ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 51 SEMANA DE ESTUDOS

 




2-55
Agosto 8, 1899

A alma resignada está sempre em repouso.

(1) Continua a fazer-se parecer apenas e quase zangado com os homens e por mais que lhe
tenha pedido que derramasse em mim suas amarguras, foi impossível e sem prestar-me
atenção ao que lhe dizia, disse-me:
(2) "A resignação absorve tudo o que pode ser de dor ou de desgosto à natureza e o converte
em doce; e sendo meu Ser pacífico, tranquilo, de modo que qualquer coisa que possa
acontecer no Céu e na terra não pode receber nem sequer o menor alento de perturbação,
então a resignação tem a virtude de enxertar na alma estas mesmas virtudes minhas. A alma
resignada está sempre em repouso, não só ela, mas faz-me repousar tranquilamente também a
Mim nela."

* * * * * *

2-56
Agosto 10, 1899

Fala da justiça e como Jesus fica ferido pela simplicidade.

(1) Esta manhã veio o meu doce Jesus, que me transportou para fora de mim mesma, e
desapareceu, e, havendo-me deixado só, vi que do céu desciam como dois candelabros de
fogo e depois, dividindo-se em muitos pedaços, se formavam muitos raios e granizadas que
desciam à terra e faziam uma grandíssima destruição em plantas e homens. Era tanto o horror
e a fúria do temporal, que nem sequer se podia rezar e as pessoas não podiam chegar a suas
casas. Quem pode dizer como fiquei assustada? Então comecei a rezar para aplacar o Senhor,
e Ele retornando, vi que trazia na mão como uma vara de ferro e na ponta uma bola de fogo e
me disse:

(2) "Minha justiça foi longamente retida e com razão quer tomar vingança contra as criaturas,
pois ousaram destruir nelas toda justiça. ¡ Ah, sim, nada de encontro justo no homem! ; tudo foi
desfigurado, nas palavras, nas obras e nos passos, tudo é engano, tudo é fraude, tudo é
injusto, assim penetrando no coração, interno e externo, não é outra coisa que uma adega de
vícios. ¡ Pobre homem, como te reduziste!".
(3) Enquanto assim dizia, a vara que tinha na mão movia-a em ato de ferir o homem. Eu lhe
disse: "Senhor, o que faz?".
(4) E Ele: "Não temas, olha, esta bola de fogo fará fogo, e não castigará mais que aos maus, os
bons não receberão dano".
(5) E eu acrescentei: "Ah Senhor! Quem é bom? Somos todos maus, peço-te que não olhes
para nós senão para a tua infinita misericórdia, e assim ficarás aplacado por todos". Depois
disso ele adicionou:
(6) "A filha da justiça é a verdade. Assim como Eu sou Verdade eterna que não engano nem me
podem enganar, assim a alma que possui a justiça faz resplandecer em todas suas ações a
verdade; portanto, conhecendo por experiência a verdadeira luz da verdade, se alguém quer
enganá-la, ao advertir a falta da luz que tem em si, logo conhece o engano, então acontece que
com esta luz da verdade não se engana a si mesma, nem ao próximo, nem pode receber
engano.
(7) Fruto que produz esta justiça e esta verdade, é a simplicidade, outra qualidade de meu Ser,
o ser simples, tanto que penetro em todas partes, não há nada que possa opor-se a que Eu
penetre dentro, penetro no Céu e nos abismos, no bem e no mal, mas meu Ser simplíssimo,
penetrando mesmo no mal; não se suja, aliás, nem sequer recebe a mais mínima
sombra. Assim a alma, com a justiça e com a verdade, recolhendo em si este belo fruto da
simplicidade, penetra no Céu, introduz-se nos corações para conduzi-los a Mim, penetra em
tudo o que é bem e encontrando-se com os pecadores para ver o mal que fazem, não fica
manchada, porque sendo simples prontamente se libera, sem receber dano algum. É tão bela a
simplicidade, que meu coração fica ferido a um só olhar de uma alma simples, e ela é causa de
admiração aos anjos e aos homens".

3-55
Março 25, 1900

O Verbo de Deus na encarnação torna-se luz das almas.

(1) Esta manhã, meu adorável Jesus ao vir me disse:
(2) "Assim como o sol é a luz do mundo, assim o Verbo de Deus ao encarnar se fez luz das almas,
e assim como o sol material dá luz a todos em geral e a cada um em particular, tanto que cada um
o pode gozar como se fosse próprio, assim o Verbo, enquanto dá luz em geral, é sol para cada um
particular, assim é verdadeiro, que a este sol divino cada um o pode ter consigo como se fosse
para ele somente".
(3) Quem pode dizer o que entendia sobre esta luz e os efeitos benéficos que produz nas almas
que têm este Sol como se fosse seu? Parecia-me que a alma possuindo esta luz põe em fuga as
trevas, como o sol material ao surgir sobre nosso horizonte põe em fuga as trevas da noite. Esta
luz divina, se a alma é fria, aquece-a; se está nua de virtudes, torna-a fecunda; se está inundada
pela nociva enfermidade da tibieza, com seu calor absorve aquele humor mau; numa palavra, para
não me alongar demasiado, este sol divino, introduzindo a alma no centro de sua esfera, a cobre
com todos seus raios e chega a transformá-la em sua mesma luz.
(4) Depois disto, como eu me sentia toda abatida, Jesus querendo me aliviar me disse:
(5) "Esta manhã quero deleitar-me em ti".
(6) E ele começou a fazer seus truques amorosos habituais.

4-58
Março 8, 1901

Jesus diz-lhe que a cruz o fez conhecer como Deus.
Explica-lhe acerca da cruz da dor e do amor.

(1) Continuando meu pobre estado e o silêncio de Jesus bendito, esta manhã, encontrando-me
mais do que nunca oprimida, ao vir me disse:
(2) "Minha filha, não as obras, nem a pregação, nem o mesmo poder dos milagres me fizeram
conhecer com clareza como o Deus que sou, senão quando fui posto na cruz e levantado sobre ela
como sobre meu próprio trono, então fui reconhecido como Deus; Então só a cruz revelou ao
mundo e a todo o inferno quem eu era verdadeiramente; então todos ficaram abalados, e
reconheceram o seu Criador. Então é a cruz que revela Deus a alma, e faz conhecer se a alma é
verdadeiramente de Deus, pode-se dizer que a cruz descobre todas as partes íntimas da alma e
revela a Deus e aos homens quem é esta alma".

(3) Depois acrescentou: "Sobre duas cruzes Eu consumo as almas, uma é de dor, a outra é de
amor; e assim como no Céu todos os nove coros angélicos me amam, porém cada um tem seu
ofício especial, como os Serafins, que seu ofício especial é o amor e seu coro é posto mais frente
para receber as reverberações de meu amor, tanto que meu amor e o deles saindo juntos se
acoplam continuamente. Assim às almas sobre a terra lhes dou seu ofício diferente, a quem a torno
mártir de dor, e a quem de amor, sendo ambos hábeis mestres em sacrificar as almas e fazê-las
dignas de minhas complacências".

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4-59
Março 19, 1901

Explica-lhe o modo de sofrer.

(1) Esta manhã, encontrando-me toda oprimida e sofredora, sobretudo pela privação de meu doce
Jesus, depois de muito esperar, quando o vi me disse:
(2) "Minha filha, o verdadeiro modo de sofrer é não olhar de quem vêm os sofrimentos, nem que
coisa se sofre, senão ao bem que deve vir dos sofrimentos; este foi meu modo de sofrer, não olhei
nem aos algozes, nem ao sofrer, senão ao bem que queria fazer por meio de meu sofrer, até
mesmo aqueles que me davam o sofrimento, e olhando o bem que devia produzir aos homens
desprezei todo o resto, e com intrepidez segui o curso de meu sofrer. Minha filha, este é o modo
mais fácil e mais proveitoso para sofrer não só com paciência, mas com ânimo invicto e animoso".

6-53

Julho 29, 1904

A fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar.

(1) Continuando o meu estado habitual, mal vi o meu adorável Jesus, e eu disse-lhe: "Meu Senhor
e meu Deus". E Ele disse:
(2) "Deus, Deus, só Deus; filha, a fé faz conhecer a Deus, mas a confiança fá-lo encontrar, assim
que a fé sem a confiança é fé estéril. E embora a fé possua imensas riquezas para que a alma
possa enriquecer, se falta a confiança fica sempre pobre e desprovida de tudo".
(3) Então, enquanto dizia, sentia-me atraída a Deus, e ficava absorvida nele como uma gotinha de
água no imenso mar, por mais que olhasse não encontrava nem os confins ao largo nem ao longo,
nem ao alto, Céus e terra, viadores e bem-aventurados, todos estavam imersos em Deus. Depois
via também as guerras, como a da Rússia com o Japão, os milhares de soldados que morreram ou
que morrerão, e que por justiça, ainda natural, a vitória será do Japão; também outras nações
europeias estão tramando maquinações de guerra contra as mesmas nações da Europa. Mas
quem pode dizer tudo o que se via de Deus e em Deus? Para terminar ponho ponto.

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6-54
Julho 30, 1904

Desapego que devem ter os sacerdotes.

(1) Esta manhã o bendito Jesus não vinha, e eu encontrando-me fora de mim mesma girava e
voltava a girar em busca de meu sumo e único bem, e não encontrando-o, minha alma se sentia
morrer a cada instante, mas o que aumentava minha dor era que enquanto me sentia morrer, não
morria, porque se eu pudesse morrer teria alcançado minha finalidade, ao me encontrar para
sempre no centro Deus. Oh! separação, como é amarga e dolorosa, não há pena que possa
comparar-se a ti. Oh! privação divina, tu consomes, tu trespassas, tu és uma faca de dois gumes,
que de um lado corta e do outro queima, a dor que provocas é tão imensa porque imenso é Deus.
(2) Agora, enquanto andava vagando me encontrei no purgatório, e minha dor, meu pranto, parecia
que aumentava a dor daquelas pobres almas privadas de sua vida: "Deus". Então, entre estas
almas parecia que haviam sacerdotes, um dos quais parecia que sofria mais que os outros, e este
me disse:
(3) "Meus graves sofrimentos provêm de que em vida fui muito apegado aos interesses da família,
às coisas terrenas e um pouco de apego a alguma pessoa, e isto produz tanto mal ao sacerdote,
que forma uma couraça de ferro enlameada, que como veste o envolve, e só o fogo do purgatório e
o fogo da privação de Deus, que comparado com o primeiro fogo, desaparece o primeiro, pode
destruir essa couraça. Oh, quanto sofro! Minhas penas são inenarráveis, roga, roga por mim".

(4) Então eu me sentia mais aflita e me encontrei em mim mesma, e depois, apenas vi a sombra do
bendito Jesus e me disse:
(5) "Minha filha, o que tens procurado? Para ti não há outros alívios e ajudas que Eu só".
(6) E como um relâmpago desapareceu. E eu fiquei dizendo: Ah! Ele mesmo me diz? Que só Ele é
tudo para mim, no entanto tem a coragem de me deixar privada e sem Ele".

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6-55
Julho 31, 1904

A vontade humana falsifica e profana até as obras mais santas.

(1) Continuando meu pobre estado, parece que Jesus veio mais de uma vez, e parecia que o via
menino circundado como por uma sombra, e me disse:
(2) "Filha, não sente a frescura da minha sombra? Repõe-te nela porque encontrarás alívio".
(3) E parecia que repousávamos juntos à sua sombra, e me sentia toda reanimada junto a Ele, e
depois continuou:
(4) "Minha querida, se você me ama, não quero que você olhe nem em si mesma nem fora de
você, nem se está quente ou fria, nem se faz muito ou pouco, nem se sofre ou goza, tudo isto deve
ser destruído em ti e só deves te fixar se fazes quanto mais podes por Mim e tudo por me agradar,
os outros modos, por quanto altos, sublimes e laboriosos, não podem me agradar e contentar meu
amor. Oh! quantas almas falsificam a verdadeira devoção e profanam as obras mais santas com a
própria vontade, buscando-se sempre a si mesmas. E se também nas coisas santas se busca o
modo e o gosto próprio e a satisfação de si mesma, encontra-se a si mesma, foge Deus, e não o
encontra".

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6-56
Agosto 4, 1904

A glória dos bem-aventurados no Céu será de acordo com os modos
como se comportaram com Deus na terra. Do modo como é Deus
para a alma, pode-se ver como a alma é para Deus.

(1) Esta manhã, tendo vindo o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, e tomando-
me com a mão me conduziu até a abóbada do céu, de onde se viam os bem-aventurados, ouvia-se

seu canto. Oh! como os bem-aventurados nadavam em Deus, via-se a vida deles em Deus, e a
vida de Deus neles, a mim isto parece-me ser o essencial da sua felicidade. Parece-me também
que cada bem-aventurado é um novo céu naquela bem-aventurada morada, mas todos distintos
entre eles, não há um igual a outro, e isto vem de acordo com os modos com que se comportaram
com Deus sobre a terra: Alguém procurou amá-lo mais, este o amará mais no Céu e receberá de
Deus sempre novo e mais crescente amor, e este céu ficará com uma tinta e um lineamento divino
todo especial. Outro tem procurado glorificá-lo demais, Deus bendito lhe dará sempre mais glória
crescente, para ficar este novo céu mais glorioso e glorificado da mesma glória divina. E assim de
todos os outros modos distintos que cada um teve com Deus na terra, que se eu quisesse dizer
tudo me alongaria muito. Assim, pode-se dizer que o que se faz para Deus na terra, o
continuaremos no Céu, mas com maior perfeição, então o bem que fazemos não é temporal, senão
que durará para toda a eternidade e resplandecerá ante Deus e em torno de nós continuamente. "
Oh! como seremos felizes vendo que todo nosso bem e a glória que demos a Deus, e a nossa,
vem daquele pouco de bem iniciado imperfeitamente sobre a terra; se todos pudessem vê-lo, oh!
como se apressariam para amar, louvar, agradecer e mais ao Senhor, para poder fazê-lo com
maior intensidade no Céu. Mas quem pode dizer tudo? Mas parece-me que estou dizendo tantos
desatinos daquela bem-aventurada morada, a mente o capta de um modo, a boca não encontra as
palavras para saber-se manifestar, por isso passo a outra coisa.

(2) Depois me transportou para a terra. Oh! como os males da terra são assustadores nestes tristes
tempos, no entanto parecem nada ainda em comparação com o que virá, tanto no estado religioso,
que parece que seus próprios filhos vão rasgar esta boa e santa mãe, a Igreja; como no estado
secular. Então, depois disto me reanimou e me disse:
(3) "Minha filha, me diga um pouco o que sou Eu para você".
(4) E eu: "Tudo, és tudo para mim, nada entra em mim exceto Tu só, tudo corre fora".
(5) E Ele: "E Eu sou tudo, tudo para ti, nada de ti sai fora de Mim, senão que todo me deleito em ti.
Assim como Eu sou para você, você pode ver como você é para Mim".
(6) Disse isso desapareceu.

6-57
Agosto 5, 1904

Jesus é o governante dos reis e o senhor dos dominadores.

(1) Continuando meu estado habitual, o bendito Jesus veio em ato de reger e dominar tudo, e de
reinar com a coroa de rei na cabeça e com o cetro de comando na mão, e enquanto o via nesta
atitude me disse, mas em latim, pelo que eu digo como tenho entendido:
(2) "Minha filha, Eu sou o governante dos reis e Senhor dos dominadores, e só a Mim corresponde
este direito de justiça que me deve a criatura, e que não dando-me isso, me desconhece como
Criador e dono de tudo".
(3) E enquanto dizia isto, parecia que pegava o mundo pela mão e o agitava de cima a baixo para
fazer com que as criaturas se submetessem a seu regime e domínio. E ao mesmo tempo via
também como nosso Senhor regia e dominava minha alma com uma maestria tal, que me sentia
toda abismada nele, e dele partia o regime de minha mente, dos afetos, dos desejos, assim que
entre Ele e eu havia tantos fios elétricos, que tudo dirigia e dominava.

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6-58
Agosto 6, 1904

A privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e sua finalidade é destruir a vida humana, para dar lugar à vida divina.

(1) Esta manhã me passei muito amarga pela privação de meu sumo e único bem, era tanto a dor
da privação, que encontrando-me fora de mim mesma, era tanta a pena da alma, que a mesma
pena lhe fornecia tal força, que o que encontrava queria destruir como se fosse um obstáculo para
encontrar seu tudo, Deus, e não encontrando-o gritava, chorava, corria mais que o vento, queria
transtornar tudo, pôr tudo de cabeça para encontrar a vida que lhe faltava. Oh! privação, quão
intensa é sua amargura, sua dor é sempre nova, e porque é sempre nova a alma sente sempre
nova a acerbidade da pena; minha alma sente como se uma só carne se separasse em tantos
pedaços, e todos aqueles pedaços pedem com justiça a própria vida, e só a encontrarão se
encontrarem a Deus mais que vida própria.

Mas quem pode dizer o estado em que me encontrava?
Enquanto eu estava nisso, havia muitos santos, anjos, almas purgantes fazendo-me coroa ao redor
e impedindo-me de correr, compadecendo-me e assistindo-me, mas para mim era tudo inútil,
porque entre eles não encontrava Aquele que era o único que podia mitigar a minha dor e restituir-
me a vida, e mais gritava chorando: "Dizei-me, onde, onde o posso encontrar? Se querem ter
piedade de mim, não demorem em indicá-lo, porque não posso mais". Então, depois disto saiu do
fundo de minha alma, parecia que fingia dormir sem sentir pena da dureza do meu pobre estado, e
apesar de que Ele não sentia pena e dormia, ao só vê-lo respirei a própria vida como se respira o
ar, dizendo: "Ah, está aqui comigo" No entanto não isenta de pena ao ver que nem sequer me
punha atenção. Por isso, depois de muito pesar, como se tivesse acordado me disse:

(2) "Minha filha, todas as outras tribulações podem ser penitências, expiações, satisfações, mas só
a privação é pena de fogo que acende, consome, aniquila, e não se rende se não vê destruída a
vida humana, mas enquanto consome, vivifica e constitui a Vida Divina.

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6-59
Agosto 7, 1904

Os primeiros a perseguir a Igreja serão os religiosos.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, encontrei-me rodeada de anjos e santos, que me
disseram:
(2) "É necessário que você sofra mais pelas coisas iminentes que estão para acontecer contra a
Igreja, porque se não acontecerem imediatamente, o tempo as fará acontecer mais moderadas e
com menor ofensa de Deus".

(3) E eu disse: "Porventura está em meu poder sofrer? Se o Senhor me dá, de boa vontade
sofrerei". Entretanto fui tomada e levada ao trono de nosso Senhor, e todos pediam que me fizesse
sofrer, e Jesus bendito, vindo ao nosso encontro na forma de crucificado, participava-me das suas
dores, e não só uma vez, senão que quase toda a manhã a passei em contínuas renovações da
crucificação, e depois me disse:
(4) "Minha filha, os sofrimentos desviam minha justa ira e se renova a luz da graça nas mentes
humanas. Ah! filha, você acha que serão os leigos os primeiros a perseguir minha Igreja? Ah! não,
serão os religiosos, as mesmas cabeças, que fingindo por agora filhos, pastores, mas no fundo são
serpentes venenosas que se envenenam a si mesmos e aos demais, os que começarão a
prejudicar entre si mesmos esta boa mãe, e depois seguirão os leigos".
(5) E depois, tendo-me chamado a obediência, o Senhor retirou-se mas todo amargurado.

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6-60
Agosto 8, 1904

Buscar a Jesus no nosso interior, não no exterior.

Tudo deve estar encerrado numa palavra: "Amor". Quem ama a Jesus é outro Jesus.

(1) Continuava esperando, e assim que veio o meu adorável Jesus, se bem o sentia próximo, mas
fazia por tocá-lo e fugia, e quase me impedia sair de mim mesma para ir em sua busca. Depois de
ter esperado muito, assim que se fez ver me disse:
(2) "Minha filha, não me busques fora de ti senão dentro de ti, no fundo de tua alma, porque se
saíres fora e não me encontrares sofrerás muito e não poderás resistir; se me podes encontrar com
mais facilidade, por que te queres fatigar?"
(3) E eu: "Creio que se não te encontro rápido em mim, posso te encontrar fora, é o amor que me
empurra a isto".
(4) E Ele: "Ah! É o amor que te empurra para isto? Tudo, tudo deveria estar encerrado em uma só
palavra: "Amor", e quem não encerra tudo nisto, pode-se dizer que do amar-me a alma não
conhece nem sequer um jota, e à medida que a alma me ame, assim lhe aumentarei o dom do
sofrer".
(5) E eu, interrompendo a sua fala, toda surpreendida e aflita, disse: "Vida minha e todo o meu
bem, então eu pouco ou nada sofro, por conseguinte pouco ou nada te amo, que espanto, ao só
pensar que não te amo minha alma sente por isso um vivo desgosto, e quase me sinto ofendida
por Ti".
(6) E Ele acrescentou: "Eu não tento te desagradar, teu desgosto oprimia mais meu coração que o
teu, e além disso não deves olhar só os sofrimentos corporais, senão também os espirituais, a
vontade verdadeira que tens de sofrer, porque o querer a alma verdadeiramente sofrer, diante de
mim é como se a alma o tivesse sofrido, por isso acalma-te e não te perturbes, e deixa-me
continuar a dizer: Você nunca viu dois amigos íntimos? Oh! Como tratam de imitar-se um ao outro
e de retratar em si mesmo o amigo, portanto imitam a voz, os modos, os passos, as obras, os
vestidos, assim que o amigo pode dizer: Aquele que me ama é outro eu mesmo, e sendo eu
mesmo não posso fazer menos que amá-lo". Assim faço Eu pela alma que se fecha a toda si
mesma como dentro de um breve giro de amor, todo Eu me sinto como retratado nela mesma, e
encontrando-me Eu mesmo, de todo coração a amo, e não posso fazer outra coisa que estar com
ela, porque se a deixo me deixaria a Mim mesmo".
(7) Enquanto isto dizia desapareceu.

Buscar a Jesus no nosso interior, não no exterior.

Tudo deve estar encerrado numa palavra: "Amor". Quem ama a Jesus é outro Jesus.

6-61
Agosto 9, 1904
Não são as obras que constituem o mérito do homem, mas apenas a obediência, como parto da Vontade Divina.

(1) Tendo tardado em vir, de repente, como um golpe de luz veio e fiquei dentro e fora toda cheia
de luz, mas não sei dizer o que nesta luz compreendeu e provou minha alma, só digo que depois o
bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, não são as obras que constituem o mérito do homem, mas somente a obediência é
a que constitui todos os méritos como parto da Vontade Divina, tanto que tudo o que fiz e sofri no
curso de minha Vida, tudo foi parto da Vontade do Pai, por isso os meus méritos são inumeráveis,
porque todos foram constituídos pela obediência divina. Por isso Eu não olho tanto para a
multiplicidade e grandeza das obras, mas à conexão que têm, diretamente à obediência divina, ou
indiretamente à obediência de quem me representa".

53. A expulsão dos vendedores do Templo.
24 de outubro de 1944.
[…].
53.1Vejo Jesus que vai entrando no recinto do Templo, com Pedro, André,
João, Tiago, Filipe e Bartolomeu.
Há uma grande multidão, tanto dentro, como fora do Templo. Grupos de
peregrinos chegam de todos os pontos da cidade. Do alto da colina, sobre a
qual está construído o Templo, vêem-se as ruas da cidade, estreitas e tortas,
a fervilhar de gente. Parece que por entre o branco monótono das casas tenha
sido estendida uma fita movediça de mil cores. Sim. A cidade tem o aspecto
de um bizarro brinquedo, feito de fitas matizadas, entre dois fios brancos, e
todas convergentes até o ponto onde brilham as cúpulas da Casa do Senhor.
Mas no interior há… uma verdadeira feira. Todo recolhimento que havia
no lugar santo se acabou. Uns correm, outros chamam, outros fazem negócios
com seus cordeiros, gritam e imprecam por causa do preço exorbitante,
enquanto outros empurram os pobres animais, que balem, para dentro dos
recintos (são divisões rudimentares, feitas com cordas ou com estacas, em
cuja entrada está o vendedor, ou o dono que seja, à espera dos
compradores). Pauladas, balidos, blasfêmias, reclamações, insultos aos
empregados não solícitos nas operações de ajuntamento e escolha dos
animais e aos compradores que regateiam os preços, ou que vão-se embora.
E maiores insultos àqueles que, previdentes, levaram o seu cordeiro.
Ao redor das bancas dos cambistas, outro vozerio. Compreende-se que
o Templo funcionava como… Bolsa e Bolsa negra; não sei se é sempre ou só
neste tempo da Páscoa. O valor das moedas não era fixo. Havia um valor
legal, certamente terá havido, mas os cambistas impunham um outro,
apropriando-se de um tanto, marcado arbitrariamente pelo câmbio das
moedas. E eu vos asseguro que eles não brincavam nessas operações de
usura! Quanto mais alguém era pobre e vinha de longe, mais era depenado.
Os velhos, mais que os jovens e os provenientes de fora da Palestina, mais
que os velhos.
Os pobres velhinhos olhavam e tornavam a olhar para o seu pecúlio
ajuntado, Deus sabe com quanto trabalho, durante um ano inteiro; agora eles
o tiravam e o recolocavam junto ao peito cem vezes, indo de um cambista a
outro, e acabavam voltando ao primeiro que então se vingava da inicial
desistência deles aumentando o ágio do câmbio… e então, por entre
suspiros, as grandes moedas caíam das mãos de seus donos e passavam para
as garras do usurário sendo trocadas por moedas menores. Depois era outra
tragédia nas escolhas, nos cálculos e suspiros diante dos vendedores de
cordeiros, os quais, aos velhinhos já meio cegos, impingiam os cordeiros
mais míseros.
53.2Vejo voltar dois velhinhos, ele e ela empurrando um pobre cordeirinho
que deve ter sido achado defeituoso pelos sacrificadores. Pranto, súplicas,
maus tratos e palavrões se cruzam, sem que o vendedor se comova.
– Pelo que estais dispostos a gastar, ó galileus, é até muito bonito o que
eu vos dei. Ide embora! Ou dai-me mais cinco moedas para receberdes um
mais bonito.
– Em nome de Deus! Somos pobres e velhos! Queres impedir-nos de
fazer a Páscoa, que talvez seja a última para nós? Não te basta o que
quiseste cobrar por um pequeno animal?
– Saí do caminho, ó sujos! Está se aproximando de mim o velho José.
Ele me honra com a sua preferência. Deus esteja contigo! Vem, escolhe!
Entra no recinto aquele que é chamado o velho José, o de Arimatéia, e
pega um magnífico cordeiro. Ele passa, soberbo e pomposo em suas vestes,
sem olhar para os pobres que gemem à porta, aliás, na entrada do recinto.
Quase choca-se com eles, especialmente quando sai com o cordeiro gordo
que vai balindo.
53.3Mas Jesus também já está perto. Também Ele já fez a sua compra;
Pedro, que provavelmente foi quem fez o negócio por Ele, vem puxando um
cordeiro pequeno.
Pedro queria ir logo ao lugar onde se faz o sacrifício. Mas Jesus se
afasta dali indo para o seu lado direito, em direção aos dois velhinhos‐
assustados que estão chorando, hesitantes, nos quais a multidão esbarra, e
aos quais o vendedor insulta.
Jesus, que é tão alto que as cabeças dos dois velhinhos ficam à altura do
seu coração, põe uma mão sobre o ombro da mulher e pergunta:
– Por que choras, mulher?
A velhinha se vira e vê este jovem alto, solene em sua bela veste branca,
com um manto também branco, tudo novo e limpo. Ela deve tomá-lo por um
doutor, tanto pelas vestes, como pelo aspecto; admirada, porque os doutores
e sacerdotes não fazem caso do povo nem protegem o povo contra a avidez
dos vendedores, ela diz a razão por que estão chorando.
Jesus se volta ao homem dos cordeiros:
– Troca este cordeiro para estes fiéis. Ele não é digno do altar, como
também não é digno que tu te aproveites de dois velhinhos porque são fracos
e indefesos.
– E Tu, quem és?
– Um justo.
– A tua fala e a dos teus companheiros mostram que és um galileu. Pode
haver algum justo na Galiléia?
– Faz o que estou te dizendo, e sejas justo.
– Ouvi! Ouvi o galileu defensor dos seus semelhantes! Ele quer ensinar
a nós no Templo!
O homem ri e zomba imitando o sotaque dos galileus, que é o sotaque
judaico mais cantado e o mais rico de doçura, ao menos assim me parece.
Pessoas os rodeiam e outros vendedores e cambistas tomam a defesa de seu
companheiro contra Jesus.
Entre os presentes há dois ou três rabinos irônicos. Um deles pergunta:
– Tu és doutor? (de modo, capaz de fazer até Jó perder a paciência).
– Tu o disseste.
– O que é que ensinas?
– Ensino o seguinte: a fazer da Casa de Deus casa de oração e não um
lugar de usura e de comércio. Isto é o que Eu ensino.
53.4 Jesus está terrível. Parece o arcanjo posto à porta do Paraíso perdido.
Não tem espada flamejante na mão, mas tem raios em seus olhos e com eles
fulmina os escarnecedores e os sacrílegos. Na mão não tem nada. Só a sua
santa ira. E com esta, caminhando rápido e com imponência por entre as
bancas, esparrama as moedas que estavam cuidadosamente empilhadas
conforme os seus valores; vira mesas e mesinhas; tudo vai caindo, com
estrondo, ao chão, entre um grande barulho de metais ricocheteando, de
madeiras que se batem percutindo e gritos de ira, de susto e de aprovação.
Depois, arrancando das mãos dos que cuidam dos animais, as cordas com
que eles prendiam os bois, as ovelhas e cordeiros em seus lugares, faz com
elas um açoite bem duro, cujos nós, que formam os laços corrediços, se
transformam em flagelos. Levanta-o, gira e abaixa, sem piedade. Sim, vos
asseguro: sem piedade.
Aquela saraivada imprevista golpeia cabeças e costas. Os fiéis se
afastam, admirados da cena; os culpados são perseguidos até o muro externo
e põem-se a correr, deixando no chão o dinheiro e atrás de si os animais
grandes e pequenos, numa grande confusão de pernas, de chifres e de asas;
uns correm, outros voam indo embora; mugidos, balidos, arrulhos de pombos
e rolas, junto a risadas e gritos dos fiéis, que vão atrás dos usurários em
fuga, superam até o lamentoso coro dos cordeiros que certamente estão
sendo degolados em algum outro pátio.
53.5Chegam correndo os sacerdotes, com os rabinos e os fariseus. Jesus
está ainda no meio do pátio, de volta da sua perseguição. O açoite está ainda
em sua mão.
– Quem és tu? Como tomas a liberdade de fazer isso, perturbando as
cerimônias prescritas? De qual escola provéns? Nós não te conhecemos nem
sabemos quem és.
– Eu sou Aquele que posso. Tudo Eu posso. Desmanchai este Templo
que Eu o erguerei de novo para dar louvores a Deus. Eu não perturbo a
santidade da Casa de Deus e das cerimônias, mas vós a perturbais,
permitindo que sua morada se torne sede de usurários e vendedores. Minha
escola é a escola de Deus. A mesma que teve todo Israel pela boca do
Eterno que falava a Moisés. Vós não me conheceis? Me conhecereis. Não
sabeis de onde Eu venho? Vós o sabereis.
53.6E, voltando-se para o povo, sem dar mais atenção aos sacerdotes, alto
na veste branca, com o manto aberto e flutuante nas costas, com os braços
abertos como um orador no ponto mais alto do seu discurso, ele diz:
– Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio, está dito
[97]
: “Tu constituirás
juízes e magistrados em todas as portas… e eles julgarão o povo com justiça
sem penderem para nenhum lado. Tu não terás acepção de pessoas nem
aceitarás presentes, porque os presentes cegam os olhos dos sábios e alteram
as palavras dos justos. Com justiça seguirás o que for justo, a fim de que
vivas e possuas a terra que o Senhor teu Deus te tiver dado.”
Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio está dito: “Os sacerdotes e os
levitas e todos aqueles da tribo de Levi não terão parte na herança com o
resto de Israel, porque devem viver dos sacrifícios ao Senhor e das ofertas
que a Ele são feitas; nada terão das posses dos seus irmãos, porque o Senhor
é a herança deles.
Ouvi, ó vós de Israel! No Deuteronômio está dito: “Não emprestarás
com juros a teu irmão, nem dinheiro nem grãos, nem qualquer outra coisa.
Poderás emprestar com juros ao estrangeiro; ao teu irmão, ao invés,
emprestarás sem juros aquilo de que ele precisar.”
Isto disse o Senhor.
Agora estais vendo que sem justiça para com o pobre é como se julga
em Israel. Não é para aquele que é justo, mas é para o forte que se inclinam;
e ser pobre, ser povo, quer dizer ser oprimido. Como pode o povo dizer:
“Quem nos julga é justo”, se ele vê que só os poderosos são respeitados e
ouvidos, enquanto que o pobre não tem quem o ouça? Como pode o povo
respeitar o Senhor, se vê que não o respeitam aqueles que mais deviam fazêlo? É respeito ao Senhor a violação dos seus mandamentos? Por que, então,
os sacerdotes em Israel têm posses e aceitam presentes dos publicanos e dos
pecadores, os quais assim fazem para terem benévolos os sacerdotes, assim
como estes fazem para terem um abastado cofre?
Deus é a herança dos seus sacerdotes. Para esses Ele, o Pai de Israel é o
Pai que, mais do que nunca, provê o alimento, como é justo. Mas não mais
do que o justo. Ele não prometeu aos seus servos do Santuário nem bolsas
nem posses. Na eternidade terão o Céu pela sua justiça, como o terão
Moisés, Elias, Jacó e Abraão. Mas nesta terra não devem ter senão a veste
de linho e o diadema de ouro incorruptível: pureza e caridade; e que o
corpo seja servo do espírito, que é servo do verdadeiro Deus, e não seja o
corpo senhor do espírito e contra Deus.
Foi-me perguntado com que autoridade Eu faço isto. E eles, com que
autoridade profanam o mandamento de Deus e permitem, à sombra dos
muros sagrados, a usura contra os irmãos de Israel que aqui vêm para
obedecer à ordem divina? Foi-me perguntado de que escola é que Eu venho
e respondi: “Da escola de Deus.” Sim, Israel, Eu venho a ti, e te reporto a
esta escola santa e imutável.
53.7Quem quer conhecer a Luz, a Verdade, a Vida, quem quer ouvir de
novo a Voz de Deus falando ao seu povo, venha a Mim. Vós seguistes
Moisés, através dos desertos, ó vós de Israel. Segui-me, que Eu vos levo,
através de um deserto bem mais tristonho, ao encontro da verdadeira Terra
feliz. Por um mar aberto, ao comando de Deus, a essa vos levo. Levantando
o meu Sinal, de todo mal Eu vos curo.
A hora da Graça chegou. Os Patriarcas a esperaram e morreram
esperando-a. Predisseram-na os Profetas e morreram nesta esperança.
Sonharam com ela os justos e morreram confortados por este sonho. Agora,
ela surgiu.
Vinde. “O Senhor vai julgar o seu povo e fazer misericórdia aos seus
servos”, como prometeu pela boca de Moisés.
O povo, apinhado ao redor de Jesus, ficou de boca aberta, escutando-o.
Depois, todos comentam as palavras do novo Rabi e fazem perguntas aos
seus companheiros.
Jesus se encaminha para um outro pátio separado deste por uma série de
pórticos. Os amigos o seguem e a visão termina.
[97] está dito, em: Deuteronómio 16,18-20; 18,1-2; 23,20-21.

54. O encontro com Judas de Keriot e com Tomé.
Simão Zelote curado da lepra.

26 de outubro de 1944.
54.1 Jesus está junto aos seus seus discípulos. Tanto no outro dia, como
hoje, não vejo Judas Tadeu que também havia dito querer ir a Jerusalém com
Jesus.
Devem ainda estar sendo celebradas as festas pascais, pois vê-se muita
gente pela cidade. Está anoitecendo e muitos se apressam em ir para as suas
casas.
Jesus também está indo para a casa onde está hospedado. Não é a casa
do Cenáculo, que fica mais na cidade, ainda que nas imediações desta. A
casa onde está Jesus hospedado é uma verdadeira casa de campo entre
bastas oliveiras. Da rústica pracinha, que está à sua frente, vêem-se as
árvores que descem pelos declives ao longo da colina, detendo-se num lugar
onde há um pequeno córrego de poucas águas, que se vai por entre uma
enseada que está entre duas colinas pouco altas. Sobre uma das colinas está
o Templo, sobre a outra só oliveiras e mais oliveiras. Jesus está no começo
do declive desta branda colina, que sobe suavemente, na mansidão de suas
árvores pacíficas.
– João, aí fora estão dois homens esperando o teu amigo –diz um homem
já de idade que deve ser o camponês ou o dono do olival. Diria que João o
conhece.
– Onde estão? Quem são?
– Não sei. Um deles certamente é judeu. O outro… eu não saberia dizer.
Não perguntei a ele.
– Onde estão?
– Na cozinha, esperando e… e… sim… há também um outro que está
todo cheio de feridas… Eu o mandei esperar lá porque… não queria que ele
fosse um leproso… Diz ele que quer ver o Profeta que falou no Templo.
Jesus, que até aquele momento havia permanecido calado, diz:
– Vamos primeiro a esse. Diz aos outros que venham, se quiserem.
Falarei aqui no olival com eles.
E se dirige para o ponto indicado pelo homem.
– E nós? Que fazemos? –pergunta Pedro.
– Vinde, se quiserdes.
54.2Um homem todo coberto está encostado ao pequeno muro rústico que
sustenta um outeiro, bem perto do limite do sítio. Deve ter subido ali por um
pequeno atalho que lá conduz costeando o córrego.
Quando vê Jesus vir em sua direção, grita:
– Para trás, para trás! Mas também piedade!
E descobre o seu tronco, deixando cair a veste. Se o rosto já está
coberto de crostas, o tronco é um bordado de chagas. Algumas já reduzidas a
buracos fundos, outras simplesmente como queimaduras vermelhas, outras
esbranquiçadas e lúcidas como se sobre elas tivesse um vidro branco.
– És leproso! Que queres de Mim?
– Não me amaldiçoes! Não me apedrejes! Disseram-me que na outra
tarde Te manifestaste como Voz de Deus e Portador da Graça. Disseram-me
que Tu asseguraste que, erguendo o teu sinal, curas com ele todos os males.
Ergue-o sobre mim. Eu venho dos sepulcros… lá… Eu rastejei como uma
serpente por entre as sarças da beira do córrego para chegar até aqui sem ser
visto. Esperei que a tarde chegasse para poder vir, porque na penumbra vêse menos quem eu sou. Eu ousei… encontrei este, que é da casa e que é
muito bom. Ele não me matou. Somente me disse: “Espera junto ao muro.”
Tem piedade, Tu também!
Visto que Jesus se aproxima (sozinho, porque os seis discípulos e o
dono do lugar, com os dois desconhecidos, estão longe e mostram claramente
aversão) diz ainda:
– Não te adiantes mais! Não mais! Eu estou infeccionado!
Mas Jesus prossegue. Olha para ele com tanta piedade, que o homem se
põe a chorar, ajoelha-se com o rosto quase ao chão e geme, dizendo:
– O teu sinal! O teu sinal!
– Ele será elevado, quando chegar a sua hora. Mas, a ti Eu digo:
levanta-te! Sê curado. Eu quero. E sê tu o meu sinal nesta cidade que precisa
conhecer-me. Levanta-te. Eu te digo! E não peques mais, em reconhecimento
a Deus!
O homem se levanta devagar. Parece que ele emerge por entre as ervas
altas e floridas como de um lençol do túmulo… e está curado. Ele se olha,
aos últimos raios da luz do dia. Está mesmo curado. E grita:
– Eu estou limpo! Oh! Que é que devo fazer agora por Ti?
– Obedecer a Lei. Vai ao sacerdote. Sê bom daqui em diante. Vai.
O homem faz um movimento para se jogar aos pés de Jesus, mas ele se
lembra de que ainda está impuro, segundo a Lei, e se detém. Mas ele beija
suas próprias mãos e manda o beijo a Jesus e chora. De alegria.
54.3Os outros estão imobilizados, como que petrificados. Jesus volta as
costas ao curado e, sorrindo, os faz voltarem a si.
– Amigos, não era mais que uma lepra da carne. Mas vós vereis cair a
lepra dos corações. Sois vós que me procurais? –diz aos dois
desconhecidos–: Eis-me aqui. Quem sois?
– Nós Te ouvimos na outra tarde… no Templo. E Te procuramos pela
cidade. Um que se diz teu parente, nos disse que estavas aqui.
– Por que me estais procurando?
– Para seguir-te, se nos quiseres, porque Tu tens palavras de verdade.
– Para seguir-me? Mas sabeis para onde me dirijo?
– Não Mestre. Mas com certeza para a glória.
– Sim. Mas para uma glória que não é da terra. Para uma glória que tem
sua sede no Céu e que se conquista com a virtude e o sacrifício. Por que
quereis me seguir? –torna a perguntar.
– Para termos parte na tua glória.
– Segundo o Céu?
– Sim, segundo o Céu.
– Nem todos podem chegar ali. Porque Mamon arma ciladas aos
desejosos do Céu, mais do que aos outros. E só quem sabe querer fortemente
é quem resiste. Por que seguir-me se o seguir-me quer dizer uma luta
contínua com o inimigo que está em nós, com o mundo inimigo e com o
Inimigo, que é Satanás?
– Porque assim quer o nosso espírito, que ficou conquistado por Ti. Tu
és santo e poderoso. Nós queremos ser teus amigos.
– Amigos!!!
Jesus se cala e suspira. Depois, olha fixo àquele que sempre vinha
falando e que agora deixou cair o manto da cabeça apresentando-a toda
descoberta. É Judas de Keriot.
– Quem és tu, que falas melhor do que um homem do povo?
– Sou Judas, de Simão. Sou natural de Keriot. Mas sou do Templo (ou
estou no Templo). Espero o Rei dos judeus; vivo sonhando com ele. Rei te
reconheci na palavra e Rei te vi no gesto. Toma-me Contigo.
– Tomar-te? Agora? Tão depressa? Não.
– Por que, Mestre?
– Porque é melhor pesar-nos a nós mesmos, antes de pegarmos caminhos
muito íngremes.
– Não crês em minha sinceridade?
– Tu o disseste. Eu creio no teu impulso. Não creio na tua constância.
Pensa nisso, Judas. Agora Eu vou-me embora, e voltarei para a festa de
Pentecostes. Se estiveres no Templo, me verás. Pesa-te a ti mesmo. 54.4E tu,
quem és?
– Um outro que te viu. Queria estar contigo. Mas agora sinto temor.
– Não. A presunção é uma ruína. O temor pode ser um obstáculo, mas,
se ele vem da humildade, pode até ajudar. Não temas. Pensa, tu também, e,
quando Eu vier…
– Mestre, tu és muito santo. Tenho medo de não ser digno. Não de outra
coisa. Porque sobre o meu amor eu não temo.
– Como te chamas?
– Tomé, chamado o Dídimo.
– Eu me lembrarei do teu nome. Vai em paz.
Jesus se despede deles e se retira para a casa onde está hospedado, para
o jantar.
54.5Os seis, que já estão com Ele, querem saber de muitas coisas.
– Por que, Mestre, fizeste diferença entre os dois?… Porque uma
diferença houve! Os dois tinham o mesmo impulso… –pergunta João.
– Amigo, também o mesmo impulso pode ter diversa substância e
produzir efeito diferente. É verdade que os dois têm o mesmo impulso. Mas
um não é igual ao outro, quanto ao fim a que visam. E aquele que parece o
menos perfeito é o mais perfeito, porque não está seduzido pela glória
humana. Ele me ama, porque me ama.
– Eu também.
– E eu também.
– E eu.
– E eu.
– E eu.
– E eu.
– Eu sei. Eu conheço quem sois.
– Então, somos perfeitos?
– Oh! Não! Mas, assim como Tomé, vós também o sereis, se
permanecerdes em vossa vontade de amor. Perfeitos?! Oh! Meus amigos! E
quem é perfeito, a não ser Deus?
– Tu o és.
– Em verdade vos digo que não sou perfeito por Mim, se pensais que Eu
sou um profeta. Nenhum homem é perfeito. Mas perfeito Eu sou, porque Este
que vos está falando é o Verbo do Pai. Ele é parte
[98]
de Deus, é o seu
Pensamento, que se faz Palavra. Eu tenho a Perfeição em Mim. E deveis crer
que Eu sou assim, se credes ser Eu o Verbo do Pai. Contudo vós estais
vendo, amigos. Eu quero ser chamado o Filho do homem[99]
porque aniquilo
a Mim mesmo, pondo em minhas costas todas as misérias do homem para
levá-las comigo, primeiro ao meu patíbulo e depois de tê-las levado, anulálas, mas não por as ter tido como minhas. Que peso, amigos! Mas, Eu o
levo com alegria. Levá-lo é a minha alegria porque sendo o Filho da
humanidade, tornarei a humanidade filha de Deus, como foi no primeiro dia.
Jesus fala docemente, sentado à pobre mesa, com as mãos que
gesticulam calmamente sobre a mesma, o rosto um pouco inclinado,
iluminado de alto a baixo pela luz de uma pequena candeia colocada sobre a
mesa. Ele sorri levemente, já Mestre na imponência e tão amigo no trato. Os
discípulos o escutam atentos.
54.6 – Mestre, por que é que o teu primo, mesmo sabendo onde moras, não
veio?
– Ah! Meu Pedro!… Tu serás uma das minhas pedras, a primeira. Mas
nem todas as pedras são fáceis de se usar. Já viste os mármores do palácio
pretório? Arrancados, com muito trabalho, do seio das montanhas, agora
fazem parte do Pretório. Por outro lado, olha aquelas pedras, que estão
brilhando lá longe à luz do luar, por entre as águas do Cedron. Elas vieram
por si mesmas para o leito do rio e se alguém as quiser, elas logo se deixam
levar. O meu primo é como as primeiras pedras da qual falo… O seio do
monte, a família, o disputa Comigo.
– Mas eu quero ser em tudo como as pedras do Cedron. Por Ti, estou
pronto a deixar tudo: casa, esposa, pesca, irmãos. Tudo, Rabi, por Ti.
– Eu sei, Pedro. Por isto Eu te amo. Mas Judas também virá.
– Quem? Judas de Keriot? Não o levo muito em conta. É um belo moço,
mas… eu prefiro… prefiro a mim mesmo…
Riem-se todos da piada de Pedro.
– Não há nada para rir. Quero dizer que prefiro um galileu franco, rude,
um pescador, mas sem fraude, a… homens da cidade que… não sei… Mas o
Mestre entende o que eu quero dizer.
– Sim, entendo. Mas não julgues. Temos necessidade uns dos outros
nesta terra e os bons estão misturados com os maus, como as flores em um
campo. A cicuta está ao lado da saudável malva.
54.7 – Eu queria perguntar uma coisa….
– Qual, André?
– João me contou o milagre feito em Caná… Nós tínhamos muita
esperança de que Tu fizesses um deles em Cafarnaum… e Tu disseste que
não farias milagre, se antes não tivesses cumprido a Lei. Por que então o
fizeste em Caná? E por que não em tua pátria?
– Toda obediência à Lei é união com Deus e, por isso, um aumento de
nossa capacidade. O milagre é a prova da união com Deus, da presença
benévola e consciente de Deus. Por isso Eu quis cumprir o meu dever de
israelita antes de iniciar a série de prodígios.
– Mas Tu não estavas obrigado pela Lei.
– Por que? Como Filho de Deus, não. Mas, como filho da Lei,
sim. Israel, por enquanto, só me conhece como tal… E, mesmo depois, quase
todo Israel me conhecerá como tal, aliás, como menos ainda. Mas Eu não
quero dar escândalo a Israel e por isso obedeço a Lei.
– Tu és santo.
– A santidade não exclui a obediência. Ao contrário, a aperfeiçoa. Além
de tudo mais, é preciso dar o exemplo. Que diríeis de um pai, de um irmão
mais velho, de um mestre, de um sacerdote, que não desse bom exemplo?
– E então, o caso de Caná?
– Em Caná, era a alegria que à minha mãe devia ser dada. Caná é a
antecipação que se deve à minha mãe. Ela é a antecipadora da Graça. Aqui
Eu presto honra à Cidade santa, fazendo dela publicamente o lugar do início
do meu poder de Messias. Mas lá, em Caná, Eu prestava honra à santa de
Deus, à toda santa. O mundo me tem por meio dela. É justo que para ela seja
feito o meu primeiro prodígio no mundo.
54.8Batem à porta. É Tomé de novo. Ele entra e se lança aos pés de Jesus.
– Mestre… eu não posso ficar esperando a tua volta. Deixa-me ficar
Contigo. Eu sou cheio de defeitos, mas tenho este amor, único, grande,
verdadeiro, o meu tesouro. Ele é teu, é para Ti. Deixa-me Mestre…
Jesus põe-lhe a mão sobre a cabeça.
– Fica, Dídimo. Segue-me. Felizes aqueles que são sinceros e de
vontade firme. Benditos sois vós. Para Mim sois mais do que parentes,
porque me sois filhos e irmãos, não segundo o sangue, que morre, mas
segundo a vontade de Deus e a vossa vontade espiritual. Agora Eu digo que
não tenho parente mais chegado do que aquele que faz a vontade de meu Pai;
e vós a fazeis, porque quereis o bem.
Assim termina a visão. 54.9São 16:00 horas, e já caem sobre mim as
sombras do malestar que sinto que será violento, lógica conseqüencia da
penosa hora de ontem…
Mas também em 24 de Outubro estava muito mal. Tanto que, terminada a
visão, escrita com uma dor de cabeça própria de meningite, não tive
coragem de acrescentar que vi finalmente Jesus vestido como me aparece
quando é todo para mim: de uma suave veste de lã branca quase da cor
marfim e com o manto igual. A veste que trazia na sua primeira manifestação em Jerusalém como Messias.
[98] Ele é Parte, a entender-se não como “porção”, mas como “pertença”. Diferente do homem, que pertence a Deus não por
natureza mas por semelhança (nota em 167.9), Jesus pertence a Deus por natureza, ou seja, é Deus como o Pai (Ele dirá em
487.4: “Eu sou dele, sou sua parte e um Todo com Ele”) . Ainda por natureza Jesus é também Homem, sendo Ele a Palavra
encarnada do Pai. Por isso, não no ser um profeta (como disse acima) está a sua perfeição, mas em ser o Homem-Deus, o qual
pela parte humana foi completado com o superar das tentações (como dirá em 80.10 e como resulta no fim da nota em 174.9).
Sobre as duas naturezas, divina e humana, de Jesus, são fundamentais os discursos dos capítulos 487 e 506.
[99] Filho do homem, é provavelmente o mais recorrente dos títulos atribuídos a Jesus e que Jesus atribui a Si próprio. O seu
significado genérico é ilustrado em 343.4; mas o seu significado messiânico encontra-se aqui e, por exemplo, em 126.3 e em
603.1.
[100] veste que trazia, em 53.3.



CAPÍTULO 21
O ALTÍSSIMO ORDENA À MARIA SANTÍSSIMA TOMAR O ESTADO D E MATRIMÔNIO.
Maria recebe ordem para abraçar o estado de matrimônio

742. Aos treze anos e meio de idade, estando muito crescida, nossa
formosíssima princesa Maria puríssima, teve outra visão abstrativa da divindade,
pela mesma ordem e forma que as outras deste gênero já referidas. Nesta visão, podemos dizer, aconteceu o mesmo que a
Escritura narra de Abraão, quando Deus lhe mandou sacrificar seu querido filho
Isaac, único penhor de todas suas esperança. Tentou Deus a Abraão, diz Moisés
(Gn 22,1-2), experimentando e examinando a sua pronta obediência para coroá-la.
De nossa grande Senhora também podemos dizer, foi nesta visão tentada
por Deus, ao mandar-lhe tomar estado de matrimônio. Daqui também compreendemos a verdade destas palavras: Quão
ocultos são os juízos do Senhor, e quanto se elevam seus caminhos (Rm 11, 33) e pensamentos acima dos nossos! (Is 55,9)

Distanciavam-se como o céu da terra, os de Maria Santíssima, daqueles que o Altíssimo
lhe manifestou, ao lhe ordenar receber esposo para sua guarda e companhia. Em
toda a vida, quanto era de sua vontade, havia proposto não ter esposo (,)
, renovando o voto de castidade que tão cedo havia feito.

Perplexidade de Maria

743. Ao entrar no templo a divina princesa Maria, o Altíssimo celebrara com
Ela aquele solene desposório que acima descrevi . Fora confirmado pela aprovação do voto de castidade que então Ela fez,
na presença e glória de todos os espíritos angélicos. A candidíssima pomba renunciar a toda ligação humana, sem preocupação, desejo e esperança de afeto de qualquer criatura, totalmente entregue e transformada no puro e casto amor daquele
sumo bem que nunca falta. Sabia que seria mais casta amando-O, mais pura tocando0, e mais virgem recebendo-O.
Possuindo esta certeza, qual seria a admiração e surpresa produzida no inocentíssimo coração desta divina donzela, a ordem do Senhor?
Sem outras explicações, ordenava recebesse por esposo homem terreno, a Ela que vivia convencida de ter por esposo somente a
Deus? Maior foi esta prova que a de Abraão (Gn 22), pois este não amava tanto Isaac,
quanto Maria Santíssima estimava sua intacta castidade.

Resposta de Maria

744. Não obstante, a tão inesperado mandato, suspendeu a prudentíssima
Virgem o próprio juízo, e somente o usou para crer e esperar, mais que Abraão, contra toda a esperança (Rm 4,18).
Respondeu ao Senhor: - Eterno Deus de incompreensível majestade, Criador do céu e da terra e de tudo quanto eles
contém; vós, Senhor, que pesais os ventos (Jó 28, 25) e com vosso império pondes
termo ao mar (Sl 103,9) e tudo submeteis à vossa vontade (Est 13,9), podeis dispor
deste vil bichinho conforme vosso agrado, sem faltar ao que vos prometi.

Sem me desviar, meu bem e Senhor, de vosso gosto, de novo confirmo
ratifico meu desejo de ser casta durante toda a vida, e ter a vós por meu dono
e Esposo. Já que a mim só compete, como criatura vossa, obedecer-vos, olhai, Esposo meu, que a vós pertence defender
minha humana fraqueza, neste compromisso em que vosso amor me coloca.
Inquietou-se um pouco na parte inferior a castíssima donzela Maria, como
sucedeu depois com a embaixada do arcanjo São Gabriel (Lc 1,9). Esta tristeza,
porém, não lhe diminuiu a heróica obediência que até então mostrara,
abandonando-se completamente nas mãos do Senhor.

Sua Majestade lhe respondeu:
Maria, não se perturbe teu coração, que tua submissão me é agradável. Meu
poderoso braço não é dependente de lei alguma, por minha conta correrá o que a Ti melhor convier.

Deus revela sua vontade ao sumo sacerdote

745. Com esta única promessa do Altíssimo, voltou Maria Santíssima da
visão a seu ordinário estado. Entre a perplexidade e a esperança, nas quais a deixaram a ordem e promessas divinas,
continuou apreensiva. Obrigou-a o Senhor
por este meio, a multiplicar com lágrimas
novos afetos de amor, confiança, fé, humildade, obediência, castidade puríssima
e outras virtudes que seria impossível referir.

Neste ínterim, que nossa grande Princesa preenchia com orações, ânsias e
prudente e resignada apreensão, falou Deus em sonhos ao sumo sacerdote, o santo
Simeão. Mandou-lhe providenciar estado de matrimônio para Maria de Nazaré, filha
de Joaquim e Ana, porquanto Sua Majestade lhe dedicava especial cuidado e amor.
Perguntou o santo sacerdote a Deus, qual era a pessoa, a quem sua vontade desejava dar Maria por esposa.
Ordenou-lhe o Senhor que reunisse os outros sacerdotes e mestres, e lhes propusesse como aquela donzela era órfã e só,
não tendo vontade de se casar. No entanto, de acordo com o costume de as
primogênitas não saírem do templo sem tomar estado, era conveniente que o fizesse, com quem mais a propósito lhes
parecesse.

Reunião dos sacerdotes

746. Obedeceu o sacerdote Simeão à ordem divina. Reuniu os demais,
deu-lhes notícia da vontade do Altíssimo, e lhes propôs a estima que Sua Majestade
votava por aquela donzela, Maria de Nazaré, conforme lhe havia revelado. Achando-se no templo e não tendo pais, era
obrigação deles protegê-la, e procurar esposo digno de mulher tão honesta, virtuosa
e de costumes irrepreensíveis, como todos tinham verificado durante sua permanência no templo.
Além disto, era pessoa muito distinta pela sua condição, seus bens e demais
qualidades, exigindo se ponderasse bem, a quem tudo entregar. Acrescentou ainda
que Maria de Nazaré não desejava abraçar o estado de matrimônio, mas que não era
justo sair do templo sem se casar, por ser órfã e primogênita.

Decisão dos sacerdotes

747. Estudado o caso em reunião, movidos todos por inspiração e luz do céu,
determinaram os sacerdotes que, em negócio que tanto se desejava acertar e em que
o mesmo Senhor havia manifestado seu beneplácito, convinha inquirir sua santa
vontade sobre o restante.
Pedir-lhe-iam designasse, por algum modo, a pessoa mais indicada para
esposo de Maria, da casa e linhagem de David, em cumprimento da lei. Marcaram
para isto um dia, em que reuniriam no templo todos os homens livres e solteiros
dessa linhagem, que então se encontravam em Jerusalém.
Esse dia ocorreu no mesmo em que a Princesa do céu completava catorze
anos de idade. Como era necessário comunicar-lhe essa resolução e pedir-lhe o
consentimento, o sacerdote Simeão chamou-a e lhe expôs a intenção dele e dos
demais sacerdotes, em que lhe dar esposo, antes que ela deixasse o templo.

Resposta de Maria

748. Cheia de virginal pudor, a prudentíssima Virgem, com grande modéstia e humildade, respondeu ao sacerdote: -
Quanto é de minha vontade, Senhor meu, sempre desejei guardar perpétua castidade, dedicando-me a Deus e ao seu serviço
neste santo templo, em agradecimento pelos grandes bens que Dele tenho recebido. Jamais tive intenção, nem inclinação ao
estado de matrimônio, julgando-me incapaz para os cuidados que acarreta. Esta é minha inclinação, porém, vós senhor, que
estais no lugar de Deus, me ensinareis o que for de sua santa vontade.
- Minha filha, replicou o sacerdote, vossos santos desejos serão aceitos pelo Senhor.
Adverti, porém, que nenhuma das donzelas de Israel se abstêm do matrimônio, enquanto aguardamos, conforme as profecias, a vinda do Messias,
julgando-se feliz e abençoada a que tem sucessão de filhos em nosso povo. No estado de matrimônio podeis servir a Deus
com muito fervor e perfeição. Para que tenhais quem vos acompanhe e se conforme a vossas intenções, faremos oração,
pedindo ao Senhor, como vos disse, indique diretamente o esposo que esteja mais
de acordo com sua divina vontade, escolhido entre os descendentes de David.
Pedi o mesmo, com oração contínua, para que o Altíssimo vos atenda e nos guie a todos.

Maria contínua suas orações; resposta divina

749. Isto aconteceu nove dias antes do marcado para a última decisão e
execução do que fora combinado. Durante este tempo, com incessantes lágrimas e
suspiros, a santíssima Virgem multiplicou suas petições ao Senhor, pedindo o cumprimento de sua divina vontade, no que lhe
parecia ser tão importante.
Num destes nove dias, apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: - Esposa e pomba
minha, acalma teu aflito coração, não se perturbe nem contriste. Estou atento a teus
desejos e súplicas, tudo dirijo e o sacerdote se guia por minha luz. Dar-te-ei esposo
que não contrarie teus desejos, mas com minha graça te ajudará neles. Escolherei
entre meus servos um homem perfeito, segundo meu coração.
Meu poder é infinito e não te faltará minha proteção e amparo.

Maria pede a proteção divina

750. Respondeu Maria Santíssima: - Sumo bem e amor de minha alma,
bem conheceis o segredo de meu coração e os desejos que nele depositastes, desde
o instante que de Vós recebi o ser. Conservai-me, pois, Esposo meu, casta e pura,
como por Vós e para Vós me desejastes.
Não desprezeis meus suspiros, não afasteis de vossa divina face. Atend^
Senhor e dono meu, que sou pobre fraca e vil vermezinho, desprezível por minha
baixeza. Se no estado do matrimônio fraquejar, faltarei a Vós e a meus desejos
Disponde meu seguro acerto, não Vos negueis a isso pelo que tenho desmerecido.
Ainda que seja pó inútil (Gn 18, 27) clamarei aos pés de vossa grandeza, esperando, Senhor, em vossas infinitas misericórdias.

Os anjos consolam e exortam Maria

751. Recorria também a castíssima donzela e seus santos anjos, aos quais
excedia na santidade e pureza, e muitas vezes conferia com eles as apreensões de
seu coração, a respeito do novo estado que a esperava.
Disseram-lhe certo dia os santos espíritos: - Esposa do Altíssimo, já que não
podeis ignorar nem esquecer este título, ainda menos o amor que Ele vos tem, e que
é todo poderoso e leal, sossegai, Senhora, vosso coração, antes faltarão céus e terra
(Mt 24,35) do que a verdade e cumprimento de suas promessas. Por conta de vosso
Esposo correm vossos interesses. Seu poderoso braço, que impera sobre os elementos e criaturas, pode suspender as
impetuosas vagas e impedir a força da ação natural, para que nem o fogo queime, nem
a terra pese. Seus altos desígnios são ocultos e santos, seus decretos, retíssimos e
admiráveis. As criaturas não podem compreendê-los, mas devem reverenciá-los. Se
sua grandeza deseja que o sirvais no matrimônio, melhor será para vós nele agradar-lhe do que desgostá-lo em outro estado. Sua Majestade, sem dúvida, fará convosco o melhor, mais perfeito e santo, ficai certa de suas promessas.

Com esta exortação angélica, sossegou um pouco nossa Princesa de seus
cuidados. Pediu-lhes novamente a assistissem, guardassem e apresentassem ao
Senhor sua submissão, aguardando o que sobre Ela ordenasse seu divino beneplácito.

DOUTRINA QUE ME DEU A PRINCESA DO CÉU.

Os desígnios de Deus são insondáveis

752. Filha minha caríssima, altíssimos e veneráveis são os juízos do
Senhor, e as criaturas não os devem inquirir, pois não os podem penetrar.
Mandou-me Sua Alteza tomar estado de matrimônio, sem me explicar a razão desta ordem.
Era conveniente que assim fosse, para que minha maternidade se justificasse perante
o mundo que, enquanto ignorava o mistério, consideraria o Verbo humanado em
meu seio como filho de meu esposo. Foi também oportuno, para o esconder de
Lúcifer e seus demônios que, enfurecidos contra mim, procuravam atacar-me com
sua furibunda cólera. Quando me viu seguir o comum estado das mulheres casadas,
iludiu-se, crendo não ser possível ter esposo humano e ser Mãe do mesmo Deus. Com
isto, sossegou um pouco e deu alguma trégua à sua malícia. Outros fins, agora
conhecidos, teve em vista o Altíssimo ao fazer-me desposar, mas então me foram
ocultas porque assim convinha.

Absoluta confiança em Deus

753. Quero que entendas, minha filha, ter sido para mim a maior dor e aflição,
de quantas até aquele dia padecera, saber
que teria um homem por esposo, não me
revelando o Senhor o mistério encerrado
em tal fato. Se nesta pena não fosse confortada por sua virtude divina, e não me
conservasse a confiança, ainda que obscura, houvera perdido a vida nessa dor.
Por este sucesso ficarás instruída, qual deve ser a sujeição da criatura à
vontade do Altíssimo, e como lhe deve submeter o curto entendimento,
sem esquadrinhar os elevados e ocultos desígnios
do Senhor. Quando se apresentar alguma dificuldade ou perigo no que o Senhor lhe
dispõe e ordena, saiba a criatura confiar Nele. Creia que não a coloca em tal situação
para abandoná-la, mas para fazê-la vitoriosa, se de sua parte cooperar com o auxílio
do mesmo Senhor. Mas, se antes de crer e obedecer, deseja a alma esquadrinhar os
juízos de sua sabedoria, saiba que defrauda a glória e grandeza de seu Criador, e ao
mesmo tempo perde o próprio mérito.

Docilidade às inspirações divinas

754. Eu reconhecia o Altíssimo por superior a todas as criatura, sem ter
necessidade de nosso raciocínio. Deseja apenas a submissão da nossa vontade, pois
à criatura não cabe lhe dar conselho, mas só obediência e louvor. Não obstante, ignorar o que Ele me reservaria no estado
de matrimônio, e me afligir muito pelo amor da castidade, esta dor e pena não me
levaram à curiosa inquirição. Serviram para que minha obediência fosse mais excelente e agradável a seus olhos. Por este
exemplo, deves regular a sujeição que hás de ter em tudo o que entenderes ser do
gosto de teu Esposo e Senhor, entregando-te ao seu cuidado, e à certeza de suas
infalíveis promessas. Tendo aprovação de seus sacerdotes e teus prelados, deixa-te
governar, sem resistir a seus mandatos e as divinas inspirações.




12-54 -
Julho 9, 1918

Quem vive no Divino Querer faz vida na fonte de amor de Jesus.

(1) Continuando meu habitual estado, meu doce Jesus veio e me disse:
(2) "Minha filha, Eu sou todo amor, sou como uma fonte que não contém outra coisa que amor,
e tudo o que poderia entrar nesta fonte perde suas qualidades e se torna amor, assim que em
Mim a justiça, a sabedoria, a bondade, a fortaleza, etc., não são outra coisa que amor, mas
quem dirige esta fonte, este amor e todo o resto? Meu Querer! Meu Querer domina, rege,
ordena; assim que todas minhas qualidades levam o selo de meu Querer, a Vida de minha
Vontade, e onde encontram meu Querer fazem festa, se beijam mutuamente; onde não,
zangadas se retiram. Agora minha filha, quem se deixa dominar por minha Vontade e vive em
meu Querer, faz vida em minha mesma fonte, sendo quase inseparável de Mim, e tudo nele se
muda em amor, assim que amor são os pensamentos, amor a palavra, o batimento, a ação, o
passo, tudo; para ele é sempre dia, mas se se separa de minha Vontade, para ele é sempre
noite e todo o humano, as misérias, as paixões, as fraquezas, saem em campo e fazem seu
trabalho, mas que tipo de trabalho, trabalho para chorar".
+ + + +

12-55
Julho 12, 1918

Efeitos da Paixão de Jesus.

(1) Estava rezando com certo temor e ansiedade por uma alma moribunda, e meu amável
Jesus ao vir me disse:

(2) "Minha filha, por que temes? Não sabes tu que por cada palavra sobre minha Paixão,
pensamento, compaixão, reparação, lembrança de minhas penas, tantas vias de comunicação
de eletricidade se abrem entre a alma e Eu, e portanto de tantas variedades de beleza vai-se
adornando a alma? Ela fez as horas de minha Paixão e Eu a receberei como filha de minha
Paixão, vestida com meu sangue e adornada com minhas chagas. Esta flor cresceu em seu
coração e eu a abençoo e a recebo no meu como uma flor predileta".
(3) E enquanto isso dizia, desprendia-se uma flor de meu coração, e empreendia o vôo para
Jesus.

*proximo 12-58*

14-52
Agosto 19, 1922

A pena que a Divindade infligia no interior de Jesus.
As penas da Paixão foram sombras e semelhanças das penas internas.

(1) Encontrando-me em meu estado habitual, o doce Jesus me fazia sofrer parte de suas penas
e de suas mortes que sofreu por cada uma das criaturas. Por minhas pequenas penas
compreendia como atrozes e mortais tinham sido as penas de Jesus, então me disse:

(2) "Minha filha, minhas penas são incompreensíveis à natureza humana, as mesmas penas de
minha Paixão foram sombras ou semelhanças de minhas penas internas. Minhas penas
internas me eram infligidas por um Deus Onipotente, ao qual nenhuma fibra podia esquivar-se
do golpe; as de minha Paixão eram-me infligidas pelos homens, os quais não tendo nem a
onipotência nem a onividência, não podiam fazer o que eles mesmos queriam, nem podiam
penetrar em todas as minhas fibras internas. Minhas penas internas estavam encarnadas e
minha mesma Humanidade era transformada em cravos, em espinhos, em flagelos, em chagas,
em martírio, tão cruéis que me davam mortes contínuas, estas eram inseparáveis de Mim,
formavam minha mesma Vida; em troca as de minha Paixão eram estranhas a Mim, eram
espinhos e pregos que se podiam cravar, e querendo se podiam também remover, e o único
pensamento de que uma pena se pode tirar é um alívio; mas minhas penas internas, que eram
formadas pela mesma carne, não havia nenhuma esperança de que me pudessem tirar, nem
diminuir a acuidade de um espinho, do trespassar-me com pregos. Minhas penas internas
foram tais e tantas, que as penas de minha Paixão as poderia chamar alívios e beijos que
davam a minhas penas internas, que unindo-se juntas davam o último testemunho de meu
grande e excessivo amor por salvar as almas. Minhas penas externas eram vozes que
chamavam a todos a entrar no oceano de minhas penas internas, para fazê-los compreender
quanto me custava sua salvação. E além disso, por suas mesmas penas internas, comunicadas
por Mim, pode compreender de algum modo a intensidade contínua das minhas. Por isso te dê
ânimo, é o amor que a isto me empurra".

16-50
Fevereiro 22, 1924

Deus gozou as alegrias da Criação até que o homem pecou; logo As gozou quando veio à luz a Virgem Santíssima; depois quandoveio o Verbo à terra, e as gozará quando as almas vivam no Querer Divino.

(1) Estava a pensar no que foi dito antes e dizia para mim: "Será possível que o Senhor bendito
depois de tantos séculos não tenha gozado das puras alegrias da Criação, e que espera viver no
Divino Querer para receber estas alegrias, esta glória e a finalidade para a qual tudo foi criado?"
Enquanto pensava nisto e outras coisas, meu doce Jesus se fez ver dentro de mim, e com uma luz
que me enviava para a inteligência, ele disse:
(2) "Minha filha, as alegrias puras da Criação, meus inocentes entretenimentos com a criatura e
apreciei-os, mas a intervalos, não perenemente, e as coisas quando não são estáveis e contínuas
aumentam mais a dor e fazem desejar mais o gozo de novo, e qualquer sacrifício seria feito para
torná-los permanentes. Primeiro eu gostei das puras alegrias da Criação quando depois de criar
tudo, criei o homem, até que ele pecou. Entre ele e Nós havia sumo acordo, alegrias comuns,
inocentes entretenimentos; nossos braços estavam sempre abertos para abraçá-lo, para dar-lhe
novas alegrias, novas graças, e com o dar Nós nos divertíamos tanto, de formar para Nós e para
ele uma festa contínua; para Nós dar é gozar, é felicidade, é diversão; enquanto pecou e rompeu
sua vontade com a nossa tudo terminou, porque não estando mais nele a plenitude de nossa Von-
tade, faltava a corrente para poder dar e poder continuar a vida de felicidade de ambas as partes;
muito mais, pois faltando nele nossa Vontade, faltava-lhe a capacidade e a salvaguarda para poder
guardar os nossos dons.
(3) Em segundo lugar gozamos as puras alegrias da Criação quando depois de tantos séculos veio
à luz do dia a Virgem Imaculada. Tendo sido Ela preservada até da sombra da culpa e possuindo
toda a plenitude de nossa Vontade, não tendo havido entre Ela e Nós nem a sombra de ruptura en-
tre a vontade dela e a nossa, nos foram restituídas as alegrias e nossos inocentes entretenimentos,
nos trouxe como em seu colo todas as festas da Criação, e Nós lhe demos tanto e nos divertíamos
tanto em dar-lhe, de enriquece-la a cada instante de novas graças, novos contentamentos, nova
beleza, de não poder contê-los mais. Mas a Imperatriz criatura não durou muito na terra, passou
para o Céu e não encontramos nenhuma outra criatura no submundo que perpetuasse nossos en-
tretenimentos e nos trouxesse as alegrias da Criação.

(4) Em terceiro lugar, gozamos das alegrias da Criação quando Eu, Verbo Eterno, desci do céu e
tomei minha Humanidade. Ah! minha amada Mamãe com possuir a plenitude de minha Vontade
tinha aberto as correntes entre o céu e a terra, tinha posto tudo em festa, Céu e terra, e a Divinda-
de estando em festa por amor de tão Santa Criatura me fez conceber em seu virginal seio, dando-
lhe a fecundidade divina para me fazer cumprir a grande obra da Redenção. Se não tivesse estado
esta Virgem excelsa que tomasse o primado em minha Vontade e que teria feito vida perfeita no
meu Querer, vivendo nele como se não tivesse vontade própria, e que com fazer isto pôs em co-
rrente as alegrias da Criação e nossas festas, jamais o Verbo Eterno teria vindo à terra para cum-
prir a Redenção do gênero humano. Vê então como a coisa maior, mais importante, que mais satis-
faz, que mais atrai a Deus, é o viver em meu Querer, e quem vive nele vence a Deus e faz dar de
Deus dons tão grandes, de deixar estupefatos Céu e terra, e que por séculos e séculos não se ha-
viam podido obtê-lo. Como minha Humanidade estando na terra e contendo a mesma Vida do Que-
rer Supremo, isto é, que era inseparável de Mim, levava em modo completo à Divindade todas as
alegrias, a glória e a correspondência do amor de toda a Criação; e a Divindade foi tão feliz que me
deu o primado sobre tudo, o direito de julgar todas as pessoas. Oh, que bem obtiveram as criaturas
sabendo que um Irmão seu, que tanto as amava e tanto tinha sofrido para pô-las a salvo, devia ser
seu Juiz! A Divindade, ao ver em Eu encerrava toda a finalidade da Criação, como se se despojas-
se de tudo me concedeu todos os direitos sobre todas as criaturas. Mas minha humanidade passou
para o Céu e não ficou na terra quem perpetuasse o viver de todo no Querer Divino, e portanto,
elevando-se sobre tudo e todos em nossa Vontade, nos trouxesse as puras alegrias, e nos fizesse
continuar nossos inocentes entretenimentos com uma criatura terrestre, assim que nossas alegrias
foram interrompidas e nossos jogos despedaçados na face da terra".
(5) Então eu, ao ouvir isto, disse: "Meu Jesus, como pode ser isto que Tu dizes? É verdade que
nossa Mamãe passou ao Céu, e sua Humanidade também, mas não se levaram com Vós as ale-
grias, para que possais continuar os vossos entretenimentos inocentes no Céu com seu Pai Celes-
tial?"

(6) E Jesus: "As alegrias do Céu são nossas e ninguém nos pode tirar nem diminuir, em troca as
que nos vêm da terra estamos em ato de adquiri-las, e o jogo é formado precisamente no ato das
novas aquisições; entre a aquisição da vitória ou perda, vêm a formar-se as alegrias da aquisição,
ou se fica derrotada vêm formados as dores da derrota.
(7) Agora quanto a Nós, minha filha; quando Eu vim para a terra o homem estava tão entregue ao
mal e tão cheio de vontade humana, que o viver em meu Querer não encontrava lugar, e Eu em
minha Redenção o impetrei primeiro a graça da resignação a minha Vontade, porque no modo co-
mo se encontrava era incapaz de receber o maior dom do viver em meu Querer, e logo o impetrei a
maior graça, como coroa e cumprimento de todas as graças, viver em meu Querer, a fim de que
nossas puras alegrias da Criação e nossas diversões inocentes, tomar de volta o seu curso na face
da terra. Olha, passado cerca de vinte séculos desde que as verdadeiras, as plenas alegrias da
Criação foram interrompidas porque não encontramos capacidade suficiente, remoção total de von-
tade humana onde poder confiar as propriedades de nosso Querer. Agora, para fazer isso, tínha-
mos que escolher uma criatura que mais se aproximasse e se irmanasse com as humanas ge-
rações, pois se eu pusesse como exemplo a minha Mãe, teriam se sentido muito distantes de Ela e
teriam dito: Como não deveria viver no Querer Divino se foi a isenta de toda mancha, mesmo de
origem? 'Portanto, teriam levantado os ombros e não se teriam dado nem um pensamento, e se eu
colocar como exemplo a minha humanidade teria ficado ainda mais assustado e teriam dito: Era
Deus e Homem, e sendo a Vontade Divina sua vida própria, não é de maravilhar-se seu viver no
Querer Supremo'. Então, para fazer que em minha Igreja pudesse ter vida este viver em minha
Vontade, devia Eu fazer um degrau, descer mais ao baixo, escolher entre eles uma criatura, à qual
dotando-a das graças suficientes e fazendo-me caminho em sua alma, devia esvaziá-la de tudo,
fazendo-lhe compreender o grande mal de a vontade humana, de maneira que a aborrecesse tanto
de preferir a morte antes de fazer sua vontade, e depois, fazendo-lhe dom da minha Vontade Divi-
na, e colocando-me em atitude de mestre eu lhe fizesse compreender toda a beleza, a potência, os
efeitos, o valor, o modo como devia viver na minha Vontade Eterna. Para fazer que pudesse viver
nela, estabeleci nela a lei de minha Vontade, tenho feito como em uma segunda Redenção, onde
estabeleci o evangelho, os Sacramentos, os ensinamentos, como vida principal para poder conti-
nuar a Redenção; se nada tivesse deixado, de onde se deviam afiançar? O que fazer? Assim tenho
feito de viver em meu Querer, quantos ensinamentos não te dei? Quantas vezes eu não te tenho
conduzido pela mão nos eternos vôos de meu Querer, e sobrevoando você sobre todo o Criado
carregastes aos pés da Divindade as puras alegrias da Criação e nos temos entretido junto com
você? Agora, com ter escolhido uma criatura que aparentemente não tem grande disparidade com
elas, tomarão ânimo, e encontrando os ensinos, o modo e conhecendo o grande bem que há em
viver em meu Querer, o farão próprio, e assim as puras alegrias da Criação e nossos inocentes en-
tretenimentos não estarão mais despedaçados na face da terra. E ainda que fosse uma só criatura
por geração que viva em nosso Querer, será sempre festa para nós, e nas festas se faz sempre
mais ostentação e é-se sempre mais generoso em dar. " Oh quanto bens obterão à terra enquanto
se diverte sobre sua face seu mesmo Criador! Portanto minha querida filha, seja atenta a meus en-
sinamentos, porque se trata de me fazer fundar uma lei não terrestre mas celeste, não lei de só
santidade, mas lei divina, lei que não fará mais distinguir os cidadãos terrestres dos celestes, lei de
amor que destruindo tudo o que pode impedir mesmo a sombra da união com o seu Criador, porá
em comum os seus bens, tirando-lhe todas as fraquezas, as misérias do pecado original. A lei de
minha Vontade porá tal força na alma, de servi-lo de doce charme, maneira de adormecer os males
da natureza e substituí-los com o doce charme dos bens divinos. Lembre-se quantas vezes você
me viu escrever no fundo da sua alma, era a nova lei do viver em meu Querer, na qual Eu me de-
leitava antes de escrevê-la para aumentar sua capacidade e depois me punha de mestre para te
explicar, quantas vezes não me viu taciturno, pensativo no fundo de sua alma? Era o grande tra-
balho de meu Querer que estava a formar-me, e tu, não me vendo a falar, lamentavas-te que eu
não te amava mais. ah, era precisamente então quando meu Querer, derramando-se em ti alarga-
va tua capacidade, te confirmava Nele e te amava de mais. Por isso não queiras investigar nada do
que faço, senão Que certeza tenhas sempre em minha Vontade".

+ + + +

16-51
Fevereiro 24, 1924

Jesus quer estabelecer a Lei de sua Vontade. Efeitos mesmo de um único ato feito nela.

(1) Sentia-me imersa no Querer Divino e pensava entre mim: "Quem sabe quantas outras coisas de
sua Vontade dirá meu doce Jesus a outras almas, se a mim que sou tão indigna e incapaz disse-
me tanto, quem sabe quantas coisas mais sublimes dirá a outras, que são mais boas que eu". E
meu amável Jesus, movendo-se em meu interior me disse:

(2) "Minha filha, toda a lei e os bens da Redenção foram escritos por Mim e depositados no co-
ração de minha amada Mamãe. Era justo que, como foi Ela a primeira que viveu em meu Querer e
por isso me atraiu do Céu e me concebeu em seu seio, conhecesse todas as leis e fora depositária
de todos os bens da Redenção, e não adicionei nem uma vírgula a mais, e não porque fosse inca-
paz, quando saindo à minha vida pública a manifestei às pessoas, aos apóstolos; e os mesmos
apóstolos e toda a Igreja nada acrescentaram do que eu disse e Eu fiz quando eu estava na terra.
Nenhum outro evangelho fez e nenhum outro sacramento Mas sempre gira em torno de tudo o que
Eu fiz e disse. Quem é chamado por primeiro é necessário que receba o fundo de todo o bem que
quero fazer à todas as gerações humanas; é verdade que a Igreja comentou o Evangelho, escre-
veu muito sobre tudo o que eu fiz e disse, mas nunca se afastou da minha fonte, da origem dos
meus ensinamentos. Assim será da minha vontade, porei em ti o fundo da lei eterna de meu Que-
rer, o que é necessário para fazê-la compreender e os ensinamentos necessários, e sim a Igreja se
estenderá nas explicações e nos comentários, não se afastará jamais da origem, da fonte consti-
tuída por Mim, e se alguém quiser afastar-se, ficará sem luz e na escuridão mais densa, e será
obrigado, se quiser luz, a retornar à fonte, isto é para meus ensinamentos".

(3) Quando ouvi isto, disse: "Meu doce amor, quando os reis estabelecem as leis chamam aos mi-
nistros como testemunhas das leis que estabelecem para depositá-las em suas mãos, a fim de que
as publiquem e as façam observar pelos povos. Eu não sou ministro, é mais, sou tão pequena e
incapaz que não sou boa para nada".
(4) E Jesus acrescentou: "Eu não sou como os reis da terra que se entendem com os grandes, eu
prefiro entendê-los com os pequenos, porque são mais dóceis e nada se atribuem a eles, mas tudo
à minha bondade. No entanto, também Eu escolhi um ministro meu que te assista neste teu esta-
do, e por quanto me pediste que te libertasse de sua vinda diária, eu não prestei atenção em você,
e mesmo que você não estivesse mais sujeita a recair neste estado, Eu não vou permitir que você
perca a sua assistência. Era esta a causa pela qual era necessário que tivesse um ministro meu
que estivesse ao dia da lei de minha Vontade, e conhecendo meus ensinamentos fosse testemun-
ha e depositário de uma lei tão santa, e como fiel ministro meu publique na minha Igreja o grande
bem que quero fazer a Ela, com fazer conhecer a minha Vontade".

(5) Então fiquei tão imersa no Divino Querer, que me senti como se nadasse num mar imenso e
minha pobre mente se perdia, e onde tomava uma gota da Vontade Divina, e onde alguma outra, e
fluíam tanto os conhecimentos dela, que minha capacidade era impotente para os receber todos, e
entre mim dizia: "Como é grande, profundo, alto, imenso, santo tu Querer, oh Jesus meu! Tu que-
res pôr junto tudo o que a Ele pertence, e eu sendo pequena eu me afogo nele. Por isso, se você
quiser que eu entenda o que você quer me fazer entender, infrinja-o em mim pouco a pouco, assim
poderei manifestá-lo a quem Tu queres".
(6) E Jesus: "Minha filha, certamente que é imensa a minha Vontade, Ela contém toda inteira a
eternidade. Se você soubesse todo o bem que contém ainda uma só palavra sobre minha Vontade
e um único ato feito pela criatura Nela, você ficaria atordoada, nesse ato toma como em um punho
Céu e terra. Meu Querer é vida de tudo e corre por toda parte, e a criatura junto com meu querer
corre em cada afeto, em cada batida, em cada pensamento e em todo o resto que fazem as criatu-
ras; corre em cada ato do Criador, em cada bem que faço, na luz que mando à inteligência, no per-
dão que concedo, no amor que envio, nas almas que dou fervou, nos bem-aventurados que beatifi-
co, em tudo; não há bem que faço, nem ponto da eternidade em que não tenha seu pequeno lugar-
zinho. " Oh! como me é querida, como a sinto inseparável, é a verdadeira companheira fiel de min-
ha Vontade, sem jamais deixá-la sozinha. Por isso corre em Ella e tocarás com a mão o que te di-
go".

(7) E enquanto isso dizia, lançava-me no mar imenso do seu Querer, e eu corria, corria, Mas quem
pode dizer tudo? Tocava tudo, corria em tudo, tocava com a mão o que Jesus me dizia, mas não
sei colocá-lo no papel; se Jesus quiser me dará mais capacidade, por isso por agora ponho ponto...

19-52
Agosto 29, 1926

A natureza do verdadeiro bem só a possui a Vontade Suprema. Bênçãos de Jesus ao título que deve ser
dado aos escritos sobre a sua Santíssima Vontade.

(1) Minha pobre mente está sempre de volta no centro supremo do Querer Eterno, e se alguma vez
penso em alguma outra coisa, o próprio Jesus com seu dizer chama minha atenção a navegar o
mar interminável de sua Santíssima Vontade. Agora, como eu estava pensando em outras coisas,
meu doce Jesus, ciumento, me apertou a Si e me disse:.

(2) "Minha filha, sempre em minha Vontade te quero, porque nela está a natureza do bem. Um bem
só se pode chamar verdadeiro bem quando nunca acaba, nem tem princípio nem fim. O bem,
quando tem princípio e fim, está cheio de amarguras, de temores, de ansiedades e mesmo de
desilusões, tudo isto torna infeliz o mesmo bem, e muitas vezes passam-se com facilidade do bem
da riqueza à miséria, da fortuna passa-se ao infortúnio, da saúde passa-se à doença, porque todos
os bens que têm princípio são vacilantes, passageiros, caducos e no final se resolvem no nada. Por
isso a natureza do verdadeiro bem a possui só minha Vontade Suprema, porque não tem princípio
nem fim, e por isso o bem é sempre igual, sempre pleno, sempre estável, não sujeito a nenhuma
mutação; por isso tudo o que a alma faz entrar no Supremo Querer, todos os seus atos formados
n'Ele adquirem a natureza do verdadeiro bem, porque são feitos numa Vontade estável, que não
mudam, que contém bens eternos e sem medida.

Assim, o teu amor, a tua oração, os teus agradecimentos e tudo o que podes fazer, tomam lugar num princípio eterno que não termina
jamais, e por isso adquirem a plenitude da natureza do verdadeiro bem, portanto a tua oração
adquire o pleno valor e o fruto completo, de modo que tu mesma não poderás compreender até
onde se estenderão os frutos, os bens de tua oração, girará a eternidade, se dará a todos e ao
mesmo tempo ficará sempre plena em seus efeitos; teu amor adquire a natureza do verdadeiro
amor, daquele amor inquebrantável que jamais vem a menos, que jamais termina, que ama a todos
e se doa a todos e fica sempre com a plenitude do bem da natureza do verdadeiro amor, e assim
de tudo o resto. A tudo o que entra em minha Vontade, sua força criadora comunica sua própria
natureza e os converte em atos seus, porque não tolera nela atos estranhos dos seus, e por isso se
pode dizer que os atos da criatura feitos em minha Vontade, entram nos caminhos inescrutáveis de
Deus, e não se podem conhecer todos seus inumeráveis efeitos. O que não tem princípio nem fim
torna-se incompreensível às mentes criadas que têm seu princípio, porque faltando nelas a força
de um ato que não tem princípio, todas as coisas divinas e tudo o que entra em minha Vontade se
torna inescrutável e não pesquisável. Vê então o grande bem do agir na minha Vontade, a que
ponto tão alto eleva a criatura, como lhe é restituída a natureza do bem, tal como a tirou do seu
seio o seu Criador. Ao contrário, tudo o que se pode fazer fora de minha Vontade, ainda que seja
um bem, não se pode chamar verdadeiro bem, porque lhe falta o alimento divino, sua luz, e são
estranhos a meus atos, e por isso tiram a semelhança à alma da imagem divina, Porque é só a
minha vontade que a faz crescer à minha semelhança, e tirando esta semelhança, tira-se o mais
belo, o maior valor ao agir humano, pois são obras vazias de substância, de vida e de valor, são
como plantas sem fruto, como alimento sem substância, como estátuas sem vida, como trabalhos
sem salário, que cansam os membros dos mais fortes. ¡ Oh, a grande diferença entre o obrar em
minha Vontade e entre o obrar sem Ela! “Por isso sê atenta, não me dês este desgosto de me fazer
ver em ti um ato que não dê a minha semelhança"..

(3) Depois disto desapareceu, mas pouco depois voltou inquieto pelas ofensas recebidas, e
refugiando-se em mim queria descansar, e eu lhe disse: "Meu amor, tenho tantas coisas para te
dizer, tantas coisas para estabelecer entre Tu e eu, tenho que te pedir que tua Vontade seja
conhecida e que seu Reino tenha seu pleno triunfo. Se tu descansas, eu não posso te dizer nada,
Devo calar-me para te deixar repousar". E Jesus, interrompendo as minhas palavras, com uma
ternura indescritível, estreitou-me a Si, muito forte, e beijando-me disse:.

(4) "Minha filha, como é bela a oração sobre teus lábios acerca do triunfo do Reino do Supremo
Querer, é o eco de minha mesma oração, de meus suspiros e de todas minhas penas. Agora quero
ver o que você escreveu sobre o título para dar-se aos escritos sobre a minha Vontade".

(5) E enquanto dizia, tomava este livro em suas mãos, e parecia que lesse o que está escrito no dia
27 de agosto; enquanto lia, ficava pensativo, como se se pusesse em profunda contemplação, de
modo que eu não ousava lhe dizer nada, só ouvia que seu coração batia muito forte, como se
quisesse estourar; depois apertou o livro a seu peito dizendo:.

(6) "Abençoo o título, abençoo-o de coração e abençoo todas as palavras que dizem respeito à
minha Vontade".
(7) E levantando sua mão direita, com uma majestade encantadora pronunciou as palavras da
bênção. Fez isto desapareceu.

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19-53
31 de Agosto de 1926

Nosso Senhor, assim como pôs fora a Criação, assim pôs fora todos
os bens que há no Reino de sua Vontade para bem das criaturas.
A vontade humana paralisa a Vida da Divina na alma.

(1) Estava segundo meu costume fazendo meus atos, meus giros no Santo Querer Divino, eu
mesma vejo que não sei fazer outra coisa que girar nele, em minha amada herança que me deu
meu doce Jesus, na qual há tanto que fazer e que aprender, que não me bastará nem minha
pequena vida do exílio, nem toda a eternidade para cumprir meus ofícios nesta vastíssima herança,
na qual não se vêem os confins, nem onde começa nem onde termina, e quanto mais se gira nela,
tantas coisas novas se aprendem, mas muitas coisas se vêem e não se compreendem, e é
necessário o doce Jesus para que as explique, de outra maneira se admiram, mas não se sabem
dizer. Então meu sempre amável Jesus, me surpreendendo enquanto fazia meus atos em sua
adorável Vontade me disse:.

(2) "Minha filha, olha quantas coisas tiramos com nosso Fiat na Criação para o bem da natureza do
homem; de tudo o que tinha estabelecido nossa Vontade pôr fora, nada faltou ao cumprimento
dela. Agora, assim como foi estabelecido tudo o que devíamos tirar na Criação, e nada faltou ao
nosso chamado, assim foi estabelecido o que devíamos tirar para o bem das almas, como de fato o
tiramos, mas foi tanto, de ultrapassar por milhares e milhares de vezes mais todos os bens que se
vêem na Criação; mas tanto aqueles que deviam servir ao bem da natureza, como aqueles que
deviam servir ao bem da alma, tudo ficou depositado em nossa Vontade, porque as nossas coisas
não as confiamos a ninguem, sabendo que só Ela as teria conservado íntegras e belas, tal como as
tiramos do nosso seio divino, muito mais, pois só Ela tem a força conservadora e multiplicadora,
que enquanto dá, nada perde e todas as coisas as têm no posto querido por Nós.

Agora, quantas coisas há em minha Vontade que devo dar às criaturas, mas devem vir ao Reino dela para recebê-
las, e assim como a natureza humana jamais poderia tomar parte nos bens da Criação se não
quisesse viver sob o céu, nem ter um lugar sobre a terra, onde as coisas criadas por Mim lhe fazem
coroa, assim a alma, se não vem a viver sob o céu de Querer, em meio aos bens que nossa
paterna bondade pôs fora para fazê-la feliz, para embelezá-la, para enriquecê-la, jamais poderá
tomar parte nestes bens, para ela serão como estranhos e não conhecidos. Muito mais que cada
alma teria sido um céu distinto, onde nosso Querer Supremo se deleitaria adornando-o com um sol
mais resplandecente e com estrelas mais esplêndidas que aquelas que se vêem na Criação, mas
uma mais bela que a outra. Olha a grande diferença: Para a natureza humana há um sol para
todos, em troca para as almas há um sol para cada uma, há um céu próprio, há uma fonte que
sempre mana, há um fogo que jamais se apaga, há um ar divino que se respira, há um alimento
celestial que faz crescer admiravelmente à semelhança daquele que a criou. ¡ Oh, quantas coisas
tem minha Vontade preparadas e estabelecidas para dar a quem quiser vir a viver em seu Reino,
sob seu liberal e doce regime, não quer confiar seus bens fora de seu Reino, porque sabe que se
saírem de seus confins não serão apreciados nem compreendidos, muito mais que só Ela sabe
conservar e manter em vida seus bens, e só quem vive nela é capaz de compreender a sua
linguagem celestial, de receber os seus dons, de olhar para as suas belezas e de formar uma só
vida com a minha Vontade. Ao contrário, quem não quer viver em seu Reino, não é capaz de
compreender seus bens, sua língua não saberá falar deles nem adaptar-se à linguagem de meu
Reino, nem poderá olhar suas belezas, antes ficará cego pela forte luz que nele reina. Vê então há
quanto tempo estão postos fora de nosso seio paterno todos os bens que devemos dar aos filhos
de nosso Fiat Supremo, tudo está preparado desde que foi criada a Criação, não nos retiraremos
pela tardia, esperaremos ainda, e quando a criatura puser a sua vontade à nossa para a fazer
dominar, Nós lhe abriremos as portas para a fazer entrar, porque foi a vontade humana que fechou
as portas à nossa e abriu as portas às misérias, às fraquezas, às paixões; não foi a memória ou a
inteligência que se puseram contra o seu Criador, se bem que concorreram, mas foi a vontade
humana que teve o seu ato primeiro e rompeu todos os vínculos, todas as relações com uma
Vontade tão santa, muito mais, que todo o bem ou todo o mal está encerrado nesta vontade
humana, o regime, o domínio é seu, assim que tendo falhado a vontade no bem, tudo se malogrou,
perdeu a ordem, desceu de sua origem, tornou-se feia; e como foi a vontade humana que se pôs
contra a minha, fazendo com que todos os bens lhe fossem perdidos, por isso quero a sua vontade,
e em troca quero dar-lhe a minha para lhe restituir todos os bens perdidos. “Por isso, minha filha,
fica atenta, nunca dês vida à tua vontade, se queres que a minha reine em ti".

(3) Depois disto fez silêncio, ficando todo afligido pelo grande mal que produziu a vontade humana
nas criaturas, até deformar sua bela imagem infundida nelas ao criá-las, e suspirando acrescentou:.
(4) "Minha filha, a vontade humana paralisa a Vida da minha na alma, porque sem minha Vontade
não circula a Vida Divina na alma, que mais que sangue puro conserva o movimento, o vigor, o uso
perfeito de todas as faculdades mentais, de modo a fazê-la crescer sã e santa, de poder descobrir
nela a nossa semelhança, quantas almas paralisadas sem a minha Vontade! Que espetáculo digno
de compaixão, ver as gerações humanas quase todas paralisadas na alma, e portanto irracionais,
cegas para ver o bem, surdas para ouvir a verdade, mudas para ensiná-la, inertes para as obras
santas, imóveis para caminhar o caminho do Céu, porque a vontade humana, impedindo a
circulação da minha Vontade, forma a paralisia geral na alma das criaturas, acontece como ao
corpo, que a maior parte das enfermidades, especialmente depois de paralisia, são produzidas por
falta de circulação de sangue, se o sangue circula bem o homem é robusto e forte, não sente
nenhum mal-estar, mas se começa a irregularidade da circulação do sangue, começam as
indisposições, as fraquezas, as febres, e se a circulação se torna mais irregular, fica paralisado,
porque o sangue que não circula e que com rapidez não corre nas veias, forma os graves males à
natureza humana. O que as criaturas não fariam se soubessem que há um remédio para a
irregularidade da circulação do sangue? Iriam quem sabe até onde para tê-lo, para não padecer
nenhuma enfermidade. No entanto, há o grande remédio de minha Vontade para evitar qualquer
mal da alma, para não ficar paralisada no bem, para crescer forte e robusta na santidade, e quem o
toma? Não obstante é um remédio que se dá grátis, não se devem fazer viagens para tê-lo, aliás,
está sempre pronta a dar-se e constituir-se como Vida regular da criatura. ¡ Que dor minha filha,
que dor!"..

(5) Disse isto desapareceu..

20-55
Fevereiro 3, 1927

Como no Reino do Fiat Divino uma será a Vontade. Como um dito sobre a Vontade Divina
pode ser uma chave, uma porta, um caminho. Como a Suprema Vontade em todas as coisas
criadas forma tantos seios para fazer mamar a seus filhos os conhecimentos d’Ela.

(1) Meu sempre amável Jesus me atraindo toda a Ele me disse:
(2) "Minha filha, o Reino do Fiat Divino terá como centro uma só Vontade, que é a Divina, portanto
uma será a Vontade de todos, que difundindo-se a todos e abraçando tudo, dará a felicidade, a
ordem, a harmonia, a força e a beleza a todos, então será o reino de uma Vontade, uma Vontade
para todos e todos a uma só Vontade. Quem torna feliz a Pátria Celestial senão a Vontade de Deus
e a vontade de todos? Oh, se no Céu pudesse entrar outra vontade que não fosse a de Deus, o
que não pode ser, os santos perderiam a paz perene e sentiriam a desordem de uma vontade que
não é divina, que não contém todos os bens e que não é santa nem portadora de felicidade e de
paz, portanto, todos unanimemente a expulsariam. Por isso o Reino do Fiat terá por lei, por regime,
por domínio, só e unicamente a minha Vontade, e em virtude dela todos serão felizes, de uma só
felicidade, não haverá jamais disputas, mas sim paz perene".
(3) Depois disto, sentindo o grande esforço que fazia ao escrever e o trabalho que me custava,
sentia-me indecisa se devia ou não continuar escrevendo, e meu amado Jesus me incitando me
disse:
(4) "Minha filha, cada palavra extra sobre minha Vontade pode ser uma chave a mais para abrir o
Reino do Fiat Supremo, cada conhecimento d‟Ele pode ser uma porta nova que se forma para dar
mais conforto, mais ingressos para fazer entrar os filhos de seu Reino; cada semelhança sobre
minha Vontade é um caminho a mais que se forma para tornar mais fáceis as comunicações deste
reino. A menor coisa relacionada com o Fiat, é uma batida d'Ele que quer formar no meio dos filhos
de seu Reino, e sufocar esta minha filha, não convém, esta batida levará uma Vida nova e divina
bilocada por este pulsar para fazer gozar a quem tiver a fortuna de possuir este Reino. Não sabes
tu que para dizer que existe um reino é necessário primeiro formá-lo e depois dizer que existe? Por
isso é necessário que sejam formados os caminhos, as portas de segurança, as chaves de ouro,
não falsificadas de outro metal, para tornar fácil a entrada no Reino de minha Vontade, por isso um
caminho a menos, uma chave que falte, uma porta fechada, pode fazer mais dificultosa, menos
fácil de entrar nele. Por isso tudo o que te digo não só serve para formar este Reino, mas serve
também para ajudar aqueles que querem possuí-lo. Portanto, a filha primogênita da minha Vontade
deve ter cuidado para tornar mais fácil o que diz respeito ao reino do Eterno Fiat".

(5) Logo estava seguindo meus atos no Supremo Querer e encontrando-me fora de mim mesma
girava por toda a Criação para seguir a Divina Vontade em cada coisa criada, mas enquanto isso
fazia se rompia o véu de cada coisa e se via habitante nelas ao Santo Querer, que fazia cada ato
que cada coisa criada contém, sempre trabalhador sem deter-se jamais e meu doce Jesus, saindo
de dentro de meu interior me disse:

(6) "Minha filha, olha o amor exuberante da minha Vontade, sempre estável, sempre trabalhadora,
sempre em ato de dar, sem jamais retroceder no que estabeleceu fazer quando o Fiat Supremo
ressoou na Criação, Ela tomou o compromisso de fazer todas as artes, de desempenhar todos os
ofícios, de fazer todos os serviços, de tomar qualquer forma para tornar feliz o homem. E mais, fez
mais que mãe terníssima dispondo todas as coisas criadas, quase como tantos seios nos quais Ela
se escondia dentro para fazer-se mamar pelo homem, assim que se fez sol para lhe fazer mamar
sua luz, fez-se céu para lhe fazer mamar o amor vital da imutabilidade, fez-se estrelas para lhe
fazer sugar a variedade dos bens que contêm suas obras, fez-se água, plantas e flores para lhe
fazer mamar a água da graça e lhe tirar a sede, para lhe fazer mamar sua doçura e seus castos
perfumes; todas as formas tomou minha Vontade: De ave, de cordeiro, de pomba, em suma, de
tudo, para se pôr na boca do homem e fazer-se mamar por ele, para lhe dar o bem que cada coisa
criada continha. Só uma Vontade Divina que em um desabafo de seu amor criava tudo, podia
tomar tantas formas, fazer tantos ofícios, ser tão persistente sem jamais cessar de fazer seus atos.
No entanto, quem procura penetrar em cada coisa criada, para ver quem é Aquela que lhe oferece
seu peito para dar seu leite, para amamentar as criaturas, para recriá-las e para torná-las felizes?
Quase ninguém, Ela se desentranha continuamente, dá sua Vida em cada coisa criada para dar
vida, e não se dignam nem sequer olhá-la para ver quem é Aquela que os ama tanto e é vida de
sua vida. Por isso a dor de minha Vontade é grande, por tantas ingratidões das criaturas. Portanto
com paciência Divina e invencível espera a seus filhos, que conhecendo-a arranquem o véu às
coisas criadas que a escondem e reconheçam o peito de sua Mãe, e reconhecidos e como
verdadeiros filhos seus mamem esses seios divinos. Eis por que a glória de toda a Criação, de toda
a Redenção, de teu Jesus e do Eterno Fiat, só estará completa quando se apegarem a seu peito os
filhos de seu Reino, para mamar deles, e reconhecendo-a não se descolarão de seu seio, e Ela
dará todos os bens e terá a glória, o contento de ver todos os seus filhos felizes, e estes filhos
terão a honra, a glória de copiar em si mesmos a Mãe que com tanto amor os tem em seu seio
para alimentá-los com seu leite divino. Agora, minha Vontade está nas condições como se
encontra o sol quando as nuvens impedem que a plenitude da sua luz, com toda a sua vivacidade,
invista a terra, portanto o sol por causa das nuvens não pode desdobrar toda a sua luz que contém,
como se as nuvens impedissem a glória ao sol de dar o curso da sua luz sempre igual, sempre fixa,
como de fato a dá. Assim as nuvens da vontade humana impedem todo o curso que o Sol da
minha Vontade gostaria de fazer para elas, e não podendo comunicar todos os bens que contém,
tanto por meio da Criação como diretamente, sua glória fica interceptada pelas nuvens da vontade
humana. Mas quando conhecerem o Fiat Supremo e se derem por filhos seus, estas nuvens serão
removidas e Ela poderá dar os bens que possui, então nossa glória será completa no meio das
criaturas".




21-18
Abril 22, 1927

Como a Criação são os ornamentos do Ser Divino. Incapacidade de compreendê-lo. Grande complacência na criação do homem.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu doce Jesus fazia-se parecer como um menino, todo
aflito, e era tanta a sua tristeza que parecia que se sentia como se estivesse a morrer. Eu o apertei
ao coração, o beijei muitas vezes, quem sabe o que não teria feito para consolá-lo. E Jesus
suspirando me disse:
(2) "Minha filha, olha como é bela toda a Criação, que fascínio de luz, que encanto de variedade e
de rara beleza, porém não são outra coisa que ornamentos de nosso Ser Divino; se tais são
nossos ornamentos, nosso Ser supera de modo incompreensível a nossos mesmos ornamentos, e
à criatura é incapaz de compreender toda a incompreensibilidade do nosso Ser; assim como o olho
é incapaz de fechar nele toda a vastidão da luz do sol, a vê, enche-se o olho de luz por quanto
dela pode conter, mas encerrá-la toda, medir a largura e a extensão até onde a luz se estende, lhe
é impossível, assim é nosso Ser para a capacidade humana e são nossos ornamentos que sempre
vê e toca com sua mão; o sol o vê, a luz a toca e ela faz sentir seu calor, vê a imensidão das águas
do mar, vê a abóbada azul do céu com tantas estrelas, mas saber dizer de que é formada a luz,
quanta luz o sol contém, quanta água contém o mar, quantas estrelas e de que é formada essa
abóbada azul, não saberá dizer nada, vê e goza de tudo isto, mas é o primeiro ignorante em
aritmética, em peso e medida. Se isto é de nossos ornamentos, muito mais de nosso Ser Divino.
Mas tu deves saber que toda a Criação e cada coisa criada dá lição ao homem, elas narram
nossas qualidades divinas, e cada uma dá lição da qualidade que contém: O sol dá lição de luz e
ensina que para ser luz se necessita ser puro, despojado de toda matéria; a luz contém o calor
unido a ela, não se pode separar a luz do calor, assim que se queres ser luz deves amar só a seu
Criador, e isto te levará como sol a fecundidade do bem. O céu dá-te lição da minha Pátria
Celestial, chama-te continuamente ao teu Criador, dá-te lição de desapego do que é terra, da altura
de santidade à qual deves chegar, Dá-te uma lição de que deves adornar-te mais que estrelas de
todas as virtudes divinas. Assim que cada coisa dá lição e chama ao homem a refletir-se nelas
para copiá-las e imitá-las; não pus fora meus ornamentos só para fazê-los ver, senão para que
imitando-os pudesse adornar-se a criatura, porém, quem põe atenção para escutar tantas lições?
Quase nenhum".

(3) E todo aflito fez silêncio. Então eu segui o Supremo Querer no ato quando estava o Ser Divino
por criar o homem, a fim de que pudesse também eu junto com meu primeiro pai Adão, amá-lo com
aquele amor com o qual ele o amou no primeiro instante quando foi criado, queria receber aquele
alento divino, aquele desabafo de amor para dá-lo novamente ao meu Criador. Mas enquanto
pensava assim, o meu doce Jesus, satisfazendo-se todo, disse-me:

(4) "Minha filha, para quem vive em minha Vontade não há ato nosso que não possa estar
presente, nem ato nosso que tenhamos posto fora de Nós que não possa receber, eis para ti meu
alento e nosso desabafo de amor. Como foi grande nossa complacência neste primeiro ato da
criação do homem; havíamos criado céu e terra, mas nada de novo sentíamos em Nós, mas ao
criar o homem foi muito diferente, era uma vontade que era criada, e vontade livre, e nela
encerramos a nossa, pondo-a como em um banco para receber os interesses de nosso amor, da
glória, de nossa adoração que a Nós convinha. Oh! como transbordava em Nós o amor, como se
estremecia de alegria ao verter-se nesta livre vontade para ouvir-se dizer, ‘te amo', e quando o
homem cheio do nosso amor fez sair de seu peito a primeira palavra, ‘te amo', grandíssima foi
nossa complacência, Porque foi como se nos desse os interesses de todos os bens que tínhamos
posto nele. Esta vontade livre, criada por Nós, era a depositária do capital de uma Vontade Divina,
e nos contentávamos com um modesto interesse, sem pretender mais o capital. Por isso foi grande
a dor da queda do homem, porque nos rejeitou o capital para não nos dar o modesto interesse, e
seu banco ficou vazio, e seu inimigo fazendo aliança com ele, o encheu de paixões e de misérias,
pobrezinho, ficou fracassado. Agora minha filha, como o ato da criação do homem foi um ato
solene e de grande complacência nossa, te chamamos e te queremos a ti neste ato, para repetir a
solenidade do ato, pondo em tua vontade o grande capital da nossa e enquanto fazemos isto, O
nosso amor redunda e estremece de alegria e de grande complacência, porque vemos realizada a
nossa finalidade. Certamente você não nos negará o modesto interesse, não recusará nosso
capital, não é verdade? Mas bem cada dia faremos contas, te farei te apresentar nesse primeiro ato
quando criamos esta livre vontade, você para me dar o interesse e Eu para ver se posso
acrescentar algo mais a meu capital".

(5) Minha mente se perdia no Fiat Divino e pensava entre mim: "Oh! como gostaria de receber
aquele primeiro ato da criação, aquele desabafo divino de intenso amor que derramou sobre a
primeira criatura quando a criou, gostaria de receber aquele sopro omnipotente para poder dar
novamente ao meu Criador todo o amor e toda aquela glória que tinha estabelecido receber da
criatura". Mas enquanto isso eu pensava, meu doce Jesus me apertando disse:

(6) "Minha filha, é precisamente esta minha finalidade de vir tão frequentemente a você, tanto, que
a algum poderá parecer estranho e quase fora de meu costume, porque ir tão frequentemente não
o tenho feito com nenhum. Tudo isto é para reordenar meu ato primeiro do modo como criei a
criatura, e por isso volto a ti, entretenho-me como o mais amantíssimo pai com sua filha, quantas
vezes não te infundi meu fôlego até poder conter meu sopro onipotente? Derramei em ti meu amor
contido até te encher até a borda de tua alma, tudo isto não era outra coisa que a renovação do ato
solene da Criação, queria sentir aquela grande complacência de quando criei o homem, e por isso
venho a ti, não só para renová-lo mas para reordenar a ordem, a harmonia, o amor entre Criador e
criatura no modo como foi criada. No princípio da criação do homem não havia distância entre Eu e
ele, tudo era familiaridade, não apenas me chamava e Eu estava com ele, o amava como filho e
como por filho Eu me sentia tão atraído por ele, que não podia fazer menos que ir me entreter
frequentemente com ele. Eu com você estou renovando o princípio da Criação, por isso fique
atenta a receber um bem tão grande".

21-4
Março 5, 1927

Como a firmeza no bem é somente de Deus, o qual tendo feito uma vez um ato, este não
cessa mais. Efeitos da firmeza. Como a Humanidade de Nosso Senhor foi vínculo de tempos,remédio e modelo. Como quer salvo os direitos do Querer Divino.

(1) Sentia-me no máximo da aflição pela privação de meu doce Jesus, e em meu íntimo lhe dizia:
"Meu amor e Minha Vida, como é que partiste de mim sem me dizer adeus, nem me ensinar para
onde dirigir os meus passos, nem o caminho que devo percorrer para te reencontrar, mas bem me
parece que Tu mesmo me impediste os caminhos para não te deixar encontrar, e por quanto possa
girar e chamar-te Tu não me escutas, os caminhos estão fechados, e eu extenuada pelo cansaço
estou obrigada a deter-me e choro por Aquele que a qualquer custo quisesse encontrar e não
encontro. Ah! Jesus, Jesus, regressa, vem àquela que não pode viver sem Ti". Mas enquanto
desabafava minha dor, mal se moveu em meu interior, e eu ao sentir que se movia lhe disse: "Meu
Jesus, minha Vida, por que me faz esperar tanto, até não poder mais? Se te faz ver é apenas como
relâmpago, e sem me dizer nada se faz mais obscuro que antes e eu fico mais em meus desvarios,
e delirando de dor te busco, te chamo, mas em vão te espero". E Jesus compadecendo-me disse-
me:

(2) "Minha filha, não temas, estou aqui contigo, o que quero é que jamais saias de dentro de minha
Vontade, que sempre continue teus atos sem jamais te apartar dos confins do Reino do Fiat
Supremo, e isto te dará a firmeza que te assemelhará a teu Criador, o qual, tendo feito uma vez um
ato, esse ato tem vida contínua sem cessar jamais. Um ato sempre continuado é só de Deus, o
qual não sofre interrupções em seus atos, por isso nossa firmeza é inabalável e se estendendo
onde quer com nossa imensidão, torna sem interrupção nossos atos e onde quer que nos
apoiemos encontramos nossa firmeza que nos faz a maior honra, nos faz conhecer como o Ente
Supremo, Criador de tudo, e torna inabalável nosso Ser e nossos atos, Porque, onde quer que
queiramos apoiar-nos, encontramos a nossa firmeza que tudo sustenta; minha filha, a firmeza é
natureza e dom divino, e é justo que demos esta participação e dote de natureza divina a quem
deve ser filha do nosso Fiat Divino e viver no nosso Reino. Assim que continuar seus atos nEle
sem interrompê-los jamais, faz saber que já está em posse do dote de nossa firmeza. Quantas
coisas diz a firmeza! Diz que a alma se move só por Deus; diz que se move com razão e com puro
amor, não com paixão e interesse próprio, diz que conhece o bem que faz e Por isso se mantém
firme nele sem jamais interrompê-lo; a firmeza diz com caracteres indeléveis: Aqui está o dedo de
Deus'. Por isso sê firme em teus atos e terás nossa firmeza divina em teu agir".

(3) Depois disto continuava meus atos no Supremo Querer, e chegando ao ponto de seguir os atos
de Jesus desde que foi concebido no seio da Imaculada Rainha, até que morreu sobre a cruz, me
amável Jesus, fazendo-se ouvir de novo em meu interior me disse:

(4) "Minha filha, minha Humanidade veio à terra como em meio dos tempos, para reunir o passado,
quando a plenitude de minha Vontade reinava no homem; na Criação tudo era seu, onde quer que
tivesse seu Reino, sua Vida obrante e Divina, e eu encerrei em Mim esta plenitude de meu Querer
Divino, e vinculando os presentes me fiz primeiro modelo para formar os remédios que se
requeriam, as ajudas, os ensinamentos que se necessitavam para curá-los, e depois vinculava os
futuros à plenitude daquela Vontade Divina que reinava nos primeiros tempos da Criação. Assim
que minha vinda à terra foi vínculo de reunião dos tempos, foi remédio para formar este vínculo
para fazer que o Reino do Fiat Divino pudesse retornar no meio das criaturas, foi modelo que fazia
para todos, os que se modelando ficavam retomados nos vínculos feitos por Mim. Eis por que
antes de te falar de minha Vontade te falei de minha vinda à terra, do que Eu fiz e sofri, para te dar
os remédios e o modelo de minha própria Vida, e depois te falei de meu Querer, eram vínculos que
formava em ti, e nestes vínculos formava o Reino de minha Vontade, e sinal disto são os tantos
conhecimentos que te manifestei acerca dela, a sua dor porque não reina com toda a sua plenitude
no meio das criaturas, e os bens que promete aos filhos do seu Reino".

(5) Depois eu continuava a rezar e me sentia meio sonolenta, quando de improviso ouvia falar em
voz alta dentro de mim, pus atenção e vi meu amado Jesus com os braços no alto, em ato de me
abraçar, que com voz forte me dizia:

(6) "Minha filha, eu não peço outra coisa de ti senão que sejas a filha, a mãe, a irmã da minha
Vontade, que ponhas a salvo em ti os seus direitos, a sua honra, a sua glória".

(7) E isto dizia-o com voz alta e forte; depois, baixando a voz e abraçando-me acrescentou:

(8) "O motivo minha filha pelo qual quero a salvo os direitos de meu eterno Fiat, é porque quero
encerrar na alma a Santíssima Trindade, e só minha Vontade Divina pode nos dar o lugar e a glória
digna de Nós, e só por meio dela podemos operar livremente e estender em ti todo o bem da
Criação, formar coisas ainda mais belas, porque com nossa Vontade na alma podemos tudo, sem
Ela nos faltaria o lugar onde nos colocarmos e onde estender nossas obras; portanto, Não sendo
livres, permanecemos em nossos apartamentos celestiais. Acontece como a um rei, que amando
com amor excessivo a um súbdito seu quer abaixar-se a fazer vida em seu pequeno cortiço, mas
quer ser livre, quer pôr no pequeno cortiço suas coisas reais, quer mandar, quer que coma junto
com ele seus bons e delicados alimentos, em suma, quer fazer sua vida de rei, mas o súdito não
quer que o rei ponha suas coisas reais, nem que mande, nem quer adaptar-se aos alimentos do
rei. O rei não se sente livre e por amor à liberdade volta-se ao seu palácio real. Onde não reina
minha Vontade não sou livre, a vontade humana põe contínua oposição à minha e por isso não
tendo a salvo nossos direitos, não podemos reinar e por isso estamos em nossa morada real".

22-4
Junho 17, 1927

Como a Vontade de Deus é tudo. Como vê novamente o padre Di Francia, e ele lhe diz suas surpresas.

(1) Sinto minha pobre mente como fixa no centro do Fiat Supremo, e movendo-me em torno deste
centro difundia-me em todos seus atos, abraçando na interminabilidade de sua luz a todos e a
tudo, mas enquanto isso fazia pensava para mim: "Por que devo abraçar a todos e a tudo estando
no Querer Divino?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro de mim disse-me:

(2) "Minha filha, minha Vontade é tudo, não há coisa que dela não receba a vida, não há lugar onde
não se encontre, não há efeito bom que dela não surja, tudo é seu, dela tudo depende; por isso na
alma onde Ela reina quer encontrar a todos e tudo o que é seu, e se não encontrasse a todos e a
tudo se sentiria dividida em seu império, separada de seus atos, o que não pode ser. Eis por que
sentir em ti a Vida do Fiat Divino, junto com Ela tu sentes a todos e a tudo: Sentes a vida do sol
que dá luz, aquece e fecunda, e à terra que respirando esta luz se torna fecunda, veste-se de
plantas e flores, e dando-se a mão terra e sol, sustentam e alegram todas as gerações. É a minha
Vontade que dá vida ao sol, que faz respirar a terra para alegrar toda a Criação, fazendo cantar os
pássaros, saltar e balir os cordeiros e tudo o que acontece no universo; não queres tu acaso sentir
tudo o que faz a minha Vontade, que fechando em ti como num só centro tudo, faz-te sentir o
coração humano que palpita, a mente que pensa, as mãos que agem, e que enquanto dá vida a
tudo isto, não sendo todos para Ela, não encontra a correspondência de seus atos divinos nos atos
da criatura, e quer de ti o que eles não fazem? Quer que todos seus atos sejam preenchidos por
você com os atos de sua mesma Vontade Divina. Por isso sua tarefa é grande e requer suma
atenção".

(3) Depois disto encontrei-me fora de mim mesma, e enquanto procurava o meu doce Jesus
encontrei-me com o padre Di Francia, estava todo alegre e disse-me:

(4) "Sabes quantas belas surpresas encontrei? Eu não acreditava nela quando estava na Terra,
embora pensasse que tinha feito algum bem ao publicar o Relógio da Paixão, mas as surpresas
que encontrei são maravilhosas, encantadoras, de uma raridade jamais vista, todas as palavras
concernentes à Paixão de Nosso Senhor mudadas em luz, uma mais bela que a outra, todas
entrelaçadas entre elas, e estas luzes crescem sempre à medida que as criaturas fazem as Horas
da Paixão, assim outras luzes se agregam às primeiras. Mas o que mais me surpreendeu foram as
poucas palavras publicadas por mim sobre a Divina Vontade. Cada palavra mudada em sol, que
investindo com seus raios todas as luzes formam tal surpresa de beleza que se permanece
arrebatado, encantado. Você não pode imaginar como fiquei surpreso ao me ver no meio destas
luzes e destes sóis, como fiquei contente e agradeci ao nosso Sumo Bem Jesus que me deu a
ocasião e a graça de fazê-lo; também você agradeça-lhe de minha parte".

(5) Eu fiquei maravilhada ao ouvir isto, e estava fazendo minhas orações no Fiat Divino, querendo
que tomassem parte também os mesmos bem-aventurados, e meu amável Jesus me disse:
(6) "Minha filha, em tudo o que se faz em minha Vontade Divina, ainda que a alma não ponha a
intenção, todos tomam parte, muito mais os bem-aventurados que vivem na unidade dela. Minha
Vontade se encontra por toda parte, e com sua força unificadora leva a todos, como ato seu o que
faz a criatura nela; só há esta diferença, que se a alma que opera em minha Vontade na terra põe
a intenção de dar glória especial a quem vive na pátria celestial, os bem-aventurados do Céu se
sentem, na unidade de meu Querer, chamar por aquela que quer parabenizá-los e glorificá-los de
mais; eles a olham com tanto amor e complacência, que estendem sua proteção toda especial
sobre ela. Quem não trabalha na unidade do meu Fiat fica no baixo, porque lhe falta a força para
subir ao alto, suas obras não possuem nem a força comunicativa, nem a de elevar-se, as correntes
de comunicação estão fechadas e estão vazias de luz. Se tu soubesses que diferença há entre
quem age, inclusive o bem, na unidade do meu Querer, e quem age fora dele, inclusive o bem,
mesmo à custa da tua vida não farias nada, por mínimo que seja, fora da minha Vontade".

(7) E depois, vendo-me com amor no mais íntimo de meu interior continuou:
(8) "Minha filha, vim para ver e visitar as propriedades de meu amor que depositei em tua alma, e
se tudo está em ordem e íntegro como foi posto por Mim".
(9) E depois de ter observado tudo, desapareceu.

23-4
Setembro 28, 1927
Na Divina Vontade não pode haver imperfeições, e deve-se entrar nela nu de tudo. Quem não
faz a Divina Vontade destrói a Vida Divina em si, e isto é um delito que não merece piedade. Só a Divina Vontade é repouso. Castigos.

(1) Sentia-me toda abandonada no Fiat Supremo, mas em meio à Santidade de um Querer tão
santo me sentia imperfeita, má e pensava em mim: "Como pode ser que meu amado Jesus me diz
que me faz viver dentro de seu Querer Divino, e no entanto me sinto tão má?" E o meu adorado
Jesus a mover-se dentro de mim disse-me:

(2) "Minha filha, em minha Vontade Divina não pode haver nem imperfeições nem maldades, Ela
tem a virtude purificadora e destruidora de todos os males, sua luz purifica, seu fogo destrói até a
raiz do mal, sua Santidade santifica e embeleza, de maneira que deve servir para fazê-la feliz e
tomar todas os seus prazeres com quem vive nela, não admite a viver em meu Querer Divino a
criaturas que possam levar nelas imperfeições, amarguras, seriam coisas contra sua natureza, e
por isso jamais poderia admiti-las a viver em Ela; mas o que tu dizes são impressões de feiúra, de
imperfeições, de maldades, e a minha vontade se serve delas como escabelo ou terra que se tem
debaixo dos pés, que nem sequer as olha e só pensa em gozar a sua pequena filha e em lhe pôr
no colo seus atos, suas alegrias, suas riquezas para fazê-la feliz, e assim poder gozar da felicidade
dela. Minha Vontade dá o que tem e não admite nela coisas que não lhe pertençam, ainda
mínimas, por isso quem quer viver nela deve entrar nu de tudo, porque a primeira coisa que faz
meu Querer é vestir a alma de luz, embelezar com adornos divinos, imprime sobre a testa o beijo
da paz perene, da felicidade e da firmeza; o humano não tem nada que fazer nela, não tem nem
vida nem lugar, e a alma mesma sente tal rejeição pelo que não pertence a meu Querer, que daria
a vida antes de tomar parte no que não pertence à santidade da minha Divina Vontade".

(3) Depois seguia meu abandono no Fiat Divino, e meu doce Jesus acrescentou: "Minha filha,
minha Divina Vontade foi dada desde o princípio da Criação como vida das criaturas, e Ela tomou o
compromisso de manter esta sua vida nelas, íntegra, bela, em seu pleno vigor, fornecendo-lhe em
cada ato de criatura um ato divino dela, um ato da altura da sua santidade, da sua luz, do seu
poder e beleza. Ela se punha à expectativa esperando os atos das criaturas para dar-lhes do seu,
de modo de fazer neles um presságio de Vida Divina digna de sua potência e sabedoria. Para
compreender isto basta apenas dizer que meu Querer Divino devia formar tantas Vidas de Si
mesmo em cada uma das criaturas, e por isso punha em exercício de trabalho toda sua habilidade
e qualidades infinitas que possuía. Como teriam sido belas estas Vidas Divinas nas criaturas, Nós
olhando-as devíamos encontrar nelas nosso reflexo, nossa imagem, o eco de nossa felicidade; que
alegria, que festa teria sido a Criação para Nós e para as criaturas! Agora você deve saber que
quem não faz minha Divina Vontade e não vive nela, quer destruir a própria Vida Divina nela, Vida
que devia possuir. Destruir a própria Vida, que crime!

Quem não condenaria quem quisesse destruir a própria vida do corpo, ou quem não quisesse tomar o alimento e se tornasse débil,
enfermo, inábil para tudo? Então quem não faz a minha vontade destrói a própria Vida que a
bondade divina quer dar-lhe, e quem a faz, mas nem sempre e não vive nela, como lhe falta o
alimento contínuo e suficiente, é o pobre enfermo, sem força, débil, inábil para fazer o verdadeiro
bem, e se alguma coisa parece que faz, é sem vida, com fadiga, porque é meu querer o único que
pode dar-lhe vida; que delito minha filha, que delito, que não merece nenhuma piedade".
(4) Meu amado Jesus mostrava-se cansado e como intranquilo, tanto era a dor de tantas Vidas
destruídas nas criaturas, também eu sentia por isso uma pena e dizia a Jesus: "Meu amor, diz-me,
o que tens? Você sofre muito, a destruição destas Vidas Divinas de sua adorável Vontade é sua
maior dor, por isso te rogo, faça que venha seu reino, a fim de que esta sua dor se transforme em
alegria, e assim a Criação não te dê mais inquietudes e dor, mas repouso e felicidade". E vendo
que com as minhas palavras não conseguia acalmá-lo, chamei na minha ajuda a todos os atos da
sua Vontade feitos na Criação, e emitindo os meus, circundei Jesus com os atos dela. Uma luz
imensa se fazia em torno de Jesus, esta luz eclipsava todos os males das criaturas e Ele tomava
repouso e depois acrescentou:

(5) "Minha filha, é só o meu Querer que pode me dar repouso. Se queres acalmar-me quando me
vês inquieto, presta-te tu mesma ao desenvolvimento da Vida da minha Vontade em ti, e fazendo
teus os seus atos encontrarei em ti a sua luz, a sua santidade, as suas alegrias infinitas que me
darão repouso, e farei uma pausa em castigar as criaturas, castigos muito merecidos por estas
Vidas Divinas que destroem nelas e que merecem que lhes destrua todos os bens naturais e
mesmo sua própria vida, não vê como o mar sai de seus limites e faz caminho para arrebatar estas
vidas em seu seio e enterrá-las nele? O vento, a terra, quase todos os elementos caminham para
rasgar as criaturas e destruí-las. São os atos de minha Vontade espalhados na Criação por amor
delas, e que não os tendo recebido com amor se convertem em Justiça".

(6) Eu fiquei espantada ao ver isto e rogava a meu sumo bem Jesus que se acalmasse e que logo
viesse o reino do Fiat Divino.

24-4
Abril 4, 1928
Em Deus a palavra é tudo. O conhecimento é o portador do ato divino e da posse dos bens divinos pelas criaturas. Cuidado que prescreve Jesus.

(1) Estava fazendo meu giro no Fiat Divino, e em minha mente se formavam tantos pensamentos
sobre o Querer Supremo e pensava entre mim: "Como pode ser que somente ao conhecer as
criaturas os conhecimentos sobre a Divina Vontade possa vir seu reino? Se para vir o reino da
Redenção fez tanto, não bastou só conhecer, senão que fez, sofreu, morreu, fez milagres, e agora
para o reino do Fiat Divino, que é mais que a Redenção, bastarão somente os conhecimentos?"
Enquanto pensava assim, o meu amável Jesus mexeu-se dentro de mim e disse-me:

(2) "Minha filha, as criaturas, para formar a menor coisa têm necessidade de obras, de passos e de
matérias primas, mas Deus, teu Jesus, não tem necessidade de nada para criar e formar as obras
maiores, até o universo inteiro; para nós a palavra é tudo, não foi todo o universo criado somente
com a palavra? E ao homem para gozar de todo este universo só bastou conhecê-lo; são os
caminhos que tem nossa Sabedoria, que para dar nos servimos da palavra, e o homem para
receber se deve servir do conhecimento do que Nós temos dito e feito com nossa palavra, com
efeito, se alguém não conhece todas as variedades das plantas que estão espalhadas por toda a
terra, não goza nem é dono dos frutos das plantas que desconhece, porque na nossa palavra está
não só a força criadora, mas unida a ela está a força comunicativa que serve para comunicar às
criaturas o que temos dito e feito, mas se não conhecem nada lhes vem dado. O que o homem
adicionou para desfrutar a luz do sol e receber seus efeitos? Nada, nem acrescentou nada à água
que bebe, ao fogo que o aquece e a tantas outras coisas criadas por Mim, mas as necessitava
conhecer, de outra maneira teria sido para o homem como se não existissem. O conhecimento é o
portador da vida de nosso ato e o portador da posse pela criatura de nossos bens, assim que os
conhecimentos sobre minha Vontade têm virtude de formar seu reino em meio às criaturas, porque
tal foi o nosso propósito, quando os manifestei, e se na Redenção quis descer do Céu para tomar
carne humana, foi porque quis descer em todos os atos humanos para reordená-los, muito mais,
pois Adão se subtraiu de nossa Vontade Divina para contentar sua humanidade, e com isto se
desordenou tudo, perdeu seu estado de origem, e Eu devia fazer o mesmo caminho, descer em
uma Humanidade para reordená-lo de novo, e tudo o que fiz nela devia servir como remédio,
medicamento, exemplo, espelho, luz, para poder pôr em ordem a humanidade decaída. Agora,
tendo feito tudo o que era necessário, e ainda mais, tanto que Eu já não tinha que fazer mais, fiz
tudo e fiz como Deus, com meios surpreendentes e com amor invencível para reordenar esta
humanidade decaída, o homem não pode dizer que Jesus não o fez para curá-lo, para reordená-lo
e colocá-lo a salvo.

Tudo o que Eu fiz em minha Humanidade não foi outra coisa que preparação e
remédios que prescrevia para que curasse a família humana, para regressar de novo na ordem da
minha Divina Vontade. Portanto, depois de cerca de dois mil anos de cuidados, é justo e decente
para nós e para o homem, que este já não esteja doente, mas sim que retorne são para entrar no
reino de nossa Vontade, e por isso se necessitavam os conhecimentos dela, para fazer com que a
nossa palavra criadora, que fala e cria, fala e comunica, fala e transforma, fala e vence, fala e faz
surgir novos horizontes, novos sóis por quantos conhecimentos manifesta, de modo que formarão
tantos doces encantos, que a criatura, surpreendida, ficará conquistada e investida pela luz de meu
eterno Querer, porque não se necessita outra coisa para que venha seu reino que o que as duas
vontades se beijem, que uma se perca na outra, a minha para dar e a vontade humana para
receber. Por isso minha palavra criadora assim como bastou para criar o universo, assim será
suficiente para formar o reino de meu Fiat, mas é necessário que se conheçam as palavras que
disse, os conhecimentos que manifestei, para poder comunicar o bem que contém minha palavra
criadora, por isso insisto tanto em que sejam conhecidos os conhecimentos sobre minha Vontade,
a finalidade pela qual os manifestei, para poder realizar meu reino que tanto suspiro dá-lo às
criaturas, e Eu atropelarei Céu e terra para obter minha tentativa".

25-4
Outubro 25, 1928

A alma que vive no Fiat faz surgir e põe em campo todas as obras divinas. Exemplo. A recepção do Pai Celestial.

(1) Minha pequena e pobre mente me faz sentir como fixa no Fiat Divino, sinto toda a força do doce
encanto da luz de suas verdades, as encantadoras cenas de todos os prodígios e variedade de
belezas que Ele contém, e embora quisesse pensar em outra coisa, me falta o tempo para fazê-lo,
porque o mar do Querer Divino murmura sempre, e seu murmúrio ensurdecedor, emudece a todas
as outras coisas e me tem dentro de seu mar para murmurar junto com ele. Oh potência, oh doce
encanto do eterno Querer, como admirável e amável és! Queria que todos murmurassem junto
comigo, e pedia à Soberana Rainha que me desse o murmúrio de seu amor, de seus beijos, para
dá-los novamente a Jesus, porque tinha recebido a comunhão e sentia que para agradá-lo queria
dar-lhe os beijos de sua Mãe. E meu sempre amável Jesus movendo-se e fazendo-se sentir em
meu interior me disse:

(2) "Minha filha, tudo o que fez a Rainha do Céu, tudo está naquele Fiat Divino, o qual teve a glória,
a honra de possuí-lo, pode-se dizer que todos seus atos estão incluídos no mar interminável do
Querer Divino e nadam nele como nadam os peixes no mar; agora, a alma que vive n'Ele faz surgir
não só todos os atos da minha Mãe Celestial, mas faz surgir de novo e põe em campo todas as
obras do seu Criador. Só quem vive em meu Querer pode sentar-se à mesa divina, pode abrir
todos seus tesouros, pode entrar no sacrário dos mais íntimos segredos dos esconderijos divinos,
e como dona os toma e os dá a seu Criador e, oh! Quantas coisas põe em movimento, faz surgir e
põe em ação todas as obras divinas, e ora faz uma música divina, ora faz uma cena das mais belas
e comovedoras, ora põe em movimento todo seu amor e fazendo ressurgir forma uma cena
encantadora toda de amor a seu Criador; então ela é a renovadora de todas as alegrias e felicidade
para o seu Criador. Assim que quiseste dar-me os beijos da Mãe Rainha, puseste-os em
movimento e correram para me beijar. Para quem vive em minha Divina Vontade acontece como a
uma pessoa que entrasse em um palácio real, o rei que o habita tem salões de concertos musicais,
objetos para formar as cenas mais belas, obras de arte de variada beleza; agora, a pessoa que
entra senta-se no salão do concerto musical e toca, o rei seduzido pelo som corre e vai ouvir a
sonata.

Agora, aquela pessoa vendo que o rei goza, põe em movimento os objetos e põe em
campo a cena, o rei fica arrebatado e se bem sabe que são coisas suas, mas aquela pessoa as
pôs em movimento para lhe dar prazer. Assim é para quem vive em meu Fiat Divino, entra no
palácio real de seu Pai Celestial, e encontrando tantas variedades de belezas as põe todas em
movimento, para rejubilar, fazer feliz, amar Aquele que a pôs dentro, e assim como não há bem
que não possua meu eterno Querer, assim não há alegria, amor, glória, que a alma não possa dar
ao seu Criador e, oh! Como nos é agradável ver esta afortunada criatura no palácio real de nosso
Querer Divino, que tudo quer tomar, tudo quer pôr em movimento, tudo quer tocar, parece que não
está contente se não toma tudo para nos dar tudo, fazer-nos as festas e renovar-nos as nossas
alegrias e felicidade. E ao vê-la damos-lhe as boas-vindas e Nós mesmos lhe dizemos: ‘Filha
amadíssima, em breve, toca-nos uma canção divina, escrevemos-vos uma cena comovente de
amor, renovem-nos a nossa felicidade.' E ela, ora nos renova as alegrias da Criação, ora as da
Soberana Rainha, ora as da Redenção, e termina sempre com seu, e nosso agradável refrão: Teu
Querer seja conhecido e reine como no Céu assim na terra".

26-5
Abril 28, 1929

O Fiat Divino torna inseparável a criatura de Deus. Transbordamento divino
pela criatura. Tudo está seguro em quem vive no Fiat, e tudo está em perigo em quem faz a vontade humana.

(1) Estava a fazer a meu giro no Fiat Divino para seguir os seus atos na Criação, e tendo chegado
ao Éden, a minha pobre mente parou no ato quando criava o homem, e infundindo-lhe o fôlego
infundia-lhe a vida, e rogava a Jesus que desse o alento a minha pobre alma para infundir-me o
primeiro alento divino da Criação, a fim de que com seu alento regenerador pudesse recomeçar
minha vida toda no Fiat, de acordo com a finalidade para a qual me tinham criado. Mas enquanto
isso fazia, meu doce Jesus saiu de dentro de mim, como em ato de querer infundir-me seu alento e
me disse:
(2) "Minha filha, é nossa Vontade que a criatura volte a subir a nosso seio, entre nossos braços
criadores para dar-lhe novamente nosso alento contínuo, e neste alento dar-lhe a corrente que
gera todos os bens, alegrias e felicidade, mas para poder dar este alento, o homem deve viver em
nosso Querer, porque só n'Ele o pode receber, e Nós dá-lo. Nosso Fiat tem tal virtude, de tornar
inseparável a criatura de Nós, e o que Nós somos e fazemos por natureza, ela pode fazê-lo por
graça. Nós ao criar o homem não o colocávamos separado de nós, e para tê-lo junto lhe dávamos
nossa mesma Vontade Divina, a qual lhe daria o primeiro ato para agir junto com seu Criador; foi
esta a causa de que nosso amor, nossa luz, nossas alegrias, a potência e beleza nossas
regurgitaram todas juntas, e, transbordando fora do nosso Ser Divino, colocamos a mesa àquele
que tínhamos formado com tanto amor com as nossas mãos criadoras e gerado com o nosso
próprio alento. Queríamos gozar nossa obra, vê-lo feliz com nossa mesma felicidade, embelezado
com nossa beleza, rico de nossa riqueza, muito mais que era Vontade nossa estar junto com a
criatura, trabalhar juntos e nos entreter junto com ela; os jogos não podem ser feitos de longe, mas
de perto. Então, por necessidade de criação e para manter integrada nossa obra e a finalidade com
a qual a havíamos criado, o único meio era dotar o homem de Vontade Divina, a qual o teria
conservado como saiu de nossas mãos criadoras, e ele teria gozado todos nossos bens, e Nós
devíamos gozar porque ele era feliz. Por isso não há outros meios para fazer que o homem retorne
a seu posto de honra, e que entre de novo a trabalhar junto com seu Criador, e que se entretenham
mutuamente, que entre de novo em nosso Fiat, a fim de o levemos triunfante a nossos braços que
o estão esperando para o estreitar forte a nosso seio divino, e dizer-lhe: „Finalmente, depois de seis
mil anos voltaste, andaste errante, provaste todos os males, porque não há bem sem nosso Fiat,
provaste o suficiente e tocaste com a mão o que significa sair d‟Ele, por isso não saias mais e vem
descansar e gozar o que é teu, porque em nosso Querer tudo te foi dado'. Portanto minha filha,
seja atenta, tudo lhe daremos se viver sempre em nosso Fiat, nosso alento tomará prazer em dar-
se sempre a ti, para te dar nossas alegrias, nossa luz, nossa santidade, e comunicar-te a atitude de
nossas obras, a fim de que sempre possamos ter junto à pequena filha regenerada por nossa
Divina Vontade".
(3) Dito isto, retirou-se dentro de mim, e eu continuava a seguir os inúmeros atos do Fiat Divino, e o
bendito Jesus me disse:

(4) "Minha filha, é prerrogativa de meu Querer Divino pôr em seguro tudo o que possui; assim
quando entra na alma, como possuidor dela, todas as coisas as põe em seguro: põe em seguro a
santidade, a graça, a beleza, todas as virtudes, e para fazer que tudo esteja em seguro, faz
substituir na alma a sua santidade divina, a sua beleza, suas virtudes, tudo em modo divino, e
pondo nisso seu selo que é intangível de toda mudança, torna à criatura intangível de todo perigo.
Portanto, para quem vive no meu Querer nada há a temer, porque Ele assegurou cada coisa com o
seu seguro divino. Ao contrário, a vontade humana faz com que tudo fique em perigo, mesmo a
própria santidade, as virtudes que não estão sob o domínio contínuo do meu Fiat, estão sujeitas a
perigos contínuos e a oscilações contínuas; as paixões têm o caminho aberto para pôr tudo em
desordem e lançar por terra as virtudes, a santidade, formadas com tantos sacrifícios. Se não há a
virtude vivificadora e alimentadora contínua de meu Querer, que feche todas as portas e todos os
caminhos a todos os males, a vontade humana tem portas e caminhos para fazer entrar o inimigo,
o mundo, a estima própria, as misérias, as perturbações, que são a traça das virtudes e da
santidade, e quando há a traça não há força suficiente para estar firmes e perseverantes no bem,
por isso tudo está em perigo quando não reina minha Divina Vontade. Além disso, é tanto o mal
que não reine nossa Divina Vontade no meio das criaturas, que todas as coisas estão em contínua
oscilação, nossa própria Criação, todos os bens da Redenção, são intermitentes, porque não
encontrando na família humana nosso Fiat reinante, nem sempre pode dar os mesmos bens, aliás,
muitas vezes devemos servir-nos da Criação e Redenção para armá-la contra o homem, porque o
querer humano se põe contra o nosso, e Nós, por justiça, devemos feri-los, para lhe fazer
compreender que não reinando o nosso Querer, o humano rejeita os nossos bens e obriga-nos a
castigá-los; a mesma glória que a criatura nos dá por meio da Criação e Redenção, não é fixa,
muda a cada ato de vontade humana.

Assim, o pequeno interesse que a criatura nos devia dar, de
seu amor e de sua glória que nos deveria dar, porque tanto lhe havíamos dado, não é sequer renda
fixa, mas sim que tudo é intermitente, porque só a nossa Vontade tem virtude de tornar irremovíveis
e contínuos os seus atos e aqueles onde Ela reina. Assim, até que nosso Fiat Divino reine tudo
está em perigo; a Criação, a Redenção, os sacramentos todos estão em perigo, porque o humano
querer hora abusa, hora não reconhece Aquele que tanto o amou e beneficiou, hora pisoteia sob
seus pés nossos próprios bens; por isso, até que não reine nosso Querer que porá no meio das
criaturas a ordem divina, sua firmeza, harmonia e seu dia perene de luz, de paz, tudo estará em
perigo para ele e para Nós, nossas mesmas coisas estarão sob a opressão do perigo e não
poderão dar às criaturas os bens abundantes que elas contêm".

27-5
Outubro 12, 1929

Com viver no Divino Querer, o querer humano ascende e o Divino desce. Como se adquirem as prerrogativas divinas.

(1) Estava fazendo meu habitual giro no Fiat Divino, e chamando tudo o que havia feito na Criação
e Redenção, oferecia-os à Majestade Divina para impor que a Divina Vontade fosse conhecida, a
fim de que reine e domine em meio às criaturas. Mas enquanto fazia isto pensava em mim: "Qual é
o bem que faço ao repetir sempre estes giros, atos e ofertas? E meu amável Jesus movendo-se em
meu interior me disse:

(2) "Minha filha, cada vez que gira em nossas obras e se une aos atos que fez meu Fiat na Criação
e Redenção para oferecê-los, você dá um passo para o Céu e minha Divina Vontade dá um passo
para a terra, assim que você sobe, Ela desce, e enquanto permanece imensa se diminui e se
encerra em tua alma para repetir junto contigo teus atos, teus oferecimentos, tuas orações, e Nós
sentimos que nosso Querer Divino roga em ti; sentimos sair de ti seu respiro; sentimos seu
batimento, que enquanto bate em Nós, ao mesmo tempo bate em ti; sentimos a potência de nossas
obras criadoras, que alinhando-se em torno de Nós, rogam com nosso poder divino que nossa
Divina Vontade desça a reinar sobre a terra; muito mais, porque no que você faz não é uma
intrusa, ou um indivíduo que não ocupando nenhum ofício não tem nenhum poder, mas sim foi
chamada, e de modo especial te foi dado o ofício de fazer conhecer nossa Divina Vontade, e de
impor que nosso reino seja constituído em meio à família humana. Por isso há grande diferença
entre quem recebeu um ofício de Nós, e entre quem não recebeu nenhum empenho. Quem
recebeu um ofício, tudo o que faz o faz com direito, com liberdade, porque tal é nossa Divina
Vontade, ela representa todos aqueles que devem receber o bem que queremos dar por meio do
ofício a ela dado, então não é só você que dá um passo para o Céu, mas todos aqueles que
conhecerão minha Divina Vontade, e Ela descendo, desce por meio de você em todos aqueles que
a farão reinar, por isso o único meio para obter o reino do Fiat Divino, é servir-se de nossas obras
para obter um bem tão grande".

(3) Depois continuava seguindo os atos da Divina Vontade, e tendo chegado ao ponto quando
chamou do nada à Soberana Rainha, detive-me a compreendê-la, toda bela, majestosa, seus
direitos de Rainha se estendiam a todas partes, Céu e terra dobravam os joelhos para reconhecê-
la como Imperatriz de todos e de tudo, e eu do fundo do meu coração venerava e amava a
Soberana Senhora, e de pequena qual sou queria dar um salto sobre seus joelhos maternos para
lhe dizer: "Mãe Santa, toda bela Tu és, e tal és porque viveste de Vontade Divina. Ah! você que a
possui, peça-lhe que desça sobre a terra e venha a reinar em meio a seus filhos". Mas enquanto
isso, meu adorado Jesus adicionou:

(4) "Minha filha, minha Mãe, embora não tivesse sido minha Mãe, só porque fez perfeitamente a
Divina Vontade e não conheceu outra vida, e viveu na plenitude dela, em virtude do viver sempre
de meu Fiat teria possuído todas as prerrogativas divinas, a mesmo teria sido Rainha, a mais bela
de todas as criaturas, porque onde reina meu Fiat Divino quer dar tudo, não fica com nada, é mais,
a ama tanto, que fazendo uso de seus estratagemas amorosos se esconde, se encolhe na criatura,
amando o fazer-se dominar por ela. De fato, não foi um dominar o que fez a Soberana do Céu do
meu Querer Divino, que chegou a me fazer conceber e a me esconder em seu seio? Oh! se todos
conhecessem o que sabe fazer e o que pode fazer meu Querer Divino, fariam todos os sacrifícios
para viver só de minha Vontade".

 




28-5
Março 12, 1930
Deus não leva em conta o tempo, mas sim os atos que fazemos. Exemplo de Noé. O bem que
possui um sacrifício prolixo e contínuo. Cada ato de criatura possui seu germe distinto.

(1) Meu voo no Fiat Divino continua, minha pobre mente não sabe estar sem girar em seus atos
inumeráveis, sinto que uma força suprema me tem como fixa nas obras de meu Criador, e ela gira
e volta a girar sempre, sem cansar-se jamais, e oh! quantas belas surpresas encontra, hora na
Criação, hora na Redenção, e nas quais me surpreendem o bendito Jesus faz-se narrador, e isto
não é outra coisa que uma invenção maior do seu amor. Depois, enquanto girava no Éden e nos
tempos antes de sua vinda à terra, pensava em mim: "E por que Jesus demorou tanto tempo para
vir redimir o gênero humano?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(2) "Minha filha, a nossa infinita sabedoria quando deve dar um bem à criatura, não conta o tempo,
mas sim os atos das criaturas, porque ante a Divindade não existem dias e anos, e sim só um dia
perene, e por isso não medimos o tempo, mas vêm contados por Nós os atos que têm feito. Assim,
naquele tempo que a ti parece tão longo, não tinham sido feitos os atos queridos por Nós para vir
redimir o homem, e só os atos determinam fazer vir o bem, e não o tempo. Muito mais que
obrigavam a nossa Justiça a exterminá-los da face da terra, como aconteceu no dilúvio, que só
Noé mereceu, ao obedecer à nossa Vontade e com a prolixidade do seu longo sacrifício de fabricar
a arca, salvar-se com sua família e encontrar em seus atos a continuação da nova geração na qual
devia vir o prometido Messias. Um sacrifício prolixo e contínuo possui tal atrativo e força
arrebatadora sobre o Ente Supremo, que o fazem decretar dar bens grandes e continuação de vida
ao gênero humano. Se Noé não tivesse obedecido e não se tivesse sacrificado para cumprir um
trabalho tão longo, teria sido ele também atropelado no dilúvio, e não se salvando a si mesmo, o
mundo, a nova geração teria terminado. Olhe o que significa um sacrifício prolixo e contínuo, é tão
grande que põe a salvo a si mesmo e faz surgir a vida nova nos demais, e o bem que
estabelecemos dar. Eis por que, para o reino da minha Divina Vontade, quis o teu longo e contínuo
sacrifício de tantos anos de cama. Teu longo sacrifício te punha a salvo, mais que arca no reino de
minha Divina Vontade, e inclina a minha bondade a dar um bem tão grande, como é fazê-la reinar
no meio das criaturas".

(3) Depois disto continuava meu giro no Fiat Divino para levar todos os atos das criaturas em
homenagem ao meu Criador, e pensava em mim: "Se chego a recolher tudo o que elas fizeram e
encerrar tudo no Querer Divino, não se transformarão em atos de Divina Vontade?" e o meu doce
Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, todos os atos das criaturas, cada um deles possui seu germe segundo como foi
feito, se não foi feito em meu Fiat Divino não possui seu germe, portanto não poderá jamais ser ato
de minha Vontade, porque no ato de fazê-lo faltava seu germe de luz, que tem a virtude de
transformá-lo em sol, que põe seu germe de luz como ato primeiro no ato da criatura. Nos atos das
criaturas acontece como se uma pessoa tem a semente de flores, semeando-a terá flores, e se
semear a semente de frutos, terá frutos, e nem a semente de flores dará frutos, nem a dos frutos
dará flores, mas cada uma dará segundo a natureza da sua semente. Assim os atos das criaturas,
se no ato esteve um fim bom, uma finalidade santa, para me agradar, para me amar, em cada um
dos atos se verá: em um o germe da bondade, em outro o germe da santidade, o germe de me
agradar, o germe de me amar; estes germes não são luz, mas simbolizam: quem a flor, quem o
fruto, quem uma planta e quem uma joia preciosa, e Eu sinto a homenagem da flor, do fruto, e
assim por diante, mas não a homenagem que pode me dar um Sol; e recolhendo você todos estes
atos para encerrá-los em meu Fiat, ficam tal como são, cada um a natureza que a semente lhe
deu, e se veem que são atos que pode fazer a criatura, não atos que pode fazer minha Divina
Vontade com seu germe de luz no ato delas. O germe de Vontade Divina não vem cedido por Ela,
mas sim quando a criatura vive nela, e em seus atos lhe dá o primeiro posto de honra".

29-5
Março 6, 1931

Como só Jesus foi o autor do estado de sofrimento de Luisa, e porque o obrigaram permitiu 
uma pausa. Como em Deus é repouso absoluto, fora de Deus trabalho.

(1) Continuo vivendo entre as amarguras de meu estado presente, o pensamento de que o bendito
Jesus está fazendo chover flagelos, e que os povos permanecem nus e em jejum, tortura-me; e o
pensamento de que meu amado e sumo Bem Jesus permaneceu só em seu sofrer, e eu não estou
mais junto com Ele nas penas, oh, como me atormenta! Parece-me que Jesus é toda atenção
sobre mim para não me fazer cair como antes nos sofrimentos, mas sim esconde em Si todas as
penas para me deixar livre. E vendo-me afligida, parece-me que o seu intenso amor o faz pôr de
lado as suas penas para prestar atenção à minha aflição, e me diz:

(2) "Filha boa, minha filha, ânimo, teu Jesus te ama ainda, nada diminuiu o meu amor por ti, e isto
porque não foste tu que me recusaste a sofrer, não, minha filha jamais o teria feito, obrigaram-te, e
eu para te dar a paz e para lhes fazer ver que fui Eu quem te teve naquele estado de sofrimento
por tão longos anos, que não era nem a enfermidade nem outra causa natural, senão minha
Paterna bondade que queria ter quem me suplantasse na terra em minhas penas, e estas para
bem de todos. E agora que te obrigaram a ti e me obrigaram também a Mim com suas imposições,
o fiz cessar de todo, dando-te uma pausa, isto diz claramente que só teu Jesus era o autor de seu
estado, mas não posso esconder minha dor, é tão grande que posso dizer que em toda a história
do mundo nunca recebi uma dor semelhante das criaturas. Meu coração está tão dolorido e
dilacerado por esta dor, que sou obrigado a te ocultar o rasgo profundo para não te amargar de
mais, e além disso ao ver a indiferença de alguns, e você sabe quem são, como se nada me
tivessem feito, acrescenta a minha dor e obrigam a minha Justiça a continuar a enviar os flagelos,
e continuarei a enviá-los; dizia-te antes, que se chegasse a te suspender de teu estado de
sofrimento um só mês, sentirão e verão quantos castigos choverão sobre a face da terra. E
enquanto a minha Justiça faz o seu curso, vamos juntos tratar da minha Divina Vontade, e eu vou
fazê-la conhecer, e você em receber o bem de seus conhecimentos, porque cada conhecimento
leva o crescimento da Vida de minha Vontade em você, e a cada seu ato feito no novo
conhecimento, meu Fiat toma mais terreno em sua alma, e nela estende principalmente seu reino.
Muito mais que as criaturas não têm poder de entrar em minha Divina Vontade para nos perturbar
e ditar leis, por isso somos livres de fazer o que quisermos, temos liberdade absoluta, por isso
esteja atenta em continuar navegando seus mares intermináveis".

(3) Então, enquanto dizia isto, minha pequena inteligência me senti transportando-a num abismo de
luz inacessível; esta luz escondia todas as alegrias, todas as belezas, aparentemente parecia luz,
mas olhando para dentro, não havia bem que não possuía. E o meu doce Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, nosso Ser Divino é luz puríssima, luz que contém tudo, enche tudo, vê tudo, obra
tudo; luz que nenhum pode alcançar a ver até onde chegam nossos confins, sua altura e
profundidade, a criatura se perde em nossa luz porque não encontra sua praia, o seu porto para
sair Dela . E se a criatura toma desta nossa luz, são gotículas apenas que lhe servem para encher-
se toda de luz, até transbordar fora, mas nossa luz não diminui porque a criatura tenha tomado do
nosso, mas vem substituída instantaneamente pela virtude renovadora de nossa luz. Então nosso
Ser Supremo está sempre em um nível, em perfeito equilíbrio. Podemos dar o quanto quisermos
sem perder nada, se encontrarmos almas que queiram tirar o nosso. Aliás, se encontrarmos quem
queira tomar, nos pomos a trabalhar, porque você deve saber que dentro de Nós é repouso
absoluto, não temos o que fazer, não há nem o que tirar nem o que pôr, nossa felicidade é plena e
completa, nossas alegrias são sempre novas, nossa única Vontade como obrante em Nós nos dá o
repouso perfeito das bem-aventuranças de nosso Ser Divino, que não tem princípio nem terá fim.
Então este abismo de luz que você vê contém um abismo de alegria, de potência, de beleza, de
amor, de tantos etc, e Nós enquanto nos congratulamos, nos repousamos em elas, porque só se
pode chamar verdadeiro e absoluto repouso quando nada falta e nada há que acrescentar.
Em troca fora de nossa Divindade sai nosso trabalho em campo, e este campo são as criaturas; nossas
mesmas qualidades divinas que dentro de nós nos dão repouso, fora de nós mesmos nos dão
trabalho, e agora fazemos trabalhar a nossa Vontade em favor das criaturas, aquele Fiat Divino
que tiramos em campo na Criação, do qual saíram todas as coisas, não cessa jamais de trabalhar;
incessantemente trabalha, trabalha conservando tudo, trabalha porque quer ser conhecido, porque
quer reinar, trabalha ao tirar novas almas à luz do mundo e nelas forma seus desígnios admiráveis
para desenvolver seu trabalho e para ter ocasião de trabalhar sempre, trabalha no retirar as almas
no seio da eternidade. À nossa Vontade Divina podemos chamar a trabalhadora que não poupa
jamais seu trabalho contínuo, e mesmo a favor de quem não a reconhece. Trabalha nosso amor,
trabalha nossa misericórdia, nossa potência, e também nossa Justiça trabalha a favor das
criaturas, de outra maneira nosso Ser Supremo não seria um Ser equilibrado e perfeito, senão teria
o defeito da debilidade se nossa Justiça se pusesse à parte, encurralando-a quando tem toda a
razão de fazer seu curso para castigar. Olha então, nosso trabalho são as criaturas, porque tendo-
as tirado de dentro de nossa fogueira de amor, nosso amor nos leva ao trabalho para amá-las
sempre, sempre. Porque se cessasse nosso trabalho cessaria o amor e a Criação se resolveria em
nada".

30-5
Dezembro 6, 1931
O bem da prolixidade do tempo. Deus conta as horas e os minutos para enchê-los de graças.
Quem faz a Divina Vontade rompe o véu que esconde o seu Criador. Banho de luz que dá a Divina Vontade.

(1) Sentia-me oprimida pelas privações de meu doce Jesus e cansada de meu longo exílio, e
pensava entre mim: "Jamais o teria acreditado, uma vida tão longa. Oh! Se tivesse sido mais breve,
como tantas outras, não teria passado tanto tempo, mas Fiat! Fiat!" Sentia que minha mente queria
desatinar, por isso implorei a Jesus que me ajudasse e lhe jurei que quero fazer sempre sua
Vontade adorável. E o Soberano Jesus, afastando as trevas que me circundavam, fez a sua visita à
minha alma e disse-me com ternura indescritível:
(2) "Filha boa, ânimo, como teu Jesus te quer dar mais e receber mais de ti, permito a prolixidade
do tempo. Não há comparação possível entre quem me deu provas por poucos anos, e quem por
longos anos. Um tempo prolongado diz sempre demais: Mais circunstâncias, mais ocasiões, mais
provas, mais penas, e mantêm-se fiel, constante, paciente em tantas circunstâncias, e não por
pouco mas por longo tempo, oh! Quantas coisas diz de mais. Você deve saber que cada hora de
vida sob o império de minha Divina Vontade, são novas Vidas Divinas que se recebem, novas
graças, novas belezas, novas ascendências a Deus, correspondentes a nova glória. Nós medimos
o tempo pelo que damos, e esperamos a correspondência do ato da criatura para dar de novo; e à
criatura é necessário o tempo para digerir o que lhe demos, e assim fazê-la dar outro passo para
Nós; se nada acrescenta ao que lhe demos, Nós não damos súbito, mas esperamos seu ato para
dar de novo. Por isso não há coisa maior, mais importante, mais aceitável diante de nós, que uma
vida longa, santamente vivida, já que cada hora é uma prova mais de amor, de fidelidade, de
sacrifício que nos deu, e Nós contamos também os minutos, a fim de que nenhum deles não seja
enchido de graças e de nossos carismas divinos. A uma vida breve, poucas horas podemos contar,
e não lhe podemos dar grande coisa, por isso deixa-me fazer, e quero que fiques contente do que
Eu faço, e se queres estar contente pensa que cada hora da tua vida é uma prenda de amor que
me dás, a qual servirá para me empenhar em te amar de mais, não está contente?".

(3) Depois disto estava seguindo meus atos na Divina Vontade e sentia sobre mim o império, sua
imensidão que toda me envolvia por dentro, e meu amado Jesus acrescentou:

(4) "Filha amada de minha Vontade, viver nela significa reconhecer sua Paternidade, e sentindo-se
filha quer estar abraçada, apertada sobre os joelhos de seu Pai, e viver em sua casa, e com direito,
porque se reconhece como seu parto, que com tanto amor o tem gerado e dado à luz, e vê todas
as outras coisas como estranhas, e sem o doce vínculo, nem de Paternidade nem de filiação; por
isso vê com clareza que, saindo da casa de seu Pai, será uma filha desaparecida que não terá nem
sequer um ninho onde possa formar sua habitação. Quem faz e vive em meu Querer Divino rompe
os véus de nossa potência, e encontra que seu Criador potentemente a ama e atrai com sua
potência a sua criatura para fazer-se amar potentemente, rasgando o véu encontra o sacrário da
potência divina e não teme mais, porque, se é poderoso, é poderoso para amar e para se fazer
amar, e amando com amor poderoso, faz-se ousada e rompe o véu da sabedoria divina, da
bondade, da misericórdia, do amor e da justiça, e encontra como tantos Santos divinos que
sabiamente a amam, e com uma bondade terníssima e excessiva, unida a misericórdia
extraordinária, a amam, encontra o amor transbordante, que imensamente a ama, e sendo o Ser
Divino ordem, a ama com justiça, e a criatura passando de um sacrário a outro, não fora mas
dentro destes véus, sente os reflexos de seu Criador e o ama sabiamente, com bondade e ternura,
unidas a misericórdia, que não tendo necessidade seu Deus o dirige para o bem de todas as
gerações, e sentindo-se o amor que lhe transborda no seio, oh! Como gostaria de se desfazer em
amor para amá-lo, mas a justiça conservando-a dá-lhe o amor justo quanto a criatura é possível e a
confirma em vida. Minha filha, quantas coisas escondem estes véus de nossas qualidades divinas,
mas a nenhum é dado quebrar estes nossos véus, senão a quem faz e vive em nosso Querer, ela
sozinha é a afortunada criatura que não vê seu Deus velado, senão como Ele é em Si mesmo. Mas
como não somos reconhecidos qual somos em Nós mesmos, de nosso Ser Supremo têm idéias tão
baixas e inclusive também torcidas, e isto é porque não tendo neles nossa Vontade, não sentem
em si mesmos a Vida Daquele que os criou, tocam nossos véus, mas não o que há dentro, e por
isso sentem nossa potência como opressiva, nossa luz eclipsante como em ato de afastá-los de
Nós e colocá-los à distância, sentem nossa santidade velada que lhes dá vergonha, e desconfiados
vivem imersos em suas paixões, mas a culpa é toda deles, porque existe uma sentença dita por
Nós no paraíso terrenal: ‘Aqui não se entra, este é lugar só para quem faz e vive em nossa
Vontade', e por isso as primeiras criaturas foram postas fora, pondo um anjo de guarda a fim de
que lhes impedisse a entrada. Nossa Vontade é paraíso terrestre na terra, e celestial no céu das
criaturas, e se pode dizer que um anjo é posto à guarda dela. Quem não a quer fazer, e não quer
viver em seus braços e fazer vida comum em sua habitação, seria um intruso se isso fizesse, mas
nem sequer pode fazê-lo, porque nossos véus se fazem tão densos que não encontraria o caminho
para entrar; e assim como um anjo lhe proíbe o ingresso, assim outro anjo guia e dá a mão a quem
quer viver de nossa Vontade. Por isso se importa com morrer milhares de vezes antes de não fazer
nossa Vontade, você deve saber que Ela é toda olhos sobre a feliz criatura que quer viver dela, e
conforme faz seus atos, assim lhe faz seu banho de luz divina; este banho a refresca e lhe faz
sentir os refrigérios divinos, e assim como a luz, conforme se forma, assim produz por própria
natureza sua, dentro de seus véus de luz, fecundidade, doçura, gostos, cores, assim que enquanto
aparentemente só parece luz, dentro esconde tantas belas riquezas e inumeráveis qualidades, que
nenhum outro elemento pode ser dito semelhante a ela, aliás, é da luz que imploram a fecundidade
e o bem que cada elemento deve fazer na ordem na qual foi posto por Deus. A luz pode ser
chamada de alma das coisas criadas, símbolo de nossa luz incriada de nosso Fiat Divino que
anima tudo. Por isso com este banho de luz divina, enquanto está por fazer seus atos nela, a alma
se sente adoçar, embalsamar, fortalecer, purificar e investir pelo belo arco-íris das cores divinas
que tornam à alma tão graciosa e bela, que o próprio Deus se sente raptado por uma beleza tão
especial. Este banho de luz é como o preparativo para poder atravessar o umbral e romper o véu
que esconde nosso Ser Divino às criaturas humanas. Muito mais, que é nosso interesse, que quem
viva em nosso Querer nos assemelhe, e não faça nada que seja indigno de nossa Majestade três
vezes Santa, por isso pense em que, cada vez que te disponhas a fazer teus atos em sua luz
interminável, minha Vontade te dá um banho de luz, a fim de que sejas atenta a recebê-lo".

31-5
Agosto 28, 1932
Alternativas Divinas, trabalho e repouso. Como Deus toma a criatura sempre por vias de amor. Amor universal e amor especial.

(1) Minha pequena mente continua se perdendo no Querer Divino, me parece que não sei estar se
não me atiro em suas ondas para encontrar em ato o que tem feito por amor nosso, mas em meio
de tanta imensidão de amor, meu coração tinha seus gemidos dolorosos pelas privações de meu
doce Jesus, seu silêncio profundo; sinto que em minha alma, ainda que haja um ar puro, um céu
obstinado coberto de cintilantes estrelas de todas as cores, um sol fulgurante, que com sua luz
golpeia continuamente sobre minha pequenez, para fazer que tudo fosse em minha Vontade
Divina, tudo é paz e serenidade, não há sequer um leve sopro de vento que possa fazer ruído, mas
tudo isto é efeito e propriedade do Fiat eterno, contudo, dizia entre mim: "Parece-me que me falta o
Rei, falta-me Aquele que, com um amor que não sei descrever, tudo fez e ordenou em mim, e,
faltando-me ele, me sinto só; mas dizei-me, por que me deixastes? Por que não fala?" E meu
querido Jesus fazendo-se ferir por meus gemidos e me segurando em seus braços me disse:

(2) "Minha filha, não te admires, é meu costume, que depois do trabalho quero encontrar descanso
em meu mesmo trabalho, em meio a minhas mesmas obras, que mais que suave leito se prestam
em ato de adoração profunda e em mudo silêncio a me dar repouso; o repouso após o trabalho é a
recompensa do trabalho, é o gosto e contento que sabe dar o sacrifício. Não fiz o mesmo com a
Criação? Primeiro a criei com meu Fiat, porque nossa palavra é obra, é passo, é tudo, e depois,
tudo ordenado e realizado, encontrei o mais belo e doce repouso; estas são as alternativas de
nosso Ser Supremo, trabalho e descanso, o trabalho nos chama ao descanso, e o descanso
chama-nos ao trabalho. Então, não queres que descanse na tua alma? Tudo o que vês em ti não é
outra coisa que trabalho de teu Jesus, cada palavra que te dizia era um trabalho que Eu fazia, e de
dentro de minha palavra formava a nova criação em ti, mais bela que a mesma Criação, porque
aquela devia servir aos corpos, esta devia servir às almas para dar-lhes a Vida de minha Vontade.
Se eu não fizesse a alternância de trabalho e repouso, seria sinal de que não me dava a liberdade
de agir com a minha força criadora o meu trabalho na tua alma, portanto teria continuado o meu
trabalho até que obtivesse o meu fim, para depois descansar. Eu, se não terminar, não descanso, e
se depois do descanso volto ao trabalho, é porque tomo novos trabalhos, não queres que eu
repouse sob este céu tão sereno, estas estrelas e sol que me chovem em cima como doces
refrescos, que me fazendo os mais belos arrulhos me convidam ao descanso e em mudo silêncio
me dizem:

¨Como são belas tuas obras, tua Vontade constante, tua potência criadora que nos deu
a vida! Somos obras tuas, descansa em nós e nós formaremos tua glória, tua adoração perene'.
Ante palavras tão doces eu descanso, e ao mesmo tempo eu observo e conservo meu trabalho, e
eu preparo outros trabalhos para fazer; e se você soubesse qual é o primeiro trabalho que eu faço
após o descanso; eu abro meu trabalho dizendo à criatura um doce „Eu te amo' meu, quero iniciar
meu trabalho com meu amor, a fim de que a criatura sentindo-se ferida e arrebatada pela força
irresistível de meu amor, me deixe fazer e me dê o campo de ação em sua alma; e Eu sempre a
tomo, inicio meus trabalhos, peço sacrifícios por via e força de amor, meu amor a felicita, a investe,
a absorve, a embriaga, e de frente ao meu amor, embriagada como está me faz fazer o que quero
e chega a sacrificar-me a própria vida, porque um „te amo' meu saindo do fundo de minha
Divindade, que contém a imensidão que se encontra por toda parte, a infinitude que não termina
jamais, a potência que tudo pode, a sabedoria que dispõe tudo, tudo o que existe sente a força do
meu „te amo', e todos o dizem junto Comigo: Diz-lhe o Céu com toda a corte celestial, dizem-no as
estrelas e o seu cintilar se muda em „amo-te'. O sol, o vento, o ar, a água, dizem-lhe „amo-te',
porque tendo dito Eu, meu „Eu te amo' ressoou em tudo e em todos os lugares, e todos o dizem
junto Comigo, e a criatura se sente sob a chuva de um „te amo' imenso, e sentindo-se afogada por
meu amor me deixa fazer, fica sem fôlego, e se presta para me fazer cumprir minhas obras mais
belas; e se bem também ela sente a necessidade de dizer-me „amo-te', mas vê que o seu é
demasiado pequeno de frente ao meu, porque não tem as armas da imensidão, potência e
infinitude, no entanto não quer ficar para trás, e utiliza a indústria de dizê-lo na potência da minha
Vontade, e oh! quanto me agrada, e me é um incentivo não só ao trabalho, mas a repetir-lhe um
„amo-te' meu direto e especial, porque é verdade que amo a todos, meu amor nunca cessa para
ninguém, mas quando quero fazer trabalhos especiais, novas obras, projetos diferentes, não me
contento com meu amor geral, mas acrescento um amor especial e distinto, que enquanto serve
para atrair a criatura, serve como matéria, como terreno onde formar o meu trabalho e estender as
minhas obras. Por isso deixa-me fazer, Eu sei quando é necessário o trabalho, a palavra, o silêncio
e o repouso".

 

32-5
Abril 9, 1933
É tanto o amor divino, que chega a esgotar-se em suas obras. Zelo da Divina Vontade. O pequeno caminho da criatura nela.

(1) O Querer Divino se estende sempre em torno de mim e dentro de mim, o zelo de sua luz
maravilhosa é tanto, que não quer que entre em mim senão o que lhe pertence, para fazer-me
cumprir e crescer a Vida da Divina Vontade, e para me fazer olhar seus modos divinos a fim de que
os pudesse copiar, contentando-se em fornecer-me o que se necessita para poder dizer-me: "As
obras de nossa filha serão pequenas, porque a criatura jamais nos pode alcançar, mas estão
modeladas e semeiam as nossas". Mas enquanto minha mente seguia a luz da Divina Vontade,
meu doce Jesus visitando minha pequena alma, com todo amor me disse:

(2) "Minha filha, um ato só se diz completo quando quem age esgota nele tudo o que era
necessário para cumpri-lo, se faltar alguma coisa, ou se pode acrescentar algo, jamais se pode
dizer obra completa. Assim foi sempre nosso modo de agir, esgotamos tudo: Amor, potência,
maestria, beleza, para tornar plena, perfeita, completa a obra saída de Nós. Não que Nós nos
esgotemos, porque o Ente Supremo não se esgota jamais, mas na obra que fizemos, nada entrava
de mais para torná-la completa, e se quiséssemos colocar de mais, teria sido inútil e não proveitoso
o que podíamos colocar. Fizemos isto na obra da Criação, na Redenção e nos desígnios que
fazemos da santidade de cada uma das criaturas. Quem pode dizer que falta alguma coisa à
Criação? Quem pode dizer que nosso amor constante não se esgotou na Redenção, que foi tanto,
que ainda há mares intermináveis que as criaturas podem tomar e que não tomaram, e estes
mares transbordam em torno delas porque querem dar-lhes seu fruto, escondê-las em suas ondas
para fazer que o amor, as obras, as penas infinitas do Deus humanado tomem vida nelas? Se não
nos esgotamos não estamos contentes, o amor esgotado nos traz o repouso e a felicidade, mas se
temos algo mais a dar, que fazer em nossas obras, nos deixa como despertos, somos todo olho,
nosso Ser Divino está todo em movimento sobre o que estamos fazendo, para dar tanto, até que
não encontre nosso ato cumprido com a plenitude do nosso esgotar-nos.

Agora, na Criação e na Redenção não houve oposições ao nosso amor, nem impedimento para poder nos esgotar para
tornar completas nossas obras, porque agíamos independente de todos, nenhuma vontade
humana entrou no meio para nos impedir o poder nos esgotar como queríamos, toda a luta
sofremos por parte das criaturas, por cada um dos desígnios de santidade que queremos cumprir
delas, e oh! em que estreitezas nos põem se a vontade humana não está unida com a nossa, se
não se dá em nossas mãos de modo que possamos manejá-la como queremos para dar-lhe a
forma estabelecida por Nós, para cumprir nossos desígnios e assim nos esgotar com formar nosso
ato completo, ah! Nós não podemos dar o que queremos, mas apenas as migalhas, as pequenas
centelhas do nosso amor, porque o querer humano está sempre em ato de nos rejeitar e de fazer a
guerra. Por isso quando encontramos uma vontade que se presta, abundamos, superabundamos
tanto no dar, que nos colocamos sobre ela mais que uma mãe sobre seu filho, para fazê-lo crescer
belo e gracioso, para poder formar dele sua glória, a honra da criança e o bem do mundo inteiro.
Assim Nós, não a deixamos um instante, damos sempre para mantê-la não só ocupada, mas para
não dar-lhe tempo de poder ocupar-se de outra coisa, de modo que podemos dizer: ‘Tudo é nosso,
podemos esgotar-nos sobre esta criatura'. E como nosso amor é exigente, com justiça quer que
ela, em todos os seus atos, ponha tudo o que pode: Seu amor, toda sua vida, para poder dizer: ‘Tu

te esgotaste por mim, tanto, que não posso conter o que me deste, assim também eu me esgoto
por Ti'. E assim vai se modelando com nossas obras, e copia nossos atos divinos. É por isso o zelo
da Vontade Divina, a luz que te golpeia dentro e fora de ti, porque quer tudo para Si, e que tua
vontade enquanto a sentes viva, não deve ter vida, a fim de que a minha forme sua Vida nela e
cumpra seus atos divinos, e assim poder dar-se a glória de que tudo o que queria dar me deu;
estou esgotado nesta criatura e ela se esgotou por Mim. Não há felicidade mais agradável, nem
fortuna maior, que o esgotamento de ambas as partes, de Deus e da criatura, mas quem produz
todo este bem? Um ato de nossa Vontade constante e cumprida".

(3) Depois disto continuava meus atos no Fiat Divino, e seguindo seus atos cheguei ao Éden, onde
o amor divino me deteve, e o soberano Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha bendita, nosso Ser Divino é luz puríssima, e nossos atributos tantos sóis distintos
um do outro, mas tão unificados juntos e inseparáveis, que nos fazem coroa. Agora, ao criar a
criatura, vinha posta nestes sóis imensos para formar o seu pequeno caminho; mas quem vem
formar este pequeno caminho? Quem vive da nossa vontade. Nossos atributos divinos se alinham
à direita e à esquerda dela, fazem cerca para dar o passo e fazê-la andar, para fazê-la formar seu
pequeno caminho, e enquanto caminha não faz outra coisa que recolher gotas de luz, das quais
fica toda embelezada, e é um encanto vê-la, assim que se alimenta de luz, a luz a embeleza, e ela
não se entende nem sabe falar de outra coisa senão de luz. Meus atributos se fecham a seu redor
e amam a esta criatura como a pupila de seus olhos, sentem a vida dela neles, e sua vida nela, e
se dão o trabalho de fazê-la crescer quanto mais bela puderem, e de não deixá-la sair um passo do
caminho que lhe formaram em sua luz interminável, assim que quem vive em nossa Vontade pode-
se chamar o pequeno caminho na Vontade Divina, isto no tempo, mas na eternidade não será o
pequeno caminho, senão longo, mas não se deterão jamais, porque esta luz não tem fim, e terão
sempre caminho para caminhar, para tomar novas belezas, novas alegrias, novos conhecimentos
desta luz que jamais termina. Nosso amor mais que nunca desabafou neste Éden ao criar o
homem, e por cumprimento de nosso desafogo e para tê-lo mais seguro, formamos -lhe o caminho
a percorrer na luz de nossos atributos, mas ele se saiu porque não quis fazer nossa Vontade, mas
a nossa bondade foi tanta, que não fechou este caminho, mas deixou-o aberto a quem quiser viver
só de Vontade Divina”.

33-5
Janeiro 2, 1934

Quando a alma faz a Divina Vontade, Deus pode fazer livremente o que quer fazer nela, faz
as coisas maiores, porque encontra capacidade, espaço para o que quer dar às criaturas.

(1) A minha pequena alma, embora nade no mar da Divina Vontade, também sente o prego
transpassar da privação do meu doce Jesus. Meu Deus, que pena dilacerante que tortura minha
dolorosa existência! Oh! como gostaria de verter rios de lágrimas, gostaria se me fosse possível,
transformar a imensidão da mesma Divina Vontade em pranto amargo para mover a piedade a
meu doce Jesus, que se vai de mim sem sequer me dizer adeus, sem me dizer o lugar de sua
morada, nem me fazer ver o caminho, a pegada de seus passos para poder alcançá-lo. Meu Deus!
Jesus meu! Como Você não se move por compaixão desta pequena exilada atormentada apenas
por Você, e por sua causa? Mas enquanto delirava por sua privação, pensava entre mim na Divina
Vontade e temia que não estivesse em mim seu domínio, sua Vida, e por isso meu eterno amor
Jesus me deixa, se esconde e não se ocupa de mim, e de coração lhe pedia perdão, e meu amado
Jesus, depois de muito esperar, tendo compaixão de mim porque não podia mais, por pouco tempo
voltou e me olhando com amor, todo bondade me disse:

(2) "Minha pequena filha do meu Querer, se vê que é pequena, e basta que Eu faça uma pequena
pausa para que se perca, temas, duvides, te oprimas, mas sabe onde se extraviava? Em meu
próprio Testamento, e Eu te vendo n’Ele não me dou pressa em vir, porque sei que está em lugar
seguro. Agora, você deve saber que quando a alma faz minha Divina Vontade, Eu posso fazer
livremente o que quero na alma, operar as coisas maiores, meu Querer a esvazia de tudo e me
forma o espaço onde posso pôr a santidade de um ato infinito meu, e a alma se põe a nossa
disposição, Nossa Vontade amadureceu-a e tornou-a adaptável e viável a receber a virtude
criadora e constante de nosso Ser Supremo. Ao contrário, quando não se faz minha Divina
Vontade, Nós devemos adaptar-nos, restringir-nos, não podemos ser magnânimos segundo nosso
modo divino, devemos dar gole a gole nossas graças, enquanto podemos dar rios.

Oh! como nos pesa atuar em quem não faz nossa Vontade, se queremos nos fazer conhecer, se torna incapaz,
porque a inteligência humana sem nossa Vontade é como um céu nebuloso, que obscurecendo a
bela luz da razão está como cega frente à luz de nossos conhecimentos, assim que estará no meio
da luz, mas incapaz de compreender nada; será sempre analfabeta de frente à luz das nossas
verdades; se queremos dar a nossa santidade, bondade e amor, devemos dá-los a pequenas
doses, como esmiuçados, porque o querer humano está cheio de misérias, de fraquezas e
defeitos, por isso se faz incapaz e também indigno de receber nossos dons, e o que lhe queremos
dar; pobre querer humano, sem nossa Vontade não se sabe adaptar a receber a virtude de nossas
obras criadoras, os fortes abraços de seu Criador, nossas estratagemas amorosas, as feridas de
nosso amor, e muitas vezes cansa nossa paciência divina e nos obriga a não poder lhe dar nada, e
se nosso amor nos obriga a dar alguma coisa, é para ela como um alimento que não sabe digerir,
porque não estando unida com nossa Vontade lhe falta a força e a virtude digestiva para digerir o
que pertence a Nós; por isso se vê rapidamente quando não está nossa Vontade na alma, o
verdadeiro bem não é para ela, perante a luz das minhas verdades se cega e se torna mais tola,
não ama conhecê-las, mas as vê como se a ela não pertencessem. Tudo o oposto para quem faz e
vive em minha Vontade".

34-5
Janeiro 5, 1936

Quem vive no Querer Divino forma a pequena Vida da Divina Vontade na criatura.
Como vem amada com novo e duplicado amor por Deus.

(1) Minha pequena e pobre vontade sente a extrema necessidade do Querer Divino, sem Ele sinto-
me em jejum, sem força, sem calor e sem vida, aliás, sinto a morte a cada instante, porque
faltando-me não há quem possa substituir-se a alimentar sua Vida em mim. Por isso vou repetindo:
"Tenho fome, vem ó Vontade Divina a dar-me tua Vida para saciar-me de ti, de outra maneira eu
morro". Mas enquanto delirava porque queria sentir em mim a plenitude da Divina Vontade, meu
doce Jesus repetindo-me sua breve visita, todo bondade me disse:

(2) "Minha filha bendita, teus delírios, tua fome que sente a extrema necessidade porque queres
sentir a cada instante a Vida de minha Vontade, são feridas a meu coração, são rasgos de amor
que ao me violentar me fazem correr, voar para vir a fazer crescer a Vida da minha Vontade em ti.
Você deve saber que quando a criatura quer fazer minha Vontade para viver e fazer seus atos
n’Ela, chama a seu Criador, o Qual se sente chamado pela potência de seu mesmo Querer na
criatura, à qual não lhe é dado resistir ou pôr a menor demora.

É mais como não nos deixamos vencer jamais em amor, enquanto vemos que está por nos chamar, não lhe damos tempo, Nós a
chamamos e ela corre em nosso Ser Divino como em seu próprio centro, se lança em nossos
braços, e Nós a estreitamos tanto, de transformá-la em Nós, acontece um acordo perfeito entre o
Criador e a criatura, e é tanto nossa ênfase de amor, que a amamos com novo e duplicado amor;
mas isto não basta, damos-lhe tal comunicação de nosso Ser Supremo, de fazer-nos amar com
amor novo e duplicado por ela, e se você soubesse o que significa ser amado por Deus com novo
e duplicado Amor, e poder amá-lo com amor novo e duplicado, só em nossa Vontade Divina há
estas maravilhas e prodígios. Deus se ama a Si mesmo na criatura, tudo é seu, por isso não é
maravilha que ponha em campo seu sempre novo Amor, o duplica, o centuplica quanto quer, e dá
a graça à criatura de amá-lo com seu mesmo Amor, se isto não fosse se veria grande disparidade
entre quem pode amar e entre quem não pode amar, e a pobre criatura ficaria humilhada, anulada,
sem coragem e união de amor com seu Criador, e quando dois seres não se podem amar com
igual amor, a desigualdade produz a infelicidade, enquanto nossa Vontade é Unidade, e livremente
dá à criatura seu Amor para fazer-se amar, dá sua Santidade para torná-la santa, Sua Sabedoria
para fazer-se conhecer, não há nada que possua que não gostaria de lhe dar. Muito mais do que
viver em nosso Fiat, como pôs de lado sua vontade para dar vida à nossa em seus atos, formou a
pequena Vida de nosso Querer nela, a qual reclama, suspira o crescimento, e basta um ato a mais
n’Ele para crescer, um suspiro para tirar a fome, um desejo total de que meu Querer corra em todo
o seu ser para formar-se alimento suficiente para sentir-se satisfeita de tudo o que pertence a seu
Criador. Atenção total é necessária, e minha Vontade fará tudo o que for necessário para formar
sua Vida na criatura".

35-5
Agosto 29, 1937

Como Deus quer ver sua Vida em quem vive em sua Vontade, chega a fazer-se seu modelo.
Dons que Deus dá à criatura. O espaço do querer humano é a estadia divina das maravilhas de Deus.

(1) Meu voo no Querer Divino continua, seus atrativos, seus modos fascinantes se fazem mais
insistentes, seu querer viver na alma é tanto, que se põe em atitude hora de pedir, hora de súplica,
hora de promessa, até lhe prometer novos dons mais belos e insuspeitos, desde que o faça reinar,
e só quem é ingrato pode resistir a tantas urgencias. Mas enquanto minha mente era oprimida por
tantas súplicas e suspiros do Fiat Divino, meu doce Jesus, minha amada vida, repetindo-me sua
breve visita, todo bondade, como se quisesse dar alívio ao seu amor me disse:

(2) "Filha bendita de minha Vontade, se você soubesse em que labirinto de amor nos põe quem
não vive em nosso Querer, posso dizer que em cada ato que faz, em cada palavra, pensamento,
batimento e respiro em que não vemos correr a Vida de nosso Querer, nosso amor fica reprimido,
sente uma dor, dá em soluços e em pranto, geme e suspira porque não encontra na criatura sua
Vida, seu ato, seu batimento, sua palavra, a santidade de nossa Inteligência, e ao ver que é posto
fora de tudo o que a criatura faz, sente seu amor apagado, sente que lhe atam os braços, sente
que não pode desenvolver o seu trabalho nela. Minha filha, que dor! Poder dar vida e não dá-la,
poder falar na palavra humana e reduzir-se ao silêncio porque a criatura não lhe dá o lugar em sua
palavra, poder amar com nosso amor em seu coração e não encontrar o lugar onde colocá-lo, oh!
como o nosso amor fica obstruído e como sem vida por quem não vive na nossa Vontade.
(3) Agora, você deve saber que quando a alma faz um ato em nossa Vontade Divina, Deus se faz
modelo, e o ato se torna matéria para receber o modelo divino, assim que nossa mais que paterna
bondade é toda atenção para ver tudo o que faz quem vive em nosso Querer, e quando está para
pensar, para falar, para agir, assim vai imprimindo nela o modelo da sua sabedoria, o modelo da
sua palavra criadora, e a santidade das suas obras; é tanto o nosso amor, que queremos fazer-nos
vida da sua vida, bater do seu coração, amor do seu amor. É tanto nosso delírio de amor, que
queremos fazer nossas artes, e só em quem vive em nosso Querer podemos obter nossa tentativa,
porque nele não nos faltaria a matéria adaptável para receber nosso modelo".

(4) Depois disto acrescentou com maior ênfase:

(5) "Minha filha, é tanto o nosso amor, que não fazemos outra coisa que dar contínuos dons à
criatura: O primeiro dom foi toda a Criação, depois veio a criação do homem e, quantos dons não
lhe demos? Dom de inteligência, no qual pusemos o modelo, o espelho de nossa Trindade
Sacrossanta; o olho, o ouvido, a palavra, todos eram dons que lhe fazíamos, e não só lhe dávamos
os dons, mas tomávamos a nossa parte conservante e criadora para lhe guardar estes dons e estar
em ato de sempre dá-los; é tanto o nosso amor ao dar os nossos dons, que não nos separamos do
dom que damos, mas permanecemos no dom que demos para o ter mais seguro e guardado. Oh!
como é exuberante nosso amor, como nos ata por todas partes, e enquanto nos faz dar não deixa
o dom em poder da criatura, porque esta não teria virtude de conservá-lo, e por isso nos
oferecemos Nós mesmos para guardá-los, e para amar mais a esta criatura nos colocamos em ato
de dá-los continuamente. O que te dizer além disso minha filha do grande dom que lhe fizemos ao
criar a vontade humana na criatura?

Nós, como primeira coisa criamos o espaço e depois criamos
o céu, as estrelas, o sol, o ar, o vento, e assim por diante, assim que o espaço devia servir para
poder criar nossas outras obras, criá-las e não ter onde colocá-las não seria obra digna de nossa
sabedoria. De igual modo, ao criarmos a vontade humana, criamos o espaço, o lugar onde
podemos pôr o grande dom que fazíamos ao homem da nossa Santíssima Vontade, este espaço
devia servir a nossa Vontade que age para pôr nele céus mais extensos, sóis mais
resplandecentes, e não só um, mas um por cada vez que agisse. Por isso, a Criação devia servir
ao homem, e este espaço da vontade humana devia servir a seu Deus para formar nele suas
delícias, para poder sempre agir e formar-se seu apoio, seu trono, sua estadia divina. Fazia-lhe
este dom, formava-lhe este espaço para poder ter um lugar para conversar com ele e estar a tu por
tu em doce companhia, queria ter meu armário secreto, meu amor queria lhe dizer tantas coisas,
mas queria o quarto onde poder lhe falar, e meu amor chegava a tanto, até se dar em poder do
homem e do homem em poder de Deus. Por isso amo tanto que a criatura viva em minha Vontade,
porque quero o que criei só para Mim, reclamo meu apoio, meu trono, minha estadia divina. Por
isso, até que o homem não retorne em minha Vontade Divina e me dê meu posto real na sua, Eu
não posso concluir a Criação, temos tantas outras coisas belas que fazer em nosso espaço do
querer humano, tantas outras coisas que dizer, mas não podemos nem fazer nem dizer, porque
faltando nossa Vontade encontramos nosso espaço dificultado, e é por isso que não temos onde
colocar nossas obras, e se queremos falar não nos compreenderá nem terá ouvidos para nos
escutar, por isso faremos prodígios jamais ouvidos para readquirir o que é nosso, o espaço e nossa
estadia divina. Vós, rezai e sofreis para que eu readquira o que é meu, e nunca me recuses o
espaço do vosso querer humano, a fim de que o meu amor possa desabafar e as minhas obras
possam continuar a obra da Criação".

36-5
Maio 2, 1938

Como a Divina Vontade pede a cada instante a vontade humana para lhe dizer: "Não me
negaste nada, nem Eu posso te negar nada". Como forma seu marzinho de amor no mar
divino. A Criação. Doce encanto das manifestações do amor divino para com a criatura.

(1) Meu voo continua no Querer Divino, e oh! como fico surpreendida ao ver que a cada instante
pede a vontade humana para fazer nela algum de seus presságios amorosos, como fica comovido
ao ver que um Fiat Divino pede à criatura sua vontade humana. E meu doce Jesus, ao me ver
comovida, repetindo-me sua breve visita, todo bondade me disse:

(2) "Minha filha, é sempre nosso amor que nos empurra com uma força irresistível para a criatura, e
nos põe em atitude de pedir, como se tivéssemos necessidade dela, para dizer-lhe: ‘Me amou e te
amo, te doou a Mim e me doo a você'. Agora, você deve saber até onde chega nosso amor, cada
vez que lhe pedimos sua vontade e ela nos dá, tantas vidas nos dá por quantas vezes nos dá, e
Nós, para dar-lhe a ocasião, o mérito de nos dar não uma vez sua vida, mas tantas vezes quantas
vezes a pedimos, estamos sempre em ato de pedir-lhe. E parece-te pouco que a criatura possa
dizer-nos: ‘Tantas vidas vos dei, e não uma vez, mas milhares de vezes, por quantas vezes me
pedistes?’ E Nós não só a amamos com duplicado amor por quantas vezes nos dá sua vontade, e
a recompensamos cada vez, mas também nos sentimos glorificados e amados demais por quantas
vidas nos deu. Isto não é outra coisa que nosso amor exuberante, as finezas, as estratagemas, os
excessos, as loucuras de nosso amor trabalhador, que não sabe estar sem inventar novas
maneiras para ter o que fazer com a criatura e para poder dizer: ‘Quantas vezes a pedimos, não
nos negou jamais, tampouco Nós podemos negar-lhe nada'. Não é isto um trato de amor
insuperável que só um Deus pode fazer? Além disso, nosso amor não se detém, buscamos sempre
fundi-la conosco, e conforme a criatura ama em nossa Vontade, assim lhe fazemos formar seu
pequeno mar de amor na interminabilidade de nosso mar imenso de amor, e isto para sentir que
seu amor está no nosso e ama com o nosso; será menor, e isto sabemos, que o amor criado não
pode jamais alcançar o amor criante, mas nosso contentamento indizível é que ama em nosso
amor, e com nosso amor. Um amor dividido, separado de Nós, não pode nos agradar jamais, nem
nos pode ferir, e além disso perderia o mais belo do amor. E cada vez que nos ama em nosso Fiat,
tanto mais cresce seu pequeno mar de amor em nosso mar divino, e Nós nos sentimos mais
glorificados e amados ao ver aumentado o amor de nossa criatura".

(3) Depois disto estava fazendo meu giro na Criação para encontrar todos os atos feitos pela Divina
Vontade, e meu sempre amável Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha bendita, a Criação é o mais doce encanto da manifestação de nosso amor para
com as criaturas, está o azul do céu com suas estrelas, o resplandecente sol, o ar, o vento, o mar,
sempre fixos, jamais se afastam, para dizer ao homem nosso amor que jamais cessa. Há também
na baixa terra: Plantas, flores, árvores, grama, e todos têm uma voz, um movimento, uma vida de
amor de seu Criador, para dizer a todos, até ao menor fio de erva, a história de amor d'Aquele que
os criou para o homem. Agora, as coisas criadas no subsolo parece que morrem, mas não é
verdade, mas sim ressurgem mais belas, isto não é outra coisa que a nova ressurreição do amor
de Deus para as criaturas, e para fazer uma doce surpresa de amor, enquanto parece que morrem
ressurgem mais belas, e põe diante do olho humano o novo encanto das flores e dos frutos para
ser amado, pode-se dizer que cada flor e planta leva o beijo, o te amo de seu Criador àquele que
as olha e se faz possuidor delas. Por isso nosso amor supremo espera que em cada coisa nos
reconheça e nos mande seu te amo, mas em vão esperamos. Em todas as coisas criadas nosso
Ser Supremo manifesta a nossa força, sabedoria, bondade, ordem do nosso amor, e o damos ao
homem a fim de que nos ame com amor potente, sábio, cheio de bondade, isto é, que esteja nele a
imagem do nosso amor divino, e isto só o pode receber quem vive em nossa Vontade, porque
podemos dizer que vive da nossa Vida; ao contrário, fora d’Ela, o amor é débil, a sabedoria é
insípida, a bondade se transforma em defeitos, a ordem em desordem. Pobre criatura sem nossa
Vontade, como nos dá piedade! Muito mais que Nós amamos com amor incessante a criatura, e
quer encontrar nela o amor que jamais cessa, e quando não nos ama forma grandes vazios de
nosso amor em sua alma, e nosso amor não encontrando seu amor nestes vazios, não tem onde
apoiar-se, fica suspenso, vai errante, corre, voa e não encontra quem o receba, e grita, sofre pela
dor e diz: Não sou amado, Eu amo e não encontro quem me ame!"

(5) Depois acrescentou com um acento mais terno: "Filha amadíssima, se tu soubesses até onde
chega meu amor por quem vive em minha Divina Vontade, me amarias tanto, que te estouraria o
coração pela alegria, e teu amor e meu amor te fariam ficar consumida, devorada de puro amor por
Mim. Agora, tu deves saber que minha Divina Vontade é a coletora de tudo o que faz a criatura que
vive n’Ela; tudo o que é feito em meu Fiat, não sai, mas sim fica em nossos campos de luz, e minha
Vontade, para deleitar-se, vai recolhendo o movimento, o amor, a respiração, a passo, as palavras,
os pensamentos, tudo o que a criatura fez em nosso Querer para incorporá-lo em nossa própria
Vida; se não fizesse isto nos faltaria um respiro, um movimento, e tudo o que a criatura tem feito
em nosso Querer à nossa Vida. Portanto, sendo partes de nossa Vida, sentimos como a
necessidade de que continuem seu respiro no nosso, seu movimento, seu passo nos nossos, por
isso chamamos a quem vive em nosso Querer: ‘Respiro nosso, batimento, movimento, amor
nosso'. Separar de Nós mesmo o respiro de quem vive em nosso Querer não o podemos fazer,
nem o queremos fazer, sentiríamos arrancar a Vida, por isso, conforme a criatura se move, respira,
etc., minha Vontade se põe em festa e vai recolhendo o que faz a criatura, e sente amá-la tanto,
como se Ela contribuísse para formar o respiro, o movimento na criatura, e como se a criatura
contribuísse para dar o respiro, o movimento a Deus. São os excessos e as invenções do nosso
amor, que só está contente quando pode dizer: ‘O que faço Eu faz ela, movemo-nos, respiramos e
amamos juntos'. E então sentimos a felicidade, a glória, a correspondência de nossa obra criadora,
que assim como saiu de nosso Seio Paterno em uma chama de amor, assim nos retorna, todo
amor a nosso Seio Divino".

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