ESCOLA DA DIVINA VONTADE - 53 SEMANA DE ESTUDOS

 

2-58
Agosto 13, 1899

Ameaça de castigos e tenta acalmá-lo.

(1) Esta manhã Jesus continuava a fazer-se ver, ameaçando sempre com castigos, e enquanto
eu me punha a rogar-lhe que se acalmasse, como um relâmpago desaparecia. A última vez que
ele veio se fazia ver crucificado, então me aproximei para beijar suas santíssimas chagas,
fazendo várias adorações, mas enquanto isso fazia, em vez de Jesus Cristo vi minha mesma
imagem. Fiquei surpreendida e disse: "Senhor! O que estou a fazer? Estou a fazer as minhas
próprias adorações? Isto não pode ser feito". Nesse momento mudou-se na pessoa de Jesus
Cristo e me disse:

(2) "Não te admires de que tenha tomado tua mesma imagem; se Eu sofro continuamente em
ti, que maravilha é que tenha tomado tua mesma forma? E além disso, não é para fazer-te
imagem minha que te faço sofrer?"

(3) Eu fiquei toda confusa e Jesus desapareceu. Seja tudo para sua glória, seja bendito sempre
seu santo nome.

* * * * * *

2-59
Agosto 15, 1899

Jesus ordena-lhe a caridade. Festa da Mãe Celestial. Dá-lhe o ofício de mãe na terra.

(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus veio todo alegre, trazendo entre as mãos um ramo de
belíssimas flores, e pondo-se em meu coração, com aquelas flores agora se rodeava a cabeça,
agora as tinha entre suas mãos, recriando-se e agradando-se tudo. Enquanto se divertia com
estas flores, como se tivesse feito uma grande aquisição, virou-se para mim e disse-me:
(2) "Amada minha, esta manhã vim para pôr em ordem no teu coração todas as virtudes. As
outras virtudes podem estar separadas uma da outra, mas a caridade ata e ordena tudo. Eis o
que quero fazer em ti, ordenar a caridade".

(3) Eu disse-lhe: "Sozinho e único Bem meu, como podes fazer isto sendo eu tão má e cheia de
defeitos e imperfeições? Se a caridade é ordem, estes defeitos e pecados não são desordem
que têm tudo em desordem e revolta a minha alma?"
(4) E Jesus: "Eu purificarei tudo e a caridade porá tudo em ordem. E além disso, quando a uma
alma a faço partícipe das penas de minha Paixão, não pode haver culpas graves, a mais algum
defeito venial involuntário, mas meu amor, sendo fogo, consumirá tudo o que é imperfeito em
tua alma".
(5) Assim parecia que Jesus me purificava e ordenava tudo; depois derramava como um rio de
mel de seu coração no meu e com esse mel regava todo meu interior, de modo que tudo o que
estava em mim ficava ordenado, unido, e com a marca da caridade.
(6) Depois disto me senti saindo de mim mesma na abóbada dos céus, junto com meu amado
Jesus; parecia que tudo estava em festa, Céu, terra e purgatório; todos estavam inundados de
uma nova alegria e júbilo. Muitas almas saíam do purgatório e como raios chegavam ao Céu
para assistir à festa da nossa Rainha Mãe. Também eu me punha no meio daquela imensa
multidão de pessoas, isto é, anjos, santos e almas do purgatório, que ocupavam aquele novo
Céu, que era tão imenso, que o nosso que vemos, comparado com aquele me parecia um
pequeno buraco, muito mais do que tinha a obediência do confessor. Mas enquanto olhava,
não via outra coisa que um Sol luminosíssimo que espargia raios que me penetravam toda, de
lado a lado, e me tornavam como um cristal, tanto que se descobriam muito bem os pequenos
defeitos e a infinita distância que há entre o Criador e a criatura; tanto mais que aqueles raios,
cada um tinha sua marca: Um delineava a Santidade de Deus, outro a pureza, outro a potência,
outro a sabedoria, e todas as outras virtudes e atributos de Deus. Assim que a alma, vendo seu
nada, suas misérias e sua pobreza, se sentia aniquilada e em vez de olhar, prostrava-se com o
rosto na terra ante aquele Sol Eterno, ante o Qual não há ninguém que possa estar frente a
Ele.
(7) Mas o mais era que para ver a festa de nossa Mãe Rainha, se devia ver desde dentro
daquele Sol, tanto parecia imersa em Deus a Virgem Santíssima, que olhando desde outros
pontos não se via nada. Agora, enquanto me encontrava nestas condições de aniquilamento
ante o Sol Divino e a Mamãe Reina tendo em seus braços o menino, Jesus me disse:
(8) "Nossa Mãe está no Céu, dou a você o ofício de me fazer de mãe na terra, e como minha
vida está sujeita continuamente aos desprezos, à pobreza, às penas, aos abandonos dos
homens, e minha Mãe estando na terra foi minha fiel companheira em todas estas penas, e não
só isso, mas procurava aliviar-me em tudo, por quanto podiam suas forças, assim também tu,
fazendo-me de mãe me farás fiel companhia em todas as minhas penas, sofrendo tu em vez
minha por quanto possas, e onde não possas, buscarás dar-me ao menos um consolo. Saiba
que quero que preste atenção em mim. Serei ciumento até do teu respiro se não o fizeres por
Mim, e quando vir que não estás toda atenta para me contentar, não te darei nem paz nem
repouso".
(9) Depois disto, comecei a fazer-lhe de mãe, mas oh! quanta atenção era necessária para
satisfazê-lo. Para vê-lo feliz não se podia nem olhar para outra parte. Agora queria dormir,
agora queria beber, agora queria que o acariciasse e eu devia encontrar-me pronta a tudo o
que queria; agora dizia: "Mamãe minha, me dói a cabeça, ah, me alivie!" E eu imediatamente
lhe revistava a cabeça, e encontrando espinhos, tirava-os e, pondo-lhe o meu braço debaixo da
cabeça, o fazia repousar. Enquanto fazia que repousasse, de repente se levantava e dizia:
"Sinto um peso e um sofrimento no coração, tanto de sentir-me morrer; vê que há". E olhando
para o interior do coração, encontrei todos os instrumentos da Paixão, e um a um tirei-os e
coloquei-os no meu coração. Depois, vendo-o aliviado, comecei a acariciá-lo e a beijá-lo e
disse: "Meu único e único tesouro, nem sequer me deixaste ver a festa de nossa Rainha Mãe,
nem ouvir os primeiros cânticos que lhe cantaram os anjos e os santos no ingresso que fez no
Paraíso".

(10) E Jesus: "O primeiro canto que fizeram a minha Mãe foi a Ave Maria, porque na Ave Maria
estão os louvores mais belos, as maiores honras, e renova-se-lhe a alegria que teve ao ser
feita Mãe de Deus, por isso, Vamos recitá-la juntos para honrá-la e quando você vier ao
Paraíso, eu a encontrarei como se a tivesse dito com os anjos aquela primeira vez no Céu".

(11) E assim recitamos a primeira parte da Ave Maria juntos. ¡ Oh, como era terno e comovedor
saudar a nossa Mãe Santíssima junto com seu amado Filho! Cada palavra que Ele dizia, levava
uma luz imensa na qual se compreendiam muitas coisas sobre a Virgem Santíssima, mas
quem pode dizê-las todas? Muito mais pela minha incapacidade, por isso passo-as em silêncio.

3-58
Abril 9, 1900

Abandono em Deus.

(1) Tendo recebido a comunhão esta manhã, encontrava-me num mar de amarguras porque não
via o meu sumo Bem Jesus, todo o meu interior me sentia inquieto, quando num instante se fez ver
e me disse quase repreendendo:
(2) "Você não sabe que não se abandonar em Mim é um querer usurpar os direitos de minha
Divindade, fazendo-me uma grande afronta? Por isso abandona-te e aquieta teu interior tudo em
Mim e encontrarás a paz, e encontrando a paz me encontrarás a Mim mesmo".
(3) Dito isto, como relâmpago desapareceu sem se fazer ver mais. Oh! Senhor, me tenha Você
toda abandonada e bem apertada em seus braços, de modo que não possa fugir jamais, de outra
maneira eu farei sempre minhas escapadinhas!
+ + + +

3-59
Abril 10, 1900

Os desejos de ver Jesus atraem-no à alma.

(1) Continua o bendito Jesus sem vir. Oh! Deus, que pena indescritível é sua privação! Quanto
mais podia estar em paz e toda abandonada nele, mas que, meu pobre coração não podia mais,
fazia o mais que podia para acalmá-lo, dizia-lhe: "Meu coração, esperemos outro pouco, talvez
venha, usemos alguma estratagema de amor para atraí-lo a que venha". E, dirigindo-me a Ele,
dizia: "Senhor, vem, faz-se tarde e Tu ainda não vens. Esta manhã procuro por quanto mais posso
estar calma, não obstante não se faz encontrar. Senhor, ofereço-te o martírio de tua privação
como testemunho de amor, e para te fazer um presente para te atrair a vir. É verdade que não sou
digna, mas não é porque seja digna que te busco, senão por amor, e porque sem Ti me sinto falta
da vida". E como não vinha, dizia: "Senhor, ou vens ou te cansarei com minhas palavras, e quando
estiveres cansado, nem sequer então virás?" Mas quem pode dizer todos os meus desatinos?
Dizia-lhe tantos, que me alongaria muito se quisesse dizê-los todos.
(2) Depois disto via o meu doce Jesus que se movia dentro do meu interior, como se despertasse
de um sonho, então se fez ver mais claro, e me transportando para fora de mim mesma me disse:

(3) "Assim como o pássaro quando deve voar move as asas, assim a alma nos vôos dos desejos
move as asas da humildade, e nesses movimentos envia um ímã que me atrai, de modo que
enquanto ela empreende seu vôo para vir a Mim, Eu empreendo o meu para ir a ela".
(4) Ah Senhor, se vê que me falta o ímã da humildade! Se eu em meu caminho expandisse por
toda parte o ímã da humildade, não sofreria tanto em esperar e esperar sua vinda!

4-63
Abril 5, 1901

Compadecendo-se da Mãe, compadece-se de Jesus.
No calvário, na crucificação, vê em Jesus todas as gerações.

(1) Continuando o estado de privação, esta manhã parece que o vi por um pouco junto com a
Rainha Mãe, e como o adorável Jesus tinha a coroa de espinhos, a tirei e o compadeci tudo; e
enquanto isso fazia me disse:
(2) "Compadece ao mesmo tempo a minha Mãe, porque sendo eu sofrer a razão de suas dores,
compadecendo-a a Ela vens a compadecer-me a Mim mesmo".
(3) Depois disso, eu parecia me encontrar no Monte Calvário no momento da e enquanto sofria a
crucificação via, não sei como, em Jesus, todas as gerações passadas, presentes e futuras, e
como Jesus, tendo-nos a todos n'Ele, sentia todas as ofensas que cada um de nós lhe fazia e
sofria por todos em geral e por cada indivíduo em particular, de modo que descobria também as
minhas culpas e as penas que por mim sofria especialmente, como também via o remédio que a
cada um de nós, sem punir ninguém, ele nos fornecia para os nossos males e para a nossa
salvação eterna. Mas quem pode dizer tudo o que via em Jesus bendito? Desde o primeiro até o
último homem. Agora, estando fora de mim mesma via as coisas claras e distintas, mas
Encontrando-me em mim mesma as vejo todas confusas. Assim que para evitar disparates termino.

 

+ + + +

4-64
Abril 7, 1901

Vê a Ressurreição de Jesus. Fala da obediência.

(1) Meu adorável Jesus continua me privando de sua presença, sinto uma amargura e como
trespassado o coração por uma faca, que me dá tal dor, de me fazer chorar e gritar como um
menino. Ah! Parece-me verdadeiramente ter-me tornado como uma criança, que por pouco que se
afaste a mãe chora e grita tanto, que transtorna toda a casa, e não há nenhum remédio para fazê-la
parar de chorar enquanto não se vê de novo nos braços da mãe. É assim que eu sou, verdadeira
menina na virtude, que se me fosse possível transtornaria Céus e terra para encontrar o meu sumo
e único Bem, e só me acalmo quando me encontro em posse de Jesus. Pobre criança que sou,
sinto ainda que as fraldas da infância me cobrem, não sei caminhar por mim mesma, sou muito
fraca, não tenho a capacidade dos adultos que se deixam guiar pela razão, e esta é a soma
necessidade que tenho de estar com Jesus, com razão ou sem razão, Não quero saber nada, o
que quero saber é que quero Jesus. Espero que o Senhor queira perdoar a esta pobre menina, que
às vezes comete desatinos.

(2) Então, encontrando-me neste estado, por pouco tempo vi o meu adorável Jesus no momento
da sua Ressurreição, com um rosto tão resplandecente que não se pode comparar a nenhum outro
esplendor, e parecia-me que a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, ainda que fosse carne
viva, mas estava resplandecente e transparente de modo que se via com clareza a Divindade unida
à Humanidade. Agora, enquanto o via tão glorioso, uma luz que vinha dele, parecia que me
dissesse:
(3) "Tanta glória veio à minha humanidade por meio da perfeita obediência, que destruindo de todo
a natureza antiga me deu a nova natureza gloriosa e imortal. Assim a alma por meio da obediência
pode formar em si a perfeita ressurreição às virtudes, como por exemplo: Se a alma está afligida, a
obediência a fará ressurgir à alegria; se está agitada, a obediência a fará ressurgir à paz; se
tentada, a obediência lhe fornecerá a cadeia mais forte para atar o inimigo e a fará ressurgir
vitoriosa das insidias diabólicas; se assediada por paixões e vícios, a obediência matando-os a fará
ressurgir às virtudes. Isto à alma, e a seu tempo formará também a ressurreição do corpo".
(4) Depois disto a luz se retirou, Jesus desapareceu, e eu fiquei com tal dor, vendo-me de novo
privada dEle, que me sentia como se tivesse uma febre ardente que me faz agitar e dar em delírio.
Ah! Senhor, me dê a força para te aguentar nestas demoras, porque me sinto desfalecer!

+ + + +

52
4-65
Abril 9, 1901

Se os fervores e virtudes não estão bem arraigados na Humanidade de Jesus, diante das tribulações,
diante dos infortúnios, rapidamente secam.

(1) Encontrando-me na plenitude do delírio, dizia disparates, e creio que misturava também
defeitos; minha pobre natureza sentia todo o peso de meu estado, a cama parecia-lhe pior que o
estado dos condenados às prisões, tivesse querido desvincular-se deste estado, com agregado de
meu refrão, que meu estado não é mais Vontade de Deus e por isso Jesus não vem, e ia pensando
o que devia fazer. Enquanto fazia isso, meu paciente Jesus saiu de dentro de mim, mas com um
aspecto grave e sério que dava medo, e me disse:
(2) "O que você acha que eu teria feito se eu estivesse em sua situação?"
(3) No meu íntimo dizia: "Certamente a Vontade de Deus".
(4) E Ele de novo: "Pois bem, faz tu isso".
(5) E desapareceu. Era tanta a gravidade de Nosso Senhor, que naquelas palavras que disse
sentia toda a força de sua palavra, não só criadora, mas também destruidora. Meu interior ficou de
tal maneira sacudido, oprimido e amargurado por estas palavras, que não fazia outra coisa que
chorar, especialmente recordava a gravidade com a qual Jesus me tinha falado e não me atrevia a
dizer-lhe "vem".
(6) Agora, estando durante o dia neste estado fiz minha meditação sem chamá-lo, quando no
melhor veio e com um aspecto doce, tudo mudou em comparação com a manhã me disse:
(7) "Minha filha, que ruína, que destruição está por acontecer!"
(8) E enquanto dizia isto senti todo o meu interior mudado, porque não era por outra coisa que não
vinha, senão pelos castigos; e enquanto estava nisto via quatro pessoas veneráveis que choravam
diante das palavras que Jesus tinha dito; mas Jesus bendito, como querendo distrair-se disse
algumas poucas palavras sobre as virtudes:
(9) "Há certos fervores e certas virtudes que se assemelham àqueles arbustos que nascem em
torno de certas árvores, e que não estando bem enraizados no tronco, um vento impetuoso, uma
geada um pouco forte e secam, e ainda que depois de algum tempo possa ser que reverdeçam de
novo, mas estando expostos à intempérie e portanto a mudar-se, jamais chegam a ser árvores
feitas. Assim são esses fervores e essas virtudes que não estão bem arraigados no tronco da
árvore da obediência, isto é, no tronco da árvore de minha Humanidade que foi toda obediência,
ante as tribulações, os infortúnios, súbito secam e jamais chegam a produzir frutos para a vida
eterna".

6-62
Agosto 10, 1904

Deus sabe o número, o valor, o peso de todas as coisas criadas.

(1) Encontrando-me fora de mim mesma, encontrei-me girando nas igrejas, fazendo a
peregrinação a Jesus Sacramentado com o anjo guardião, e tendo dito dentro de uma igreja:
"Prisioneiro de amor, Tu estás abandonado e sozinho, e eu vim fazer-te companhia e, enquanto te
faço companhia, tento amar-te por quem te ofende, louvar-te por quem te despreza, agradecer por
quem derramaste graças e não te rende o tributo do agradecimento, consolar-te por quem te aflige,
reparar-te qualquer ofensa, numa palavra, tento fazer-te tudo o que as criaturas estão obrigadas a
fazer-te por teres ficado no Santíssimo Sacramento, e tantas vezes tento repeti-las por quantas
gotas de água, quantos peixes e grãos de areia há no mar". Enquanto dizia isto, diante da minha
mente puseram-se todas as águas do mar e dentro de mim dizia: "A minha vista não pode abranger
toda a vastidão do mar, nem conhece a profundidade e o peso daquelas imensas águas, mas o
Senhor conhece o número, o seu peso e medida". E ficava toda maravilhada. Enquanto estava
nisto o bendito Jesus me disse:
(2) "Tola, tola que és, por que te admiras tanto? O que à criatura é difícil e impossível, ao Criador é
fácil e possível, e inclusive natural; acontece nisto como a alguém que olhando em um abrir e
fechar de olhos milhões e milhões de moedas, diz para si: "São inumeráveis, quem as pode
contar? Mas quem as pôs naquele lugar, numa palavra pode dizer tudo, são tantas, valem tanto,
pesam tanto; minha filha, eu sei quantas gotas de água pus Eu mesmo no mar, e ninguém pode
me perder nem sequer uma só, Eu numerei tudo, pesei tudo e avaliei tudo, e assim de todas as
outras coisas; então, que maravilha que saiba tudo".
(3) Ao ouvir isto deixei de me admirar, mas bem me admirei de minha loucura.

+ + + + +

6-63
Agosto 12, 1904

O homem destrói a beleza com a qual Deus o criou.

(1) Continuava esperando, quando de improviso me encontrei toda eu mesma dentro de nosso
Senhor, e da cabeça dele descia um fio luminoso à minha que me amarrava toda para ficar dentro
de Jesus. Oh! Como estava feliz de estar dentro Dele, por quanto olhava não descobria outra coisa
que a Ele sozinho, e esta é minha máxima felicidade, só, só Jesus e nada mais, oh! como se está
bem. Enquanto isso me disse:
(2) "Coragem, minha filha, não vês como o fio da minha Vontade te ata toda dentro de Mim? Então,
se qualquer outra vontade quer amarrá-lo, se não é santa não pode, porque estando dentro de
Mim, se não é santa não pode entrar em Mim".
(3) E enquanto dizia isto, via e via, e depois acrescentou:
(4) "Criei a alma de uma beleza singular, dotei-a de uma luz superior a qualquer luz criada, não
obstante o homem destrói esta beleza na fealdade e esta luz nas trevas".

11-67
Novembro 27,1913

A Divina Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra.

(1) Meu sempre amável Jesus continua me falando de sua santíssima Vontade:

(2) "Minha filha, por quantos atos completos de minha Vontade faz a criatura, tantas partes de
Mim toma em si, e por quanto mais toma de minha Vontade, tanta luz adquire e dentro de si
forma o sol, e como este sol se formou da luz que toma de minha Vontade, os raios deste sol
estão concatenados com os raios do meu Sol Divino, assim que um se reflete no outro, um
flecha ao outro e mutuamente se flecham, e enquanto isso fazem, o sol que minha Vontade
formou na alma vai se engrandecendo sempre mais".
(3) E eu: "Jesus, estamos sempre aqui, em tua Vontade, parece que não tens outra coisa que
dizer".
(4) E Jesus: "Minha Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra, e quando a
alma chegou a Ela, subjugou tudo e fez tudo, e não lhe resta mais que habitar no alto destas
alturas, gozá-las e compreender sempre mais esta minha Vontade, ainda não bem
compreendida nem no Céu nem na terra. É preciso tempo para estar conosco, porque pouco
compreendeste e muito te falta compreender, a minha Vontade é tal, que quem a faz pode dizer-
se deus da terra, e como a minha Vontade forma a beatitude do Céu, Assim estes deuses que
fazem a minha Vontade formam a beatitude da terra e daqueles que estão com eles, e não há
bem que sobre a terra exista, que não se deva atribuir a estes deuses da minha Vontade, ou
como causa direta ou indireta, mas tudo a eles se deve. E assim como no Céu não há felicidade
que de Mim não saia, assim na terra não há bem que exista que não venha deles".

+ + + +

11-68
Março 8,1914
Quem está na Divina Vontade, tudo o que Jesus faz, pode dizer é meu. Vivendo e
morrendo no Divino Querer não há bem que a alma não se leve com ela.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre amável Jesus não deixou de me falar
continuamente da sua Santíssima Vontade; direi o pouco que recordo. Então, não estando bem,
ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) "Minha filha, que está em minha Vontade, tudo o que Eu faço, a alma pode dizer é meu,
porque a vontade da alma está tão fundida com a minha, que o que faz minha Vontade faz ela,
assim que vivendo e morrendo em meu Querer não há bem que com ela não leve, porque não
há bem que a minha Vontade não contenha, e de todos os bens que fazem as criaturas a minha
Vontade é a vida, então, morrendo a alma na minha Vontade leva consigo todas as missas que
se celebram, as orações e as boas obras que se fazem, porque todas são frutos da minha
vontade, e além disso, tudo isto é muito menos em comparação com o agir mesmo da minha
vontade que a alma leva consigo como seu, basta um instante do agir da minha vontade para
superar todo o agir de todas as criaturas passadas, presentes e futuras Assim que a alma
morrendo em minha Vontade, não há beleza que a iguale, nem altura, nem riqueza, nem
santidade, nem sabedoria, nem amor, nada, nada a pode igualar, assim que a alma que morre
em minha Vontade, ao ingresso que fará na pátria celestial não somente se abrirão as portas do
Céu, senão que todo o Céu se abaixará para fazê-la entrar na celestial morada, para fazer honra
ao obrar de minha Vontade; que te dizer além disso, a festa, a surpresa de todos os bem-
aventurados ao ver esta alma toda selada pelo obrar da Vontade Divina; ao ver nesta alma que
tudo tem feito em meu Querer, que tudo o que tem feito em vida, cada palavra, cada
pensamento, obra, ação, etc., são tantos sóis que a adornam e um diverso do outro na luz e na
beleza; ao ver nesta alma os tantos rios divinos que inundarão todos os bem-aventurados, e que
não podendo contê-los o Céu correrão também na terra para bem dos viagantes.

(3) Ah! minha filha, a minha Vontade é o portento dos portentos, é o segredo para encontrar a
luz, a santidade, as riquezas; é o segredo de todos os bens, e não é conhecido, e portanto nem
apreciado nem amado. Pelo menos, o apraz e ama-o, e faze-o conhecer quantos quiseres".
(4) Outro dia, estando sofrendo sentia que não podia fazer nada e me sentia oprimida por isto, e
Jesus me apertando toda me disse:
(5) "Minha filha, não te inquietes, busca somente o estar abandonada em minha Vontade, e Eu
farei tudo por ti, porque é mais um só instante em minha Vontade, que tudo o que poderias fazer
de bem em toda tua vida".
(6) Recordo também que outro dia me disse:

(7) "Minha filha, que verdadeiramente faz a minha Vontade, pode dizer que tudo o que se
desenvolve nela, tanto na alma como no corpo, o que sente, o que sofre, pode dizer: "Jesus
sofre, Jesus está oprimido". Porque tudo o que as criaturas me fazem chega-me até à alma na
qual habito, porque faz a minha vontade, assim que se as friezas das criaturas me chegam, a
minha vontade as sente, e sendo a minha Vontade vida dessa alma, por consequência acontece
que também a alma as sente, assim, em vez de afligir-se por estas friezas como suas, deve estar
ao redor de Mim para consolar-me e reparar-me pelas friezas que mandam as criaturas; assim
se sente distrações, opressões e outras coisas, deve estar ao redor de Mim para aliviar-me e
reparar-me, não como coisas suas mas como minhas, por isso a alma que vive de minha
Vontade sentirá muito diversas penas, segundo as ofensas que me fazem as criaturas, mas as
sentirá repentinamente e quase de sobressalto, como também sentirá gozos e contentamentos
indescritíveis, e se nas penas deve ocupar-se em consolar-me e em reparar-me, nas alegrias e
nos contentamentos deve ocupar-se em gozá-los, e então minha Vontade encontra sua
compensação, de outra maneira ficará contristada e sem poder desenvolver o que contém o meu
Querer".

(8) Outro dia me disse: "Minha filha, que faz minha Vontade, absolutamente não pode ir ao
purgatório, porque minha Vontade purga a alma de tudo, e tendo tido em vida tão zelosamente
guardada em meu Querer, como poderei permitir que o fogo do purgatório a toque? Além disso,
quando mais lhe poderá faltar algum adorno, e minha Vontade antes de lhe revelar a Divindade,
vai adornando-a de tudo o que lhe falta e logo me revele".


57. Em Nazaré com Judas Tadeu e com outros seis discípulos.
31 de outubro de 1944.

57.1 Jesus chega com o primo e os seis discípulos nas proximidades de
Nazaré. Do alto do outeiro onde se encontram vê-se a pequena cidade,
branca entre o verde, subindo e descendo pelas encostas sobre as quais ela
está construída, um doce ondular de encostas, num ponto apenas percebido e
noutro, mais acentuado.
– Já chegamos, amigos. Eis ali a minha casa. Minha mãe lá está, porque
a fumaça se está levantando da casa. Talvez ela esteja fazendo o pão. Eu não
vos digo: “Ficai”, porque penso que deveis estar ansiosos para chegar em
vossas casas. Mas, se quiserdes partir o pão Comigo e conhecer aquela que
João já conhece, então, Eu vos digo: “Vinde.”
Os seis, que já estavam tristes pela iminente separação, voltam a ficar
alegres, e aceitam de coração.
– Então vamos.
Descem rapidamente a pequena colina e pegam a rua mestra. A tarde
vem chegando. Ainda faz calor, mas as sombras já descem sobre o campo,
onde os cereais já estão amadurecendo.
Entram na cidade. Mulheres que vão e vêm da fonte, homens às soleiras
das pequenas oficinas, ou nas hortas, saúdam a Jesus e a Judas.
Os meninos se aglomeram ao redor de Jesus.
– Já voltaste?
– Agora vais ficar aqui?
– Quebrou-se de novo a roda do meu carrinho.
– Sabes, Jesus? Nasceu minha irmã e deram a ela o nome de Maria.
– O mestre me disse que eu sei tudo e que sou um verdadeiro filho da
Lei.
– Sara não está porque está com a mãe muito doente. Chora porque tem
medo.
– Meu irmão Isaque se casou. Houve uma grande festa.
Jesus escuta, acaricia, elogia, promete ajudar.
57.2E assim chegaram à casa. E sobre a soleira já está Maria, que foi
avisada por um rapazinho atencioso.
– Meu Filho!
– Mãe!
Os dois se abraçam. Maria, muito mais baixa que Jesus, está com a
cabeça apoiada no alto do peito do Filho, fechada entre o círculo dos seus
braços. Ele a beija sobre os cabelos loiros. Entram em casa.
Os discípulos, incluindo Judas, ficam lá fora, para deixarem livres os
dois em suas primeiras expansões.
– Jesus, meu Filho!
A voz de Maria está trêmula, como a de quem está com as lágrimas na
garganta.
– Por que estás assim, mãe?
– Ó Filho! Disseram-me… No Templo estavam os galileus, os
nazarenos, naquele dia… Eles voltaram… E contaram… Ó Filho!…
– Mas tu o estás vendo, mãe! Eu estou bem. Nenhum mal veio sobre
Mim. Só veio a glória a Deus em sua Casa.
– Sim. Eu sei, Filho do meu coração. Sei que foi como o toque da
trombeta, despertando os que dormem. E, pela glória de Deus, eu me sinto
feliz… feliz que este meu povo desperta para Deus. Eu não te censuro… eu
não te ponho obstáculo… eu te compreendo… e… e fico feliz… mas eu te
gerei, eu, meu Filho!…
Maria está ainda envolvida pelo abraço de Jesus e falou, com as
mãozinhas abertas e apoiadas sobre o peito do Filho, a cabeça levantada
para Ele, os olhos mais brilhantes pelo pranto que está prestes a descer;
agora se cala, apoiando novamente a cabeça sobre o peito Dele. Parece uma
rolinha cinzenta, vestida como está com uma veste acinzentada, sob a
proteção de duas fortes asas de candor, pois Jesus ainda está com sua veste e
o manto branco.
– Mãe! Pobre mãe! Querida mãe!…
Jesus a beija outra vez. 57.3Depois, diz:
– E então, não estás vendo? Eu estou aqui e não estou sozinho .Tenho
Comigo os meus primeiros discípulos, e ainda outros que ficaram na Judéia.
Também o primo Judas está Comigo e agora me segue…
– Judas?
– Sim, Judas. Eu sei porque é que estás admirada. Certamente, entre os
que falaram do que aconteceu, estavam Alfeu com seus filhos… e não erro
se disser que eles me criticaram. Mas, não tenhas medo. Hoje é assim,
amanhã não será mais assim. O homem tem que ser cultivado como a terra e
onde hoje há espinhos, amanhã haverá rosas. Judas, que tu amas, já está
Comigo.
– Onde ele está agora?
– Ali fora, com os outros. Tens pão para todos?
– Sim, Filho. Maria de Alfeu está junto ao forno desenfornando os pães.
Muito boa é Maria para comigo; especialmente numa hora destas.
– Deus lhe dará glória!
Vai até à porta e chama:
– Judas! Tua mãe está aqui! Amigos, vinde!
Eles entram e saúdam. Judas beija Maria. Só depois corre em direção à
sua mãe.
Jesus diz os nomes dos outros cinco: Pedro, André, Tiago, Natanael e
Filipe; porque João, já conhecido de Maria, saudou-a logo depois de Judas,
inclinando-se e recebendo dela a bênção.
57.4Maria os saúda e os convida a se sentarem. Ela é a dona da casa e,
mesmo adorando com o olhar o seu Jesus, ocupa-se com os hóspedes; parece
que sua alma continua a falar, com os olhos, ao seu Filho. Ela queria ir
buscar água para matarem a sede. Mas Pedro dispara:
– Não, mulher. Não posso permitir isso. Assenta-te perto do teu Filho, ó
mãe santa. Eu irei; nós iremos refrescar-nos lá na horta.
Chega Maria de Alfeu toda corada e enfarinhada e saúda Jesus, que a
abençoa; depois leva os seis até à horta, ao tanque, e volta feliz.
– Oh! Maria! –diz à Virgem–. Judas me falou. Como estou contente! Por
Judas e por ti, minha cunhada. Eu sei que os outros vão ralhar comigo. Mas
não me importa. Serei feliz no dia em que souber que todos eles são de
Jesus. Nós, mães, sabemos… percebemos o que é bom para os filhos. E eu
percebo que o bem de meus filhos és Tu, Jesus.
Jesus lhe faz uma carícia sobre a cabeça, sorrindo.
Voltam os discípulos. Maria de Alfeu lhes serve um pão cheiroso,
azeitonas e queijo. Leva também uma pequena ânfora de vinho tinto que
Jesus serve aos seus amigos. É sempre Jesus quem oferece e depois
distribui.
57.5Um pouco embaraçados, a princípio, os discípulos depois se tornam
mais corajosos e falam de suas casas, da viagem a Jerusalém e dos milagres
acontecidos. Agora eles estão cheios de zelo, de afeto. Pedro procura fazer
de Maria uma sua aliada, para conseguir que sejam logo tomados por Jesus
sem ter que esperar até que chequem em Betsaida.
– Fazei tudo que Ele diz –exorta ela, com um suave sorriso–. Esta
espera vos será mais útil do que uma aliança imediata. O meu Jesus faz bem
tudo que faz.
A esperança de Pedro morre. Mas ele se resigna e se sai bem. Só faz
esta pergunta:
– Essa espera durará muito?
Jesus olha para ele com um sorriso, mas não diz nada.
Maria interpreta aquele sorriso como um bom sinal, e diz:
– Simão de Jonas, Ele está sorrindo… e por isso, eu te digo: rápido,
como o vôo de uma andorinha sobre o lago será o tempo da tua obediente
espera.
– Obrigado, mulher.
57.6 – Não falas nada, Judas? E tu, João?
– Estou olhando para ti, Maria.
– E eu também.
– Eu também olho para vós e… sabeis de uma coisa? Está vindo à minha
lembrança uma hora que já vai longe. Também eu, naquele tempo, tinha
sempre três pares de olhos fixados em meu rosto com amor. Lembras-te
Maria, dos meus três discípulos?
– Oh! Se me lembro! É verdade! Também agora, há três quase da mesma
idade que olham para ti com todo amor que podem ter. E este aqui, o João,
eu penso, me parece o Jesus daquele tempo: tão loiro e rosado, o mais novo
de todos.
Os outros querem saber, e as recordações e anedotas fluem em meio à
conversação, enquanto o tempo passa. Chega a tarde.
– Meus amigos, Eu não tenho cômodos. Mas ali é a oficina onde eu
trabalhava. Se quiserdes abrigar-vos nela… Mas lá só há os bancos do
ofício.
– Leito confortável é este para pescadores acostumados a dormir sobre
estreitas tábuas. Obrigado, Mestre. Dormir debaixo do teu teto é honra e
santificação.
Retiram-se com muitas saudações. Judas também se retira com sua mãe
e vão para sua casa.
Neste quarto ficam Jesus e Maria, sentados sobre o arquibanco, à luz de
uma pequena candeia, um braço ao redor das costas do outro. Jesus narra e
Maria escuta contente, trêmula e feliz…
Assim cessa a visão.

58. Cura de um cego em Cafarnaum após uma lição de pesca aplicada às almas.
7 de outubro de 1944.

58.1 Jesus diz, e logo a tranqüilidade penetra em mim; e a alegria dessa
tranqüilidade luminosa torna-me risonho o coração:
– Vê como lhe agradam os episódios dos cegos. Demos-lhe um outro
deles.
E eu vejo.
58.2Vejo um belíssimo pôr-do-sol de verão. O sol encheu de fogo todo o
poente e o lago de Genezaré tornou-se uma imensa laje incandescente sob um
céu aceso.
As ruas de Cafarnaum mal começam a se encher de gente: mulheres que
vão à fonte, homens, pescadores que preparam as redes e os barcos para a
pesca noturna, meninos que correm brincando, pequenos jumentos que vão
indo para o campo com seus cabazes, talvez para trazerem verduras.
Jesus aparece em uma porta que dá para um pequeno pátio sombreado
por uma videira e uma figueira, além do qual há uma viela pedregosa que
margeia o lago. Deve ser a casa de Pedro (ao invés, é a casa da sogra de
Pedro)[102]
, porque ele está com André à margem; estão no barco preparando
as cestas e as redes para os peixes, pondo em ordem os bancos e os rolos de
cordas. Tudo, em suma, o que é necessário para a pesca. André o está
ajudando, indo e vindo da casa ao barco.
58.3 Jesus interpela o seu apóstolo:
– Vai ser boa a pesca?
– O tempo está favorável. A água está calma, e a lua vai ser clara. Os
peixes emergirão das profundezas e a minha rede os arrastará consigo.
– Iremos sozinhos?
– Oh! Mestre! Como queres que façamos, com este sistema de redes, se
ficarmos sozinhos?
– Eu nunca pesquei e espero que tu me ensines.
Jesus vai descendo muito devagar em direção ao lago e pára à margem
da areia grossa e pedregosa, junto ao barco.
– Vê, Mestre: é assim que se faz. Eu saio ao lado do barco de Tiago,
filho de Zebedeu e vamos assim, um ao lado do outro até o ponto bom para a
pesca. Depois se desce a rede. Nós costumamos segurar uma ponta. Tu a
queres segurar, me disseste isto.
– Sim, se me disseres o que devo fazer.
– Oh! Basta tomar cuidado com a descida. Que a rede vá descendo
devagar e sem fazer nós. Devagar, porque estaremos em áreas de pesca e
qualquer movimento muito brusco pode espantar os peixes. E sem nós, para
que a rede não fique fechada, pois ela deve ir sendo aberta como uma bolsa,
ou como um véu, se te agrada assim, que vai sendo enchida pelo vento.
Depois, quando a rede já foi toda descida, iremos remando devagar, ou
iremos com a vela, conforme for necessário, fazendo um semicírculo sobre o
lago; quando o vibrar da estaca de segurança nos disser que a pesca foi boa,
dirigiremos o barco para a terra e lá perto da beira içaremos a rede; não
antes, para não nos arriscarmos a ver escapar a presa, nem depois para não
estragar os peixes nem as redes sobre as pedras. Neste ponto é preciso ter
olhos atentos porque os barcos devem estar muito próximos para que de um
se possa recolher a ponta da rede dada pelo outro, mas sem se bater para não
esmagar o saco cheio de peixes. 58.4Eu confio em Ti, Mestre, pois este é o
nosso pão. Olhos na rede, para que não se arrebente com as sacudidas. Os
peixes defendem a sua liberdade com fortes golpes de cauda e se forem
muitos… Tu entendes… São pequenos animais, mas reunidos em dez, em
cem, em mil, tornam-se fortes como o Leviatã.
– É como acontece com as culpas, Pedro. Sendo a primeira, aindanão é
irreparável. Mas, se alguém não toma cuidado, não limitando-se àquela, vai
acumulando, acumulando… acabará acontecendo que aquela pequena culpa,
talvez uma simples omissão, uma simples fraqueza, vai se tornando sempre
maior, passe a ser um hábito, e se transforme em um vício capital. Às vezes,
começa-se por um olhar concupiscente e se termina por um adultério
consumado. Às vezes, por uma falta de caridade de palavras contra um
parente, acaba-se por uma violência contra o próximo. Ai de quem começa e
deixa que as culpas aumentem de peso, por seu número! Tornam-se
perigosas e prepotentes como a própria Serpente infernal e arrastam para o
abismo da Geena.
– Falas bem, Mestre… Mas, somos tão fracos!
– Advertência e oração para ser fortes e obter ajuda e uma firme vontade
de não pecar. Depois, uma grande confiança na amorosa justiça do Pai.
– Tu dizes que Ele não será muito severo com o pobre Simão?
– Com o velho Simão, Ele até que podia ser severo. Mas com o meu
Pedro, o homem novo, o homem do seu Cristo… não, Pedro. Ele te ama e te
amará.
– E eu?
– Também tu, André; e contigo, João e Tiago, Filipe e Natanael. Vós
sois os meus primeiros eleitos.
58.5 – Virão outros? Tem o teu primo, e na Judéia…
– Oh! Muitos. O meu Reino está aberto a todo o gênero humano e em
verdade Eu te digo que mais abundante do que a mais abundante de tuas
pescas será a minha nas noites dos séculos… Porque cada século é uma
noite, na qual é guia e luz, não a pura luz do Orion ou aquela da navegante
lua, mas, a palavra de Cristo e a Graça que Dele virá; noite que conhecerá a
aurora de um dia sem fim, de uma luz na qual todos os fiéis irão viver, de um
sol que revestirá os eleitos e os fará belos, eternos, felizes como uns deuses.
Deuses menores, filhos de Deus Pai e semelhantes a Mim… Por enquanto,
não podeis compreender. Mas em verdade Eu vos digo que a vossa vida
cristã vos concederá semelhança com o vosso Mestre, e resplandecereis no
Céu pelos próprios sinais dele. Pois bem, Eu terei, não obstante a inveja de
Satanás e a vontade fraca do homem, uma pesca mais abundante do que a tua.
– Mas, só nós é que seremos teus apóstolos?
– Ciumento, Pedro? Não. Não o sejas. Outros virão, e no meu coração
haverá amor para todos. Não sejas avarento, Pedro. Tu ainda não sabes
Quem te ama. Já contaste alguma vez as estrelas? E as pedras do fundo deste
lago? Não. Não poderias. Mas, menos ainda, irias poder contar as
palpitações de amor de que é capaz o meu coração. Pudeste alguma vez
contar quantas vezes este mar beija a margem com o seu beijo de ondas no
curso de doze luas? Não. Não poderias. Mas, menos ainda poderias contar
as ondas de amor que deste coração se derramam para beijar os homens.
Esteja certo, Pedro, do meu amor.
Pedro pega a mão de Jesus e a beija. Está comovido.
André olha e não ousa fazer o mesmo. Mas Jesus lhe põe a mão por
entre os cabelos e lhe diz:
– Também te amo muito. Na hora da tua aurora, verás, refletido na
abóbada do céu, sem que precises levantar teus olhos, o teu Jesus sorridente,
que te dirá: “Eu te amo. Vem”; e a tua passagem por essa aurora te será mais
doce do que a entrada numa câmara nupcial…
58.6 – Simão! Simão! André! Estou chegando…
João chega apressado:
– Oh! Mestre! Eu te fiz esperar?
João olha para Jesus com seu olhar amoroso.
Responde Pedro:
– Verdadeiramente, eu já estava começando a pensar que não viesses
mais. Prepara logo o teu barco. E Tiago?…
– Aí está… nós ficamos atrasados por causa de um cego. Ele estava
pensando que Jesus estivesse em nossa casa e foi para lá. Então, nós lhe
dissemos: “Ele está em algum outro lugar. Talvez amanhã Ele te cure.
Espera.” Mas ele não queria esperar. Tiago lhe dizia: “Tens esperado tanto a
luz, que te custa esperar mais uma noite?” Mas ele não quer saber de
razões…
– João, se tu fosses cego, não terias pressa de rever a tua mãe?
– Ah! Sem dúvida!
– E então? Onde está o cego?
– Ele vem vindo com o Tiago. Está agarrado ao manto de Tiago e não o
solta. Mas vem vindo devagar, porque a margem é pedregosa, ele tropeça…
Mestre, me perdoas, por ter sido duro?
– Sim. Mas para compensar, vai ajudar o cego e o traz a Mim.
João vai correndo.
Pedro sacode um pouco a cabeça, mas se cala. Olha para o céu que
começa a ficar azul depois de ter estado tanto tempo cor de cobre; olha para
o lago, olha para os outros barcos que já saíram para a pesca e suspira.
– Simão?
– Mestre?
– Não tenhas medo. Terás uma pesca abundante, ainda que saias por
último.
– Desta vez também?
– Todas as vezes que tiveres caridade Deus usará para contigo da graça
de abundância.
58.7 – Eis o cego.
O pobre homem avança entre Tiago e João. Ele tem nas mãos um bastão,
mas não está servindo-se dele agora, pois acha mais seguro confiar nos
dois.
– Pronto, homem! O Mestre está na tua frente.
O cego se ajoelha:
– Meu Senhor, piedade!
– Queres ver? Levanta-te. Desde quando és cego?
Os quatro apóstolos se agrupam ao redor dos dois.
– Faz sete anos, Senhor. Antes, eu via bem e trabalhava. Eu era ferreiro
em Cesaréia Marítima e ganhava bem. O porto, os muitos negócios, sempre
precisavam de mim para trabalhos. Mas, ao bater um ferro de âncora, e
podes fazer idéia de como devia estar vermelho para se tornar macio ao
golpe, soltou-se um estilhaço incandescente e me queimou um olho. Eu já
estava com os dois doentes por causa do calor da forja. Perdi o olho que foi
atingido e o outro também se foi, três meses depois. Acabei com minhas
economias e agora vivo de caridade…
– És sozinho?
– Tenho esposa e três filhos pequenos… de um deles eu nem sei como é
o rosto… e tenho minha mãe, já idosa. Contudo, agora é ela e minha mulher
que ganham para um pouco de pão; com isto e com a esmola que eu ajunto,
não se morre de fome. Se me curasses!… Eu voltaria ao trabalho. Não
desejo senão trabalhar, como um bom israelita e dar um pão àqueles que eu
amo.
– E vieste a Mim? Quem foi que te contou?
– Um leproso que Tu curaste aos pés do monte Tabor, quando ias de
volta para o lago, depois daquele tão belo discurso.
– Que foi que ele te disse?
– Que Tu podes tudo. Que és a saúde dos corpos e das almas. Que és luz
para as almas e para os corpos porque és a Luz de Deus. Ele, o leproso,
havia ousado misturar-se com a multidão, correndo o risco de ser
apedrejado, todo envolvido num manto, porque ele te havia visto passar
dirigindo-se para o monte; o teu rosto tinha colocado em seu coração uma
esperança. Ele me disse: “Eu vi naquele rosto qualquer coisa que me disse:
‘Ali está a saúde. Vai!’ E eu fui.” E assim me repetiu o teu discurso,
dizendo-me que Tu o curaste, tocando-o com a tua mão sem repugnância. Ele
estava voltando dos sacerdotes depois da purificação. Eu o conhecia, porque
eu já tinha trabalhado para ele, quando ele tinha uma loja em Cesaréia. Eu
vim perguntando por Ti pelas cidades e povoados. Agora Te achei… Tem
piedade de mim!
58.8 – Vem. É bem viva ainda a luz para alguém que vem da escuridão.
– Vais curar-me, então?
Jesus o guia em direção à casa da sogra de Pedro, à pouca luz que ainda
há no pequeno pomar e o põe à sua frente, mas de tal modo que os olhos, ao
ficarem curados, não fossem ter como primeira visão, o lago, ainda todo
cheio de reflexos de luz. O homem parece um menino muito dócil, deixa
Jesus fazer como quer, sem lhe perguntar o porquê.
– Pai! A tua luz a este filho!
Jesus estendeu as mãos sobre a cabeça do homem que está de joelhos.
Ele fica assim por um instante. Depois Jesus molha as pontas dos dedos na
saliva e, com a direita, toca-as de leve sobre os olhos abertos, mas sem
vida.
Um instante. Em seguida, o homem move as pálpebras e as esfrega como
quem sai do sono, mas está ainda com uma névoa nos olhos.
– Que estás vendo?
– Oh! Oh!… oh, Deus eterno! Parece-me… parece-me… oh! que eu
estou vendo… estou vendo a tua veste… é vermelha, não é? E uma mão
branca… e uma cinta de lã… oh! bom Jesus… estou vendo cada vez melhor,
vou-me acostumando a ver… Ali está a erva do chão… aquilo certamente é
um poço, e ali está uma videira…
– Levanta-te, amigo.
O homem, que chora e ri ao mesmo tempo, se levanta e, depois de um
instante de luta entre o respeito e o desejo, ergue o rosto e encontra o olhar
de Jesus. Um Jesus sorridente, cheio de piedade e de amor. Deve ser muito
belo recuperar a vista e ver, como primeiro sol, aquele rosto! O homem dá
um grito e estende os braços. É um ato instintivo. Mas ele se refreia.
Mas é Jesus quem lhe abre os braços e atrai para Si o homem, que é
muito mais baixo do que Ele.
– Vai agora para tua casa, sê feliz e justo. Vai com a minha paz.
– Mestre, Mestre! Senhor! Jesus! Santo! Bendito! A luz… Eu vejo…
vejo tudo… Ali está o lago azul e o céu sereno, e os últimos raios de sol, e
lá a primeira sombra da lua… Mas o azul mais belo e sereno eu o vejo nos
teus olhos e em Ti vejo a beleza do sol mais verdadeiro, e resplandecer a
pureza da mais santa lua. Astro dos doentes, Luz dos cegos, Piedade viva e
operante!
– Luz dos espíritos, Eu sou. Sê tu um filho da Luz.
– Sempre, Jesus. A cada batida da minha pálpebra sobre a pupila
renascida, eu renovarei este juramento. Sê bendito Tu e o Altíssimo!
– Bendito seja o Altíssimo Pai! Vai!
E o homem vai feliz, andando com passos firmes, enquanto Jesus e os
pasmados apóstolos, descem em dois barcos e começam a manobra da
navegação.
E a visão termina.
[102] (ao invés, é a casa da sogra de Pedro), é a rectificação de Maria Valtorta sobre uma cópia dactilografada; da sogra, nas
primeiras linhas de 58.8, é um acréscimo de Maria Valtorta sobra a mesma cópia dactilografada. Das duas casas de Pedro (a
própria em Betsaida e a da sogra em Cafarnaum) se falará em vários pontos do capítulo 60.


CAPÍTULO 23
INSÍGNIAS QUE OS SANTOS ANJOS DA GUARDA DE MARIA SANTÍSSIMA TRAZIAM QUANDO LHE
APARECIAM; SUAS PERFEIÇÕES.
Os mil anjos custódios de Maria

361, Já fica dito
que o número destes anjos era mil, enquanto para as
demais pessoas é apenas um. Devemos
ainda entender que, pela dignidade de
Maria Santíssima, seus mil anjos a guardavam e assistiam, com maior vigilância
do que qualquer anjo custódio guarda a
alma que lhe foi confiada.
Fora destes mil que formavam sua
guarda ordinária e mais contínua, serviam na em diversas outras ocasiões outros
muitos, especialmente depois que concebeu em seu seio o Verbo divino humanado. (4)
Disse também acima que a escolha destes mil anjos foi feita por Deus no
princípio, por ocasião da criação deles,
após a justificação dos bons e a queda dos
maus. Sendo ainda viadora, foi-lhes proposto reconhecerem por superiores a eles:
primeiro a Divindade, depois a humanidade santíssima que o Verbo assumiria, e em
seguida, sua Mãe puríssima.

Diferença entre os anjos

362. Nesta ocasião, quando os apóstatas foram castigados e os obedientes premiados, guardando o Senhor a
devida proporção segundo sua justíssima eqüidade, eu escrevi : na recompensa acidental houve alguma diferença entre
os santos anjos, conforme os diversos sentimentos que demonstraram aos mistérios do Verbo humanado e de sua Mãe
puríssima, à medida que os foram conhecendo, antes e depois da queda dos maus anjos.
Consistiu este prêmio acidental em serem escolhidos para assistir e servir Maria Santíssima e
o Verbo humanado, e no modo e forma de se manifestarem quando apareciam visivelmente
à Rainha para servi-la. É isto que pretendo explicar este capítulo, confessando
minha incapacidade, pois é difícil traduzir em razões e termos materiais as
perfeições e operações de tão elevados espíritos intelectuais.

No entanto, se passasse em silêncio este assunto, omitiria nesta
História uma grande parte das mais excelentes ocupações da Rainha do céu,
enquanto foi viadora. Depois dos atos que exercia com o Senhor,
seu mais contínuo trato era com seus ministros, os espíritos angélicos. Sem esta importante
exposição ficaria incompleta a descrição desta santíssima Vida.

Forma visível dos anjos

363. Supondo tudo o que já disse sobre as ordens, hierarquias e diferenças destes mil anjos, direi aqui a
forma na qual apareciam corporalmente à sua Rainha e Senhora. Remeto as aparições intelectuais e imaginárias para
outros capítulos , onde intencionalmente falarei das diversas espécies de visões
que a Senhora gozava.
Os novecentos anjos escolhidos dos nove coros, cem de cada um, foram
nomeados entre aqueles que mais se distinguiram na estima, amor e admirável
reverência por Maria Santíssima. Quando lhe apareciam, vinham na forma dc
jovem de extrema formosura e agrado, o corpo quase nada demonstrava de terreno, porque era claríssimo e como um
cristal animado e banhado de glória imitando os corpos gloriosos e refulgentes.
À beleza uniam grande compostura e amável gravidade. As vestes eram
roçagantes, translúcidas, semelhantes a brilhante ouro esmaltado com matizes de
finíssimas cores, formando admirável e belíssimo conjunto para o olhar. Todo
aquele ornato visível, ainda que perceptível aos olhos, não era materialmente
tangível, nem se poderia pegar com a mão. Era semelhante à luz do sol quando
entra por uma janela e deixa ver os átomos do ar, mas incomparavelmente mais
bela e vistosa.

Beleza dos anjos

364. Traziam na cabeça coroa de finas e vivíssimas flores que desprendiam suavíssima fragrância de perfumes
não terrenos, suaves e espiritualizados.
Nas mãos levavam palmas tecidas de variedade e formosura, significando as
virtudes que Maria Santíssima praticaria e as coroas que conquistaria com tanta
santidade e glória. Coroas e palmas que estavam como a lhe oferecer antecipadamente, de modo velado,
mas com júbilo e alegria.
- No peito traziam certa divisa ou dístico, mais ou menos como os distintivos dos hábitos das Ordens militares,
com as palavras "Maria Mãe de Deus".
Para aqueles santos príncipes eram de muita glória, adorno e beleza, mas a
Rainha não foram manifestados, até o momento em que concebeu o Verbo encarnado.

Maria, Mãe de Deus

365. Esta divisa era admirável
lo grande brilho que irradiava, salientando-se entre os refulgentes adornos
dos anjos. Variavam também nos reflexos e raios, que representavam os
diferentes mistérios e excelências desta
santa Cidade de Deus. Continham o maior
renome e o mais sublime título e dignidade que pode caber em pura criatura:
"Maria Mãe de Deus".
Com este elogio prestavam a suprema homenagem à sua Rainha e nossa,
ficando eles também honrados por lhes
pertencer, e recompensados por se haverem distinguido na devoção e
veneração à criatura mais digna de ser venerada entre todas. Mil vezes ditosa
as que merecerem a singular correspondência do amor de Maria e de seu Filho
Santíssimo.
profunda humildade, afetos tão ternos,
que não se podem dignamente encarecer, pois considerava-se inepta e indigna
para tão inefável mistério e dignidade de
Mãe de Deus.
Os setenta serafins
367. Os setenta serafins, dos
mais próximos ao trono e que assistiam
à Rainha, foram os que se salientaram na
devoção e complacência da união
hipostática das duas naturezas, divina e
humana, na pessoa do Verbo. Estando
mais próximos a Deus pelo conhecimento e amor, tiveram particular desejo de
que este mistério se realizasse no seio de
uma mulher. A este sentimento lhes
correspondeu o prêmio de glória essencial e acidental. A esta última, de que
vou falando, pertenceu o encargo de
assistir Maria Santíssima e aos mistérios
que nela se operaram.

 

Senhora do céu, mas dc natureza humana e terrena. Cobriam-na em sinal de
veneração, reconhecendo-a suprema criatura entre todas, de incompreensível
dignidade e grandeza, imediata ao mesmo Deus, acima de todo o entendimento
e juízo criado. Também por isto encobriam os pés, significando que os passos
de tão elevados serafins, não podiam ser
comparados aos de Maria por sua dignidade e excelência.

Os serafins refletiam a divindade

369. Com as duas asas do peito
voavam ou as estendiam, dando a entender seu incessante movimento e vôo de
amor para Deus, e o louvor e profunda
reverência que lhe prestavam. No interior do peito, como num espelho puríssimo
no seu modo de ser e agir, refletiam para
Maria Santíssima os reflexos da Divindade, pois enquanto viadora não era
possível que Deus se lhe mostrasse continuamente em si mesmo. Por este motivo
ordenou a beatíssima Trindade que sua
Filha e Esposa tivesse nestes serafins,
as criaturas mais próximas de sua Divindade, uma viva imagem do original que
Ela nem sempre podia ver claramente.

Comunicação angélica

370. Deste modo, gozava a divina Esposa, na ausência de viadora, do
retrato de seu amado. Abrasava-se toda a chama de seu santo amor, na vista e
comunicação com estes inflamados e supremos príncipes.
O modo de se comunicar com eles, além do sensível, era o mesmo que
eles usam entre si, os superiores ilustrando aos inferiores, como outras vezes
tenho dito . Não obstante, a Rainha lhes ser superior em dignidade e graça
em a natureza - como disse David, salmo 8, 6 - o homem foi feito inferior aos anjos, e a ordem comum de transmitir e
receber estas influências divinas, segue a natureza e não a graça.

Os doze anjos das doze portas

371. Os outros doze anjos são os das doze portas de que S. João falou
no capítulo 21 do Apocalipse (v. 12) como  cima disse . Distinguiram-se no afeto e
louvor de que Deus se encarnasse, a fim de ser mestre e companheiro dos homens,
para depois redimi-los e lhes abrir, com seus merecimentos, as portas do céu, tendo por coadjutora sua admirável Mãe.
Consideraram particularmente estes santos anjos, as maravilhosas obras
e caminhos que Deus ensinaria para os homens alcançarem a vida eterna, simbolizados nas doze portas correspondentes à
doze tribos.
A recompensa desta singular devoção, foi serem por Deus nomeados
para testemunhas e secretários dos mistérios da Redenção, e colaboradores da
Rainha do céu no privilégio de ser mãe de misericórdia e medianeira dos que a Ela
recorrem para se salvar. Por isto. disse, acima que a Rainha se serve principalmente destes doze anjos para amparar,
esclarecer e defender seus devotos, e em particular para os tirar do pecado, quando
juntamente com Maria, eles invocam estes anjos.

Ofícios dos doze anjos

372. Estes doze anjos lhe apareciam corporalmente, como falei dos
limeiros, mas levavam muitas coroas e
^almas, reservadas para os devotos desta Senhora. Serviam-na dando-lhe a
conhecer a inefável piedade do Senhor Io gênero humano. Inspiravam-na a
louvá-lo e a pedir-lhe que usasse dessa piedade com os homens. Para este fim
enviava-os como portadores de suas súplicas ao trono do eterno Pai.
Estes anjos eram mandados também para inspirar e socorrer os devotos
que A invocavam ou que Ela queria acudir e proteger. Mais tarde isso
aconteceria muitas vezes com os santos Apóstolos, a quem, por ministério dos
anjos, auxiliava nos trabalhos da primitiva Igreja. Até hoje, do céu, exercem estes
doze anjos o mesmo ofício, assistindo aos devotos de sua e nossa Rainha.
das e petições para o bem das almas.

Os anjos da Paixão

373. Os dezoito anjos que faltam para completar o número de mil, foram
os que se distinguiram na compaixão pelos sofrimentos do Verbo humanado;
por isto, foi grande seu prêmio e glória.
Apareciam a Maria Santíssima com admirável beleza, levando como ornamento muitos distintivos da Paixão e
de outros mistérios da Redenção. Tinham o particular ornato de uma cruz no peito
e outra no braço, ambas de singular formosura e refulgente esplendor.
A vista de tão peregrino hábito despertava na Rainha grande admiração, a
mais tema e compassiva lembrança do que o Redentor do mundo haveria de padecer,
assim como fervorosa gratidão pelos benefícios que os homens receberiam dos
mistérios da Redenção e resgate de seu cativeiro. Servia-se a grande Princesa destes anjos para enviá-los muitas vezes a seu
Filho Santíssimo, com diversas embaixa Perfeições angélicas

374. Com a descrição das formas e divisas destes anjos, declarei
alguma coisa das perfeições e operações destes espíritos celestiais, porém muito
menos do que possuem. São uns invisíveis raios da Divindade, agilíssimos em
seus movimentos e operações, fortíssimos no poder, perfeitíssimos no entender sem
errar, imutáveis em suas capacidades e vontade; o que uma vez aprendem nunca mais esquecem nem perdem de vista.
Acham-se repletos de graça e glória sem perigo de perdê-las. Sendo
incorpóreos e invisíveis, quando o Altíssimo quer conceder aos homens o
favor de os ver, tomam corpo aéreo e aparente, adequado ao sentido e à finalidade para a qual o assumem.
Todos estes mil anjos da Rainha Maria eram dos superiores, de suas
respectivas ordens e coros, consistindo esta superioridade principalmente no grau de graça e glória.
Assistiram à guarda desta Senhora, sem faltar um instante, durante sua
vida santíssima, e agora no céu têm especial e acidental gozo com sua vista e
companhia. Ainda que alguns deles são distintamente enviados por Ela, todos mil
servem para este ministério, em algumas ocasiões que a disposição divina determina.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CÉU.
Gratidão a Deus por nos ter dado anjos custódios

375. Minha filha, em três recomendações quero te dar a doutrina deste
capítulo. A primeira, para seres agradecida, com eterno louvor e reconhecimento,
ao benefício de Deus em te dar anjos para te assistir, ensinar e guiar em tuas tribulações e trabalhos.
Ordinariamente esquecem os mortais esta graça, com odiosa ingratidão e detestável grosseria. Não
consideram a divina misericórdia e benignidade do Altíssimo em mandar estes
santos príncipes para assistir, guardar e defender criaturas terrenas, cheias de
misérias e culpas, sendo eles de natureza tão superior e espiritual, cheios de tanta
glória, dignidade e beleza. Com este esquecimento privam-se os ingratos
homens de muitos favores dos mesmos anjos, e irritam ao Senhor. Tu, porém,
caríssima, reconhece esta graça e a ela corresponde com todas as tuas forças.

Respeito à presença do Anjo

376. A segunda recomendação seja que, sempre e em todo lugar, tenhas
amor e reverência a estes divinos espíritos, como se os visse com os olhos do
corpo. Vive advertida e circunspecta na presença dos cortesãos do céu, e não te
atrevas a proceder diante deles como não procederias diante de outras criaturas.
Não deixes de fazer no serviço do Senhor o que eles fazem e de ti desejam. Lembra-te que eles estão sempre
vendo a face de Deus (Mt 18, 10), como bem-aventurados, e quando ao mesmo
tempo te olham, nada vejam menos decente. Agradece-lhes por te guardarem
defenderem e ampararem.

Docilidade às inspirações do anjo

377. A terceira recomendação, é para viveres atenta aos chamamentos,
avisos e inspirações com que eles te despertam, movem e iluminam, paradirigirtua
mente e coração à lembrança do Altíssimo, e ao exercício de todas as virtudes. Considera quantas vezes tu os chamas e eles te
atendem. Sempre que os procuras os encontras. Todas as vezes que lhes pediste
notícias de teu amado as têm dado. Quantas outras te chamaram ao amor de teu Esposo
e repreenderam bondosamente teus descuidos e omissões!
E, quando por tuas fraquezas e tentações perdeste a direção da luz, eles
te esperaram, suportaram e te esclarecendo trouxeram de novo ao caminho
certo das justificações e testemunhos do Senhor. Não esqueças quanto deves a
Deus por este benefício, mais do que muitas nações e gerações. Esforça-te por
ser grata a teu Senhor e aos anjos, seus ministros.



11-67
Novembro 27,1913

A Divina Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra.

(1) Meu sempre amável Jesus continua me falando de sua santíssima Vontade:
(2) "Minha filha, por quantos atos completos de minha Vontade faz a criatura, tantas partes de
Mim toma em si, e por quanto mais toma de minha Vontade, tanta luz adquire e dentro de si
forma o sol, e como este sol se formou da luz que toma de minha Vontade, os raios deste sol
estão concatenados com os raios do meu Sol Divino, assim que um se reflete no outro, um
flecha ao outro e mutuamente se flecham, e enquanto isso fazem, o sol que minha Vontade
formou na alma vai se engrandecendo sempre mais".
(3) E eu: "Jesus, estamos sempre aqui, em tua Vontade, parece que não tens outra coisa que
dizer".
(4) E Jesus: "Minha Vontade é o ponto mais alto que pode existir no Céu e na terra, e quando a
alma chegou a Ela, subjugou tudo e fez tudo, e não lhe resta mais que habitar no alto destas
alturas, gozá-las e compreender sempre mais esta minha Vontade, ainda não bem
compreendida nem no Céu nem na terra. É preciso tempo para estar conosco, porque pouco

compreendeste e muito te falta compreender, a minha Vontade é tal, que quem a faz pode dizer-
se deus da terra, e como a minha Vontade forma a beatitude do Céu, Assim estes deuses que

fazem a minha Vontade formam a beatitude da terra e daqueles que estão com eles, e não há
bem que sobre a terra exista, que não se deva atribuir a estes deuses da minha Vontade, ou
como causa direta ou indireta, mas tudo a eles se deve. E assim como no Céu não há felicidade
que de Mim não saia, assim na terra não há bem que exista que não venha deles".

+ + + +

11-68
Março 8,1914
Quem está na Divina Vontade, tudo o que Jesus faz, pode dizer é meu. Vivendo e
morrendo no Divino Querer não há bem que a alma não se leve com ela.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre amável Jesus não deixou de me falar
continuamente da sua Santíssima Vontade; direi o pouco que recordo. Então, não estando bem,
ao vir o bendito Jesus me disse:

(2) "Minha filha, que está em minha Vontade, tudo o que Eu faço, a alma pode dizer é meu,
porque a vontade da alma está tão fundida com a minha, que o que faz minha Vontade faz ela,
assim que vivendo e morrendo em meu Querer não há bem que com ela não leve, porque não
há bem que a minha Vontade não contenha, e de todos os bens que fazem as criaturas a minha
Vontade é a vida, então, morrendo a alma na minha Vontade leva consigo todas as missas que
se celebram, as orações e as boas obras que se fazem, porque todas são frutos da minha
vontade, e além disso, tudo isto é muito menos em comparação com o agir mesmo da minha
vontade que a alma leva consigo como seu, basta um instante do agir da minha vontade para
superar todo o agir de todas as criaturas passadas, presentes e futuras Assim que a alma
morrendo em minha Vontade, não há beleza que a iguale, nem altura, nem riqueza, nem
santidade, nem sabedoria, nem amor, nada, nada a pode igualar, assim que a alma que morre
em minha Vontade, ao ingresso que fará na pátria celestial não somente se abrirão as portas do
Céu, senão que todo o Céu se abaixará para fazê-la entrar na celestial morada, para fazer honra
ao obrar de minha Vontade; que te dizer além disso, a festa, a surpresa de todos os bem-
aventurados ao ver esta alma toda selada pelo obrar da Vontade Divina; ao ver nesta alma que
tudo tem feito em meu Querer, que tudo o que tem feito em vida, cada palavra, cada
pensamento, obra, ação, etc., são tantos sóis que a adornam e um diverso do outro na luz e na
beleza; ao ver nesta alma os tantos rios divinos que inundarão todos os bem-aventurados, e que
não podendo contê-los o Céu correrão também na terra para bem dos viagantes.

(3) Ah! minha filha, a minha Vontade é o portento dos portentos, é o segredo para encontrar a
luz, a santidade, as riquezas; é o segredo de todos os bens, e não é conhecido, e portanto nem
apreciado nem amado. Pelo menos, o apraz e ama-o, e faze-o conhecer quantos quiseres".
(4) Outro dia, estando sofrendo sentia que não podia fazer nada e me sentia oprimida por isto, e
Jesus me apertando toda me disse:

(5) "Minha filha, não te inquietes, busca somente o estar abandonada em minha Vontade, e Eu
farei tudo por ti, porque é mais um só instante em minha Vontade, que tudo o que poderias fazer
de bem em toda tua vida".
(6) Recordo também que outro dia me disse:

(7) "Minha filha, que verdadeiramente faz a minha Vontade, pode dizer que tudo o que se
desenvolve nela, tanto na alma como no corpo, o que sente, o que sofre, pode dizer: "Jesus
sofre, Jesus está oprimido". Porque tudo o que as criaturas me fazem chega-me até à alma na
qual habito, porque faz a minha vontade, assim que se as friezas das criaturas me chegam, a
minha vontade as sente, e sendo a minha Vontade vida dessa alma, por consequência acontece
que também a alma as sente, assim, em vez de afligir-se por estas friezas como suas, deve estar
ao redor de Mim para consolar-me e reparar-me pelas friezas que mandam as criaturas; assim
se sente distrações, opressões e outras coisas, deve estar ao redor de Mim para aliviar-me e
reparar-me, não como coisas suas mas como minhas, por isso a alma que vive de minha
Vontade sentirá muito diversas penas, segundo as ofensas que me fazem as criaturas, mas as
sentirá repentinamente e quase de sobressalto, como também sentirá gozos e contentamentos
indescritíveis, e se nas penas deve ocupar-se em consolar-me e em reparar-me, nas alegrias e
nos contentamentos deve ocupar-se em gozá-los, e então minha Vontade encontra sua
compensação, de outra maneira ficará contristada e sem poder desenvolver o que contém o meu
Querer".

(8) Outro dia me disse: "Minha filha, que faz minha Vontade, absolutamente não pode ir ao
purgatório, porque minha Vontade purga a alma de tudo, e tendo tido em vida tão zelosamente
guardada em meu Querer, como poderei permitir que o fogo do purgatório a toque? Além disso,
quando mais lhe poderá faltar algum adorno, e minha Vontade antes de lhe revelar a Divindade,
vai adornando-a de tudo o que lhe falta e logo me revele".

12-57
Agosto 1, 1918

Efeitos da privação de Jesus.

(1) Passo-a entre privações e ânsias, e freqüentemente me lamento com meu doce Jesus,
então Ele veio e aproximando-se me apertou ao seu coração e me disse:
(2) "Bebe do meu lado".
(3) Eu bebi o santíssimo sangue que brotava da chaga de seu coração. Como me sentia feliz!
Mas Jesus não ficou feliz em me fazer beber a primeira vez, disse-me para beber a segunda e
depois a terceira. Eu fiquei maravilhada de sua bondade, pois sem pedir, Ele mesmo queria que
eu bebesse. Depois acrescentou:
(4) "Minha filha, cada vez que te lembras que estás privada de Mim e sofres, teu coração fica
ferido com uma ferida divina, a qual sendo divina tem virtude de refletir-se em meu coração e
feri-lo; esta ferida é doce, é bálsamo para meu coração, E eu me sirvo dela para adoçar-me das
feridas cruéis que me fazem as criaturas, da indiferença a Mim, dos desprezos que me fazem,
até chegar a esquecer-se de Mim. Assim, se a alma se sente fria, árida, distraída, e por isso
sente pena por causa de Mim, fica ferida e me fere, e por isso fiquei aliviado".

12-59
Agosto 12, 1918

A paixão predominante de Luisa, que Jesus a libere do
estado no qual sua Vontade a colocou.

(1) Continuando meu estado habitual, estava pensando entre mim que se o Senhor quisesse
uma coisa de mim, devia dar-me um sinal, e era a de libertar-me da vinda do sacerdote. Então o
bendito Jesus se fez ver em meu interior com uma esfera na mão, como querendo atirá-la à
terra, e depois me disse:
(2) "Minha filha, esta é tua paixão predominante, que te liberte das condições nas quais minha
Vontade te pôs. Eu te tenho neste estado por causa de todo mundo, e me sirvo de ti para não
jogá-lo e destruí-lo de todo; em troca, qualquer outra coisa com a qual você pudesse fazer o
bem, seria somente uma pequena parte".

(3) E eu: "Jesus meu, eu não sei entender, você me tem sem sofrer, parece que me suspendeu
do estado de vítima, e logo me diz que te serve de mim para não destruir o mundo de todo".
(4) E Jesus: "No entanto é falso que não sofras, no máximo não sofres penas tais para
desarmar-me de todo, e se alguma vez ficas suspensa não é por tua parte, por teu querer,
porque se fosse assim entraria tua vontade. ¡ Ah! tu não podes compreender a doce violência
que me fazes com a tua espera, com sentir-te suspensa, com não me ver como antes, e apesar
disto permanecer no teu posto, sem te apartar em nada; e além disso quero ser livre sobre ti,
quando me agrade te terei suspensa, quando não te terei atada; te quero em poder de minha
Vontade, sem tua vontade; se está contente assim podemos continuar, de outra maneira não".
(5) Outro dia me sentia mal, com o contínuo devolver tudo o que como, e estava dizendo a meu
doce Jesus: "Meu amor, o que perde com me dar a graça de não sentir necessidade de tomar
alimento, pois me vejo obrigada a devolvê-lo tudo?" Digo-o só por obedecer. E meu amável
Jesus me disse:

(6) "Minha filha, o que dizes? Cala-te, cala-te, não o digas mais. Deves saber que se tu não
tivesses necessidade de alimento, eu faria morrer de fome os povos, mas tendo tu necessidade,
podendo servir às tuas necessidades, eu, por amor teu e por causa tua, dou as coisas
necessárias às criaturas, Por isso, se eu te ouvisse, tu irias querer mal aos outros; mas, ao
tomar o alimento e depois devolvê-lo, fazes bem aos outros, e o teu sofrimento glorifica-me. É
mais, quantas vezes enquanto você retorna te vejo sofrer, e como sofre em minha Vontade Eu
tomo teu sofrer, o multiplico e o divido a bem das criaturas e gozo e digo entre Mim: Este é o
pão de minha filha que Eu dou para bem de meus filhos".

14-54
Agosto 26, 1922
As verdades, quanto mais se pensa, se lê, etc., expandem mais o seu perfume.

(1) Estava vendo em meus escritos, de acordo com a obediência, o que devia apontar para
fazê-los copiar e pensava entre mim: "Em que aproveitará tantos sacrifícios, que bem virá
disto?" E enquanto isso pensava e fazia, o bendito Jesus me tomou a mão entre as suas, e
apertando-a fortemente me disse:
(2) "Minha filha, assim como as flores ao serem tocadas expandem com mais intensidade seu
perfume, tanto que se não são tocadas parece que não contêm tanto perfume, e o ar não fica
embalsamado por aquele cheiro, assim minhas verdades, quanto mais se pensam, se lêem, se
escrevem, se falam delas, se difundem, tanto mais perfume expandem, de modo que perfumam
tudo, até o Céu, e Eu sinto o perfume de minhas verdades e me sinto levado a manifestar
outras verdades, vendo que as verdades manifestadas expandem a luz e o perfume que
contêm. Ao contrário, se minhas verdades não são tocadas, o perfume e a luz ficam como
reprimidos e não se expandem, e o bem e o útil que contêm minhas verdades fica sem efeito e
Eu me sinto defraudado na finalidade pela qual manifestei minhas verdades. Por isso, mesmo
que não fosse por outra coisa senão fazer-me sentir o perfume das minhas palavras para me
tornar feliz, devias estar feliz por fazer o sacrifício".

+ + + +

14-55
Agosto 29, 1922

A alma na Divina Vontade recebe todos os bens do obrar de Jesus.

(1) Continuando meu estado habitual, estava pensando em tudo o que meu doce Jesus fez e
sofreu para salvar as almas, e Ele ao vir me disse:
(2) "Minha filha, tudo o que fez minha Humanidade, orações, palavras, obras, passos e penas,
está em ato de dar-se ao homem, mas, quem o toma? Quem recebe o enxerto do meu
trabalho? Quem se aproxima de Mim e, unindo-se a Mim, reza, recebe o enxerto da minha
oração e os bens que ela contém; quem fala, ensina, unido Comigo, recebe o enxerto e os
frutos das minhas palavras; e assim quem trabalha, quem sofre unido Comigo, recebe o enxerto
e os bens que há em minhas penas e obras, de outra maneira todos os bens que adquiri para a
criatura ficam suspensos, e não ficando enxertada Comigo, não desfruta dos bens que minha
Humanidade com tanto amor quer dar; se não houver união os bens de um ficam como mortos
para o outro. Imagine uma roda, o centro da roda é minha Humanidade, os raios são tudo o que
fiz e sofri, a circunferência onde ficam fixados os raios é toda a família humana que gira em
torno do centro; agora, se esta circunferência, este segundo círculo da roda não se aproxima
para receber a fixação dos raios, estes ficam suspensos e não podem comunicar os bens que o
centro da roda contém. Oh! quanto sofro ao ver tantos bens meus suspensos, que a ingratidão
humana não só não recebe mas despreza e espezinha, por isso com tanta ânsia vou em busca
das almas que querem viver em meu Querer, para poder fixar neles os raios de minha roda, e
minha Vontade lhes dará graça para poder formar a circunferência do segundo círculo da roda e
receberão todos os bens que as demais me rechaçam e desprezam".

16-54
Março 13, 1924

A natureza do verdadeiro amor. A Divina Vontade é Luz
puríssima que contém tudo e que inundando a alma lhe leva tudo.

(1) Sentia-me morrer pela privação do meu doce Jesus, e depois de muito esperar moveu-se em
meu interior e me participou suas penas, mas tanto que me sentia sufocar, sentia o estertor da
agonia, porém eu mesma não sei dizer quem era a causa de minhas penas, só me sentia numa luz
imensa, e esta luz se mudava em pena para mim. Então, depois de ter sofrido desse modo, meu
amável Jesus me disse:
(2) "Minha filha, por isso não queria vir, porque eram tantas as penas que Eu sofria que, vindo a ti,
como fiel companheira inseparável de Mim, meu Amor me teria impulsionado a te fazer participar
delas, e eu ver-te sofrer teria sofrido ao ver-te sofrer por causa de mim".
(3) E eu: "Ah meu Jesus, como você mudou! Parece que você não quer mais sofrer junto comigo,
queres fazê-lo sozinho. De resto, se já não sou digna de sofrer junto contigo, não se esconda,
senão vêem mas sem me fazer sofrer, é certo que será um prego muito doloroso para mim não to-
mar parte em suas penas, mas será menos doloroso que sua privação".

(4) E Jesus: "Minha filha, tu não conheces a natureza do verdadeiro amor e por isso falas assim; o
verdadeiro amor não sabe esconder nada da pessoa amada, nem as alegrias nem as penas; só
por um pensamento doloroso, por uma fibra do coração que oculte e que não despeje na pessoa
amada, sente-se como dividido dela, descontente, inquieto, e até mesmo enquanto não derrama
em quem ama todo o seu coração, não lhe é dado encontrar repouso. Então, vir e não verter em ti
todo meu coração, minhas tristezas, minhas alegrias e a ingratidão dos homens, seria-me muito
duro, preferiria estar como escondido no fundo de sua alma, antes que vir e não te fazer participar
de minhas dores e de meus mais íntimos segredos. por isso me contentarei de sofrer ao ver-te so-
frer antes de derramar em ti todo o meu coração".

(5) E eu: "Meu Jesus, perdoa-me, eu disse isto porque Tu disseste que sofrias ao me veres penar,
mas jamais seja que haja alguma coisa que nos deixe divididos no amor; aceito qualquer pena,
mas divididos jamais".

(6) E Jesus acrescentou: "Não temas minha filha, onde está minha Vontade não pode haver sepa-
ração no amor, na verdade, Eu não te fiz nada, foi a luz da minha Vontade que te fez sofrer, Ela,
penetrando em ti como luz puríssima, te levava minhas penas até nas mais íntimas fibras de seu
coração, minha Vontade é mais penetrante que qualquer lança, que qualquer prego, espinho ou
flagelo; ela, como a luz pura, na sua vastidão vê e ajunta tudo, portanto contém o poder de todas
as dores, e conforme ele faz penetrar a sua luz na alma, leva as penas que quer. então, tua vonta-
de e a minha, sendo uma só, a corrente de sua luz te levava minhas penas; assim operava minha
Vontade Divina em minha Humanidade, sua luz puríssima me levava penas a cada respiração, a
cada batimento, a cada movimento, em toda minha pessoa; a Ela nada lhe era oculto, nem do que
se necessitava para reintegrar a glória do Pai por parte das criaturas, nem as ofensas destas, nem
o que se necessitava para colocá-las a salvo, portanto nada me evitava, sua luz puríssima me cru-
cificava as mais íntimas fibras, meus batidos de fogo, assim que me tornava o contínuo crucificado,
não só as mãos e os pés, mas que a sua luz, enquadrando-me tudo, me crucificava as mais pe-
quenas partículas da minha Pessoa.

Ah! se as criaturas soubessem o que fez sofrer minha Vonta-
de Divina a minha Humanidade por amor delas, como por um potente ímã ficariam levadas a me
amar, mas por agora não podem, porque têm o gosto tosco e profanado pela vontade humana, e
não gostariam dos doces frutos das penas da Vontade Divina, muito mais pois vivendo no baixo da
vontade humana não compreenderiam a altura, a potência, a atitude, os bens que contém a Vonta-
de Divina. Mas chegará o tempo quando a Vontade Suprema, fazendo-se caminho em meio a as
criaturas e fazendo-se compreender mais, manifestará as penas que minha Vontade eterna fez so-
frer a minha Humanidade. Por isso, quando a luz da minha Vontade corre em ti, deixa-te enquadrar
por Ela, a fim de que cumpra em você seu perfeito e pleno trabalho, e se não me vê freqüentemen-
te, não se aflija, são os eventos novos que se preparam e coisas imprevistas para o pobre mundo,
mas a luz da minha Vontade não te faltará jamais".

(7) Depois disto, o meu amável Jesus desapareceu e eu senti-me imersa em sua Vontade. Minha
pobre pequenez me sentia ao contato da grandeza, altura e imensidão divina; minha miséria, ao
toque das riquezas divinas; minha feiúra tocava a beleza eterna, assim que em Sua Vontade eu
vivia dos reflexos de Deus, e enquanto eu recebia tudo dele, encontrava tudo e levava toda a
Criação como em meu colo aos pés da Eterna Majestade. Me parecia que em sua Vontade eu não
fazia outra coisa que subir ao Céu e descer à terra, para subir de novo e levar todas as gerações
para amá-lo por todos e fazê-lo amar por Todos. Então, enquanto fazia isso, meu Jesus se fez ver
de novo e me disse:

(8) "Minha filha, como é belo e deleitável ver a criatura viver em nosso Querer; vive a nossos refle-
xos, e enquanto vive de nossos reflexos absorve em si a semelhança de seu Criador, assim que se
embeleza, se enriquece, se engrandece tanto, de poder tomar a todos e trazer-nos tudo, e tomar
de nós tanto amor de poder amar-nos por todos, e Nós encontramos tudo nela, todo o nosso amor
posto fora na Criação, toda a nossa satisfação, nossa alegria e correspondência de nossas obras.

É tal e tanto nosso amor para a alma que vive em nosso Querer, que o que Nós somos por nature-
za, a alma torna-se em virtude de nossa Vontade, tudo vertemos nela, nem sequer uma fibra lhe
deixamos que não esteja cheia do nosso; enchemo-la tanto, até fazê-la transbordar, formar rios e
mares divinos em torno dela, e nestes mares Nós descemos a divertirmo-nos e vemos com amor
as nossas obras, sentindo-nos de todo glorificados. Por isso filha minha, vive na luz puríssima da
minha Vontade, se queres que teu Jesus repita de novo aquelas palavras que disse ao criar o ho-
mem: Em virtude de nossa Vontade, façamos a esta alma a nossa Imagem e Semelhança".

+ + + +

16-55
Março 19, 1924

O Querer Divino é passaporte para entrar em tudo, nas fibras mais íntimas, e com sua virtude multiplica a Vida de Jesus.

(1) Estava a fundir-me no mar imenso do Querer Divino, e o meu doce Jesus saiu de dentro de mim
em ato de abençoar-me, e depois de ter me abençoado me cercou o pescoço com seus braços e
me disse:
(2) "Minha filha, abençoo o teu coração, as tuas batidas, os teus afectos, as tuas palavras, os teus
pensamentos e até ao teu menor movimento, para que todos, com a minha bênção, sejam revesti-
dos de uma virtude divina, de maneira que entrando em meu Querer levem com eles, em virtude de
minha bênção, esta virtude divina e tenham o poder de difundir-se em todos, dar-se a todos, multi-
plicar-me por cada um para me dar o amor, a glória, como se todos tivessem a minha vida em eles,
por isso entra em meu Querer, penetra entre o Céu e a terra, gira por todos. Meu Querer é luz pu-
ríssima e esta luz contém a onividência, o passaporte para poder penetrar nos mais íntimos escon-
derijos, nas fibras mais secretas, no abismo das profundidades e no espaço de altura mais eleva-
da. Este passaporte não precisa de assinatura para ser válido, mas contém em si mesmo este po-
der, porque sendo luz que desce do alto ninguem pode impedir a passagem nem a entrada, e além
disso é rei de tudo e tem o domínio em todas partes. Por isso ponha em giro em minha Vontade
seus pensamentos, suas palavras, seus batimentos, suas penas, todo seu ser, não deixe nada em
si mesma a fim de que com o passaporte da luz de minha Vontade e com minha virtude divina, en-
tre em cada ato de criatura e multiplique minha Vida em cada uma delas. Oh, como estarei conten-
te ao ver que a criatura, em virtude de minha Vontade enche Céu e terra de tantas Vidas minhas
por quantas criaturas existem!"

(3) Então eu me abandonei no Querer Supremo, e girando nele fazia correr os meus pensamentos,
minhas palavras, minhas reparações, etc., em cada inteligência criada e em tudo o demais do agir
humano, e conforme fazia meus atos ficava formado Jesus, como era belo e encantador ver tantos
Jesus por todo o lado que passava o passaporte da luz da Eterna Vontade! Depois encontrei-me
em mim mesma e encontrei Jesus que estava agarrado ao meu pescoço, e apertando-me toda pa-
recia que fazia festa, como se eu fora a causa de multiplicar sua Vida para dar-lhe a honra e a gló-
ria de outras tantas Vidas Divinas então lhe disse:

(4) "Meu amor, não me parece certo que eu possa multiplicar a tua Vida para te dar a grande honra
de tantas Vidas Divinas, além disso Você se encontra por toda parte, portanto é em virtude de Vo-
cê mesmo que surge a cada ato esta Vida, não em virtude minha, eu fico sempre a pequena Meni-
na que não é boa para nada".

(5) E Jesus: "Minha filha, tudo o que tu dizes é verdade, Eu encontro-me por toda a parte, mas é o
meu poder, a vastidão e a onividência que me faz encontrar, não é o amor e o operar da criatura
em minha Vontade o que me faz encontrar e me multiplica; em troca quando a alma entra em meu
Querer, é o amor dela, são seus atos que enchendo-se de virtude divina fazem surgir minha Vida,
segundo que seus atos mais ou menos se estendem e sejam feitos. Eis por que minha festa ao ver
que a criatura toma do meu e me dá meu amor, minha glória e até minha própria Vida, é tanto min-
ha alegria que à criatura não lhe é dado compreendê-lo enquanto vive no exílio, mas o compreen-
derá na pátria celestial, quando se vir correspondida com outras tantas Vidas Divinas por quantas
formou na terra".

19-56
Setembro 7, 1926

Como Deus tem seu trono, sua morada, seu posto estável e fixo.
A Vontade Divina é sol, a vontade humana é uma faísca formada pela ponta dos raios do Querer Supremo.

(1) Estava para retomar meu vôo no Querer Supremo para fazer minha habitual visita no Reino da
Vontade Divina, estender-me em seus confins para fazer ressoar meu te amo, minha adoração,
meu obrigado por cada coisa criada. Agora, enquanto estava a fazer isto pensava entre mim: "Se
Deus está em toda parte, em que aproveita fazer meu vôo no Querer Divino para me pôr até na
altura dos Céus, diante da Majestade Suprema, levando como em meu pequeno regaço todas as
vontades humanas das gerações, para fazer por cada uma das vontades rebeldes meu ato de
sujeição, de amor e de abandono, a fim de que vença a Vontade Divina para fazê-la vir a reinar
sobre a terra, dominante e triunfante entre as criaturas? Então, se ele está por toda parte, posso
fazê-lo também daqui". Enquanto isto pensava, o meu doce Jesus movendo-se dentro de mim
disse-me:.
(2) "Minha filha, olha o sol, sua luz desce e enche toda a terra, mas o sol está sempre acima, sob a
esfera do céu, com toda majestade em sua esfera, dominando e dominando tudo e a todos com
sua luz, mas embora o sol não desça ao baixo, dá os mesmos efeitos, comunica os mesmos bens
por meio de seus raios, como se descesse ele mesmo da altura de sua esfera. Se o sol descesse
de sua altura, a terra sendo muito menor e as criaturas incapazes de resistir a uma luz tão grande,
descendo queimaria e eclipsaria tudo com sua luz e com seu calor, mas como todas as coisas
criadas por Mim contêm a semelhança das entranhas de misericórdia de seu Criador, por isso o sol
está no alto emanando seus raios cheios de bondade, de amor e de bens à pequena terra. Agora,
se isto faz o sol, imagem da verdadeira luz do Sol Divino, muito mais Deus, verdadeiro Sol de luz,
de justiça e de amor, minha Majestade não se move da altura de seu trono, senão que está sempre
firme e estável em seu posto, em sua morada celestial, e mais que o sol emana seus intermináveis
raios, os quais levam seus efeitos, seus bens e comunicam sua própria Vida, como se descesse a
quem quiser recebê-la. Portanto, o que não faz descendo em pessoa o faz com a emanação de
seus intermináveis raios, bilocando-se neles para dar sua Vida, seus bens às gerações humanas.
Agora minha filha, por tua condição de criatura, por teu ofício da missão do Fiat Supremo, cabe a ti
subir sobre aqueles mesmos raios que emana a Majestade Suprema, para pôr-te diante dela para
cumprir teu ofício no seio do Sol Eterno, jogando-te ao princípio de onde saíste, para tomar por
quanto a criatura é possível, a plenitude da minha Vontade, para conhecê-la e manifestá-la aos
demais..
(3) Agora, tu deves saber quais são os vínculos de identificação entre Vontade Divina e humana, e
por isso amo tanto e quero, com direito de criação, de paternidade, de amor e de justiça, que a
vontade humana ceda o posto à minha, e lançando-se como uma pequena criança em seus braços
faça-se sustentar por Ela, nutrir e dominar. O Ente Supremo ao criar o homem fez sair em campo a
minha Vontade, e se bem que como consequência e naturalmente todos os nossos atributos
concorriam, mas o Supremo Querer foi como ato primeiro, o qual tomava como máximo interesse
seu a vida de toda a Criação, compreendido o homem, e por isso se fazia vida de todos,
dominando tudo, fazendo todo seu, porque tudo dela havia saído, por justiça tudo devia ser seu.
Minha Vontade, mais que sol emanou seus raios e com a ponta destes raios, animando a natureza
humana formava a vontade na criatura. Vê então o que é a vontade nas gerações humanas?
Tantas múltiplas pontas de raios, que eram como tantas faíscas nas criaturas, para formar a
vontade neles, mas sem separar estas faíscas do raio que se desprendia do centro do Sol do
Querer Supremo. Assim, todas as gerações humanas giram em torno deste Sol, porque cada uma
das criaturas contém a ponta de um raio deste Sol eterno da minha Vontade. Agora, qual não será
a afronta deste Sol ao ver a circunferência destes raios, cuja ponta forma a vontade de cada uma
das criaturas, convertidas, mudadas em trevas, em natureza humana, desconhecendo a luz, o
domínio, a vida daquele Sol que com tanto amor dava sua Vontade, a fim de que a sua e a das
criaturas fosse uma só, e assim poder formar nelas a Vida Divina? Pode haver uma ligação mais
forte, mais estável e que não possa ser desligada, entre o centro do sol e os seus raios? A luz é
indivisível, e se se pudesse desunir, a parte dividida iria errante e terminaria dissolvendo-se nas
trevas. Assim, entre Vontade Divina e humana há tal união de compenetração, que se pode
comparar à união que há entre o sol e o raio solar, entre o calor e a luz. Não seria direito do sol
dominar seus raios, receber a sujeição deles para formar seu reino de luz sobre sua mesma
circunferência solar? Assim é para minha Vontade, quando a criatura se subtrai dela fica como sem
Reino, sem domínio, sem súditos; sente-se roubar o que é seu, cada ato que não depende de seu
Querer é um rasgo, um furto que se faz a sua luz, e por isso ao ver-se roubar sua luz e convertê-la
em trevas, sofre mais que uma mãe quando se vê arrancar o parto de suas entranhas, não para
dar-lhe vida mas para matá-lo. Assim, as perdas que a minha Vontade faz quando a criatura não
está unida ao seu centro e não vive da luz do seu Querer, são perdas divinas e de valor infinito; os
males da criatura, a feiura que adquire, são incalculáveis e indescritíveis, minha Vontade fica sem
Reino nas criaturas e elas ficam despojadas, sem herança, sem direito aos bens, por isso não
existe outra coisa mais importante, maior, que porá o equilíbrio, a ordem, a harmonia, a
semelhança entre Criador e criatura, senão minha Vontade. Por isso quero fazer conhecer que
coisa é o Querer Divino e o humano, a fim de que nos reconciliemos, e Ela adquira seu Reino e às
criaturas lhes sejam restituídos todos os bens perdidos"..

19-57
Setembro 9, 1926

Jesus quando fala doa o bem que encerra sua palavra. No Divino Querer não haverá escravos, nem rebeldes, nem leis, nem mandatos..

(1) Estava pensando em quanta potência, quantos bens estão encerrados no Santo Querer Divino,
em como nele tudo é paz, tudo é felicidade, em como não se tem necessidade de ordens para agir,
senão que a própria natureza sente em si tal força para o bem, que não pode fazer menos que
isso. Que felicidade sentir-se convertida em bem, em santidade, em força, à própria natureza,
assim que no reino do Querer Supremo não haverá leis, senão que tudo será amor e a natureza
convertida em lei divina, de modo que por si mesma quererá fazer o que o Fiat Supremo quer que
faça. Agora, enquanto isso eu pensava, meu sempre amável Jesus com sua habitual luz que fazia
sair da sua inteligência me disse:.
(2) "Minha filha, tudo o que te disse acerca da minha vontade foram dons que te fiz. O
conhecimento não basta se não se possui o bem que contém o mesmo conhecimento, se isso não
fosse assim te faria infeliz, porque conhecer um bem e não possuí-lo é sempre uma dor. Muito mais
que Eu não sei fazer as coisas pela metade, mas completas, por isso primeiro disponho a alma,
ampliando sua capacidade e depois dôo o conhecimento junto com o bem que contém, e como os
conhecimentos sobre minha Vontade são divinos, Eis por que a natureza é dotada com a
semelhança da Natureza Divina, e então, sendo mais do que filha não espera a ordem, mas sente-
se honrada de fazer, sem ter dito, o que quer o Pai. As leis, as ordens, são para os servos, para os
escravos, para os rebeldes, mas no reino do Fiat Supremo não haverá servos, nem escravos, nem
rebeldes, senão que será uma mesma Vontade de Deus e da criatura, e por isso uma será a Vida.
E é também esta a razão pela qual tanto e tantas coisas estou dizendo acerca da minha Vontade,
para abundar nos dons, não só para ti, mas para quem quiser vir a viver no meu Reino, a fim de
que nada lhe falte, de nada tenha necessidade, mas que possui em si mesmo a fonte dos bens.
Não agiria como o Deus que sou, grande, potente, rico, magnânimo, se, devendo constituir o Reino
da minha Vontade, não dotasse aqueles que devem viver nele com as prerrogativas e qualidades
que possui a minha própria Vontade.

Além disso, você deve saber que como todas as coisas
saíram daquele ato único de Deus, assim tudo deve retornar naquele ato único que não tem
sucessão de atos, e só pode retornar neste ato único, que deixa tudo para viver só de minha
Vontade, porque a alma vivendo nela, tudo o que faz se converte em luz, e naturalmente seus atos
ficam incorporados e fixos na luz eterna do Sol de minha Vontade, e por isso, como conseqüência,
tornam-se um ato com o único ato d‟Ela. Ao contrário, em quem trabalha fora dela, vê-se a matéria
que contém a obra, não luz, e por isso não podem incorporar-se com a luz do ato único de Deus,
portanto logo se verá que não é coisa nossa, que não nos pertence, por isso, tudo o que não for
feito em virtude do Fiat Divino não será reconhecido por Deus. Suponha que você quisesse unir luz
e trevas, cobre e ouro, pedras e terra, não se distinguiriam com clareza a luz das trevas, o cobre do
ouro, as pedras da terra? E isto porque são matérias distintas uma da outra, mas se juntas luz a
luz, trevas a trevas, ouro a ouro, não saberias distinguir nem separar a luz de antes da luz de
depois, as trevas de antes às de depois, a massa de ouro de antes à de depois, Assim é de minha
Vontade, o que Ela mesma faz na criatura é luz, portanto não é maravilha que fique incorporada ao
ato único de sua Eterna Luz. Por isso, graça maior não poderia fazer nestes tempos tão
borrascosos e de carreira vertiginosa no mal, que fazer conhecer que quero dar o grande dom do
Reino do Fiat Supremo, e como confirmação disto o estou preparando em ti com tantos
conhecimentos e dons, a fim de que nada falte ao triunfo de minha Vontade. “Por isso está atenta
ao depósito deste Reino que faço em ti".

(3) Depois disto estava pensativa porque me tinha sido imposto pela santa obediência não deixar
de escrever nem sequer uma palavra que meu doce Jesus me pudesse dizer, enquanto eu sou
muito fácil de omitir algumas coisas, porque estou convencida de que certas coisas íntimas, Certos
desabafos que Jesus faz à minha pequena alma, não é necessário colocá-los sobre o papel, mas
devem ficar no segredo do coração. Então rogava que me desse a graça de não faltar à
obediência, e Jesus movendo-se em meu interior me disse:.

(4) "Minha filha, se quem te guia e te dirige te dá esta obediência, significa que entendeu que sou
Eu quem te fala e o valor que contém até uma só palavra minha. Minha palavra é luz e está cheia
de vida, portanto quem possui a vida a pode dar, muito mais que minha palavra contém a força
criadora, por isso uma só palavra minha pode criar inumeráveis vidas de graça, vidas de amor,
vidas de luz, Vida de minha Vontade nas almas. Você mesma não poderá compreender o longo
caminho que pode fazer uma só palavra minha, quem tem ouvido a escutará, quem tem coração
ficará ferido por ela. Por isso quem te guia tem razão em te dar esta obediência. ¡ Ah, tu não sabes
como o assisto e estou em torno dele enquanto lê os meus e os teus escritos sobre a minha
Vontade, para lhe fazer compreender toda a força das verdades e do grande bem que há nelas; e
ele gira em torno da minha Vontade, e em virtude da luz que sente, dá-te esta obediência. É por
isso que tens de ter cuidado e eu ajudo-te e facilito-te o que achas difícil. Tu deves saber que meu
coração está dilatado, sofre e suspira porque quero fazer conhecer o reino do Fiat Supremo, os
grandes bens que há nele, e o grande bem que receberão aqueles que o possuirão. É exatamente
no meu coração que eu tenho isso e eu sinto explodir, porque eu quero colocá-lo para fora. Não
queres dar-me esse alívio a fim de que o meu coração, pondo-o fora, se alivie e não tenha que
sofrer mais, nem suspirar com suspiros dolorosos? E isto o farás conhecendo o que te manifesto
acerca de minha Vontade, porque, quando fazes isto, me dás campo para abrir os caminhos para
preparar o lugar onde hei de pôr o reino da minha vontade; e, se tu não manifestares o que eu te
digo, me fecharás estes caminhos, e o meu coração se inflamará demais. Por isso deixa-me fazer,
e tu segue-me e não penses nisso".

+ + + +

19-58
Setembro 12, 1926

O vínculo da alma com a Vontade Divina é vínculo eterno. A Humanidade de Nosso Senhor possui o Reino da Divina Vontade, tanto, que toda sua Vida dependia dela. Formar o Reino da Divina Vontade na alma é transmitir nela o que possui a Humanidade de Jesus.

(1) Enquanto parece que meu sempre amável Jesus regressa e eu creio que não o perderei mais,
no mais belo foge como relâmpago e eu permaneço privada d'Aquele que forma a vida de minha
pobre existência, com o duro cravo do delírio de que regresse Aquele que faz surgir o sol em minha
pobre alma. Mas enquanto delirava pelo seu regresso e temia que me tivesse deixado, de
improviso voltou e me disse:.

(2) "Minha filha, não queres convencer-te de que não te posso deixar? Se sua união comigo
estivesse vinculada, formada, selada sobre outra base que não fosse minha Vontade, poderia
temer, mas como está vinculada, escriturada, assinada sobre a base eterna do meu Querer, o
eterno não está sujeito a mutações, mas sim todo o teu ser, os teus desejos, os teus afetos, até as
tuas mais íntimas fibras, estão ligadas por vínculos eternos e meu Querer corre neles para
constituir-se como vida e formá-los com a substância divina e eterna que Ele possui. Pode-se
separar a eternidade? Pode-se algum dia mudar um Deus? Poderá se separar o Ser Supremo de
sua Vontade? Tudo isto é inseparável, indivisível. Assim, tudo o que a minha Vontade une entra na
ordem eterna e torna-se inseparável de Mim, portanto como posso deixar-te? Se isto não fosse
assim, tudo o que minha Vontade fez em ti, seu trabalho, seu fundamento, suas mesmas
manifestações teriam sido um jogo, uma coisa superficial, um modo de dizer, não uma realidade.
Por isso tira esses temores de que Eu poderia te deixar, porque não são coisas que produza e
pertençam à minha Vontade, Ela é firmeza e vínculo indissolúvel. É inconveniente a quem possui
por vida minha Querer, que se ocupe de outra coisa, enquanto que deverias estar totalmente
ocupada em como ampliar os confins de seu Reino, a fim de que triunfe, seja formado em ti e
assim poderias transmiti-lo às pobres gerações que se debatem e se formam a corrente do
redemoinho onde ficarão precipitadas; mas também os castigos são necessários, isto servirá para
preparar o terreno para fazer com que o Reino do Fiat Supremo possa formar-se em meio à família
humana; por isso muitas vidas que servirão de obstáculo ao triunfo de meu Reino, desaparecerão
da face da terra, assim que muitos castigos de destruição sucederão, outros os formarão as
mesmas criaturas para destruir-se uma à outra; mas isto não deve preocupar-se, antes reza para
que tudo aconteça para o triunfo do Reino do Fiat Supremo"..

(3) Dito isto, ele desapareceu. Então eu me ocupei em fazer meu habitual giro na Vontade
Suprema; sua luz me fazia tudo presente, tanto o que fez na Criação, como o que fez na
Redenção. A Vontade Divina bilocada em cada ato que faz nelas, esperava uma visita minha a
cada um destes seus atos para ter a sua pequena filha como companhia, ainda que fosse visita
fugaz onde reinava e dominava como Rainha. ¡¡ Oh! como eu agradeci minha pequena visita em
cada um de seus atos, meu pequeno te amo, a minha adoração mesquinha, o meu
reconhecimento, o meu obrigado, a minha submissão, mas como os seus atos são inumeráveis, eu
nunca tinha acabado de os alcançar a todos. Então, tendo chegado aos atos da Redenção, meu
doce Jesus fazia-se ver como pequeno menino, mas tão pequeno de poder-se fechar no meu peito.
¡ Como era belo, amável, gracioso o ver tão pequeno, passear, sentar-se, pôr-se como em trono de
majestade em minha pequena alma, fornecendo-me sua Vida, seu respiro, suas ações, para fazer
que tudo tomasse d'Ele! Mas enquanto o via em mim como criança, ao mesmo tempo veio também
crucificado, era tanta a tensão de seus membros que se podiam numerar todos os ossos e os
nervos um por um. Agora, se o menino estava fechado em meu peito, o crucificado Jesus se
estendeu em todos os meus membros, não deixando-me nenhuma parte de mim que não fosse
possuída por sua adorável pessoa, sentia mais sua Vida que a minha. Assim, depois de ter estado
algum tempo nesta posição com Jesus, disse-me:.

(4) "Minha filha, minha Humanidade possui o Reino de minha Vontade, tanto que toda minha Vida
dependia dela, assim que com depender dela Eu tinha a inteligência do Supremo Querer, seu
olhar, seu respiro, seu obrar, seus passos, seu movimento e batimento eterno, deste modo formava
o Reino do Fiat Supremo em minha Humanidade, sua Vida e seus bens. Vê então o que significa
formar seu Reino em você? Devo transmitir-te o que possui minha Humanidade, a qual te fornecerá
seu pensamento, seu olhar, seu respiro, e tudo o que possuo para a formação desse Reino. Olhe
quanto amo este Reino, coloco à sua disposição toda minha Vida, minhas penas, minha morte,
como fundamento, guarda, defesa, sustento. Não há nada de Mim que não sirva para manter em
pleno vigor o triunfo e o absoluto domínio da minha Vontade, por isso não te admires se vês em ti
como repetir-se as diversas etapas da minha idade e das minhas obras, e agora me vês menino,
agora jovem, agora crucificado, é o Reino do meu Querer que está em ti, e toda a minha Vida se
alinha dentro e fora de ti para guarda e defesa do meu Reino. Por isso seja atenta, e quando algum
temor te assalte, pense que não está sozinha, senão que tem por ajuda toda minha Vida para
formar este Reino meu em ti, e constantemente segue seu vôo na unidade da luz suprema da
Divina Vontade. Eu te espero lá para te dar as surpresas de retorno, para te dar minhas lições"..

+ + + +

19-59
Setembro 13, 1926

O Ser Divino é equilibrado. O dom do Fiat Divino põe tudo em comum.
A justiça no dar quer encontrar o apoio dos atos das criaturas.

(1) Depois de ter feito minha habitual volta no Supremo Querer, rogava ao bom Jesus, em nome de
sua Criação e Redenção, em nome de todos, desde o primeiro até o último homem, em nome da
Soberana Rainha e de tudo o que Ela fez e sofreu, que o Fiat Supremo fosse conhecido, a fim de
que o seu Reino fosse estabelecido com o seu pleno triunfo e domínio. Mas enquanto fazia isso,
pensava entre mim: "Se o próprio Jesus quer e ama tanto que o seu Reino seja estabelecido entre
as criaturas, por que quer que com tanta insistência se implore? Se quiser pode dá-lo sem tantos
atos contínuos". E meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:.

(2) "Minha filha, meu Ser Supremo possui o perfeito equilíbrio, e também no dar às criaturas
minhas graças, meus dons, e muito mais com este Reino do Fiat Supremo, que é o maior dom que
Eu já tinha dado no princípio da Criação e que o homem com tanta ingratidão me rejeitou. Parece-
te pouco pôr à sua disposição uma Vontade Divina com todos os bens que Ela contém, e não por
uma hora ou por um dia senão por toda a vida? Parece-te pouco que o Criador ponha na criatura a
sua Vontade adorável para poder pôr em comum a sua semelhança, a sua beleza, os seus mares
infinitos de riqueza, de alegrias, de felicidade sem fim? E somente por possuir nossa Vontade a
criatura poderia adquirir os direitos de comunidade, de semelhança e de todos os bens de seu
Criador, sem Ela não pode haver direito de comunidade conosco; e se alguma coisa toma, são
apenas nossos pequenos reflexos e as migalhas de nossos infindáveis bens. Agora, um dom tão
grande, uma felicidade tão imensa, um direito de semelhança divina com a aquisição da nobreza
de nossa filiação, rejeitados! Você crê que seja coisa fácil que a Soberania Divina, sem ser rogada,
sem que nenhum se desse um pensamento de receber este reino do Fiat Supremo, o dê às
criaturas? Seria repetir a história que aconteceu no Éden terrestre, e talvez pior, e além disso
nossa justiça se oporia justamente. Por isso tudo o que te faço fazer, os contínuos giros no Querer
Supremo, tuas orações incessantes para que venha a reinar minha Vontade, tua vida sacrificada
por tão longos anos, nos quais não sabes nem do Céu nem da terra, dirigida ao único fim de que
venha meu Reino, são tantos apoios que coloco diante de minha justiça para que ceda seus
direitos e equilibrando-se com todos nossos atributos, encontre justo que o Reino do Fiat Supremo
seja restituído às gerações humanas. Isto aconteceu na Redenção, se a nossa justiça não tivesse
encontrado as orações, os suspiros, as lágrimas, as penitências dos patriarcas, dos profetas e de
todos os bons do antigo testamento, e além disso uma Virgem Rainha que possuía íntegra a nossa
Vontade, que tomou tudo com o máximo interesse com tantas orações insistentes, tomando Ela
todo o trabalho da satisfação de todo o gênero humano, nossa justiça jamais teria cedido ao descer
do suspirado Redentor no meio às criaturas.

A nossa justiça teria sido inexorável e eu teria dito um
não à minha vinda à terra. E quando se trata de manter o equilíbrio do nosso Ser Supremo, não há
nada a fazer. Agora, quem tem implorado até agora com interesse, com insistência, pondo o
sacrifício da própria vida, para que o Reino do Fiat Supremo venha sobre a Terra e triunfe e
domine? " Nenhum! É verdade que a Igreja recita o Pai Nosso desde que Eu vim à terra, no qual se
pede que venha o teu Reino, a fim de que a minha Vontade se faça como no Céu assim na terra,
mas, quem pensa na petição que fazem? Pode-se dizer que toda a importância de tal petição ficou
em minha Vontade, e as criaturas a recitam por recitá-la, sem entender e sem interesse de obter o
que pedem. Por isso minha filha, tudo está escondido no segredo enquanto se vive sobre a terra,
por isso tudo parece mistério, e se conhece alguma coisa é tão escassa, que o homem tem sempre
que dizer, através de seus véus, sobre tudo o que eu faço em minhas obras, e chegam a dizer: E
por que este bem, por que estes conhecimentos não foram dados antes, enquanto houve tantos
grandes santos? Mas na eternidade não haverá segredos, Eu revelarei tudo e farei ver todas as
coisas e obras minhas com justiça, e que a minha justiça jamais poderia dar este conhecimento se
na criatura não estivessem os atos suficientes para poder dar o que a Majestade Suprema quer
dar.

É verdade que tudo o que a criatura faz é graça minha, mas a minha própria graça quer
encontrar o apoio das disposições e boa vontade da criatura. Portanto, para restabelecer o Reino
de minha Vontade sobre a terra são necessários os atos suficientes da criatura, a fim de que meu
Reino não fique no ar, mas que desça para formar-se sobre os mesmos atos da criatura, formados
por ela para obter um bem tão grande. Eis por que tanto te insisto em girar em todas as nossas
obras, Criação e Redenção, para fazer-te pôr a parte de teus atos, teu te amo, tua adoração, teu
reconhecimento, teu agradecimento sobre todas nossas obras. Muitas vezes o tenho feito Eu junto
contigo, e além disso por cumprimento, depois de tua volta em nossa Vontade, teu estribilho tão
agradável a Nós: Majestade Suprema, tua pequena filha vem ante Ti, sobre teus joelhos paternos,
para pedir-te teu Fiat, o teu reino, que seja por todos conhecido; peço-te o triunfo do teu querer, a
fim de que domine e reine sobre todos. Não sou só eu que te peço, mas junto comigo suas obras,
seu próprio Querer, por isso em nome de todos te peço, te suplico seu Fiat'. Se você souber como
comove nosso Ser Supremo este seu refrão, nos sentimos rogando por todas as nossas obras,
suplicando por nosso próprio Querer; Céu e terra dobram os joelhos para pedir-nos o Reino de meu
Querer Eterno. “Por isso, se quiser, continue seus atos, a fim de que uma vez alcançado o número
estabelecido deles, possa obter o que com tanta insistência suspira"..

+ + + +

19-60
Setembro 15, 1926

Custódia e vigilância de Jesus enquanto escreve. Como o Reino do
Fiat custa muito. Os atos feitos no Fiat são mais do que sol.

(1) Depois de ter escrito quatro horas ou mais, sentia-me toda extenuada de forças, e tendo-me
posto a rezar segundo o meu costume no seu Santíssimo Querer, o meu doce Jesus saiu de dentro
de mim e estreitando-me a Si, todo ternura me disse:.
(2) "Minha filha, estás cansada, senta-te nos meus braços. Quanto custa a Mim e a ti o Reino do
Fiat Supremo! Enquanto todas as outras criaturas, quem dorme à noite, quem se diverte e quem
chega até me ofender, mas para mim e para ti não há descanso, nem sequer de noite, tu ocupada
em escrever e eu em vigiar-te, em dar-te as palavras, os ensinamentos que correspondem ao
Reino do Querer Supremo; e enquanto te vejo escrever, para te fazer trabalhar mais e não te fazer
cansar te sustento em meus braços, a fim de que escreva o que quero, para poder dar todas os
ensinamentos e as prerrogativas, os privilégios, a santidade e as riquezas infinitas que este meu
Reino possui. Se você soubesse quanto te amo e quanto gozo ao te ver sacrificar ainda o sonho e
toda você mesma por amor de meu Fiat que ama tanto fazer-se conhecer às gerações humanas.
Custa-nos muito, é verdade minha filha, e Eu para te compensar, quase sempre depois de que
escreveste te faço repousar sobre meu coração quebrado e abatido pela dor e pelo amor: pela dor
porque meu reino não é conhecido, e pelo amor porque quero fazê-lo conhecer, a fim de que tu,
sentindo a minha dor e o fogo que me queima, sacrifiques a ti mesma e não te perdoes em nada,
tudo pelo triunfo da minha Vontade".

(3) Então, enquanto estava nos braços de Jesus, a luz imensa da Vontade Divina, que enchia Céu
e terra, chamava-me a girar Nela para fazer-me fazer meus habituais atos, para fazer-me colocar
meu „te amo', minha adoração em toda a Criação, a fim de que tivesse a companhia de sua
pequena filha em cada uma das coisas criadas onde Ela reina e domina. Depois de ter feito isso,
meu doce Jesus me disse:.

(4) "Minha filha, que luz, que poder, que glória adquire o ato da criatura feito em minha Vontade,
estes atos são mais que sol, que enquanto está no alto, sua luz eclipsa as estrelas e enche toda a
terra, levando seu beijo a todas as coisas, seu calor, seus benéficos efeitos, e como a natureza da
luz é a expansão, não faz trabalho de mais dar os bens que naturalmente possui a quem os queira.
Símbolo do sol são os atos feitos em meu Querer; conforme se forma o ato, meu Querer lhe
fornece a luz para formar o sol, o qual se eleva no alto, porque a natureza do sol é de estar no alto,
não no baixo, de outra maneira não poderia fazer o bem que faz, Porque as coisas que estão no
baixo são sempre circunscritas, individuais, a tempo, a lugar, não são nem sabem produzir bens
universais. Assim este sol formado por minha Vontade e pelo ato da criatura, elevando-se ao trono
de Deus, forma o verdadeiro eclipse: eclipsa o Céu, os santos, os anjos; a grandeza de seus raios
tomam como em um punho a terra; sua luz benéfica leva ao Céu a glória, a alegria, a felicidade, e à
terra a luz da verdade, faz fugir as trevas, leva a dor da culpa, o desapontamento das coisas que
acontecem. Um é o sol, mas sua luz contém todas as cores e todos os efeitos para dar vida à terra.
Assim, um é o ato, um é o Sol de minha Vontade formado nesse ato, mas os bens, os efeitos são
inumeráveis. Por isso o Reino do Fiat Supremo será Reino de luz, Reino de glória e de triunfo; a
noite do pecado não entrará nele, senão que será sempre pleno dia, seus refulgentes raios serão
tão penetrantes, que triunfarão sobre o abismo no qual caiu a pobre humanidade. Por isso te disse
tantas vezes que teu trabalho é grande por te haver confiado minha Vontade Divina, a fim de que
com o fazê-la conhecer, tu ponhas a salvo seus direitos, tão desconhecidos pelas gerações
humanas, e os bens que disto virão serão grandíssimos, e você e eu seremos duplamente felizes
por ter trabalhado na formação deste Reino".
(5) Depois disto estava pensando entre mim: "Meu amado Jesus diz tantas coisas admiráveis deste
Reino tão santo do Querer Supremo, mas aparentemente, externamente não se vê nada destas
coisas admiráveis. Se se pudessem ver os prodígios, os grandes bens, a felicidade Dele, a face da
terra se mudaria e nas veias humanas correria um sangue puro, santo, nobre, de modo a converter
a mesma natureza em santidade, em alegria e em paz perene". Enquanto eu estava nisso, Jesus
saiu de dentro de mim e me disse:.

(6) "Minha filha, este Reino do Fiat Supremo deve primeiro fundar-se, formar-se, amadurecer entre
Eu e você, e depois deve transmitir-se às criaturas. O mesmo aconteceu entre Eu e a Virgem,
primeiro me formei nela, cresci em seu seio, nutri-me de seu peito, vivemos juntos para formar
entre os dois, ao tu por tu, como se nenhum outro houvesse, o Reino da Redenção, e depois foi
transmitida às outras criaturas a minha própria Vida e os frutos da Redenção que a minha própria
Vida continha. Assim será com o Fiat Supremo, o faremos primeiro entre nós dois sozinhos, ao tu
por tu, e quando estiver formado Eu pensarei em como transmiti-lo às criaturas. Um trabalho é mais
fácil fazê-lo chegar a bom termo quando se forma no segredo, no silêncio de duas pessoas que
verdadeiramente amam aquele trabalho, e quando está formado torna-se mais fácil manifestá-lo e
dá-lo como dom aos outros. Por isso deixa-me fazer e não te dês nenhum pensamento".

 

Graças a Deus. acabou volume 19



20-57
Fevereiro 9, 1927

Incapacidade de escrever. Assim como o sol dá sempre luz, assim o Supremo Querer quer dar sempre a luz de suas manifestações. O que acontece quando se deixa de escrever o que Jesus diz.

(1) Sentia que não queria escrever porque me sentia incapaz, e não só isso, mas era tal e tanta a prostração das forças que sentia, que não podia fazê-lo, e pensava em mim que talvez não fosse mais Vontade de Deus que eu escrevesse, de outra maneira me daria mais ajuda e mais força, e
além disso se Ele quiser pode escrever sem mim". E meu sempre amável Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(2) "Minha filha, o sol dá sempre luz, não se cansa jamais de fazer seu curso e de investir a superfície da terra, e seu triunfo é quando encontra a semente para fazê-la germinar e desenvolvê-la para multiplicá-la, a flor para dar-lhe a cor e o perfume, o fruto para lhe dar a doçura e o sabor. O sol ao comunicar seus efeitos mostra com os fatos que é o verdadeiro rei da terra, por isso triunfa quando encontra a quem poder comunicar seus efeitos e exercitar seu ofício real sobre toda a natureza; em troca onde não encontra, em certas terras, nem sementes, nem flores, nem plantas,
nem frutos, não pode comunicar seus efeitos, se os tem todos nele e por isso se sente sem triunfo, é como um rei sem súditos, que não pode exercitar seu ofício, e por isso, como indignado porque não pode comunicar seus efeitos queima tanto aquela terra, que a faz estéril e incapaz de produzir um fio de erva. Agora minha filha, o sol é símbolo de minha Vontade e Ela por natureza sua, na alma onde reina quer fazer seu curso de luz, e como sua luz possui inumeráveis efeitos, não se cansa jamais nem se esgota, e por isso quer comunicar seus efeitos, e é seu triunfo quando
encontra em ti as disposições, nas quais mais que sementes, flores e frutos pode comunicar seus efeitos, o perfume, a cor, sua doçura, que convertendo-se em conhecimentos que a Ela pertencem forma o encanto de seu jardim, e o meu Fiat Divino, mais do que o sol, sente-se rei que pode exercer o seu ofício real, sente que não só tem os seus súditos, mas também a sua filha, à qual comunica os seus efeitos, as suas manifestações, assim lhe comunica as semelhanças de rainha, e isto é todo o seu triunfo, transformar a alma em rainha e enfeita-la com as vestes reais.

E como todas as minhas manifestações sobre o Fiat Supremo formarão o novo jardim dos filhos do meu Reino, por isso quer dar sempre com a sua luz os seus efeitos em ti, para formá-lo rico e opulento de todas as espécies de flores, frutos e plantas celestiais, de modo que todos, atraídos pela variedade de tantas belezas, se sentirão como arrebatados e buscarão viver em meu Reino. Agora, se em ti faltassem as disposições para receber as comunicações dos efeitos do Sol da minha Vontade e de tirá-los para escrevê-los, para fazer conhecer o bem que Ela contém e seus inéditos prodígios, minha Vontade faria como o sol, te queimaria, de modo que ficaria como terra estéril e infecunda, e além disso, como posso escrever sozinho sem você? Minhas manifestações devem ser palpáveis, não invisíveis, devem cair sob os sentidos das criaturas, as coisas invisíveis o olho humano não tem virtude de olhá-las, seria como se te dissesse: ¨Escreva sem tinta, sem caneta e sem papel.¨ Não seria absurdo e irracional? Então devo servir as minhas manifestações para uso de criaturas formadas de alma e corpo, também Eu tenho necessidade da matéria para escrever, e me a deves emprestar tu, assim que tu me serves de tinta, de pena e de papel, e com isto formo em ti meus caracteres, e tu, sentindo-os em ti, os faz sair e os torna palpáveis escrevendo no papel. Por isso você não pode escrever sem Mim, te faltaria o tema, o sujeito, o ditado diante para copiar, portanto não saberia dizer nada, e Eu não posso escrever sem você, me faltariam as coisas principais para escrever: O papel de sua alma, a tinta de seu amor, a pena de sua vontade. Por isso é um trabalho que devemos fazer juntos e de acordo de ambas as partes".

(3) Então, enquanto escrevia, pensava em mim: "Antes de escrever certas pequenas coisas que Jesus me diz, me parecem de pouca importância e por isso não me parece necessário colocá-las no papel, mas no ato de escrevê-las, o modo em que Jesus as ordena em meu íntimo muda a cena
e me parecem pequenas na aparência, mas de grande importância na substância. Sendo assim, que contas darão a Deus aqueles que tiveram e têm autoridade sobre mim, quando não se impuseram com a obediência para fazer-me escrever, quantas coisas omiti quando não recebi nenhuma ordem? E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:

(4) "Filha, certamente que me hão de prestar contas. Se acreditam que sou Eu, a conta será muito minuciosa, porque acreditar que sou Eu e não levar em conta até uma só palavra, é como se quisessem sufocar um mar de bem para utilidade das criaturas, porque minha palavra parte sempre
da força da potência criadora, com efeito, um Fiat disse na Criação e estendi um céu tachado com inumeráveis milhões de estrelas, outro Fiat e formei o sol; não disse vinte palavras para formar outras tantas coisas na Criação, mas um só Fiat bastou-me. Agora, minha palavra ainda contém
sua potência criadora, e não podem saber se minha palavra está destinada a formar um céu, uma estrela, um mar, um sol para as almas, portanto não levando em conta e não colocando-as à vista das criaturas, me vêm a rejeitar em Mim mesmo este céu, este sol, estrelas e mar que poderiam
fazer tanto bem às criaturas, e o dano que viria será imputado àquele que não dando importância o tem sufocado dentro de Mim. Se não acreditam que sou eu, pior ainda, porque são tão cegos que não têm olhos para ver o sol da minha palavra, e a incredulidade leva à obstinação e à dureza do
coração, em vez disso, a crença amolece o coração e o dispõe a fazer-se subjugar pela graça e a dar-lhe a vista para poder compreender minhas verdades".

21-6
Março 13, 1927
Como a Vontade Divina não deixa ninguém. Como Ela tem a virtude regeneradora e tem tudo em seu próprio punho.

(1) Minha pobre existência vive sob a pesada pressão da privação de meu doce Jesus, as horas me parecem séculos sem Ele e sinto todo o peso de meu duro exílio. Oh Deus! que pena viver sem Aquele que forma minha vida, meu coração, meu fôlego. Jesus, que duro rasgo é para mim tua
privação, tudo é obstáculo, tudo é dificuldade, como pode resistir a bondade de teu terno coração me ver tão paralisada unicamente por tua causa? Como pode me deixar por tanto tempo? Não te ferem mais meus suspiros, não te comovem meus gemidos, meus delírios que te buscam, não por
outra coisa senão porque querem a vida, é vida o que quero, não outra coisa, e você me nega esta vida? Jesus, Jesus! Quem diria que você teria me deixado por tanto tempo. Ah! Volte, volte, porque não posso mais. Então enquanto desabafava minha dor, meu amado Jesus, minha doce Vida se moveu em meu interior e me disse:

(2) "Minha filha, se a ti parece que te deixei e não sentes a minha Vida em ti, a minha Vontade não te deixou, mas sim a sua Vida em ti estava na sua plenitude, porque Ela não deixa a nenhum, nem sequer aos condenados no inferno, mas bem ali está cumprindo sua Justiça inexorável e
irreconciliável, porque no inferno não há reconciliação, antes forma seu tormento; é justo que quem não quis recebê-la para ser amado, feito feliz, glorificado, a receba para ser atormentado e humilhado. Por isso a minha vontade não deixa a nenhum, nem no Céu, nem na terra, nem no inferno, tem tudo em Si como em seu próprio punho, nenhum pode lhe escapar, nem o homem, nem o fogo, nem a água, nem o vento, nem o sol, onde quer que tenha o seu império e estenda a tua Vida imperando e dominando tudo. Se nada deixa e tudo investe, poderia acaso deixar a sua pequena filha primogênita onde concentrou seu amor, sua Vida e seu Reino? Porque, se bem que a minha Vontade Divina se estenda por toda a parte e tenha sobretudo o seu império, se a criatura a ama, faz-se todo o amor e dá o seu amor; se a quer como vida, forma sua Vida Divina nela; se a  quer fazer reinar, se forma seu Reino, desenvolve seus atos segundo as disposições das criaturas;

Tem a virtude regeneradora, regenera a Vida Divina, a santidade, a paz, a reconciliação, a felicidade, regenera a luz, a beleza, a graça; Ela sabe fazer tudo, dá-se a todos, estende-se onde quer que seja, os seus atos são inumeráveis, multiplicam-se ao infinito; a cada criatura dá um ato
novo conforme estão dispostas, a sua variedade é inalcançável. Quem pode jamais fugir da minha vontade? Ninguém, deveria sair da Criação ou ser um ser não criado por Nós, o que não pode jamais ser, porque o direito de criar é só de Deus. Por isso minha Vontade não te deixará jamais,
nem em vida nem em morte, nem depois de morta, muito mais que regenerando-te como seu parto especial, ambas quereis que forme seu Reino, e onde Ela está, estou Eu em meu pleno triunfo; pode haver uma vontade sem a pessoa que possui este querer? Certamente que não; nem te admires se frequentemente sentes em ti como se minha Vida terminasse, sentes que termina mas não é verdade. Acontece como às coisas criadas, que parece que morrem mas logo ressurgem sempre; o sol parece que morre, mas porque a terra gira perde o sol e parece que morre, mas o sol
vive e está sempre em seu posto, tão é verdade que girando mais a terra encontra de novo seu sol, como se renascesse a vida nova para ela. À terra parece que tudo lhe morre, as plantas, as belas flores, os frutos deliciosos, mas depois tudo lhe ressurgem e adquirem a vida, mesmo a mesma natureza humana, com o sono parece que morre, mas do sono ressurge mais vigorosa e refeita.

De todas as coisas criadas só o céu está sempre fixo, não morre jamais, símbolo dos bens estáveis da Pátria Celestial, não sujeitos a mudanças, mas todas as outras coisas, a água, o fogo, o vento, tudo, parece que morrem, mas depois ressurgem animadas todas por minha Vontade, não sujeita a morte e que possui o ato de fazer ressurgir quantas vezes quer todas as coisas. Mas enquanto parece que morrem, têm vida perene em virtude da força regeneradora da minha Vontade. Assim acontece em ti, parece-te que minha Vida morre, mas não é verdade, porque estando em ti meu Querer está a virtude regeneradora que me faz ressurgir quantas vezes quer. Onde está meu Fiat não pode haver nem morte nem bens que terminam, senão vida perene não sujeita a terminar".

22-6
Junho 26, 1927
Todas as coisas de Deus têm o mesmo peso. Tudo o que Deus fez na Criação está adornado por seu amor, e isto o sente quem vive na Divina Vontade.

(1) Estava a fazer o meu habitual giro no Fiat Divino, e enquanto girava por toda a Criação pensavapara mim: "Quanta luz e calor terá em si o meu Criador, se tanto disso pôs fora ao criar o sol. Oh! Como se deve sentir queimar pelo seu calor se tanto contém". E enquanto pensava assim, o meu
doce Jesus mexeu-se dentro de mim e disse-me:
(2) "Minha filha, em nossas coisas há perfeita e igual medida de tudo, assim na medida em que é o amor, o calor, a luz, outro tanto é a frescura, a beleza, a potência, a doçura, etc. Um é o peso de tudo e por isso o calor vem alimentado pela frescura e a frescura pelo calor; a luz vem alimentada
pela beleza e a beleza é alimentada pela luz, de modo que uma modera a outra; a fortaleza alimenta a doçura, e a doçura à fortaleza, e assim por todo o resto de nossas coisas divinas, de maneira que cada uma nos felicita. Cada uma de nossas qualidades, separadamente, nos oprimiriam, em troca juntas, sendo de perfeita igualdade, nos servem de felicidade, de alegria, de contentamentos, e todos fazem competição para nos fazer felizes: O calor nos leva a felicidade do amor e a frescura nos leva a alegria do belo, do fresco; a luz nos leva a alegria da luz, e a beleza moderando o viveiro da luz nos leva a felicidade do belo, do bom, do santo, da imensidão, ela entrelaça todas as nossas qualidades e todas as tornam belas, amáveis e admiráveis; a fortaleza leva-nos a felicidade dos fortes, e a doçura que traz toda a alegria nos traz as alegrias misturadas de doçura e força. E tudo o que se vê na Criação não são outra coisa que desabafos da abundância da luz, do calor, da frescura, beleza e fortaleza que possuímos dentro de nós, e estes desabafos foram postos fora de Nós para alimentar e fazer felizes às criaturas com nossos mesmos desabafos, em modo de fazê-las felizes, e por meio de alimentar-se de nossas qualidades fazer-se semelhantes a Nós, e as criaturas deviam ser portadoras de felicidade e de alegrias ao seu Criador. Como devia ser belo vê-las luminosas como sóis, mais belas que prado florido e céu estrelado, fortes como vento impetuoso adornado de frescura divina, de forma a manter-se sempre novos e frescos sem se mudar. Nossa Vontade lhes levaria todos nossos desabafos unidos juntos, onde um felicita ao outro, mas como o homem se subtraiu do Fiat Supremo recebe nossos desabafos separados um do outro, e por isso o calor o queima, a luz o eclipsa, o frio o entorpece, O vento o danifica e muitas vezes o aterroriza, o derruba. Nossas qualidades não vendo no homem a cópia de seu Criador, nem o vínculo da união com o Fiat Divino, agem separadas sobre ele e não recebe a felicidade que unidas elas contêm. Por isso com minha Vontade a criatura teria sido o ser mais feliz; em troca sem Ela é o mais infeliz".

(3) Depois continuava meu voo no Querer Divino, e sobrevoando sobre cada pensamento de criatura e ato, sobre cada planta e flor, selava meu te amo e pedia o reino do Fiat Divino. Mas enquanto fazia isto pensava para mim: "Que grande história em minha pobre mente, não parece que possa me afastar, devo ir encontrando todos os tempos, todos os lugares, todos os atos humanos, até plantas e flores e tudo, para imprimir um te amo, um te adoro, um te abençoo, um obrigado, e pedir seu reino". Mas enquanto eu pensava assim, o meu doce Jesus a mover-se de
novo dentro de mim disse-me:

(4) "Minha filha, achas que és tu quem está a fazer isto? Não, não, é minha Vontade que vai buscando todos seus atos que pôs fora na Criação, adornando cada ato seu, pensamento, palavra, passo, com seu te amo, e este te amo corre através de cada ato e pensamento para cada criatura.
Quem está em minha Vontade sente este amor de Deus espalhado por toda parte, até nas plantas, nas flores, até debaixo da terra nas raízes, seu amor está escondido, porque não podendo contê-lo rasga a terra e adorna plantas e flores com seu te amo para manifestar seu ardente amor pela
criatura, e minha Vontade reinando na alma quer continuar seu te amo da Criação e por isso te chama a seguir seu amor eterno, e chamando cada um dos pensamentos e atos, e todos os elementos criados, diz e faz-te dizer, e faz-te pedir com a sua própria Vontade o seu reino para o ligar de novo entre as criaturas. Que encanto minha filha, ver teu te amo unido àquele de meu Querer, que corre em cada pensamento e ato de criatura e pede meu reino, ver correr este te amo na impetuosidade do vento, estender-se nos raios do sol, murmurar no murmúrio do mar, no fragor das ondas, imprimir-se sobre cada planta e elevar-se com a adoração a mais bonita no perfume das flores e mais do que voz trêmula dizer, eu amo-o no tremor doce e cintilação das estrelas', em resumo, em toda parte. Quem não vive no meu Querer Divino não escuta esta linguagem do meu eterno amor em todos os seus atos e em cada uma das coisas criadas, mas quem vive n'Ele sente-se tantas vezes chamada a amar por quantas vezes o seu Criador a amou. Todas as coisas lhe falam com santa eloquência de meu amor. Que ingrata seria se não seguisse o amor falante de
meu eterno Fiat".

23-6
Outubro 6, 1927
Como quem trabalha na Divina Vontade trabalha nas propriedades divinas e com seus atos forma sóis. Como quer encontrar a alma em todas as coisas criadas.

(1) Estava continuando meus atos no Fiat Divino, e meu doce Jesus movendo-se dentro de mim me disse:

(2) "Minha filha, que trabalha em minha Vontade trabalha em minhas propriedades divinas, e ela forma em meus intermináveis bens de luz, de santidade, de amor, de felicidade sem fim, seus atos, os quais se transformam em tantos sóis, reproduzidos estes sóis por minhas mesmas qualidades que se prestaram ao ato da alma por decência dela e para fazer que fossem atos dignos do seu Criador e para permanecer estes atos como atos perenes no próprio Deus, que o glorificam, o amam com seus mesmos atos divinos. Então Adão antes de pecar formou tantos sóis em seu Criador por quantos atos fez; agora, quem vive e trabalha em minha Vontade encontra estes sóis feitos por ele, por isso teu empenho é de seguir os primeiros atos da Criação, de tomar teu posto de trabalho junto ao último sol, ou melhor, do último ato que fez Adão quando possuía a unidade de Vontade com seu Criador, deves suprir ao que ele não continuou fazendo porque saiu de dentro de minhas propriedades divinas e seus atos já não foram sóis, porque não tinha mais em seu poder minhas qualidades divinas que se prestavam para fazê-lo formar os sóis, ao mais, seus atos se reduziram por quanto bons eram, a pequenas chamas, porque a vontade humana sem a minha não tem virtude de poder formar sóis, faltam-lhe as matérias primas, seria como se você quisesse formar um objeto de ouro sem ter em seu poder o metal do ouro, por mais boa vontade que tivesse, seria impossível. Somente minha Vontade tem luz suficiente para fazer formar os sóis à criatura, e esta luz a dá a quem vive nela, em suas propriedades, não a quem vive fora dela. Então deves suprir todas as outras criaturas que não possuíram a unidade com minha Vontade, teu trabalho é grande e extenso, tens muito que fazer em meus intermináveis confins, por isso sê atenta e fiel".

(3) Depois continuava meus atos em seu Querer adorável, e girando por toda a Criação, meu Sumo Bem Jesus adicionou:

(4) "Minha filha, assim como minha Vontade Divina está espalhada em toda a Criação, assim tu, unida com Ela, posso encontrar-te em todas as coisas criadas, como espalhada em cada uma delas: Serás o coração da terra, para encontrares nela a tua vida palpitante, que com o seu contínuo pulsar me dá o amor de todos os seus habitantes; serás a boca do mar, que me fará ouvir a tua voz nas suas ondas altíssimas e no seu contínuo murmúrio, que me louvas, me adoras, me agradeces, e no serpenteio dos peixes me dê teus beijos afetuosos e puros, por ti e por aqueles que atravessam o mar; serás os braços do sol, que te estendendo e alargando-te em sua luz, onde sinta teus braços que me abraçam, me estreitam fortemente para dizer-me que só a Mim buscas, só a Mim queres e amas; serás os pés do vento para correr a meu lado e fazer-me sentir o doce
caminhar de teus passos, que jamais deixam de correr embora não me encontres; não estou contente se não encontro a minha pequena filha em todas as coisas criadas por Mim por seu amor.

Eu pergunto a toda a Criação: Será que a pequena filha da minha Vontade está aqui? Porque eu quero entreter-me e me alegrar com ela'. E se eu não encontrá-la, Eu perco minha alegria e meu doce entretenimento".

(5) Depois disto seguia o meu amado Jesus nos atos que fez na Redenção, tentava segui-lo palavra por palavra, obra por obra, passo a passo, não queria que nada me fugisse, para apressá-lo e pedir-lhe em nome de todos os seus atos, lágrimas, orações e penas, o reino de sua Vontade Divina entre as criaturas, e meu adorado Jesus me disse:

(6) "Minha filha, quando Eu estava na terra, minha Vontade Divina que por natureza reinava em Mim, e aquela mesma Vontade Divina que existia e reinava em todas as coisas criadas, a cada encontro se beijavam mutuamente e suspirando seu encontro faziam festa, e as coisas criadas faziam concorrência para encontrar-me e dar-me as homenagens que me convinham. A terra enquanto sentia meus passos, para me dar sua homenagem ficava verde e florescia sob meus pés, queria fazer sair de seu seio todas as belezas que possuía, o encanto das flores mais belas a meu passo, tanto que eu muitas vezes tive que lhe ordenar que não me fizesse estas demonstrações, e ela para me prestar homenagem obedecia, assim como por me honrar florescia. O sol procurava sempre encontrar-se comigo para me dar as homenagens de sua luz, fazendo sair de seu seio solar toda a variedade das belezas, das cores, diante de minha vista para me dar as honras que merecia. Tudo e todos procuravam encontrar-me para fazer sua festa: o vento, a água, até o passarinho para me dar as honras de seus trinos, gorjeios e cânticos, todas as coisas criadas me reconheciam e faziam concorrência para ver quem mais pudesse me honrar e me fazer festa.

Quem possui minha Divina Vontade tem a vista para conhecer o que pertence a minha mesma Vontade, só o homem não me conheceu porque não possuía a vista e o fino olfato dela, devia dizer-lhe para me fazer conhecer, e muitos, com todo meu dizer, nem sequer acreditaram em mim, porque quem não possui meu Querer Divino é cego, surdo e sem olfato para conhecer o que a Ele pertence. O não possuí-lo é a maior infelicidade da criatura, é o pobre cretino, cego, surdo e mudo, que não possuindo a luz do meu Fiat Divino, serve-se das mesmas coisas criadas tomando os
excrementos que elas jogam, e deixam dentro delas o verdadeiro bem que contêm. Que dor, ver as criaturas sem a nobreza da Vida da minha Vontade Divina!"

24-6

Volume 24

15
Abril 12, 1928
Analogia entre o Éden e o Calvário. Não se forma um reino com um só ato. Necessidade da morte e ressurreição de nosso Senhor.

(1) Estava fazendo a meu giro no Fiat Divino e acompanhava o meu doce Jesus nas penas da sua Paixão, e seguindo-o no Calvário a minha pobre mente parou para pensar nas penas dilacerantes de Jesus sobre a cruz, e Ele movendo-se dentro de mim disse-me:

(2) "Minha filha, o Calvário é o novo Éden onde lhe vinha restituído ao gênero humano o que perdeu ao subtrair-se de minha Vontade.
Analogia entre o Calvário e o Éden: No Éden o homem perdeu a graça, sobre o Calvário a adquire; no Éden lhe foi fechado o Céu, perdeu sua felicidade e se tornou escravo do inimigo infernal, aqui no novo Éden lhe vem reaberto o Céu, quer a paz, a felicidade perdida, o demônio está
acorrentado e o homem fica livre de sua escravidão; no Éden escureceu e retirou-se o Sol do Fiat Divino e para o homem foi sempre noite, símbolo do sol que se retirou da face da terra nas três horas de minha tremenda agonia sobre a cruz, porque não podendo sustentar a vista da dor de seu
Criador, causado pelo querer humano que com tanta traição tinha reduzido a minha humanidade a este estado, horrorizado se retirou, e quando Eu expirei reapareceu de novo e continuou o seu curso de luz; assim o Sol do meu Fiat, as minhas dores, a minha morte, chamaram novamente o
Sol do meu Querer a reinar no meio das criaturas, Então o Calvário formou a aurora que chamava o Sol do meu Eterno Querer resplandecer de novo entre as criaturas. A aurora é certeza de que o sol deve nascer, assim a aurora que formei no Calvário assegura, ainda que tenham passado cerca de dois mil anos, que chamará o Sol de meu Querer a reinar de novo no meio das criaturas. No Éden meu amor foi derrotado pelas criaturas, aqui no Calvário triunfa e vence a criatura; no primeiro Éden o homem recebe a condenação de morte para a alma e o corpo, no segundo fica
livre da condenação e vem reconfirmada a ressurreição dos corpos com a ressurreição da minha humanidade. Há muitas relações entre o Éden e o Calvário, o que o homem perdeu no primeiro, no segundo o readquire; no reino de minhas dores tudo lhe vem dado e reconfirmado a honra, a glória
da pobre criatura por meio de minhas penas e de minha morte.

(3) O homem ao subtrair-se de minha Vontade formou o reino de seus males, de suas fraquezas, paixões e misérias, e Eu quis vir à terra, quis sofrer tanto, permiti que minha Humanidade fosse lacerada, lhe fora arrancada em pedaços sua carne toda cheia de chagas, e quis também morrer
para formar por meio de minhas tantas penas e de minha morte, o reino oposto aos tantos males que se tinha formado a criatura. Um reino não se forma com um só ato, senão com muitos e muitos atos, e por quanto mais atos tanto maior e glorioso se torna um reino, assim que minha morte era
necessária a meu amor, com minha morte devia dar o beijo de vida às criaturas, e das minhas tantas chagas devia fazer sair todos os bens para formar o reino dos bens às criaturas; por isso as minhas chagas são fontes que transbordam bens, e a minha morte é fonte de onde brota a Vida em
proveito de todos.

(4) Assim como foi necessária minha morte, foi necessária a meu amor a Ressurreição, porque o homem ao fazer sua vontade perdeu a Vida de meu Querer, e Eu quis ressuscitar para formar não só a ressurreição dos corpos, senão a ressurreição da Vida de minha Vontade neles, então, se Eu não tivesse ressuscitado, a criatura não poderia ressurgir de novo em meu Fiat, lhe faltaria a virtude, o vínculo da ressurreição na minha e portanto meu amor se sentiria incompleto, sentiria que poderia fazer mais e não o fazia e teria ficado com o duro martírio de um amor não
completado; que depois o homem ingrato não se sirva de tudo o que fiz, o mal é todo seu, mas meu amor possui e goza seu pleno triunfo".

25-6
Novembro 4, 1928

A verdade é luz que parte de Deus e se fixa na criatura. Bênçãos de Jesus.

(1) Minha pobre inteligência se sente como levada pela luz do Fiat Divino, mas esta luz não leva só calor e luz, mas sim é portadora de vida, a qual, concentrando-se na alma forma nela sua vida de luz, de calor e do centro renasce a Vida Divina. Como é belo ver que a luz do Eterno Querer tem
virtude de fazer renascer no coração da criatura a Vida de seu Criador, e tantas vezes por quantas vezes esta Divina Vontade se abaixa para fazer conhecer à criatura outras manifestações que lhe pertencem. Enquanto minha mente se perdia nesta luz, meu doce Jesus movendo-se nela, que
parecia que estava como que abismado em dita luz, me disse:

(2) "Minha filha, por quantas verdades te manifestei sobre minha Divina Vontade, tantas luzes desprenderam-se do nosso seio divino e fixaram-se em ti, mas sem se separar do centro do teu Criador, porque a luz é inseparável de Deus, comunica-se, fixa-se na criatura, mas nunca perde o
seu centro de onde saiu. Como é belo ver a criatura fixada por todas estas luzes que têm virtude de fazer ressurgir na criatura Aquele que a criou, e tantas vezes por quantas verdades lhe vêm manifestadas. E como o que te manifestei sobre minha Divina Vontade são verdades inumeráveis,
tantas que você mesma não pode chegar a numerá-las todas, tantas luzes, ou seja tantos raios luminosos são fixados em você, que descendem de Deus, mas sem separar-se de seu seio divino.

Estas luzes formam o mais belo ornamento em você e o maior dom que você poderia receber de Deus, porque, estando estas verdades fixas em ti, te dão o direito sobre as propriedades divinas, e tantos direitos por quantas verdades te manifestou. Você não pode compreender o grande dote
com o qual foi dotada por Deus com estas verdades, que como tantas luzes estão fixadas em sua alma. Todo o Céu está maravilhado ao ver tantas luzes em você, todas elas grávidas de outras tantas Vidas Divinas; e conforme você as comunica às outras criaturas, esta luz se move, fixa-se
nos outros corações, mas sem deixar você, e forma a Vida Divina aonde chega. Minha filha, que grande tesouro te foi confiado com tantas verdades que te disse sobre minha Divina Vontade, tesouro que tem sua fonte no seio divino, que dará sempre luz sem cessar jamais. Mais que sol
são minhas verdades, pois o sol dá luz à terra, a investe, a fixa e ao fixá-la dá à luz sobre sua superfície e a cada coisa, os efeitos e os bens que contém sua luz, mas zeloso não separa a luz de seu centro, tão é verdade, que assim que passa a iluminar outras regiões a terra fica às escuras;
em troca o Sol de minhas verdades, enquanto não se separa de seu centro, fixando-se na alma forma nela o dia perene"...

(3) Depois disto se dava a bênção com o Santíssimo Sacramento, e eu lhe rogava de coração que me abençoasse, e Jesus movendo-se em meu interior, fazendo eco ao que fazia Jesus no sacramento, levantava sua mão bendita em ato de abençoar-me e me disse:

(4) "Minha filha, te abençoo o coração e selo minha Divina Vontade nele, a fim de que palpite em todos os corações teu batimento unido com minha Vontade Divina, para que chame a todos os corações a amá-la; bendigo teus pensamentos e selo minha Divina Vontade neles, a fim de que chame todas as inteligências a conhecê-la; te bendigo a boca, a fim de que corra minha Divina Vontade em tua voz, e chame a todas as vozes humanas a falar de meu Fiat; toda te bendigo filha minha, a fim de que tudo chame em ti a minha Vontade Divina, e corra a todos para fazê-lo conhecer. Oh! como me sinto mais feliz ao agir, rezar, abençoar, em quem reina meu Querer, nesta alma encontro a vida, a luz, a companhia, e tudo o que Eu faço súbito surge e vejo os efeitos de meus atos e não estou só se rezo, se faço, mas sim tenho a companhia e quem trabalha comigo.

Ao contrário nesta prisão sacramental, os acidentes da hóstia são mudos, não me dizem uma só palavra, faço tudo por Mim só, não sinto um suspiro que se una com o meu, nem um batimento que me ame, mas sim um frio de sepultura para Mim, que não só me tem na prisão, mas que me sepulta, e eu não tenho a quem dizer uma palavra, nem com quem desabafar, porque a hóstia não fala, estou sempre em silêncio, e com uma paciência divina espero os corações que me recebam para romper meu silêncio e gozar um pouco de companhia. E na alma onde encontro a minha
Divina Vontade sinto-me repatriado para a minha pátria celestial".

26-6
Maio 4, 1929

Poder, encanto, império de uma alma que vive no Querer Divino, como tudo gira em torno dela e domina o próprio Criador.

(1) Meu abandono no Fiat Divino continua, e minha pobre mente hora se detém em um ponto, hora em outro d‟Ele, mas não sabe sair de dentro da imensidão de seus confins intermináveis, é mais, não encontra nem caminhos nem portas para sair d‟Ele. E enquanto caminho no Querer Divino,
deixo-o atrás de mim, e enquanto o deixo para trás põe-se diante de Sua Majestade, à direita e à esquerda, até abaixo de meus pés e me diz: "Sou tudo para ti, para dar-te a minha Vida e formá-la em ti, assim não há outra coisa para ti que a minha Vontade Divina e adorável". Enquanto minha
pobre mente se perdia nele, meu doce Jesus se moveu em meu interior e me disse:

(2) "Minha filha, quem vive em meu Querer Divino, sente em si o ato contínuo e constante do agir divino de meu Fiat Divino, este ato contínuo gerado por seu poder na criatura, tem tal força, tal império sobre todos, que arrebata a todos com seu doce encanto, de modo que todos giram em
torno dela, os anjos, os santos, a Trindade Sacrossanta, as esferas celestes e toda a Criação, todos querem ser espectadores para gozar uma cena tão doce, encantadora e bela, do ato contínuo da criatura no Fiat Divino, ela entra no banco do Ente Supremo e unificando-se no ato contínuo de seu Criador, ela não faz outra coisa que colocar fora, com o seu ato contínuo, as inúmeras belezas, os sons mais doces, as raridades insuperáveis das qualidades do seu Criador. E o que mais arrebata é ver sua pequenez, que toda ousada e corajosa, sem temer nada, como se quisesse dominar o próprio Criador para lhe dar prazer, para o raptar a si, para lhe pedir o reino do seu Querer sobre a terra, toma e põe fora do banco divino todas as nossas alegrias e felicidade como se quisesse examiná-las, e vendo que não as esgota não se cansa, repete seu ato contínuo, de modo que todos esperam que termine, e não vendo-a terminar se põem em torno dela, tanto, que ela se torna o lugar central, e todos giram ao redor para não perder uma cena tão consoladora e jamais vista, isto é, o ato contínuo da pequenez humana na unidade do Fiat Supremo. Muito mais do que o agir contínuo é somente de Deus, e ao vê-lo repetir pela criatura, desperta as maiores surpresas, que fazem assombrar Céus e Terra. Minha pequena filha, se você soubesse o que significa um ato contínuo em minha Vontade, este ato é incompreensível a mente criada, ela é a bilocadora de nosso ato contínuo, ela entra em nosso ato e faz surgir e põe fora, mostrando a todos nossa rara beleza, nosso amor invencível, a nossa potência que tudo pode, a nossa imensidão que tudo abraça, gostaria de dizer a todos: „Vede quem é o nosso Criador.‟ E Nós a fazemos fazer e gozamos ao ver que a pequenez da criatura quer nos dar nosso paraíso, e nosso Ser Divino, como nosso e como seu. O que não pode fazer e dar-nos quem vive em nosso Fiat?
Tudo! Muito mais, porque estando na terra esta feliz criatura, em virtude do livre arbítrio tem a virtude conquistadora, o que nem mesmo os santos têm no Céu, e com esta pode conquistar e multiplicar o bem que quer. E nosso Querer que a tem dentro de Si, a torna conquistadora de nosso Ser Divino".

27-6
Outubro 15, 1929

Como todos estão à expectativa da narração da história da Divina Vontade. Vazio dos atos da criatura na Divina Vontade.

(1) Sentia-me imersa no Fiat Divino; diante da minha pobre mente via toda a Criação e os grandes prodígios operados pela Divina Vontade nela. Parecia que cada coisa criada quisesse narrar o que possuía do grande Fiat Divino para fazê-lo conhecer, amar e glorificar. Enquanto minha mente se perdia em olhar a Criação, meu doce Jesus saiu de dentro de mim e me disse:

(2) "Minha filha, todos estão à espera da narração do grande poema da Divina Vontade, e como a Criação foi o primeiro ato externo do agir de meu Fiat, por isso contém o princípio de sua história de quanto fez por amor da criatura. Eis a causa pela qual, querendo contar-te toda a história do
meu Querer Divino, encerrei dentro toda a história da Criação, com tantos particulares e modos simples e especiais, para que tu e todos saibam o que fez e o que quer fazer o meu Fiat Divino, e os seus justos direitos pelos quais quer reinar no meio das gerações humanas. Tudo o que se fez
na Criação não é conhecido de todo pelas criaturas, o amor que tivemos ao criá-la, como cada coisa criada leva uma nota de amor distinta uma da outra e encerra dentro um bem especial às criaturas, tanto é verdade, que a vida delas está atada com vínculos indissolúveis com a Criação, e
se a criatura quisesse subtrair-se dos bens da Criação, não poderia viver; quem lhe daria o ar para respirar, a luz para ver, a água para beber, o alimento para se alimentar, a terra sólida para fazê-la caminhar? E enquanto minha Divina Vontade tem seu ato contínuo, sua Vida e sua história para fazer-se conhecer em cada coisa criada, a criatura a ignora e vive dela sem conhecê-la. Por isso todos estão à expectativa, a mesma Criação, porque querem fazer conhecer um Querer tão santo, e o ter-te falado da mesma Criação com tanto amor, e do que o meu Fiat Divino faz nela, mostra seu grande desejo de ser melhor conhecida, muito mais que o bem desconhecido, não leva vida nem os bens que possui. Por isso minha Vontade está como estéril entre as criaturas, não pode produzir a plenitude de sua Vida em cada uma delas, porque não é conhecida".

(3) Depois disto sentia em mim uma força interna que queria seguir todos os atos que o Fiat Divino tinha feito na Criação e Redenção, mas enquanto isso fazia pensava em mim: "Qual é o bem que faço, que em tudo quero seguir o Querer Divino?" E o meu amado Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, tu deves saber que tudo o que meu Querer Divino fez, tanto na Criação como na Redenção, o fez por amor das criaturas, e para que estas, conhecendo-o, subissem em seu ato para olhá-lo, amá-lo e unir o ato delas ao seu para fazer-lhe companhia, e pôr embora seja uma
vírgula, um ponto, um olhar, um te amo, às tantas obras grandes e prodígios divinos que meu Fiat no ímpeto de seu amor fez para todos. Agora, quando você o segue em seus atos, sente sua companhia, não se sentirá sozinho, sente seu pequeno ato, seu pensamento que segue seu ato,
assim que se sente correspondido; em troca, se você não o seguisse, sentiria o vazio de você e de seus atos na Imensidão de meu Querer Divino, e com dor gritaria: ‘Onde está a filha do meu Querer? Não a sinto em meus atos, não gozo seus olhares que admiram o que faço para me dar
um obrigado, não ouço sua voz que me diz te amo, oh! Como me pesa a solidão.’ E te faria ouvir seus gemidos no fundo de seu coração dizendo: ‘Siga-me em minhas obras, não me deixe sozinho,’ Então, o mal que faria seria formar o vazio de suas ações na minha Divina Vontade; e se
o fizesse, faria o bem de lhes fazer companhia, e se soubesses o quanto apreciamos a companhia na obra, estarias mais atenta. E assim como meu Fiat Divino sentiria o vazio de seus atos se não o seguisse, assim sentiria você o vazio de seus atos em sua vontade, e se sentiria sozinha, sem a
companhia de minha Vontade Divina que ama te ocupar tanto, para não te fazer sentir mais que seu querer vive em você".

28-6
Março 24, 1930
A criatura não é outra coisa que efeito dos reflexos de Deus. Amor de Deus ao criá-la. A firmeza em repetir os mesmos atos, forma na alma a vida do bem que se quer.


(1) Estava fazendo a volta no Fiat Divino para seguir todos seus atos, e tendo chegado ao Éden, compreendia e admirava o ato magnânimo de Deus, e seu amor exuberante e transbordante na criação do homem, e meu sempre amável Jesus, não podendo conter suas chamas de amor me
disse:
(2) "Minha filha, nosso amor se apaixonou tanto no ato em que criamos o homem, que não fizemos outra coisa que refletir sobre ele, a fim de que fosse obra digna de nossas mãos criadoras, e conforme nossos reflexos choviam sobre ele, assim no homem lhe vinha infundida inteligência, a
visão, o ouvido, a palavra, o batimento do coração, o movimento às mãos, o passo aos pés. Nosso Ser Divino é puríssimo espírito, e por isso não tínhamos sentidos, no conjunto de todo o nosso Ser Divino somos luz puríssima e inacessível, esta luz é olho, é ouvido, é palavra, é obra, é passo. Esta luz faz tudo, olha tudo, sente tudo, escuta tudo, encontra-se por todas as partes, ninguém pode fugir do império da nossa luz. Por isso, enquanto criávamos o homem foi tanto o nosso amor, que a nossa luz, levando os nossos reflexos sobre ele, o formava, e formando-o, levava-lhe os efeitos dos reflexos de Deus. Vê então minha filha com quanto amor foi criado o homem, até chegar a desfazer-se de nosso Ser Divino em reflexos sobre ele, para comunicar-lhe nossa imagem e semelhança; podia-se dar amor maior? Não obstante se serve de nossos reflexos para nos ofender, enquanto se devia servir destes nossos reflexos para vir a nós, e com estes reflexos dados por nós dizer-nos: Quão belo me criou o teu amor, e eu por correspondência te amo, amar-te-ei sempre, e quero viver na luz da tua Divina Vontade".

(3) Depois continuava a seguir os atos no Fiat Divino, e pensava em mim: "Estou sempre aqui, repetir, repetir sempre a longa história de meus atos no Querer Divino, a longa história do meu ‘te amo', mas quais são os efeitos? Oh! se pudesse obter que a Divina Vontade fosse conhecida e reinasse sobre a terra, ao menos me seria de ganho". Mas enquanto pensava assim, o meu amado Jesus aproximou-me do seu coração divino e disse-me:

(4) "Minha filha, a firmeza no pedir forma a vida do bem que se pede, dispõe a alma a receber o bem que quer, e move Deus a dar o dom que se pede. Muito mais do que com os tantos atos repetidos e orações que fez, formou em si a vida, o exercício, o costume do bem que pede. Deus, vencido pela firmeza do pedir lhe fará o dom, e encontrando na criatura, em virtude de seus atos repetidos, como uma vida do dom que lhe faz, converterá em natureza o bem pedido, de modo que a criatura se sentirá possuidora e vitoriosa, se sentirá transformada no dom que recebeu. Por isso teu pedir incessantemente o reino de minha Divina Vontade formará em ti sua Vida, e teu contínuo ‘amo-te' forma em ti a Vida de meu amor; e havendo-te Eu feito o dom do um e do outro, sentes em ti como se a tua própria natureza não sentisse outra coisa senão a virtude vivificadora do meu Querer e do meu amor. A firmeza no pedir é certeza de que o dom é seu; e ao pedir para todos o reino da minha Divina Vontade, é prelúdio de que os outros possam receber o grande dom do meu Fiat Supremo. Por isso continue repetindo e não se canse".

29-6

Março 9, 1931

O primeiro amor de Deus pelo homem foi externado na Criação. Amor cumprido na criação do homem.

(1) Meu abandono no Fiat Divino continua, e como estava fazendo meus atos nele para poder unir-me a seus atos, toda a Criação se alinhava ante minha mente, e em sua mudo linguagem dizia que tantas vezes de mais me havia amado o Querer Divino por quantas coisas de mais havia criado, e que agora tocava minha vez de amá-lo em cada coisa criada, para corresponder-lhe com outros tantos atos meus de amor, a fim de que seu amor e o meu não estivessem isolados, senão que se fizessem doce companhia. Agora, enquanto fazia isto, meu doce Jesus saiu do fundo de minha
alma, que parecia que estava tão dentro dela, que não me era dado vê-lo e me disse:

(2) "Minha filha, o nosso amor pela criatura foi um eterno amor, dentro de nós sempre a amamos, mas fora de nós foi externado o nosso primeiro amor na Criação. Conforme nosso Fiat se ia pronunciando e passo a passo criava o céu, o sol, e todo o resto, assim ia externando em cada
coisa criada, quase passo a passo nosso amor contido desde a eternidade por amor das criaturas.

Mas deves saber minha filha, que um amor chama ao outro; tendo-se externado na criação do universo e tendo provado como é refrescante, como é doce o desabafo do amor, e só externá-lo se desabafa, e se sente como é doce amar, por isso o nosso amor, tendo começado a externar, não se deu mais paz se não criasse aquele, por causa do qual tinha dado início a externar seu amor, como semeando-o em todas as coisas criadas. Por tanto transbordava forte dentro de nós, querendo fazer ato cumprido de amor, chamando do nada àquele para dar-lhe o ser e criar nele nossa mesma Vida de amor; se não criávamos nele a Vida de amor para ser amados, não havia nenhuma razão, nem divina nem humana de externar tanto amor para com o homem; se tanto o amamos era razoável e com direito que ele nos amasse, mas não tendo nada de si mesmo, convinha a nossa sabedoria criar Nós mesmos a Vida do amor para ser amados pela criatura. Mas escuta filha o excesso de nosso amor, antes de criá-lo não estávamos felizes de ter externado nosso amor na Criação, mas chegou a tanto que pondo fora de nosso Ser Divino nossas qualidades, pusemos fora mares de potência e o amamos em nossa potência, mares de santidade, de beleza, de amor, e assim do resto, e o amamos em nossa santidade, em nossa beleza, em nosso amor, e estes mares deviam servir para investir o homem, a fim de que encontrasse em todas as nossas qualidades o eco de nosso amor potente, e nos amasse com amor potente, com amor santo, e com amor de beleza raptora. Por isso quando estes mares de nossas qualidades divinas foram postos fora de Nós, criamos ao homem enriquecendo-o de nossas qualidades por quanto mais podia conter, a a fim de que também ele tivesse um ato que pudesse fazer eco em nossa potência, em nosso amor, em nossa bondade, para poder nos amar com nossas mesmas qualidades. Queríamos ao homem, não servo, mas filho; não pobre, mas rico; não fora de nossos bens, mas dentro de nossa herança, e como confirmação disto lhe dávamos por vida e por lei nossa própria Vontade. Esta é a causa pela qual amamos tanto a criatura, porque tem do nosso, e não amar as coisas próprias é contra a natureza e contra a razão".





30-7
Dezembro 14, 1931
Quem faz a Divina Vontade é levada entre os braços de sua imensidão. O homem fortaleza de Deus. Diferença entre quem vive e quem faz a Divina Vontade.

(1) Estou sempre de volta no Querer Divino. Minha pequena alma me parece que toma seu voo em sua luz para consumir-se e perder minha vida nela, mas o que? Enquanto me consumo ressucito a novo amor, a nova luz, a novo conhecimento, a nova força, a nova união com Jesus e com sua
Divina Vontade. Oh! Feliz ressurreição que tanto bem leva a minha alma, parece-me que minha alma na Divina Vontade está sempre em ato de morrer para receber a verdadeira vida e formar pouco a pouco a ressurreição da minha vontade na sua. Depois o meu sumo Bem Jesus, visitando
a minha pequena alma disse-me:

(2) "Minha filha, nossa Vontade é o primeiro ponto e o apoio irremovível e inabalável da criatura, ela é levada entre os braços de nossa imensidão, de modo que dentro e fora dela nada vacila, senão tudo é firmeza e fortaleza insuperáveis, por isso não queremos outra coisa senão que se
faça nossa Divina Vontade, para encontrar no fundo de sua alma nosso sacrário divino, o fogão que sempre arde e jamais se apaga, a luz que forma o dia divino e perene. E como nossa Vontade quando reina na criatura se desembaraça de tudo o que é humano, por isso acontece que do centro de sua alma nos dá atos divinos, honras divinas, orações e amor divino, que possuem força invencível e amor insuperável, tanto que, conforme tu em meu Querer querias abraçar todas as obras daqueles que estão no Céu, e das criaturas que estão na terra, para que todas pedissem que
se faça a Divina Vontade como no Céu assim na terra, todas as obras ficavam marcadas pela grande honra de pedir que meu Fiat fosse a vida de cada criatura, e que nelas reine e domine, e nossa Divindade recebia a maior honra, que todas as obras pedissem a vida, o reino da Divina Vontade. Nenhum reescrito de graça é concedido por Nós se não estiver assinado com a assinatura de ouro de nosso Querer, as portas do Céu não se abrem senão a quem quer fazer nossa Vontade, nossos joelhos paternais não se adaptam a tomar em nossos braços, para fazê-la repousar em nosso seio amoroso, senão a quem vem como filha de nosso Querer. Eis por isso a grande diferença que nosso Ser Supremo teve ao criar o céu, o sol, a terra e o resto, com a criação do homem; nas coisas criadas pôs um basta, de modo que não podem nem crescer nem decrescer, embora lhes tenha posto toda a suntuosidade, beleza e magnificência de obras saídas de nossas mãos criadoras, por outro lado ao criar o homem, devendo ter nossa sede nele, e portanto nossa Vontade dominante e constante, não pôs um basta, não, mas dei-lhe virtude de fazer multiplicidade de obras, de passos, de palavras, mas uma diferente da outra. Nossa Vontade no homem ficaria obstruída se não lhe desse virtude de fazer sempre novas obras, não sujeito a fazer uma só obra, de dizer a mesma palavra, de caminhar sobre um mesmo caminho, ele foi criado por nós como rei da criação, porque devendo habitar nele seu Criador, o Rei dos reis, era justo que aquele que formava a habitação a nosso Ente Supremo, devia ser o pequeno rei que devia dominar as mesmas coisas criadas por Nós, e ele mesmo por amor nosso devia ter o poder de fazer não uma só obra, mas muitas obras novas, ciências para poder iniciar coisas novas, também para dar honra Àquele que o habitava dentro, e que entretendo-se com ele em familiar conversação, ensinava-lhe tantas coisas belas que fazer e que dizer. Por isso nosso amor ao criar o homem foi insuperável, mas tanto, que deveria unir todos os séculos para dar amor e pedir amor, e formar nele o reino de nossa Divina Vontade. Não temos outra visão sobre as criaturas, nem pedimos outro sacrifício, senão que façam nossa Vontade, e isto para dar-lhe o direito de rei de si mesmo e das coisas criadas, e para poder habitar nele com nossa decência e honra como nossa fortaleza e palácio real que nos pertence".

(3) Depois disto, continuando meu abandono no Querer Divino, meu amado Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha boa, você deve saber que nossa Vontade tem sua Vida, seu domínio, sua sede, seu centro, em nosso Ser Divino, forma uma só coisa com Nós e nossa própria Vida, de seu centro emanam seus raios plenos de sua Vida que enche Céu e terra. Agora quem vive em nosso Querer, seus atos vêm formados no centro de sua Vida, ou seja em nosso Ser Divino, ao contrário quem faz só nossa Vontade, faz também o bem, mas não vive nela, seus atos são formados nos raios que emanam de seu centro. Há diferença entre quem pudesse operar na luz que o sol expande do centro de sua esfera, e entre quem pudesse subir a seu centro de luz, esta sentiria a consumação de seu ser e o ressurgimento de seu ser naquele centro de luz, de modo que lhe seria difícil separar-se de dentro daquela esfera de luz, ao contrário, os outros que operam na luz que enche a terra, não sentem a força intensa da luz que os consome, nem a força de ressurgir na mesma luz, apesar de fazer o bem, permanece tal qual é. Tal é a diferença entre quem vive e quem faz minha Vontade; portanto, quantos atos faz nela, tantas vezes ressurge a Vida Divina, e consome e morre ao que é humano. Quão belas são estas ressurreições na alma, basta dizer que vêm formadas pela sabedoria e maestria do Artífice Divino, e isto diz todo, todo o belo e tudo o bom que podemos fazer da criatura".

31-7
Setembro 8, 1932
Prodígio do nascimento da Rainha do Céu. Vias de comunicação entre Criador e criatura. Quem forma a nobreza.

(1) Minha pequena mente sempre faz seus giros dentro e fora do Querer Divino, e por quanto giro a seu redor não me canso jamais, sinto uma força misteriosa que me alentando não me diz basta, mas sim diz: "Corra, busque seus atos, ame-os, adore-os, salve-os, e transforme os Seus nos teus,
e forma toda a sua vida de Vontade Divina". E se não sei dizer nada, em minhas correrias e giros digo meu pequeno refrão, "te amo, te adoro, te abençoo, oh, Vontade adorável em todas suas obras." E sendo hoje a natividade da Rainha do Céu, parei para pensar no grande portento de seu
nascimento, do qual parecia que Céus e terra estavam pendentes para adorar este prodígio divino.

E meu sumo bem Jesus, com amor e ternura indizíveis me disse:
(2) "Filha bendita da minha Vontade, o nascimento da minha Mãe Celestial encerra todas as maravilhas, todos os prodígios juntos, mas sabe por quê? Não nascia Ela sozinha, a Pura, a Santa, a Bela, a Imaculada, não, não, senão que junto com a Celestial menina nascia nela minha Vontade
Divina, concebida já e encerrada n‟Ela para formar sua Vida constante e crescente na graciosa menina. Fechar-se minha Vontade para nascer junto, servir-se do órgão da Celestial criatura para agir e formar sua Vida Divina, isto foi um prodígio que só o eterno amor, a Divina sabedoria e potência podiam realizar, não era somente a vida que se dava, nem só o dom de livrá-la da mancha de origem, isto teria sido nada para nossa potência, o que fez maravilhar e que chamou a atenção de todos, era minha Vontade que nascia junto com Ela no mundo, tanto que Céus e terra ficaram chocados, se puseram atentos, sentiam uma força misteriosa, a mesma força que os dominava e conservava toda a Criação, era nossa mesma Vontade que movia tudo e punha-se a Si mesma e a toda a Criação a serviço e disposição desta recém-nascida menina. Então este nascer
da minha Vontade juntamente com Ela, foi a origem que chamou todos os outros prodígios a concentrarem-se n‟Ela. Onde reina meu Fiat não há bem que não encerre, nem prodígio que não realize, quer fazer desabafar de seu amor e poder com o formar sua Vida constante e pôr do seu
por quanto a criatura é possível conter. Por isso admira e agradece a nosso Ser Supremo, que chega a tanto amor para esta recém-nascida menina, de fazer renascer n‟Ela nossa Vontade não nascida, que não tem nem princípio nem fim, nem limites em seus confins".

(3) Depois seguia o agir da Divina Vontade em todas as coisas criadas, e meu amável Jesus adicionou:

(4) "Minha filha, as coisas criadas foram feitas por Nós para formar muitos caminhos, para fazer que o homem se pudesse servir deles para vir a Nós, porque os deixamos todos abertos a fim de que quando quisesse vir não tivesse necessidade nem de tocar, nem de abrir para vir a Nós. Era
nosso filho, era justo e razoável que tivesse todos os caminhos abertos para ir a seu Pai Celestial, e entreter-se juntos para amá-lo e ser amado, e como filho pedir-lhe obrigado e favores, mas sabe o que fez o ingrato filho? Ele mesmo fechou os caminhos, formou as barreiras e com o pecado
formou as portas, fechando as correspondências com quem lhe tinha dado a vida. Agora, queres saber quem volta a abrir as portas, a queimar as barreiras? Quem me ama e vive em minha Divina Vontade; o amor e meu Fiat são forças potentes que queimam e tiram tudo, e abrem todos os
caminhos para pôr de volta o filho distante nos braços do seu Pai Celestial.

(5) Agora, você deve saber que todas as virtudes, as obras boas, o amor, o fazer minha Divina Vontade, formam a nobreza do homem, mas a substância desta nobreza é a riqueza de minha Graça, todo o bem vem fundado sobre Ela, do qual se faz fonte e conservadora de todo o bem que
se pode fazer, de outro modo se pode dizer nobre de origem, como o é o homem, mas como lhe falta a riqueza se encontra quase por necessidade fazendo atos indignos de sua nobreza; de fato, se alguém é nobre e não é rico, não pode vestir-se como nobre, nem viver em palácios, assim, sua
nobreza se reduz à lembrança de que era nobre; assim quem não possui a riqueza de minha Graça, todo o bem se reduz a fracas virtudes, que muito frequentemente fazem ver que não é rico de paciência, de oração, de caridade, e assim do resto. Agora, o bem forma a nobreza, a riqueza
de minha Graça a conserva, minha Vontade forma o Rei que domina e com maestria divina regula e ordena tudo".

32-6
Abril 16, 1933

Como em todas as coisas criadas, Deus tem sempre um „te amo‟ para nos dizer. Como Jesus em todos os atos de sua Vida encerrava amor, conquistas e triunfos.

(1) Estava fazendo meu giro Querer Divino; sinto que sou a pequena borboleta que gira sempre em torno e dentro de sua luz e de seu amor ardente, querendo girar tanto, até que fique queimada e consumida por sua luz divina, para chegar a sentir-me uma só coisa com sua Santíssima Vontade,
e como o primeiro ponto de partida é a Criação, sobre a qual enquanto giro, encontro sempre novas surpresas de amor, por isso fico maravilhada, e meu Sumo Jesus para me fazer compreender maioritariamente, me disse:

(2) "Minha filha, como me é agradável seu giro nos atos que fez nosso Ser Supremo na Criação, por isso me sinto como arrebatado e obrigado por meu amor a te contar nossa história de amor que tivemos na Criação e em tudo o resto que fizemos só por puro amor às criaturas; vir em nossos
atos é o mesmo que vir a nossa casa, e não te dizer nada das tantas coisas que temos que dizer, seria como te mandar em jejum, o que nosso amor não sabe fazer nem quer fazer. Agora, você deve saber que nosso Fiat se pronunciou e estendeu esta abóbada azul, e nosso amor a entrelaçou de estrelas, pondo em cada estrela um ato de amor contínuo para com as criaturas, assim que cada estrela diz: ‘Teu Criador te ama, não cessa jamais de te amar, Estamos aqui, não nos afastamos nem um pouco para te dizer sempre te amo, te amo'. Mas vá em frente, nosso Fiat criou o sol, ele encheu de tanta luz de poder dar luz a toda a terra, e nosso amor, pondo-se em competição com o sol, encheu-o de tantos efeitos, que são inumeráveis: Efeitos de doçura, variedade de beleza, de cores, de gostos, que a terra, só porque é tocada por esta luz, recebe como vida estes admiráveis efeitos e seu admirável e incessante refrão: Te amo com meu amor de doçura, te amo e quero te fazer bela, quero te embelezar com minhas cores divinas, e se embelezar as plantas por ti, a ti quero te fazer mais bela ainda. Olhe, nesta luz descendo até você para te dizer te amo com gosto, tomo gosto em te amar e sou todo ouvidos para ouvir que me diz te amo. Posso dizer que o sol está cheio de meus contínuos e repetidos te amo, mas ai de Mim! A criatura não se dá nenhum pensamento, nem se presta atenção em receber este nosso amor incessante em tantos modos e variadas formas que bastariam para afogá-la e consumi-la de amor,  mas não paramos, seguimos adiante, nosso Fiat criou o vento, e nosso amor o encheu de efeitos, assim que a frescura, as ondas, o assobio, os gemidos, os uivos do vento, são repetidos te amo que dizemos à criatura, e na frescura lhe damos nosso amor refrescante, nas ondas lhe damos a respiração com nosso amor, até gemer e uivar com nosso amor imperante e incessante, e assim por diante. O mar, a terra, foram criados por nosso Fiat, os peixes, as plantas que produz o mar e a terra são os efeitos de nosso amor, que fortemente e repetidamente diz te amo em todas as coisas, te amo por toda parte, te amo em ti, e ha tanto amor meu, ah! não me negues o teu amor. Não obstante parece que não têm ouvidos para nos escutar, nem coração para nos amar, e por isso quando encontramos quem nos escuta, a temos como desabafo de nosso amor e como pequena secretária da história da Criação".

(3) Dito isto fez silêncio, e eu continuava nos atos da Divina Vontade, e tendo chegado aos da Redenção, meu amado Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha bendita, escuta minha longa história de amor, poderia dizer que é uma cadeia interminável de amor incessante, jamais interrompida: Criei a criatura para amá-la, para tê-la unida Comigo, e não amá-la iria contra minha mesma Vontade, operaria contra minha mesma natureza que é toda amor, e além disso, criei-a porque sentia a necessidade de externar o meu amor e de lhe fazer ouvir o doce sussurro contínuo: ‘Te amo, te amo, te amo'. Tu deves saber que desde que fui concebido, e em todo o curso de minha Vida, em todos os atos que fazia, encerrava dentro amor, conquista, triunfo, meu agir era muito diverso do das criaturas, o fazer e não fazer, o sofrer, e não sofrer estava em meu poder, minha onividência não me escondia nada, e Eu primeiro punha minha Vontade em meus atos, encerrava plenitude de santidade, plenitude de amor, plenitude de
todos os bens, e depois, com todo o conhecimento me preparava para agir ou sofrer, segundo Eu mesmo queria, e com isto me tornava conquistador e triunfador de meus atos, mas sabe para quem fazia estas conquistas e estes triunfos? Para as criaturas, as amava muito e queria dar, queria ser o Jesus vencedor, dando-lhe eu mesmo minhas conquistas e meus triunfos para vencê-los, assim que minha Vida aqui embaixo não foi outra coisa que um ato contínuo de amor heroico que jamais diz basta, de conquistas e de triunfos, para tornar os meus filhos felizes, e Eu fiz isso em tudo, se me pusesse a caminho, Eu tinha a virtude de poder encontrar-me de uma cidade para a outra sem fazer uso de meus passos, mas eu queria andar para colocar em cada passo o meu amor, e assim a cada passo que dava corria, corria e tornava-me conquistador e triunfador dos
meus passos, oh! se as criaturas prestassem atenção em mim, teriam ouvido em meus passos o grito contínuo: ‘Corro, corro em busca das criaturas para amá-las e para ser amado'. Assim, se trabalhava com São José para procurar o necessário à vida, era amor que corria, eram conquistas
e triunfos que fazia, porque me bastava um Fiat para ter tudo à minha disposição, e fazendo uso de minhas mãos para um pequeno ganho, os Céus ficavam admirados, anjos eram arrebatados e mudos ao me verem rebaixar às ações mais humildes da vida. Assim meu amor tinha seu desfecho, enchia, transbordava em meus atos, e Eu era sempre o divino conquistador e triunfador.

Para Mim, tomar o alimento não era necessário, mas tomava-o para fazer correr mais amor e fazer novas conquistas e triunfos, assim que dava o curso às coisas mais humildes e baixas da vida, que para Mim não eram necessárias, mas o fazia para formar tantas vias distintas para fazer correr meu amor e formar novas conquistas e triunfos sobre minha Humanidade, para fazer dela um dom a quem tanto amava, e por isso, quem não recebe meu amor e não me ama, forma meu mais duro martírio e põe na cruz o meu amor. Mas sigo adiante, para formar a Redenção bastava uma
lágrima, um suspiro, mas meu amor não teria ficado contente podendo dar e fazer de mais, teria ficado dificultado em si mesmo e não poderia ter dado a glória de dizer: ‘Tudo fiz, tudo sofri, tudo te dei, minhas conquistas são superabundantes, meu triunfo é completo'. Posso dizer que cheguei até confundir a ingratidão humana com meu amor, com meus excessos e com penas inauditas, por isso, Eu mesmo em cada pena punha a intensidade da dor mais intensa e acerbo, as confusões mais humilhantes, as barbáries mais cruéis, e depois que as circundava de todos os efeitos mais dolorosos, que só um Homem Deus podia sofrer, me exporia a sofrê-la, e oh! as admiráveis conquistas em minhas penas e o pleno triunfo que fazia meu amor, ninguém poderia me tocar se Eu não o quisesse, e aqui está todo o segredo, minhas penas eram voluntárias, queridas por Mim,
e por isso contêm o milagroso segredo, a força vencedora, o amor que compunge, e têm virtude de abarcar o mundo e mudar a face da terra".

33-7
Janeiro 28, 1934

O Ente Supremo e a criatura se irmanam na terra, irmanam-se na glória. Poder sobre o mesmo Jesus. Quem atua na Divina Vontade adquire a força unitiva, comunicativa e difusiva.

(1) Estava fazendo meu giro no Fiat Divino, e minha pobre mente ora se detinha em um ponto de seus atos divinos, ora em algum outro, para olhar em um beleza, em outro a potência, em outro a interminabilidade, e o demais da Divina Vontade criadora. Pareciam-me todas as qualidades
supremas expostas em tudo o que foi criado para amar as criaturas, para fazer-se conhecer, irmanar-se com elas e tomá-las como em seu regaço e levá-las ao seio do Criador, de onde tudo tinha saído, assim que todos os atos da Divina Vontade são ajudas poderosas, reveladoras a quem
se faz dominar por eles, e se fazem portadores das almas à pátria celestial. Depois cheguei a parar quando o Fiat Divino fez o ato solene da criação do homem, e meu amado Jesus me surpreendeu e disse:

(2) "Minha filha bendita, detenhamo-nos juntos a olhar com quanta maestria, suntuosidade, nobreza, potência e beleza foi criado o homem, todas nossas qualidades divinas se voltaram sobre ele, cada uma delas quis desafogar e verter-se mais que chuva densa sobre ele, porque eles queriam se irmanar com eles. Todas puseram mãos à obra: Nossa luz se derramou sobre ele para formar seu irmão de luz, a bondade se derramou para formar seu irmão todo bondade, o amor se dedicou para enchê-lo de amor e formar seu irmão todo amor, a potência, nossa sabedoria, a beleza, a justiça, lançaram-se sobre ele para formar seu irmão poderoso, sábio, justo e de uma beleza encantadora, e nosso Ser Supremo gozava ao ver todas as nossas qualidades divinas trabalhando para irmanar-se com o homem, e nossa Vontade, que tomando vida no homem, mantinha a ordem de nossas mesmas qualidades divinas para fazê-lo quanto mais gracioso e mais belo pudessem. Assim que nossa ocupação era o homem, nosso olhar estava fixo sobre ele para nos fazer imitar, copiar e irmanar conosco, e isto não só ao criá-lo, senão por todo o curso de sua vida, nossas qualidades se punham ao contínuo trabalho de manter a geminação com aquele que tanto amávamos, e depois de havê-lo geminado na terra, preparávamos a grande festa de irmanar-nos na glória na pátria celestial, geminação de alegria, de bem-aventurança, de felicidade contínua, por isso o amo tanto, porque foi criado por Nós, por isso é todo nosso; Eu o amo porque nosso Ser Divino corre sempre sobre ele e se derrama sobre ele mais que rio impetuoso para deixar o nosso e voltar a tomar a nova carreira para sempre dar. Então, como ele possui o que é meu, Eu amo a
Mim mesmo nele, Eu o amo porque está destinado a povoar o Céu e a ser meu irmão de glória, que nos glorificaremos mutuamente. Eu serei a sua glória como vida, e ele será a minha glória como obra minha. Por isso amo tanto que se faça e se viva em minha Vontade, porque com Ela minhas qualidades divinas encontram seu posto de honra e podem manter a geminação com a criatura, sem Ela não encontram posto, nem sabem onde colocar-se, a geminação fica interrompida e minha Vida fica sufocada. Minha filha, que mudança funesta, quando a criatura se subtrai de minha Vontade Eu não encontro mais minha imagem, nem minha Vida crescente nela, minhas qualidades se envergonham de estarem irmanadas com ela, porque o querer humano desunido do Divino tudo tem transtornado e entorpecido. Por isso o que mais te importa é não sair de minha Vontade, com Ela estarás geminada com tudo o que é santo, serás a irmã de todas nossas obras e terás em teu poder a teu mesmo Jesus".

(3) Depois disto continuava meus atos no Querer Divino, e meu Soberano Jesus acrescentou:

(4) "Minha filha, tudo o que se faz em minha Vontade fica fundido com Ela, adquire a força unitiva, comunicativa e difusiva, e assim como nossos atos divinos se estendem a todos, não há criatura que seja posta de lado, assim quem age em nosso Querer, juntamente com o nosso ato se estende a todos, quer fazer bem a todos e fica honrado e glorificado por ter sido portador universal de bem a tudo e a todos".

(5) E eu: "Meu amor, porém não se vê nas criaturas o fruto de tanto bem universal, oh! se todos o recebessem, quantas transformações haveria no submundo". E Jesus repetiu:

(6) "Isto significa que não o recebem com amor, e seus corações são como terra estéril que não tem nenhuma semente geradora, à qual a nossa luz não pode levar a fecundidade. Acontece como ao sol, que apesar de iluminar e aquecer toda a terra, não encontra a semente para fecundá-la e não pode comunicar sua virtude generativa e produtiva, e embora com sua luz e calor tenha plasmado aquelas terras, nenhum bem recebeu, permaneceram como estavam, em sua esterilidade, mas com isso o sol ficou honrado e glorificado porque a tudo deu sua luz, ninguem pôde fugir dela, e fica triunfante só porque deu sua luz em modo universal a todos e sobretudo.

Assim são nossas obras, nossos atos, só porque possuem a virtude extensível de poder dar-se em modo universal a todos e de fazer bem a todos, é a maior honra e a maior glória para Nós, não há honra maior, glória maior do que poder dizer: ‘Eu sou o portador do bem a todos, em meu ato eu
levo em minha mão todos, abraço todos, e tenho a virtude de gerar o bem sobre tudo’. E como meu ideal é a criatura, a chamo em minha Vontade a fim de que junto com Ela se torne extensível a todos, e conheça com quanto amor e como age minha Vontade".

34-7
Março 1, 1936

Prodígios da Encarnação do Verbo Divino. Como os Céus ficaram estupefatos e os anjos ficaram mudos. Prodígios quando a Divina Vontade opera na criatura. A Trindade Divina chamada a concílio. Deus ao criar-nos põe uma dose de seu Amor na criatura.

(1) Estou sob prensa da privação de meu doce Jesus, sinto-me esmagada, desfeita, como se minha vida quisesse terminar, mas o Querer Divino triunfante sobre meu pequeno ser surge em minha alma, e me chama a fazer minha jornada em sua Vontade, parece-me que enquanto me sente morrer sem morrer, Ela forma sua vitória e é seu triunfo, e sua Vida ressurge mais bela, toda cheia de majestade e de duplicado Amor sobre minha vontade que morre. Oh! Vontade Divina, quanto me ama, Você me faz sentir a morte para concentrar principalmente sua Vida em mim.

Depois continuava minha jornada em seus atos divinos, e tendo chegado à Encarnação do Verbo sentia-se tal amor, de sentir-se queimar, consumir em suas chamas divinas. E meu sumo bem Jesus, como afogado em suas chamas de amor me disse:

(2) "Minha filha bendita, meu Amor foi tanto ao Encarnar-me no seio de minha Mãe Celestial, que Céus e terra não podiam contê-lo, o ato de Encarnar-me ocorreu em um ato de amor tão intenso, tão forte, tão grande, que era mais que suficiente para queimar tudo e a todos de amor. Tu deves saber que antes de Encarnar-me, meu Pai Celestial viu em Si mesmo, e no ímpeto de seu Amor, não podendo contê-lo tirava de Si rios, mares de Amor, neste ímpeto de amor viu a seu Filho, e Eu me encontrava em suas mesmas chamas de amor e me ordenou que me encarnasse; Eu o amava, e num ímpeto de amor, sem deixar a meu Pai nem ao Espírito Santo, aconteceu o grande portento  da Encarnação. Fiquei com meu Pai, e ao mesmo tempo desci ao seio de minha Mãe. As três Divinas Pessoas eram inseparáveis, não sujeitas a separar-se, por isso posso dizer: ‘Fiquei no Céu e desci à terra, e o Pai e o Espírito Santo desceram Comigo à terra e ficaram no Céu'. Por isso, neste ato tão grande nosso Ser Divino transbordou tanto em amor, que os Céus ficaram maravilhados e os anjos surpresos e mudos, todos envoltos em nossas chamas de amor. A
Encarnação não foi outra coisa que um ato de nossa Divina Vontade, que coisa não sabe fazer e pode fazer? Tudo; chega com sua Potência e com seu Amor infinito até fazer o prodígio jamais ouvido, nem feito, de nos fazer ficar no Céu e descer na prisão do seio Materno. Assim quis nossa
Vontade que se fizesse.

(3) Agora minha filha, cada vez que a alma quer fazer minha Vontade, meu Pai Celestial primeiro observa dentro de Si, chama como em concílio à Trindade Sacrossanta, para preencher aquele ato de nossa Vontade de todos os bens possíveis e imagináveis, depois o tira de Si e faz investir a
criatura de sua Vontade constante, comunicante, transformante, e como na Encarnação as três Divinas Pessoas ficaram no Céu e desceram no seio da Imaculada Virgem, assim minha Vontade, com sua potência transporta Consigo em seu ato operando a Trindade Divina na criatura, enquanto
a deixa no Céu, e forma na vontade humana seu ato divino. Agora, quem pode dizer-te as maravilhas que vêm encerradas neste ato de nossa Vontade? Nosso amor surge e se difunde tanto, de não encontrar lugar onde se pôr, e quando tudo encheu se retira em nossa fonte; nossa Santidade se sente honrada com o ato divino de nossa mesma Vontade que age na criatura, e se difunde com graça surpreendente para comunicar sua Santidade a todas as criaturas, são prodígios inenarráveis que Ela faz quando a criatura a chama a agir nela. Por isso faz desaparecer
tudo em minha Vontade, e Nós te daremos tudo em teu poder e tu poderás dar-nos tudo, inclusive a Nós mesmos".

(4) Depois disso minha pequena inteligência a sentia tão cheia da Vontade Divina, que não podia contê-la, e seguia meu giro em seus atos divinos, e tendo chegado ao ato quando foi concebida a Imaculada Rainha, compreendia como o Ente Supremo antes de chamá-la à vida, lhe infundiu tanto
amor, que assim que sentiu a vida sentiu a necessidade de amar a seu Criador, sentia em Si mesma aquele amor que tirava. Eu fiquei surpresa, e meu amado Jesus adicionou:

(5) "Minha filha, não se maravilhe, é nosso costume que a cada criatura quando a colocamos fora à Luz do dia no ato de criá-la, damos uma dose de amor, dando-lhe assim parte de nossa substância divina, e segundo nossos desígnios que fazemos sobre ela, assim incrementamos a dose de nosso amor. Assim que cada criatura tem em si mesma a parte da substância do amor divino, de outra maneira como poderia amar-nos se Nós mesmos não púnhamos do nosso para fazer-nos amar?
Seria pedir o que não tinha, Nós já o sabíamos, que a criatura nada tem seu, por isso devíamos colocar como dentro de um sacrário nosso amor, nossa Vontade, para pedir que nos ame e faça nosso Querer. E se pedimos é porque sabemos que tem em seu poder nosso amor, e nosso
Querer, que Nós mesmos colocamos no fundo de sua alma. Agora, se nos ama, esta dose de nosso amor surge, se engrandece, e sente mais forte a necessidade de nos amar e de viver da Vontade de seu Criador; se não nos ama não cresce, e as debilidades humanas, as paixões, formam as cinzas sobre nosso amor, de modo que chega a não sentir nenhuma necessidade de nos amar, as cinzas cobriram e sufocaram nosso fogo divino, e enquanto o fogo existe, ela não o sente, enquanto cada vez que nos ama, não faz outra coisa que soprar para remover as cinzas, assim sentirá o fogo vivo que o queima no seio, e o aumentará tanto de não poder estar-se sem nos amar.

(6) Agora minha filha, a Imaculada Rainha, desde o primeiro instante de sua concepção, dado que sentia em Si o amor por seu Criador e nossa Vontade que age mais que sua própria vida, nos amou tanto que não perdeu nem um instante sem nos amar, e com amar-nos e amar-nos engrandeceu tanto esta dose de amor, de poder amar-nos por todos e dar amor a todos, e amar a todos sempre, sem cessar jamais; tu deves saber que nosso amor é tanto, que com colocar esta dose de amor na criatura, Nós colocamos o germe da felicidade dentro dela, porque a verdadeira felicidade deve ter seu posto real dentro da alma, a felicidade de fora se não reside dentro, não se pode chamar verdadeira felicidade, mas bem amarga à pobre criatura e é como um vento impetuoso, que rápido a dissipa, deixando os rastros apenas convertidos em espinhos que a amarguram, não assim a felicidade de dentro, posta por Nós, ela é duradoura e cresce sempre; e além disso amar é congratular-se e felicitar-nos, quem não ama não pode ser jamais feliz, quem não ama não tem nenhuma finalidade nem interesse de cumprir obras, nem sente o heroísmo de
fazer bem a ninguém, o sacrifício que dá as mais belas tintas ao amor não existe para ela. Então, a Virgem Santíssima possuía o mar da felicidade, porque possuía tantas vidas de amor por quantas criaturas existem, e não só isto, senão com não fazer jamais sua vontade, senão sempre a minha,
formava tantas Vidas da minha Vontade Divina n’Ela, de modo que pode dar a cada criatura uma Vida de Amor e uma Vida de Querer Divino. Eis por que com direito é Rainha do amor, e Rainha da Vontade Suprema. Por isso a Soberana Rainha ama, suspira tirar estas Vidas para colocá-las nas
criaturas e formar o reino do puro amor e o reino de nossa Vontade, e assim chegará ao ponto máximo de amar a seu Criador, e ao ponto máximo de amar e de fazer bem às criaturas".

35-7
Setembro 12, 1937

As verdades são os maiores dons que Deus nos dá. Parto Divino. Delírio extremo por querer nos ver possuidores de seus dons. Sua palavra é desabafo de amor. O grande bem de um ato feito na Divina Vontade.

(1) Minha pobre mente está como assediada pela Divina Vontade, quer dizer tanto das verdades que lhe pertencem, que eu não posso contê-las, porque minha capacidade é muito pequena, e sou obrigada a dizer: "Basta Jesus por agora, Tu queres dizer-me tanto, mas eu sou incapaz de as
reter, não saberei dizê-las todas, muito menos escrevê-las como Tu queres". E meu doce Jesus compadecendo minha pequenez, todo ternura me disse:
(2) "Minha pequena filha de meu Querer, não temas, sua pequenez se perde em minha Vontade, e não é você quem deve manifestar suas verdades, senão que Ela mesma tomará o empenho de se fazer narradora do que quer fazer conhecer, por isso investirá sua mente, se fará palavra sobre os teus lábios e se fará conhecer, fará conhecer quem é Ela; certamente que por ti mesma não o podes fazer, mas desde que nos dês a tua vontade na nossa, Nós remediaremos tudo e faremos conhecer o que queremos dizer. Tu deves saber que quando queremos fazer um bem às criaturas,
dizer uma verdade, que é o bem maior que podemos dar-lhes, porque com dizê-la, dessa mesma verdade lhes fazemos dom, primeiro o amadurecemos no seio de nossa Divindade, e quando já não podemos contê-lo mais, porque o nosso amor é tanto que quer ver aquele dom possuído pelas criaturas, faz-nos chegar ao desvario, ao delírio, e chega a fazer-nos definhar porque quer ver aquele bem transmitido a elas; nos encontramos nas dolorosas condições de uma pobre mãe que tendo formado seu parto, se não o traz à luz se sente morrer; Nós não podemos morrer, mas se o bem que queremos dar como parto nosso não o tiramos à luz, nosso amor dá em tais excessos, que se se pudessem ver pelas criaturas, compreenderiam como sabe amar um Deus e em que estreitezas nos põem quando não recebem o bem que queremos dar-lhes, por isso quando encontramos quem o recebe, confirmamos o dom, fazemos festa e nos sentimos vitoriosos pelo bem que lhe demos, porque tendo-o recebido uma só criatura, nosso parto saído com tanto amor, por si mesmo se fará caminho, girará por todas as criaturas e com sua virtude gerativa gerará muitos outros partos, encherá todo o mundo, e Nós teremos a grande glória de ver cheios céus e terra de nosso dom, de nossos bens, e possuidores de quem o quer receber. Ouviremos por toda parte as vozes amorosas, as notas de nosso amor falante, que nos dão a correspondência a nosso amor reprimido, porque não podíamos trazer à luz este nosso parto se não encontrássemos ao menos uma criatura que o quisesse receber. Para Nós fazer o bem é paixão, dar é delírio contínuo do nosso amor, e ao encontrar quem o receba sentimos no dom a nossa Vida e o nosso repouso.

Por isso, à que como primeira se presta a receber nosso parto, a amamos tanto que confiamos nela, a fazemos nossa secretária, e ela, ao ver-se tão amada por Nós, toma o compromisso de nos amar por todos, e oh! a competição que se forma entre ela e Nós. Você deve saber que cada
palavra nossa é um desabafo de amor que fazemos com a criatura, assim que cada palavra dita sobre nossa Vontade Divina é um desabafo de amor que temos feito, e recebendo refrigério por este desabafo continuamos falando, para formar a cadeia dos nossos desabafos de amor, porque
era um amor reprimido que tínhamos em Nós, e se tu soubesses o que significa este nosso desabafo de amor, os bens que faz; este nosso desabafo de amor cheio de céus e terra, investe a todos, embalsama as penas, faz-se dia na noite da culpa, converte os pecadores, reforça quem
vacila no bem, reafirma os bons, em suma, não há bem que não possa fazer uma palavra nossa que contenha um desabafo do nosso amor. Assim, fazer-nos falar é o maior bem que se pode fazer às criaturas, e o nosso amor correspondido e o dar Vida Divina às criaturas é a maior glória que podemos receber. Que coisa não pode fazer uma palavra nossa? Tudo, e quem está disposto a escutá-la, pode-se dizer que dá vida a nossa palavra, porque Nós jamais falamos se não encontrarmos quem queira nos ouvir. Por isso, quem nos escuta nos ama tanto, que sentimos como se quiséssemos dar vida entre as criaturas, e Nós lhe damos nossa Vida à sua disposição.

Por isso seja atenta a ouvir-nos, faze-nos desabafar em amor, porque muitas vezes quando não temos com quem fazer estes desabafos de amor, justamente se convertem em justiça".

(3) Jesus fez silêncio, mas quem pode dizer o que ficou em minha mente, não tenho palavras para expressá-lo, por isso melhor termino e me abandono nos braços de Jesus para repousar junto com Ele, que me ama tanto e tanto quer ser amado, que me dá todo Si mesmo, para ser amado como Ele me ama. Depois seguia meu giro na Criação para encontrar os atos feitos pelo Querer Divino, fazê-los meus para poder amá-lo como Ele me amou, e chegando ao céu azul pensava entre mim:
"Este céu serve como teto aos habitantes da terra, e como piso aos habitantes do Céu, então, como serve a todos, todos estão obrigados a adorar Aquele que com tanto amor criou este céu para nos dar". Portanto, chamava todos os anjos, os santos e todos os habitantes da terra juntamente comigo, para que todos nós, unidos, retribuíssemos em amor, em adoração, em glória e em agradecimento ao nosso Criador, porque Ele nos amou tanto que nos deu este céu; no Querer Divino eu chamava, abraçava a todos, e como se fossem um só amavam junto comigo. O doce Jesus ficou correspondido em amor por tantas vozes, e com um amor indizível me disse:

(4) "Minha filha, é tanta a potência de um ato feito em meu Querer, que chega ao incrível; conforme você chamava a todos me senti amado por todos, e tendo você uma vontade livre e meritória, enquanto fez seu ato, minha Vontade fez sair de Si um amor, uma glória, uma felicidade maior, da
qual todos se sentiram investidos, e os anjos e santos sentem uma glória e felicidade maior e se sentem mais amados por Deus, a terra recebe mais ajudas, mais graças, segundo suas disposições. Todos os atos feitos em meu Querer recebem este grande bem, porque minha Vontade é de todos, e todos têm direito a aquele ato, e como é um ato de um peregrino, que é o que faz com que corra o mérito em tudo o que faz de bem, o mérito se torna mérito comum, e portanto, alegrias, amor e glória comuns, e se você soubesse o que significa ser mais amado por Deus, o que significa alegrias e glória que dá um Deus, oh! como estarias mais atenta; os anjos, os santos, que sim o sabem, suspiram por tua chamada para ter este grande bem, e quando tu não os chamas, pressurosos dizem: „Não nos chama hoje?' Então você está na terra e seu mérito corre no Céu para dar novo amor e nova felicidade para os habitantes celestiais. Oh! como gostaria que todos conhecessem o que significa agir em minha Vontade, porque o conhecimento é como o apetite, que faz desejar e saborear o alimento que se come, em troca sem o apetite se sente aversão a essa mesma comida e não se saboreia. Tal é o conhecimento, é o portador dos meus dons, do bem que quero fazer às criaturas, é a confirmação da posse. Além disso, o conhecimento gera a estima, o apreço às minhas verdades, e Eu somente falo quando sei que minhas palavras são amadas, ouvidas e apreciadas, aliás, quando vejo a estima, o amor, sinto-me atraído por meu mesmo amor a manifestar outras verdades, mas se isto não vejo, faço silêncio e sinto a dor do meu amor reprimido. Não me vais fazer isto, não é verdade?"

36-7
Maio 10, 1938

Deus, para ser amado põe no coração da criatura seu amor e o converte em moedas. As vigílias de Jesus, a paternidade divina e a filiação de quem vive na Divina Vontade. Como a escreve com caracteres indeléveis como "a minha filha".

(1) Sinto que o Querer Divino me chama a cada instante porque quer ser amado, e como a meu amor apenas posso chamá-lo de gotinhas, Ele quer dar-me o seu a fim de que eu tenha mares de amor, não gotas, para dizer-lhe que o amo muito, muito. Que bondade! Quer pôr do seu para ter a alegria de poder dizer que a criatura o ama. Depois, o meu sempre amável Jesus voltou para visitar a minha pobre alma, o seu coração batia fortemente e apertando-me a Si nos seus braços, disse- me:

(2) "Filha bendita de meu amor, Eu ardo, sinto-me desfalecer, deliro porque quero ser amado, e para obter minha tentativa sabe o que faço? Coloco meu amor no coração da criatura, faço-o correr na mente, nas palavras, nas obras, nos passos, e converto todo este amor que lhe corre por todas
as partes em moedas de amor divino, e para fazê-las correr como moedas que nos pertencem, nelas cunho uma imagem escrita sobre seu canto que diz: ‘Jesus, Rei do Reino da Divina Vontade'. Estas moedas de amor são um meio que damos à criatura para poder dizer com direito: ‘Já te amei'. Este amor convertido por nossa bondade em moedas pode comprar o que quer e ama, portanto pode comprar nossa santidade, nossa própria Vontade, nossas virtudes, e se quiser mais amor, tem moedas suficientes para comprá-lo, e oh! como gozamos ao ver que a criatura já não é pobre, mas rica, e tem tanto que pode chegar até comprar nossas virtudes, nossa própria santidade. Como é bonito ver que tem nossa moeda de amor que a torna proprietária dos nossos próprios bens. Mas esta moeda de amor a damos a quem vive em nosso Querer, porque esta criatura não fará desperdício dela, a saberá conservar, a multiplicará para poder nos amar sempre mais e nos dar um alívio a nossas chamas que nos devoram".

(3) Depois seguia meu giro nos atos do Querer Divino, me sentia sofredora e com tal desvelo, que não podia estar calma, os minutos me pareciam séculos, que noite eterna! Esperava a meu doce Jesus que viesse me acalmar, finalmente, depois de muito esperar, meu amado Jesus se fazia ver
todo aflito, e todo bondade me disse:

(4) "Pobre filha, como é dura a vigília, não é verdade? Quantas vezes teu Jesus se encontra com estas penas tão cruas e dilacerantes, quantas vigílias me fazem fazer as criaturas, posso dizer que estou sempre em vigília e sofro as inquietudes de meu amor; se a criatura peca, a sinto fugir de
meus braços, e Eu ao ver, olho e a vejo rodeada pelos demônios que fazem festa e chegam a zombar do bem que fez; pobre bem, como é coberto pela lama da culpa, mas Eu, como ainda a amo, lhe mando algum brilho de luz, e vigio; lhe mando remorsos para fazê-la levantar-se de novo,
e vigio; os minutos me parecem séculos, não posso me acalmar se não a vejo voltar a meus braços, e vigio, vigio sempre, espio-lhe os batimentos de seu coração, os pensamentos de sua mente para suscitar a lembrança de quanto a amo, mas o que, tudo é em vão e sou obrigado a cuidar e vigiar. Que dura vigília! Se esta criatura retorna a Mim, repouso um pouco, de outra maneira continua minha vigília. Se alguma outra criatura quer fazer um bem e toma tempo e jamais se decide, Eu cuido e vigio, procuro encorajá-la com meu amor, com inspirações e mesmo com promessas, mas não se resolve, encontra tantos pretextos, dificuldades, e me tem sempre em vigília. Quantas vigílias me fazem fazer as criaturas e em tantos modos! Eis a razão da tua vigília, para ter um pouco de companhia na minha vigília contínua, por isso soframos juntos, ama-me e encontrarei um pequeno repouso às minhas tantas vigílias".

(5) Depois disso ele adicionou com um sotaque mais terno:
(6) "Filha do meu sofrimento, você quer saber quem não me dá esta dor tão difícil de me fazer vigilante? Quem vive em Minha Vontade, é mais, assim que decide viver n’Ela Eu declaro-a minha filha e chamo todo o Céu, a Trindade Sacrossanta para festejar a nova filha que adquiri; todos a
reconhecem porque a escrevi com letras indeléveis no meu coração, no meu amor que sempre arde, como: ‘Minha filha'. Agora, no meu Querer está sempre Comigo, tudo o que faço Eu faz ela, portanto, nos meus nascimentos contínuos renasce junto Comigo, e Eu escrevo-a como: ‘A filha do
meu nascimento'. Se a ingratidão humana me obriga a chorar, ela chora junto Comigo, e Eu a escrevo até em minhas lágrimas como: ‘A filha de minhas lágrimas'. Em suma, se sofro, se faço, se caminho, escrevo-a como: 'A filha de minhas penas, de minhas obras, a filha de meus passos'.
Onde quero a levo escrita. Agora, você deve saber que entre paternidade e filiação há vínculos indeléveis, ninguém pode desconhecer, nem na ordem sobrenatural nem na ordem natural os direitos de paternidade e de filiação, assim que, Eu como Pai sinto o dever de constituir como
herdeiro de meus bens, de meu amor, de minha santidade, a quem com tanta solenidade declarei que é minha filha, até levá-la escrita no meu coração divino. Se não a amasse sentiria que defraudo meu paterno amor, por isso não o posso fazer. Agora, esta criatura tem o dever de me
amar e de possuir os bens de seu Pai, tem o dever de defendê-lo, de fazê-lo conhecer, e mesmo de pôr sua vida a fim de que ninguém me ofenda. E como é bonito ver estes meus filhos que vivem no meu Querer, que chegam a dizer-me: ‘Pai meu, cuidaste e vigiaste demasiado, já estás cansado, repousa-te, e para fazer que o teu repouso te seja doce, repousa-te no meu amor e eu ficarei acordado, tomarei o teu lugar junto às almas, talvez tenha êxito em fazer-te encontrar alguma quando acordares! E Eu confio nelas e repousarei por algum tempo. Que coisa não pode fazer quem vive em Minha Vontade? Pode fazer-me tudo, porque a sua luz a faz acompanhar todas as minhas dores, e Eu faço tudo a ela, alternamos mutuamente a vigília e o repouso.

Como é bonito viver no meu Querer! A criatura se põe em nossas mesmas condições, o que queremos Nós quer ela, e esta é a coisa mais santa, maior, mais nobre, cheia de majestade e de pureza: ‘Querer o que Deus quer'. Nenhum outro ato pode chegar a uma altura tão sublime e a um valor que não termina jamais, como o querer o que Deus quer; Deus é santo e puro, é ordem, é bondade, ao querer o que Deus quer, a criatura quer o que é santo, puro, bom, e com a plenitude da ordem, sente-se renascida em Deus, faz o que faz Deus; Deus faz tudo, abraça tudo, move-se em todos, e ela é concomitante ao que faz Deus. Pode fazer bem maior? Por isso ao viver em meu Querer não há nada que o possa alcançar nem ultrapassar, portanto viva sempre em meu Fiat e seremos felizes, você e Eu".


Nenhum comentário:

Postar um comentário

LIVRO DO CÉU VOLUME 1 - SERVA DE DEUS LUISA PICCARRETA

  Luísa Piccarreta A pequena filha da Divina Vontade O REINO DA DIVINA VONTADE EM MEIO AS CRIATURAS LIVRO DO CÉU A CHAMADA ÀS CRIATURAS À OR...