jesus.

(1) Continuando meu estado habitual, estava dizendo ao meu amado Jesus: "Não despreze
minhas orações, são suas mesmas palavras que repito, as mesmas intenções, quero as almas
como você as quer, e com seu próprio Querer". E o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, quando te ouço repetir minhas palavras, minhas orações, querer como quero
Eu, como por tantos imãs me sinto atraído para ti, e conforme te ouço repetir minhas palavras,
tantas alegrias distintas sente meu coração, e posso dizer que é uma festa para Mim, e
enquanto gozo, sinto-me debilitado pelo amor da tua alma e não tenho a força de castigar as
criaturas; sinto em ti as mesmas cadeias que Eu punha ao Pai para reconciliar o género
humano. ¡ Ah! sim, repita o que eu fiz Eu, repita sempre se quiser que seu Jesus em tantas
amarguras encontre uma alegria por parte das criaturas".

(3) Depois ele adicionou: "Se queres estar seguro repara sempre e repara junto comigo, funde-
te tanto Comigo de formar um só eco entre tu e Eu de reparações; onde há reparações a alma

está como sob teto, onde está defendida do frio, do granizo e de tudo; em troca onde não há
reparação. É como se estivesse no meio da rua, exposta aos raios, ao granizo e a todos os
males. Os tempos são tristíssimos, e se o cerco das reparações não se expande, há perigo de
que os que estão a descoberto fiquem fulminados pelos raios da Divina Justiça"

13-46
Dezembro 27, 1921

A alma que vive na Divina Vontade põe em vigor a finalidade da Criação, e em cada coisa 
que faz é um desabafo de Jesus que lhe vem.

(1) Continuando meu habitual estado, meu doce Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, cada vez que a alma entra em meu Querer vem a refletir-se no espelho de
minha Divindade, e refletindo recebe os traços divinos, e estes traços a vinculam à Divindade,
encontrando nela sua mesma fisionomia a reconhecem como uma de sua família, lhe dão lugar
no meio das Divinas Pessoas, a admitem em seus segredos, e reconhecendo nela como centro
de vida a seu Querer, a admitem naquele ponto eterno e a enriquecem de tudo o que a
eternidade contém.

Oh! como é belo ver esta pequena imagem nossa inundada de tudo o que
a eternidade contém, ela, como é pequena se sente perdida, afogada, não podendo contê-la
dentro de si, mas o amor, o desenvolvimento da Vida de nosso Querer nela, leva-a a voltar a
refletir em Nós, e nossas ondas eternas continuam, como máquina que não cessa jamais seu
movimento. Oh! como nos divertimos, era esta a única finalidade da criação do homem, com o
intercâmbio de nossos quereres, ele Conosco e Nós com ele, formando nosso entretenimento,
e ao mesmo tempo fazer em tudo feliz o homem. Rompida a união com nosso Querer pelo
homem, começaram nossas amarguras e sua infelicidade, assim que a finalidade da Criação
nos falhou. Agora, quem refaz esta falha, quem põe em vigor os direitos da Criação?

A almaque vive em nosso Querer, ela deixa para trás todas as gerações, e como se fosse a primeira
criada por Nós se põe em ordem na finalidade com a qual criamos o homem; nosso Querer e o
seu fazem um só, e operando com o Querer Divino, nossa Vontade opera no querer humano, e
eis que começam nossos rendimentos divinos na vontade humana, a finalidade da Criação já
está em vigor, e como nossa Vontade tem modos infinitos, com tal que encontre uma alma que
se preste para fazer nosso Querer agir, logo vem se refazer da falha de todas as outras
vontades humanas; eis por que a amamos tanto, até superar todo o amor de todas as demais
criaturas juntas. A nossa Vontade impedida de obrar e desprezada nas outras criaturas, ela lhe
devolve o decoro, a honra, a glória, o regime, a vida, como não devemos dar tudo a ela”?
(3) Depois, como se não pudesse conter o amor, apertou-me ao seu coração e acrescentou:
(4) "Tudo, tudo à pequena filha de meu Querer; estarei em contínuo desabafo sobre ti, teus
pensamentos serão o desabafo de minha sabedoria, teus olhares serão o desabafo de minha
luz, teu respiro, teu palpitar, tua ação, serão precedidos por meus desabafos, e logo terão
vida. Seja atenta e em cada coisa que faça, pense que é um desabafo de Jesus que te vem".

14-50
Agosto 12, 1922

Valor e efeitos do sacrifício

(1) Sentia-me oprimida e aflita, que só meu doce Jesus pode sabê-las, Ele examina cada fibra
de meu pobre coração e vê toda a intensidade de minha dor, e tendo compaixão de mim, vindo
me sustentou entre seus braços dizendo-me:

(2) "Minha filha, coragem, estou Eu para ti, de que temes? Alguma vez te faltei? E se você não
quiser a qualquer custo te separar minimamente do meu Querer, muito menos quero Eu não
estar contigo e não ser vida de cada ato e pena tua. Agora tu deves saber que a minha Vontade
é ouro puríssimo, e para fazer que o fio de ferro da tua vontade humana possa converter-se em
ouro puríssimo, de modo que entrelaçando-se o fio da tua vontade com a minha não se distinga
qual seja a tua e qual a minha, é só o sacrifício, as penas, que consumindo o fio de tua vontade
humana o substitui com o fio de ouro divino, que fundindo-se com o meu forma um só, e
entrelaçando toda a grande roda da eternidade se estende por todas partes e se encontra por
todas partes; mas se o meu Querer é ouro e o teu é ferro, permanecerás atrás e o meu não
descerá a entrelaçar-se com o teu. Se você pegar dois objetos de ouro, apesar de que cada um
tenha uma forma diferente, liquidificando-os poderá formar um só, sem poder discernir mais
qual era o ouro de um e qual o do outro; mas se um objeto é de ouro e o outro de ferro, um não
aderirá ao outro e não se poderá formar um só objeto de ouro. Então é apenas o sacrifício que
muda a natureza para a vontade humana.
(3) O sacrifício é fogo ardente e dilui e consome, o sacrifício é sagrado e tem virtude de
consagrar a Vontade Divina na humana, o sacrifício é graça e imprime nela com seu hábil pincel
a forma e os lineamentos divinos, eis por que do aumento de suas penas, são as últimas
pinceladas que são necessárias para dar a última extensão e entrelaçamento de seu querer
com o meu".

(4) E eu: "Ah! meu Jesus, todas as minhas penas, por quanto dolorosas, que parecem que me
aniquilam, não me oprimem, e se a Ti te agrada multiplica as ainda, mas Tu sabes qual é a
pena que me destroça, só dessa imploro compaixão de Ti, porque me parece que não posso
continuar a suportá-la. Ah! por piedade, ajuda-me e liberta-me se a Ti te agrada".

(5) E Jesus: "Minha filha, também nesta dor estarei contigo, serei tua ajuda, te darei minha força
para sustentá-la; poderia te contentar, mas não é decoroso que o faça. A uma obra tão alta, a
uma missão tão sublime e única, de te chamar a fazer vida em meu Querer, me soaria mal se
não a fizesse passar por meio do órgão de minha Igreja. Além disso, com a minha Vontade e
com a intervenção da obediência de um ministro meu, puseste-te neste estado, mas, se ele não
quiser continuar, pode dar-te a obediência, a fim de que tu o faças por obedecer, entre ti e eu
fiquemos em pleno acordo, porque se o fizeres sozinha, por sua vontade, não só não ficaremos
de acordo, senão ficaria desonrada; porém devem saber que o mundo se encontra atualmente
sobre uma fogueira, se não querem que alçando mais suas chamas incinerar tudo, façam o que
quero".
(6) Eu fiquei aterrorizada e mais aflita que antes, mas disposta a fazer sua Santíssima Vontade,
não a minha.

16-47
Fevereiro 16, 1924

Cada batida do coração de Jesus o levava
uma nova dor, novas alegrias e contentamentos.

(1) Estava a pensar nas dores do Santíssimo Coração de Jesus, oh, como as minhas dores desa-
pareciam comparadas com as suas! E meu sempre amável Jesus me disse:

(2) "Minha filha, as dores do meu coração são indescritíveis e inconcebíveis para a criatura huma-
na. Você deve saber que cada batida de meu coração era uma dor distinta, cada batida me levava
uma nova dor, diferente uma da outra. A vida humana é um contínuo palpitar, se cessa o coração
pára de bater; imagine então que torrentes de dor me levava cada batida de meu coração, até o
último momento de minha morte, desde que fui concebido até meu último batimento, nenhum
deixou de levar-me novas penas e acerbas dores; mas deves saber também que minha Divindade
que era inseparável de Mim, vigiando meu coração, enquanto em cada batida fazia entrar uma no-
va dor, assim também em cada batida fazia entrar novas alegrias, novos contentamentos, novas
harmonias e arcanos celestiais. Se eu fui rico na dor e mares imensos de penas encerrava meu
coração, fui também rico de felicidade, de alegrias infinitas e de doçuras Inenarráveis.

Ao primeiro batimento de dor Eu teria morrido se a Divindade, amando a este coração com amor infinito, não
tivesse feito refletir em meu coração uma batida em duas: dor e alegria, amargura e doçura, penas
e contentamentos, morte e vida, humilhação e glória, abandonos humanos e consolos divinos. Oh!
Se você pudesse ver em meu coração, veria tudo concentrado em Mim, todas as dores possíveis e
imagináveis, das quais surgem a nova vida as criaturas, e todos os felizes e riquezas divinas, que
como tantos mares correm em meu coração e Eu os espalho para o bem de toda a família humana.
Mas quem toma mais destes tesouros imensos do meu coração?

Quem mais sofre. Por cada pena, por cada dor, há uma alegria especial em meu coração que segue a essa dor ou dor sofrida pela
criatura; a dor a faz mais digna, mais amável, mais querida, mais simpática. E assim como meu
coração se atraiu todas as simpatias divinas em virtude das dores sofridas, Eu, vendo na criatura a
dor, especial característica de meu coração, vigiando esta dor, com todo amor derramo sobre ela
as alegria e alegria que contém o meu coração; mas com grande dor minha, enquanto meu co-
ração gostaria de seguir minhas alegrias à dor que envio às criaturas, não encontrando nelas o
amor às penas e a verdadeira resignação como os teve meu coração, minhas alegrias seguem a
dor, mas vendo que a dor não foi recebida com amor, honra e total submissão, minhas alegrias não
encontram o caminho para entrar naquele coração dolorido e retornam sofredores ao meu coração.

Por isso, quando encontro uma alma resignada, amante do sofrimento, sinto-a como regenerada
no meu coração e oh! como se alternam as dores e as alegrias, a amargura e a doçura, não poupa-
rei nada de todos os bens que posso derramar nela".

19-49
Agosto 22, 1926

Os atos feitos no Querer Supremo tomam a imagem das
qualidades divinas. O que significa ser cabeça de uma missão.

(1) Sinto-me imersa no Querer Eterno de meu adorável Jesus, e quanto mais me é possível faço
minha volta por toda a Criação, para fazer companhia a todos os atos que a Divina Vontade opera
nela, mas enquanto isso fazia, meu sumo e único bem se fazia ver em meu interior, que olhando-
me toda numerava um por um todos meus atos, e os punha em torno de Si para gozá-los, e depois
me disse:.
(2) "Minha filha, estou fazendo a numeração de todos seus atos para ver se chegam ao número
estabelecido por Mim, e como minha Vontade encerra todas as qualidades divinas, cada ato teu
feito nela toma a imagem de uma qualidade suprema; olhe-os como são belos: Quem possui a
imagem da minha sabedoria, quem a imagem da bondade, quem o amor, quem a força, quem a
beleza, quem a misericórdia, quem a imutabilidade, quem a ordem, em suma, todas as minhas
qualidades supremas. Cada um de seus atos toma uma imagem distinta, mas se assemelham
entre eles, se harmonizam, se dão a mão e formam um ato só. Como é belo o obrado pela criatura
em minha Vontade, não faz outra coisa que produzir imagens divinas, e Eu me deleito de circundar-
me destas minhas imagens para gozar na criatura os frutos de minhas qualidades, e dou-lhe
virtude de reproduzir outras imagens minhas divinas, pois quero ver copiado, selado o Ser
Supremo, e por isso tenho tanto interesse de que a criatura faça minha Vontade e viva nela, para
repetir minhas obras"..

(3) Depois disto estava pensando entre mim: "Como é dura a privação do meu doce Jesus, sente-
se a verdadeira morte da alma, e acontece como ao corpo quando parte a alma, que enquanto
possui os mesmos membros, estes estão vazios da vida, estão inertes, sem movimento e não têm
mais valor; Assim me parece minha pequena alma sem Jesus, possui as mesmas faculdades, mas
vazias de vida, sem Jesus termina a vida, o movimento, o calor, por isso a pena é dilacerante,
indescritível, e não se pode comparar a nenhuma outra pena. ¡ Ah! a Mãe Celestial não sofreu esta
pena porque sua santidade a tornava inseparável de Jesus, e por isso não ficou jamais privada
dele". Mas enquanto eu pensava assim, meu amado Jesus se moveu dentro de mim dizendo:.
(4) "Minha filha, você está errada, a privação de Mim não é separação, mas dor, e você tem razão
ao dizer que é uma dor mais que mortal, e esta dor tem a virtude, não de separar, mas de unir com
ataduras mais fortes e mais estáveis a união inseparável Comigo, e não só isto, mas cada vez que
a alma fica privada de Mim, sem culpa sua, Eu ressuscito de novo para ela a nova vida de
conhecimento, fazendo-me compreender mais de novo amor, amando-a de mais, e dou nova graça
para a enriquecer e embelezar, e ela ressurge a nova Vida Divina, a novo amor e a nova beleza,
porque é justo; sofrendo a alma penas mortais, vem substituída com nova Vida Divina, se isto não
fosse assim, me deixaria vencer pelo amor da criatura, o que não pode ser. E além disso, não é
verdade que a Soberana Rainha jamais tenha ficado privada de Mim, inseparável jamais, mas
privada sim, isto não prejudicava a altura de sua santidade, antes a aumentava.
Quantas vezes a deixei no estado de pura fé, porque, sendo a Rainha das dores e a Mãe de todos os viventes, não
podia faltar-lhe o adorno mais belo, a pedra preciosa mais resplandecente que lhe dava a
característica de Rainha dos mártires e Mãe Soberana de todas as dores, esta pena de ser deixada
no estado de pura fé a preparou para receber o depósito de minha doutrina, o tesouro dos
sacramentos e todos os bens de minha Redenção, porque sendo minha privação a pena maior,
põe a alma em condição de merecer ser a depositária dos maiores dons do seu Criador, dos seus
conhecimentos mais altos e dos seus segredos. Quantas vezes não fiz isso com você? Depois de
uma privação minha te manifestei os conhecimentos mais altos sobre minha Vontade, e com isto
vinha a te fazer depositária não só de seus conhecimentos, mas de minha própria Vontade. E além
disso, a Soberana Rainha como Mãe devia possuir todos os estados de ânimo, portanto também o
estado de pura fé, para poder dar a seus filhos aquela fé irremovível que faz arriscar o sangue e a
própria vida para defender e testemunhar a fé. Se este dom da fé não o tivesse possuído, como o
poderia dar aos seus filhos?".

(5) Dito isto desapareceu, mas minha mente queria pensar tantas coisas estranhas e
possivelmente ainda disparatadas e me esforçava por fazer minhas ações na adorável Vontade de
Deus, mas enquanto fazia pensava entre mim: "Se viver no Reino supremo da Vontade Divina
requer tanta atenção, tantos sacrifícios, serão pouquíssimos os que quererão viver em um Reino
tão santo". E meu doce Jesus retornando me disse:.

(6) "Minha filha, quem é chamado como chefe de uma missão deve abraçar não só todos os
membros, mas deve governá-los, dominá-los e constituir-se vida de cada um deles; enquanto que
os membros não são os que dão vida à cabeça nem fazem tudo o que ela faz, senão que cada um
faz seu ofício. Assim quem é chamado como cabeça de uma missão, abraçando tudo o que
convém para poder desenvolver o trabalho que lhe foi confiado, sofrendo mais do que todos e
amando a todos, prepara o alimento, a vida, as lições, os ofícios, de acordo com a capacidade de
quem quer continuar a sua missão. O que é necessário a ti que deves formar a árvore com toda a
plenitude dos ramos e multiplicidade dos frutos, não será necessário a quem deve ser só rama ou
fruto, seu trabalho será de estar incorporado à árvore para receber os humores vitais que ele
contém, ou seja, fazer-se dominar por minha Vontade, não dando jamais vida ao próprio querer em
todas as coisas, sejam internas ou externas; conhecer minha Vontade e recebê-la como vida
própria para fazê-la desenvolver sua Vida Divina, em suma, fazê-la reinar e dominar como Rainha.
Assim minha filha, quem deve ser cabeça convém que sofra, que trabalhe e que faça sozinho tudo
o que os demais farão todos juntos. Isto é o que fiz Eu, porque como cabeça da Redenção posso
dizer que fiz tudo por amor de todos, para dar-lhes a vida e pô-los a todos a salvo, como também a
Virgem Imaculada, porque como Mãe e Rainha de todos, quanto não sofreu?

Quanto não amou efez por todas as criaturas? Ninguém pode dizer que nos tenha igualado, seja no sofrer como no
amar, ao mais nos semeiam em parte, mas igualar-nos, nenhum. Mas com o ter estado à cabeça
de todos, tanto Eu como a Soberana Rainha, encerrávamos todas as graças e todos os bens, a
força estava em nosso poder, o domínio era nosso, Céu e terra obedeciam a nossos sinais e
tremiam diante de nosso poder e santidade. Os redimidos tomaram nossas migalhas e comeram
nossos frutos, se curaram com nossos remédios, se revigoraram com nossos exemplos,
aprenderam nossas lições, ressuscitaram à custa de nossa vida, e se foram glorificados foi em
virtude de nossa glória, mas o poder é sempre nosso, a fonte viva de todos os bens brota sempre
de nós, tão é verdade, que se os redimidos se afastam de Nós perdem todos os bens e voltam a
estar doentes e pobres mais do que antes. Eis o que significa ser cabeça, é verdade que se sofre
muito, se trabalha muito, se deve preparar o bem a todos, mas tudo o que se possui supera tudo e
a todos, há tal distância entre quem é cabeça de uma missão e entre quem deve ser membro,
como se se comparasse ao sol como cabeça e a uma pequena luz como membro. “Por isso te
disse tantas vezes que tua missão é grande, porque não se trata da só santidade pessoal, senão
se trata de abraçar tudo e a todos, e preparar o Reino da minha Vontade às gerações humanas".
(7) Depois disto estava seguindo os atos do Querer Supremo, os quais, todos se convertiam em luz
e formavam um horizonte de luz resplandecente, que formava nuvens de prata, e onde penetrava
esta luz tudo se convertia em luz, tinha o poder, a força de esvaziar tudo para preencher tudo da
sua luz fulgidíssima, e Jesus acrescentou:.

(8) "Minha filha, não há coisa mais penetrante que a luz, ela se expande onde quer que ela se
expanda com uma rapidez encantadora, levando seus efeitos benéficos a todos aqueles que se
fazem investir por ela; a luz não se nega a fazer bem a nenhum, sejam pessoas, seja terra, seja
água, seja planta ou outro, sua natureza é iluminar e fazer o bem, e por isso não deixa ninguém
para trás, leva a todos seu beijo de luz e lhes doa o bem que contém..

(9) Minha Vontade é mais que luz, Ela se expande em qualquer lugar e leva o bem que contém, e
os atos feitos nela formam a atmosfera de ouro e de prata que tem virtude de esvaziar todas as
trevas da noite da vontade humana, e com sua luz benéfica leva o beijo do Eterno Querer, para
dispor as criaturas a querer vir ao Reino do Fiat Supremo. Cada ato teu feito n'Ele é um horizonte
novo que fazes surgir ao olho da inteligência humana, para lhe fazer suspirar a luz do bem que
possui minha Vontade. Minha filha, para preparar este Reino se necessita o trabalho, se requerem
leis celestiais, que são leis todas de amor; nele não entrarão as leis de temor, de penas, de
condenação, porque as leis de amor de minha Vontade serão amigáveis, filiais, de recíproco amor
entre Criador e criatura, assim que os temores, as condenações, não terão nem vigor nem vida, e
se houver algum sofrimento, será pena de triunfo e de glória. “Por isso, esteja atenta, porque se
trata de fazer conhecer um Reino celestial, de manifestar seus segredos, suas prerrogativas, seus
bens, para atrair as almas a amá-lo, a suspirá-lo e a fazê-las tomar a posse dele"..

20-53
Janeiro 28, 1927

Como Nosso Senhor terá três reinos. O Reino do Fiat Supremo será o eco da Criação. Como
será banida a pobreza e a infelicidade. Como em Nosso Senhor e na Virgem houve pobreza
voluntária, não forçada. O Divino Querer é zeloso de manter sua filha.

(1) Estava toda abandonada no Supremo Fiat, seguindo seus atos na Criação e meu doce Jesus
saiu de dentro de mim e me disse:
(2) "Minha filha, olha como é bela a ordem do céu, assim quando o Reino da Divina Vontade tiver
seu domínio sobre a terra no meio das criaturas, também na terra haverá ordem perfeita e bela.
Então terei três Reinos, um na Pátria Celestial, outro na Criação, e o terceiro entre as criaturas, e
um será o eco do outro, um o reflexo do outro. Todas as coisas criadas têm seu posto de honra e
enquanto estão todas ordenadas e em harmonia entre elas, uma não tem necessidade da outra,
porque cada uma não só abunda, mas superabunda dos bens com os quais Deus as dotou ao criá-
las, porque tendo sido criadas por um Ser feliz e riquíssimo, que ao dar jamais vêm diminuídas
suas riquezas, por isso todas as coisas criadas levam a marca da felicidade e a abundância dos
bens de seu Criador.

E, assim como todas as coisas criadas, assim os filhos do Reino do Fiat
Supremo, todos terão o seu lugar de honra, de decoro e de domínio, e, enquanto possuírem a
ordem do céu e estiverem em perfeita harmonia entre eles, mais do que esferas celestes, será tal e
tanta a abundância dos bens que cada um possuirá, que um jamais terá necessidade do outro,
cada um terá em si a fonte dos bens de seu Criador e de sua felicidade perene. Assim, banida será
a pobreza, a infelicidade, as necessidades, os males dos filhos de minha Vontade; não seria
decoroso para Ela, que é tão riquíssima e feliz, ter filhos que carecessem de alguma coisa e não
gozassem toda a opulência de seus bens que surgem continuamente. O que você diria se visse o
sol pobre de luz, que apenas enviasse algum brilho tênue à terra? Se você visse um pedaço do céu
em algum ponto, com alguma estrela apenas, e todo o resto sem o encanto do céu azul?

Não diria: „Aquele que criou o sol não possui a imensidão da luz que surge, e por isso só de algum pequeno
resplendor faz alumiar a terra, não possui a potência para estender um céu em qualquer lugar e por
isso um pedaço apenas estendeu sobre nossa cabeça.‟ Então você teria se tornado o conceito de
que Deus é pobre de luz, que não tem poder para estender por toda parte as obras de suas mãos
criadoras. Ao invés, ao ver que o sol abunda tanto de luz, que o céu se estende por toda parte, tu
te convences que Deus é rico e possui a fonte da luz, e por isso nada perdeu de sua luz ao
abundar com tanta luz ao sol, nem sua potência diminuiu ao estender por toda parte o céu. Assim
se os filhos de meu Querer não abundaram de tudo, poder-se-á dizer que minha Vontade é pobre e
não tem poder para tornar felizes os filhos de seu Reino, o que não será jamais. Aliás, como este
será a imagem do Reino que a minha Vontade tem na Criação, assim como o céu se estende por
onde quer que seja e abunda de estrelas, como o sol abunda de luz, o ar de pássaros, o mar de
peixes, a terra de plantas e de flores, assim, fazendo eco à Criação o Reino do Fiat Supremo, os
filhos do meu Reino serão felizes e abundarão em tudo, assim que cada um possuirá a plenitude
dos bens e plena felicidade no posto em que o Querer Supremo os colocou, qualquer que seja a
condição e o ofício que ocuparão, todos estarão felizes de sua sorte.

E como o Reino do Fiat Supremo será o eco perfeito do Reino que minha Vontade possui na Criação, por isso se verá um
sol no alto, outro sol no baixo, no meio das criaturas que possuirão este Reino, ver-se-á o eco do
céu nestes filhos afortunados, com as suas obras o povoarão de estrelas, aliás, cada um será um
céu e um sol diferentes, porque onde está a minha Vontade não sabe estar sem céu e sem sol,
aliás, conforme tomará posse de cada um dos seus filhos formará o seu céu e o seu sol, porque é
sua natureza que onde tem sua posse estável, sua santidade, sua luz interminável, é como céu e
sol que forma e multiplica por toda parte. Mas não é tudo ainda, a Criação, eco da Pátria Celestial,
contém a música, a marcha real, as esferas, o céu, o sol, o mar, e todos possuem a ordem e a
harmonia perfeita entre eles e giram continuamente, esta ordem, esta harmonia e este girar sem
jamais deter-se forma tal sinfonia e música admirável, que se diria que é como o sopro do Fiat
Supremo que toca como tantos instrumentos musicais a todas as coisas criadas e forma a mais
bela das músicas, que se se pudesse ouvir pelas criaturas, elas ficariam em êxtase. Então o Reino
do Fiat Supremo terá o eco da música da Pátria Celestial e o eco da música da Criação, será tal e
tanta a ordem, a harmonia e seu contínuo girar em torno de seu Criador, que cada ato deles,
palavra, passo, será uma música distinta, como tantos instrumentos musicais diferentes que
receberão o alento do Querer Divino, de modo que tudo o que façam serão tantos concertos
musicais distintos que formarão a alegria e a festa contínua do Reino do Fiat Divino.

Seu Jesus não encontrará mais diferença em permanecer na Pátria Celestial, ou em descer para entreter-se no
meio das criaturas no Reino do Fiat Supremo sobre a terra. E então nossa obra da Criação cantará
vitória e pleno triunfo, e teremos três Reinos em um, símbolo da Trindade Sacrossanta, porque
todas as nossas obras levam o selo d'Aquele que as criou".
(3) Depois disto pensava em mim: "Os verdadeiros filhos do Fiat Supremo serão felizes, abundarão
de tudo, não obstante minha Mãe Rainha, Jesus mesmo que era a mesma Vontade Divina foram
pobres nesta baixa terra, sofreram as penas, os incômodos da pobreza". E meu doce Jesus
acrescentou:

(4) "Minha filha, pobreza verdadeira é quando uma criatura tem necessidade, quer tomar e não tem
o que tomar e está obrigada a pedir aos outros um estreito meio para viver, esta pobreza é de
necessidade e quase forçada; em troca, tanto em Mim como na Mãe Celestial que era toda a
plenitude do Fiat Eterno, era não pobreza de necessidade, muito menos forçada, mas pobreza
voluntária, pobreza espontânea, expressada pela imprensa do amor Divino. Tudo era nosso, a um
sinal nosso se teriam edificado suntuosos palácios, servido mesas com alimentos nunca vistos e
saboreados, como de fato quando era necessário, a um pequeno sinal nosso os mesmos pássaros
nos serviam, trazendo-nos em seus bicos frutos e peixes e mais, e festejavam porque serviam a
seu Criador e a sua Rainha; com seus pios, cânticos e gorjeios, nos faziam as músicas mais belas,
tanto que para não chamar a atenção das demais criaturas devíamos dar-lhes a ordem de que se
afastassem, seguindo seu voo sob a abóbada do céu onde nosso Querer os esperava, e eles
obedientes se retiravam. Por isso nossa pobreza foi de amor, pobreza de exemplo para ensinar às
criaturas o desapego das coisas baixas da terra, não foi pobreza de necessidade, nem podia sê-lo
absolutamente, porque onde reina a plenitude, a Vida de minha Vontade, todos os males terminam
como de um só golpe e perdem a vida".

(5) Depois, tendo sabido, o muito reverendo padre Di Francia que eu tinha febre, mandou-me dizer
que se tinha necessidade tomasse o que necessitasse de seu dinheiro que havia depositado
comigo para uma obra sua. E meu amável Jesus ao vir, quase sorrindo me disse:

(6) "Minha filha, manda dizer ao padre em meu nome, que Eu lhe agradeço e recompensarei a
bondade de seu coração pelo cuidado que toma de ti, mas faz-lhe saber que a filha de meu Querer
não tem necessidade de nada, que minha Vontade a abunda de tudo, Ela é ciumenta que outros
pudessem oferecer-lhe alguma coisa, porque a sua filha quer dar-lhe tudo, porque onde reina o
meu Querer Divino não há medo de que os meios naturais, a abundância dos bens possam
prejudicar, antes, por quanto mais bens tem e abundância goza, mais vê neles a potência, a
bondade, a riqueza do Fiat Supremo e tudo o converte em ouro puríssimo de Vontade Divina,
assim que minha Vontade, por quanto mais lhe dá, tanto mais se sente glorificada em desenvolver
sua Vida na criatura, em oferecer suas coisas a quem a faz dominar e reinar. Seria absurdo se um
pai riquíssimo tivesse seus filhos pobres, seria para condenar tal pai, e além disso, em que
aproveitariam suas riquezas se o parto de suas entranhas, seus verdadeiros filhos levassem uma
vida difícil e miserável? Não seria uma desonra para este pai e uma amargura insuportável para
estes filhos, sabendo que enquanto o pai é riquíssimo eles carecem de tudo e trabalhosamente
podem tirar a fome?

Se isto seria absurdo e desonra para um pai na ordem natural, muito mais na
ordem sobrenatural do Fiat Supremo, Ele é mais do que pai que contém a fonte de todos os bens,
e por isso onde está Ele, reina a felicidade e a abundância de tudo. Muito mais, pois a alma que
tem a posse do Divino Querer, Ele fornece à alma e ao corpo uma vista aguda e penetrante, de
modo que penetra dentro das coisas naturais que como véu escondem minha Vontade, e a alma
rompendo estes véus encontra nas coisas naturais a nobre rainha da Vontade Divina reinante e
dominante nela, assim que as coisas naturais desaparecem para ela e em todas as coisas
encontra aquela Vontade adorável que possui, a beija, a adora, e tudo se torna para a alma
Vontade Divina, por isso cada coisa natural a mais é para ela um ato novo de Vontade Divina que
possui, portanto as coisas naturais são meios, para quem é filha de meu Querer, de fazer conhecer
mais o que faz, sabe fazer e possui minha Vontade, e até que ponto excessivo ama a criatura.
Quer saber então por que as criaturas carecem dos meios naturais e muitas vezes lhes são tirados
e se reduzem à mais esquálida miséria? Primeiro porque não possuem a plenitude do Fiat
Supremo, segundo porque mudam as coisas naturais e põem no lugar de Deus a natureza, não
veem nas coisas naturais o Supremo Querer, mas sim cobiçosos se apegam para formar-se uma
glória vã, uma estima que cega-os, um ídolo para o próprio coração. Sendo assim, é necessário
para pôr a salvo suas almas, que os meios venham a faltar. Mas para quem é filha de minha
Vontade, todos estes perigos não existem e por isso quero que abundem em tudo e que nada lhes
falte".

21-16

Abril 16, 1927

Como Nosso Senhor fez o depósito de sua Vida Sacramental no coração da Santíssima
Virgem. O grande bem que pode fazer uma vida animada pela Divina Vontade. Como a
Virgem Santíssima, em suas dores, encontrava o segredo da força na Vontade Divina.

(1) Estava fazendo a hora quando Jesus instituiu a Santíssima Eucaristia, e movendo-se em meu
interior me disse:
(2) "Minha filha, quando faço um ato, primeiro vejo se há ao menos uma criatura onde pôr o
depósito de meu ato, a fim de que tome o bem que faço, o tenha guardado e bem defendido.
Agora, quando instituí o Santíssimo Sacramento busquei esta criatura e minha Rainha Mamãe se
ofereceu a receber este ato meu e o depósito deste grande dom dizendo-me: ‘Meu Filho, se te
ofereci meu seio e todo meu Ser em tua Conceição para ter-te custodiado e defendido, agora te
ofereço meu coração materno para receber este grande depósito, e disponho em ordem de batalha
em torno de tua Vida Sacramental, meus afetos, meus batimentos, meu amor, meus pensamentos,
toda Eu mesma para ter-te defendido, cortejado, amado, reparado; tomo Eu o empenho de
corresponder-te pelo grande dom que fazes, confia em tua Mãe e Eu pensarei na defesa de tua
Vida Sacramental; e como Tu mesmo me constituíste Rainha de toda a Criação, tenho o direito de
alinhar em torno de Ti toda a luz do sol como homenagem e adoração, às estrelas, ao céu, ao mar,
a todos os habitantes do ar, ponho tudo em torno de Ti para te dar amor e glória".

(3) Agora, assegurando-me onde podia pôr este grande depósito da minha Vida Sacramental e
confiando na minha Mãe que me tinha dado todas as provas da sua fidelidade, instituí o Santíssimo
Sacramento. Era Ela a única criatura digna que podia guardar, defender e reparar o meu ato. Então
olhe, quando as criaturas me recebem, Eu desço nelas junto com os atos da minha inseparável
Mãe, e só por isso posso continuar a minha Vida Sacramental. Por isso é necessário que escolha
primeiro uma criatura quando quero fazer uma obra grande, digna de Mim, primeiro para ter o lugar
onde colocar meu dom, segundo para ter a correspondência. Também na ordem natural se faz
assim, se o agricultor quer semear a semente, não a lança no meio do caminho, mas vai em busca
do pequeno terreno, prepara-o, forma os sulcos e depois lança a semente, e para estar seguro a
cobre com terra, esperando ansiosamente a colheita para receber a correspondência de seu
trabalho e da semente que confiou à terra. Outro quer formar um belo objeto, primeiro prepara as
matérias-primas, o lugar onde colocá-lo e depois o forma. Assim também fiz contigo, te escolhi, te
preparei e depois te confiei o grande dom das manifestações de minha Vontade, e assim como
confiei à minha amada Mãe a sorte da minha Vida Sacramental, assim quis confiar-me de ti,
confiando-te a sorte do Reino da minha Vontade".
(4) Depois continuava pensando em tudo o que meu amado Bem tinha feito e sofrido no curso de
sua Vida, e Ele acrescentou:
(5) "Minha filha, minha Vida foi brevíssima aqui embaixo e a maior parte me passei escondido, mas
apesar de que foi brevíssima, como minha Humanidade estava animada por uma Vontade Divina,
quantos bens não fiz?

Toda a Igreja toma de minha Vida, a saciedade bebe da fonte de minha
doutrina, cada palavra minha é uma fonte que brota em cada cristão, cada exemplo meu é mais
que sol que ilumina, que esquenta, que fecunda e faz amadurecer as maiores santidades. Se se
quisesse comparar a todos os santos, todos os bons, todas as suas penas e seu heroísmo, tudo
posto em comparação à minha Vida brevíssima, seriam sempre as pequenas chagas diante do
grande sol, e como em Mim reinava a Divina Vontade, todas as penas, as humilhações, confusões,
oposições, acusações que me faziam os inimigos no curso de minha Vida e de minha Paixão,
serviu tudo para sua vergonha e para maior confusão deles mesmos, porque estando em Mim uma
Vontade Divina, sucedia de Mim como sucede ao sol quando as nuvens, estendendo-se no baixo
do ar, parece que querem fazer ultraje ao sol obscurecendo a superfície da terra tirando
momentaneamente a vivacidade da luz solar, mas o sol ri-se das nuvens porque elas não podem
fazer vida perene no ar, sua vida é fugaz, basta um pequeno vento para fazê-las desaparecer e o
sol fica sempre triunfante em sua plenitude de luz que domina e enche toda a terra. Assim
acontece de Mim, tudo o que me fizeram meus inimigos e até minha própria morte, foram como
tantas nuvens que cobriram minha humanidade, mas ao Sol de minha Divindade não puderam
tocá-lo, e não apenas o vento da potência de minha Vontade Divina se moveu, desapareceram as
nuvens e mais que sol ressuscitei glorioso e triunfante, deixando os inimigos mais envergonhados
do que antes. Minha filha, na alma onde reina minha Vontade com toda sua plenitude, os minutos
de vida são séculos e séculos de plenitude de todos os bens, e onde Ela não reina, os séculos de
vida são apenas minutos de bens que contêm; e se a alma onde reina meu Querer sofresse
humilhações, oposições e penas, são como nuvens que o vento do Fiat Divino descarrega sobre
aqueles, para sua vergonha, que ousaram tocar a portadora do meu eterno Querer".

(6) Depois disto estava pensando na dor quando minha dolorosa Mãe, trespassada no coração se
separou de Jesus deixando-o morto no sepulcro, e pensava entre mim: "Como foi possível que
tivesse tanta força de deixá-lo? É certo que estava morto, mas era sempre o corpo de Jesus, como
seu amor materno não a consumiu para não deixá-lo dar um só passo longe daquele corpo extinto?
E ele parou. Que heroísmo, que fortaleza!" Mas enquanto isso pensava, meu doce Jesus se moveu
dentro de mim e disse:
(7) "Minha filha, queres saber como é que a minha Mãe teve a força de me deixar? Todo o segredo
da sua força estava na minha Vontade reinante nela. Ela vivia de Vontade Divina, não humana, e
por isso continha a força imensurável. É mais, você deve saber que quando minha transpassada
Mamãe me deixou no sepulcro, meu Querer a tinha imerso em dois mares imensos, um de dor e o
outro mais extenso de alegrias, de bem-aventuranças, e enquanto o de dor lhe dava todos os
martírios, o da alegria lhe dava todos os contentamentos e sua bela alma me seguiu ao limbo e
assistiu à festa que me fizeram todos os patriarcas, os profetas, seu pai e sua mãe, nosso amado
São José; o limbo se transformou em paraíso com minha presença e Eu não podia fazer menos
que fazer participar Aquela que tinha sido inseparável em minhas penas, fazê-la assistir a esta
primeira festa das criaturas, e foi tanta sua alegria, que teve a força de separar-se de meu corpo,
retirando-se e esperando o momento da minha Ressurreição como cumprimento da Redenção. A
alegria a sustentava na dor, e a dor a sustentava na alegria. A quem possui meu Querer não pode
faltar nem força nem potência, nem alegria, tudo tem à sua disposição. Você não experimenta em
si mesma quando está privada de Mim e se sente realizada? A luz do Fiat Divino forma o seu mar,
faz-te feliz e dá-te a vida".



Fiat!!!

22-1
Junho 1, 1927
Jesus sabe fazer todos os milagres, exceto separar-se de sua Vontade. Dor pela morte do
Padre Di Francia. Bem de quem põe em prática as verdades conhecidas.
Como Jesus a faz ver aquela alma bendita e lhe fala dela.

(1) As privações do meu doce Jesus tornam-se mais longas, sinto que não posso mais, oh! se eu
fosse dado a tomar o voo para minha pátria celestial, onde não há mais separações com Jesus,
como seria feliz de sair da dura e escura prisão do meu corpo. Jesus! Jesus! Como é que não
queres ter piedade de mim, desta pobre prisioneira? Como você me deixou sem sequer vir me
visitar muitas vezes na obscura prisão em que me encontro? Oh Jesus! sem Ti como se faz mais
penosa, mais sombria, mais tremenda minha prisão na qual Tu me puseste, dizendo-me que
estivesse nela por amor teu e para cumprir tua Vontade, mas que não me deixarias só, senão que
me farias companhia. Mas agora, está tudo acabado! Não tenho teu sorriso que me alegra, não
tenho tua palavra que rompe meu longo silêncio, nem tua companhia que rompe minha solidão,
estou sozinha, aprisionada e atada por Ti nesta prisão, e além disso me deixou. Jesus! Jesus! Eu
não esperava isso de Ti.
(2) Mas enquanto desafogava minha intensa dor saiu de dentro de mim e me abraçando para me
sustentar, porque não tinha mais força, me disse:
(3) "Minha filha, ânimo, Eu não te deixo, mas tu deves saber que teu Jesus sabe fazer e pode fazer
todos os milagres, salvo o milagre de me separar de minha Vontade, se em ti está meu Divino
Querer, como posso te deixar? E se isto fosse um Jesus sem vida. Pelo contrário, é a
interminabilidade do meu Fiat que me esconde, e tu, enquanto sentes a Vida Dele, não vês o teu
Jesus que está dentro dele".
(4) Então me sentia afligida, não só pelas privações de meu doce Jesus, mas porque também me
tinha chegado a notícia inesperada da morte do Reverendo Padre Di Francia, era o único que me
restava a quem podia abrir minha pobre alma, como me compreendia bem, era um santo, ao qual
me confiava e que tanto tinha compreendido todo o valor do que Jesus me tinha dito sobre a Divina
Vontade, tinha tanto interesse nisto, que com insistência tinha levado todos os escritos para
publicá-los. Então pensei para mim: "Depois que Jesus permitiu que levasse os escritos com
grande sacrifício de minha parte, porque eu não queria, e só porque era um santo eu tive que
ceder, e agora Jesus o levou para o Céu." Eu sentia-me torturado pela dor, mas Fiat! Fiat! Fiat!
Tudo termina aqui em baixo; rompi em pranto encomendando a Jesus aquela alma bendita que
tanto tinha sofrido e agido por Ele e enquanto isso fazia, meu doce Jesus se moveu em meu
interior e me disse:
(5) "Minha filha, coragem, tu deves saber que por tudo o que aquela alma, tão querida por Mim,
tem feito, por todas as verdades que tem conhecido sobre minha Vontade, tanta luz de mais
encerrou em sua alma, assim que cada conhecimento de mais é uma luz maior que possui, e cada
conhecimento põe na alma uma luz distinta, uma mais bela que a outra, com o germe da diferente
felicidade que cada luz contém, porque tudo o que a alma pode chegar a conhecer de bem, com a
vontade de o pôr em prática em si mesma, A alma fica na posse do bem que conhece. Se não tem
vontade de pôr em prática os conhecimentos que adquire, acontece como quando alguém toca
numa flor ou também se lava com água fresquíssima, no ato sentirá o perfume da flor, o refrigério
da água fresca, mas como não possui a flor nem a fonte da água fresca, pouco a pouco se
desvanecerá o perfume e o bem da frescura da água, e se encontrará sem o perfume e
desvanecida a frescura que tinha gozado; assim são os conhecimentos quando se tem o bem de
conhecê-los e não se põem em prática. Agora, aquela alma tinha toda a vontade de pô-los em
prática, tanto que vendo o grande bem que ele sentia, queria fazê-los conhecer aos demais,
publicá-los. Então, enquanto esteve na terra, o corpo, mais que a parede ocultava aquela luz, mas
apenas a alma saiu da prisão de seu corpo, encontrou-se investida da luz que possuía, e os tantos
germes de felicidade que possuía, efeitos dos conhecimentos de minha Divina Vontade,
desenvolvendo-se estes, começou a sentir o início da vida das verdadeiras bem-aventuranças e,
mergulhando na eterna Luz do seu Criador, encontrou-se na Pátria Celestial, onde continuará a
sua missão sobre a minha Vontade, assistindo Ele a tudo do Céu.

(6) Se tu soubesses a grande diferença que há de glória, de beleza, de felicidade, entre quem
morrendo leva consigo da terra a luz com os germes de tantas felicidades, e entre quem a recebe
só do seu Criador, há tal distância, que é maior que a distância entre o céu e a terra. Oh! se os
mortais soubessem o grande bem que adquirem ao conhecer um verdadeiro bem, uma verdade, e
fazer dele sangue próprio para incorporá-la na própria vida, fariam competição, esqueceriam tudo
por conhecer uma verdade e dariam a vida para pô-la em prática".

(7) Então, enquanto Jesus dizia isto vi diante de mim a alma bendita do pai junto à minha cama,
investida de luz, suspensa sobre a terra, que me olhava fixamente sem me dizer uma palavra,
também eu me sentia muda diante dele e Jesus continuou:
(8) "Veja-o como está transformado, minha Vontade é Luz e transformou aquela alma em luz; é
bela, deu-lhe todas as tintas da perfeita beleza; é santa e ficou santificada; minha Vontade possui
todas as ciências, e a alma ficou investida da ciência divina; não há nada que minha Vontade não
lhe tenha dado. Oh! Se todos entendessem o que significa Vontade Divina, poriam tudo à parte,
não se esforçariam por fazer nada mais e todo o empenho estaria em fazer só minha Vontade".

(9) Depois disto pensava para mim: "Mas por que Jesus bendito não compareceu para fazer o
milagre ao Padre Di Francia?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(10) "Minha filha, a Rainha do Céu na Redenção não fez nenhum milagre, porque suas condições
não lhe permitiam dar a vida aos mortos, a saúde aos enfermos, porque sendo que sua Vontade
era a de Deus mesmo, o que queria e fazia seu Deus, queria e fazia Ela, não tinha outra vontade
para pedir a Deus milagres e curas, porque a sua vontade humana não lhe deu jamais vida, e para
pedir milagres a esta Vontade Divina devia valer-se da sua, o que não quis fazer, porque teria sido
descer à ordem humana, mas a Soberana Rainha não quis jamais dar um passo fora da ordem
divina, e quem está nele, deve querer e fazer o que faz seu Criador, muito mais pois com a vida e
luz desta Divina Vontade, via que era o melhor, o mais perfeito, o mais santo ainda para as
criaturas, o que queria e fazia seu Criador. Portanto, como poderia descer da altura da ordem
divina?
E por isso fez só o grande milagre que encerrava todos os milagres, a Redenção, querida
pela mesma Vontade da que era animada, que levou o bem universal a quem quer que o deseje. A
grande Mãe Celestial, enquanto em vida não fez nenhum milagre aparente, nem de curas, nem de
ressuscitar os mortos, fazia e faz milagres todos os momentos, todas as horas e todos os dias,
porque conforme as almas se dispõem, se arrependem, dando ela mesma as disposições para o
arrependimento, vai a seu Jesus, o fruto de seu seio, e tudo o dá a cada um como confirmação de
seu grande milagre que Deus quis que fizesse esta Celestial Criatura. Os milagres que o próprio
Deus quer que façam sem mistura de vontade humana, são milagres duradouros, porque partem
da fonte divina que jamais se esgota, e basta querê-los para recebê-los.

(11) Agora suas condições se dão a mão com a inigualável Rainha do Céu, devendo você formar o
reino do Fiat Supremo não deves querer senão o que quer e faz minha Divina Vontade, nem tua
vontade deve ter vida, mesmo que te pareça de fazer um bem às criaturas e assim como minha
Mamãe não quis fazer outros milagres senão aquele de dar seu Jesus às criaturas, assim você, o
milagre que quer minha Vontade Divina que você faça é dar minha Vontade às criaturas, de fazê-la
conhecer para fazê-la reinar; com este milagre farás mais que tudo, porás a salvo a salvação, a
santidade, a nobreza das criaturas e desterrarás também os males corporais delas, causados
porque não reina a minha Vontade Divina, não só isto, mas porás a salvo uma Vontade Divina
entre as criaturas e lhe restituirás toda a glória, a honra que a ingratidão humana lhe tirou. Por isso
não permiti que lhe fizesse o milagre de curá-lo, mas lhe fez o grande milagre de fazê-lo conhecer
minha Vontade, e partiu da terra com a posse dela e agora goza no oceano da luz da Divina
Vontade, e isto é mais que tudo".

23-1
Setembro 17, 1927
As penas são como o ferro forjado pelo martelo, que lança faíscas. Diferença entre a cruz da
Humanidade de Nosso Senhor e a da Divina Vontade. O ato incessante do Querer Divino.

(1) Meu Jesus, vida de meu pobre coração, vem sustentar minha debilidade, sou uma pequena
menina ainda e sinto a necessidade extrema de que me tenha entre seus braços, que guie minha
mão enquanto escrevo, que coloque as palavras em minha boca, que me dê seus pensamentos, a
tua luz, o teu amor e o teu Querer, e se não o fizeres, eu ficarei como uma criança caprichosa sem
fazer nada. E se Tu amas tanto fazer conhecer teu Santíssimo Querer, o primeiro a sacrificar-se
serás Tu, eu entrarei em ordem secundária, por isso meu Amor transforma-me em Ti, tira-me a
estupidez, porque sinto que não posso mais, e eu seguirei cumprindo teu eterno Querer ainda a
custo de minha vida.
(2) Depois, seguindo meu abandono na Divina Vontade, sentia-me sob o jugo das penas, e meu
amado Jesus me estreitando a Si para dar-me a força me disse:

(3) "Minha filha, as penas são como o ferro forjado pelo martelo, que o faz cintilar de luz e inflamar-
se tanto, de trocar-se em fogo, e sob os golpes que recebe perde a dureza, amolece-se, de modo

que se pode dar-lhe a forma que se quer. Assim é a alma, sob os golpes da dor perde a dureza,
cintila luz, transforma-se em meu amor e se torna fogo, e Eu, artífice divino, encontrando-a
moldável dou-lhe a forma que quero. Oh! como tenho prazer em fazê-la bela, sou artífice ciumento
e quero a glória porque nenhum pode e sabe fazer minhas estátuas, meus vasos, tanto na forma
como na beleza e muito menos na finura, e na luz que cintila as converte todas em verdade. Por
isso, cada golpe que lhe dou preparo-lhe uma verdade para manifestar, porque cada golpe é uma
faísca que a alma põe fora de si, e Eu não as perco como as perde o artífice ao golpear o ferro,
senão que me sirvo delas para investi-las de luz, de verdades surpreendentes, de maneira que à
alma lhe servem como a mais bela vestimenta e lhe proporcionam o bom alimento da Vida Divina".

(4) Depois disto seguia o meu doce Jesus, mas estava tão aflito e sofredor que dava piedade, e eu
lhe disse: "Diz-me, meu amor, o que tens? Por que sofres tanto?" E Jesus acrescentou:

(5) "Minha filha, sofro pela grande dor da minha Vontade. Minha humanidade sofreu, teve sua cruz,
mas sua vida foi breve sobre a terra, em troca a Vida de minha Vontade foi muito prolongada no
meio das criaturas, são já seis mil anos e durará ainda mais, e você sabe quem é a cruz contínua
dela? A vontade humana, e cada ato dela oposto à Sua, e cada ato da minha que não recebe, é
uma cruz que forma o meu Eterno Querer, portanto as cruzes Dele são inumeráveis. Se
observardes toda a Criação, ireis encontrá-la cheia de cruzes formadas pelo querer humano. Olhe
o sol, meu Divino Querer leva sua luz às criaturas, e elas tomam sua luz e não reconhecem a quem
lhes leva esta luz, e meu Querer recebe no sol tantas cruzes por quantas criaturas não o
reconhecem, e enquanto gozam esta luz servem-se da mesma luz para ofender aquele Querer
Divino que as ilumina, oh! como é duro e doloroso fazer o bem e não ser reconhecido. O vento está
cheio de cruzes, cada rajada é um bem, que leva as criaturas, estas tomam e gozam aquele bem
mas não reconhecem Aquele que no vento as acaricia, as refresca, lhes purifica o ar e por isso se
sente cravar cravos de ingratidão, e cruzes a cada vento que sopra. A água, o mar, a terra, estão
cheios de cruzes formadas pelo querer humano, quem não se serve da água, do mar e da terra?
Todos, porém meu Querer que conserva tudo e é vida primária de todas as coisas criadas não é
reconhecido, e só está nelas para receber as cruzes da ingratidão humana, por isso as cruzes de
meu Querer são sem número e mais dolorosas que aquela de minha Humanidade; muito mais que
a esta não faltam as almas boas que compreenderam sua dor, seus tormentos, as penas que me
fizeram sofrer e também a morte, e me compadeceram e repararam pelo que Eu sofri em minha
vida mortal, em troca aquelas de meu Fiat Divino são cruzes que não se conhecem e portanto
estão sem compaixão e sem reparação, e por isso é tanta a dor que sente meu Querer Divino em
toda a Criação, que faz estourar ora à terra, ora ao mar, ora ao vento em dor, e em sua dor
descarrega flagelos de destruição; é a extrema dor dele, que não podendo mais golpeia aqueles
que não o reconhecem. Eis por que te chamo frequentemente a girar em toda a Criação, é para te
fazer conhecer o que meu Querer faz nela, a dor e as cruzes que recebe das criaturas a fim de que
você o reconheça em cada coisa criada, o ame, os adores, o agradeça, e seja a primeira
reparadora e consoladora de um Querer tão Santo, porque só quem vive em minha Vontade pode
penetrar em seus atos e reconhecer suas dores, e com sua mesma potência tornar-se defensora e
consoladora de minha Vontade, que há tantos séculos vive isolada e crucificada no meio da família
humana".
(6) Então, enquanto Jesus dizia isto, eu olhava a Criação e a via toda cheia de cruzes, tantas que
não se podiam contar, e o Querer Divino conforme emitia seus atos fora de Si para dá-los às
criaturas, o querer humano punha fora sua cruz para crucificar aqueles atos divinos. Que dor, que
pena! E meu amado Jesus acrescentou:

(7) "Minha filha, meu eterno Fiat teve um ato incessante para com as criaturas desde que criou
toda a Criação, mas estes seus atos, porque faltava neles minha Vontade reinante, não foram
recebidos por elas e por isso ficaram suspensos em toda a Criação em meu próprio Querer Divino.
Agora, ao vir Eu sobre a terra meu primeiro interesse foi o de retomar em Mim o ato incessante
Dele, que havia ficado suspenso em Si mesmo porque não havia podido tomar seu lugar na
criatura, e minha humanidade unida ao Verbo, primeiro devia dar lugar a este seu ato incessante,
lhe dar a satisfação, e esta foi minha Paixão desconhecida, a mais prolongada e dolorosa, e depois
me ocupei da Redenção. O primeiro ato na criatura é a vontade, todos os demais atos, sejam maus
ou bons entram na ordem secundária, e por isso Eu devia primeiro ter interesse de pôr a salvo, em
Mim, todos os atos de minha Divina Vontade, descer no baixo dos atos humanos para reunir juntas
a uma e a Outra, a fim de que vendo postos a salvo seus atos, pudesse satisfazê-la com as
criaturas. Agora, hoje te convido a retomar em ti estes atos rejeitados pelas criaturas, porque meu
Querer continua com seu ato incessante e fica com a dor de vê-lo suspenso em Si mesmo, porque
não encontra quem os receba, nem quem os queira, nem quem os conheça, por isso seja atenta
em trabalhar e sofrer junto Comigo para o triunfo do reino de minha Divina Vontade".

24-1
Março 19, 1928
Relutância em escrever sobre a pequenez. Retorno dos escritos. A Vontade Divina vive
como sufocada no meio das criaturas porque não é conhecida. Grave responsabilidade
sobre aqueles que deveriam fazê-la conhecer, estes se tornam ladrões. Preparação de grandes eventos.

(1) Meu coração e minha vida, Jesus, eis-me de novo no grande sacrifício de começar a escrever
outro volume, o coração sangra pelo esforço que faço, especialmente pelas condições em que se
encontra a minha pequena e pobre alma. Meu amor, se Tu não me ajudares, se não me abraçares
em Ti, se não fizeres uso de teu poder e de teu amor sobre de mim, não posso seguir adiante e
serei incapaz de escrever uma só palavra, por isso te rogo que triunfe em mim teu Fiat; e se queres
que continue a escrever não me abandones a mim mesma, continua o teu ofício de mestre ditando
os teus ensinamentos à minha pequena alma, mas se não queres que eu escreva mais, beijo e
adoro o teu Querer Divino e agradeço-te, e te rogo que tire proveito de tantas lições que me deste,
que as medite sempre e que modele minha vida segundo teus ensinos. Mãe Celestial, Soberana
Rainha, estende sobre mim teu manto azul para proteger-me, guia minha mão enquanto escrevo a
fim de que possa cumprir a Divina Vontade.

(2) Agora, tendo terminado de escrever o vigésimo terceiro volume, e só Jesus sabe com quanto
trabalho e sacrifício, lamentava-me com Ele porque tinha diminuído seus ensinamentos e me tinha
feito fatigar demais para escrever tão somente poucas palavras, e pensava entre mim: "Eu não
tenho nada para escrever, porque se Jesus não fala, eu não tenho nada a dizer, e parece que
Jesus não tem nada mais a me dizer, é verdade que a história de seu Fiat não tem limites, não
termina jamais, mesmo no Céu terá sempre o que dizer sobre seu eterno Querer, e sendo eterno
encerra o infinito, e o infinito tem coisas e conhecimentos infinitos que dizer, de maneira que não
termina jamais, parece ao sol que, enquanto dá luz, tem sempre luz para dar, sua luz não se
esgota jamais, Mas não poderá ser por minha causa que ele ponha um limite à sua fala e faça uma
pausa na narração da grande história da sua Vontade eterna?" Agora, enquanto pensava nisto, o
meu doce Jesus mexeu-se dentro de mim em ato de sair e disse-me:

(3) "Minha filha, como és pequena! E se nota que quanto mais você está Nela, mais pequena você
fica, e como pequena quer medir com sua pequenez nossa grandeza, quer medir com seus limites
no dizer nosso eterno dizer, e como uma menina que você é, você fica feliz porque seu Jesus não
tem mais nada a dizer, você gostaria de descansar e voltar para nossos primeiros entretenimentos,
já que você não tem mais nada para fazer. Pobre pequena, mas você não sabe que somente são
breves pausas que seu celestial Jesus permite para seus fins, que não te manifesto, e quando
menos pensar retomará seu falar tão importante sobre a longa história de meu eterno Querer".

(4) Depois de tanto trabalho e luta, finalmente me chegaram de Messina os escritos sobre a Divina
Vontade, e eu sentia uma alegria em mim porque finalmente os tinha de novo junto a mim e
agradecia de coração a meu doce Jesus. Mas Jesus movendo-se em meu interior, fazendo-se ver
com um ar de tristeza me disse:

(5) "Minha filha, tu estás contente e eu estou aflito, se tu soubesses que peso enorme gravitava
sobre aqueles de Messina, pois enquanto tinham interesse de tê-los, tinham para dormir, eles eram
réus de uma Vontade Divina, e vendo a inatividade com que os tinham permitido que os
devolvessem. Agora este peso gravita sobre aqueles que com tanto interesse os fizeram vir, se não
se ocupam, também eles serão réus de uma Vontade Divina, e se soubesses o que significa ser
réu de uma Vontade tão Santa, significa tê-la dificultada, enquanto Ela anseia, suspira que sejam
removidos os impedimentos, e estes se tirarão ao fazê-la conhecer. Ela está cheia de Vida, move-
se por toda parte, envolve tudo, e esta Vida vive como sufocada no meio das criaturas porque não
é conhecida, e Ela geme porque quer a liberdade de sua Vida e está obrigada a ter em Si mesma
os raios de sua luz interminável, porque não é conhecida. Agora, quem é o culpado de tantas
penas da minha Vontade Divina? Quem deve interessar-se em fazê-la conhecer e não o faz. Será
que talvez minha finalidade tenha sido dar tantas notícias sobre meu Fiat, sem o fruto desejado de
fazê-la conhecer?

Não, não, quero a vida do que disse, quero fazer resplandecer o novo sol, quero
o fruto de tantos conhecimentos que manifestei, quero que o meu trabalho receba o suspirado
efeito. Com efeito, quanto não trabalhei para te dispor a receber conhecimentos tão importantes
sobre a minha Vontade? E tu mesma, quantos sacrifícios não fizeste e quantos agradecimentos
não te dei para os fazeres? Meu trabalho tem sido longo, e quando te via sacrificada, olhava ao
grande bem que teriam feito meus conhecimentos sobre o Fiat no meio das criaturas, a nova era
que devia despontar em virtude deles, e meu terno coração enquanto sofria em te sacrificar, Tinha
um imenso prazer em ver o bem, a paz, a ordem, a felicidade, que em virtude disso deviam receber
os meus outros filhos.

Quando Eu faço grandes coisas a uma alma, manifesto verdades
importantes e as renovações que quero fazer no meio da família humana, não é só para a criatura
que o manifesto, mas sim porque quero encerrar a todos naquele bem, quero que minhas verdades
resplandeçam sobre cada um, a fim de que, quem quiser, tome a luz delas. Não fiz isto com minha
Mãe Celestial? Se Ela quisesse manter escondida a encarnação do Verbo, que bem traria a minha
vinda à terra? Nenhum, teria partido ao Céu sem dar a ninguém minha Vida, e a Soberana Rainha,
se me tivesse escondido, teria sido ré e ladra de todo o bem e de tantas Vidas Divinas que deviam
receber as criaturas. Assim se farão réus e ladrões de todo o bem que levarão os conhecimentos
sobre meu Fiat Divino, porque Ele levará tantas vidas de luz, de graça, e os bens imensos que
contém uma Vontade Divina. Por isso, grave peso gravita sobre aqueles que deveriam ocupar-se
se é que continuam a deixar inoperantes os sóis tão benéficos de tantas verdades sobre meu
eterno Querer, e se você, por primeira vez, gostaria de se opor a fazer conhecer o que concerne a
minha Vontade, a primeira ladra de tantos sóis e de tantos bens que devem receber as criaturas
por meio destes conhecimentos, serias tu".

(6) Depois, com um acento mais terno acrescentou:
(7) "Minha filha, o mundo está como queimado, não há quem despeje sobre ele aquela água pura
que lhes tire a sede, e se bebem é a água turva de sua vontade que os queima demais. Os
mesmos bons, os filhos de minha Igreja que buscam fazer o bem, depois de ter feito o bem não
sentem a felicidade do bem, mas sim o peso do bem que lhes leva a tristeza e o cansaço, sabes
porquê? Porque falta no mesmo bem a Vida do meu Fiat, que contém a força divina que tira
qualquer cansaço, falta a luz e o calor da minha Vontade que têm virtude de esvaziar qualquer
peso e de adoçar todas as amarguras, falta o orvalho benéfico de meu Fiat que embeleza as ações
das criaturas e as faz aparecer tão belas que lhe levam a vida da felicidade, falta a água de meu
Querer que sempre surge e que enquanto fecunda em modo divino, dá vida e apaga a sede, e por
isso, bebem e se queimam demais.

Veja então como é necessário que seus conhecimentos sejam
conhecidos e se abram caminho no meio das criaturas, para levar a cada uma a Vida de minha
Vontade, com a fonte dos bens que Ela contém. Todos sentem, mesmo aqueles que se dizem os
mais bons, que lhes falta uma coisa necessária, sentem suas obras não completas, e todos
suspiram outro bem, mas eles mesmos não sabem o que seja. É a plenitude e totalidade de meu
Fiat Divino que falta em seus atos, e por isso suas obras estão como a metade, porque só com
meu Querer, e nele, se podem fazer obras completas. Por isso Ele suspira ser conhecido para levar
sua Vida e o cumprimento às obras de suas criaturas, muito mais, que grandes acontecimentos
estou preparando, dolorosos e prósperos, castigos e graças, guerras imprevistas e inesperadas,
tudo para dispor a receber o bem dos conhecimentos do meu Fiat; mas se a estes conhecimentos
os deixarem dormir sem os pôr no meio das criaturas, deixarão sem fruto os acontecimentos que
estou preparando; que contas me darão? Enquanto que com este conhecimento estou preparando
a renovação e a restauração da família humana. Portanto, por sua parte não coloque nenhum
obstáculo e continue rogando que logo venha o reino de minha Divina Vontade".

25-1
Outubro 7, 1928

Abertura da casa da Divina Vontade em Corato; entrada de Luisa nela. Semelhança do
nascimento de Jesus em Belém. A lâmpada Eucarística e a lâmpada viva de quem faz a
Divina Vontade. A prisioneira perto do Divino Prisioneiro. Agradecimento de Jesus por tal companhia.

(1) Meu Jesus, vida de meu pobre coração, Você que sabe em que amargura me encontro, vem
em minha ajuda, envolve em suas chamas a pequena recém nascida de seu Querer Divino, a fim
de que me dê a força para poder começar outro volume e seu Fiat Divino eclipse minha mísera
vontade, a fim de que não tenha mais vida e a substitua tua Vontade Divina, e Ela mesma escreva
com os caráteres de sua luz o que Tu, meu amor, queres que escreva. E para não me equivocar,
sugere-me Tu as palavras, e só que Tu aceitas comprometer-te a me ser-me palavra, pensamento,
batimento, e a dirigir minha mão com a tua, posso fazer o sacrifício de voltar a escrever o que Tu
queres. Meu Jesus, estou aqui perto do tabernáculo de amor, daquela porta adorada que eu tenho
a grande honra de olhar, sinto as tuas fibras divinas, o teu coração pulsando, que em cada
batimento faz sair chamas, raios de luz interminável, e naquelas chamas ouço os teus gemidos, os
teus suspiros, as tuas súplicas incessantes e os teus repetidos soluços porque queres fazer
conhecer a tua Vontade para dar a sua Vida a todos, e eu me sinto consumindo junto Contigo e
repetindo o que Você faz. Por isso, peço-te que, enquanto olhas para mim de dentro do
tabernáculo, e eu olho para ti de dentro do meu leito, reforces a minha fraqueza para que eu possa
fazer o sacrifício de continuar a escrever.

(2) Agora, antes de dizer o que me disse Jesus, devo fazer um pequeno parênteses, que aqui em
Corato foi fundada uma casa querida e iniciada pelo padre cônego Annibale Maria di Francia, de
venerável memória, a qual, seus filhos, fiéis à vontade do seu fundador, seguiram e deram o nome
de casa da Divina Vontade, como o queria o venerável padre, que queria que eu entrasse nessa
casa, e seus filhos e filhas por sua bondade, o primeiro dia que a abriram, as reverendas madres
vieram por mim e me conduziram a um quarto, onde abrindo a porta desse quarto eu vejo o
tabernáculo, escuto a santa missa, estou propriamente sob o olhar de meu Sacramentado Jesus.
Oh! como me sinto feliz, porque de agora em diante, se Jesus quer que continue escrevendo,
escreverei sempre pondo um olho no tabernáculo e o outro no papel onde escrevo. Por isso, peço-
te, meu amor, ajuda-me e dá-me a força para cumprir o sacrifício que tu queres.

(3) Agora, devendo-se abrir esta casa, viam-se pessoas, religiosas, meninas, um ir e vir de
pessoas, todos em movimento. Eu me sentia toda impressionada, e meu doce Jesus movendo-se
em meu interior me disse:
(4) "Minha filha, este núcleo de pessoas que tu vês tudo em movimento pela abertura da casa da
minha Divina Vontade, é símbolo daquele núcleo de pessoas quando quis nascer em Belém, e os
pastores iam e vinham visitar-me, pequeno menino, isto apontava a todos a certeza de meu
nascimento; assim este núcleo de gente todo em movimento, indica o novo nascimento do reino de
minha Divina Vontade. Veja como todo o Céu faz eco ao meu nascimento, o qual, os anjos
festejando, me anunciaram aos pastores e pondo-os em movimento os faziam ir e vir a Mim, e Eu
reconheci neles as primícias do reino da Redenção, assim reconheço neste núcleo de pessoas, de
meninas e religiosas, o início do reino da minha Divina Vontade. Oh, como exulta meu coração e
goza, e todo o Céu faz festa, assim como os anjos festejaram meu nascimento, assim eles festejam
o início do renascimento de meu Fiat em meio às criaturas. Mas veja como meu nascimento foi
mais descuidado, mais pobre, não tive sequer um sacerdote perto de mim, mas apenas pobres
pastores. Em vez disso, no início do meu Querer não há apenas um núcleo de religiosas e meninas
estrangeiras, um povo que vem para festejar a abertura, mas há um Arcebispo e sacerdotes
representantes da minha Igreja, isto é símbolo e anúncio a todos, que o reino do meu Querer
Divino será formado com mais magnificência, com pompas e esplendor maior que o próprio reino
da Redenção, e todos, reis e príncipes, bispos, sacerdotes e povos, conhecerão o reino do meu
Fiat e o possuirão, por isso também tu festeja este dia no qual, meus, e seus suspiros e sacrifícios
por fazer conhecer minha Divina Vontade veem os primeiros alvores e esperam que logo surja o
Sol do meu Fiat Divino".
(5) Logo, tendo chegado a noite deste dia consagrado à Rainha do Rosário, Rainha das vitórias e
dos triunfos, pensava que este era outro belo sinal, que assim como a Soberana Senhora venceu o
seu Criador, e, tecendo-o com as suas cadeias de amor, atraiu-o do Céu à terra, para o fazer
formar o reino da Redenção, assim a coroa doce e potente de seu Rosário a fará de novo vitoriosa
e triunfadora para a Divindade, tanto, de conquistar o reino do Fiat Divino para fazê-lo vir em meio
às criaturas.
(6) Eu não pensava de fato que aquela mesma noite deveria ir à casa da Divina Vontade junto a
meu prisioneiro Jesus, só lhe rogava que não me fizesse saber quando aconteceria para não
profanar com minha vontade humana este ato, que nada pusesse de meu, mas em tudo o Divino
Querer. Eram 8 horas da noite, e fora do habitual veio o confessor, a quem as reverendas madres
superioras haviam rogado, se impusesse sobre mim, por obediência, para que eu cedesse a
consentir com elas. Resisti tanto quanto pude, porque pensava que se o Senhor quisesse que
fosse no mês de abril, estação mais quente, então eu pensaria. Mas o confessor insistiu tanto, que
eu cedi. Por volta das nove e meia da noite fui levada a esta casa, perto do meu prisioneiro Jesus.
Esta é a pequena história do porquê me encontro nesta casa da Divina Vontade. (7) Agora retomo
minha narração: Na noite fiquei sozinha com meu Sacramentado Jesus, meus olhos estavam fixos
na porta do tabernáculo, a lâmpada com seu tremor contínuo me parecia que hora se quisesse
apagar, mas depois se reavivava, e eu sentia um sobressalto no coração temendo que Jesus
pudesse ficar às escuras. E o meu sempre amável Jesus, movendo-se dentro de mim, abraçou-me
e disse-me:
(8) "Minha filha, não temas, que a lâmpada não se apaga, e se se apagar tenho-te a ti, lâmpada
viva, lâmpada que com o teu tremor, mais que tremor da lâmpada eucarística me diz ‘te amo, te
amo, te amo.' Oh, como é belo o tremor de teu te amo, me diz amor, e unindo-se com minha
Vontade, de duas vontades formamos uma só! Oh, como é bela a tua lâmpada e o tremor do teu
amo, não se pode comparar com a lâmpada que arde diante do meu tabernáculo de amor. Muito
mais que estando em você minha Divina Vontade, forma o tremor de seu te amo no centro do Sol
de meu Fiat, e Eu vejo e sinto que não uma lâmpada, mas um sol está diante de mim. Seja bem-
vinda minha prisioneira, veio fazer companhia a seu Prisioneiro, os dois estamos na prisão, você
na cama e eu no tabernáculo, é justo que estejamos juntos, muito mais que uma é a finalidade que
nos tem na prisão, a Vontade Divina, o amor e as almas.

Como me será agradável a companhia de
minha prisioneira, estaremos juntos para preparar o reino de meu Fiat Supremo. Mas deves saber,
minha filha, que o meu Amor te precedeu, eu me coloquei primeiro nesta custódia, prisioneiro, para
esperar a minha prisioneira e a tua doce companhia. Vê então como meu Amor foi o primeiro a
correr para ti, como te amei e te amo, porque depois de tantos séculos de prisão neste tabernáculo
não tive jamais uma prisioneira que me fizesse companhia, que estivesse perto, perto, estive
sempre sozinho, ou na maior parte na companhia de almas não prisioneiras, nas quais não vejo as
minhas próprias correntes; agora finalmente chegou o tempo de ter uma prisioneira, para tê-la
continuamente próxima, sob meus olhares sacramentais, e que só as cadeias de minha Vontade
Divina a têm prisioneira. Companhia mais doce e mais agradável não podia ter, portanto, enquanto
estivermos na prisão nos ocuparemos do reino do Fiat Divino e trabalharemos juntos e nos
sacrificaremos para fazê-lo conhecer as criaturas".

Fiat!!! Sempre e eternamente em Vontade de Deus! Deo Gratias.

26-1
Abril 7, 1929

Beijos ao sol, saída ao jardim, competição entre vento e sol. Festa de toda a Criação.
Nota discordante e nota de acordo. A nova Eva.

(1) Minha pobre mente está sempre de volta no centro do Querer Divino, sinto que não posso fazer
menos que navegar em seu mar interminável e me submergir sempre mais nele, para não ver,
sentir e tocar outra coisa que a Vontade Divina. Oh Vontade adorável! Eleve suas ondas altíssimas
para as regiões celestiais e transporte a pequena exilada, sua recém-nascida, de sua Vontade na
terra até sua Vontade no Céu. Ah! Tenha piedade de minha pequenez e cumpra sobre mim seu
último ato na terra, para começar seu ato contínuo no Céu.
(2) Agora, escrevo só por obediência e com grande repugnância. Depois de quarenta anos e mais
que não tinha saído ao exterior, hoje quiseram me levar ao jardim sobre uma cadeira de rodas;
assim que saí, descobri que o sol me investia com seus raios, como se quisesse me dar sua
primeira saudação e seu beijo de luz. Eu quis corresponder-lhe dando-lhe meu beijo, e pedi às
meninas e às religiosas que me acompanhavam que todas dessem seu beijo ao sol, beijando nele
aquela Divina Vontade que, como Rainha, estava velada de luz, e todas o beijaram. Agora, quem
pode dizer minha emoção depois de tantos anos, ao encontrar-me de frente àquele sol do qual
meu amável Jesus se tinha servido para me dar tantas semelhanças e imagens de sua adorável
Vontade? Sentia-me investida não só por sua luz, mas também por seu calor, e o vento querendo
fazer concorrência com o sol me beijava com uma leve brisa para refrescar os beijos ardentes que
me dava o sol; então eu senti que eles nunca terminavam de me beijar, o sol de um lado e o vento
do outro. Oh, como sentia ao vivo o toque, a vida, o respiro, o ar, o amor do Fiat Divino no sol e no
vento! Tocava com a mão que as coisas criadas são véus que escondem aquele Querer que as
criou. Agora, enquanto me encontrava sob o império do sol, do vento, da vastidão do céu azul, meu
doce Jesus se moveu em modo sensível em meu interior, como se não quisesse ser menos que o
sol, que o vento, que o céu e me disse:

(3) "Amada filha do meu Querer, hoje todos fazem festa pela tua saída, toda a corte celestial sentiu
o brilho do sol, a alegria do vento, o sorriso do céu e todos correram para ver o que havia de novo,
e ao ver-te a ti investida pela luz do sol que te beijava, ao vento que te acariciava, ao céu que te
sorria, todos compreenderam que a potência do meu Fiat Divino movia os elementos a festejar a
sua pequena recém-nascida. Por isso, toda a corte Celestial unindo-se com toda a Criação, não só
fazem festa, mas sim sentem as novas alegrias e felicidades que por tua saída lhes dá minha
Divina Vontade. E Eu, sendo espectador de tudo isto, não só faço festa dentro de ti, mas também
não me sinto arrependido por haver criado o céu, o sol e toda a Criação, mas bem me sinto mais
feliz, porque dela goza minha pequena filha, repetem-se em mim as alegrias, os contentos, a glória
quando tudo foi criado, quando Adão inocente não havia feito ressoar a nota da dor de sua vontade
rebelde em toda a Criação, que rompeu o brilho, a felicidade, o doce sorriso que para dar às
criaturas tinha minha Divina Vontade no sol, no vento, no céu estrelado, porque, minha filha, o
homem ao não fazer minha Divina Vontade, pôs em nossa obra da Criação sua nota discordante,
por isso perdeu o acordo com todas as coisas criadas e Nós sentimos a dor e a desonra que em
nossa obra haja uma corda desafinada, que não emite um belo som, e este som desafinado afasta
da terra os beijos, as alegrias, os sorrisos que contém minha Divina Vontade na Criação, por isso
quem faz minha Vontade e vive nela é a nota de acordo com todos, seu som contém não uma nota
de dor, mas de alegria e de felicidade, e é tão harmoniosa que todos advertem, mesmo os mesmos
elementos, que é a nota da minha Vontade na criatura, e pondo tudo a um lado querem gozar
aquela que tem essa Vontade da qual todos estão animados e são conservados".
(4) Jesus fez silêncio e eu lhe disse: "Meu amor, Tu me disseste tantas vezes que quem vive em
tua Divina Vontade é irmã de todas as coisas criadas; quero ver se minha irmã luz me reconhece, e
sabes como? Se olhar para ela não me deslumbra a vista".
(5) E Jesus: "Certamente que te reconhecerá, prova e verás".
(6) Eu olhei fixamente no centro da esfera do sol, e a luz parecia que acariciava minha pupila mas
sem me deslumbrar, de modo que pude olhar em seu centro seu grande mar de luz; como era
suave e belo, como é verdade que simboliza o infinito, o interminável mar de luz do Fiat Divino. Eu

disse: "Obrigado, ó Jesus, que me fizeste reconhecer pela minha irmã luz". E Jesus voltou a falar-
me:

(7) "Minha filha, até no respiro é reconhecida por toda a Criação que vive no meu Querer, porque
cada coisa criada sente naquela criatura o poder do Fiat e a supremacia que Deus lhe deu sobre
toda a Criação. Olha e escuta minha filha, no princípio, quando Adão e Eva foram criados, foi-lhes
dado o Éden por habitação, no qual eram felizes e santos; este jardim é semelhança daquele Éden,
embora não seja tão florido e belo. Agora, deves saber que permiti que viesses a esta casa que
está circundada por jardins, para ser a nova Eva, não a Eva tentadora que mereceu ser posta fora
do Éden feliz, mas a Eva reformadora e que restabelece, que chamará de novo o reino de minha
Divina Vontade sobre a terra. Ah, sim, você será o germe, o cimento à mariposa que tem o querer
humano, você será o princípio da era feliz, por isso concentro em você a alegria, os bens, a
felicidade do princípio da Criação, e amo repetir as conversas, as lições, os ensinamentos que teria
dado se o homem não tivesse se subtraído de nossa Divina Vontade. Por isso seja atenta, e seu
voo nela seja contínuo".

27-1
Setembro 23, 1929

Quem vive na Divina Vontade, em sua pequenez encerra o Tudo, e dá Deus a Deus. 
Os prodígios divinos.

(1) A Divina Vontade me absorve em tudo, e por quanto sinto repugnância em escrever, o Fiat
Onipotente, com seu império se impõe sobre mim, pequena criatura, e com sua autoridade divina
me vence, derruba minha vontade e pondo-a como banco a seus pés divinos, com seu império
doce e forte me induz a escrever um novo volume, enquanto eu acreditava que devia fazer uma
pausa. Oh! Vontade adorável, imperante e santa, queres o sacrifício, e eu não me sinto com forças
de resistir e lutar contra Ti, ou melhor, adoro tuas disposições, e me perdendo em teu Santo Querer
te peço que me ajude, fortifique minha fraqueza e não permita que eu escreva senão o que quer, e
como quer Tu; ah, que eu seja sua repetidora e não ponha nada meu! E Vós, Meu Amor
Sacramentado, desde essa custódia santa da qual me vês, e na qual eu te vejo a Ti, enquanto
escrevo não me negues tua ajuda, mas bem, vem junto comigo a escrever, só assim sentirei a
força para começar.
(2) Estava fazendo meu habitual giro na Criação para seguir todos os atos que o Supremo Querer
tinha feito em todas as coisas criadas, e meu doce Jesus saindo de meu interior me disse:

(3) "Minha filha, quando a criatura percorre as obras de seu Criador, significa que quer reconhecer,
apreciar, amar, o que Deus tem feito por amor seu, e não tendo o que dar como correspondência,
enquanto percorre suas obras toma toda a Criação como em seu próprio punho, e a dá novamente
a Deus, íntegra e bela para sua glória e honra dizendo: ‘Te reconheço, te glorifico por meio de tuas
mesmas obras, pois só elas são dignas de Ti'. Agora, é tal e tanta nossa complacência ao nos
vermos reconhecidos pela criatura em nossas obras, que nos sentimos como se a Criação se
repetisse de novo para nos dar dupla glória, e esta dupla glória nos é dada porque a criatura
reconhece nossas obras feitas por amor dela, e dadas a ela como nosso dom para que nos ame. A
criatura com o reconhecimento de nosso dom encerra no céu de sua alma o Tudo, e Nós vemos na
pequenez dela o nosso Ser Divino com todas as nossas obras; muito mais, porque estando nosso
Fiat Divino na pequenez desta criatura, tem capacidade e espaço para fechar o Tudo, e oh!
prodígio, ver encerrado na pequenez humana o Tudo, e que ousadamente dá o Tudo ao Tudo só
para amá-lo e glorificá-lo.

Que o Tudo de nosso Ser Supremo seja o Tudo, não é para maravilhar-
se, porque tal é nossa natureza divina: ‘Ser Tudo'. Mas o Tudo na pequenez humana é a maravilha
das maravilhas, são prodígios de nosso Querer Divino, que onde reina não sabe fazer de nosso
Ser Divino um ser a metade, mas sim todo inteiro. E como a Criação não é outra coisa que um
desabafo de amor do nosso Fiat Criador, onde Ele reina encerra todas as suas obras, e por isso a
pequenez humana pode dizer: ‘Dou Deus a Deus'. Eis por que, quando nos damos à criatura,
queremos tudo, também o seu nada, a fim de que sobre o seu nada seja repetida a nossa palavra
criadora, e formemos nosso Tudo sobre o nada da criatura; se não nos der tudo, sua pequenez,
seu nada, nossa palavra criadora não vem repetida, nem é decoro e honra para Nós repeti-la,
porque quando Nós falamos queremos nos desfazer de tudo o que não nos pertence, e quando
vemos que não se dá toda, não a fazemos coisa nossa, e ela fica a pequenez e o nada que é, e
Nós ficamos com nosso Tudo que somos".

(4) Depois disto continuava meu abandono no Supremo Fiat, mas me sentia triste por certas coisas
que não é necessário escrevê-las, e meu sempre amável Jesus, movendo-se a compaixão me
estreitou entre seus braços, e todo amor me disse:

(5) "Oh! Como me é querida a filha do meu Querer. Tu deves saber que a tristeza não entra na
minha Divina Vontade. Ela é alegria perene que retorna pacífica e feliz sua morada onde reina, por
isso esta tristeza, se bem sei que é por minha causa, é coisa velha de sua vontade humana, e as
coisas velhas não as recebe em sua alma minha Vontade Divina, porque tem tantas das novas,
que não alcança o espaço de sua alma para colocá-las todas, por isso fora sua tristeza, fora.

Oh! Se soubesses quantas singulares belezas forma na alma minha Divina Vontade; onde Ela reina
forma seu céu, seu sol, seu mar e o ventinho de seus refrescos e frescuras divinas; Ela, sendo
artífice insuperável, tem em Si mesma a habilidade da arte da Criação, e quando entra na criatura
para formar o seu reino, tem um desejo excessivo de repetir sua arte, e por isso aí estende seu
céu, forma o sol e todas as belezas da Criação, porque onde Ela reina quer suas coisas, e com sua
arte as forma e se faz circundar das obras dignas de meu Fiat, por isso a beleza da alma onde Ela
reina é indescritível. Isso não acontece também na ordem humana? Quando se faz um trabalho, ao
fazê-lo não perde sua arte, a arte permanece dentro da criatura como sua propriedade, e quantas
vezes quer repetir seu trabalho, tem virtude de repeti-lo, e se o trabalho é belo, anseia ter ocasião
de repeti-lo. Tal é minha Vontade Divina, o trabalho da Criação é belo, majestoso, suntuoso, pleno
de ordem e harmonia indescritível, assim que vai buscando ocasião para repeti-lo, e esta ocasião é
dada pelas almas que lhe dão a liberdade de fazê-la dominar e estender seu reino nelas. Por isso,
coragem, afasta de ti o que não pertence ao meu Fiat Divino, a fim de que fique livre em seu
trabalho divino, de outra maneira formarias as nuvens em torno de ti, as quais impediriam que
minha Luz se engrandecesse e resplandecesse com seus resplandecentes raios em tua alma".

28-1
Fevereiro 22, 1930

Quem vive na Divina Vontade fica circundado pela Imutabilidade divina.
Morte do bem; sacrifício da vida para fazê-lo ressurgir.

(1) Estou sempre em poder do Fiat Divino que sabe conquistar doce e fortemente; com sua doçura
me atrai de modo irresistível, com sua força me vence, de modo que pode fazer de mim o que quer.
Oh! Querer Santo, já que Tu me conquistas, faz que com tua mesma força e doçura te vença a Ti,
e cedendo a minhas súplicas contínuas vem a reinar sobre a terra, forma teu doce encanto ao
querer humano, e tudo chegue a ser Vontade Divina sobre a terra.
(2) Enquanto estava pensando sobre o Querer Divino, meu doce Jesus movendo-se em meu
interior e fazendo-se ver me disse:
(3) "Minha filha, se você soubesse o que significa dar-se em poder da minha Divina Vontade. A
alma fica circundada pela nossa imutabilidade, e tudo se torna para ela imutável: ‘A santidade, a
luz, a graça, o amor.’ Assim, não sente mais a mudança dos modos humanos, mas a estabilidade
dos modos divinos, por isso quem vive em meu Querer Divino pode-se chamar céu que está
sempre fixo e estável em seu posto de honra com todas as suas estrelas, e se gira, como é todo o
conjunto da Criação que gira, por isso não muda de posto, nem varia, mas sim fica sempre
imutável o céu com todas suas estrelas. Assim é a alma que vive em minha Divina Vontade, poderá
girar, fará várias ações, mas como girará na força motora de meu Fiat Divino e no conjunto de
minha Vontade, será sempre céu, e imutável em seus bens e nas prerrogativas com as quais a
dotou minha Suprema Vontade. Em troca quem vive fora de meu Fiat Divino, sem sua força motriz,
pode ser chamado como aquelas estrelas errantes que se precipitam no espaço, como se não
houvesse um posto fixo para elas, e são obrigadas, como estrelas errantes, a correr como ao
precipício, como se tivessem se extraviado da abóbada do céu. Assim é a alma que não faz nem
vive em minha Divina Vontade, ela se muda a cada ocasião, sente em si tanta variedade de
mudanças, que sente incômodo em repetir um bem contínuo, e se algum resplendor de luz faz sair

de si, é como o cintilar das estrelas errantes, que rapidamente desaparece. Pode-se dizer que o
sinal para conhecer se se vive de Vontade Divina é esta: ‘A imutabilidade no bem'; e mudar-se a
cada pequena incitação, é o sinal se é que se vive do querer humano".

(4) Depois disto seguia os atos do Fiat Divino, girava nas obras da Criação, no Éden, nos lugares e
pessoas mais notáveis da história do mundo para pedir em nome de todos o reino da Divina
Vontade sobre a terra. E o meu doce Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(5) "Minha filha, o homem que se subtraiu da minha Divina Vontade, deu morte aos bens que o
meu Querer Divino teria feito surgir nele se não tivesse sido rejeitado. Assim que ele saiu, naquele
instante morria o ato contínuo da Vida Divina no homem, morria a santidade que sempre cresce, a
luz que sempre surge, a beleza que jamais se detém para sempre embelezar, o amor incansável
que jamais diz basta, que sempre, sempre quer dar, muito mais que rejeitando a minha Divina
Vontade morria a ordem, o ar, o alimento que deveria alimentá-lo continuamente. Veja então
quantos bens divinos o homem fez morrer em si mesmo ao subtrair-se da minha Divina Vontade;
agora, onde esteve a morte do bem, requer-se o sacrifício da vida para fazer ressurgir o bem
destruído. Eis por que, justa e sabiamente, quando quis renovar o mundo e dar um bem às
criaturas, pedi o sacrifício de vida, como pedi o sacrifício a Abraão, que me sacrificasse a seu único
filho, como de fato o fez, mas impedido por Mim se deteve, e naquele sacrifício que custava a
Abraão mais do que a própria vida, ressurgia a nova geração onde devia descer o Divino Libertador
e Redentor, que devia fazer ressurgir o bem morto na criatura. Com o andar do tempo permiti o
sacrifício de Jacó, com a grande dor da morte de seu amado filho José, e se bem não morreu, mas
para ele foi como se na realidade tivesse morrido; era a nova chamada ao celestial Libertador que
ressurgia naquele sacrifício, que chamava a fazer ressurgir o bem perdido. Além disso, Eu mesmo
ao vir à terra quis morrer, mas com o sacrifício da minha morte chamava ao ressurgimento de
tantas vidas e o bem que a criatura tinha feito morrer, e quis ressuscitar para confirmar a vida do
bem e a ressurreição à família humana.

Que grande delito é fazer morrer o bem, tanto, que se
requer o sacrifício de outras vidas para fazê-lo ressurgir. Agora, com toda minha Redenção e com o
sacrifício de minha morte, não reinando minha Divina Vontade, não todo o bem ressurgiu na
criatura, Ela está reprimida e não pode desenvolver a santidade que quer, o bem sofre
intermitências, hora surge, hora morre, e meu Fiat fica com a dor contínua de não poder fazer
surgir todo o bem que quer na criatura. É por isso que fiquei sacramentado na pequena Hóstia,
parti para o céu, mas ao mesmo tempo fiquei na terra, no meio das criaturas, para nascer, viver e
morrer, embora misticamente, para fazer ressurgir todo o bem nelas, que o homem rejeitou ao
subtrair-se da minha Divina Vontade. E ao meu sacrifício quis unido o sacrifício de tua vida, para
fazer ressurgir seu reino no meio das gerações humanas, e de cada Tabernáculo estou como
espiando para fazer obra completa, Redenção e Fiat Voluntas Tua come in Cielo Così in terra,
contentando-me em sacrificar-me e morrer em cada Hóstia para fazer ressurgir o Sol do meu Fiat
Divino, a nova era e seu pleno triunfo. Eu ao partir da terra disse: ‘Vou ao céu e fico sobre a terra
no Sacramento, estarei contente de esperar séculos, sei que me custará muito, ultrajes inéditos
não me faltarão, talvez mais que em minha própria Paixão, mas me armarei de paciência divina, e
desde a pequena Hóstia farei obra cumprida, farei reinar meu Querer nos corações e continuarei
estando no meio deles para me alegrar com os frutos dos tantos sacrifícios que sofri.' Por isso,
junta-te a mim ao sacrifício por uma causa tão santa, e pelo justo triunfo de que minha Vontade
reine e domine".

¡In Voluntate Dei! Deo Gratias.
(Damos Graças a Deus, na Divina Vontade!)

29-1
Fevereiro 13, 1931

Quem vive no Querer Divino vive no centro de sua luz, ao contrário, quem não vive Nele,
vive na circunferência de sua luz. Como Deus encontra seu apoio. A criação é muda, a
criatura é criação falante. O eco de Deus na criatura. Deus com manifestar as verdades sai do repouso e continua seu trabalho.

(1) Minha vida, dulcíssimo Jesus meu, ah! Venha em minha ajuda, não me abandone, com a
potência de seu Santíssimo Querer investe minha pobre alma e tire-me tudo o que me perturba e
me tortura. Ah! Faz surgir em mim o novo sol de paz e de amor, de outra maneira não sinto forças
de continuar a fazer o sacrifício de escrever, treme-me a mão e a pena não corre sobre o papel,
meu amor, se Tu não me ajudas, Se não removeres de mim a tua Justiça que justamente me abate
no estado doloroso em que me encontro, sinto-me impossibilitada de escrever nem sequer uma
palavra. Por isso ajuda-me, e eu me esforçarei por quanto possa obedecer a quem me ordena
escrever tudo o que Tu me tens dito sobre tua Santíssima Vontade, e como são coisas passadas
farei uma pequena resenha de cada coisa que corresponde a tua Divina Vontade.
(2) Então, sentindo-me oprimida e toda cheia de amarguras intensas, meu doce Jesus fazendo-se
ver e me segurando em seus braços me disse:
(3) "Minha filha, coragem, pensa que um Querer Divino reina em ti, que é fonte de felicidade e de
alegria contínua, mas tuas amarguras e opressões formam as nuvens em torno do Sol da minha
Vontade, as quais impedem que seus raios brilhem em todo teu ser, e que querendo fazer-te feliz
se sente rejeitar por tuas amarguras a felicidade que quer dar-te, e apesar de que tens a um Sol
Divino a tua disposição, em virtude de tuas amarguras tu sentes a chuva que te oprime, que enche
até a borda tua alma. Tu deves saber que quem vive em minha Vontade vive no centro da esfera
do Sol Divino, e pode dizer, o Sol é todo meu, em troca quem não vive nela vive na circunferência
da luz que o Sol Divino expande por toda parte, porque o meu Querer não pode com a sua
Imensidão negar-se a ninguém, nem quer negar-se, encontra-se como o sol que está obrigado a
dar luz a todos, ainda que nem todos a quisessem, e por que isto? Somente porque é luz, e a
natureza da luz é dar-se a todos, a quem não a quer e a quem a quer; mas que grande diferença
há entre quem vive no centro do meu Sol Divino, e entre quem vive na sua circunferência, a
primeira possui as propriedades da luz e todos os seus bens que são infinitos, a luz a tem
defendida de todos os males, assim que o pecado não pode ter vida nesta luz, e se surgem
amarguras, são como nuvens que não podem ter vida contínua, basta um pequeno ventinho de
minha Vontade para pôr em fuga as nuvens mais densas, e a alma se encontra submersa no
centro do Sol que possui. Muito mais porque as amarguras de quem vive em meu Querer são
sempre por minha causa, e Eu posso dizer que estou amargurado junto contigo, e se te vejo
chorar, choro junto contigo, porque minha Vontade me faz inseparável de quem vive nela, e sinto
suas penas mais que se fossem minhas.

É mais, minha mesma Vontade que reside na alma chama
a minha humanidade em quem sofre, para fazê-la repetir sua Vida vivente sobre a terra, e oh!
Prodígios divinos que acontecem, as novas correntes que se abrem entre o Céu e a terra pela nova
Vida de penas que Jesus tem em sua criatura. E meu coração, enquanto é humano é divino, possui
as mais doces ternuras, são tais e tantos os atrativos e potentes ternuras de meu coração, que
enquanto vejo sofrer a quem me ama, meu amor terníssimo derrete meu coração e tudo se
derrama sobre as penas e sobre o coração de minha criatura amada. Por isso estou contigo no
sofrer e faço dois ofícios, de ator de penas e espectador, para me gozar os frutos de minhas penas
que nela vou desenvolvendo; por isso para quem vive em minha Divina Vontade sou Sol e centro
de sua vida, assim que somos inseparáveis, Eu sinto sua vida palpitante em Mim, e ela sente
minha Vida palpitante no íntimo de sua alma. Em troca para quem vive na circunferência da luz que
o Sol de minha Divina Vontade expande por toda parte, não é dona da luz, porque se diz
verdadeira dona quando um bem reside em si mesma, e o bem de dentro nenhum pode ser tirado,
nem em vida nem depois de morta, pelo contrário o bem de fora está sujeito a perigo, não tem
poder de tê-lo seguro, e a alma sofre debilidade, inconstância, paixões que a atormentam, e chega
a sentir-se como distante de seu Criador. Por isso sempre em minha Vontade te quero, para fazer-
me continuar minha Vida sobre a terra".

(4) Depois continuava meus pequenos atos de adoração, de amor, de louvor, de bênçãos no Fiat
Divino a meu Criador, e conforme fazia meus atos assim o Querer Divino os estendia por onde e
por onde se encontrava a Divina Vontade, que não há ponto onde não se encontre; e meu sempre
amável Jesus adicionou:
(5) "Filha queridíssima da minha Vontade, tu deves saber que o meu Querer não sabe fazer atos a
meias, mas completos, e com tal plenitude que pode dizer: ‘Onde está a minha Vontade está o meu
ato'. E nossa Divindade, vendo em nossa Vontade Divina estendida a adoração, o amor de sua
criatura, encontra seu apoio em sua Imensidão, em qualquer ponto quer apoiar-se; então sentimos
nossa adoração profunda que a criatura nos colocou em nossa Vontade e nos apoiamos e
repousamos, sentimos que onde quer que nos ama e nos apoiamos em seu amor, e assim de seus
louvores e bênçãos. Assim que a criatura em nossa Vontade se torna nosso apoio e nosso
repouso, não há nada que mais nos agrade que encontrar nosso repouso em nossa criatura,
símbolo do repouso que tomamos depois de ter criado toda a Criação.

(6) Além disso, nossa Divina Vontade está por toda parte, e Céu e Terra, e tudo, estão cheios até o
topo dela, assim que todos são véus que a escondem, mas véus mudos, e se em seu mutismo
eloquentemente falam de seu Criador, não são eles, mas a minha própria Vontade escondida nas
coisas criadas, fala por via de sinais como se não tivesse palavra, fala no sol por via de sinais de
luz e de calor, no vento dando sinais penetrantes e imperantes, no ar dá sinais mudos ao formar-se
respiro de todas as criaturas; oh! Se o sol, o vento, o ar, e todas as outras coisas criadas tivessem
o bem da palavra, quantas coisas diriam de seu Criador. Em vez disso, quem é a obra falante do
Ser Supremo? É a criatura, Nós ao criá-la amamos tanto que lhe demos o grande bem da palavra,
nossa Vontade se quis fazer palavra da criatura, quis sair do mutismo das coisas criadas, e
formando o órgão da voz nela formou a palavra para poder falar, por isso a voz das criaturas é véu
falante no qual minha Vontade fala eloquentemente, sabiamente, e como a criatura não diz nem faz
sempre a mesma coisa, como as coisas criadas que não mudam jamais ação, senão que estão
sempre em seu posto para fazer aquela mesma ação que Deus quer deles, por isso minha Vontade
mantém a atitude contínua da multiplicidade de modos que há na criatura.

Então, pode-se dizer que não só fala na voz, senão que se faz falante nas obras, nos passos, na mente e no coração
das criaturas. Mas qual não é a nossa dor ao ver esta criação falante servir-se do grande bem da
palavra para nos ofender, servir-se do dom para ofender o doador e impedir o grande prodígio que
posso fazer de graças, de amor, de conhecimentos divinos, de santidade que posso fazer na obra
falante da criatura? Mas para quem vive em minha Vontade, são vozes que falam, e oh! Quantas
coisas lhe vou manifestando, estão em movimento e atitude contínua, gozo a plena liberdade de
fazer e dizer coisas surpreendentes e cumpro o prodígio de minha Vontade falante, amante e
obrante na criatura. Por isso me dê plena liberdade e verá o que meu Querer sabe fazer em você".
(7) Depois estava pensando em tudo o que meu doce Jesus me havia dito, e meu amado Bem
repetiu:
(8) "Minha filha, a substância de nosso Ser Divino é uma imensidão de Luz puríssima, que produz
uma imensidão de amor; esta Luz possui todos os bens, todas as alegrias, felicidade interminável,
belezas indescritíveis, esta luz invista tudo, vê tudo, encerra tudo, Para ela não existe nem passado
nem futuro, senão um ato só, sempre em ato, que produz tal multiplicidade de efeitos de encher
Céus e terra. Agora, a imensidão de amor que produz esta nossa luz, nos faz amar a nosso Ser e a
tudo o que sai de nós com tal amor, de nos tornarmos verdadeiros e perfeitos amantes, por isso
não sabemos fazer outra coisa senão amar, dar amor e pedir amor. Para quem vive em nossa
Vontade, nossa luz e nosso amor fazem o eco na criatura e a transforma em luz e amor, e qual não
é nossa felicidade ao formar os tipos e modelos nossos da obra de nossas mãos criadoras? Por
isso, esteja atenta e faça que sua vida não esteja formada de outra coisa que de luz e de amor se
quiser voltar contente a seu querido Jesus".

(9) Então fazia quanto mais podia por me abandonar toda na Divina Vontade, e pensava nas tantas
verdades que o bendito Jesus me tinha manifestado sobre seu Santo Querer; cada verdade
abraçava o infinito e continha tanta luz de encher Céu e terra, e eu sentia a força da luz e o peso
do infinito, que me invadindo toda com um amor indescritível me convidavam a amá-las e a fazê-las
minhas com pô-las em prática. Mas enquanto minha mente se perdia em tanta luz, meu doce Jesus
me disse:

(10) "Minha filha, o nosso trabalho para com a criatura começou com a Criação, e o
nosso trabalho está na palavra, porque contendo ela a nossa força criadora fala e cria, fala e forma
as obras mais belas e maravilhosas. Com efeito, com o trabalho de seis Fiat que pronunciamos foi
formada toda a grande máquina do universo, compreendido o homem que Devia habitá-lo e ser o
rei de todas as nossas obras. Então, depois de ter ordenado tudo, nosso amor nos chamou ao
repouso, mas o repouso não é cumprimento de trabalho, só significa um breve alto para voltar ao
trabalho. Agora, queres saber quando retomamos o nosso trabalho? Cada vez que manifestamos
uma verdade voltamos ao trabalho da criação, assim que tudo o que foi dito no antigo testamento
foram outros tantos reinícios de trabalho; minha vinda sobre a terra não foi outra coisa que retomar
o trabalho por amor das criaturas; minha doutrina, as tantas verdades ditas por minha boca,
apontava claramente para o meu intenso trabalho pelas criaturas.

E assim como na Criação o nosso Ser Divino repousou, assim com a minha morte e ressurreição quis repousar também para
dar tempo a fazer frutificar entre as criaturas os frutos do meu trabalho, mas é sempre repouso, não
cumprimento de trabalho, nosso trabalho até o fim dos séculos será alternado de trabalho e
repouso, de repouso e trabalho. Vê então filha boa que longo trabalho devo fazer contigo ao
manifestar-te tantas verdades sobre minha Divina Vontade, e como a coisa que mais interessa a
nosso Ser Supremo é fazê-la conhecer, por isso não poupei nada para um trabalho tão longo,
embora eu frequentemente tenha tomado os pequenos períodos de repouso para dar-lhe tempo
para receber o meu trabalho e prepará-lo para as outras surpresas do trabalho da minha palavra
criadora. Por isso, tende cuidado em conservar e em não perder nada do trabalho da minha
palavra, que contém um valor infinito que basta para salvar e santificar um mundo inteiro".




30-1
Novembro 4, 1931
A confiança forma os braços e os pés da alma. Deus continua o trabalho da criação na alma
que faz sua Vontade. A Vontade Divina cimento da humana vontade.

(1) Meu Jesus, centro e vida da minha pequena alma, a minha pequenez é tanta, que sinto a
extrema necessidade de que Tu, meu Amor, me mantenhas apertada entre os teus braços e te
movas a piedade da minha grande debilidade. Sou pequena, e Você sabe que as pequenas têm
necessidade de cintas para se afirmar os membros e do leite da mãe para alimentar-se e crescer, e
eu sinto a viva necessidade que Você me faça com as cintas do amor, e me apertando ao teu peito
divino me dê por alimento o leite de tua Divina Vontade para alimentar-me e crescer. Ouve lá, ó
meu! Jesus, sinto a necessidade da tua Vida para viver; quero viver de Ti, e então Tu escreverás,
não eu, e poderás escrever o que quiseres e como queiras. Por isso o trabalho é seu, não meu e
eu só te emprestarei minha mão e Tu farás todo o resto. Assim concordamos, ó Jesus. Então,
abandonando-me nos braços de Jesus ouvia-me sussurrar ao ouvido sua voz dulcíssima que me
dizia:
(2) "Minha pequena filha, quanto mais abandonada estiveres em Mim, tanto mais sentirás minha
Vida em ti, e Eu tomarei o posto de vida primária em tua alma. Deves saber que a verdadeira
confiança em Mim forma os braços da alma, e os pés para subir até Mim e estreitar-me tão forte,
de não poder separar-me dela, portanto quem não tem confiança não tem braços nem pés, assim
que é uma pobre aleijada, por isso sua confiança será sua vitória sobre Mim, e Eu te terei
estreitada em meus braços, colada a meu peito para te dar o leite contínuo de minha Divina
Vontade.
(3) Agora, você deve saber que cada vez que a alma faz minha Vontade, Eu me reconheço a Mim
mesmo na criatura, reconheço minhas obras, meus passos, minhas palavras, meu amor; por isso
acontece que o Criador se reconhece a Si mesmo e suas obras na criatura, e a criatura operando
se projeta no Criador e se reconhece nele. Este reconhecer-se reciprocamente, Deus e a alma,
chama ao primeiro ato da Criação, e Deus sai de seu repouso e continua o trabalho da Criação
com esta criatura que vive e trabalha em meu Querer, porque nosso trabalho não terminou, só
demos um repouso, e a criatura, fazendo nossa Vontade nos chama ao trabalho, mas doce
chamado, porque para nós o trabalho é nova felicidade, novas alegrias e prodigiosas conquistas.
Por isso não fazemos outra coisa senão continuar nossos desabafos de amor, de potência, de
bondade e de sabedoria inalcançável, os quais deram início na Criação, e a criatura sente que seu
Deus não repousa para ela, senão que continua o trabalho de sua obra criadora; e conforme age
em nosso Querer, assim sente sobre sua alma a chuva do amor constante de Deus, sua potência e
sabedoria que não estão inativas, senão que trabalham em sua alma. Oh! Se você soubesse o
prazer, o prazer que sentimos quando a criatura chama-nos ao trabalho: Chamando-nos
reconhece-nos, chamando-nos abre-nos as portas, da-nos o domínio e toda a liberdade de fazer o
que queremos na sua alma. Portanto faremos um trabalho digno de nossas mãos criadoras, por
isso não deixe jamais escapar nossa Vontade Divina se quer que nosso trabalho seja contínuo, Ela
será seu porta-voz e o nosso, onde você emitirá sua voz para nos chamar, e Nós ouviremos o doce
sussurro, e rápido desceremos em nosso mesmo querer em tua alma para continuar nosso
trabalho, porque tu deves saber que os atos contínuos formam vida e obras completas, o que não é
contínuo pode-se chamar efeito de meu Querer, não vida que se forma na criatura, e os efeitos aos
poucos se desvanecem e ficam em jejum. Por isso, ânimo e confiança, e sempre adiante a navegar
o mar da Divina Vontade".
(4) Depois disto estava seguindo os atos que meu sumo bem Jesus havia feito em sua
Humanidade quando estava na terra, e fazendo-se ouvir acrescentou:
(5) "Minha filha, minha vontade humana não teve nenhum ato de vida, senão que estava em ato de
receber o ato contínuo de minha Divina Vontade, que Eu como Verbo do Pai Celestial possuía, por
isso todos meus atos e penas, orações, respiros, batimentos que fazia, recebendo minha vontade
humana a Vida da Vontade Divina, formava tantas ataduras para voltar a atar as vontades
humanas à minha, e como estas vontades humanas eram como habitações, algumas em ruínas,
outras lesionadas, e outras reduzidas a escombros, minha Vontade Divina que age em minha
Humanidade, com meus atos preparava as ajudas para sustentar as que se encontravam em
perigo de cair, para cimentar as lesionadas, e para voltar a construir sobre os mesmos escombros
as salas destruídas. Eu nada fazia para Mim, não tinha nenhuma necessidade, fazia tudo para
refazer, reabilitar as vontades humanas, minha única necessidade era o amor e que queria ser
amado. Agora, para receber todas as minhas ajudas e todas as minhas penas e obras como obras
atuantes, voz falante, e mensageiros que ajudam, a criatura deve unir sua vontade à minha, e
rapidamente se sentirá atada de novo com a minha, e todos os meus atos se disporão ao redor
para fazer seu ofício, para sustentar, cimentar, e levantar novamente a vontade humana. Assim
que a criatura se une e se decide a fazer minha Vontade Divina, todos meus atos, como exército
armado se colocam em defesa da criatura, e formam a barca de segurança no mar tempestuoso da
vida. Mas para quem não faz minha Vontade, poderia dizer que nada recebe, nem pode receber,
porque só Ela é a doadora de tudo o que Eu fiz por amor das criaturas".

31-1
Julho 24, 1932
Jesus com sua palavra gera sua santidade, bondade, etc., na criatura. Loucuras de amor 
para colocá-la a par e em competição com Ele.

(1) Vida minha dulcíssima, Jesus, meu celestial mestre, toma minha pequena alma em tuas mãos,
e se queres continua tuas lições divinas sobre tua Vontade, sinto a extrema necessidade de ser
alimentada por tua palavra, e além disso, Tu mesmo me acostumaste assim, Tu mesmo me deste
esta forma de vida, fizeste-me viver de Ti e da tua doce palavra. Certamente não me formei este
modo de viver, não, mas Tu, ó Jesus! Tanto, que eu te sentia mais a Ti que a mim, e quando Tu
calas me sinto destroçar esta vida, e se bem que é o mais duro dos martírios, porém estou pronta,
se queres cessar teu dizer, direi Fiat! Fiat! Fiat! Mas tenha piedade de mim e não me deixe sozinha
e abandonada.
(2) Depois me sentia toda abandonada nos braços da Divina Vontade, e não suspirava outra coisa
que o Céu, me parece que não me resta nada mais que fazer, senão terminar minha vida na Divina
Vontade na terra para reiniciá-la no Céu. E meu Celestial Jesus visitando minha pequena alma me
disse:
(3) "Minha pequena filha do meu Querer, tu te oprimes demasiado e Eu não o quero, ao estar
oprimida no meio de tantos bens meus, fazes ver que pões mais atenção a ti mesma do que aos
bens que teu Jesus te deu, e com isso fazes ver que ainda não compreendeste os dons e os bens
que teu Jesus te deu. Você deve saber que cada palavra minha é um dom, e por isso encerra um
bem grande, porque a minha palavra tem a virtude criadora, comunicativa, formadora, e conforme
vem pronunciada por nós, assim forma o novo bem para dar à criatura; olha, por quantas palavras
te disse e quantas verdades te fiz conhecer, tantos dons te dava, e tais dons encerram bens
divinos, distintos um do outro, e o todo está em que sai de nós a palavra, na qual vem formado o
bem que queremos tirar de nós, quando este bem saiu, com segurança terá sua vida no meio das
criaturas, porque estes dons são animados e formados por nossa potência criadora, e conservados
dentro de nossa mesma palavra para assegurar o bem que queremos dar, e nossa palavra moverá
céu e terra para dar o fruto do bem que possui.

(4) Agora minha filha, tu deves saber outra surpresa de nosso dizer, supõe que Eu te falo de minha
santidade, esta minha palavra encerra o dom da santidade divina para dar à criatura, quanto a
criatura é possível; se falo da bondade divina, minha palavra encerra o dom da bondade; Se falo da
Vontade Divina, encerra o dom da nossa Vontade; em resumo, a coisa que diz a nossa palavra de
belo, de bom, de grande, de santo, esse bem encerra. Agora escuta uma característica de nossas
estratagemas amorosas, é como se não nos contentássemos jamais de formar novas invenções de
amor para dar à criatura. Por conseguinte, se a nossa palavra diz santidade, é porque queremos
dar o dom da nossa santidade divina, a fim de que ela esteja à altura da nossa santidade e possa
estar em concorrência conosco, e oh! nossa alegria quando vemos a nossa santidade divina que
age na criatura, e se ouvimos que ela diz: „Sinto impressa em mim a santidade de meu Criador,
como me sinto feliz ao poder amá-lo com sua própria santidade'. Oh! então nosso amor dá na
loucura, e se derrama sobre ela, de modo tão exuberante, que chegamos aos excessos; e assim
se nossa palavra diz bondade, Vontade Divina, é porque queremos dar o dom de nossa bondade e
Vontade Divina, a fim de que ela possa estar a par com nossa bondade e Vontade, e possa
sustentar a concorrência com o Ente Supremo. Tu não podes compreender qual é o nosso
contentamento ao ver a criatura dotada das nossas qualidades divinas, das quais a nossa palavra
é portadora, e como é nosso costume dirigir a uma criatura a nossa palavra, mas ela é tão fecunda,
potente e cheia de luz, que faz como o sol formado por uma de nossas palavras, que com um
golpe de luz ilumina a todos e dá o bem que a luz possui. Agora, por que você oprime se você vê
que seu Jesus frequentemente faz uso de sua palavra para adicionar dons a dons? E estes dons
não só terão vida em ti, mas em tantas outras criaturas, porque possuem a força generativa, dão e
geram, para dar e gerar de novo. Nossa palavra parte de nosso seio, portanto é filha nossa, e
como filhas levam o bem que geraram em seu Pai. Portanto, em vez de te oprimir, pensa antes que
o teu Jesus quer fazer-te novas surpresas com as suas palavras divinas, a fim de que te disponhas
a receber tanto bem".
(5) Depois disto continuava pensando na Divina Vontade, e meu dulcíssimo Jesus acrescentou:

(6) "Minha filha, quando a alma se faz dominar, investir, subjugar por minha Divina Vontade, de
modo que cada parte de seu ser, tanto na alma como no corpo, todas possuem minha Vontade
constante, de modo que a mente a possui animada por sua ciência, a voz a possui falante, as
mãos a possuem agindo, os pés possuem seus passos divinos, o coração a possui amando, e
como sabe amar minha Vontade, agora, tudo isto unido forma a santidade divina na criatura, e
então encontramos todos nossos direitos nela, direitos de criação, porque tudo é nosso,
encontramos os direitos de nossa santidade, de nossas obras, direitos de nosso Fiat Divino, de
nossa bondade, de nosso amor, em resumo, não há coisa nossa que não encontremos nela como
nosso direito, e a criatura encontra em correspondência seus direitos em seu Criador, porque
sendo uma a Vontade de ambas as partes, os direitos de um são os direitos do outro. Eis o que
significa viver em nosso Querer, receber nossa santidade, o amor, a ciência, nossa bondade, com
direito, porque não se pode fazer menos que dá-las, porque são sua propriedade, como o são de
nosso Fiat, porque sua vida já vive nele. Muito mais, quem vive em minha Vontade cresce sempre
na santidade, no amor, em nossa beleza e assim do resto, este contínuo crescer forma na criatura
um ato novo para dar a seu Criador, Nós lhe damos o ato novo que possuímos em natureza, e ela
nos dá em virtude de nossa Vontade, e oh! o contentamento de ambas as partes, a felicidade que
se sente ao poder receber da criatura, e Nós de poder dar, dar e receber mantém o alimento da
correspondência, conserva a união sempre crescente, e é como o sopro que mantém sempre
aceso o fogo e viva a chama do amor, sem perigo de poder apagar-se. Por isso sempre adiante em
minha Vontade, e tudo irá bem".

32-1
Março 12, 1933

As coisas criadas são a crosta que cobre a Divina Vontade. Exemplo de um rei disfarçado. A
Criação e a Redenção estão sempre em ação para chamar a criatura a trabalhar juntos.

(1) Meu Celestial Soberano Jesus, esconde-me dentro de teu coração divino, a fim de que, não
fora de Ti, mas sim dentro do sacrário de teu coração, eu dê início ao presente volume; a caneta
será a luz de teu Querer Divino coberta na fogueira de teu amor, e Tu a me dizeres o que me
queres dizer, eu serei um simples ouvinte, e empresto-te o papel da minha pequena alma, para que
escrevas o que quiseres, como quiseres e quanto quiseres. Cuidado meu amável Mestre em não
me deixar escrever nada de mim, de outra maneira direi milhares de bobagens. E Tu, Soberana
Rainha, esconde-me debaixo de teu manto, tenha-me defendida de tudo, jamais me deixes só, a
fim de que possa cumprir em tudo a Divina Vontade.
(2) Depois continuava pensando no Fiat adorável e me sentia circundada por todas as coisas
criadas, as quais, cada uma dizia: "Eu sou a Divina Vontade, o que você vê por fora de nós são
seus véus, a vestes que a cobre, mas dentro de nós está sua Vida palpitante e constante, e oh!
como nos sentimos gloriosas, honradas, porque formamos a veste à Divina Vontade: o sol lhe
forma a veste de luz, o céu a veste azul, as estrelas a veste de ouro, a terra a veste de flores, em
suma, todas as coisas têm a honra de formar a veste à Divina Vontade, e todas em coro fazemos
festa".
(3) Eu fiquei maravilhada, surpreendida, e dizia entre mim: "Oh, se eu também pudesse dizer que
sou a veste da Divina Vontade, como me sentiria feliz!" E o meu grande Rei Jesus, visitando a sua
pequena filha, disse-me:

(4) "Minha boa filha, Rei, Criador, Vontade Divina, significa dominar, investir e ter nossa Vida dentro
de cada coisa criada por Nós; criar significa estender a própria vida, esconder nossa Vontade
criadora na mesma coisa criada por Nós. Isto é criar, chamar as coisas do nada, encerrar nelas o
Tudo para conservá-las na integridade da beleza como as criamos. Agora, você deve saber que
minha Vontade é como um rei disfarçado em cada uma das coisas criadas, se as criaturas o
reconhecem sob aquelas roupas, se revela e abunda no dar seus atos divinos e seus dons reais,
que só pode dar este Imperador Celestial; se não é reconhecido, fica ignorado, escondido sem
fazer estrondo, nem alarde de sua real pessoa, nem abunda no dar seus dons, que só pode dar um
Querer tão santo, e as criaturas tocam a veste, mas dele e de seus dons não sabem nada e nada
recebem, e meu Fiat fica com a dor de não ter sido reconhecido, e com a pena de não ter dado
seus dons divinos, porque não conhecendo-o faltava a capacidade e a vontade de receber dons
reais. Eu faço como um rei, que se disfarça vai no meio dos povos; se lhe prestarem atenção,
apesar de não usar as vestes reais o conhecerão pelos modos, pelas expressões, e pondo-se ao
seu redor, lhe darão as honras do rei, e pedirão dons e favores, e o rei recompensará a atenção
daqueles que o reconhecerem disfarçado, e lhes dará mais do que querem; àqueles que não o
reconhecerem, passará despercebido, sem lhes dar nada, muito mais, que eles mesmos não lhe
pedem nada fazendo dele um qualquer do povo. Assim faz minha Vontade quando é reconhecida
sob as vestes das coisas criadas, Ela se revela e não espera como o rei a que lhe peçam dons e
favores, senão que Ela mesma diz: ‘Estou aqui, o que queres?’

E superabundou em dar dons e favores celestiais, e segue adiante do rei, se bilocando dá à criatura que a conheceu sua própria
Vida, o que não faz o rei. Agora, também tu podes dizer sou Vontade de Deus, e fazer de ti a
casca, a veste que esconda a minha Divina Vontade, não só se a reconheceres em todas as coisas
criadas, mas se a reconheceres em ti, se lhe deres o domínio em todos os teus atos, e tudo o que
faz a casca de seu ser o põe a seu serviço para fazer crescer sua Vida em você, Ela te encherá
tanto, que não restará de você mais que a única veste, e dela se servirá para se cobrir, e serás
mais feliz do que todas as coisas criadas, porque serás o véu vivo, que dividirás com Ela as suas
alegrias, a sua felicidade, e também as suas infinitas dores, porque quer ser vida de cada criatura,
mas ingratas não lhe dão o pleno domínio. Em suma, farás sempre vida junto, fazendo-vos perene
companhia, formando uma só vida".

(5) Depois disto continuava a seguir os atos feitos pela Divina Vontade na Criação, e como está
sempre em ato de criá-la em virtude da conservação que incessantemente exercita em cada coisa
criada, eu a encontro sempre no ato criador, para dizer com os fatos a todos e a cada um: "Quanto
vos amo, propriamente por ti estou a criar toda esta máquina do universo, ah, reconhece quanto te
amo!" Mas o que mais me surpreendia era que o eterno Fiat me esperava, queria-me junto no ato
criativo para me dizer: "Vem em meu ato, façamos juntos o que estou fazendo". Eu me sentia toda
confusa, e meu eterno amor Jesus me surpreendeu e disse:

(6) "Pequena filha do meu Querer, ânimo, por que se confunde? Em minha Vontade não há teu
nem meu, o ato de um deve unir-se com o do outro e fazer um só, é mais, assim que a criatura
entra em nosso Querer, fica confirmada no ato que meu Fiat está fazendo. É tanto o seu amor, as
suas indústrias amorosas, que quer dizer à criatura: ‘Nós fizemos isso juntos.’ Assim que o céu
estrelado, o sol resplandecente de luz e todo o resto, é teu e meu, temos direitos em comum, por
isso tenho sempre presente o ato, porque quero a criatura junto Comigo, aquela pela qual, só por
seu amor estou sempre a agir, para ouvir você me dizer no mesmo ato que estou fazendo: ‘Amo-te,
amo-te, amo-te.’ Não ter um te amo em obras tão grandes e maravilhosas, não ser reconhecido,
seria como se nosso amor ficasse vencido, mas não, não! Entre tantos devemos encontrar alguém
que esteja junto conosco amando e agindo, que nos dê a pequena correspondência, para fazer que
nosso amor encontre seu alívio e sua felicidade por parte da criatura, e assim que ela entra em
nosso Fiat, fica confirmada e vinculada em seus atos divinos, de modo que sua virtude vinculadora
vincula a Deus e à criatura.

(7) E assim como na Criação, assim na Redenção não há atos passados, senão todos são atos em
ato e presentes; para o Ente Supremo o passado e o futuro não existem, assim que teu Jesus está
sempre em ato de conceber, de nascer, de chorar, de sofrer, de morrer e ressuscitar, todos estes
meus atos em ato contínuo, sem cessar jamais, assediando cada uma das criaturas, afogando-a de
amor, e por desabafar de meu ardente amor vou repetindo: ‘Olha, só por ti descendo do Céu e me
concebo e nasço, e tu, vem ficar concebida junto Comigo, para nascer junto Comigo à nova vida
que te traz teu Jesus, olha-me, choro por ti, sofro por ti, tem piedade de minhas lágrimas e de
minhas penas, soframos juntos a fim de que repitas o que fiz Eu, e modeles a tua vida com a minha
para poder dizer-te: ‘O que é meu é teu, és a repetidora da minha Vida'. E assim se morrer, chamo-
a a morrer junto Comigo, mas não para fazê-la morrer, mas ressurgir com a mesma Vida d'Aquele
que tanto a ama. Portanto minha Vida é continuamente repetida, um amor passado ou futuro não
me satisfaria, nem seria amor e redenção de um Deus, é o ato presente que tem virtude de ferir, de
conquistar e de dispor a expor a vida por amor de quem a está a pôr em ação por ela. Mas há uma
grande diferença por parte das criaturas, que me escuta e toma tudo o que temos feito tanto na
Criação quanto na Redenção, em ato de fazê-lo, forma sua vida junto conosco, sente correr em
seus atos nossos atos divinos, tudo fala de Deus para ela. Ao contrário, quem as olha como coisas
passadas, só tem a lembrança, e a lembrança não formou nem Vida Divina, nem heroísmo de
santidade. Por isso toma as coisas como em realidade são, sempre em ato, para te amar sempre e
sempre me amar".

33-1
Novembro 19, 1933

Quem se dispõe a fazer a Divina Vontade forma o passaporte, a via, o trem. Jesus quer 
refazer-se a Si mesmo na criatura. O signatário e o motor celestial.

(1) Meu soberano celestial Jesus, e minha grande Senhora Rainha do Céu, venham em minha
ajuda, ponham esta pequena ignorante no meio de vossos corações santíssimos, e enquanto eu
escrevo, meu querido Jesus me sugira o que devo escrever, e minha Mãe Celestial, como a filha
dela, leve-me a mão sobre o papel, de modo que enquanto escrevo estarei no meio de Jesus e de
minha Mãe, a fim de que nem sequer uma palavra de mais escreva do que eles me dizem e
querem. Com esta confiança no coração eu começo a escrever o volume 33, talvez seja o último,
mas não sei, embora eu tenha toda a esperança de que todo o Céu tenha compaixão da pequena
exilada, e que logo a façam repatriar-se com eles, mas do resto Fiat! Fiat!

(2) Depois continuava pensando na Divina Vontade, vida e centro de minha pobre existência, e
meu doce Jesus repetindo sua fugaz visita me disse:

(3) "Minha boa filha, tu deves saber que assim que a alma se dispõe a fazer minha Divina Vontade,
forma o passaporte para entrar nos intermináveis confins do reino do Fiat; mas, sabes tu quem te
empresta o necessário para o formar, e quem se presta a assiná-lo e dar-lhe o valor de passagem
em meu reino? Filha, é tão grande o ato de se dispor a fazer minha Vontade, que minha própria
Vida, meus méritos, formam o papel, a escritura, e seu Jesus é o signatário para fazê-la conhecer e
dar-lhe livre entrada; pode-se dizer que todo o Céu corre em ajuda de quem quer fazer minha
Vontade, e Eu sinto tanto amor que tomo lugar na afortunada criatura e me sinto amado por ela por
minha mesma Vontade. Agora, vendo-me amado por ela por minha mesma Vontade, meu amor se
faz ciumento e não quer perder nem sequer um respiro, um batimento de amor desta criatura.
Imagine você mesma minhas ansias, as defesas que tomo, as ajudas que dou, as estratagemas
amorosas que uso, em uma palavra quero refazer-me nela, e para refazer-me exponho-me Eu
mesmo para formar outro Jesus na criatura, por isso coloco toda minha arte divina para obter
minha tentativa, não economizo nada, faço tudo, dou tudo, onde reina minha Vontade não posso
negar nada, porque o negaria a Mim mesmo.

(4) Agora, a disposição de fazer a minha vontade forma o passaporte, o início do ato forma o
caminho que deve percorrer nela, via do Céu, santa, divina, por isso a quem entra n’Ela Eu
sussurro ao ouvido do coração: ‘Esqueça a terra, já não é mais sua, de agora em diante não verá
outra coisa que Céu, meu reino não tem confins, portanto seu caminho será longo, por isso convém
que com os teus atos apresses o passo para te formares muitas vias e assim tomar muito dos bens
que há em meu reino. Então, o início do ato forma a via, o cumprir forma o trem, e Eu quando vejo
formado o trem faço de motor para colocá-lo em veloz caminho, e oh! como me é belo, agradável,
passear nestes caminhos que a criatura se fez em minha Vontade. Estes atos feitos em minha
Vontade são séculos que encerram de méritos e de bens incalculáveis, porque há o motor divino
que caminha, o qual tem tanta velocidade que em minutos encerra os séculos, e torna de tal
maneira rica à criatura, bela e santa, de nos dar a honra diante de toda a corte celestial,
apontando-a como o maior prodígio da sua arte criadora.

(5) Além disso, conforme a criatura vai formando seu ato em minha Divina Vontade, assim as veias
da alma se esvaziam do que é humano, e corre nelas, poderia dizer, um sangue divino, o qual faz
sentir em substância as virtudes divinas na criatura, que têm a virtude de correr quase como
sangue na mesma vida que anima o seu Criador, que os torna inseparáveis um do outro, tanto que
quem quer encontrar a Deus pode encontrá-lo no seu lugar de honra na criatura, e quem quer
encontrar a criatura a encontrará no centro Divino".

34-1
Dezembro 2, 1935

A Divina Vontade dardeia a criatura e lhe forma a nobreza divina, e fazendo-a de Ator faz 
inseparável a Deus e a criatura. Exemplo, o sol.

(1) O meu Rei do amor Jesus e a minha Rainha Mãe Divina, ah! A minha vontade é entrelaçada
com a vossa e fazem delas uma só, antes fechai-me em vossos corações, para que escreva não
fora de vós, senão, ou dentro do coração de meu Jesus, ou no regaço de minha Mãe Celestial, a
fim de que possa dizer: "É Jesus que escreve e minha Mãe que me sugere as palavras". Por isso
me ajudem e me deem a graça de vencer a grande repugnância que sinto ao começar outro
volume, vocês que conhecem meu pobre estado, sinto a necessidade de ser sustentada,
fortalecida e toda renovada pela Potência de vosso Fiat Divino para poder fazer em tudo e sempre
vossa Divina Vontade.
(2) Depois me sentia imersa no Querer Divino, que tomava o aspecto de Ator para poder entrar nos
mais íntimos recantos de minha alma, e formar seu ato que age em mim; eu fiquei surpreendida, e
meu doce Jesus visitando minha pequena alma, tod0 bondade me disse:

(3) "Minha filha bendita, quando a criatura faz e vive na Divina Vontade, nosso Ser Supremo a
dardeia com sua luz continuamente, lhe dardeia a mente e põe nela a nobreza dos pensamentos
divinos, de modo que sente em sua inteligência, memória e vontade, a santidade, a lembrança de
seu Criador, o amor, a Vontade d’Aquele que fazendo-lhe de Ator forma nela a ordem, a sabedoria
divina; a dardeando com seus beijos de luz a substância divina em sua mente, de modo que tudo é
nobre, tudo é santo, tudo é sagrado nela. Este Ator de meu Querer, formando sua sede na
inteligência criada, com sua potência e maestria forma nela sua imagem; lhe darda o coração e
forma a nobreza do amor, dos desejos, dos afetos, dos batimentos; dardeia a boca e forma a
nobreza das palavras; dardeia as obras e os passos e forma as obras santas, a nobreza dos
passos; e não só dardeia a alma, mas também o corpo, e com sua Luz investe o sangue e o
enobrece, de modo que a criatura se sente correr em seu sangue, em seus membros, a plenitude,
a santidade, a substância da nobreza divina. Este Ator de minha Divina Vontade toma o ofício de
Artífice insuperável, de transformar Deus na criatura, e a criatura em Deus. Quando minha Vontade
chegou a isto, que é o ato maior que pode fazer, - isto é, formar de Deus e da criatura uma só Vida,
tornando-os inseparáveis um do outro -, repousa em sua obra e sente tal felicidade, porque venceu
a criatura, formou seu trabalho nela, e cumpriu sua Vontade. Então parece que diz na ênfase de
seu amor: Fiz tudo, não me resta outra coisa que possuí-la e amá-la".

(4) Eu fiquei pensativa ao escutar isto, e meu amável Jesus acrescentou:
(5) "Minha filha, por que dúvidas? Não faz também o sol este ofício? Assim que dardeia a flor com
a sua luz, lhe dá a substância da cor e do perfume; enquanto dardeia o fruto, lhe infunde a doçura
e o sabor; conforme dardeia as plantas, assim comunica a cada uma a substância, os efeitos que
elas requerem. Se isto o faz o sol, muito mais minha Vontade Divina que tudo pode, e tudo sabe
fazer, e assim como o sol vai buscando a semente para dar o que possui, assim minha Divina
Vontade vai buscando as disposições das criaturas que querem viver de minha Vontade, e
rapidamente as dardeia e comunica a substância e nobreza divina, e forma e faz crescer sua Vida".

In Voluntate Dei.
Fiat!!!

35-1

(1) Doce vida minha, meu sumo bem Jesus, vem em minha ajuda, minha pequenez e miséria é
tanta, que sinto a extrema necessidade de te sentir em mim como vida palpitante, constante e
amando, de outra maneira sinto-me incapaz de te dizer até mesmo um pequeno te amo. Por isso te
peço, suplico-te que não me deixes nunca sozinha, e que a tarefa de escrever sobre a Divina
Vontade seja toda tua, eu não farei outra coisa senão fazer-me levar a mão por Ti e prestar
atenção em escutar tuas santas palavras, todo o resto o farás Tu, assim pensa nisto, oh! Jesus. E
além disso chamo a minha Mãe Celestial em minha ajuda, para que enquanto escrevo me tenha
em seu colo, me dê o alento em seu coração materno para me fazer sentir as doces harmonias que
possui do Fiat Divino, a fim de que possa escrever o que Jesus quer que escreva de sua adorável
Vontade.

36-1
Abril 12, 1938

Quem vive no Querer Divino, em cada ato pronuncia o Fiat e forma nele tantas Vidas Divinas.
Enquanto se dá em poder da criatura, a faz fazer o que quer.
Diferença que há entre quem vive n’Ela e entre quem está resignada.

(1) Estou sempre nos braços do Fiat Divino e, oh! como sinto a necessidade de sua Vida que
respire, palpite, circule em minha pobre alma; sem Ela sinto que tudo morre para mim, morre a luz,
a santidade, a força, até o próprio Céu, como se não me pertencesse mais. Ao contrário, assim que
sinto sua Vida, tudo ressurge em mim: Ressurge a luz com sua beleza que vivifica, purifica e
santifica; ressurge meu Jesus com todas as suas obras; ressurge o céu, ao qual o Querer Santo o
encerra em minha alma como dentro de um sacrário para fazê-lo todo meu. Portanto, se vivo em
Sua Vontade tudo é meu, nada me deve faltar. Por isso, oh! Querer Santo, ao dar início a este 36°
volume, peço-te, suplico-te, invoco-te que não me deixes um só instante sem Ti, a fim de que Tu
fales, Tu escrevas, Tu mesmo faça conhecer quem é, e como quer ser vida de todos, para dar seus
bens a todos. Se me deixares fazer, eu não saberei fazer-te conhecer como Tu queres, porque sou
incapaz, mas se o fizeres Tu triunfarás, te farás conhecer e terás o teu reino no mundo inteiro. Oh!
Querer Santo, com teu poder eclipsa todos os males das criaturas, põe teu basta onipotente, a fim
de que extraviem o caminho do pecado e se reencontrem no caminho de tua Divina Vontade.
(2) E a Ti, Mãe Rainha do Fiat Divino, consagro em modo especial este volume, a fim de que teu
amor, tua maternidade, se estendam nestas páginas para chamar a teus filhos a viver junto
Contigo, naquele mesmo Querer do qual possuíste seu reino, e enquanto começo, imploro
inclinada a seus pés sua benção materna.
(3) Agora, enquanto minha mente estava imersa no Fiat Divino, meu doce Jesus visitando minha
pequena alma, com uma bondade indescritível me disse:

(4) "Minha filha bendita de minha Vontade, quantas maravilhas sabe fazer meu Querer na criatura,
desde que lhe dê o primeiro posto e lhe dê toda a liberdade de fazê-lo agir, Ele toma a vontade, a
palavra, o ato que a criatura quer fazer, o unifica Consigo, investe-o com sua virtude criadora,
pronuncia seu Fiat e dele forma tantas Vidas por quantas criaturas existem. Olha, você estava
pedindo em minha Vontade o batismo para todos os recém-nascidos que sairão à luz do dia, e
portanto sua Vida reinante neles. Minha Vontade não hesitou um instante, imediatamente
pronunciou seu Fiat e formou tantas Vidas de Si, por quantos recém-nascidos saíam à luz,
batizando-os como tu querias, primeiro com a sua luz, e depois dando a cada um a sua Vida, e se
estes recém-nascidos, por incorrespondência ou por falta de conhecimento não chegarão a possuir
esta nossa Vida, mas para Nós esta Vida fica, e temos tantas Vidas Divinas que nos glorificam, nos
abençoam, e nos amam como amamos em Nós mesmos. Estas nossas Vidas Divinas são nossa
maior glória, mas não colocam de lado aquele que deu a ocasião a nosso Fiat Divino de formar
tantas Vidas nossas por quantos recém-nascidos saíam à luz, mas bem o têm escondido nelas
para fazê-lo amar como Elas amam e fazê-lo fazer o que Elas fazem. Tampouco põem de lado os
recém-nascidos, mas sim são todos olhos sobre eles, os vigiam, os defendem para poder reinar em
suas almas. Filha minha, quem pode te dizer quanto amamos a esta criatura que vive em nosso
Querer? Nós a amamos tanto, que lhe damos nosso Querer em seu poder, a fim de que d’Ele faça
o que quiser: Se quer formar nossas vidas, a fazemos fazer; se quer encher Céu e terra com nosso
amor, lhe damos a liberdade de fazê-lo, tanto, que nos faz dizer por todos que nos amam, ainda no
passarinho que pia, que gorjeia e canta ouvimos o "amo-te" de quem vive em nosso Querer; se no
ímpeto de seu amor quer nos amar demais, entre em nosso ato criante e se deleita criando-nos
novos sóis, céus e estrelas que nos dizem sem cessar jamais, "vos amamos, vos amamos", e faz a
parte narradora para narrar a nossa glória. Em nossa Vontade a vista é longa e ela é toda atenção,
toda olhos para ver o que queremos e como pode nos amar demais".

(5) Meu Deus, quantas maravilhas, quantas surpresas há em seu Querer! Seu doce encanto é
tanto, que não só fica um enfeitiçado, mas como embalsamado, transformado nas mesmas
maravilhas do Fiat, de modo que não se sabe como fazer para sair d’Ele. Depois pensava em mim:
"Mas qual será a diferença entre quem vive no Querer Divino, entre quem se resigna nas
circunstâncias dolorosas da vida, e entre quem de fato não faz a Divina Vontade?" E meu doce
Jesus, regressando acrescentou:

(6) "Minha filha bendita, a diferença é tanta, que não há comparação que sirva; quem vive em meu
Querer tem o domínio sobre todos, e Nós a amamos tanto, que a fazemos chegar a nos dominar a
Nós mesmos, e gozamos tanto ao ver a pequenez da criatura nos dominar, que sentimos alegrias
insólitas, porque vemos que nossa Vontade domina na criatura, e ela domina junto com nosso
Querer, e oh! quantas vezes nos fazemos vencer, e muitas vezes é tanta nossa alegria, que
fazemos vencer nossa Vontade na criatura antes que em Nós mesmos. Além disso, ao viver em
nosso Querer, ao seu contínuo contato adquire os sentidos divinos, adquire a vista longa, sua luz é
tão penetrante e clara que chega a fixar-se em Deus, no qual vê os arcanos divinos; nossa
santidade e beleza lhe são palpáveis, ama-as e as faz suas; com este olho de luz onde quer que
encontra o seu Criador, não há nada na qual não o encontre, e Ele, com sua majestade e com seu
amor, envolve a criatura e faz-lhe sentir quanto a ama; ao sentir-se amado a ama, e oh! as alegrias
indescritíveis de ambas as partes ao sentir-se amada e amá-lo em cada coisa; adquire o ouvido
divino e, de imediato, escuta o que Nós queremos, está sempre atenta a ouvir-nos, não há
necessidade de dizer e voltar a dizer o que queremos, basta um pequeno sinal e tudo está feito;
adquire o olfato divino, e só de cheirar adverte se o que a circunda é bom, santo, e se pertence a
Nós; adquire o gosto divino, tanto, que a saciedade se alimenta de amor e de tudo o que é céu;
finalmente, em nosso Querer adquire nosso tato, de maneira que tudo é puro e santo, não há temor
de que o menor alento possa ofuscá-la. Toda bela, charmosa e encantadora é a criatura que vive
no meu Fiat.

(7) Ao contrário, quem só está resignada não vive com nosso contínuo contato, pode-se dizer que
não sabe nada de nosso Ente Supremo, sua vista é muito fraca e enferma, lhe faz mal se quiser
olhar, sofre uma miopia em último grau, pela qual, muito dificultosamente pode descobrir os objetos
mais necessários; com muita dificuldade escuta, e quanto se necessita para fazê-la ouvir, se é que
nos escuta; o olfato, o gosto, o tato, cheiram o que é humano, alimentam-se do que é terra e
sentem o tato das paixões, a doçura dos prazeres mundanos, e além disso, ao fazer minha
Vontade nas circunstâncias, nos encontros dolorosos, alimentam-se não todos os dias, mas sim
quando têm a ocasião de que minha Vontade lhes ofereça uma dor. Oh! como crescem fracos,
nervosos, doentes, de dar piedade; pobre criatura sem a minha Vontade contínua, como me dão
piedade.
(8) Agora, para quem não está nem sequer resignado, está cego e surdo, não tem olfato, perde o
gosto a todos os bens, é um pobre paralisado que não pode servir-se nem sequer de si mesmo
para ajudar-se, ele mesmo se forma uma rede de infelicidade e de pecados da qual não sabe sair".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LIVRO DO CÉU VOLUME 1 - SERVA DE DEUS LUISA PICCARRETA

  Luísa Piccarreta A pequena filha da Divina Vontade O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS LIVRO DO CÉU A CHAMADA ÀS CRIATURAS À OR...