ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 52 SEMANA DE ESTUDOS

 

2-58
Agosto 13, 1899

Ameaça de castigos e tenta acalmá-lo.

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver, ameaçando sempre com castigos, e enquanto
eu me punha a rogar-lhe que se acalmasse, como um relâmpago desaparecia. A última vez que
ele veio se fazia ver crucificado, então me aproximei para beijar suas santíssimas chagas,
fazendo várias adorações, mas enquanto isso fazia, em vez de Jesus Cristo vi minha mesma
imagem. Fiquei surpreendida e disse: "Senhor! O que estou a fazer? Estou a fazer as minhas
próprias adorações? Isto não pode ser feito". Nesse momento mudou-se na pessoa de Jesus
Cristo e me disse:

(2) "Não te admires de que tenha tomado tua mesma imagem; se Eu sofro continuamente em
ti, que maravilha é que tenha tomado tua mesma forma? E além disso, não é para fazer-te
imagem minha que te faço sofrer?"

(3) Eu fiquei toda confusa e Jesus desapareceu. Seja tudo para sua glória, seja bendito sempre
seu santo nome.

* * * * * *

2-59
Agosto 15, 1899

Jesus ordena-lhe a caridade. Festa da Mãe Celestial. Dá-lhe o ofício de mãe na terra.

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus veio todo alegre, trazendo entre as mãos um ramo de
belíssimas flores, e pondo-se em meu coração, com aquelas flores agora se rodeava a cabeça,
agora as tinha entre suas mãos, recriando-se e agradando-se tudo. Enquanto se divertia com
estas flores, como se tivesse feito uma grande aquisição, virou-se para mim e disse-me:
(2) "Amada minha, esta manhã vim para pôr em ordem no teu coração todas as virtudes. As
outras virtudes podem estar separadas uma da outra, mas a caridade ata e ordena tudo. Eis o
que quero fazer em ti, ordenar a caridade".

(3) Eu disse-lhe: "Sozinho e único Bem meu, como podes fazer isto sendo eu tão má e cheia de
defeitos e imperfeições? Se a caridade é ordem, estes defeitos e pecados não são desordem
que têm tudo em desordem e revolta a minha alma?"
(4) E Jesus: "Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma
alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum
defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em
tua alma".
(5) Assim parecia que Jesus me purificava e ordenava tudo; depois derramava como um rio de
mel de seu coração no meu e com esse mel regava todo meu interior, de modo que tudo o que
estava em mim ficava ordenado, unido, e com a marca da caridade.
(6) Depois disto me senti saindo de mim mesma na abóbada dos céus, junto com meu amado
Jesus; parecia que tudo estava em festa, Céu, terra e purgatório; todos estavam inundados de
uma nova alegria e júbilo. Muitas almas saíam do purgatório e como raios chegavam ao Céu
para assistir à festa da nossa Rainha Mãe. Também eu me punha no meio daquela imensa
multidão de pessoas, isto é, anjos, santos e almas do purgatório, que ocupavam aquele novo
Céu, que era tão imenso, que o nosso que vemos, comparado com aquele me parecia um
pequeno buraco, muito mais do que tinha a obediência do confessor. Mas enquanto olhava,
não via outra coisa que um Sol luminosíssimo que espargia raios que me penetravam toda, de
lado a lado, e me tornavam como um cristal, tanto que se descobriam muito bem os pequenos
defeitos e a infinita distância que há entre o Criador e a criatura; tanto mais que aqueles raios,
cada um tinha sua marca: Um delineava a Santidade de Deus, outro a pureza, outro a potência,
outro a sabedoria, e todas as outras virtudes e atributos de Deus. Assim que a alma, vendo seu
nada, suas misérias e sua pobreza, se sentia aniquilada e em vez de olhar, prostrava-se com o
rosto na terra ante aquele Sol Eterno, ante o Qual não há ninguém que possa estar frente a
Ele.
(7) Mas o mais era que para ver a festa de nossa Mãe Rainha, se devia ver desde dentro
daquele Sol, tanto parecia imersa em Deus a Virgem Santíssima, que olhando desde outros
pontos não se via nada. Agora, enquanto me encontrava nestas condições de aniquilamento
ante o Sol Divino e a Mamãe Reina tendo em seus braços o menino, Jesus me disse:
(8) "Nossa Mãe está no Céu, dou a você o ofício de me fazer de mãe na terra, e como minha
vida está sujeita continuamente aos desprezos, à pobreza, às penas, aos abandonos dos
homens, e minha Mãe estando na terra foi minha fiel companheira em todas estas penas, e não
só isso, mas procurava aliviar-me em tudo, por quanto podiam suas forças, assim também tu,
fazendo-me de mãe me farás fiel companhia em todas as minhas penas, sofrendo tu em vez
minha por quanto possas, e onde não possas, buscarás dar-me ao menos um consolo. Saiba
que quero que preste atenção em mim. Serei ciumento até do teu respiro se não o fizeres por
Mim, e quando vir que não estás toda atenta para me contentar, não te darei nem paz nem
repouso".
(9) Depois disto, comecei a fazer-lhe de mãe, mas oh! quanta atenção era necessária para
satisfazê-lo. Para vê-lo feliz não se podia nem olhar para outra parte. Agora queria dormir,
agora queria beber, agora queria que o acariciasse e eu devia encontrar-me pronta a tudo o
que queria; agora dizia: "Mamãe minha, me dói a cabeça, ah, me alivie!" E eu imediatamente
lhe revistava a cabeça, e encontrando espinhos, tirava-os e, pondo-lhe o meu braço debaixo da
cabeça, o fazia repousar. Enquanto fazia que repousasse, de repente se levantava e dizia:
"Sinto um peso e um sofrimento no coração, tanto de sentir-me morrer; vê que há". E olhando
para o interior do coração, encontrei todos os instrumentos da Paixão, e um a um tirei-os e
coloquei-os no meu coração. Depois, vendo-o aliviado, comecei a acariciá-lo e a beijá-lo e
disse: "Meu único e único tesouro, nem sequer me deixaste ver a festa de nossa Rainha Mãe,
nem ouvir os primeiros cânticos que lhe cantaram os anjos e os santos no ingresso que fez no
Paraíso".

(10) E Jesus: "O primeiro canto que fizeram a minha Mãe foi a Ave Maria, porque na Ave Maria
estão os louvores mais belos, as maiores honras, e renova-se-lhe a alegria que teve ao ser
feita Mãe de Deus, por isso, Vamos recitá-la juntos para honrá-la e quando você vier ao
Paraíso, eu a encontrarei como se a tivesse dito com os anjos aquela primeira vez no Céu".

(11) E assim recitamos a primeira parte da Ave Maria juntos. ¡ Oh, como era terno e comovedor
saudar a nossa Mãe Santíssima junto com seu amado Filho! Cada palavra que Ele dizia, levava
uma luz imensa na qual se compreendiam muitas coisas sobre a Virgem Santíssima, mas
quem pode dizê-las todas? Muito mais pela minha incapacidade, por isso passo-as em silêncio.

3-58
Abril 9, 1900

Abandono em Deus.

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não
via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver
e me disse quase repreendendo:
(2) "Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha
Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em
Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo".
(3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você
toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra
maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!
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3-59
Abril 10, 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto
mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais,
fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: "Meu coração, esperemos outro pouco, talvez
venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha". E, dirigindo-me a Ele,
dizia: "Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso
estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação
como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou
digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta
da vida". E como não vinha, dizia: "Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando
estiveres cansado, nem sequer então virás?" Mas quem pode dizer todos os meus desatinos?
Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.
(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse
de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:

(3) "Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos
move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que
enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela".
(4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por
toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

4-63
Abril 5, 1901

Compadecendo-se da Mãe, compadece-se de Jesus.
No calvário, na crucificação, vê em Jesus todas as gerações.

(1) Continuando o estado de privação, esta manhã parece que o vi por um pouco junto com a
Rainha Mãe, e como o adorável Jesus tinha a coroa de espinhos, a tirei e o compadeci tudo; e
enquanto isso fazia me disse:
(2) "Compadece ao mesmo tempo a minha Mãe, porque sendo eu sofrer a razão de suas dores,
compadecendo-a a Ela vens a compadecer-me a Mim mesmo".
(3) Depois disso, eu parecia me encontrar no Monte Calvário no momento da e enquanto sofria a
crucificação via, não sei como, em Jesus, todas as gerações passadas, presentes e futuras, e
como Jesus, tendo-nos a todos n'Ele, sentia todas as ofensas que cada um de nós lhe fazia e
sofria por todos em geral e por cada indivíduo em particular, de modo que descobria também as
minhas culpas e as penas que por mim sofria especialmente, como também via o remédio que a
cada um de nós, sem punir ninguém, ele nos fornecia para os nossos males e para a nossa
salvação eterna. Mas quem pode dizer tudo o que via em Jesus bendito? Desde o primeiro até o
último homem. Agora, estando fora de mim mesma via as coisas claras e distintas, mas
Encontrando-me em mim mesma as vejo todas confusas. Assim que para evitar disparates termino.

 

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4-64
Abril 7, 1901

Vê a Ressurreição de Jesus. Fala da obediência.

(1) Meu adorável Jesus continua me privando de sua presença, sinto uma amargura e como
trespassado o coração por uma faca, que me dá tal dor, de me fazer chorar e gritar como um
menino. Ah! Parece-me verdadeiramente ter-me tornado como uma criança, que por pouco que se
afaste a mãe chora e grita tanto, que transtorna toda a casa, e não há nenhum remédio para fazê-la
parar de chorar enquanto não se vê de novo nos braços da mãe. É assim que eu sou, verdadeira
menina na virtude, que se me fosse possível transtornaria Céus e terra para encontrar o meu sumo
e único Bem, e só me acalmo quando me encontro em posse de Jesus. Pobre criança que sou,
sinto ainda que as fraldas da infância me cobrem, não sei caminhar por mim mesma, sou muito
fraca, não tenho a capacidade dos adultos que se deixam guiar pela razão, e esta é a soma
necessidade que tenho de estar com Jesus, com razão ou sem razão, Não quero saber nada, o
que quero saber é que quero Jesus. Espero que o Senhor queira perdoar a esta pobre menina, que
às vezes comete desatinos.

(2) Então, encontrando-me neste estado, por pouco tempo vi o meu adorável Jesus no momento
da sua Ressurreição, com um rosto tão resplandecente que não se pode comparar a nenhum outro
esplendor, e parecia-me que a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, ainda que fosse carne
viva, mas estava resplandecente e transparente de modo que se via com clareza a Divindade unida
à Humanidade. Agora, enquanto o via tão glorioso, uma luz que vinha dele, parecia que me
dissesse:
(3) "Tanta glória veio à minha humanidade por meio da perfeita obediência, que destruindo de todo
a natureza antiga me deu a nova natureza gloriosa e imortal. Assim a alma por meio da obediência
pode formar em si a perfeita ressurreição às virtudes, como por exemplo: Se a alma está afligida, a
obediência a fará ressurgir à alegria; se está agitada, a obediência a fará ressurgir à paz; se
tentada, a obediência lhe fornecerá a cadeia mais forte para atar o inimigo e a fará ressurgir
vitoriosa das insidias diabólicas; se assediada por paixões e vícios, a obediência matando-os a fará
ressurgir às virtudes. Isto à alma, e a seu tempo formará também a ressurreição do corpo".
(4) Depois disto a luz se retirou, Jesus desapareceu, e eu fiquei com tal dor, vendo-me de novo
privada dEle, que me sentia como se tivesse uma febre ardente que me faz agitar e dar em delírio.
Ah! Senhor, me dê a força para te aguentar nestas demoras, porque me sinto desfalecer!

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52
4-65
Abril 9, 1901

Se os fervores e virtudes não estão bem arraigados na Humanidade de Jesus, diante das tribulações,
diante dos infortúnios, rapidamente secam.

(1) Encontrando-me na plenitude do delírio, dizia disparates, e creio que misturava também
defeitos; minha pobre natureza sentia todo o peso de meu estado, a cama parecia-lhe pior que o
estado dos condenados às prisões, tivesse querido desvincular-se deste estado, com agregado de
meu refrão, que meu estado não é mais Vontade de Deus e por isso Jesus não vem, e ia pensando
o que devia fazer. Enquanto fazia isso, meu paciente Jesus saiu de dentro de mim, mas com um
aspecto grave e sério que dava medo, e me disse:
(2) "O que você acha que eu teria feito se eu estivesse em sua situação?"
(3) No meu íntimo dizia: "Certamente a Vontade de Deus".
(4) E Ele de novo: "Pois bem, faz tu isso".
(5) E desapareceu. Era tanta a gravidade de Nosso Senhor, que naquelas palavras que disse
sentia toda a força de sua palavra, não só criadora, mas também destruidora. Meu interior ficou de
tal maneira sacudido, oprimido e amargurado por estas palavras, que não fazia outra coisa que
chorar, especialmente recordava a gravidade com a qual Jesus me tinha falado e não me atrevia a
dizer-lhe "vem".
(6) Agora, estando durante o dia neste estado fiz minha meditação sem chamá-lo, quando no
melhor veio e com um aspecto doce, tudo mudou em comparação com a manhã me disse:
(7) "Minha filha, que ruína, que destruição está por acontecer!"
(8) E enquanto dizia isto senti todo o meu interior mudado, porque não era por outra coisa que não
vinha, senão pelos castigos; e enquanto estava nisto via quatro pessoas veneráveis que choravam
diante das palavras que Jesus tinha dito; mas Jesus bendito, como querendo distrair-se disse
algumas poucas palavras sobre as virtudes:
(9) "Há certos fervores e certas virtudes que se assemelham àqueles arbustos que nascem em
torno de certas árvores, e que não estando bem enraizados no tronco, um vento impetuoso, uma
geada um pouco forte e secam, e ainda que depois de algum tempo possa ser que reverdeçam de
novo, mas estando expostos à intempérie e portanto a mudar-se, jamais chegam a ser árvores
feitas. Assim são esses fervores e essas virtudes que não estão bem arraigados no tronco da
árvore da obediência, isto é, no tronco da árvore de minha Humanidade que foi toda obediência,
ante as tribulações, os infortúnios, súbito secam e jamais chegam a produzir frutos para a vida
eterna".

6-62
Agosto 10, 1904

Deus sabe o número, o valor, o peso de todas as coisas criadas.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me girando nas igrejas, fazendo a
peregrinação a Jesus Sacramentado com o anjo guardião, e tendo dito dentro de uma igreja:
"Prisioneiro de amor, Tu estás abandonado e sozinho, e eu vim fazer-te companhia e, enquanto te
faço companhia, tento amar-te por quem te ofende, louvar-te por quem te despreza, agradecer por
quem derramaste graças e não te rende o tributo do agradecimento, consolar-te por quem te aflige,
reparar-te qualquer ofensa, numa palavra, tento fazer-te tudo o que as criaturas estão obrigadas a
fazer-te por teres ficado no Santíssimo Sacramento, e tantas vezes tento repeti-las por quantas
gotas de água, quantos peixes e grãos de areia há no mar". Enquanto dizia isto, diante da minha
mente puseram-se todas as águas do mar e dentro de mim dizia: "A minha vista não pode abranger
toda a vastidão do mar, nem conhece a profundidade e o peso daquelas imensas águas, mas o
Senhor conhece o número, o seu peso e medida". E ficava toda maravilhada. Enquanto estava
nisto o bendito Jesus me disse:
(2) "Tola, tola que és, por que te admiras tanto? O que à criatura é difícil e impossível, ao Criador é
fácil e possível, e inclusive natural; acontece nisto como a alguém que olhando em um abrir e
fechar de olhos milhões e milhões de moedas, diz para si: "São inumeráveis, quem as pode
contar? Mas quem as pôs naquele lugar, numa palavra pode dizer tudo, são tantas, valem tanto,
pesam tanto; minha filha, eu sei quantas gotas de água pus Eu mesmo no mar, e ninguém pode
me perder nem sequer uma só, Eu numerei tudo, pesei tudo e avaliei tudo, e assim de todas as
outras coisas; então, que maravilha que saiba tudo".
(3) Ao ouvir isto deixei de me admirar, mas bem me admirei de minha loucura.

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6-63
Agosto 12, 1904

O homem destrói a beleza com a qual Deus o criou.

(1) Continuava esperando, quando de improviso me encontrei toda eu mesma dentro de nosso
Senhor, e da cabeça dele descia um fio luminoso à minha que me amarrava toda para ficar dentro
de Jesus. Oh! Como estava feliz de estar dentro Dele, por quanto olhava não descobria outra coisa
que a Ele sozinho, e esta é minha máxima felicidade, só, só Jesus e nada mais, oh! como se está
bem. Enquanto isso me disse:
(2) "Coragem, minha filha, não vês como o fio da minha Vontade te ata toda dentro de Mim? Então,
se qualquer outra vontade quer amarrá-lo, se não é santa não pode, porque estando dentro de
Mim, se não é santa não pode entrar em Mim".
(3) E enquanto dizia isto, via e via, e depois acrescentou:
(4) "Criei a alma de uma beleza singular, dotei-a de uma luz superior a qualquer luz criada, não
obstante o homem destrói esta beleza na fealdade e esta luz nas trevas".

11-67
Novembro 27,1913

A Divina Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra.

(1) Meu sempre amável Jesus continua me falando de sua santíssima Vontade:

(2) "Minha filha, por quantos atos completos de minha Vontade faz a criatura, tantas partes de
Mim toma em si, e por quanto mais toma de minha Vontade, tanta luz adquire e dentro de si
forma o sol, e como este sol se formou da luz que toma de minha Vontade, os raios deste sol
estão concatenados com os raios do meu Sol Divino, assim que um se reflete no outro, um
flecha ao outro e mutuamente se flecham, e enquanto isso fazem, o sol que minha Vontade
formou na alma vai se engrandecendo sempre mais".
(3) E eu: "Jesus, estamos sempre aqui, em tua Vontade, parece que não tens outra coisa que
dizer".
(4) E Jesus: "Minha Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra, e quando a
alma chegou a Ela, subjugou tudo e fez tudo, e não lhe resta mais que habitar no alto destas
alturas, gozá-las e compreender sempre mais esta minha Vontade, ainda não bem
compreendida nem no Céu nem na terra. É preciso tempo para estar conosco, porque pouco
compreendeste e muito te falta compreender, a minha Vontade é tal, que quem a faz pode dizer-
se deus da terra, e como a minha Vontade forma a beatitude do Céu, Assim estes deuses que
fazem a minha Vontade formam a beatitude da terra e daqueles que estão com eles, e não há
bem que sobre a terra exista, que não se deva atribuir a estes deuses da minha Vontade, ou
como causa direta ou indireta, mas tudo a eles se deve. E assim como no Céu não há felicidade
que de Mim não saia, assim na terra não há bem que exista que não venha deles".

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11-68
Março 8,1914
Quem está na Divina Vontade, tudo o que Jesus faz, pode dizer é meu. Vivendo e
morrendo no Divino Querer não há bem que a alma não se leve com ela.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre amável Jesus não deixou de me falar
continuamente da sua Santíssima Vontade; direi o pouco que recordo. Então, não estando bem,
ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) "Minha filha, que está em minha Vontade, tudo o que Eu faço, a alma pode dizer é meu,
porque a vontade da alma está tão fundida com a minha, que o que faz minha Vontade faz ela,
assim que vivendo e morrendo em meu Querer não há bem que com ela não leve, porque não
há bem que a minha Vontade não contenha, e de todos os bens que fazem as criaturas a minha
Vontade é a vida, então, morrendo a alma na minha Vontade leva consigo todas as missas que
se celebram, as orações e as boas obras que se fazem, porque todas são frutos da minha
vontade, e além disso, tudo isto é muito menos em comparação com o agir mesmo da minha
vontade que a alma leva consigo como seu, basta um instante do agir da minha vontade para
superar todo o agir de todas as criaturas passadas, presentes e futuras Assim que a alma
morrendo em minha Vontade, não há beleza que a iguale, nem altura, nem riqueza, nem
santidade, nem sabedoria, nem amor, nada, nada a pode igualar, assim que a alma que morre
em minha Vontade, ao ingresso que fará na pátria celestial não somente se abrirão as portas do
Céu, senão que todo o Céu se abaixará para fazê-la entrar na celestial morada, para fazer honra
ao obrar de minha Vontade; que te dizer além disso, a festa, a surpresa de todos os bem-
aventurados ao ver esta alma toda selada pelo obrar da Vontade Divina; ao ver nesta alma que
tudo tem feito em meu Querer, que tudo o que tem feito em vida, cada palavra, cada
pensamento, obra, ação, etc., são tantos sóis que a adornam e um diverso do outro na luz e na
beleza; ao ver nesta alma os tantos rios divinos que inundarão todos os bem-aventurados, e que
não podendo contê-los o Céu correrão também na terra para bem dos viagantes.

(3) Ah! minha filha, a minha Vontade é o portento dos portentos, é o segredo para encontrar a
luz, a santidade, as riquezas; é o segredo de todos os bens, e não é conhecido, e portanto nem
apreciado nem amado. Pelo menos, o apraz e ama-o, e faze-o conhecer quantos quiseres".
(4) Outro dia, estando sofrendo sentia que não podia fazer nada e me sentia oprimida por isto, e
Jesus me apertando toda me disse:
(5) "Minha filha, não te inquietes, busca somente o estar abandonada em minha Vontade, e Eu
farei tudo por ti, porque é mais um só instante em minha Vontade, que tudo o que poderias fazer
de bem em toda tua vida".
(6) Recordo também que outro dia me disse:

(7) "Minha filha, que verdadeiramente faz a minha Vontade, pode dizer que tudo o que se
desenvolve nela, tanto na alma como no corpo, o que sente, o que sofre, pode dizer: "Jesus
sofre, Jesus está oprimido". Porque tudo o que as criaturas me fazem chega-me até à alma na
qual habito, porque faz a minha vontade, assim que se as friezas das criaturas me chegam, a
minha vontade as sente, e sendo a minha Vontade vida dessa alma, por consequência acontece
que também a alma as sente, assim, em vez de afligir-se por estas friezas como suas, deve estar
ao redor de Mim para consolar-me e reparar-me pelas friezas que mandam as criaturas; assim
se sente distrações, opressões e outras coisas, deve estar ao redor de Mim para aliviar-me e
reparar-me, não como coisas suas mas como minhas, por isso a alma que vive de minha
Vontade sentirá muito diversas penas, segundo as ofensas que me fazem as criaturas, mas as
sentirá repentinamente e quase de sobressalto, como também sentirá gozos e contentamentos
indescritíveis, e se nas penas deve ocupar-se em consolar-me e em reparar-me, nas alegrias e
nos contentamentos deve ocupar-se em gozá-los, e então minha Vontade encontra sua
compensação, de outra maneira ficará contristada e sem poder desenvolver o que contém o meu
Querer".

(8) Outro dia me disse: "Minha filha, que faz minha Vontade, absolutamente não pode ir ao
purgatório, porque minha Vontade purga a alma de tudo, e tendo tido em vida tão zelosamente
guardada em meu Querer, como poderei permitir que o fogo do purgatório a toque? Além disso,
quando mais lhe poderá faltar algum adorno, e minha Vontade antes de lhe revelar a Divindade,
vai adornando-a de tudo o que lhe falta e logo me revele".

55. Um encargo confiado a Tomé.

27 de outubro de 1944.
55.1Esta manhã, voltando de um pesadíssimo sofrimento de muitas horas,
enquanto rezo esperando que chegue o dia, retomo a visão.
Digo retomo, porque estamos ainda no mesmo ambiente: a cozinha larga
e baixa, escura em suas paredes enfumaçadas, mal iluminada pela chama de
uma candeia colocada sobre uma mesa rústica, longa e estreita, à qual estão
sentadas oito pessoas — Jesus, os seis discípulos, mais o dono da
casa — quatro de cada lado.
Jesus ainda virado sobre o seu banco — por aqui não há outros assentos,
senão bancos sem espaldar com três pés, como é costume nas casas de
campo — está falando ainda com Tomé. A mão de Jesus desceu da cabeça
de Tomé para o ombro. Jesus diz:
– Levanta-te, amigo. Já jantaste?
– Não, Mestre. Andei poucos minutos com o outro que estava comigo e
depois o deixei e voltei atrás dizendo-lhe que eu queria falar com o leproso
curado…Mas eu falei assim porque pensava que ele certamente teria
recebido com desdém a idéia de aproximar-se de um impuro. E adivinhei.
Mas eu estava procurando era a Ti, não o leproso… Eu queria dizer-Te:
“Toma-me contigo!”… Andei vagueando para baixo e para cima, pelo
olival, até que um jovem me perguntou o que é que eu estava fazendo. Ele
deve ter pensado que eu era alguém mal intencionado… Ele estava junto a
uma pilastra, no lugar em que começa o sítio.
O dono da casa sorri.
– É o meu filho –explica ele, e depois acrescenta–: Ele fica de guarda
no lagar. Temos nas cavernas, sob o lagar, ainda quase toda a colheita deste
ano. Foi uma colheita muito boa. Deu-nos muito óleo. Nas épocas em que se
reúnem grandes multidões, sempre aparecem alguns malandros que saqueiam
os lugares sem guarda. Há oito anos, pela Parasceve, roubaram-nos tudo.
Desde então, nos revezamos cada noite, para fazermos uma boa guarda. A
mãe dele foi levar-lhe a janta.
– Pois bem, disse-me ele: “Que queres?”, e o disse em um tom que, para
salvar minhas costas das pauladas, expliquei rápido: “Estou procurando o
meu Mestre, que mora aqui.” E ele então me respondeu: “Se é verdade o que
estás dizendo, vai até à minha casa.” E me acompanhou até aqui. Foi ele que
bateu à porta, e só foi embora depois de ter ouvido as minhas primeiras
palavras.
– Moras longe daqui?
– Estou em um alojamento do outro lado da cidade, perto da porta
Oriental.
– Estás sozinho?
– Eu estava com os parentes. Mas eles foram à casa de outros parentes,
no caminho de Belém. Eu fiquei para Te procurar, noite e dia, até Te
encontrar.
Jesus sorri, e diz:
– Então, ninguém te espera?
– Não, Mestre.
– A estrada é longa, a noite é escura, as patrulhas romanas estão
rondando pela cidade. Eu te digo: se queres, fica conosco.
– Oh! Mestre!
Tomé está feliz.
– Arranjai-lhe, vós, um lugar. E dai alguma coisa ao irmão.
Do seu, Jesus dá o pedaço de queijo que estava à sua frente. E explica a
Tomé:
– Nós somos pobres, e a janta já está quase no fim. Mas quem dá, tem
bom coração.
E a João, sentado ao seu lado, ele diz:
– Dá o lugar ao amigo.
João se levanta logo e vai sentar-se junto ao canto da mesa, perto do
dono da casa.
– Assenta-te, Tomé. Come.
55.2E depois diz a todos:
– Assim fareis sempre, amigos, pela lei da caridade. O peregrino já está
protegido pela Lei de Deus. Mas agora, em meu nome, mais ainda o devereis
amar. Quando alguém vos pedir um pão, um gole de água, um abrigo em
nome de Deus, deveis dá-lo neste mesmo nome. E tereis de Deus a
recompensa. Isto deveis fazer com todos. Também com os inimigos. E esta é
a Lei nova. Até agora vos tinha sido dito: “Amai aqueles que vos amam, e
odiai aos inimigos.” Eu vos digo: “Amai também aqueles que vos odeiam.”
Oh! Se soubésseis como sereis amados por Deus, se amardes como Eu vos
digo! Portanto, quando alguém diz: “Eu quero ser vosso companheiro a
serviço do Senhor Deus verdadeiro, e seguir o seu Cordeiro”, então ele deve
ser para vós mais querido do que um irmão de sangue, porque estareis
unidos por um vínculo eterno: o vínculo do Cristo.
– Mas, e se depois chega um que não é sincero? E disser: “Eu quero
fazer isto ou aquilo”, é fácil. Mas nem sempre a palavra corresponde à
verdade –diz Pedro, um tanto irritado.
Não sei o que há, mas ele não está com o seu costumeiro humor jovial.
– Pedro, escuta. Tu falas com bom senso e com justiça. Mas, vê bem: é
melhor pecar pela bondade e pela confiança do que pela desconfiança e pelo
rigor. Se fizeres um benefício a um indigno, que mal te acontecerá? Nenhum.
Mas, ao contrário, o prêmio de Deus estará sempre preparado para ti,
enquanto que para ele haverá um desmerecimento, por ter traído a tua
confiança.
– Não acontece nenhum mal? As vezes quem é indigno não se contenta
só com a ingratidão, mas vai além, e chega também a prejudicar na estima,
nos bens e na própria vida.
– É verdade. Mas isso diminuiria o teu merecimento? Não. Ainda que
todos acreditassem nas calúnias, ainda que ficasses mais pobre do que Jó,
ainda que um homem cruel te tirasse a vida, que é que seria mudado aos
olhos de Deus? Nada. Aliás, haveria sim uma mudança. Mas para o teu bem.
Deus uniria aos méritos de tua bondade os méritos do teu martírio
intelectual, financeiro ou físico.
– Bem. Está bem! Então, será assim.
Pedro não fala mais. Ele está amuado e com a cabeça apoiada na mão.
55.3 Jesus se volta para Tomé:
– Amigo, Eu te falei antes, lá no olival: “Quando Eu voltar por aqui, se
ainda quiseres, serás meu.” Agora Eu te digo: “Estás disposto a fazer um
favor a Jesus?”
– Sem dúvida.
– Mas, e se esse favor exigir de ti um sacrifício?
– Servir a Ti não é nenhum sacrifício. Que queres?
– Eu queria te dizer… mas poderias ter teus negócios, teus afetos…
– Nada, nada. Eu tenho a Ti! Fala.
– Escuta. Amanhã, com as primeiras horas do dia, o leproso sairá dos
sepulcros para encontrar quem vai avisar ao sacerdote. Mas, antes disso, tu
irás aos sepulcros. É uma caridade. E dirás em alta voz: “Ó tu, que ontem
foste limpo, vem para fora! Fui mandado a ti por Jesus de Nazaré, o Messias
de Israel, Aquele que te curou.” Faz que o mundo dos “mortos e vivos”
conheça o meu Nome e vibre de esperança, e quem à esperança unir a fé,
venha a Mim, para que Eu o cure. É a primeira forma da limpeza que Eu
trago, da ressurreição, da qual Eu sou dono. Um dia Eu darei uma limpeza
bem mais profunda… Um dia os sepulcros selados deixarão escapar os
mortos verdadeiros, que aparecerão para se rirem com as órbitas de seus
olhos vazios, com as mandíbulas descobertas pelo júbilo longínquo, e
entretanto sentido pelos esqueletos, dos espíritos liberados do Limbo de
espera. Eles aparecerão para se rirem diante dessa sua libertação, e para
vibrarem, sabendo a quem é que a devem… Vai tu! Ele virá ao teu encontro.
Tu farás o que vai te pedir que faças. O ajudarás em tudo, como se fosse teu
irmão. E lhe dirás também: “Quando estiveres completamente purificado,
iremos juntos pela estrada do rio, além de Doco e de Efraim. Lá o Mestre
Jesus te espera e me espera, para dizer-nos em que é que o devemos servir.”
– Assim farei. E o outro?
– Quem? O Iscariotes?
– Sim, Mestre.
– Para ele persiste o meu conselho. Deixa-o decidir por si e por longo
tempo. Evita até de encontrá-lo.
– Estarei junto ao leproso. No vale dos sepulcros só os imundos é que
vagueiam ou os que têm contatos de piedade para com eles.
55.4Pedro resmunga alguma coisa. Jesus ouve.
– Pedro, que tens? Ou estás calado, ou resmungas. Pareces descontente.
Por que?
– Eu estou descontente. Nós somos os primeiros, e Tu não fazes um
milagre para nós. Nós somos os primeiros, e Tu te sentas ao lado de um
estrangeiro. Nós somos os primeiros e Tu dás encargos a ele, e não a nós.
Nós somos os primeiros e… sim, é isso mesmo, e parece que somos os
últimos. Por que vais esperá-los no caminho do rio? Certamente para dar a
eles alguma missão. Por que a eles e não a nós?
Jesus olha para ele. Não está irado. Ao contrário, sorri, como se sorri a
um rapazinho. Levanta-se, vai lentamente até Pedro, põe-lhe a mão sobre o
ombro, e diz, sorrindo:
– Pedro! Pedro! És um grande velho menino!
E a André, sentado perto do irmão, diz:
– Vai para o meu lugar –assenta-se ao lado de Pedro, cingindo-o com o
braço pelas costas e lhe fala, segurando-o assim contra o seu ombro:
– Pedro, está te parecendo que Eu cometo injustiça, mas não é injustiça
o que faço. É, ao contrário, uma prova de que sei o que valeis. Olha bem.
Quem é que precisa de provas? Aquele que ainda não está firme. Pois bem,
Eu sabia que vós estáveis tão firmes Comigo, que não senti necessidade de
dar-vos provas do meu poder. Aqui em Jerusalém são necessárias as provas,
aqui onde o vício, a irreligião, as políticas e muitas coisas do mundo
ofuscam os espíritos a ponto de eles não poderem ver a Luz que passa. Mas
lá, sobre o nosso belo lago, tão puro sob um límpido céu, lá, entre pessoas
honestas e desejosas do bem, não são necessárias as provas. Ali tereis os
milagres. Derramarei sobre vós chuvas de graças. Mas, olha como vos tenho
estimado: Eu vos tomei Comigo sem exigir provas e sem achar necessidade
de vo-las dar, porque Eu sei quem sois. Queridos, tão queridos e tão fiéis a
Mim.
Pedro se acalma:
– Perdoa-me, Jesus.
– Sim, Eu te perdôo, porque o teu amuo é amor. Mas, não tenhas mais
inveja, Simão de Jonas. Sabes o que é o coração do teu Jesus? Já viste o
mar, o verdadeiro mar? Sim? Pois bem, o meu coração é bem mais vasto do
que o grande mar. Nele há lugar para todos. Para toda a humanidade. E o
pequenino encontra lugar, como o maior dos grandes. O pecador encontra
amor, como o inocente. A eles Eu dou uma missão. Com toda a certeza.
Queres probir-me de dá-la? Eu é que vos escolhi. Não fostes vós. Portanto,
Eu sou livre para julgar como empregar-vos. E, se a estes Eu os deixo aqui
com uma missão — que pode também ser uma prova, como pode ser uma
misericórdia o lapso de tempo concedido ao Iscariotes — podes tu
reprovar-me? Sabes se para ti não estarei reservando uma maior? E não é a
mais bela aquela de ouvires Eu te dizer: “Tu virás Comigo”?
– É verdade, é verdade! Eu sou um animal! Perdão…
– Sim. Tens todo o perdão. Oh! Pedro!… Mas Eu vos peço a todos: não
fiqueis mais discutindo sobre merecimentos e postos. Eu teria podido nascer
rei. Nasci pobre, em uma estrebaria. Teria podido ser rico. Vivi do trabalho
e agora da caridade. Contudo, crede-o, amigos, não há ninguém maior aos
olhos de Deus do que Eu. Do que Eu, que estou aqui como servo do homem.
– Servo Tu? Nunca.
– Por que, Pedro?
– Porque eu é que serei o teu servo.
– Ainda que tu me servisses, como uma mãe serve ao seu filhinho, Eu
vim para servir ao homem. Para ele Eu serei o Salvador. Que serviço existe
igual a este?
– Oh! Mestre! Tu nos explicas tudo. E o que nos parecia escuro, logo se
torna claro.
– Estás contente agora, Pedro? 55.5Então, deixa-me acabar de falar com
Tomé. Estás certo de que reconhecerás o leproso? Lá só ele é que está
curado; mas poderia ele já ter partido com a luz das estrelas, para encontrar
algum viajante solícito. E pode ser que algum outro, ansioso para entrar na
cidade e ver seus parentes, se apresente no lugar dele. Escuta bem como ele
é. Eu estava perto dele e, no crepúsculo, ainda pude vê-lo bem. Ele é alto e
magro. É de cor escura, como um mestiço, tem os olhos profundos e muito
pretos, sob sobrancelhas brancas, cabelos brancos como o linho e bastante
encaracolados, nariz longo, achatado na ponta como o dos líbios, lábios
grossos, especialmente o inferior, e salientes. É tão oliváceo que os lábios
são um pouco tendentes ao violáceo. Na fronte traz uma cicatriz antiga que
lhe ficou e será a única mancha, agora que ficará limpo das crostas e
imundície.
– Então é um velho, se já está com a cabeça toda branca.
– Não Filipe. Parece, mas não é. Foi a lepra que o fez ficar encanecido.
– Que há com ele? Terá um sangue mestiço?
– Talvez, Pedro. Tem uma semelhança com os povos da África.
– Então será ele israelita?
– Disso saberemos depois. E se ele não for?
– Ora, se não fosse, já teria ido embora. Já é muito ter merecido ser
curado.
– Não, Pedro. Ainda que seja idólatra, Eu não o rejeitarei. Jesus veio
para todos. E, na verdade, te digo que os povos das trevas ultrapassarão os
filhos do povo da Luz…
Jesus suspira. Depois se levanta. Dá graças ao Pai com um hino e
abençoa.
A visão cessa assim.
55.6
Incidentalmente faço notar que o meu monitor interior me disse, desde
ontem à tarde, quando eu estava vendo o leproso: “É Simão, o apóstolo.
Verás a vinda dele e a de Tadeu ao Mestre.” Esta manhã, depois da
Comunhão (é sexta-feira), eu abro o missal e vejo que justamente hoje é a
vigília da festa dos Santos Simão e Judas, e o Evangelho de amanhã fala
sobre a caridade quase repetindo as palavras ouvidas por mim, antes, na
visão. Mas Judas Tadeu, por enquanto, não o vi.

56. Simão Zelote e Judas Tadeu unidos na sorte.

28 de outubro de 1944.
56.1Sois mesmo belas, ó margens do Jordão, assim como éreis no tempo
de Jesus! Eu vos vejo e me deleito na vossa majestosa paz verde-azulada,
soante de águas e frondes com um tom doce como melodia.
Estou andando por uma estrada muito longa e também muito bem
conservada. Deve ser uma estrada mestra, ou melhor, militar, traçada pelos
romanos para convergir as diversas regiões com a capital. Perto dela desliza
o Jordão, mas ela não passa exatamente ao longo dele. Está separada do rio
por uma zona silvestre, que parece cumprir a finalidade de reforçar as beiras
oferecendo alguma resistência às águas nos tempos de cheia. Do outro lado
da estrada os bosques continuam, de modo que a rua parece um túnel natural,
sobre o qual se entrelaçam os ramos frondosos. É um bom lugar de descanso
para os viajantes nestas regiões de sol ardente.
O rio, e naturalmente também a rua, têm, no ponto em que me encontro,
uma curva lenta, de modo que eu vejo a continuação da margem frondosa,
como se fosse uma muralha verde destinada a represar um açude de águas
tranqüilas. Parece quase um lago de um parque senhoril. Mas a água não é a
água parada de um lago. Ela desliza, se bem que lentamente. E a prova disso
é o sussurro que ela faz contra os primeiros caniços, os mais audazes que
nasceram justamente ali em baixo no leito do rio, e a ondulação que têm as
longas fitas formadas por suas folhas, suspensas sobre a superfície da água e
movidas por ela. Há também um grupo de salgueiros com flexíveis ramos
pendentes, que confiaram as pontas de suas cabeleiras verdes ao rio que
parece penteá-las com a graça de uma carícia, estendendo-as suavemente ao
fio da água corrente.
Há silêncio e paz na hora matutina. Só os cantos, os chamados dos
pássaros, o sussurro das águas e frondes e um grande brilho do orvalho
sobre a erva verde, alta, que está entre as árvores; elas ainda não estão
endurecidas e amareladas pelo sol do verão, mas tenras e novas para
nascerem, depois da primaveril efusão de águas que vêm nutrir a terra, até à
profundidade, de umidade e de sucos vitais.
56.2Três viajantes estão parados nesta volta da estrada bem no meio da
curva. Estão olhando para baixo e para cima, para o sul, onde está Jerusalém
e para o norte, onde fica a Samaria. Perscrutam entre a colunata das árvores,
para ver se chega alguém que estão esperando. São eles Tomé, Judas Tadeu
e o leproso curado. Estão conversando.
– Não estás vendo nada?
– Eu não.
– Nem eu.
– No entanto este aqui é o lugar.
– Tens certeza disso?
– Toda certeza, Simão. Um dos seis me disse enquanto o Mestre se
afastava entre as aclamações da multidão, depois do milagre de um aleijado
que pedia esmola, que foi curado junto à porta dos Peixes: “Nós agora
vamos para fora de Jerusalém. Espera-nos a cinco milhas entre Jericó e
Doco, na curva do rio, ao longo da rua arborizada.” É esta. Disse também:
“Lá nós estaremos dentro de três dias, ao romper do dia.” Já é o terceiro dia,
e a quarta vigília nos apanhou aqui.
– Ele virá? Talvez teria sido melhor segui-lo, a partir de Jerusalém.
– Não podias ainda andar por entre a multidão, Simão.
– Se meu primo disse que vem até aqui, até aqui virá. Ele cumpre
sempre o que promete. É só esperar.
56.3 – Tu sempre estiveste com Ele?
– Sempre. Desde quando Ele voltou a Nazaré foi para mim um bom
companheiro. Sempre estivemos juntos. Somos da mesma idade, sendo eu um
pouco mais velho. Além disso, dos meus irmãos eu era o preferido do pai
Dele, irmão de meu pai. Também a mãe me queria muito bem. Eu cresci mais
com ela do que com minha mãe.
– Ela te queria… Então agora não te quer mais o mesmo bem?
– Oh! Sim. Mas nós temos estado um pouco divididos desde que Ele se
fez profeta. Meus parentes não gostam disso.
– Quais parentes?
– Meu pai e os dois filhos mais velhos. O outro está titubeante… Meu
pai está muito velho e não tive coragem de irritá-lo. Mas agora… agora, não
mais. Agora eu vou onde o coração e a mente me levam. Vou a Jesus. Creio
que não ofendo a Lei fazendo assim. Mas já… se não fosse justo o que eu
quero fazer Jesus me diria. Eu farei o que Ele disser. É lícito a um pai criar
obstáculos a um filho no caminho do bem? Se eu sinto que ali está a
salvação, por que impedir-me de tê-la? Por que os pais, às vezes, são nossos
inimigos?
Simão suspira, como quem se lembra de coisas tristes e inclina a
cabeça, mas não fala.
É Tomé quem responde:
– Eu já superei esse obstáculo. Meu pai me ouviu e me compreendeu.
Ele me abençoou dizendo: “Vai. Que esta Páscoa seja para ti a libertação da
escravidão de uma expectativa. Feliz de ti que podes crer. Eu espero. Mas,
se for Ele mesmo, e ao segui-lo perceberes que é, vem dizer ao teu velho
pai: ‘Vem. Israel já tem o Esperado’.”
– És mais feliz do que eu. E dizer que nós temos vivido ao seu lado!… E
não cremos, logo nós da família!… E dizemos, ou melhor, eles dizem: “Ele
perdeu o juízo!”
56.4 – Olhai, lá vem um grupo de pessoas –grita Simão–. É Ele, é Ele!
Reconheço a sua cabeça loira! Oh! Vinde. Vamos correr!
E põem-se a caminhar em passos rápidos para o sul. Agora que o alto do
arco foi alcançado, as árvores escondem o resto da rua, de modo que os dois
grupos se encontram quase de frente quando menos esperam. Jesus parece
estar subindo do rio, porque está entre as árvores da margem.
– Mestre!
– Jesus!
– Senhor!
Os três gritos do discípulo, do primo e do curado ressoam cheios de
adoração e de festiva acolhida.
– Paz a vós!
Eis a bonita, inconfundível voz, cheia, sonora, tranqüila, expressiva,
clara, viril, doce e incisiva:
56.5 – Tu também estás aqui, meu primo Judas?
Eles se abraçam. Judas chora.
– Por que este pranto?
– Oh! Jesus! Eu quero estar Contigo!
– Eu te esperei sempre. Por que não vieste?
Judas inclina a cabeça e fica calado.
– Eles não quiseram! E agora?
– Jesus, eu… eu não posso obedecer a eles. Eu quero obedecer somente
a Ti.
– Mas Eu não te dei uma ordem.
– Não. Tu, não. Mas é a tua missão que nos dá ordem! É Aquele que Te
mandou que fala aqui, no meio do meu coração, e me diz: “Vai a Ele!” É
aquela que te gerou e que para mim tem sido uma mestra suave que, com seu
olhar de pomba, me diz, sem fazer uso de palavras: “Sê de Jesus!” Poderei
eu não fazer conta daquela voz excelsa que me perfura o coração? Desta
oração de santa que certamente me suplica para o meu bem? Só porque eu
sou teu primo por parte de José, não deverei Te conhecer por aquilo que és,
enquanto o Batista Te conheceu, aqui, nas margens deste rio, ele que nunca
Te havia visto, e Te saudou como o “Cordeiro de Deus”? E eu, eu que cresci
junto Contigo, eu que procurei tornar-me bom Te imitando, eu que me tornei
filho da Lei pelo merecimento de tua mãe, e que dela aprendi, não os
seiscentos e treze preceitos dos rabinos, além da Escritura e das orações,
porém a alma disso tudo, eu não deveria ser capaz de nada?
– E o teu pai?
– Meu pai? Não lhe falta pão nem assistência, e depois… Tu me dás o
exemplo. Tu tiveste o pensamento no bem do povo, mais do que no pequeno
bem de Maria. E ela está sozinha. Diz-me, Tu, meu Mestre, não é lícito
talvez, sem faltar com o respeito, dizer a um pai: “Pai, eu te amo. Mas acima
de ti está Deus, e a Ele eu sigo”?
– Judas, meu parente e amigo, Eu te digo: tu estás bem adiantado no
caminho da Luz. Vem. É lícito falar ao pai assim quando é Deus que chama.
Não há nada acima de Deus. Até as leis do sangue cessam, ou seja,
sublimam-se, porque com as nossas lágrimas damos aos pais, às mães, uma
ajuda muito maior e por coisas mais eternas do que a jornada do mundo.
Conosco os conduzimos para o Céu e pelo mesmo caminho do sacrifício dos
afetos, os levamos para Deus. Portanto, fica, Judas. Eu te esperei e estou
feliz por reaver-te, amigo da minha vida nazarena.
Judas está comovido.
56.6 Jesus se volta para Tomé:
– Obedeceste fielmente. É a primeira virtude do discípulo.
– Eu vim para ser-te fiel.
– E o serás. Eu te digo. Vem, tu que estás envergonhado na sombra. Não
temas.
– Meu Senhor!
O ex-leproso está aos pés de Jesus.
– Levanta-te. Qual o teu nome?
– Simão.
– Qual a tua família?
– Senhor… era poderosa… eu também era poderoso… mas o ódio de
seitas e… erros da juventude estragaram o seu poder. Meu pai… Oh! Devo
falar contra ele que me custou lágrimas, e não para o céu. Tu o vês, já viste
que presente ele me deu!
– Ele era leproso?
– Não. Não era leproso, como eu também não. Mas era doente de uma
enfermidade de outro nome, que nós de Israel costumamos pôr junto com
outros diversos tipos de lepra. Ele… — naquele tempo a sua casta ainda
triunfava — e ele viveu e morreu prestigiado em sua casa. Eu… se Tu não
me tivesses salvado, iria morrer nos sepulcros.
– Tu és sozinho?
– Sozinho. Eu tenho um servo fiel que cuida de tudo o que me resta.
Mandei já um aviso a ele.
– E tua mãe?
– Ela… morreu.
O homem parece embaraçado. Jesus o observa atentamente:
– Simão, tu me disseste: “Que devo fazer por Ti?” E agora Eu te
respondo: “Segue-me”.
– Imediatamente, Senhor!… Mas… mas eu… deixa que eu Te diga uma
coisa. Eu sou, eu era chamado “Zelote”
[101]
pela casta, e “cananeu” por
minha mãe. Tu vês. Eu sou escuro. Em mim eu tenho sangue de escrava. Meu
pai não tinha filhos de sua mulher e me teve de uma escrava. A mulher dele,
boa mulher, me criou como filho e cuidou de mim em minhas muitas doenças
até morrer…
– Aos olhos de Deus, não há escravos ou libertos. Aos seus olhos só há
uma escravidão: a do pecado. E Eu vim para removê-la. Eu vos chamo a
todos porque o Reino é de todos. Tens cultura?
– Tenho. Eu tinha também o meu lugar entre os grandes. Isso, enquanto o
meu mal ficou escondido sob as roupas. Mas, quando subiu ao rosto… meus
inimigos aproveitaram-se de meu mal para me confinarem entre os “mortos.”
No entanto, como disse um médico de Cesaréia, romano, a quem eu fui
consultar, a minha não era verdadeira lepra, mas uma impigem hereditária,
pelo que bastava que eu não procriasse para não propagá-la. Posso eu não
maldizer meu pai?
– Deves não maldizê-lo. Ele te fez todos os males…
– Oh, sim. Dilapidador dos bens, vicioso, cruel, sem coração nem afeto.
Ele me negou a saúde, as carícias, a paz, me carimbou com um nome de
desprezo e com uma doença que é uma marca de opróbrio… De tudo ele se
fez dono. Também do futuro de seu filho. Tudo ele me tirou: até a alegria de
ser pai.
– Por isso é que Eu te digo: “Segue-me.” Ao meu lado, e seguindo-me,
encontrarás Pai e filhos. Levanta o olhar, Simão. Lá o verdadeiro Pai te está
sorrindo. Olha pelos espaços da terra, pelos continentes, pelas regiões. Há
neles filhos e filhos, filhos de alma para os sem filhos. Estão à tua espera e a
espera de muitos outros como tu. Sob o meu sinal não há mais abandonos.
No meu sinal não há mais solidões nem diferenças. É um sinal de amor. E
amor dá. 56.7Vem, Simão, que não tiveste filhos. Vem, Judas, que deixas teu pai
por amor de Mim. Eu vos uno na sorte.
Ele está com os dois junto a si. Tem as mãos sobre os seus ombros,
como quem toma posse, como para impor um jugo comum. Depois, diz:
– Eu vos uno. Mas agora vos separo. Tu, Simão, ficarás aqui, com Tomé.
E prepararás com ele os caminhos da minha volta. Daqui a não muito tempo
Eu voltarei e quero que povos e povos me esperem. Dizei aos doentes, e tu o
podes dizer, que vai chegar Aquele que cura. Dizei aos povos que esperam,
que o Messias está entre o seu povo. Dizei aos pecadores que já há quem
perdoa a fim de dar a força para subir…
– Mas, seremos capazes disso?
– Sim. Basta que faleis assim: “Ele já chegou. Ele vos está chamando.
Ele vos espera. Ele vem trazer-vos a graça. Ficai aqui prontos para vê-lo”; e
às palavras, acrescentai a narração do que já sabeis. E tu, Judas, meu primo,
vem Comigo e com estes. Mas tu ficarás em Nazaré.
– Por que, Jesus?
– Porque deves preparar-me o caminho em minha pátria. Achas que é
uma missão pequena? Na verdade, não há nenhuma outra mais grave…
Jesus suspira.
– E eu conseguirei?
– Sim e não. Mas isso será suficiente para justificar-nos.
– Justificar-nos de quê? E junto à quem?
– Junto a Deus. Junto à pátria. Junto à família. Não poderão censurarnos, porque temos oferecido o bem. E se a pátria e a família desprezarem o
que fazemos, não teremos culpa de sua perdição.
– E nós?
– Vós, Pedro? Vós voltareis às redes.
– Por que?
– Porque Eu vos instruirei lentamente e virei buscar-vos quando vos
achar preparados.
– Mas Te veremos, então?
– Com certeza. Eu virei a vós freqüentemente, ou vos farei chamar,
quando Eu estiver em Cafarnaum. Agora, saudai-vos, amigos, e vamos. Eu
vos abençôo, a vós que ficais. Minha paz esteja convosco.
E termina a visão.
[101] “Zelote” pela casta, a dos zelotes, assim chamados pelo seu zelo em observar a lei e em opor-se a toda a dominação
estrangeira sobre o povo eleito. Mas o significado da expressão escapa a Maria Valtorta, que em rodapé à página autografa
anota: quem são os zelotes? Igualmente ignoradas pela escritora as palavras “sciemanflorasc” (em 503.9/10) e “gulal” (em
542.7).


CAPÍTULO 22
CELEBRAÇÃO DO DESPOSÓRIO DE MARIA SANTÍSSIMA COM O SANTO E CASTÍSSIMO JOSÉ.

Reunião dos jovens no templo

755. Chegou o dia marcado, em que nossa Princesa completava catorze
anos de idade, como dissemos no capitulo precedente. Reuniram-se os jovens
descendentes da tribo de Judá e linhagem de
David, de quem descendia a soberana Senhora, que nessa ocasião se encontravam
na cidade de Jerusalém. Pertencendo à família real de David, também foi chamado
José, natural de Nazaré e residente na cidade santa. Tinha então trinta e três anos de
idade, de talhe distinto e agradável semblante, onde se-espelhava incomparável
modéstia e gravidade. Acima de tudo, era castíssimo no proceder e pensamentos, de
inclinações santíssimas; fizera, desde os doze anos, voto de castidade. Era primo em
terceiro grau da Virgem Maria, de vida puríssima e irrepreensível aos olhos de Deus e dos homens.

Súplicas a Deus a manifestação de sua vontade

756. Reunidos estes homens no templo, juntamente com os sacerdotes,
fizeram oração ao Senhor pedindo que fossem guiados por seu divino Espírito, no
que iam realizar. Falou o Altíssimo interiormente ao sumo sacerdote, inspirando-lhe
dar uma vara seca a cada um dos jovens ali reunidos e pedirem, com viva fé, à Sua
Majestade, declarar por aquele meio, quem seria o escolhido para esposo de Maria.
O perfume das virtudes da Virgem, a fama de sua formosura, bens e
família, o fato por todos conhecido de ser primogênita e único membro da família,
levava todos eles a cobiçar a sorte de a merecer por esposa.
Somente o humilde e retíssimo José, entre os presentes, se reputava indigno
de tanto bem. Lembrando-se do voto de castidade que fizera, propondo de novo
sua perpétua observância, entregou-se à divina vontade, para o que dele quisesse
fazer. Apesar disso, sentiu pela honestíssima donzela, Maria, maior veneração e
apreço do que qualquer um dos outros.

José foi o indicado para esposo de Maria

757. Estando todos nesta oração, floresceu somente a vara de José e, ao
mesmo tempo, desceu alvíssima pomba, cheia de admirável resplendor,
pousandolhe acima da cabeça. Ao mesmo tempo,
falou-lhe Deus interiormente, dizendo-lhe:
- José, meu servo, tua esposa será Maria, recebe-a com reverência e cuidado, porque
a meus olhos é aceita, justa e puríssima de alma e corpo, e farás tudo o que Ela te disser.
Com a revelação e sinal do céu, os sacerdotes declararam São José, escolhido pelo próprio Deus, para esposo da
donzela Maria. Chamada para o desposório, apresentou-se a eleita como o sol, mais
formosa que a lua (Ct 6, 9). Apareceu na presença de todos, com semblante mais
que angélico, de incomparável beleza, modéstia e graça, e os sacerdotes desposaram-na
com o mais casto e santo dos homens, José.

Maria despede-se e deixa o templo

758. Saudosa e séria. a divina Princesa, mais pura do que as estrelas do
firmamento e rainha de majestade humilíssima, despediu-se dos sacerdotes, pedindo-lhes a bênção. Outro tanto fez com
a mestra e condiscípulas. pedindo-lhes perdão e agradecendo-lhes todos os benefícios que, por elas. recebera no templo.
Procedeu com grande humildade e mui breves e prudentes palavras porque,
em todas as ocasiões, proferia poucas e muito ponderadas. Despediu-se do templo,
não sem grande sentimento, por ter que o deixar, contra a própria inclinação e
desejo. Acompanharam-na alguns dos principais ministros leigos do templo, que
ali serviam nas coisas temporais. Com o esposo José, dirigiram-se para Nazaré,
cidade natural dos felicíssimos esposos.
Não obstante ter José nascido em Nazaré, dispôs o Altíssimo, por meio de
alguns sucessos de fortuna, fosse viver algum tempo em Jerusalém, para ali a
melhorar tão ditosamente, que se tornou esposo Daquela que Deus escolhera para Mãe.

Em Nazaré, Maria e José recebem visitas de felicitações

759. Chegando a Nazaré, onde a princesa do céu tinha a casa e os bens de
seus felizes pais, foram recebidos e visitados pelos amigos e parentes, com a alegria
e cumprimentos que em tais ocasiões se costumam. Tendo santamente cumprido
com o natural dever de urbanidade e satisfeito estas obrigações sociais do convívio
humano, ficaram sossegados José e Maria em sua casa.
Era costume entre os hebreus que, durante os primeiros dias de matrimomo, os esposos fizessem mútuo exame e exDe riênci a dos costumes e índole de
cada qual, para melhor reciprocamente se
adaptarem.

São José procura conhecer as intenções e desejos de Maria Santíssima

760. Disse São José à sua esposa Maria: - Esposa e Senhora minha, dou
graças ao Altíssimo pela mercê de me haver escolhido, sem méritos, para vosso esposo,
quando me julgava indigno de vossa companhia. Mas, já que Sua Majestade
quer exaltar o pobre e fez esta misericórdia para comigo, desejo me ajudeis,
como espero de vossa discrição e virtude, a lhe dar
a devida retribuição, servindo o Senhor com sincero coração.
Para isto, consideraime vosso servo, com o verdadeiro afeto
com que vos estimo. Peço-vos queirais suprir o muito que me falta de bens
materiais e outros predicados, que se exigiriam
para ser esposo vosso. Dizei-me, Senhora, qual é vossa vontade para eu cumpri-la.

Resposta da Virgem. Presença de seus anjos

761. Ouvindo estas razões a divina Esposa, com humilde coração e aprazível
seriedade no semblante, respondeu ao Santo: - Sinto-me feliz, senhor meu, que o
Altíssimo, ao colocar-me neste estado de vida, vos escolhesse para meu esposo e
senhor, e que servir-vos fosse a expressão de sua divina vontade. Se, porém, me
permitirdes, manifestarei minhas intenções e pensamentos.
Preveniu o Altíssimo, com sua graça, o sincero e leal coração de São José.
Por meio das palavras de Maria Santíssima, novamente o inflamou no divino amor.
Respondeu São José: - Falai, Senhora, que vosso servo ouve.
Assistiam, nesta ocasião, à Senhora do mundo, seus mil anjos da guarda
em forma visível, conforme Ela lhes pedira.
A razão deste pedido foi permitir o Altíssimo que a puríssima Virgem se sentisse tomada
de respeito e recato para falar com seu esposo, e assim agir em tudo com maior
graçae mérito. Deixou-lhe anatural timidez, e receio que sempre tivera de falar a sós
com um homem, o que nunca até aquele dia acontecera, a não ser, vez ou outra, com o
sumo sacerdote.

Maria confia a São José seu voto de perpétua castidade

762. Obedeceram os santos anjos a sua Rainha e lhe assistiram, vendo-os
só Ela. Assim acompanhada, falou a São José: - Meu Senhor e esposo, é justo que,
com toda a reverência, louvemos e glorifiquemos nosso Deus e Criador, infinito na
bondade, incompreensível em seus desígnios. Deus nos manifestou sua misericórdia, escolhendo-nos a nós, pobres,
para servi-lo.
Entre todas as criaturas, reconheço-me por mais devedora do que qualquer
uma delas, ou do que todas juntas, porque, merecendo menos, recebi mais de sua mão
liberalíssima. Em meus primeiros anos, compelida por esta verdade e pelo desprendimento de todas as coisas visíveis
que a divina luz me comunicou, consagreime a Deus com perpétuo voto de ser casta
de alma e corpo. A Ele pertenço e o reconheço por Esposo e Senhor, com imutável
vontade de lhe guardar fiel castidade.
Para cumpri-lo, meu Senhor, quero que me ajudeis e, no mais, serei vossa
fiel serva, para cuidar de vossa vida, enquanto durar a minha. Concordai, meu
esposo com esta determinação. Confirmando-a com a vossa, ofereçamo-nos em
agradável sacrifício a nosso eterno Deus, para que nos receba cm odor de suavidade,
e possamos alcançar os bens eternos que esperamos.

Resposta de São José

763. Repleto de interior júbilo com as razões de sua divina esposa, o
castíssimo José lhe respondeu: - Declarando-me, Senhora, vossos propósitos e
castos pensamentos, penetrastes meu coração, que não quis abrir antes de conhecer o vosso. Reconheço-me também,
entre os homens, pelo mais devedor ao Senhor de toda a criação, porque, muito
cedo, me atraiu com sua verdadeira luz, para que o amasse na retidão de coração.
Quero saibais, Senhora, que, aos doze anos de idade, também fiz promessa
de servir ao Altíssimo em castidade perpétua. Volto agora a ratificar meu voto, para
não impedir o vosso, antes, na presença de Sua Alteza, prometo-vos ajudar, quanto
estiverem minhas forças, para que, em toda pureza, O sirvais e ameis, conforme vosso
desejo. Com a divina graça, serei vosso fidelíssimo servo e companheiro. Suplicovos, aceiteis meu casto afeto e me considereis vosso irmão, sem jamais admitir outro amor estranho, fora do que deveis a Deus
e depois a mim.
Durante esta palestra, o Altíssimo confirmou novamente o coração de São
José, na virtude da castidade e no amor santo e puro que deveria nutrir por sua
santíssima esposa Maria. Assim o teve o Santo, em grau eminentíssimo, que a
prudentíssima conversação da Senhora, contínua e docemente aumentava, arrebatando-lhe o coração.

Distribuem os bens herdados de SantAna e São Joaquim

764. Mediante a divina graça que Deus lhes infundia, sentiram os santíssimos e castíssimos esposos incomparável júbilo e consolação.
A divina Princesa ofereceu-se a São José para corresponder a seus
desejos, como Senhora das virtudes que, sem contradição, praticava em todas o
mais elevado e excelente.
Comunicou o Altíssimo a São José nova pureza e domínio sobre a natureza e suas paixões, para que sem rebelião
nem solicitação, mas com admirável e nova graça, servisse sua esposa Maria, e Nela,
à vontade e beneplácito do Senhor.
Em seguida, distribuíram os bens herdados de São Joaquim e SanfAna, pais
da Santíssima Senhora. Uma parte ofereceram ao templo onde ela vivera, outra foi
aplicada aos pobres e a terceira deixou ao cuidado de São José para administrá-la.
Para si, nossa Rainha reservou somente o cuidado de servi-lo e trabalhar no interior
de seu lar.
Do movimento externo, do uso do dinheiro para compras e vendas, sempre se
eximiu a prudentíssima Virgem, como disse em outra parte.

São José desempenha o ofício de carpinteiro

765. Aprendera São José, na infância, o ofício de carpinteiro, trabalho
honesto e acomodado para adquirir o sustento da vida, pois era pobre de fortuna, como acima disse. Perguntou à
Santíssima Esposa se gostaria que exercitasse aquele ofício, para servi-la e
ganhar alguma coisa para os pobres, porquanto era necessário trabalhar e não
viver ocioso. Concordou a Virgem prudentíssima, advertindo a São José que o
Senhor não os queria ricos, mas pobres e amantes dos pobres, dando para estes
o que lhes sobrasse.
Em seguida, travaram os santos esposos santa contenda, sobre qual dos
dois obedeceria ao outro como superior.
Venceu a humildade de Maria Santíssima, que entre os humildes era humilíssima. Não
consentiu que, sendo o homem a cabeça, se pervertesse a ordem da mesma natureza.
Quis em tudo obedecer a seu esposo, pedindo-lhe liberdade somente para dar
esmolas aos pobres do Senhor, o que o Santo lhe concedeu.

Reverência de José por Maria

766. Reconheceu São José, com nova luz do céu, os predicados de sua
esposa Maria, sua rara prudência, humildade, pureza e demais virtudes, superiores
a qualquer pensamento e ponderação.
Aumentou-se-lhe a admiração por ela, e cheio de grande júbilo espiritual, não cessava, com ardentes afetos, de louvar e
agradecer ao Senhor, por lhe ter dado companhia de esposa tão acima de seus méritos.
Para que esta ocorrência fosse em tudo perfeitíssima, pois era o princípio da
maior obra que Deus realizaria com toda sua onipotência, fez que a Princesa do céu
infundisse, com sua presença, no coração de seu esposo, tão grande temor e reverência,
que nenhuma espécie de palavras pode traduzir.
Tal reverência originava-se de certa refulgência, ou raio de luz divina,
desprendida do rosto de nossa Rainha, unida à inefável majestade que sempre a
acompanhava. Se isto sucedera a Moisés, quando desceu do monte (Êx 34, 30),
com maior razão aconteceu à Virgem, pois muito mais prolongado e íntimo era o
seu trato e conversação com Deus.

Dedicação de Maria por José

767. Em breve, teve Maria Santíssima uma visão do Senhor, durante a qual lhe disse Sua Majestade: -
Esposa minha, diletíssima e escolhida, vê como sou fiel em minha palavras, para
os que me amam e temem. Corresponde, pois, agora à minha fidelidade, guardando as leis de esposa minha, em santidade,
pureza e toda perfeição. Para isso, te ajudará meu servo José. Obedece-lhe
como deves e cuida de seu bem-estar, que essa é minha vontade.
Respondeu Maria Santíssima: - Senhor, eu vos louvo e exalto pela vossa
admirável providência por Mim, indigna e pobre criatura. Meu desejo é obedecervos e vos agradar como vossa serva,
mais obrigada que qualquer outra criatura. Dai-me, Senhor, vosso auxílio divino,
para que, em tudo, me assistais, segundo vosso maior agrado c também para
que atenda às obrigações do estado cm que me pusestes. Ajudai-me para que,
como vossa escrava, não me afaste de vossas ordens e beneplácito. Dai-me
vossa licença e bênção, para que acerte em obedecer c servir a vosso servo José,
como Vós meu Senhor e Criador me ordenais.

As virtudes, fundamento do lar de José e Maria

768. Sobre estes divinos alicerces, fundou-se o lar e matrimônio de Maria
e José. Desde oito de setembro, dia do desposório, até vinte e cinco de março
seguinte, quando se realizou a Encarnação do Verbo divino , os dois esposos foram
sendo preparados pelo Altíssimo, para a obra para qual os escolhera. Ordenou a
divina Senhora sua casa e modo de viver, como direi nos capítulos seguintes.

Admiração da Escritora pela felicidade de São José

769. Agora, não posso deixar de congratular-me com a boa sorte do mais
feliz dos nascidos, São José. De onde, ó homem de Deus, vos veio tamanha felicidade e ventura que, entre os filhos de
Adão, só de vós se dissesse ser vosso o mesmo Deus, e tão somente vosso, que
fosse reputado por vosso único Filho? O eterno Pai vos dá sua Filha, o Filho vos
confia sua real e verdadeira Mãe, o Espírito Santo vos confia sua Esposa. A beatíssima
Trindade vos entrega sua eleita, única e escolhida como o sol, concedendo-a por
vossa legítima esposa.
Conheceis, meu Santo, vossa dignidade? Compreendeis ser vossa esposa, a Rainha e Senhora do céu e da
terra, e vós, o depositário dos inestimáveis tesouros de Deus? Velai pelos vossos
interesses. Sabei, que se não causais inveja aos anjos e serafins, eles ficam admirados e suspensos por causa da vossa
sorte, e pelo sacramento oculto em vosso matrimônio.
Recebei parabéns por tanta ventura, em nome de toda a linhagem humana.
Sois arquivo das divinas misericórdias, dono e esposo daquela a quem só Deus é
superior. Ficaste rico e próspero entre os homens e os anjos. Lembrai-vos de nossa
pobreza e miséria, e de mim, o mais vil bichinho da terra, que desejo ser vossa fiel
devota, beneficiada por vossa poderosa intercessão.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU.

Qualquer estado de vida é santificante

770. Minha filha, o exemplo de minha vida no estado do matrimônio, no
qual o Altíssimo me colocou, censura a desculpa alegada por aqueles que,
vivendo casados no século, dizem que não podem
ser perfeitos. Para Deus nada é impossível, e tampouco o é para quem, com viva fé,
Nele espera e se entrega à sua divina disposição.
Eu vivia na casa de meu esposo, com a mesma perfeição que no templo.
Mudando de estado, em nada mudei no afeto, desejo e cuidado de amar e servir a
Deus. Pelo contrário, aumentei estes sentimentos, a fim de não serem embaraçados
pelas obrigações de esposa. Por isto, me assistiu mais a graça divina, e por sua mão
poderosa, Deus dispunha e acomodava todas as coisas, de acordo com meus desejos.
O mesmo faria o Senhor com todas as criaturas, se de sua parte, lhe
correspondessem. Culpam o estado do matrimônio, enganando-se a si mesmas,
porque o impedimento para serem perfeitas e santas não é o estado de vida. São-no
os cuidados vãos e solicitudes supérfluas a que se entregam, pondo de lado o
gosto do Senhor, para antepor e procurar o delas.

Vida religiosa, estado de perfeição

771. Se no mundo não há desculpa para dispensar a busca da perfeição da
virtude, menos haverá na vida religiosa, alegando os ofícios e ocupações dela.
Nunca te imagines impedida pelo teu cargo de
prelada, porquanto tendo-te Deus posto nele, através da obediência, não deves
duvidar de sua assistência c amparo. Naquele mesmo dia, tomou por sua conta,
dar-te forças e auxílios para atenderes a tuas obrigações de superiora, e também a
de tua pessoal perfeição, com a qual deves amar teu Deus e Senhor. Empenha-o com o
sacrifício dc tua vontade, e com humilde paciência, em tudo que sua divina providência ordena. Se não lhe resistires,
asseguro-te sua proteção, e por experiência sentirás seu poder, sempre governando
e dirigindo perfeitamente todos os teus atos.




11-65
Outubro 2,1913

Quem faz a Vontade de Deus, pode dizer que sua vida acabou.

(1) Continuando meu habitual estado, o bendito Jesus se fazia ver dentro de mim, mas tão
fundido comigo que via seus olhos nos meus, sua boca na minha, e assim de tudo o mais, e
enquanto assim o via me disse:
(2) "Minha filha, olha a quem faz minha Vontade e como me fundo e me faço uma só coisa com
ela, faço sua vida própria, porque minha Vontade está dentro e fora da alma, pode-se dizer que é
como o ar que ela respira, que dá vida a tudo nela; como luz que faz ver tudo e faz compreender
tudo; calor que aquece, que fecunda e faz crescer; coração que palpita; mãos que operam; pé
que caminha, e quando a vontade humana se une ao meu Querer, forma-se a minha Vida na
alma".
(3) Depois, havendo recebido a comunhão, estava dizendo a Jesus: "Eu te amo". E Ele me disse:
(4) "Minha filha, queres amar-me na verdade? Dize: "Jesus, amo-te com a tua vontade". E, como
a minha vontade enche o céu e a terra, o teu amor me circundará por toda a parte, e o teu amo
se repercute nos céus e até no fundo dos abismos; assim, se queres dizer te adoro, eu te
abençoo, eu te louvo, tu o dirás unida com a minha vontade, e encherás os céus e a terra de
adorações, bênçãos, louvores e agradecimentos. Em minha Vontade as coisas são simples,
fáceis e imensas, minha Vontade é tudo, tanto, que meus mesmos atributos, o que são? Um ato
simples de minha Vontade, assim que se a Justiça, a Bondade, a Sabedoria, a Fortaleza fizerem
seu curso, minha Vontade os precede, os acompanha, os põe em atitude de agir, em suma, não
se afastam um ponto de meu Querer. Por isso quem toma minha Vontade toma tudo, aliás, pode
dizer que sua vida terminou, terminadas as fraquezas, as tentações, as paixões, as misérias,
porque em quem faz meu Querer todas as coisas perdem seus direitos, porque o meu Querer
tem o primado sobre tudo e direito a tudo".

+ + + +

11-66
Novembro 18,1913

Tanto bem pode produzir a cruz, por quanta conexão tem a alma com a Vontade de Deus.

(1) Estava pensando em meu pobre estado e como até a cruz se afastou de mim, e Jesus em
meu interior me disse:
(2) "Minha filha, quando duas vontades estão opostas entre elas, uma forma a cruz da
outra; assim é entre Eu e as criaturas: Quando sua vontade está oposta à Minha, Eu formo a
cruz delas e elas a cruz minha, assim que Eu sou a haste longa da cruz e elas a curta, que se
cruzam formam a cruz. Agora, quando a vontade da alma se une com a Minha, as hastes não
ficam mais cruzadas, senão unidas entre elas, e portanto a cruz não é mais cruz, entendeu?

E além disso, Eu santifiquei a Cruz, não a Cruz a Mim, por isso não é a Cruz que santifica, é a
resignação à minha Vontade que santifica a Cruz; portanto, também a Cruz pode fazer tanto bem
quanto a conexão que tem com a minha Vontade, não só isto, a Cruz santifica, crucifica parte da
pessoa, mas a minha Vontade não lhe escapa nada, santifica tudo e crucifica os pensamentos,
os desejos, a vontade, os afetos, o coração, tudo, e sendo luz, minha Vontade faz ver à alma a
necessidade desta santificação e crucificação completa, de modo que ela mesma me incita a
querer cumprir o trabalho de minha Vontade nela. Assim que a cruz e todas as outras virtudes se
contentam em ter alguma coisa, e se podem cravar à criatura com três pregos se alegram e
cantam vitória; em troca minha Vontade, não sabendo fazer obras incompletas, não se contenta
com três pregos, mas com tantos pregos por quantos atos de minha Vontade disponho sobre a
criatura".

12-56
Julho 16, 1918

Quem quer fazer bem a todos, deve estar na Vontade de Deus.

(1) Esta manhã meu doce Jesus veio e me disse:
(2) "Minha filha, não estejas em ti, na tua vontade, senão entra em Mim e na minha Vontade. Eu
sou imenso, e só quem é imenso pode multiplicar os atos por quantos quer; quem está no alto
pode dar luz ao baixo, não vê o sol? Porque está no alto é luz de cada olho, aliás, cada homem
pode ter o sol à sua disposição como se fosse todo seu; mas as plantas, as árvores, os rios, os
mares, porque estão no baixo não estão à disposição de todos, não podem dizer deles como do
sol; "Se quero, faço tudo Meu, mesmo que os outros possam também goza-los."

No entanto todas as coisas do baixo recebem o benefício do sol, quem a luz, quem o calor, a fecundidade,
a cor, etc. Agora, Eu sou a luz eterna, estou no ponto mais alto, e quanto mais alto, mais me
encontro em toda parte e até no mais baixo, e por isso sou vida de todos, e como se fosse só
para cada um. Então, se queres fazer bem a todos, entra na minha imensidão, vive no alto,
desapegada de tudo e até de ti mesma, de outra maneira se fará terra em torno de ti, e então
poderás ser uma planta, uma árvore, jamais um sol, e em vez de dar deves receber, e o bem
que farás será tão limitado que se poderá numerar".

12-58
Agosto 7, 1918

A consumação de Jesus na alma.

(1) Lamentava-me com Jesus por sua privação e dizia entre mim: "Tudo acabou, que dias tão
amargos, meu Jesus se eclipsou, se retirou de mim, como posso seguir vivendo?" Enquanto
isto e outros desatinos dizia, o meu sempre amável Jesus, com uma luz intelectual que dele me
vinha, disse-me:
(2) "Minha filha, a minha consumação sobre a cruz continua ainda nas almas. Quando a alma
está bem disposta e me dá vida nela, Eu revivo nela como dentro da minha Humanidade. As
chamas do meu amor queimam-me, sinto o desejo de o testemunhar às criaturas e de dizer:
"Vede quanto vos amo, não estou contente por me ter consumado sobre a cruz por amor vosso,
mas quero consumar-me nesta alma por amor vosso, porque me deu vida nela". E por isso faço
sentir à alma a consumação de minha Vida nela, e ela se sente como estreitada, sofre agonias
mortais, não sentindo mais a Vida de seu Jesus nela se sente consumir. Conforme sente faltar
minha Vida nela, da qual estava habituada a viver, debate-se, treme, quase como minha
Humanidade sobre a cruz quando minha Divindade, subtraindo-lhe a força a deixou morrer.
Esta consumação na alma não é humana, mas toda divina, e Eu sinto a satisfação como se
outra Minha Vida Divina se tivesse consumido por amor meu; e como não é sua vida que se
consumiu, senão a minha, a que já não sente mais, que já não vê, parece-lhe que eu tenha
morrido para ela. E às criaturas renovo os efeitos de minha consumação e à alma duplico a
graça e a glória, sinto o doce encanto e os atrativos de minha Humanidade que me fazia fazer o
que Eu queria. Por isso deixa-me fazer também tu o que quero fazer em ti, deixa-me livre e Eu
desenvolverei a minha Vida".
(3) Outro dia me lamentava e lhe dizia: "Como, me deixou?
(4) E Jesus, sério e imponente me disse: "Cala-te, não digas tolices, não te deixei, estou no
fundo de tua alma, por isso não me vês e quando me vês é porque saio à superfície de tua
alma. Não se distraia, Eu te quero toda atenta em Mim para poder te ter para o bem de todos".

14-53
Agosto 23, 1922
Na alma que vive na Divina Vontade forma-se a fonte de todas as dores e também a de todas as alegrias.

(1) Sentia-me oprimida e sofredora, e meu interior como se estivesse em contínuo ato de sofrer
novas destruições e aniquilamento de meu pobre ser. Então pedia a Jesus que me desse a
força, e Ele ao vir me tomou em seus braços para infundir-me nova vida, mas esta nova vida
era para me dar ocasião de sofrer uma nova morte, para depois infundir-me outra nova
vida. Então ele me disse:

(2) "Minha filha, minha Vontade abraça tudo, encerra em Si todas as penas, todos os martírios,
todas as dores que há no giro de todos os séculos, eis por que minha humanidade abraçou
tudo, cada pena, cada martírio de criatura, porque a minha Vida não foi outra coisa que a Vida
da Divina Vontade, e isto era conveniente para cumprir a obra da Redenção, e não só para isso,
senão para poder constituir-me Rei, ajuda e força de todos os martírios, dores e penas. Se não
tivesse em Mim a fonte de todos os martírios, dores e penas, como poderia chamar-me Rei de
todos e possuir em Mim a fonte de todas as ajudas, apoios, força e graça necessárias em cada
pena de criatura? É necessário ter para dar, eis por que te disse tantas vezes que a missão de
chamar uma alma a viver em meu Querer é a maior, a mais alta e sublime, não há outra que a
possa igualar.

A imensidão de meu Querer lhe fará chegar todos os martírios, penas e dores,
minha mesma Vontade lhe dará a força divina para sustentá-los, e formará nela fontes de
martírios e dores, e meu próprio Querer a constituirá rainha de todos os martírios, dores e
penas. Vês o que significa viver no meu Querer? Sofrer não só um martírio, mas todos os
martírios; não uma pena e dor, mas todas as penas e todas as dores. Eis por que a
necessidade de que minha Vontade lhe seja vida, de outra maneira, quem lhe daria a força em
tanto sofrer? E se isto não fosse assim, como se poderia dizer que a alma que vive em meu
Querer é a força do mártir? Se não tivesse nela a substância dessa pena, como poderia ser
força de outro? Seria somente um modo de dizer, uma coisa fantástica, não uma realidade.

(3) Vejo que te assustas ao ouvir isto, não, não temas, tantos martírios, dores e penas serão
correspondidos com inumeráveis alegrias, contentamentos e graças, dos quais o meu próprio
Querer formará fontes inesgotáveis. É justo, se na alma que vive em meu Querer formará a
fonte das dores para ajuda de toda a família humana, é também justo que forme a fonte das
alegrias e das graças; com esta diferença, que a das dores terá um fim, porque as coisas daqui
abaixo, por quanto grandes sejam, estão sempre determinadas, em troca a fonte das alegrias,
são lá de cima, são divinas, portanto sem fim, por isso ânimo em fazer o caminho em minha
Vontade".

16-52
Fevereiro 28, 1924

O Senhor suspendeu os bens que tinha estabelecido na Criação, para dá-los às almas que devem viver em seu Querer.

(1) Enquanto rezava, sentia o meu amável Jesus dentro de mim, que agora rezava, agora sofria,
agora como se estivesse trabalhando, e freqüentemente me chamava por meu nome, e eu dizia:
"Jesus, o que queres, o que estás a fazer? Parece-me que estás muito ocupado e sofres muito, e
enquanto me chamas, atraído por tuas ocupações esqueces-te que me tens chamado e não me diz
nada".

(2) E Jesus: "Minha filha, estou tão ocupado em ti porque estou desenvolvendo todo o trabalho do
viver em meu Querer. É necessário que primeiro o faça em você, e enquanto o faço amarro todo
seu interior na interminável luz de minha Vontade, a fim de que sua pequena vontade humana fique
concatenada e nela tome seu lugar, e alargando-se nela receba todo o bem que a Vontade Divina
quer dar à vontade humana. Você deve saber que, enquanto a Divindade decretou a Criação, pôs
fora de Si tudo o que devia dar à criatura, os dons, as graças, as carícias, os beijos, o amor que lhe
devia manifestar; e assim como pôs fora o sol, as estrelas, o céu azul e tudo o mais, assim pôs fora
todos os dons com os quais devia enriquecer as almas. Agora, enquanto o homem se subtraiu da
Vontade Suprema, rejeitou todos estes dons, mas a Divindade não os retirou em Si mesma, mas
deixou-os suspensos em Sua Vontade esperando que a vontade humana se vinculasse à sua e
entrasse na primeira ordem por Ela criado, para pôr em corrente com a natureza humana os dons
por Ela estabelecidos, assim que estão suspensas em minha Vontade todas as finezas de amor, os
beijos, as carícias, os dons, as comunicações e as minhas inocentes diversões que devia ter tido
com Adão se não tivesse pecado. Minha Vontade quer entregar estes enxames de bens que tinha
estabelecido dar às criaturas, e por isso quero estabelecer a lei do viver em meu Querer, para pôr
em vigor entre Criador e criatura todos estes bens suspensos, por isso estou trabalhando em você,
para reordenar sua vontade com a Divina, assim poderei dar início e pôr em comum os tantos bens
que até agora estão suspensos entre Criador e criatura. Me interessa tanto este reordenamento da
vontade humana com a Divina e que de todo viva nela, que até enquanto isto não me obtenha Sin-
to como se a Criação não tivesse meu objetivo primário.

Além disso, Eu criei a Criação não Porque dela tinha necessidade, era mais que suficientemente feliz por Mim mesmo, e se a criei foi só por-
que aos tantos bens que continhamos em Nós mesmos queríamos acrescentar uma diversão fora
de Nós, por isso tudo foi criado, e dentro de um intenso desabafar do mais puro amor nosso, colo-
camos fora com nosso sopro onipotente esta criatura, para poder entreter-nos com ela, e ela fazer-
se feliz conosco e com todas as coisas criadas por nós por seu amor. Agora, não foi destruir a nos-
sa finalidade, que quem devia servir só para nos fazer gozar e entreter-nos juntos, com subtrair-se
da nossa Vontade nos serviu de amargura, e afastando-se de nós, em vez de conosco entreteve se
com as coisas criadas por Nós, com suas mesmas paixões, e a Nós nos afastou? Não foi isso um
colocar de cabeça a finalidade de toda a Criação? Veja então como é necessário que nos re-
façamos de nossos direitos, que a criatura retorna ao nosso seio para recomeçar nossos entrete-
nimentos, mas debe retornar onde o homem fez começar nossa dor e vincular-se com nó indissolú-
vel com nossa Vontade Eterna, deve deixar a sua para viver da Nossa. Por isso estou trabalhando
em tua alma, tu segue o trabalho de teu Jesus que quer pôr em corrente os dons, as graças sus-
pensas que há em minha Vontade".

16-53
Março 2, 1924

As almas que fazem a Vontade de Deus farão o giro na sua luz e serão como as primeiras criadas por Deus.

(1) Estava a pensar como podia acontecer que o meu doce Jesus, como pensava, falava, trabalha-
va, etc., estendia seus pensamentos em cada pensamento de criatura, em cada palavra e obra. E
meu amado Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(2) "Minha filha, não há nada para se maravilhar, em Mim estava a Divindade com a luz interminá-
vel de sua Vontade Eterna; nesta luz Eu descobria em modo facilíssimo cada pensamento, palavra,
batida e ato das criaturas, e conforme Eu pensava, a luz que Eu continha levava meu pensamento
a cada pensamento das criaturas, e assim minha palavra e todo o resto que eu fazia e sofria. Veja,
também o sol possui esta virtude, sua luz é uma e sem dúvida quantos não ficam inundados por
essa luz? Se se pudesse ver todo o interior do homem, pensamentos, batidas, afetos, como o sol
com sua luz invade a cada um, assim faria correr sua luz em cada pensamento, batida, etc.

Agora, se isso pode fazer a luz do sol, sem que ele desça do alto para dar a cada um seu calor e sua luz,
e no entanto não é outra coisa que a sombra da minha luz, muito mais posso fazer Eu que con-
tenho luz imensa e interminável. Além disso, minha Vontade Divina que contém esta virtude, assim
que a alma entra em meu Querer abre a corrente da luz que minha Vontade contém, e minha luz
invadindo a todos, leva a cada um o pensamento, a palavra, o ato que entrou na corrente de sua
luz. Por isso não há coisa mais sublime, maior, mais divina, mais santa, que viver em mim Querer;
as gerações de seus atos são incalculáveis, assim que a alma quando não está unida com minha
Vontade nem entra nela, não faz seu percurso nem abre a corrente de sua luz interminável, portan-
to tudo o que faz permanece pessoal e individual; seu bem, sua oração é como uma pequena luz
que se acende em uma sala, que não tem virtude de dar luz a todos os cantos da casa, muito me-
nos pode dar luz ao exterior, e se falta o óleo, isto é a continuidade de seus atos, a pequena luz se
apaga e fica às escuras".

(3) Depois estava a fundir-me no eterno Divino Querer, pondo-me diante de todos para poder levar
à Divina Majestade, como a primeira de todos, todos os atos das criaturas, a correspondência de
todo, o amor delas. Mas enquanto fazia isto pensava para mim: "Como pode ser que eu possa ir
diante de todos se nasci depois de tantas gerações? No máximo eu deveria ficar no meio, entre as
passadas e as futuras gerações que virão; é mais, por minha indignidade deveria me colocar no
último e atrás de todos". E meu amável Jesus movendo-se em meu interior me disse:

(4) "Minha filha, toda a Criação foi criada para que todos fizessem a minha Vontade. A vida das
criaturas deviam correr em meu querer como corre o sangue nas veias, deviam viver nele como
verdadeiros filhos meus, nada lhes devia ser estranho de tudo o que a Mim pertence, Eu devia ser
seu terno e amoroso Pai, e eles deviam ser meus ternos e amorosos filhos. Agora, como a finalida-
de da Criação foi esta, apesar de outras gerações terem sido antes, o que diz nada, serão postas
depois, e minha Vontade porá primeiro aqueles que serão e que foram fiéis em manter íntegra a
finalidade para a qual foram criados; estes, tenham vindo antes ou depois, ocuparão a primeira or-
dem ante a Divindade. Com ter mantido a finalidade da Criação, serão distintos entre todos e apon-
tados como refulgentes gemas com a auréola de nossa Vontade, e todos lhes deixarão a pas-
sagem livre para que ocupem seu primeiro posto de honra.

Não há do que maravilhar-se, também neste submundo acontece assim: Imagina um rei no meio de sua corte, de seus ministros, depu-
tados, exércitos, mas chega seu filho, o pequeno príncipe, e apesar de que todos os demais sejam
grandes, quem não lhe dá passo livre o pequeno príncipe para que tome seu posto de honra ao
lado do rei, seu pai? Quem trata com o rei com essa familiaridade digna de um filho? Quem gosta-
ria de criticar esse rei e a esse filho, por que apesar de que este filho seja o menor de todos, se
eleva sobre todos e toma seu lugar primeiro e legítimo junto ao rei seu pai? certo, nenhum; é mais,
todos respeitariam o direito do pequeno principezinho desce mais abaixo ainda, imagina uma famí-
lia, um filho nasceu primeiro, mas não quis se ocupar em fazer a vontade do pai, não tem quis es-
tudar nem trabalhar; ficou como entontecido em seu lazer formando a dor do pai; depois vem à luz
outro filho, e este, ainda que mais pequeno, faz a vontade do seu pai, estuda, torna-se um profes-
sor digno de ocupar os mais altos cargos. Agora, quem é o primeiro nessa família, quem recebe
seu posto de honra junto ao pai?

Não é acaso o que chegou ao último? Assim que minha filha, só
aqueles que terão conservado neles a finalidade integral da Criação serão meus verdadeiros filhos
legítimos; com fazer minha Vontade mantiveram neles o sangue puro de seu Pai Celestial, o qual
lhes deu todas as diretrizes de sua semelhança, por isso será muito fácil reconhecê-los como nos-
sos legítimos filhos. Nossa Vontade os conservará nobres, puros, frescos, todo amor por Aquele
que os criou; e como filhos nossos que sempre estiveram em nossa Vontade e que jamais deram
vida à sua, serão como os primeiros por Nós criados, que nos darão a glória, a honra da finalidade
pela qual todas as coisas foram criadas. Por isso o mundo não pode terminar, esperamos a ge-
ração de nossos filhos, que vivendo em nosso Querer nos darão a glória de nossas obras; eles
terão por vida só meu Querer; será tão natural em eles fazer a Divina Vontade, espontaneamente,
sem esforço, como é natural o batimento cardíaco, o respiro, a circulação do sangue, assim que
eles não a terão como lei, porque as leis são para os rebeldes, mas como vida, como honra, como
princípio e como fim. Por isso minha filha, só te interessa minha Vontade e não queiras preocupar-
te de outra coisa se queres que teu Jesus cumpra em ti e encerre em ti a finalidade de toda a
Criação".

19-54
Setembro 3, 1926

O desejo purga a alma e estimula o apetite para os bens de Jesus. Como a Vontade Divina é penetrante e converte em natureza seus efeitos.

(1) Sentia-me toda derretida em meu doce Jesus, e lhe pedia de coração que vigiasse minha pobre
alma, a fim de que nada entrasse nela que não fosse de sua Vontade. Agora, enquanto fazia isso,
meu amado bem, minha doce vida se moveu em meu interior e me disse:.

(2) "Minha filha, o desejo de querer um bem, e de querê-lo conhecer, purga a alma e dispõe sua
inteligência para compreendê-lo, sua memória para recordá-lo, e sua vontade se sente avivar o
apetite de querê-lo para fazer dele alimento e vida, e move Deus a dar-lhe aquele bem e a fazê-lo
conhecer. Assim, o desejo de querer um bem e o de conhecê-lo, é como o apetite ao alimento, pois
se há apetite sente-se o gosto, come-se com prazer e fica satisfeito e contente por ter tomado
aquele alimento, e fica com o desejo de prová-lo de novo; ao contrário, se falta o apetite, aquele
mesmo alimento provado com tanta avidez por uma pessoa, para outra que não tem apetite sente
náuseas, desgosto, e chega até a sofrer. Tal é o desejo à alma, é como o apetite, e Eu, vendo que
o desejo de minhas coisas é seu gosto, até fazer delas alimento e vida, me torno tão magnânimo
no dar, que não me canso jamais de dar. Ao contrário, para quem não deseja, faltando o apetite,
sentirá náuseas de minhas coisas, repetir-se-á o dito evangélico: Ser-lhe-á dado a quem tem e ser-
lhe-á tirado aquele pouco que tem a quem não apetece meus bens, minhas verdades, as coisas
celestiais'. Justa pena para quem não deseja, não apetece e não quer saber nada das coisas que a
Mim pertencem, e se tem alguma pequena coisa, é justo que se lhe tire e se dê àqueles que
possuem muito".

(3) Depois disto, estava pensando e Fundindo-me no Santo Querer Divino, e encontrando-me em
sua luz imensa sentia que seus raios divinos me penetravam tanto, até transformar-me em sua
mesma luz, e Jesus saindo de meu interior me disse:
(4) "Minha filha, como é bela, penetrante, comunicativa, transformadora a luz da minha Vontade.
Ela é mais que sol, o qual, golpeando a terra doa com liberalidade os efeitos que sua luz contém,
não se necessita rogar-lhe, senão que espontaneamente, conforme sua luz enche a superfície da
terra, doa a cada uma das coisas que encontra o que tem, dá ao fruto a doçura e o sabor, à flor a
cor e o perfume, às plantas o desenvolvimento, a todas as coisas dá os efeitos e os bens que
contém, não particulariza com nenhum, só basta que sua luz as toque, as penetre, as aqueça, para
fazer sua obra.

Mais que sol é minha Vontade, desde que a alma se exponha a seus raios
vivificantes e faça a um lado as trevas e a noite de sua vontade humana, sua luz surge e investe à
alma, e penetra em suas mais íntimas fibras para lhe fazer fugir as sombras e os átomos do
humano querer, conforme dá sua luz e a alma a recebe, comunica todos os efeitos que contém,
porque minha Vontade, saindo do Ser Supremo contém todas as qualidades da Natureza Divina,
portanto, conforme a investe, assim comunica a bondade, o amor, a potência, a firmeza, a
misericórdia, e todas as qualidades divinas, mas não em modo superficial, mas tão real, que
transmuta na natureza humana todas as suas qualidades, de modo que a alma sentirá em si, como
sua, a natureza da verdadeira bondade, da potência, da doçura, da misericórdia, e assim de todo o
resto das qualidades supremas. Só minha Vontade tem esta potência de converter em natureza
suas virtudes para quem se dá em poder de sua luz e de seu calor e tem longe dela a noite
tenebrosa do próprio querer, verdadeira e perfeita noite da pobre criatura"..

+ + + +

19-55
Setembro 5, 1926

Quem vive na Vontade Divina possui uma paternidade grande e uma grande filiação: É filha de todos.

(1) Sentia-me oprimida, antes como sem vida pela privação do meu doce Jesus, esta pena é
sempre nova e mais profunda, de modo a formar novas feridas para fazer sangrar de dor a minha
pobre alma. Agora, enquanto me encontrava sob a opressão da dor da sua privação, o meu amado
Jesus moveu-se dentro de mim e apertou-me ao seu coração santíssimo, dizendo-me:.
(2) "A minha filha, a nossa filha, a filha da Mãe Celestial, a filha dos anjos e dos santos, a filha do
céu, a filha do sol, das estrelas, do mar, em suma, és a filha de todos, todos te são pai e de todos
és filha, olha como é grande a paternidade, como é extensa a tua filiação! Em vez de te oprimires
devias gozar pensando que todos te são pai e a todos lhes és filha. Somente quem vive em minha
Vontade pode ter o direito de tão grande paternidade e de tão extensa filiação, de ser amada por
todos com amor paterno, porque todos reconhecem nela a sua filha, porque estando as coisas
criadas todas investidas por minha Vontade, onde Ela reina triunfante e dominante, vêem em ti a
mesma Vontade que reina nelas, por isso todos te têm como filha de suas entranhas, há tantos
vínculos entre você e elas, de superar em modo infinito os vínculos naturais que há entre pai e
filho. Sabes quem não é pai?

Só aqueles que não fazem reinar minha Vontade neles, eles não têm
nenhum direito sobre ti, nem tu tens nenhum dever para com eles, é como coisa que não te
pertence. Mas você sabe o que significa possuir tão grande paternidade e tão extensa filiação?
Significa estar vinculada com vínculos de justiça a todas as riquezas, glória, honra e privilégios que
possui tão grande paternidade, assim que como minha filha, teu Jesus te faz dom de todos os bens
da Redenção; como filha nossa fica dotada de todos os bens da Trindade Sacrossanta; como filha
da Soberana Rainha, Ela te doa suas dores, as suas obras, o seu amor e todos os seus méritos
maternos; como filha dos anjos e dos santos, eles competem a ceder-te todos os seus bens, como
filha do céu, das estrelas, do sol, do mar e de todas as coisas criadas, todas se sentem honradas
porque finalmente têm a sua filha para poder dar-lhe sua herança, e minha mesma Vontade
reinante nelas, com sua luz interminável te faz a escritura de toda a Criação, e todos sentem a
felicidade, a alegria de poder dar sua herança, Porque ao poder dar não se sentem mais estéreis
senão fecundos, a fecundidade leva a alegria, a companhia, a harmonia, a glória, a repetição da
mesma vida.

Quantos homens e mulheres são infelizes apesar de serem ricos porque não têm
prole? Porque a esterilidade leva por si mesma ao isolamento, a amargura, a falta de apoio e de
felicidade, e se parece que gozam aparentemente, no seu coração têm o espinho da esterilidade
que amarga todas as suas alegrias. Portanto, a tua grande paternidade que possuis e a tua vasta
filiação é motivo de alegria para todos e muito mais para a minha Vontade, que bilocando-se reina
em ti e te constitui como filha de todas as coisas criadas por Ela, de modo que todos sentem seu
apoio e o alegre poder dar os bens que possuem. “Por isso a tua opressão não é justa no meio de
tantos bens e felicidade, e de tantos que te protegem, te defendem e te amam como a verdadeira
filha".

(3) Depois disto me abandonei nos braços de Jesus e na corrente da Divina Vontade para fazer
meus acostumados atos, e Jesus regressando me disse:.

(4) "Minha filha, minha Vontade conserva a alma em sua origem e não a deixa sair de seu princípio
que é Deus, mantém íntegra imagem divina no fundo dela, imagem que está encerrada na
inteligência, memória e vontade. E até enquanto a alma faz reinar minha Vontade nela, tudo está
vinculado, tudo está em relação entre Criador e criatura, mais bem vive aos reflexos da Majestade
Suprema e sempre cresce nossa semelhança nela, e esta imagem a faz distinguir que é filha
nossa. Ao contrário, a vontade humana faz com que se desconheça a sua origem, fá-la descer do
seu princípio, a inteligência, a memória e a vontade, ficam sem luz e a imagem divina fica
deformada e irreconhecível, rompe todos os vínculos e relações divinas, e por isso a vontade
humana faz viver a alma dos reflexos de todas as paixões, de modo que se torna feia e filha do
inimigo infernal, o qual busca esculpir na alma sua feia imagem. Quantos males não faz o próprio
querer? Devasta todo bem e produz todos os males".

(5) Depois disto o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fazia ver como sua
imagem se havia deformado nas criaturas, dava horror vê-la como era irreconhecível e feia. A
santidade do olhar de Jesus evitava vê-las, mas a compaixão de seu santíssimo coração o impelia
a ter piedade das obras de suas mãos, deformadas e tão feias por sua própria culpa. Mas enquanto
Jesus, no máximo, estava dorido ao ver tão transformada sua imagem, chegamos a um ponto onde
eram tantas as ofensas que lhe faziam, que não podendo mais mudou o aspecto de bondade e
tomava aspecto de justiça e ameaçava com castigos; terremotos, água e fogo eram postos contra
as aldeias para destruir homens e cidades. Eu lhe roguei que perdoasse aos povos, e Jesus me
devolvendo a minha cama me deu parte de suas penas.

20-56
Fevereiro 6, 1927

Onde está a Vontade Divina está tudo, não há nada que fuja, e como quem a possui vive na
comunidade dos bens de seu Criador; amor e felicidade recebe, amor e felicidade dá.

(1) Estava toda submersa no Supremo Querer seguindo seus atos para constituir-me ato de cada
criatura, e meu doce Jesus saiu de dentro de meu interior e me estendendo seus braços me
abraçava forte, apertando-me toda a Si. Agora, enquanto Jesus me abraçava, todas as coisas
criadas, o céu, o sol, o mar, todos, até o pequeno passarinho, pondo-se ao redor de Jesus todos
me abraçavam querendo repetir seu ato, faziam como competição, nenhum queria ficar para trás.
Eu fiquei confusa ao ver que toda a Criação corria para me abraçar, e Jesus me disse:

(2) "Minha filha, quando a alma vive em meu Querer e Eu faço um ato para ela, mesmo um simples
beijo, uma só palavra, toda a Criação, começando pela Soberana Rainha até o último dos menores
seres, todos se põem em movimento para repetir meu ato, porque sendo uma a Vontade da alma,
a minha e a deles, todos têm o direito de se unir Comigo para fazer a mesma coisa que faço Eu.
Por isso não sou só Eu, mas todos os seres onde existe íntegra minha Vontade estavam junto
Comigo a te abraçar. Então quando faço um ato extra com quem vive no meu Querer, dou uma
festa nova a toda a Criação, e quando há uma festa nova todos se movem e estão atentos a
quando Eu estou para te fazer um dom, te dizer uma palavra, para participar junto Comigo, repetir
meu ato, receber a nova festa e fazer a você a festa de seus atos. Não foi festa para você sentir o
abraço da Mãe Celestial, o abraço da luz do sol, das ondas do mar, até do pequeno passarinho
que estendia suas asas para te abraçar? Minha filha, onde está minha Vontade está tudo, não há
nada que lhe possa escapar".

(3) Então eu continuava seguindo seus atos no Supremo Querer, e meu doce Jesus acrescentou:
(4) "Minha filha, quem possui minha Vontade é como se tivesse concentrado o Sol em si mesmo,
mas não o sol que se vê no alto dos céus, e sim o Sol Divino, aquele mesmo Sol que está
concentrado em Deus, e que alongando seus raios se concentra na alma, assim que ela é dona da
luz porque possui dentro dela a vida da luz e todos os bens e efeitos que ela contém, por isso goza
a comunidade de bens de seu Criador. Tudo é em comum com quem possui a minha Vontade:
Comum é o amor, comum é a santidade, comum é a luz, tudo é em comum com ela, é mais,
vendo-a como parto de sua Vontade Divina é já sua filha, e goza, ama e quer que seus bens sejam
comuns. E se isto não pudesse ser, sofreria como um pai poderia sofrer porque sendo riquíssimo
se encontra na impossibilidade de poder dar seus bens a seus verdadeiros e fiéis filhos seus, e
então não podendo dar o que ele possui, está obrigado a vê-los pobres; este pai no meio da
opulência de suas riquezas morreria de dor e atormentado em suas amarguras, porque a alegria do
pai é dar e fazer felizes a seus filhos de sua mesma felicidade.

Se tanto pudesse sofrer um pai terreno que não pudesse fazer comum os bens com seus filhos, até morrer de dor, muito mais o
Eterno Criador, mais que Pai terníssimo sofreria se não pudesse pôr em comum seus bens com
quem possui o Fiat Divino, que como sua filha tem seus direitos de possuir a comunidade dos bens
de seu Pai, e se não fosse assim, chocaria com aquele amor que não conhece limites e com
aquela bondade mais que paterna que é o contínuo triunfo de todas nossas obras. Por isso, assim
que a alma chega a possuir o Fiat Supremo, o primeiro ato de Deus é pôr em comum seus bens
com ela, e concentrando-lhe seu Sol, na corrente de sua luz faz descer seus bens no fundo da
alma e ela toma o que quer, e sobre a mesma corrente da luz que possui os faz subir de novo a
seu Criador, como a maior homenagem de amor e de reconhecimento, e a mesma corrente os faz
descer de novo nela. Assim que sobem e descem continuamente estes bens, como certeza e selo
da comunidade que existe entre Criador e criatura. Assim era o estado de Adão desde que foi
criado até que pecou, o que era nosso era dele, a plenitude da luz concentrada nele, em vista de
que uma era sua vontade com a nossa, dava-lhe a comunidade de nossos bens.

Como nos sentíamos duplicados de nossa felicidade por causa da Criação, não por outra coisa, mas porque
víamos Adão, nosso filho, feliz de nossa mesma felicidade, porque sua vontade sendo uma com a
nossa, a nossa fazia chover a torrentes os nossos bens e a nossa felicidade, tanto que ele não os
podia conter todos, porque não tinha a grandeza do seu Criador, enquanto se enchia até à borda,
até derramar fora, fazia subir todo o resto Àquele do qual os recebia, e o que fazia subir de novo?
Seu amor perfeito que havia recebido de Deus, sua santidade, sua glória que possuía em comum
conosco, como para nos dar a paridade da felicidade, do amor, da glória; felicidade dávamos,
felicidade nos dava; amor, santidade e glória lhe dávamos, amor, santidade e glória nos dava.
Minha filha, possuir uma Vontade Divina é coisa de fazer ficar maravilhado, e a natureza humana
não pode compreender tudo, sente, possui, e não sabe explicar-se".



21-5

Março 10, 1927

Como Deus na Criação dava os direitos de possuir o Reino da Divina Vontade.

(1) Estava segundo meu costume seguindo os atos do Querer Supremo na Criação, e tendo chegado ao ponto quando Deus criava o homem, unia-me com os primeiros atos perfeitos que fez Adão quando foi criado, para começar junto com ele, e para seguir onde terminou de amar a Deus, de adorá-lo, quando pecou, com aquela perfeição com que tinha começado na unidade do Fiat Supremo, mas enquanto isso fazia pensava entre mim: "Mas nós temos direito a este Reino do Querer Divino?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro de mim disse-me:

(2) "Minha filha, você deve saber que Adão antes de pecar fazia seus atos no Fiat Divino, isto significava que a Trindade lhe havia dado a posse deste Reino, porque para poder possuir um reino se necessita quem o forme, quem o doe e quem o receba. A Divindade o formou e o doou, o homem o recebeu, assim que Adão em seu primeiro tempo da Criação possuía este Reino do Fiat Supremo, e como ele era a cabeça de toda a geração humana, todas as criaturas recebiam o direito desta possessão; e, conquanto Adão, ao subtrair-se da nossa vontade, tenha perdido a possessão deste reino, porque, fazendo a sua vontade, se pôs em estado de guerra com o eterno Fiat, e, pobre, não tendo força suficiente para combater, nem exército bem provido para poder lutar com um Querer tão Santo, que tinha força invencível e um exército formidável, ficou vencido e perdeu o Reino dado por Nós, muito mais que a força que possuía antes era a nossa, e demos-lhe também o nosso exército à sua disposição; assim que pecou a força, voltou-se para a nossa fonte, e o exército retirou-se dele, pondo-se à nossa disposição. Tudo isto não tirou os direitos aos seus descendentes de poder readquirir o Reino da minha Vontade. Aconteceu como a um rei que por uma guerra perde seu reino, não haverá a probabilidade que um de seus filhos, com outra guerra possa readquirir o reino de seu pai, que já era seu? Muito mais que vim Eu à terra, o divino vencedor, para refazer as perdas do homem, e encontrando a quem quisesse receber este Reino restituía-lhe a força, pondo de novo meu exército a sua disposição para manter a ordem, o decoro e a glória deste Reino. E que exército é esse?

É toda a Criação, na qual em cada coisa criada está situada a Vida de minha Vontade mais que exército maravilhoso e formidável para manter a vida deste Reino. O homem poderia perder a esperança de possuir de novo este Reino só se visse desaparecer todo o exército invencível da Criação, então poderia dizer: que Deus retirou sua Vontade da face da terra, que a vivificava, a embelezava, Não há mais esperança de que o Reino possa estar em nossa posse. Mas até que a Criação exista, é apenas uma questão de tempo para encontrar aqueles que o queiram receber, e além disso, se não se pudesse esperar a posse do Reino do Fiat Divino, não era necessário que Eu te manifestasse tantos conhecimentos a respeito dele, nem te teria manifestado seu Querer que quer reinar, nem sua dor porque não reina; quando uma coisa não se pode efetuar é inútil falar dela, portanto não teria tido nenhum interesse de dizer tantas coisas a respeito de minha Vontade Divina. Então só falar sobre Ela é sinal de que quero que venha sua posse".

22-5

Junho 20, 1927

Deus ao criar o homem lhe deu uma terra fértil e bela. Causa pela qual tem viva a Luisa. Tudo o que se faz na Divina Vontade tem vida contínua.

(1) Sentia-me oprimida e toda aniquilada em mim mesma, sem poder fazer nada. As privações tão frequentes de meu amado Jesus me tornam incapaz para tudo, e enquanto por um lado as sinto ao vivo que dilaceram minha pobre alma, por outro lado me fazem entontecer, petrificar como se não tivesse mais vida; ou bem sinto a vida para sentir-me morrer. Oh Deus, que pena, estas são sem misericórdia e sem piedade! Viver sob o pesadelo de uma pena que me leva um peso infinito, imenso e eterno, não tenho para onde ir, nem o que fazer para não sentir o peso enorme desta tremenda pena. Então pensava entre mim: "Não sou boa para nada, senão para sentir todo o peso de minha grande desventura de estar privada d'Aquele que a mim me parece que todos os demais possuem. Só a mim me tocava esta pena tão dilacerante de não possuir minha Vida, meu Tudo, meu Jesus. Ah! Jesus, regressa àquela que Tu feriste e a deixaste em poder da dor da ferida que Tu mesmo lhe fizeste, e depois, para que me ter em vida quando não sou boa para fazer nada?"

Mas enquanto eu aliviava a minha dor, o meu sumo bem Jesus moveu-se dentro de mim e estreitando-me a Ele disse-me:

(2) "Minha filha, a terra criada por Deus fértil e bela, com um sol resplandecente que a iluminava e alegrava, tornou-se espinhosa e cheia de pedras pelo pecado, a vontade humana pôs em fuga o Sol da minha, e densas trevas a cobriram, E eu conservo-te viva porque deves tirar as pedras da terra e torná-la fértil de novo. Cada ato de vontade humana tem sido uma pedra que cobriu a bela terra criada por Mim, cada pecado venial tem sido um espinho, cada pecado grave tem sido um veneno e cada bem feito fora de Minha Vontade tem sido como areia espalhada sobre o terreno, que toda a vegetação impedia até a mais pequena planta ou qualquer fio de erva que pudesse despontar debaixo das pedras. Agora minha filha, cada ato teu feito na minha Vontade deve tirar uma pedra, e quantos atos são necessários para removê-las todas! e, não dando vida jamais à tua vontade, chamarás de novo aos refulgentes raios do Sol do Fiat Supremo a resplandecer sobre estes terrenos tenebrosos, e estes raios chamarão ao vento impetuoso da graça, que com o seu império removerá toda aquela areia, isto é, todo aquele bem feito não para cumprir o meu Querer, nem nele, nem por amor meu, mas sim para resgatar estima, glória, interesse humano. Oh! como é pesado este bem aparente, mais que areia que impede a vegetação às almas e as torna de tal maneira estéreis, que dão piedade. Por isso o Sol de meu Querer com sua fecundidade mudará os espinhos em flores e frutos, e o vento de minha Graça será o contraveneno e verterá a vida nas almas. Então, tu deves estar convencida que te tenho ainda com vida para reordenar a obra da Criação, e assim como uma vontade humana saindo da minha desordena tudo até mudar a face da terra, assim outra vontade humana que entra na minha, com atos repetidos e incessantes deve reordenar tudo e restituir-me o doce encanto, a harmonia, a beleza dos primeiros tempos da Criação. Não sente em você o quão grande é seu campo de ação? E como reanimando no Éden terrenal, onde meu Querer Divino festejou com os primeiros atos do homem, e gozávamos juntos a terra fértil e bela que lhe tinha dado, Eu te chamo para unir os primeiros atos e para te fazer caminhar todos os terrenos invadidos pela vontade humana, para que abraçando todos os tempos juntos, ajude a remover as pedras, os espinhos, a areia que o querer humano acumulou, mudando estes terrenos até dar piedade".

(3) Então minha pobre mente, no Querer Divino se punha no Éden, para entrar na unidade daquele ato único, que só n'Ele se encontra, para descer até os últimos tempos a fim de que meu amor, minha adoração, etc., pudessem se estender a todos os tempos, lugares, e por todos e por cada um. Mas enquanto isso pensava e fazia, dizia entre mim: "Quantos desatinos estou dizendo, nos últimos tempos, eu espero pela graça do Senhor estar lá em cima, na Pátria Celestial, como poderei amar no tempo enquanto estarei na eternidade?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro de mim disse-me:

(4) "Minha filha, tudo o que se faz em minha Vontade tem vida contínua, porque tudo o que é feito nela tem por princípio o amor de seu Criador, que não está sujeito a terminar, amou, ama e amará sempre, nenhum pode interromper este amor. Portanto, quem ama, quem adora em minha Vontade, não faz outra coisa senão seguir aquele amor eterno, aquela adoração perfeita das Divinas Pessoas, que não têm nem princípio nem fim; a alma conforme entra em minha Vontade, entra em nossos atos e continua amando com nosso amor e adorando com nossa adoração, e fica vinculada com nosso amor recíproco, com nossa Vontade única, a qual tem virtude de não cessar jamais em seus atos, e tudo o que os outros podem fazer não é outra coisa que a continuidade do ato feito em minha Divina Vontade; os atos feitos nela têm vida perene e contínua. Então teu amor nos últimos tempos não será nada diferente do que agora, e se os outros amarem, amarão no teu e com teu amor, porque ele será ato primeiro, porque tem seu princípio em Deus. Portanto, desde a pátria celestial tu amarás no tempo e na eternidade, minha Vontade terá, ciumenta, teu amor como tem o seu, e onde quer que Ela se estenda e terá sua Vida, te fará amar e adorar por toda parte.

Quem vive em minha Vontade todos seus atos têm por princípio e por fim todos os atos Divinos, o modo de nosso agir; assim que a alma não faz outra coisa que seguir o que faz Deus. A Soberana Rainha, que fazia vida perfeita na morada real de nosso Querer, não tinha outro amor que o nosso, nem outra adoração, todos seus atos se veem tão fundidos nos nossos, que o que em nossos atos é natureza, em Ela é graça, e como suas ações não tiveram princípio em seu querer, senão no Nosso, Ela por direito tem o primado sobre todos os atos das criaturas, por isso se você ama, a Celestial Rainha tem o primado sobre seu amor, e você segue seu amor como segue o nosso, e a grande Senhora e Nós continuaremos amando em teu amor, e assim de tudo o que possas fazer em nossa Vontade. Então vindo tu à pátria celestial, teu amor não partirá da terra, senão que continuará amando em cada uma das criaturas. Por isso meu Fiat Divino desde agora te faz estender teu amor no passado, no presente e no futuro, para te dar o direito de que teu amor se estenda por toda parte e em todos os tempos e jamais cesse de amar. Eis a grande diferença entre quem vive em minha Vontade e entre quem vive fora dela".

23-5

Outubro 2, 1927

Adão foi o mais santo antes de pecar. Plenitude e totalidade de bens dos atos feitos no Divino Querer; como se estendem a todos. A pupila do olho investida pelo sol. A Divina Vontade, como matéria se presta para esconder o seu Criador. Exemplo da Hóstia.

(1) Estava fazendo a minha volta na Criação para seguir todos os atos da Divina Vontade que há nela, e tendo chegado ao Éden onde Deus criou o primeiro homem, Adão, para unir-me com ele àquela unidade de Vontade que possuía com Deus, na qual fazia seus primeiros atos em sua primeira época da Criação, pensava para mim: "Quem sabe que santidade possuía meu primeiro pai Adão, que valor continham seus primeiros atos feitos no reino do Fiat Divino e, como posso eu conseguir de novo sobre a terra um reino tão santo, estando só eu ocupada em obter um bem tão grande?" Mas enquanto isso pensava, meu sempre amável Jesus saiu de dentro de mim mandando raios de luz, e aquela luz se convertia em palavras e me disse:

(2) "Minha filha, filha primogênita da minha Vontade, como filha dela, quero revelar-te a santidade daquele que possuiu o Reino do meu Fiat Divino. No princípio da Criação este reino teve sua vida, seu perfeito domínio e seu completo triunfo, assim que este reino não é de todo estranho à família humana, e como não é estranho existe toda a segura esperança de que volte de novo no meio dela para reinar e dominar. Agora, tu deves saber que Adão possuía tal santidade quando foi criado por Deus, e seus atos ainda mínimos tinham tal valor, que nenhum santo, nem antes nem depois de minha vinda sobre a terra podem comparar-se a sua santidade, e todas as suas obras não chegam ao valor de um só ato de Adão, porque ele possuía na minha Vontade Divina a plenitude da santidade, a totalidade de todos os bens divinos; e sabes o que significa plenitude? Significa estar cheio até a borda, até transbordar fora luz, santidade, amor e todas as qualidades divinas, de modo de poder encher Céu e terra, dos quais tinha o domínio e neles estendia seu reino.

Por isso cada ato seu feito nesta plenitude de bens divinos tinha tal valor, que nenhum outro, por quanto se sacrificasse, sofresse ou operasse o bem, mas que não possuísse o reino de minha Vontade e seu total domínio, pode comparar-se a um só destes atos no reino dela. Por isso a glória, o amor que me deu Adão enquanto viveu no reino do meu Divino Querer, ninguém, ninguém me deu, porque ele em seus atos me dava a plenitude e totalidade de todos os bens e somente em Minha Vontade se encontram estes atos, fora Dela não existem, por isso Adão tinha suas riquezas, seus atos de valor infinito que lhe participava Meu eterno Querer diante à Divindade, porque Deus, ao criá-lo, nada de vazio tinha deixado nele, senão tudo era plenitude divina, quanto a criatura era possível conter. Agora, ao cair no pecado não foram destruídos estes atos, estas suas riquezas, esta glória e amor perfeitos que tinha dado a seu Criador, antes em virtude deles e de seu agir feito em meu Fiat Divino mereceu a Redenção. Não, não podia ficar sem redenção quem havia, ainda por pouco tempo, possuído o reino de minha Vontade. Quem possui este reino entra em tais vínculos e direitos com Deus, que o próprio Deus sente nele a força de suas próprias cadeias, que atando-o, não pode separar-se dele. Nossa Majestade adorável se encontrava com Adão nas condições de um pai que tendo um filho, este lhe foi causa de tantas conquistas, de grandes riquezas, de glória incalculável, não há nada que possua o pai onde não encontre os atos de seu filho, Onde quer que sente ressoar a glória, o amor de seu filho; agora, este filho por sua desventura cai em pobreza, pode o pai não ter compaixão de seu filho, se em qualquer lugar e em tudo sente o amor, a glória, as riquezas com que seu filho o circundou? Minha filha, Adão vivendo no reino de nossa Vontade havia penetrado em nossos confins, que são intermináveis, e onde quer que pusera as suas obras, a sua glória, o seu amor para o seu Criador, e como nosso filho com as suas obras nos trazia as nossas riquezas, as nossas alegrias, a nossa glória e amor, o seu eco ressoava em todo o nosso Ser, como o nosso no seu; agora, vendo-o caído na pobreza, como nosso amor podia suportar não ter compaixão dele, se nossa mesma Vontade Divina nos fazia a guerra amorosamente e intercedia por aquele que tinha vivido nela? Vê então o que significa viver em meu Querer Divino, sua grande importância? Nela está a plenitude de todos os bens divinos e a totalidade de todos os atos possíveis e imagináveis, abraça todo o Ser Divino. A alma se encontra em minha Vontade como o olho se encontra de frente ao sol, que fica todo cheio de sua luz, e enquanto o sol se reflete todo inteiro na pupila do olho, sua luz permanece também fora, investindo toda a pessoa e percorrendo a terra sem afastar-se de dentro da pupila, e enquanto fica sua luz no olho, gostaria de levar a pupila ao sol para fazê-la fazer junto com ele o giro da terra e fazê-la fazer o que faz a luz e receber seus atos por toda parte como testemunho de amor e glória. Isto é imagem da alma que vive em minha Vontade, Ela a enche de tal plenitude que não deixa nenhum vazio nela, e como não é capaz de possuir toda a imensidão divina, a enche por quanto mais a criatura possa conter, e sem separar-se fica fora dela, levando-se na interminabilidade de sua luz a pupila da vontade da alma para fazê-la fazer o que faz minha Divina Vontade, para receber a correspondência de seus atos e de seu amor. Oh! poder do meu Fiat Divino que age na criatura, que fazendo-se investir por sua luz não lhe nega seu domínio e seu reino. E se Adão mereceu compaixão foi porque a primeira época de sua vida foi no reino do Querer Divino.

Se a Soberana Celestial pôde obter, ainda que estivesse sozinha, a vinda do Verbo sobre a terra, foi porque deu livre campo ao reino do Fiat Divino nela. Se minha própria Humanidade pôde formar o reino da Redenção, foi só porque possuía toda a integridade e imensidão do reino do Eterno Querer, porque Ele, onde quer que se estenda tudo abraça, tudo pode, não existe poder contra Ele que possa restringi-lo. Então, um só que possua o reino da minha Vontade vale mais que tudo e que todos, e pode merecer e conseguir o que todos os demais juntos não podem nem merecer, nem obter, porque todos os demais juntos, por quão bons sejam, mas sem a Vida da minha Vontade neles, são sempre as pequenas chamas, as plantas, as flores, que no máximo servem para adornar a terra, sujeitas a murchar e a secar-se, e a bondade divina não pode fazer nem grandes planos sobre eles, nem conceder presságios de fazer o bem ao mundo inteiro. Em quem vive minha Vontade é mais que sol, e assim como o sol com o império de sua luz investe a todos, impera sobre as plantas e dá a cada uma a vida, a cor, o perfume, a doçura, com seu tácito império se impõe sobretudo para dar seus efeitos e os bens que possui, nenhum outro planeta faz tanto bem à terra como o faz o sol; assim em quem vive meu Querer, são mais que sol e com a luz que contêm se abaixam e com rapidez se elevam, penetram em qualquer lugar, em Deus, em seus atos; com a Vontade Divina que possuem sobre o próprio Deus, sobre as criaturas, são capazes de atropelar tudo para levar a todos a vida da luz que possuem, são os portadores do seu Criador e fazem caminhar a luz adiante para impetrar, obter e dar o que querem. Oh! se as criaturas conhecessem este bem tão grande fariam concorrência, e todas as paixões se mudariam em paixão de luz de viver sozinho e sempre naquele Fiat Divino que tudo santifica, tudo doa e sobretudo prevalece".

(3) Minha pobre mente continuava se perdendo no Querer Divino, e ficava maravilhada da sublimidade, plenitude e totalidade dos atos feitos nele, e meu amado Jesus movendo-se em meu interior acrescentou:

(4) "Minha filha, deixa de maravilhar-te, viver em meu Fiat Divino e o agir nele, é a transfusão do Criador na criatura; e entre o agir Divino e o agir só da criatura há uma distância infinita, ela se presta a seu Deus como matéria para lhe fazer coisas grandes, assim como a matéria da luz foi emprestada ao Fiat Divino na Criação para fazê-lo formar o sol, o céu, as estrelas, o mar, todas as matérias nas quais o Fiat Supremo ressoou e fabricou a Criação toda. Prodígio Dele é o sol, o céu, o mar, a terra, que foram vivificados e animados pelo Fiat, exemplo perene e encantador do que sabe fazer e pode fazer a minha Vontade. Acontece da alma como dos acidentes da hóstia que se presta, ainda que seja matéria, a fazer-se animar pela minha Vida Sacramental, desde que se pronunciem pelo sacerdote aquelas mesmas palavras ditas por Mim ao instituir o Santíssimo Sacramento; eram palavras animadas pelo meu Fiat, que continha a Potência criadora, e por isso a matéria da hóstia sofre a transubstanciação da Vida Divina. Podem-se dizer sobre a hóstia quantas palavras se queiram, mas se não forem aquelas poucas palavras estabelecidas pelo Fiat, minha Vida fica no Céu e a hóstia fica a vil matéria que é.

Assim acontece com a alma, pode fazer, dizer, sofrer o que quiser, mas se não correr dentro do meu Fiat Divino são sempre coisas finitas e vis, mas em quem vive n'Ele, suas palavras, suas obras, suas penas, são como véus que escondem o Criador e destes véus se serve Aquele que criou o céu e a terra, e neles faz obras dignas d'Ele e põe sua santidade, sua potência criadora, seu amor infinito. Por isso nenhum outro pode chegar, por quantas coisas grandes faça, a comparar-se com aquela criatura na qual vive, reina e domina minha Vontade Divina. Também entre as criaturas acontece que, segundo a matéria que têm nas mãos para formar seus trabalhos, assim muda o valor que possuem e adquirem. Suponha que uma tem propriedade de ferro, quanto deve trabalhar, suar, fatigar-se para reduzir aquele ferro macio para lhe dar a forma do recipiente que quer fazer, e o lucro que faz é tão pouco, que apenas lhe alcança para viver; em troca outro tem propriedade de ouro, de pedras preciosas, este trabalha muito menos, mas ganha milhões, assim não é o trabalho que leva a muito ganho, as riquezas exuberantes, mas o valor da matéria que possui, um trabalha pouco e ganha muito porque a matéria que possui contém um grande valor, o outro trabalha muito, mas como a matéria que possui é vil e de pouquíssimo valor, é sempre o pobre esfarrapado e faminto. Assim acontece para quem possui minha Divina Vontade, possui a vida, a virtude criadora, e seus menores atos contêm um valor divino e interminável, por isso ninguém pode igualar suas riquezas; em troca quem não possui minha Vontade como vida própria, está sem vida e trabalha com a matéria do próprio querer, e por isso é sempre o pobre esfarrapado diante de Deus e em jejum daquele alimento que forma nele o Fiat Voluntas Tua come in Cielo cosí in terra".

24-5

Abril 6, 1928

Como se pode pôr a alma na unidade Divina. Exemplo do sol. A repetidora do Criador. Como Deus dá gole por gole. Necessidade de conhecimento para fazer o seu caminho.

(1) Estava pensando no Fiat Divino para unir-me a sua unidade, para poder suprir aquela unidade de vontade que falta entre Criador e criatura e pensava em mim: "Será que posso chegar a tanto, de poder penetrar na unidade de meu Criador?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(2) "Minha filha, a alma que se põe na unidade da minha vontade é como se se pusesse na esfera do sol. Olha o sol, é um, da altura onde se encontra sua esfera faz um só ato, mas a luz que desce até o baixo abraça toda a terra e pelos efeitos de sua luz produz múltiplos e inumeráveis atos, quase a cada coisa, a cada planta, as investe, lhes dá seu abraço de luz e lhes diz: ‘Que queres tu, a doçura? Te dou-a; e tu, que queres, a cor? Te dou-a; e tu queres o incenso? Te dou-o também.'

Quase a cada coisa a luz tira de si e dá o que a sua natureza lhe convém para formar sua vida e crescer segundo a ordem criada por Deus. Agora, por que tudo isso? Porque aquela esfera contém tanta luz e todos os germes e efeitos de todas as coisas e plantas que estão espalhadas sobre a face da terra. Agora, símbolo disto é a alma que quer viver na unidade do nosso Querer, ela eleva-se na esfera do Sol do eterno Fiat, que contém tanta luz que não há quem possa fugir dela, possui todos os germes das vidas das criaturas, sua luz vai investindo e plasmando a todos, e roga para que recebam cada um a vida, a beleza, a santidade querida pelo seu Criador; e a alma daquela esfera se faz de todos e se dá a todos, e repete nosso ato, que enquanto é um, este um tem virtude de fazer tudo e de dar-se a todos, como se cada um o tivesse à sua disposição e fosse todo seu, porque em Nós a unidade é natureza, na alma pode ser graça, e Nós nos sentimos bilocados na criatura que vive em nossa unidade, e oh! como temos prazer ao ver a pequenez da criatura que se eleva, desce, alarga-se na nossa unidade para ser a repetidora do seu Criador".

(3) Depois disto estava pensando em como Jesus bendito devia fazer vir o reino de sua Vontade, como podia a criatura abraçar todos juntos seus conhecimentos, e quase tudo com um só golpe, bens tão grandes, modos divinos, beleza e santidade que contêm os reflexos e a semelhança do seu Criador. Mas enquanto pensava assim, o meu amado Jesus mexeu-se dentro de mim e disse-me:

(4) "Minha filha, a criatura, é por natureza sua que não pode receber um bem grande, uma luz que não tem confins, tudo junto, mas que deve tomar gole por gole, esperando que passe o primeiro gole para tomar o seguinte e se quiser tomar tudo junto, pobrezinha, se afogaria e seria obrigada a tirar fora o que não pode conter, esperando que primeiro digira aquele pouco que tomou, que corra como sangue em suas veias, que se estenda aquele humor vital em toda sua pessoa, e depois se disponha a tomar outro gole. Não foi esta a ordem que tive contigo, manifestar-te pouco a pouco, começando pelas primeiras lições, depois as segundas, as terceiras, e assim pouco a pouco o resto que diz respeito ao meu eterno Fiat? E quando você mastigava a primeira, e corria como sangue em sua alma, Eu te preparava a segunda lição e minha vontade formava os primeiros atos de vida em você, e eu festejava a glória dela e realizava a finalidade da Criação e estava esperando com ânsia o poder te dar outras lições mais sublimes, de te encher tanto, que você mesma não sabia de onde tomar para as poder dizer.

Assim farei para formar o reino de meu Querer Divino, começarei pelas primeiras lições que te dei, e por isso quero que se comece a conhecer, a fim de que façam o caminho, preparem e disponham às almas para fazer que pouco a pouco suspirem por escutar outras lições em vista do grande bem que receberam das primeiras, por isso preparei lições tão longas sobre minha Vontade, porque ela encerra a finalidade primária pela qual foi criado o homem, e todas as coisas e a vida do mesmo homem que deve desenvolver nela, assim que sem Ela é como se o homem não tivesse a verdadeira vida, senão uma vida quase estranha a ele, e por isso cheia de perigos, de infelicidade e de misérias; pobre homem sem a Vida de meu Querer, teria sido melhor para ele se não tivesse nascido, e por suma desventura sua nem sequer conhece sua verdadeira vida, porque até agora não houve quem tivesse partido o verdadeiro pão de seus conhecimentos para formar o sangue puro e poder fazer crescer sua verdadeira Vida na criatura, partiram-lhe um pão corrompido, contaminado, que se não o fez morrer, não cresceu são, robusto, e forte de uma força divina, como faz crescer o pão da minha Vontade; Ela é vida e tem virtude de dar a sua Vida, é luz e expulsa as trevas, é imensa e toma o homem por todos os lados para lhe dar força, felicidade, santidade, de modo que tudo está seguro em torno dele. Ah, você não sabe que tesouros de graça escondem estes conhecimentos, que bem levarão as criaturas, e por isso não tem interesse em que comecem a fazer seu caminho para dar início a formar o reino de minha Vontade!".

25-5

Outubro 28, 1928

Tudo o que foi feito por Deus não foi tomado pela criatura. Trabalhos de Jesus. A festa de Cristo Rei, prelúdio do reino da Divina Vontade. 

(1) Estava seguindo meu giro no Querer Divino para seguir todos seus atos, e meu doce Jesus fazendo-se ouvir em meu interior me disse:

(2) "Minha filha, tudo o que foi feito por nossa Divindade, tanto na Criação como na Redenção e Santificação, nem tudo foi absorvido pela criatura, mas tudo está em minha Divina Vontade em ato expectante para dar-se às criaturas. Se você pudesse ver tudo em meu Fiat Divino, encontraria um exército de atos nossos saídos de Nós para dá-los às criaturas, mas como não reina nosso Querer, não têm espaço onde colocá-los nem capacidade de recebê-los. Esta milícia divina, há vinte séculos está esperando pôr-se em ofício de exercício para levar às criaturas os dons, as vestes, as alegrias e as armas divinas que cada ato nosso possui, para fazer junto com eles um só exército divino, uma milícia celestial. Agora, para fazer que o reino de nosso Querer Divino reine em meio às criaturas, é necessário que a criatura absorva em si todos estes atos da Divindade feitos por amor dela, e os absorva tanto em si mesma, de encerrar em si tudo o que possui meu Fiat, assimilando-os e confortando-os em si mesma. Assim que minha Divina Vontade consumada na criatura, fará reentrar nela todo este exército divino, todos os atos nossos saídos de Nós na Criação, Redenção e Santificação por amor delas, reentrarão nas criaturas e minha Divina Vontade assimilada e consumada nelas se sentirá triunfante e reinará dominante junto com nosso exército divino. Por isso Eu não faço outra coisa em ti que te fazer beber a goles continuamente tudo o que por Nós se fez e se faz na Criação, Redenção e Santificação, para poder dizer de novo como disse na cruz: ‘Tudo está consumado, não tenho outra coisa que fazer para redimir o homem'. Assim repetirá a minha Vontade: ‘Tudo está consumado nesta criatura, de modo que todos os nossos atos foram encerrados nela, não tenho mais nada a acrescentar, tudo está consumado para que o homem fosse restaurado e o reino de minha Divina Vontade tenha sua vida e seu regime como no Céu assim na terra'.

(3) Oh! Se você soubesse quantos trabalhos estou fazendo no fundo de sua alma para formar este primeiro reino a minha Divina Vontade, porque quando tiver feito o primeiro, de uma passará para a outra, de modo que meu reino será povoado mais que todos os demais. Portanto, é tanto o meu amor na formação deste meu reino, que quero encerrar na alma onde deve reinar o meu Divino Querer tudo o que Eu mesmo fiz na Redenção, o que faz a Soberana Rainha, acrescenta também o que fizeram e fazem todos os santos, nada deve faltar nela de todas as nossas obras, e para o fazer ponho em movimento todo o nosso poder, sabedoria e amor".

(4) Depois disto estava pensando na festa de hoje, isto é a festa de Cristo Rei, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:

(5) "Minha filha, a Igreja não faz outra coisa que intuir o que deve conhecer sobre minha Divina Vontade e como deve vir seu reino. Por isso esta festa é o prelúdio do reino de meu Fiat Divino.

Assim que a Igreja não está fazendo outra coisa que honrar a minha Humanidade com aqueles títulos que com justiça me devem, e quando me tiverem dado todas as honras que me convêm, passará a honrar e a instituir a festa ao reino de minha Divina Vontade, pela qual a minha humanidade estava animada. A Igreja vai pouco a pouco, e ora institui a festa ao meu coração, ora consagra com toda a solenidade o século ao Cristo Redentor, e ora passa com mais solenidade a instituir a festa ao Cristo Rei. Cristo Rei significa que deve ter seu reino, deve ter  povos dignos de tal Rei, e quem poderá me formar este reino senão minha Vontade? Então poderei dizer: ‘Tenho meu povo, meu Fiat me formou.' Oh, se as cabeças da Igreja conhecessem o que te manifestei sobre minha Divina Vontade, o que quero fazer, seus grandes prodígios, meus anseios, meus batimentos dolorosos, meus suspiros angustiosos porque quero que minha Vontade reine, que faça felizes todos, restabeleça a família humana, nesta festa de Cristo Rei sentiriam não ser outra coisa que o eco secreto de meu coração, que fazendo eco no deles para atrair sua atenção e reflexão, sem saber me instituem a festa de Cristo Rei. Cristo..., Rei, e seu verdadeiro povo onde está? E diriam: Apressemo-nos a fazer conhecer sua Vontade Divina, façamo-la reinar a fim de que demos o povo a Cristo que chamamos Rei, de outra maneira o teremos honrado com o nome, mas não com os fatos".

26-5

Abril 28, 1929

O Fiat Divino torna inseparável a criatura de Deus. Transbordamento divino pela criatura. Tudo está seguro em quem vive no Fiat, e tudo está em perigo em quem faz a vontade humana.

(1) Estava a fazer a meu giro no Fiat Divino para seguir os seus atos na Criação, e tendo chegado ao Éden, a minha pobre mente parou no ato quando criava o homem, e infundindo-lhe o fôlego infundia-lhe a vida, e rogava a Jesus que desse o alento a minha pobre alma para infundir-me o primeiro alento divino da Criação, a fim de que com seu alento regenerador pudesse recomeçar minha vida toda no Fiat, de acordo com a finalidade para a qual me tinham criado. Mas enquanto isso fazia, meu doce Jesus saiu de dentro de mim, como em ato de querer infundir-me seu alento e me disse:

(2) "Minha filha, é nossa Vontade que a criatura volte a subir a nosso seio, entre nossos braços criadores para dar-lhe novamente nosso alento contínuo, e neste alento dar-lhe a corrente que gera todos os bens, alegrias e felicidade, mas para poder dar este alento, o homem deve viver em nosso Querer, porque só n'Ele o pode receber, e Nós dá-lo. Nosso Fiat tem tal virtude, de tornar inseparável a criatura de Nós, e o que Nós somos e fazemos por natureza, ela pode fazê-lo por graça. Nós ao criar o homem não o colocávamos separado de nós, e para tê-lo junto lhe dávamos nossa mesma Vontade Divina, a qual lhe daria o primeiro ato para agir junto com seu Criador; foi esta a causa de que nosso amor, nossa luz, nossas alegrias, a potência e beleza nossas regurgitaram todas juntas, e, transbordando fora do nosso Ser Divino, colocamos a mesa àquele que tínhamos formado com tanto amor com as nossas mãos criadoras e gerado com o nosso próprio alento. Queríamos gozar nossa obra, vê-lo feliz com nossa mesma felicidade, embelezado com nossa beleza, rico de nossa riqueza, muito mais que era Vontade nossa estar junto com a criatura, trabalhar juntos e nos entreter junto com ela; os jogos não podem ser feitos de longe, mas de perto. Então, por necessidade de criação e para manter integrada nossa obra e a finalidade com a qual a havíamos criado, o único meio era dotar o homem de Vontade Divina, a qual o teria conservado como saiu de nossas mãos criadoras, e ele teria gozado todos nossos bens, e Nós devíamos gozar porque ele era feliz. Por isso não há outros meios para fazer que o homem retorne a seu posto de honra, e que entre de novo a trabalhar junto com seu Criador, e que se entretenham mutuamente, que entre de novo em nosso Fiat, a fim de o levemos triunfante a nossos braços que o estão esperando para o estreitar forte a nosso seio divino, e dizer-lhe: Finalmente, depois de seis mil anos voltaste, andaste errante, provaste todos os males, porque não há bem sem nosso Fiat, provaste o suficiente e tocaste com a mão o que significa sair d‟Ele, por isso não saias mais e vem descansar e gozar o que é teu, porque em nosso Querer tudo te foi dado'. Portanto minha filha, seja atenta, tudo lhe daremos se viver sempre em nosso Fiat, nosso alento tomará prazer em dar-se sempre a ti, para te dar nossas alegrias, nossa luz, nossa santidade, e comunicar-te a atitude de nossas obras, a fim de que sempre possamos ter junto à pequena filha regenerada por nossa Divina Vontade".

(3) Dito isto, retirou-se dentro de mim, e eu continuava a seguir os inúmeros atos do Fiat Divino, e o bendito Jesus me disse:

(4) "Minha filha, é prerrogativa de meu Querer Divino pôr em seguro tudo o que possui; assim quando entra na alma, como possuidor dela, todas as coisas as põe em seguro: põe em seguro a santidade, a graça, a beleza, todas as virtudes, e para fazer que tudo esteja em seguro, faz substituir na alma a sua santidade divina, a sua beleza, suas virtudes, tudo em modo divino, e pondo nisso seu selo que é intangível de toda mudança, torna à criatura intangível de todo perigo.

Portanto, para quem vive no meu Querer nada há a temer, porque Ele assegurou cada coisa com o eu seguro divino. Ao contrário, a vontade humana faz com que tudo fique em perigo, mesmo a própria santidade, as virtudes que não estão sob o domínio contínuo do meu Fiat, estão sujeitas a perigos contínuos e a oscilações contínuas; as paixões têm o caminho aberto para pôr tudo em desordem e lançar por terra as virtudes, a santidade, formadas com tantos sacrifícios. Se não há a virtude vivificadora e alimentadora contínua de meu Querer, que feche todas as portas e todos os caminhos a todos os males, a vontade humana tem portas e caminhos para fazer entrar o inimigo, o mundo, a estima própria, as misérias, as perturbações, que são a traça das virtudes e da santidade, e quando há a traça não há força suficiente para estar firmes e perseverantes no bem, por isso tudo está em perigo quando não reina minha Divina Vontade.

Além disso, é tanto o mal que não reine nossa Divina Vontade no meio das criaturas, que todas as coisas estão em contínua oscilação, nossa própria Criação, todos os bens da Redenção, são intermitentes, porque não encontrando na família humana nosso Fiat reinante, nem sempre pode dar os mesmos bens, aliás, muitas vezes devemos servir-nos da Criação e Redenção para armá-la contra o homem, porque o querer humano se põe contra o nosso, e Nós, por justiça, devemos feri-los, para lhe fazer compreender que não reinando o nosso Querer, o humano rejeita os nossos bens e obriga-nos a castigá-los; a mesma glória que a criatura nos dá por meio da Criação e Redenção, não é fixa, muda a cada ato de vontade humana. Assim, o pequeno interesse que a criatura nos devia dar, de seu amor e de sua glória que nos deveria dar, porque tanto lhe havíamos dado, não é sequer renda fixa, mas sim que tudo é intermitente, porque só a nossa Vontade tem virtude de tornar irremovíveis e contínuos os seus atos e aqueles onde Ela reina. Assim, até que nosso Fiat Divino reine tudo está em perigo; a Criação, a Redenção, os sacramentos todos estão em perigo, porque o humano querer hora abusa, hora não reconhece Aquele que tanto o amou e beneficiou, hora pisoteia sob seus pés nossos próprios bens; por isso, até que não reine nosso Querer que porá no meio das criaturas a ordem divina, sua firmeza, harmonia e seu dia perene de luz, de paz, tudo estará em perigo para ele e para Nós, nossas mesmas coisas estarão sob a opressão do perigo e não poderão dar às criaturas os bens abundantes que elas contêm".

28-5
Março 12, 1930
Deus não leva em conta o tempo, mas sim os atos que fazemos. Exemplo de Noé. O bem que
possui um sacrifício prolixo e contínuo. Cada ato de criatura possui seu germe distinto.

(1) Meu voo no Fiat Divino continua, minha pobre mente não sabe estar sem girar em seus atos
inumeráveis, sinto que uma força suprema me tem como fixa nas obras de meu Criador, e ela gira
e volta a girar sempre, sem cansar-se jamais, e oh! quantas belas surpresas encontra, hora na
Criação, hora na Redenção, e nas quais me surpreendem o bendito Jesus faz-se narrador, e isto
não é outra coisa que uma invenção maior do seu amor. Depois, enquanto girava no Éden e nos
tempos antes de sua vinda à terra, pensava em mim: "E por que Jesus demorou tanto tempo para
vir redimir o gênero humano?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(2) "Minha filha, a nossa infinita sabedoria quando deve dar um bem à criatura, não conta o tempo,
mas sim os atos das criaturas, porque ante a Divindade não existem dias e anos, e sim só um dia
perene, e por isso não medimos o tempo, mas vêm contados por Nós os atos que têm feito. Assim,
naquele tempo que a ti parece tão longo, não tinham sido feitos os atos queridos por Nós para vir
redimir o homem, e só os atos determinam fazer vir o bem, e não o tempo.

Muito mais que obrigavam a nossa Justiça a exterminá-los da face da terra, como aconteceu no dilúvio, que só
Noé mereceu, ao obedecer à nossa Vontade e com a prolixidade do seu longo sacrifício de fabricar
a arca, salvar-se com sua família e encontrar em seus atos a continuação da nova geração na qual
devia vir o prometido Messias. Um sacrifício prolixo e contínuo possui tal atrativo e força
arrebatadora sobre o Ente Supremo, que o fazem decretar dar bens grandes e continuação de vida
ao gênero humano. Se Noé não tivesse obedecido e não se tivesse sacrificado para cumprir um
trabalho tão longo, teria sido ele também atropelado no dilúvio, e não se salvando a si mesmo, o
mundo, a nova geração teria terminado. Olhe o que significa um sacrifício prolixo e contínuo, é tão
grande que põe a salvo a si mesmo e faz surgir a vida nova nos demais, e o bem que
estabelecemos dar. Eis por que, para o reino da minha Divina Vontade, quis o teu longo e contínuo
sacrifício de tantos anos de cama. Teu longo sacrifício te punha a salvo, mais que arca no reino de
minha Divina Vontade, e inclina a minha bondade a dar um bem tão grande, como é fazê-la reinar
no meio das criaturas".

(3) Depois disto continuava meu giro no Fiat Divino para levar todos os atos das criaturas em
homenagem ao meu Criador, e pensava em mim: "Se chego a recolher tudo o que elas fizeram e
encerrar tudo no Querer Divino, não se transformarão em atos de Divina Vontade?" e o meu doce
Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, todos os atos das criaturas, cada um deles possui seu germe segundo como foi
feito, se não foi feito em meu Fiat Divino não possui seu germe, portanto não poderá jamais ser ato
de minha Vontade, porque no ato de fazê-lo faltava seu germe de luz, que tem a virtude de
transformá-lo em sol, que põe seu germe de luz como ato primeiro no ato da criatura. Nos atos das
criaturas acontece como se uma pessoa tem a semente de flores, semeando-a terá flores, e se
semear a semente de frutos, terá frutos, e nem a semente de flores dará frutos, nem a dos frutos
dará flores, mas cada uma dará segundo a natureza da sua semente. Assim os atos das criaturas,
se no ato esteve um fim bom, uma finalidade santa, para me agradar, para me amar, em cada um
dos atos se verá: em um o germe da bondade, em outro o germe da santidade, o germe de me
agradar, o germe de me amar; estes germes não são luz, mas simbolizam: quem a flor, quem o
fruto, quem uma planta e quem uma joia preciosa, e Eu sinto a homenagem da flor, do fruto, e
assim por diante, mas não a homenagem que pode me dar um Sol; e recolhendo você todos estes
atos para encerrá-los em meu Fiat, ficam tal como são, cada um a natureza que a semente lhe
deu, e se veem que são atos que pode fazer a criatura, não atos que pode fazer minha Divina
Vontade com seu germe de luz no ato delas. O germe de Vontade Divina não vem cedido por Ela,
mas sim quando a criatura vive nela, e em seus atos lhe dá o primeiro posto de honra".


29-6

Março 9, 1931

O primeiro amor de Deus pelo homem foi externado na Criação. Amor cumprido na criação do homem.

(1) Meu abandono no Fiat Divino continua, e como estava fazendo meus atos nele para poder unir-
me a seus atos, toda a Criação se alinhava ante minha mente, e em sua mudo linguagem dizia que
tantas vezes de mais me havia amado o Querer Divino por quantas coisas de mais havia criado, e
que agora tocava minha vez de amá-lo em cada coisa criada, para corresponder-lhe com outros
tantos atos meus de amor, a fim de que seu amor e o meu não estivessem isolados, senão que se
fizessem doce companhia. Agora, enquanto fazia isto, meu doce Jesus saiu do fundo de minha
alma, que parecia que estava tão dentro dela, que não me era dado vê-lo e me disse:

(2) "Minha filha, o nosso amor pela criatura foi um eterno amor, dentro de nós sempre a amamos,
mas fora de nós foi externado o nosso primeiro amor na Criação. Conforme nosso Fiat se ia
pronunciando e passo a passo criava o céu, o sol, e todo o resto, assim ia externando em cada
coisa criada, quase passo a passo nosso amor contido desde a eternidade por amor das criaturas.
Mas deves saber minha filha, que um amor chama ao outro; tendo-se externado na criação do
universo e tendo provado como é refrescante, como é doce o desabafo do amor, e só externá-lo se
desabafa, e se sente como é doce amar, por isso o nosso amor, tendo começado a externar, não
se deu mais paz se não criasse aquele, por causa do qual tinha dado início a externar seu amor,
como semeando-o em todas as coisas criadas. Por tanto transbordava forte dentro de nós,
querendo fazer ato cumprido de amor, chamando do nada àquele para dar-lhe o ser e criar nele
nossa mesma Vida de amor; se não criávamos nele a Vida de amor para ser amados, não havia
nenhuma razão, nem divina nem humana de externar tanto amor para com o homem; se tanto o
amamos era razoável e com direito que ele nos amasse, mas não tendo nada de si mesmo,
convinha a nossa sabedoria criar Nós mesmos a Vida do amor para ser amados pela criatura.

Mas escuta filha o excesso de nosso amor, antes de criá-lo não estávamos felizes de ter externado
nosso amor na Criação, mas chegou a tanto que pondo fora de nosso Ser Divino nossas
qualidades, pusemos fora mares de potência e o amamos em nossa potência, mares de santidade,
de beleza, de amor, e assim do resto, e o amamos em nossa santidade, em nossa beleza, em
nosso amor, e estes mares deviam servir para investir o homem, a fim de que encontrasse em
todas as nossas qualidades o eco de nosso amor potente, e nos amasse com amor potente, com
amor santo, e com amor de beleza raptora. Por isso quando estes mares de nossas qualidades
divinas foram postos fora de Nós, criamos ao homem enriquecendo-o de nossas qualidades por
quanto mais podia conter, a a fim de que também ele tivesse um ato que pudesse fazer eco em
nossa potência, em nosso amor, em nossa bondade, para poder nos amar com nossas mesmas
qualidades. Queríamos ao homem, não servo, mas filho; não pobre, mas rico; não fora de nossos
bens, mas dentro de nossa herança, e como confirmação disto lhe dávamos por vida e por lei
nossa própria Vontade. Esta é a causa pela qual amamos tanto a criatura, porque tem do nosso, e
não amar as coisas próprias é contra a natureza e contra a razão".

30-6
Dezembro 8, 1931
A Rainha do Céu retira os atos bons das criaturas em seus mares de graça. A imutabilidade de Deus e a mutabilidade da criatura.

(1) Continuo meu abandono no Fiat Divino, suas doces correntes me estreitam tanto, mas não para
tirar-me a liberdade, não, não, mas para me tornar mais livre nos campos divinos e para ter-me
defendida de todos e de tudo, assim que eu me sinto mais segura acorrentada pela Divina
Vontade. E enquanto fazia meus atos nela, sentia a necessidade de minha Mãe Celestial, que me
ajudasse e que sustentasse meus pequenos atos, a fim de que pudessem encontrar a
complacência e o sorriso divino. E o Celestial Consolador que nada sabe me negar quando se trata
de lhe agradar, visitando minha pobre alma me disse:

(2) "Minha filha, nossa Mãe Celestial tem a proeminência sobre todos os atos bons das criaturas.
Ela, como Rainha, tem o mandato e o direito de retirar todos os atos delas em seus atos; é tanto
seu amor de Rainha e de Mãe, que assim que a criatura se dispõe a formar seu ato de amor, assim
desde a altura de seu trono faz descer um raio de seu amor, inviste e circunda o ato de amor delas
para pôr nele o seu como primeiro amor, e assim que é formado, coloca-o novamente em seu
mesmo raio de amor na fonte de seu amor e diz a seu Criador: ‘Majestade adorável, em meu amor
que sempre surge para Ti, está o amor de meus filhos fundido no meu, que Eu, com direito de
Rainha, retirei em meu mar de amor, para que possa encontrar em meu amor o amor de todas as
criaturas'. Se as criaturas adoram, se orarem, se repararem, se sofrerem, descem da altura de seu
trono, o raio da adoração, o raio de sua oração, o raio de sua reparação, emite o raio vivificante de
dentro do mar de suas dores, e investe e circunda a adoração, a oração, a reparação, os
sofrimentos das criaturas, e quando fizeram e formaram o ato, o mesmo raio de luz os eleva até
seu trono e se fundem na fonte dos mares da adoração, da oração, da reparação, das dores da
Mãe Celestial, e repete: ‘Vossa Majestade Santíssima, minha adoração se estende em todas as
adorações das criaturas, minha oração roga na oração delas, repara com seus reparos, e como
Mãe, minhas dores investem e circundam suas penas, não me sentirei Rainha se não corro e
ponho meu ato primeiro sobre todas as suas obras, nem provarei as doçuras de Mãe se não correr
para circundar, ajudar, suprir, embelezar, fortificar todos os atos das criaturas, e assim poder dizer:

Os atos de meus filhos são um com os meus, tenho-os em meu poder junto a Deus para defendê-
los, ajudá-los e como penhora segura que me alcançarão no Céu".

(3) Por isso minha filha, tu jamais estás sozinha em teus atos, tens a Mãe Celestial junto contigo,
que não só te circunda, senão que com a luz de suas virtudes alimenta teu ato para dar-lhe a vida,
porque tu deves saber que a Soberana Rainha, desde sua Imaculada Conceição, foi a primeira e
única criatura que formou o anel de conjunção entre o Criador e a criatura, quebrado por Adão. Ela
aceitou o divino mandato de vincular Deus e os homens, e os vinculava com seus primeiros atos de
fidelidade, de sacrifício, de heroísmo de fazer morrer sua vontade em cada ato seu, não uma vez,
mas sempre, para fazer reviver a de Deus. Disto brotava uma fonte de amor divino que cimentava a
Deus e ao homem e todos os atos deles, assim que seus atos, seu amor materno, seu domínio de
Rainha, são cimento que corre, que consolida os atos das criaturas para torná-los inseparáveis dos
seus, a menos que algum ingrato recuse receber o cimento do amor de sua Mãe. Portanto, você
deve estar convencida que junto a tua paciência é a paciência da Mãe Rainha, que circunda,
sustenta e alimenta a tua em torno das tuas penas; circundam-te as suas dores que sustentam e
alimentam como óleo balsâmico a dureza das tuas penas, em resumo, em tudo. Ela é a Rainha
que não sabe estar ociosa em seu trono de glória, mas desce, corre como Mãe nos atos e
necessidades de seus filhos, por isso agradeça-lhe por seus tantos cuidados maternos, e agradeça
a Deus que deu a todas as gerações uma Mãe tão santa, amável, e que ama tanto, que chega a
ser a que recolhe todos os atos deles para cobri-los com os seus, e para suprir o que neles falta de
belo e de bom".

(4) Depois continuava o meu habitual giro nas coisas criadas, para seguir o que a Divina Vontade
nela tinha feito, e oh! Como me parecia bela e encantadora, cada vez que giro nela encontro
surpresas que me raptam, notícias que antes não tinha entendido, o antigo e o novo amor de Deus
que jamais se muda. Mas enquanto minha mente se estendia nos horizontes da Criação, meu
amável Jesus surpreendendo-me acrescentou:

(5) "Minha pequena filha do meu Querer, como são belas nossas obras, não é verdade? Tudo é
solidez, equilíbrio perfeito, imutabilidade que não está sujeita a mudar-se nem pode mudar-se.
Olha, toda a Criação diz e revela nosso Ser Divino, nossa firmeza em nossas obras, nosso
equilíbrio é universal em todas as coisas, e por quantas coisas agradáveis e desagradáveis podem
acontecer, nossa imutabilidade está sempre em seu posto de honra. Nada mudou do modo como
foi criada, e se a criatura vê e sente tantas e múltiplas mudanças, é ela que se muda, se muda a
cada circunstância, e como está dentro e fora dela mudar, sente como se nossas obras se
mudassem para ela, são as suas mudanças que a rodeiam que têm força para a afastar da nossa
imutabilidade. Tudo é contínuo e equilibrado em Nós; o que fizemos na Criação continua ainda, e
como tudo foi feito para quem devia viver de nossa Vontade, enquanto a criatura se põe em ordem
com Ela, nossa obra criadora desenvolve nela seu ato contínuo, e sente a vida de nossa
imutabilidade, o perfeito equilíbrio de nossas obras, nosso amor que a ama sempre sem cessar.
Onde encontramos nossa Vontade continuamos a obra de nossa Criação, não porque a nossa seja
interrompida, porque não se faz nossa Vontade, não, não, não há perigo, é porque falta neles a
causa pela qual foram criados, qual é o fazer nossa Vontade, e portanto não têm olhos para ver
nosso perfeito equilíbrio, que está sobre eles para equilibrar suas obras e torná-los imutáveis junto
com nossa imutabilidade, nem ouvidos para escutar o que dizem nossas obras, nem mãos para
tocá-las e receber nosso amor contínuo que lhes oferecemos, por isso eles mesmos se fazem
como estranhos na casa de seu Pai Celestial, e nossos atos continuam, fazem seu curso, mas para
eles ficam como suspensos e sem efeitos".

31-6
Setembro 4, 1932
A correspondência, necessidade do amor divino. A Divina Vontade constante, continuação da Criação.

(1) Estou sempre no mar do Querer Divino, o qual me faz presente toda a Criação. Que teatro
imenso, no qual há cenas tão comovedoras, que à claras vozes revelam o grande amor de Deus
pelas criaturas, e que arrebatam o coração a amá-lo. E pensava na grande ingratidão humana, pois
a criatura não se deixa arrebatar para amá-lo. E meu doce Jesus me surpreendeu, com seu
coração cheio de amor, me disse:

(2) "Minha boa filha, a Criação foi feita por nosso Ente Supremo para dar amor, e para receber a
correspondência do amor das criaturas. Não há nada criado por Nós em que não tenha sido esta
nossa finalidade, fazê-la para receber nela a correspondência, de outra maneira nossas obras não
teriam sido obras comunicativas, frutíferas, alimentadoras e cheias de vida para fazer feliz ao
homem, teriam sido como obras pintadas, que mais cativam a vista, mas que não fariam bem a
ninguém. Em vez de querer a correspondência, Nós colocávamos em marcha a comunicação da
luz para dar-lhes a vida da luz, o ar para dar-lhes a vida da respiração, a água, o alimento, o fogo
para dar-lhes a vida e o bem que eles possuem, e assim de tudo o resto, quantos atos de vida
colocávamos em torno da criatura para fazer crescer, alimentar e sustentar sua vida! Agora, querer
sua correspondência era uma necessidade de nosso amor, as obras sem correspondência são
obras sem cortejo, que não são apreciadas, e ainda que se sirvam delas ficam obras isoladas,
como se não fossem agradecidas; a correspondência não toma a obra só para servir-se dela, mas
entra dentro dela para reconhecer Aquele que por amor dela a criou; a correspondência dá vida à
gratidão, ao agradecimento, pode-se dizer que a correspondência mantém a conversa, a amizade,
a correspondência entre o doador e quem recebe o dom, de outra forma tudo fica despedaçado.

(3) Agora escuta minha filha, outro arrebatamento do nosso intenso amor pelo homem. Para ter
esta correspondência, ao criá-lo colocávamos nele nossa Vontade que age unida com a sua, a fim
de que assim como nossa Vontade na obra da Criação fez tantas obras por amor de Si, assim em
sua alma, possuindo nossa Vontade Divina, em virtude Dela pudesse ter igual força e poder para
nos dar a correspondência por Nós querida. Nosso Fiat, que trabalha na Criação e obrante na
criatura, devia pôr em jogo o humano querer servir-se de todos os seus atos, pequenos e grandes
para formar a justa correspondência de todas as suas obras que havia feito na Criação, muito mais
que sabia o número, a variedade, a beleza, o peso de todas as suas obras; na criatura que age não
devia fazer menos do que agir com a mesma multiplicidade, suntuosidade e beleza do que havia
operado no universo, e assim correspondendo-se Ele mesmo de suas obras externas, e suas obras
internas feitas no fundo da alma. A Vontade Divina devia servir-se da vontade humana como
matéria em suas mãos, para continuar sua Criação. Eis por que motivo o homem, rejeitando a
nossa Vontade, fez cessar a sua Vida que opera nos seus atos, dos quais podia servir-se para
continuar a sua criação neles, e transformá-los em céus, em estrelas, em sóis, em mares, etc.,
impediu a nossa obra, a deteve, arruinou nossas doces harmonias, as queridas correspondências
que só em virtude de nosso Querer podiam existir; tudo podíamos fazer nele se nossa Vontade
tivesse sua Vida que age nele. É por isso que a nossa urgência, nossos suspiros, as insistências,
nossas dores, para que a terra humana pudesse tornar-se nosso campo de ação, no qual nosso
Querer tivesse plena liberdade de fazer o que quer. E não creias que só o Ente Supremo quer a
correspondência em suas obras, também a criatura, a primeira finalidade em suas obras é a
correspondência, se há isto, ou pelo menos o espera, tem mãos e pés para mover-se, boca para
falar, força para sacrificar-se, tempo para agir, mas se não há correspondência, lhe parece que não
tem nem mãos, nem pés, nem boca, nem força, nem tempo, sente-se que a vida morre para aquela
obra. Parece que a correspondência não é nada, mas não é verdade, mas sim o princípio e a vida
de cada obra, por isso a correspondência é uma necessidade do meu amor, e faz-me continuar a
obra da Criação".

(4) Depois disso, continuava meu abandono no Fiat Divino, e uma multidão de pensamentos,
dúvidas e dificuldades surgiam em minha mente. E meu Celestial Mestre acrescentou:
(5) "Minha filha, minha Vontade tem virtude de fazer a concentração de todo o ser humano em um
só ato. Se age com sua virtude de união concentra nela os pensamentos, o coração, os passos, e
tudo, de modo que a criatura sente que não é só a obra, senão todo seu ser investido por sua força
constante, que sente o império de minha Vontade constante, e entre todos fazem uma única coisa.
Esta força que une torna dominante e ordenada a criatura, porque o primeiro dote que sabe dar o
meu Fiat é o domínio de si mesmo e a ordem, e então toma o seu domínio divino e torna-se
matéria moldável nas suas mãos, que se presta às suas obras maravilhosas. Em troca sem minha
Vontade, a criatura não possui a força unitiva em seus atos, e portanto se vê toda dispersa e sem
ordem, e se vê como matéria dura que não cede às formas que nosso Querer lhe quer dar".

32-6
Abril 16, 1933

Como em todas as coisas criadas, Deus tem sempre um „te amo‟ para nos dizer. Como
Jesus em todos os atos de sua Vida encerrava amor, conquistas e triunfos.

(1) Estava fazendo meu giro Querer Divino; sinto que sou a pequena borboleta que gira sempre em
torno e dentro de sua luz e de seu amor ardente, querendo girar tanto, até que fique queimada e
consumida por sua luz divina, para chegar a sentir-me uma só coisa com sua Santíssima Vontade,
e como o primeiro ponto de partida é a Criação, sobre a qual enquanto giro, encontro sempre
novas surpresas de amor, por isso fico maravilhada, e meu Sumo Jesus para me fazer
compreender maioritariamente, me disse:

(2) "Minha filha, como me é agradável seu giro nos atos que fez nosso Ser Supremo na Criação,
por isso me sinto como arrebatado e obrigado por meu amor a te contar nossa história de amor que
tivemos na Criação e em tudo o resto que fizemos só por puro amor às criaturas; vir em nossos
atos é o mesmo que vir a nossa casa, e não te dizer nada das tantas coisas que temos que dizer,
seria como te mandar em jejum, o que nosso amor não sabe fazer nem quer fazer. Agora, você
deve saber que nosso Fiat se pronunciou e estendeu esta abóbada azul, e nosso amor a
entrelaçou de estrelas, pondo em cada estrela um ato de amor contínuo para com as criaturas,
assim que cada estrela diz: ‘Teu Criador te ama, não cessa jamais de te amar, Estamos aqui, não
nos afastamos nem um pouco para te dizer sempre te amo, te amo'. Mas vá em frente, nosso Fiat
criou o sol, ele encheu de tanta luz de poder dar luz a toda a terra, e nosso amor, pondo-se em
competição com o sol, encheu-o de tantos efeitos, que são inumeráveis: Efeitos de doçura,
variedade de beleza, de cores, de gostos, que a terra, só porque é tocada por esta luz, recebe
como vida estes admiráveis efeitos e seu admirável e incessante refrão: Te amo com meu amor de
doçura, te amo e quero te fazer bela, quero te embelezar com minhas cores divinas, e se
embelezar as plantas por ti, a ti quero te fazer mais bela ainda.

Olhe, nesta luz descendo até você para te dizer te amo com gosto, tomo gosto em te amar e sou todo ouvidos para ouvir que me diz
te amo. Posso dizer que o sol está cheio de meus contínuos e repetidos te amo, mas ai de Mim!
A criatura não se dá nenhum pensamento, nem se presta atenção em receber este nosso amor
incessante em tantos modos e variadas formas que bastariam para afogá-la e consumi-la de amor,
mas não paramos, seguimos adiante, nosso Fiat criou o vento, e nosso amor o encheu de efeitos,
assim que a frescura, as ondas, o assobio, os gemidos, os uivos do vento, são repetidos te amo
que dizemos à criatura, e na frescura lhe damos nosso amor refrescante, nas ondas lhe damos a
respiração com nosso amor, até gemer e uivar com nosso amor imperante e incessante, e assim
por diante. O mar, a terra, foram criados por nosso Fiat, os peixes, as plantas que produz o mar e a
terra são os efeitos de nosso amor, que fortemente e repetidamente diz te amo em todas as coisas,
te amo por toda parte, te amo em ti, e ha tanto amor meu, ah! não me negues o teu amor. Não
obstante parece que não têm ouvidos para nos escutar, nem coração para nos amar, e por isso
quando encontramos quem nos escuta, a temos como desabafo de nosso amor e como pequena
secretária da história da Criação".

(3) Dito isto fez silêncio, e eu continuava nos atos da Divina Vontade, e tendo chegado aos da
Redenção, meu amado Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha bendita, escuta minha longa história de amor, poderia dizer que é uma cadeia
interminável de amor incessante, jamais interrompida: Criei a criatura para amá-la, para tê-la unida
Comigo, e não amá-la iria contra minha mesma Vontade, operaria contra minha mesma natureza
que é toda amor, e além disso, criei-a porque sentia a necessidade de externar o meu amor e de
lhe fazer ouvir o doce sussurro contínuo: ‘Te amo, te amo, te amo'. Tu deves saber que desde que
fui concebido, e em todo o curso de minha Vida, em todos os atos que fazia, encerrava dentro
amor, conquista, triunfo, meu agir era muito diverso do das criaturas, o fazer e não fazer, o sofrer, e
não sofrer estava em meu poder, minha onividência não me escondia nada, e Eu primeiro punha
minha Vontade em meus atos, encerrava plenitude de santidade, plenitude de amor, plenitude de
todos os bens, e depois, com todo o conhecimento me preparava para agir ou sofrer, segundo Eu
mesmo queria, e com isto me tornava conquistador e triunfador de meus atos, mas sabe para
quem fazia estas conquistas e estes triunfos? Para as criaturas, as amava muito e queria dar,
queria ser o Jesus vencedor, dando-lhe eu mesmo minhas conquistas e meus triunfos para vencê-
los, assim que minha Vida aqui embaixo não foi outra coisa que um ato contínuo de amor heroico
que jamais diz basta, de conquistas e de triunfos, para tornar os meus filhos felizes, e Eu fiz isso
em tudo, se me pusesse a caminho, Eu tinha a virtude de poder encontrar-me de uma cidade para
a outra sem fazer uso de meus passos, mas eu queria andar para colocar em cada passo o meu
amor, e assim a cada passo que dava corria, corria e tornava-me conquistador e triunfador dos
meus passos, oh! se as criaturas prestassem atenção em mim, teriam ouvido em meus passos o
grito contínuo: ‘Corro, corro em busca das criaturas para amá-las e para ser amado'.

Assim, se trabalhava com São José para procurar o necessário à vida, era amor que corria, eram conquistas
e triunfos que fazia, porque me bastava um Fiat para ter tudo à minha disposição, e fazendo uso de
minhas mãos para um pequeno ganho, os Céus ficavam admirados, anjos eram arrebatados e
mudos ao me verem rebaixar às ações mais humildes da vida. Assim meu amor tinha seu
desfecho, enchia, transbordava em meus atos, e Eu era sempre o divino conquistador e triunfador.
Para Mim, tomar o alimento não era necessário, mas tomava-o para fazer correr mais amor e fazer
novas conquistas e triunfos, assim que dava o curso às coisas mais humildes e baixas da vida, que
para Mim não eram necessárias, mas o fazia para formar tantas vias distintas para fazer correr meu
amor e formar novas conquistas e triunfos sobre minha Humanidade, para fazer dela um dom a
quem tanto amava, e por isso, quem não recebe meu amor e não me ama, forma meu mais duro
martírio e põe na cruz o meu amor. Mas sigo adiante, para formar a Redenção bastava uma
lágrima, um suspiro, mas meu amor não teria ficado contente podendo dar e fazer de mais, teria
ficado dificultado em si mesmo e não poderia ter dado a glória de dizer: ‘Tudo fiz, tudo sofri, tudo te
dei, minhas conquistas são superabundantes, meu triunfo é completo'. Posso dizer que cheguei até
confundir a ingratidão humana com meu amor, com meus excessos e com penas inauditas, por
isso, Eu mesmo em cada pena punha a intensidade da dor mais intensa e acerbo, as confusões
mais humilhantes, as barbáries mais cruéis, e depois que as circundava de todos os efeitos mais
dolorosos, que só um Homem Deus podia sofrer, me exporia a sofrê-la, e oh! as admiráveis
conquistas em minhas penas e o pleno triunfo que fazia meu amor, ninguém poderia me tocar se
Eu não o quisesse, e aqui está todo o segredo, minhas penas eram voluntárias, queridas por Mim,
e por isso contêm o milagroso segredo, a força vencedora, o amor que compunge, e têm virtude de
abarcar o mundo e mudar a face da terra".


33-6
Janeiro 14, 1934

Doce encanto de ambas as partes: De Deus e da criatura. Como adquire o poder de fazer sua
a Divina Vontade. As penas sorriem ante a glória, os triunfos, as conquistas. Jesus oculto nas penas.

(1) Estou sob a chuva do Fiat Divino, que me banhando toda, dentro e fora e penetrando até a
medula óssea, faz dizer a todo meu pobre ser, Fiat, Fiat, Fiat, Fiat. Sento-me em seus braços, e
conforme o chamo com meu dizer incessante para que forme sua Vida em meus atos, seus
batimentos em meu coração, seu respiro no meu, seu pensamento em minha mente, assim um
flash de luz sai de mim e gostaria de como atar ao Santo Querer Divino para fazer tudo meu, a fim
de que estivesse em meu poder formar sua Vida em mim, toda de Vontade Divina. Então me sentia
pensativa por este meu modo de fazer, e meu Sumo Bem Jesus repetindo sua breve visita, todo
bondade me disse:

(2) "Minha pequena filha de meu Querer, você deve saber que assim que a criatura invoca, chama
a meu Fiat implorando sua Vida para formá-la na sua, assim faz sair luz e forma o encanto a Deus
que arrebata sua pupila divina, a qual, raptada, olha para a criatura e forma a correspondência de
seu doce encanto e o vazio no ato da criatura para poder dar e encerrar no ato dela a Divina
Vontade, que enquanto forma, desenvolve sua Vida, a feliz criatura adquire o poder de fazê-lo seu,
e como é seu o ama fortemente, mais que vida própria. Minha filha, enquanto minha Vontade não
for como vida própria, exclusivamente sua, que ninguém a possa tirar memo sabendo que é um
dom recebido de Deus, apesar de que foi recebido já é afortunada e vitoriosa por ter a possessão,
jamais se pode amar como convém a minha Divina Vontade, nem sentir a necessidade de sua
Vida, nem Ela poderá desenvolver plenamente com toda liberdade sua Vida Divina na criatura. Por
isso o chamá-la te dispõe, ao fazê-la tua se fará conhecer e sentirás o grande bem de possuir sua
Vida e a amarás como merece ser amada, e serás zelosa de guardá-la com tal atenção, de não
perder nem sequer um respiro d’Ela".

(3) Depois, encontrando-me um pouco mais sofrente que o habitual, pensava para mim: "Oh! como
gostaria que minhas penas me formassem as asas para poder voar a minha pátria celestial". E em
lugar de me afligir, minhas pequenas penas me davam festa, e eu me sentia pensativa por isso, e
meu amado Jesus adicionou:

(4) "Minha filha, não te espantes, as penas frente à glória sorriem, sentem-se triunfantes ao ver as
conquistas que adquiriram, as penas confirmam e estabelecem a glória mais ou menos grande na
criatura, e segundo as penas, assim se sente pintar as mais belas e variadas tintas de beleza, e
vendo-a transformada na beleza mais rara, festejam. Assim que as penas na terra choram, diante
das portas do Céu começam seu sorriso eterno que não termina nunca mais; as penas na terra são
portadoras de humilhações, diante das portas da eternidade são portadoras de glória; na terra
tornam infeliz a pobre criatura, mas com o segredo milagroso que possuem, trabalham nas mais
íntimas fibras e em todo o ser humano o reino eterno, de modo que cada pena toma seu ofício
distinto, um se faz cinzel, um martelo, um lima, um pincel, um cor, e só deixam à criatura confiada a
elas, quando cada pena cumpriu seu trabalho e triunfantes a conduzem ao Céu, e só a deixam
quando veem mudada cada pena em distintas alegrias e em felicidade contínua, mas somente
quando a criatura as recebe com amor e sentem e recebem em cada pena o beijo, os abraços e os
fortes apertos de minha Divina Vontade, só então as penas possuem esta virtude milagrosa, de
outra maneira se tornam como se não tivessem instrumentos apropriados para cumprir seu
trabalho. Mas, quer saber você quem é a pena? A pena sou Eu, que me escondo dentro dela para
formar os profundos trabalhos para minha pátria celestial, e correspondo com usura a breve
morada que me deram sobre a terra. Fiz-me prisioneiro na pobre prisão da criatura para continuar
minha Vida de penas aqui embaixo, é justo que esta minha Vida receba suas alegrias, sua
felicidade, sua troca de glória nas regiões celestiais, por isso cessem as tuas maravilhas ao ver que
tuas penas sorriem ante as vitórias, ante os triunfos e ante as conquistas".

34-6
Janeiro 22, 1936

Quem vive na Divina Vontade forma o teatro das obras do seu Criador, e repete nela a cena
comovedora da Redenção

(1) Estava fazendo o giro nos atos da Divina Vontade, e buscava investir com meu pequeno amor o
céu, o sol e a criação toda, e o Fiat Divino para me corresponder formava o lugar em minha
vontade para encerrar o céu e a criação toda; depois girava nos atos da Redenção, e o doce Jesus
encerrava seus atos em mim, e repetia as cenas mais comovedoras para me corresponder por meu
pequeno amor. Eu fiquei surpreendida, e meu amado Jesus todo ternura e amor me disse:
(2) "Minha boa filha, filha da minha Vontade, tu deves saber que meu amor é tanto, que para
desabafar quero repetir minhas obras, mas em quem posso repeti-las? Em quem posso encontrar
lugar para encerra-las para sentir-me amar? Em quem vive em minha Vontade. Conforme a criatura
gira nas minhas obras para as conhecer, para as amar e chamar a si, reproduzem-se nela e forma
o teatro das nossas obras, quantas cenas comovedoras: ora se estende o céu, ora surge o sol com
toda a sua majestade, hora murmura o mar e formando suas ondas gostaria de inundar a seu
Criador com seu amor, ora forma o mais belo prado florido, e em cada flor nos faz dizer seu refrão:
‘Te amo, te glorifico, te adoro, e teu Fiat venha a reinar sobre a terra'. Não há ser que não chame a
si para nos fazer dizer sua história: ‘Te amo, te amo'. Minha filha, nosso amor não está contente se
não se dá todo e não repete nossas obras em quem vive em nossa Vontade.

(3) Mas não é tudo, escuta: Se com girar nos atos da Criação repete minhas obras e tomo sumo
prazer e me deleito em assistir às cenas esplêndidas da Criação na criatura, quando ela gira nos
atos da Redenção para torná-los seus, Eu repito minha Vida, assim que repito minha concepção,
meu nascimento, no qual os anjos repetem a glória nos Céus e paz aos homens de boa vontade, e
se a ingratidão humana me obriga a chorar, vou chorar nela, porque sei que as minhas lágrimas
serão correspondidas e adornadas com o seu te amo. Por isso passo a repetir minha Vida, meus
passos, minhas lições, e quando as culpas me renovam as dores, a crucificação, a morte, não as
sofro jamais fora desta criatura, senão que vou a ela a sofrer minhas dores, as cruzes, a morte,
porque ela não me deixará sozinho, tomará parte em minhas dores, ficará crucificada Comigo, e
me dará sua vida em correspondência por minha morte. Então em quem vive em minha Vontade
encontro o teatro de minha Vida, as cenas comovedoras de minha infância e de minha paixão,
encontro os céus falantes, os sóis que me amam, os ventos que gemem de amor por Mim, em
suma todas as coisas criadas têm que me dizer uma palavrinha, um te amo, um testemunho de
reconhecimento, mas quem as faz falantes? Quem é quem dá a voz a todas as coisas? Quem vive
em minha Vontade; Ela a transforma tanto, que não há amor que não se faça dar, nem obras que
não possa repetir nela, por isso se podem chamar sua Vida vivente e a repetidora das obras de seu
Criador".

35-6
Setembro 6, 1937

Finalidade da Criação: Vida falante e obrante de Deus na criatura. Sua palavra é a Divina Vontade.
Quem faz a própria vontade se joga a Divina.

(1) Estou entre os braços do Querer Divino, o qual me ama tanto, que não quer que desça de seus
braços mais que paternos para ter-me custodiada e me fazer crescer como Ele quer e lhe agrada,
e se me ouve dizer que o amo, oh! como festeja, e forma em torno de mim mares de seu amor que
a cada instante me dizem te amo, te amo. E meu doce Jesus visitando minha pequena alma, e
encontrando-me nos braços de seu Querer, todo contente me diz:

(2) "Minha filha bendita, como amo te encontrar sempre toda abandonada nestes braços, sua sorte
está assegurada, viverá de nosso mesmo alimento, teremos bens comuns. Você deve saber que a
única finalidade pela qual criamos a Criação foi propriamente esta: A Criação devia servir como
quarto do homem, e o homem devia servir como nosso quarto, queríamos formar tantas Vidas
nossas por quantas criaturas tirávamos à luz do dia, cada uma delas devia possuir nossa Vida,
mas Vida falante e obrante, não sabemos estar onde estamos sem dizer nada e sem agir, se isto
fosse, seriam formadas tantas prisões que nos impuseriam ao silêncio e à inutilidade. Nosso Ente
Supremo fala e trabalha, a palavra chama à obra, e a obra manifesta quem somos e nos forma tais
bem-aventuranças e alegrias, de tornar-nos felizes a Nós e a todos aqueles que convivem
Conosco; assim que cada palavra e obra nossa é uma nova alegria e felicidade que nos criamos.
Eis por que queremos formar no homem nossa Vida falante e obrante, porque devíamos formar tais
maravilhas de nosso Ser Divino para criar novas e sempre mais belas criações, porque queríamos
desabafar e dar curso ao que podemos e sabemos fazer, e dar curso às novas alegrias e
felicidades, e onde seria tudo isto? Em nosso quarto do homem. Mas quer saber você quem é
nossa palavra? Nossa Vontade, Ela é a obradora de nossas obras, a narradora de nosso Ser
Divino, a portadora e a conservadora de nossa Vida na criatura; sem Ela Nós não nos movemos de
nosso trono nem formamos vida em nenhuma habitação. Vê então a grande necessidade de que
se possua e se viva em nossa Divina Vontade, porque com Ela podemos fazer tudo, pôr fora
nossas obras mais belas, manter em vigor nossa finalidade, formar de nosso Ser quantas Vidas
queiramos; sem Ela tudo é obstáculo, fica impedido nosso amor, nossa potência, nossas obras
ficam paradas, pode-se dizer que ficamos o Deus mudo para as criaturas. Que ingratidão, que
delito, reduzir-nos ao silêncio enquanto queríamos honrar as criaturas com a nossa Vida nelas,
como habitação de nossas delícias e maravilhas, nos rejeitaram não dando-nos a liberdade de
formá-la, e em nosso lugar deram habitação às paixões, ao pecado e aos vícios mais horríveis.
Pobre homem sem nossa Vontade, sem finalidade divina, seria como se quisesse viver sem fôlego,
sem batimento, sem circulação de sangue, que são os fundamentos da vida humana, que vida
teria? Não seria morrer de um só golpe? Tal seria nossa Vida na criatura sem nossa Vontade,
estaríamos sem respiro, sem batimento, sem movimento, sem palavra, seria uma vida dilacerante,
oprimindo, que terminaria por morrer. É verdade que com nossa potência e imensidão envolvemos
a todos, nos encontramos em todos e por toda parte, mas faltando nosso Querer Divino neles
jamais nos ouvem falar, não compreendem nada de nosso Ser Supremo, vivem em nossa
imensidão porque nenhum pode escapar de Nós, mas faltando-lhes nosso querer não se sentem
filhos nossos, mas como estranhos de Nós, que dor, ter que dizer tantas coisas e calar, poder
operar quem sabe quantas maravilhas e não poder fazê-las porque nossa Vontade não reina neles!

No entanto nosso amor é tanto que não se detém, somos todos olhos para ver quem quer viver
n‟Ela, somos todos ouvidos para ouvir quem a chama a viver nela, somos todo amor para apoiar
nosso grande amor sobre o pequeno amor da criatura, e assim que a vemos disposta formamos
nossa Vida falante e lhe narramos a história de nossa Vontade, a longa história de nosso eterno
amor, dizemos-lhe quanto a amamos e lhe damos a conhecer nossos suspiros por querer ser
amados, porque você deve saber que quando Nós amamos e não encontramos quem nos ama,
nosso amor não tem onde apoiar-se para ser correspondido, por isso vai errante, delira e desvaria,
e se não encontra embora seja um pequeno te amo de criatura onde apoiar-se, retira-se em Nós,
onde temos nosso centro de amor, mas com tal dor que é incompreensível a mente criada, as
penas do amor não correspondido são inenarráveis, ultrapassam todas as outras penas. Nós
queremos dar sempre, estamos em ato contínuo de dar, mas queremos encontrar sua vontade que
queira receber, um desejo seu, um suspiro, que formam o lugar, os pequenos apoios onde
devemos apoiar nossa Vontade e o que queremos dar e fazer. Estes desejos e suspiros são como
ouvidos que nos escutam, como olhos que nos olham, corações que nos amam, mentes que nos
compreendem, e se não encontramos estes pequenos apoios não podemos dar-lhe nada, e ela fica
cega, surda, muda e sem coração; assim que nossa Vida é posta em fuga, retirando-se para as
nossas regiões celestes".

(3) Depois continuei pensando na Divina Vontade, sentia-me toda investida por Ela e rogava a meu
amado Jesus que me ajudasse e me mantivesse fechada em seu coração, a fim de que vivesse e
não conhecesse nenhuma outra coisa senão seu Querer Divino, e Ele, voltando, continuou a dizer-
me:

(4) "Minha filha, todo o bem da criatura está ligado à minha Divina Vontade, se se desliga d‟Ela
todos os seus bens terminam. Você deve saber que cada vez que se faz o humano querer se joga
a Divina Vontade com todos seus bens, assim que se perde tudo o belo, tudo o que é santo e bom,
isto é uma perda incalculável, a pobre criatura é lançada na miséria mais esquálida, perde os
direitos a todos os bens, é investida de tal infelicidade, que jamais lhe dá paz, e se parece que tem
algum bem, é aparente e acaba de a torturar. Em vez disso, cada vez que com toda a firmeza
decide fazer a minha Vontade Divina, joga-se o querer humano, as misérias, as paixões, joga-se
todos os males, os miseráveis trapos, as vestes sujas que lhe formara a vontade humana; que feliz
perda, perder os males, as misérias, é glória, é vitória, é honra, mas perder os bens é vileza e
desonra. Agora olhe, se a criatura quer pode refazer-se da grande perda que fez de minha Vontade
fazendo a sua, muito mais que terá em sua ajuda nossa potência, nosso amor e nossa mesma
Vontade. Com adquirir de novo os direitos de todos os bens, todos a defenderão para refazer-se do
jogo perdido".

36-6
Maio 6, 1938

Para viver no Querer Divino é necessário querê-lo e fazer os primeiros passos. A Divina
Vontade possui a virtude gerativa, e onde reina gera sem deter-se jamais. Inseparabilidade 
das obras de Nosso Senhor de quem vive em seu Querer.

(1) Minha pobre mente está sob uma multidão de pensamentos concernentes ao Querer Divino,
parecem-me tantos mensageiros que trazem tantas notícias deste Querer tão santo. Eu me sentia
surpreendida, e meu doce Jesus retornando à sua pequena filha, todo bondade me disse:
(2) "Minha filha boa, para entrar em minha Vontade o modo é simplíssimo, porque teu Jesus não
ensina jamais coisas difíceis, meu amor me faz adaptar muito à capacidade humana, a fim de que
a criatura sem dificuldade possa fazer o que Eu lhe ensino e quero. Agora, você deve saber que
para entrar em meu Fiat, a primeira coisa indispensável é querer, suspirar com toda firmeza o
querer viver n’Ele. A segunda coisa é fazer o primeiro passo; feito o primeiro, minha Divina Vontade
a circunda de luz e de tais atrativos, que a criatura perde o desejo de fazer sua vontade, porque
apenas deu um passo e se sente dominadora, a noite das paixões, das fraquezas, das misérias,
transformou-se em dia, em força divina, portanto sente a extrema necessidade de fazer o segundo
passo, o qual chama ao terceiro passo, depois ao quarto, ao quinto, e assim passo a passo. Estes
passos são passos de luz, a qual embeleza a criatura, santifica-a, felicita-a, facilita-lhe o caminho e
participa-lhe a semelhança de seu Criador, mas tanto, que não só sente a extrema necessidade de
viver em meu Querer, mas também o sente como vida própria, da qual não se pode desfazer. Vê
então como é fácil, mas é necessário amá-lo como o quer minha paterna bondade. Eu rodeio
aquela vontade de graça, de amor, de bondade, e como também Eu o quero, ponho do meu, e se
for necessário, minha própria Vida para dar-lhe todas as ajudas, os meios, e também minha Vida
como sua vida para fazê-la viver em meu Querer Divino, Eu não poupo nada quando se trata de
fazer viver a criatura em meu Querer.

(3) Agora minha filha, é tanto nosso amor, que fixamos diversos graus de santidade e diversos
modos de santidade e de beleza para adornar a alma em nossa Divina Vontade. Delas faremos
uma diferente da outra, distintas na beleza, na santidade, no amor, todas belas, mas distintas entre
elas; algumas ficarão no oceano da luz e gozarão os bens que possui meu Querer, outras ficarão
sob a ação de minha luz trabalhadora, e estas serão as mais belas, usaremos toda nossa arte
criadora, nosso ato trabalhador; encontrando a criatura em nosso Querer poderemos fazer o que
queremos, se prestará a receber nossa potência criadora, e nos deleitaremos em criar belezas
novas, santidades jamais vistas, amor que jamais demos à criatura porque faltava nela a Vida, a
luz, a força de nosso Querer para poder recebê-lo, sentiremos nela o nosso eco, a força gerativa
que sempre gera amor, glória, repetição contínua de nossos atos e de nossa própria Vida. A Vida
de nosso Fiat é propriamente este gerar, e onde Ele reina continuamente sem terminar jamais:
Gera em Nós e conserva a Vida, a virtude gerativa da Trindade Sacrossanta; gera na criatura onde
reina, e gera imagens nossas, amor, santidade. É por isso que temos ainda muito que fazer na
obra da Criação, temos que reproduzir nossos atos, nossas obras, que servirão como o mais belo
adorno de nossa pátria celestial".

(4) Depois disso, minha mente se perdia no mar do Fiat, o qual tudo me fazia presente, e tudo me
parecia que fosse meu, como tudo era de Deus. E o meu amado Jesus, como que sufocado nas
suas chamas de amor, acrescentou:

(5) "Minha filha bendita, quem vive em minha Vontade tem sido sempre inseparável de seu Criador,
desde a eternidade estava já conosco, a esta criatura nosso Querer Divino nos levava nos braços a
nosso seio e nos fazia amar, cortejar e gozá-la, e desde então sentíamos seu amor palpitante em
Nós, e nos chamava ao trabalho de nossas mãos criadoras para fazer dela uma das mais belas
imagens nossas. Oh, como gozávamos ao encontrar em nossa Vontade a criatura na qual
podíamos desenvolver nossa obra criadora! Agora, você deve saber que estas almas que vivem ou
viverão em meu Fiat, sendo inseparáveis de Nós, quando Eu, Verbo Eterno, no excesso de meu
amor descia do Céu à terra, elas desciam junto Comigo, e com a Celestial Rainha à cabeça
formavam meu povo, meu exército fiel, minha morada real viva na qual Eu me constituía verdadeiro
Rei destes filhos de meu Querer Divino; descer do Céu sem o cortejo de meu povo, sem reino onde
não pudesse dominar com minhas leis de amor, não o teria feito jamais. Para Nós todos os séculos
são como um único ponto, no qual tudo é nosso, tudo encontramos como em ato, por isso Eu
descia do Céu como dominador e Rei de meus filhos, me via cortejado e amado como sabemos
amar Nós mesmos, e foi tanto meu amor que os fiz ficar concebidos junto Comigo, estar sem eles
me era impossível, não encontrar os meus filhos que me amassem não o poderia tolerar, por isso
fizeram vida junto Comigo no seio de minha Mãe Soberana, nasceram junto Comigo, choravam
junto, o que fazia Eu faziam eles: Se caminhava, se operava, se rezava, se sofria, eles o faziam
junto Comigo, e posso dizer que, mesmo sobre a cruz, estavam Comigo para morrer e ressuscitar
para a nova vida que Eu vim trazer para as gerações humanas.

Por isso o reino de nossa Vontade já está estabelecido, sabemos seu número, sabemos quem são, seu nome, já nossa Vontade nos
faz sentir palpitantes, ardentes de amor, oh! como os amamos e suspiramos por que chegue o
tempo de fazê-los sair à luz do dia em nossa própria Vontade sobre a terra. Portanto os filhos do
meu Querer terão em seu poder a minha concepção, o meu nascimento, os meus passos, as
minhas penas, as minhas lágrimas, e quantas vezes quiserem ser concebidos, ressuscitados,
tantas vezes o poderão fazer; sentirão os meus passos, as minhas penas nas deles, porque na
minha vontade, minha Vida, meu nascimento, se repetem, se renovam a cada instante e por isso
podem tomá-los para eles e podem dá-los aos demais. Farei o que eles quiserem, sabendo que
eles não farão jamais o que Eu não quero. Estes nossos filhos renascidos, crescidos, formados,
alimentados por nosso Querer, serão a verdadeira glória de nossa Criação, coroarão nossa obra
criadora e porão o selo de seu amor em cada coisa criada para Aquele que tudo fez por eles, e que
tanto os amou".


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