Parte 1
VOLUME 1
(127) Eu resignei-me à sua Santa Vontade, ofereci aquela Comunhão como a última da minha vida, dei o último adeus a Jesus no Sacramento, e embora estivesse resignada, mas a minha natureza sentia-o tanto, que todo aquele dia não fiz outra coisa senão chorar e pedir ao Senhor que me desse força. Na verdade me pareceu muito amargo todo esse fato, e sem pensar nem sabê-lo encontrei uma nova e pesada cruz que creio ter sido a mais pesada que tive em minha vida.
Enquanto estava naquele estado de sofrimentos, eu não pensava em outra mais do que morrer e fazer a vontade de Deus. Os familiares, que também sofriam ao me ver naquele estado, tentaram chamar algum sacerdote, mas ninguém quis vir, um por um e outro por outro; depois de dez dias veio o sacerdote que me confessava quando era pequena, e aconteceu que também ele me fez sair desse estado, e então me dei conta da rede na qual o Senhor me havia envolvido.
(128) Daqui veio-me uma guerra por parte dos sacerdotes, quem dizia que era fingimento, quem precisava dos tacos, outros que queria passar por santa, quem acrescentava que estava endemoninhada e muitas outras coisas, que dizê-las todas seria fazer muito longa a história. Com estas idéias em suas mentes, quando sucediam os sofrimentos e a família mandava chamar alguém, não queriam vir, dizendo todas aquelas coisas, e a pobre família sofreu muito, especialmente a minha pobre mãe, quantas lágrimas derramou por mim. Ah! Senhor, protege-a Tu. Oh meu bom Senhor, quanto sofri desde então, só Você sabe tudo!
(129) Quem pode dizer quão amargo me foi este fato, que para me libertar desse estado de sofrimentos necessitava-se do sacerdote Quantas vezes pedi derramando lágrimas amarguíssimas, que me libertasse disto! Muitas vezes fiz positivas resistências ao Senhor quando Ele queria que me oferecesse como vítima, e aceitasse as penas, e lhe dizia: "Senhor, promete-me que Tu mesmo me libertarás, e então aceito tudo, de outra maneira não, não quero aceitar". E resistia o primeiro dia, o segundo, o terceiro, mas quem pode resistir a Deus? Insistia tanto comigo que finalmente me via obrigada a submeter-me à cruz. Outras vezes lhe dizia de coração e com confiança: "Senhor, como é que fazes isto? Como é que entre você e eu, você quis colocar um terceiro? E este terceiro não quer se emprestar. Olhe, poderíamos estar muito contentes Você e eu sozinhos. Quando você me queria para sofrer, eu imediatamente aceitava, porque eu sabia que Você mesmo deveria me libertar, mas agora não, outra mão é necessária, Eu imploro, liberte-me, porque assim estaremos ambos mais felizes".
(130) Às vezes fingia não me escutar e não me dizia nada, outras vezes me dizia:
(131) "Não temas, Eu sou quem dá as trevas e a luz, virá o tempo da luz é meu costume que minhas obras as manifesto por meio dos sacerdotes".
(132) Assim passei três ou quatro anos destas contradições por parte dos sacerdotes, muitas vezes me sujeitavam a provas duríssimas, chegavam a me deixar nesse estado de sofrimentos, isto é petrificada, incapaz de qualquer mínimo movimento, nem sequer de poder tomar uma gota de água, até 18 dias quando o queriam. Só o Senhor sabe o que eu passava nesse estado, e logo quando vinham não tinha sequer o bem de ouvir: "Tem paciência, faz a Vontade de Deus". Mas foi repreendido como um caprichoso e desobediente. Oh Deus, que pena! , quantas lágrimas derramei; quantas vezes pensei que era desobediente e dizia para mim "Como essa virtude da obediência que para o Senhor é a mais agradável está tão longe de mim, o que pode fazer e esperar de bem uma alma desobediente?" Muitas vezes me lamentava com Nosso Senhor e às vezes chegava até ressentir-me, e quando Ele queria que aceitasse os sofrimentos, eu resistia quanto mais podia. Mas o Senhor, quando via que começava a resistir, fazia ver que não me dava atenção e não me dizia mais nada, e logo de repente vinha me surpreender. O que depois dizia o confessor é porque não queria que caísse naquele estado, mas isto não estava em meu poder, é verdade que fui desobediente, e que jamais fui boa para nada. Mas recordo também que a pena mais dolorosa para mim era o não poder obedecer.
2-19
Maio 6, 1899
Luisa procura Jesus entre os anjos.
(1) Esta manhã quase não se fez ver Jesus, minha mente a sentia tão confusa que quase não compreendia a perda de Jesus, naquele momento me senti circundada de muitos espíritos, talvez fossem anjos, mas não sei dizê-lo com segurança. Enquanto me encontrava no meio deles, de vez em quando me punha a indagar, pois, quem sabe? Talvez pudesse ouvir o hálito do meu amado, mas por mais que fizesse não advertia nada que indicasse que ali estava meu amante Bem. Quando de repente, de trás das costas, senti vir um sopro doce, súbito gritei:
"Jesus, meu Senhor!"
(2) Ele respondeu: "Luisa, o que queres?"
(3) "Jesus, meu lindo, venha, não fique atrás de minhas costas porque não posso te ver, estive toda esta manhã te esperando e indagando, pois talvez tivesse podido te ver no meio destes espíritos angélicos que rodeavam a cama, mas não tive êxito, por isso me sinto muito cansada, porque sem Ti não posso encontrar repouso, vem para repousar juntos". Assim Jesus se pôs junto a mim e me sustentava a cabeça. Aqueles espíritos disseram: "Senhor, quão rapidamente te conheceu, não pela voz, mas com o sopro logo te chamou".
(4) Jesus respondeu-lhes: "Ela conhece-me a Mim e Eu conheço-a a ela. Ela é-me tão querida, como me é querida a pupila dos meus olhos".
(5) E enquanto assim dizia, encontrei-me nos olhos de Jesus. Quem pode dizer o que senti estando naqueles olhos puríssimos? É impossível expressá-lo com palavras, os próprios anjos
ficaram surpreendidos.
3-18
Dezembro 21, 1899
Luisa fala da virgindade e da pureza
(1) Depois de um longo silêncio, esta manhã o meu amável Jesus, interrompendo-o, disse-me:
(2) "Eu sou o receptáculo das almas puras".
(3) E nestas suas palavras tive uma luz intelectual que me fazia compreender muitas coisas sobre a pureza, mas pouco ou nada sei pôr em palavras do que ouço no intelecto. Mas a honorável
senhora obediência quer que escreva alguma coisa, mesmo desatinando, e para agradá-la direi meus desatinos sobre a pureza.
(4) Parecia-me que a pureza era a gema mais nobre que a alma poderia possuir. A alma que possui a pureza está investida de cândida luz, de modo que Deus bendito, olhando-a encontra sua mesma Imagem, sente-se atraído a amá-la, tanto que chega a apaixonar-se dela, e é tomado por tanto amor que lhe dá por cidade seu puríssimo coração, Porque só o que é puro e puro entra em Deus, nada entra manchado naquele seio puríssimo. A alma que possui a pureza conserva em si seu primeiro esplendor que Deus lhe deu ao criá-la, nada há nela desfigurado, sem nobreza, senão que como rainha que aspira às núpcias do Rei celestial, conserva sua nobreza até que esta nobre flor seja transplantada nos jardins celestiais ¡Oh, como esta flor virginal é perfumada com aroma especial! Eleva-se sempre sobre todas as outras flores, e mesmo sobre os mesmos anjos. Como se destaca com variadas belezas! Assim, todos são tomados por estima e amor, e livremente todos lhe dão o passo até fazê-la chegar ao Esposo Divino, de modo que o primeiro posto em torno de Nosso Senhor é destas nobres flores. Então Nosso Senhor se deleita grandemente em passear no meio destes lírios que perfumam a terra e o céu, e muito mais se alegra em estar circundado por estes lírios, porque sendo Ele o primeiro nobre lírio e o modelo, é o exemplar de todos os demais.
Oh, como é bonito ver uma alma virgem! Seu coração não emite outro alento que de pureza e de candura, nem sequer tem a sombra de outro amor que não seja Deus, também seu corpo exala cheiro de pureza; tudo é puro nela: Pura nos passos, pura no agir, no falar, no olhar, também no mover-se, assim que ao só vê-la se sente a fragrância e se descobre uma alma virgem de verdade.
Que carismas, que obrigado, que recíproco amor, que estratagemas amorosas entre esta alma e o Esposo Jesus! Só quem as sente pode dizer alguma coisa, porque nem sequer se pode narrar tudo, e eu não me sinto em dever de falar sobre isto, por isso faço silêncio e passo adiante.
4-17
Outubro 10, 1900
Estes escritos manifestam claramente ao mundo o modo como Jesus ama as almas. A alma só pode sair do corpo, por força da dor ou do amor.
(1) Enquanto escrevia estava pensando entre mim: "Quem sabe quantos desatinos haverá nestes escritos, merecem ser lançados ao fogo, se a obediência me o concedesse, de boa vontade o faria, porque sinto como um enfado na alma, especialmente se chegassem a ser vistos por alguma pessoa, já que em alguns pontos fazem parecer como se amasse ou fizesse alguma coisa por Deus, enquanto que não faço nada, não o amo, e sou a alma mais fria que se possa encontrar no mundo, e então me teriam em um conceito diferente do que sou, e isto é uma pena para mim; mas como é a obediência que quer que escreva, sendo isto para mim um dos maiores sacrifícios, portanto me entrego toda a ela, com a esperança certa que ela me desculpará e justificará minha causa diante de Deus e diante dos homens". Mas enquanto digo isto, o bendito Jesus mexeu-se dentro de mim e está a repreender-me e quer que retire o que disse, e se não o fizer não quer que continue a escrever. Está me dizendo que ao dizer isto me afastei da verdade, sendo que a coisa mais essencial de uma alma é não sair jamais do círculo da verdade. Como! você não me ama?
Com que intrepidez diz, não Tu queres sofrer por Mim?".
(2) E eu envergonhando-me toda: "Sim, Senhor".
(3) E Ele: "E bem, como é que vens a sair da verdade?"
(4) Dito isto, retirou-se em meu interior, sem mais fazer-se ouvir, ficando eu como se tivesse recebido um golpe. ¡ Quantas me faz a senhora obediência, se não fosse por ela não me encontraria nestas lutas com meu amado Jesus! ; quanta paciência é necessária com esta bendita obediência!
(5) Agora, vou dizer o que devia dizer, pois o Senhor me distraiu um pouco do que havia começado, então, ao vir o bendito Jesus respondeu ao meu pensamento dizendo-me:
(6) "Certamente merecem ser queimados estes escritos teus, mas queres saber em qual fogo? No fogo de meu amor, porque não há página neles que não manifeste claramente o modo como amo as almas; tanto se são coisas que se referem a ti, como se referem ao mundo; e meu amor nestes teus escritos encontra um desabafo aos meus preocupados e amorosos desfalecimentos".
(7) Depois disto me transportou para fora de mim mesma, e encontrando-me sozinha, sem corpo, disse: "Meu amado e único Bem, que castigo é para mim ter que retornar tantas vezes a meu corpo, porque é certo que agora não o tenho, é só minha alma que está junto Contigo; e depois, não sei como me encontro aprisionada em meu mísero corpo como dentro de uma prisão
tenebrosa, e aí perco aquela liberdade que me vem dada ao sair dele. Isto não é um castigo para mim, o mais duro que se possa dar?"
8) E Jesus: "Minha filha, não é castigo o que tu dizes, nem por culpa tua que isto te acontece, antes deves saber que só por duas razões a alma pode sair do corpo: por força da dor, porque acontece a morte natural; ou por força de amor recíproco entre a alma e Eu, porque sendo este amor tão forte, nem a alma suportaria, nem Eu posso suportar muito sem gozá-la, por isso a vou atraindo a Mim, e logo a devolvo a seu estado natural; e a alma mais que atraída por um fio elétrico vai e vem como a Mim me agrada. Eis que o que tu crês castigo é amor finíssimo".
(9) E eu: "Ah Senhor, se o meu amor fosse bastante e forte, creio que teria a força de subsistir diante de Ti, e não estaria sujeita a retornar ao meu corpo; mas como é muito débil, por isso é que
estou sujeita a estas vicissitudes".
(10) E Ele: "Antes te digo que é amor maior, é extraído do amor do sacrifício, porque por amor meu e por amor dos teus irmãos te privas e regressas às misérias da vida".
(11) Depois disto o bendito Jesus me transportou a uma cidade, onde eram tantas as culpas que se cometiam, que saía como uma neblina densíssima, malcheirosa, que se levantava para o céu; e do céu descia outra neblina tupida, e dentro estavam condensados tantos castigos, que pareciam ser suficientes para exterminar esta cidade. Então eu disse: "Senhor, onde nos encontramos? Que lugares são estes?"
(12) E Ele: "Aqui é Roma, onde são tantas as maldades que se cometem, não só pelos leigos, mas também pelos religiosos, que merecem que esta névoa os acabe de cegar, merecendo com isso o seu extermínio".
(13) Num instante vi o estrago que acontecia, e parecia que o Vaticano recebia parte das sacudidas; não eram libertados nem sequer os sacerdotes, por isso toda consternada disse: "Meu Senhor, liberta a tua cidade predileta, a tantos ministros teus, ao Papa. Oh, de boa vontade te ofereço a mim mesma para sofrer seus tormentos, contanto que os perdoe!"
(14) E Jesus comovido me disse: "Vem Comigo e te farei ver até onde chega a malicia humana.”
15) E transportou-me para dentro de um palácio, e num quarto secreto estavam cinco ou seis deputados e diziam entre eles: "Só cederemos quando tivermos destruído os cristãos". E parecia que queriam obrigar o rei a escrever de seu próprio punho o decreto de morte contra os cristãos, e a promessa de deixá-los apoderar-se dos bens destes, dizendo-lhe que, contanto que consentisse com eles, ele não faria nada, porque não o fariam por agora, mas em tempo e circunstâncias oportunas o teriam feito. Depois disto me transportou a outra parte, e me fazia ver que devia morrer um daqueles que se dizem chefes, e este tal parecia tão unido com o demônio, que nem sequer nesse ponto se afastava, toda sua força a tomava dos demônios que o cortejavam como seu fiel amigo. Os demônios ao me ver se moveram, e um me queria bater, outro me queria fazer uma coisa e outra, entretanto eu, não fazendo caso a suas moléstias, porque me importava mais a salvação daquela alma, me esforcei e cheguei junto a esse homem. Oh Deus, que vista tão espantosa, mais que os mesmos demônios! Em que estado tão lamentável jazia ele! Mais duro que pedra, em nada o comoveu nossa presença, mas bem parecia que zombava. Jesus logo me tirou desse lugar, e eu comecei a rogar pela salvação dessa alma.
5-18
Outubro 2, 1903
Quem procura estar unido com Jesus, cresce na sua própria vida e dá o desenvolvimento ao enxerto feito por Ele na Redenção, acrescentando outros ramos à árvore da sua humanidade.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, toda amarga e afligida e quase aturdida pela privação de meu adorável Jesus, não sabendo eu mesma onde me encontrasse, se no inferno ou
sobre a terra, como raio que foge apenas o vi que dizia:
(2) "Quem se encontra no caminho das virtudes está em minha própria vida, e quem se encontra no caminho do vício, se encontra em contradição Comigo". E desapareceu.
(3) Logo depois, em outra aparição como relâmpago adicionado:
(4) "Minha Encarnação enxertou a humanidade à Divindade, e quem busca estar unido Comigo, com a vontade, com as obras e com o coração, tratando de desenvolver sua vida a norma da minha, pode-se dizer que cresce em minha mesma vida e dá o desenvolvimento ao enxerto feito por Mim, adicionando outros ramos à árvore da minha humanidade. Se não se une Comigo, além de que não cresce em Mim, não dá nenhum desenvolvimento ao enxerto, mas como quem não está Comigo não pode ter vida, então com a perdição se perde este enxerto".
(5) E novamente desapareceu. Depois disso, eu me encontrei fora de mim mesma dentro de um jardim onde estavam vários arbustos de rosas, algumas belas, abertas em justa proporção, outras semicerradas, e outras com todas as folhas caindo, que apenas se necessitava um ligeiro movimento para fazê-las descascar, ficando somente o caule da rosa nu, e um jovem, não sabendo quem fosse, me disse:
(6) "As primeiras rosas são as almas interiores, que trabalham em seu interior, são símbolo das folhas da rosa que se contêm no interior, dando um contraste de beleza, de frescor e de solidez, sem temer que alguma folha caia por terra; as folhas exteriores são símbolo do desabafo que faz a alma interior ao exterior, porque tendo vida por dentro são obras perfumadas de caridade santa, que quase como luzes golpeiam os olhos de Deus e do próximo. As segundas rosas são as almas exteriores, que o pouco bem que fazem tudo é externo, e à vista de todos, por isso, não sendo um desabafo do interior, não pode estar a única finalidade do amor de Deus, por isso, onde não há isto, as folhas não podem estar fixas, é dizer as virtudes, pelo que chegando o leve sopro da soberba, o sopro da complacência, do amor próprio, do respeito humano, das contradições, das mortificações, fazem cair as folhas mal as tocam, assim que a pobre rosa fica sempre nua, sem folhas, ficando-lhe somente espinhos que punem a consciência".
(7) Depois disto encontrei-me em mim mesma.
6-17
Fevereiro 7, 1904
Como é difícil encontrar uma alma que se dê toda a Deus. Para poder fazer com que Deus se dê tudo dela.
(1) Passei todo o mês passado sofrendo muito, por isso negligenciei escrever, e continuava me sentindo muito débil e sofrida, me vem frequentemente um temor, porque não é que não possa escrever, senão que não quero, e por desculpa digo que não posso; é verdade que sinto muita repugnância e devo fazer um grande esforço para escrever, e só a obediência podia vencer-me.
Por isso, para tirar qualquer dúvida, decidi não escrever tudo, mas apenas algumas palavras que me lembro, para ver se realmente posso ou não posso. Recordo que um dia me sentindo mal me disse:
(2) "Minha filha, o que será se cessar a música no mundo?"
(3) E eu: "Senhor, que música pode cessar?
(4) E Ele ajuntou: "Tua música amada minha, porque quando a alma sofre por Mim, roga, repara, louva, agradece continuamente, é uma contínua música a meu ouvido, e me tira o sentir a iniquidade da terra, e portanto de castigar como convém, e não só isso, mas que é música nas mentes humanas e as impede de fazer coisas piores. Então, se eu te levar, a música não vai parar? Para mim é nada, porque não será outra coisa que transportá-la da terra ao Céu, e em vez de tê-la na terra a terei no Céu, mas o mundo como fará?"
(5) Então eu pensava para mim: "Estes são os habituais pretextos para não levar-me, há tantas almas boas no mundo e que tanto fazem por Deus, e que eu entre todas elas não ocupo senão talvez o último lugar, porém diz que se me levar cessará a música. Há tantas que a fazem melhor".
Enquanto isso pensava, como um raio veio e acrescentou:
(6) "Minha filha, isto que dizes é verdade, que há muitas almas boas e que muito fazem por Mim, mas como é difícil encontrar uma que me dê tudo para poder dar-me tudo; quem se retém um pouco de amor próprio, um a própria estima, outro um afeto inclusive a pessoas mesmo santas, e outro uma pequena vaidade, quem se retém um pouco de apego à terra, quem ao interesse, em suma, quem a uma coisa e quem a outra, todos retêm alguma coisa de próprio e isto impede que tudo seja divino neles. Então, não sendo todo divino o que sai deles, não poderá sua música produzir aqueles efeitos a meu ouvido e às mentes humanas. Por conseguinte, o muito fazer deles não poderá produzir aqueles efeitos, nem me agradar tanto, como o pequeno fazer de quem não retém nada para si e que toda a Mim se dá".
7-19
Junho 13, 1906
A alma, para ser mais amada pelo seu sumo e único Bem, faria qualquer coisa.
(1) Passo-a sempre em contínuas privações, no máximo faz-se ver por instantes, ou em meu interior descansando e dormindo, sem me dizer uma palavra, e se faço por lamentar-me desinteressa dizendo-me:
(2) "Injustamente se lamenta, é a Mim ao que quer? E bem, me tens no íntimo de teu interior, que mais queres? Ou então, se me tens tudo em ti, por que te afliges? Ou se é porque não te falo, só de me ver já nos entendemos". Ou a tira com um beijo, com um abraço, com uma carícia; e se vê que não me tranquilizo repreende-me severamente dizendo-me:
(3) "Só me desagrada teu desagrado, se não te tranquilizas te farei desagradar de verdade."
“Escondendo-me de tudo”.
(4) Quem pode dizer a amargura da minha alma? Sinto-me uma idiota e não sei dizer o que sinto, e além disso, em certos estados de espírito é melhor calar-me e seguir em frente. Esta manhã, quando o vi, senti-me transportado para fora de mim, e não sei dizer bem se fosse o paraíso, estavam muitos santos, todos queimados de amor, mas o espantoso era que todos amavam, mas o amor de um era diferente do amor do outro; eu, encontrando-me com eles tentava distinguir-me e superá-los a todos no amor, querendo ser a primeira de todos a amá-lo, não suportando meu coração, muito orgulhoso, que os demais me igualassem, porque me parecia ver que quem mais ama está mais perto de Jesus, e é mais Amado por Ele. Por Ele, por Deus! A alma chegaria a todos os excessos, não tomaria em conta nem vida nem morte, nem pensa se lhe convém ou não, em suma, faria até loucuras para obter esta tentativa, de estar mais perto Dele e de ser amada um pouquinho a mais por seu sumo e único Bem. Mas com meu maior pesar, depois de breve tempo, uma força irresistível me levou a mim mesma.
8-17
Novembro 18, 1907
A alma vivendo seu nada se enche de Deus.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual veio o bendito Jesus, e assim que o vi disse: "Doce vida minha, como me fiz má, sinto-me reduzida no nada, nada sinto em mim, tudo é vazio, só sinto em meu interior um embelezamento, e neste embelezamento te espero a Ti, que me preencha, mas em vão espero este me encher, mas sinto-me voltar sempre no nada".
(2) E Jesus: "Ah! minha filha, e tu te afliges porque te sentes reduzida em nada? Mas digo-te que quanto mais a criatura se reduz no nada, tanto mais se enche do Todo, e se fosse ainda uma sombra de si que deixa, essa sombra impede que Eu me possa dar tudo, tudo à alma; e teu retornar sempre no nada significa que vais perdendo teu ser humano para readquirir o Divino.
9-17
Outubro 7, 1909
Cautela e zelo de Jesus circundar as criaturas de espinhos na alma e no corpo.
(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, é tal e tanto o zelo, a cautela que tenho com minhas criaturas, que para não deixá-las danificar-se estou obrigado a circundar de espinhos a alma e o corpo, a fim de que os espinhos mantenham afastada a lama que poderia sujá-las. É por isso minha filha que até os meus maiores favores com que favoreço às almas a Mim mais amadas as circundado de espinhos, isto é, de amarguras, de privações, de estados de ânimo, a fim de que estes espinhos não só me guardem, mas que não os deixem sujar-se com a lama do amor próprio e de outras coisas".
(3) E desapareceu.
10-18
Março 24, 1911
Reze pelas necessidades da Igreja.
(1) Continuando meu estado habitual, meu sempre amável Jesus veio, e eu lhe rogava por certas necessidades da Igreja e por um certo B. que editou livros de inferno, e me disse: \
(2) "Minha filha, não fez outra coisa senão lançar-se maioritariamente na lama; uma mente de sadio juízo logo verá como é néscio e como Eu o tenho cegado, pois não tem posto fora nenhuma verdadeira força de razão no que ele afirma. Não quero que os sacerdotes se apressem a lê-lo, tornando-se demasiado vis se o fizerem, e passarão os limites de sua dignidade, como se quisessem prestar atenção ao absurdo de uma criança, e por isso lhe darão espaço para que faça outros absurdos, mas se não lhe prestarem atenção, pelo menos lhe darão a dor de que ninguém leve a sério o que ele faz, e de que ninguém o aprecie. Responderão com obras dignas de seu ministério, esta é a mais bela resposta. Ah! àquele lhe acontecerá que cairá na armadilha que prepara para os demais".
Maio 25,1912
A alma na Vontade de Deus é um objeto moldável.
(1) Esta manhã, o meu sempre amável Jesus, vendo-me muito oprimida, fez-me beber do seu coração e depois disse-me:
(2) "Minha filha, se um objeto é duro e se lhe quer fazer um buraco ou lhe dar outra forma, se arruína ou fica feito em pedaços, em troca, se é macio ou de algum material moldável se pode fazer o buraco, pode dar-lhe a forma que se quer sem temor que se possa romper, e se se quisesse dar de novo sua forma original, sem nenhuma dificuldade o objeto se prestaria a tudo;
assim é a alma em minha Vontade, é um objeto moldável, e Eu faço dela o que quero: Agora a firo, agora a embelezarei, agora a engrandeço e em um instante a refaço de novo, e a alma se presta a tudo, não se opõe a nada e Eu a levo sempre em minhas mãos e me agrado dela continuamente".
17. A desobediência de Eva e a obediência de Maria.
5 de março de 1944.
Jesus diz:
“[…]. *
Não se lê no Gênesis* que Deus fez o homem para dominar tudo o que havia sobre a terra, ou seja,tudo, com exceção de Deus e dos seus ministros angélicos? Não se lê que fez a mulher para ser companheira do homem na alegria e na dominação de todos os seres vivos? Não se lê que eles podiam comer de tudo, menos da árvore da ciência do Bem e do Mal? Por quê? O que está sub-entendido nas palavras “para que domines”? O que está sub-entendido na árvore da ciência do Bem e do Mal?
Nunca vos fizestes tais perguntas, vós que viveis perguntando tantas coisas inúteis, mas não indagam vossa alma a respeito das verdades celestes?
A vossa alma, se estivesse viva, vos responderia. Quando ela está na graça de Deus, está bem segura, como uma flor entre as mãos do vosso anjo. Quando está na graça de Deus, é como uma flor beijada pelos raios do sol, borrifada por um orvalho do Espírito Santo, que a aquece e ilumina, que a irriga e adorna com suas luzes celestes. Quantas verdades vos diria a vossa alma, se soubésseis conversar com ela, se a amásseis, como se ama alguém que voz faz semelhantes a Deus, que também é Espírito. Que grande amiga teríeis, se amásseis a vossa alma, em vez de odiá-la, ao ponto de matá-la? Que grande e sublime amiga com a qual poderíeis falar das coisas do céu, vós que gostais tanto de falar, e vos arruinais reciprocamente, com amizades que, se não são indignas, pelo menos são quase sempre inúteis, transformando-se num vazio vão e nocivo de palavras, totalmente terrenas.
Não disse Eu: * “Quem me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada”? A alma no estado de graça possui o amor, possuindo então
Deus, ou seja, o Pai que mantém esta alma, o Filho que a ensina, o Espírito que a ilumina.
Possui, portanto, o Conhecimento, a Ciência, a Sabedoria. Possui a Luz. Pensai, então, nas conversações sublimes que vossa alma poderia entabular convosco. São os diálogos que encheram os silêncios dos calabouços, das celas, dos ermos, dos aposentos dos enfermos santos. Souberam confortar os que estavam encarcerados, à espera do martírio, os
enclausurados por amor à busca da Verdade, os ermitãos ansiosos pelo conhecimento antecipado de Deus, os enfermos pela suportação. Em suma, souberam ensinar o amor à
cruz.
Se soubésseis fazer perguntas à vossa alma, ela vos diria que o significado verdadeiro, exato, vasto como a criação, da palavra “domina” é este: “O homem deve dominar tudo, em todos os estados: o estado inferior, que é o animal; o estado mediano, que é o moral e o estado superior, que é o espiritual. O homem usa os três estados* para atingir um único fim, que é possuir a Deus”.
Merecer isto através deste férreo domínio, que subjuga as forças do eu, tornando-as escravas deste único objetivo: merecer a possessão de Deus. Vossa alma vos diria que Deus proibira o conhecimento do Bem e do Mal, porque o Bem tinha sido dado por Ele ás suas criaturas gratuitamente, mas Ele desejava que o Mal vós não conhecêsseis, porque é um fruto doce ao paladar, mas que, descendo para o sangue, desperta uma febre que mata, produzindo uma tal ardência, que quanto mais se bebe daquele suco mentiroso, mais se tem sede dele.
Vós me objetareis: “Então, por que o Mal foi colocado diante de nós?”. Porque é uma força que nasceu por si mesma, como nascem certos males monstruosos até nos corpos mais sadios.
Lúcifer era um anjo, o mais belo dos anjos. Espírito perfeito, inferior somente a Deus. No entanto em seu ser luminoso nasceu uma sombra de soberba, que ele não tratou de dispersar, mas, ao contrário, procurou condensar, incubando-a.
Dessa incubação, nasceu o Mal. Este existia, antes que o homem fosse criado. Deus havia precipitado o maldito incubador do Mal para fora do Paraíso, que tinha se maculado com este Mal. Não podendo mais sujar o Paraíso, o eterno incubador do Mal sujou a Terra.
A planta metafórica quer demonstrar esta verdade. Deus tinha dito ao homem e à mulher:
“Vós conheceis todas as leis e os mistérios da criação. Mas não queirais usurpar-me o direito de ser o Criador do homem. Para propagar a raça humana, bastará o meu amor, que circulará entre vós, sem libido de sensualidade, mas pelo impulso da caridade, que suscitará novos Adãos. Tudo eu vos dou. Só me reservo este mistério da formação do
homem”.
Satanás quis tirar esta virgindade intelectual do homem e, com sua língua serpentina, aplacou, acariciando membros e olhos da Eva, fazendo surgir neles reflexos e sagacidades, que antes não tinham, quando a malícia não os tinha intoxicado ainda.
Ela “viu”. E quis experimentar. A carne foi despertada. Oh! se tivesse chamado por Deus! Se tivesse corrido para ir dizer-lhe: “Pai, eu estou doente. A Serpente me acariciou, e
estou perturbada”. O Pai a teria purificado, e curado com o seu hálito, que podia infundir-lhe novamente a inocência, como lhe havia infundido a vida, fazendo-a esquecer-se do tóxico da Serpente, colocando nela a repugnância por ela, como acontece com aqueles que foram assaltados por algum mal, guardando uma instintiva repugnância dele. Mas Eva não foi ao Pai. Ela voltou à Serpente. Aquela sensação foi doce para ela: “Vendo que o fruto da árvore era bom para se comer, bonito de se ver e agradável ao aspecto, foi apanhá-lo, e comeu”.
E “compreendeu”. A malícia já tinha começado a morder-lhe as entranhas. Ela passou a ver com outros olhos, e a ouvir com outros ouvidos, os usos e as vozes dos irracionais. Passou a desejá-los com uma louca cobiça.
Ela iniciou sozinha o pecado. E o terminou com o seu companheiro. Por isso é que sobre a mulher pesa uma pena maior. Foi por meio dela que o homem se tornou rebelde a Deus e que ele conheceu a luxúria e a morte. Foi por ela que ele não soube mais dominar os três reinos: do espirito, porque permitiu que o espírito desobedecesse a Deus; da moral, porque permitiu que as paixões o dominassem; e da carne, porque o aviltou, submetendo-o às leis instintivas que regem os brutos. “A Serpente me seduziu”, diz Eva. “A mulher me ofereceu o fruto, e eu o comi”, diz Adão.
A tríplice concupiscência rouba os seus três reinos do homem.
Somente a Graça pode desacorrentar o homem preso àquele monstro impiedoso. Mas, se a Graça é viva, mantida sempre assim pela vontade do filho fiel, ela chega a destroçar o monstro, e não é preciso temer mais nada: nem os tiranos internos, isto é, a carne e as paixões; nem os tiranos externos, ou seja, o mundo e os poderosos dele. Nem as perseguições. Nem a morte. É como diz o Apóstolo Paulo:* “Nenhuma destas coisas eu temo, nem amo a minha vida mais do que a mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, que é o de dar testemunho do Evangelho da Graça de Deus”.
[…]”.
[8 de março de 1944.]
Maria diz:
“Estou na alegria, pois, desde que compreendi a missão a que Deus me destinava, fiquei repleta de alegria. O meu coração se abriu como um lírio que desabrocha e o sangue derramou dele, como terreno para o Embrião do Senhor.
Alegria de ser mãe.
Eu me tinha consagrado a Deus desde a mais tenra idade, porque a luz do Altíssimo me havia feito conhecer a causa do mal no mundo e eu quis, por quanto estava em meu poder, anular, por mim mesma, o plano de satanás.
Eu ainda não sabia que não possuía a mancha do pecado. Nem eu podia pensar nisso, pois, teria sido presunção e soberba, dado que, nascida de pais humanos, não me era lícito pretender que logo eu é que seria a escolhida para não ter mácula.
O Espírito de Deus me tinha instruído sobre a dor do Pai, diante da corrupção de Eva, que tinha querido aviltar-se, pois, sendo criatura por graça, desceu ao nível de uma criatura inferior. Havia em mim a intenção de amenizar aquela dor, reconduzindo a minha carne à pureza angélica, conservando-me inviolada por pensamentos, desejos e contactos humanos. Só por Ele o meu
coração palpitava de amor, só a Ele eu consagrava o meu ser. Mas, se não havia em mim o ardor da carne, contudo ainda havia o sacrifício de não ser mãe.
A maternidade, livre de tudo o que agora a avilta, tinha sido concedida assim pelo Pai Criador também a Eva. Uma doce e pura maternidade, sem o peso da sensualidade! Eu a experimentei! De quantas vantagens Eva se despojou, quando renunciou a uma riqueza de tal porte! Essa riqueza era muito mais do que a imortalidade. E que não vos pareça um exagero dizer isso. De fato, o meu Jesus, e com Ele eu, sua mãe, tivemos de passar pelos langores da morte. Eu passei por ela, como alguém que, cansado, adormece docemente, e Ele, por meio do atroz sofrimento de quem está morrendo, porque foi condenado a isso. Portanto, também para nós houve morte. Mas a maternidade sem pesos e sem violações só aconteceu comigo, a nova Eva, a fim de que ela pudesse dizer ao mundo que doçura teria sido para a mulher chamada a ser mãe, se não sentisse dor em sua carne.
Ora, o desejo dessa maternidade pura estava também na virgem toda de Deus, pois a maternidade é a glória da mulher. Se pensardes, então, na honra que era ser mãe para a mulher israelita, ainda mais podereis compreender o meu sacrifício, ao consagrar-me a Deus, com a privação da maternidade.
Mas o Eterno Bem quis dar à Sua serva este dom, sem deixá-la perder o candor que a revestia, tornando-a uma flor no seu trono. Eu me sentia jubilosa com a dupla alegria de poder ser a mãe de um homem e, ao mesmo tempo, ser a mãe de Deus.
A Alegria de ser aquela pela qual a paz se estabelecia entre o Céu e a Terra.
Oh! Ter tanto desejado essa paz, por amor de Deus e do próximo, e saber que através de mim, uma pobre serva do Todo-Poderoso, é que tal paz viria ao mundo! Poder dizer: “Ó homens, não choreis mais, pois eu trago em mim o segredo que vos fará felizes. Não posso lhes comunicar este segredo, porque está selado no meu coração, assim como o Filho no meu ventre inviolado. Mas já O trago em meio a vós, e cada hora que passa, fica mais perto o momento em que o vereis, e conhecereis seu Nome Santo”.
A Alegria de ter contentado a Deus: a alegria do fiel que faz feliz o seu Deus.
Oh! Sim! Ter tirado do coração de Deus a amargura da desobediência de Eva! Da soberba de Eva!
Da sua incredulidade!
Meu Jesus me explicou a culpa com que o primeiro casal se manchou. Eu anulei aquela culpa, refazendo de modo retroativo as etapas da descida deste casal, para depois subir de novo.
O princípio da culpa estava na desobediência: “Não comais daquela árvore, e não toqueis nela”, Deus havia dito. Mas o homem e a mulher não levaram em conta aquela proibição. Eles que eram os reis da criação, podiam tocar em tudo, comer de tudo, menos daquela árvore, pois Deus queria torná-los inferiores só aos anjos.
A árvore: meio para provar a obediência dos filhos.
O que é a obediência ao mandamento de Deus? É um bem, porque Deus só exige o bem. O que é a desobediência? É um mal, porque põe a alma na disposição de rebeldia, oferecendo a satanás um campo propício para as suas operações.
Eva vai até à árvore, da qual receberia o bem, ao evitá-la, ou o mal, aproximando-se dela. Ela é arrastada por uma curiosidade infantil que deseja ver o que a árvore tem de especial. É levada pela imprudência, que lhe faz conceber o mandamento de Deus como inútil, pois se sente forte e pura, rainha do Éden, no qual tudo lhe obedece, onde nada lhe fará mal. Esta presunção causa sua ruína.
A presunção é um fermento da soberba.
Junto à árvore, ela encontra o sedutor, que se aproveita da sua inexperiência, daquela inexperiência virgem e bela, tão mal protegida por ela mesma, para cantar-lhe a canção da mentira: “Crês tu que isso seja um mal? Não. Deus te disse isso porque vos quer conservar escravos do seu poder! Pensais que sois reis? Nem liberdade tendes, como a têm os animais. Pois aos animais foi concedido que se amem com verdadeiro amor. Mas a vós, não. Ao animal foi concedido tornar-se criador, como Deus. Ele gerará filhos e verá crescer sua família, à vontade. A vós, porém, é negada essa alegria.
Porque, então, ser homem ou mulher, se tendes que viver desse modo? Sede deuses! Não sabeis que alegria é estarem ambos numa só carne, para que dessa união se crie uma terceira criatura, e depois muitas outras criaturas? Não acrediteis na promessa de Deus de que tereis alegria em vossos descendentes, vendo os vossos filhos criarem novas famílias, deixando pai e mãe, por causa delas.
Deus vos deu apenas uma sombra de vida: a verdadeira vida é conhecer as suas leis. Então, sim, sereis semelhantes a deuses e podereis dizer a Deus: ‘Somos iguais a ti’ ”.
E a sedução continuou, porque não houve vontade de acabar com ela, pelo contrário, houve vontade de continuar conhecendo o que não era lícito ao homem conhecer. É aí que a árvore proibida se torna realmente mortífera para a raça humana, pois dos seus ramos está o fruto da amarga sabedoria,
que vem de satanás. A mulher se torna fêmea e, com o fermento do conhecimento satânico no coração, corrompe o companheiro, Adão. Aviltada, pois, a carne, corrompida a moral, degradado o
espírito, eles passaram a conhecer a dor e a morte do espírito, sem a graça, e morte da carne, sem a imortalidade. A ferida de Eva gerou o sofrimento, que não se aplacará, enquanto não
se extinguir a vida do último casal, sobre a terra.
Eu percorri, de modo regressivo, os caminhos daqueles dois pecadores.
Obedeci. Obedeci de todos os modos. Deus me pediu que eu permanecesse virgem. Eu obedeci. Tendo amado a virgindade, que me tornava pura como a primeira das mulheres, antes de conhecer satanás, Deus me pediu que fosse esposa. Eu obedeci, colocando o matrimônio naquele primeiro grau de pureza conforme o pensamento de Deus, quando criou o primeiro homem e mulher. Convicta de que estava destinada à solidão no matrimônio, a ser desprezada pelos outros, pela minha esterilidade voluntária, Deus me pedia para me tornar mãe. Eu obedeci. Eu acreditei que seria possível e que aquela palavra tinha vindo de Deus, pois, ao ouvi-la, difundiu-se em mim uma grande paz. Não fiquei pensando: “Eu mereci isto”.
Não fiquei dizendo a mim mesma: “Agora, o mundo vai me admirar, pois sou semelhante a Deus, criando a carne de Deus”. Não. Eu me aniquilei na humildade.
A alegria brotou-me do coração, como um pedúnculo de roseira florida. Mas esta viu-se bem depressa ornada com agudos espinhos, apertada no emaranhado da dor, como aqueles ramos que
ficam enrolados por alguma trepadeira. A dor pela dor do esposo: eis a angústia na minha alegria. A dor pela dor do meu Filho: eis o espinho na minha alegria.
Eva quis o gozo, o triunfo, a liberdade. Eu aceitei a dor, o aniquilamento, a escravidão. Renunciei à minha vida tranqüila, ao amor do meu esposo, à minha própria liberdade. Não conservei nada para mim. Fiz-me a serva de Deus na carne, na moral, no espírito, confiando-me a Ele, não só para a concepção virginal, mas para a defesa de minha honra, para a consolação do esposo, para o meio com o qual ele pudesse entender a purificação do matrimônio, de tal modo a fazer de nós dois os que haveriam de restituir a dignidade perdida ao homem e à mulher.
Abracei a vontade do Senhor, por mim mesma, pelo esposo e por meu Filho. Eu disse “sim” pelos três, certa de que Deus não teria faltado com sua palavra, quando prometeu me socorrer
na minha dor de esposa, que está sendo julgada culpada, de mãe que gera um Filho para entregá-Lo à dor.
Eu disse sim, e basta. Aquele “sim” anulou o “não” de Eva ao mandamento de Deus.
“Sim, Senhor, como quiseres. Conhecerei o que Tu queres. Viverei como Tu queres.
Alegrar-me-ei, se Tu quiseres. Sofrerei o que Tu quiseres. Sim, sempre sim, meu Senhor, desde o momento em que o Teu raio me fez mãe, até o momento em que me chamaste para Ti. Sempre sim. Todas as vozes da carne, todas as paixões da moral, sob o peso deste meu perpétuo sim. Acima, como num pedestal de diamante, o meu espírito, ao qual faltam asas para voar a Ti, mas que é senhor de todo o eu domado, servo teu. Serva na alegria, serva na dor. Sorri, ó meu Deus! Sé feliz! A culpa foi vencida, excluída, destruída. Ela, agora sob o meu calcanhar, está lavada em meu pranto, destruída pela minha obediência. De meu ventre nascerá a árvore nova, que há de ter em si o Fruto, que conhecerá todo o Mal, por tê-lo padecido em Si, e que doará todo o Bem. Os homens poderão ir a Ele. Eu me darei por feliz, se eles colherem desse fruto, ainda que não se lembrem que este fruto está nascendo de mim.
Contanto que o homem se salve, e que Deus seja amado, que se faça desta tua serva o que se faz do solo sobre o qual surge uma árvore: um degrau para subir”.
Maria, é preciso saber sempre ser degrau, para que os outros subam para Deus. Se nos pisam, não faz mal. Contanto que consigam chegar à Cruz. É a nova árvore que tem o fruto do conhecimento do Bem e do Mal, pois diz ao homem o que é um e outro, a fim de que ele saiba escolher e viver. Esta árvore também tornar-se-á licor que cura os intoxicados do mal que quiseram saborear. O nosso coração esteja sob os pés dos homens, contanto que o número dos redimidos cresça, e que o Sangue do meu Jesus não seja derramado sem fruto. Eis a sorte das servas do Senhor. Depois mereceremos receber no ventre a Hóstia santa e, aos pés da Cruz, impregnada pelo Seu Sangue e pelo nosso pranto, dizer: “Eis aqui, ó Pai, a Hóstia imaculada, que te oferecemos pela salvação do mundo. Olha para nós, ó Pai, unidas com ela e pelos seus merecimentos infinitos, dá-nos a tua bênção”.
Eu te dou minhas carícias. Repousa, minha filha. O Senhor está contigo”.
Jesus diz:
“A palavra de minha mãe deveria dissipar toda e qualquer titubeação de pensamento, até mesmo dos mais bloqueados com relação ás fórmulas.
[…].
Eu chamei antes de “árvore metafórica”. Agora vou chamar de “árvore simbólica”. Talvez compreendais melhor. O símbolo é claro: assim como os dois filhos de Deus procederam a respeito desta árvore, se entende como estava neles a tendência para o Bem ou para o Mal. Como a água régia prova o ouro, a balança do ourives pesa os quilates de ouro, aquela árvore tinha assumido uma “missão” pela ordem de Deus a seu respeito, dando a medida de pureza do metal que era Adão e Eva.
Estou já ouvindo a vossa objeção: “Não foi rigorosa demais a condenação, e pueril o meio usado para condená-los?”.
Não foi. Uma vossa desobediência hoje, que sois os herdeiros de Adão e Eva, é menos grave do que a deles. Vós fostes redimidos por Mim. Mas o veneno de satanás continua sempre pronto a se reerguer, como certas doenças que nunca saem totalmente do sangue. Os dois progenitores eram possuidores da graça, sem nunca terem sido nem tocados pela desgraça. Por isso eram mais fortes, mais amparados pela graça, que gerava neles inocência e amor. O dom que Deus lhes havia dado era infinito. A queda deles, portanto, foi bem mais grave, não obstante aquele dom.
O fruto oferecido e comido também é simbólico. Era o fruto de uma experiência que se quis fazer contra a ordem de Deus, por instigação satânica. Eu não havia proibido o amor aos homens. Queria unicamente que se amassem sem malícia; como Eu os amava com a minha santidade. Eles deviam amar-se na santidade de afetos, sem sujarem-se com a luxúria.
Não se há de esquecer que a graça é luz e quem a possui conhece o que é útil e bom.
Aquela que é cheia de graça conheceu tudo, porque a Sabedoria a instruía. A sabedoria é graça, e ela soube guiar-se santamente. Eva conhecia o que lhe era bom conhecer. Não mais do que isso, porque é inútil conhecer o que não é bom. Não teve fé nas palavras de Deus e não foi fiel à sua promessa de obediência. Acreditou em satanás, infringiu a promessa, quis saber o que não é bom e o amou sem remorso, fazendo com que o amor, que Eu lhe tinha dado como algo santo, se corrompesse, se aviltasse. Anjo decaído, rolou na lama e no esterco, enquanto poderia correr feliz entre as flores do Paraíso terrestre, vendo florescer a prole ao redor de si, assim como uma árvore que se cobre de flores, sem precisar curvar sua copa sobre o brejo.
Não fiqueis como os meninos tolos de que Eu falo no Evangelho* os quais ouviram cantar, e taparam os ouvidos, ouviram tocar e não dançaram, ouviram chorar, e quiseram rir. Não sejais mesquinhos, não sejais negadores. Aceitai, aceitai a Luz sem malícia e teimosia, sem ironia e incredulidade. A respeito deste assunto, basta por enquanto.
Para fazer-vos compreender o quanto deveis ser gratos Àquele que morreu para elevar-vos ao céu e vencer a concupiscência de satanás, neste tempo de preparação para a Páscoa, Eu vos quis falar do primeiro elo da corrente com que o Verbo do Pai foi arrastado à morte, do Cordeiro Divino no matadouro. Eu vos quis falar disso, porque agora noventa por cento entre vós é semelhante à Eva, intoxicada pelo hálito, pela palavra de lúcifer, e não viveis para amar – vos, mas para saciar-vos de sensualidade, não viveis para o Céu, mas para a lama, não sois criaturas dotadas de alma e de razão, mas cães sem alma e sem razão. Vós já matastes a alma; já depravastes a razão. Em verdade, vos digo que os animais irracionais estão acima de vós, na honestidade dos seus amores”.
CAPÍTULO 14
O ALTÍSSIMO REVELOU AOS SANTOS ANJOS O TEMPO DETERMINADO PARA A CONCEPÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA. OS QUE NOMEOU PARA SEUS CUSTÓDIOS.
Tudo foi feito para a glória de Deus
190. No tribunal da divina vontade, princípio necessário e causa universal de tudo o que existe, decretam-se e determinam-se todas as coisas que hão do ser, com suas condições e circunstâncias, sem nada ser esquecido. Depois de estar tudo determinado, nenhum poder criado o poderá impedir. Todos os orbes e seus moradores que a todos açode em colaboração com as
causas naturais, sem jamais haver faltado nem poder faltar o mínimo necessário.
Tudo foi feito por Deus que o sustentará só por seu querer, e dele depende conservar a existência que deu a todas as coisas, ou aniquilá-las devolvendo-as ao nada de onde as tirou.
Todavia, como tudo criou para glória sua e do Verbo humanado, desde o princípio da criação foi dispondo os caminhos a abrindo as sendas por onde o mesmo Verbo descesse a tomar carne humana.
Viria conviver com os homens e ser o caminho para eles subirem a Deus, procurando-o, conhecendo-o, temendo-o, servindo-o, amando-o, para depois louvá-lo e gozá-lo eternamente.
Criação de Maria
191. Admirável tem sido seu nome em toda a terra (SI 8,11) e enaltecido na plenitude e congregação dos santos, com os quais organizou um povo digno, do qual o Verbo fosse cabeça.
Quando tudo estava na última e conveniente disposição que sua providencia quis estabelecer, chegou o tempo marcado para criar a maravilhosa mulher vestida de sol (Ap 12,1), aparecida no céu e que alegraria e enriqueceria a terra. Para formá-la decretou a Santíssima Trindade o que entendi e manifestarei com minhas curtas razões e pobres conceitos.
Maria, tipo da humanidade idealizada por Deus
192. Ficou dito acima(,)que para Deus não há passado nem futuro, porque tudo vê presente em sua mente infinita, e tudo conhece com um ato simplicíssimo.
Transpondo-o, porém, aos nossos termos e modo de entender, dizemos que Ele reconsiderou os decretos que fizera para criar digna Mãe à altura da encarnação do Verbo, porquanto o cumprimento de seus decretos é infalível.
Chegando o tempo oportuno e determinado, as três pessoas divinas disseram em si mesmas: Já é tempo que comecemos a obra de nosso beneplácito, e criemos aquela pura criatura, que achará graça a nossos olhos acima de todas as outras. Dotemo-la com ricos dons e somente nela depositemos os maiores tesouros de nossa graça.
- Todas as outras por nós criadas tomaram-se ingratas e rebeldes à nossa vontade opondo-se, por sua culpa, à nossa intenção de que se conservassem no inicial e feliz estado em que criamos os primeiros homens. Não sendo conveniente que nossa vontade falhe em coisa alguma, formemos em toda santidade e perfeição esta criatura, na qual não tenha parte a desordem do primeiro pecado.
- Criemos uma alma segundo nossos desejos, fruto de nossas perfeições, prodígio de nosso infinito poder, sem ser ofendida nem tocada pela mácula do pecado de Adão. Façamos uma obra que seja objeto de nossa onipotência, amostra da perfeição que destinávamos a nossos filhos, e o alvo que pretendíamos atingir na criação.
- Visto todos haverem prevaricado na livre vontade do primeiro homem (Rm 5,12), nesta única criatura restauremos e concedamos o que, desviando-se de nosso querer, eles perderam. Seja imagem e semelhança unicamente de nossa Divindade e permaneça em nossa presença por toda a eternidade, para a plenitude de nosso beneplácito e agrado.
- Nela depositaremos todas as prerrogativas e graças que, em nossa primeira e condicional vontade, tínhamos destinado para os anjos e homens, se se tivessem conservado no primeiro estado.
Se eles as perderam, renovemo-las nesta criatura acrescentando a estes dons outros muitos. Assim não ficará sem efeito o decreto que havíamos estabelecido, mas será cumprido com vantagem em nossa única eleita (Ct 6,8).
- Já que tínhamos destinado o mais santo, o melhor, o mais perfeito e louvável para as criaturas e elas o perderam, dirijamos o caudal de nossa bondade para nossa amada. Separemo-la da lei ordinária da formação de todos os mortais, para que nela não tenha parte a semente do inimigo. Quero descer do céu a seu seio e nele, com sua substância, vestir-me da natureza humana.
O Verbo honra sua Mãe
193. É justo e necessário que a Divindade, infinita em bondade, repouse e se vista de matéria puríssima, limpa e jamais manchada pela culpa. Nem à nossa equidade e providência convém omitir o mais decoroso, perfeito e santo possível, já que nada pode se opor à nossa vontade Sendo redentor e mestre dos homens, o Verbo que vai se humanar, fundará a lei perfeitíssima da graça, e por ela ensinará a obedecer e honrar pai e mãe (Mt 15, 4),
como causas segundas da existência natural.
Esta lei será praticada, antes de tudo pelo Verbo Divino com aquela que escolheu para Mãe, honrando-a e dignificando-a com poderoso braço, ornando-a com o mais admirável, santo e excelente de todas as graças e dons. Entre estes, o mais singular benefício e a maior honra será não sujeitá-la à malícia de nossos inimigos; por isto, será livre da morte da culpa.
O Pai eterno e Maria
194. Na terra o Verbo terá mãe sem pai, como no céu tem pai sem mãe. Para que haja a devida proporção e consonância entre chamar pai a Deus e mãe a esta mulher, queremos que haja a possível semelhança e relação entre Deus e a criatura.
Em nenhum tempo o dragão possa gloriar-se, de haver sido superior à mulher, a quem Deus obedeceu como à verdadeira Mãe.
Esta dignidade de ser livre da culpa e devida e conveniente a quem há de ser Mãe do Verbo. Para Ela será a mais estimável e proveitosa, pois maior bem é ser santa do que ser apenas Mãe. Contudo, sendo Mãe de Deus, lhe convém toda a santidade e perfeição.
- A carne humana que Ele há de assumir deve ser segregada do pecado, pois havendo de redimir nela aos pecadores, não há de redimir à sua mesma carne como a dos demais.
Unida à Divindade, esta carne há de ser Redentora, e por isto, de antemão, deve ser preservada. Para tanto já temos previsto e aceito os infinitos merecimentos do Verbo, nessa mesma carne e natureza humana. Queremos que por todas as eternidades, o Verbo encarnado seja glorificado em sua humanidade, tabernáculo que recebeu e gloriosamente habitou.
Maria será isenta do pecado, mas não do sofrimento
195. - A mãe deste Homem-Deus será filha do primeiro homem, mas quanto à graça, singular, livre e isenta de sua culpa.
Quanto à natureza, há de ser perfeitíssima e formada com especial providência.
- O Verbo humanado será mestre de humildade e santidade, e para este fim serão meios convenientes os trabalhos
que há de padecer. Confundindo a vaidade e falácia enganosa dos mortais, escolheu para si esta herança como tesouro inestimável a nossos olhos.
- Queremos que nessa herança participe também aquela que será sua Mãe, sendo única e singular na paciência e admirável no sofrer. Com seu Unigênito oferecerá doloroso sacrifício aceitável à nossa vontade e de maior glória para Ela.
Revelação na visão beatífica
196. Este foi o decreto que as três divinas Pessoas manifestaram aos santos anjos, exaltando a glória e veneração de seus santíssimos, altíssimos e inescrutáveis desígnios.
Sua divindade é espelho voluntário e na própria visão beatífica revela, quando lhe apraz, novos mistérios aos bem-aventurados. Assim ostentou esta nova demonstração de sua grandeza, na
qual foi vista a ordem admirável e a harmonia tão consonante de suas obras.
Tudo foi conseqüência do que dissemos nos capítulos antecedentes quando, na criação dos anjos, o Altíssimo lhes propôs a reverência e reconhecimento da superioridade do Verbo humanado e de sua Mãe Santíssima. Chegado já o tempo destinado para a formação desta Rainha, convinha que o Senhor, que tudo dispõe com medida e peso (Sb 11, 21), não lhes ocultasse este mistério.
Os termos humanos e tão limitados de que sou capaz, hão de forçosamente obscurecer a inteligência que o Altíssimo me comunicou sobre tão ocultos mistérios.
Todavia, com minha limitação, direi o que puder de quanto o Senhor manifestou aos anjos nessa ocasião.
Deus revela aos Anjos a criação de Maria
197. - Chegou o tempo - acrescentou Sua Majestade - determinado por nossa providência, para fazer surgir a criatura mais agradável e aceita a nossos olhos: a restauradora da primeira culpa da estirpe humana, aquela que esmagará a cabeça do dragão (Gn 3, 15); singular mulher que em nossa presença apareceu como um grande sinal (Ap 12,1), e que há de vestir de carne humana ao eterno Verbo.
-Já chegou a hora, tão feliz para os mortais, de franquear-lhes os tesouros de nossa divindade e abrir-lhes as portas dos céus. Suspenda-se o rigor de nossa justiça nos castigos que até agora temos imposto aos homens. Conheça-se a nossa misericórdia, enriquecendo as criaturas por merecer-lhes o Verbo Encarnado as riquezas da graça e glória eterna.
SantAna será mãe de Maria
198. Tenha o gênero humano redentor, mestre, mediador, irmão e amigo que seja vida para os mortos, saúde para os enfermos, consolo para os tristes, refrigério para os aflitos, descanso e companhia para os atribulados.
- Cumpram-se as profecias de nossos servos, e as promessas que lhes fizemos de enviar-lhes o salvador que os redimisse.
- Para que tudo se execute segundo nosso agrado, demos princípio ao mistério escondido desde a constituição do mundo. Escolhamos para a formação de Maria, nossa querida, o seio de nossa serva Ana, para que nele seja concebida, e depois criada sua alma ditosíssima. Ainda que sua geração e formação hão de ser pela ordem comum da natural propagação, seja diferente na ordem da graça, segundo a disposição de nosso imenso poder.
Deus confia aos Anjos a defesa e guarda de sua Mãe
199. - Já sabeis que a antiga serpente, depois de ter visto o sinal desta maravilhosa mulher, anda sondando a todas desde a primeira que criamos.
Persegue com astúcia e ciladas as que vê mais perfeitas na vida e nas obras, pretendendo encontrar entre elas aquela que lhe há de pisar e esmagar a cabeça (Gn 3, 15).
Quando perceber esta puríssima e inocente criatura e a reconhecer tão santa, empregará todo o esforço para persegui-la, segundo o conceito que dela fizer.
- A soberba deste dragão será maior que sua força (Is 16,6), mas é nossa vontade que desta cidade santa e tabernáculo do Verbo encarnado, tenhais especial cuidado e proteção. Deveis guardá-la, assisti-la, defendê-la de nossos inimigos, iluminá-la, confortá-la e consolá-la com digno cuidado e reverência, enquanto for vi adora entre os mortais.
Os anjos também pediam a realização da Encarnação
200. A esta proposição do Altíssimo, prostrados ante o real trono da santíssima Trindade, todos os santos anjos mostraram-se submissos e prontos para cumprir seu divino mandato com profunda humildade. Em santa competição, cada qual desejava ser enviado e se oferecia a tão feliz ministério. Entoavam novos cânticos de louvor ao Altíssimo, por estar próxima a hora de se realizar, o que com ardentíssimos desejos haviam suplicado durante séculos.
Conheci, nesta ocasião, que desde aquela grande batalha travada no céu entre São Miguel e o dragão com seus aliados (Ap 12,7); depois da qual estes foram lançados às trevas exteriores, e os vitoriosos exércitos de São Miguel confirmados na graça e glória; começaram estes santos espíritos a pedir o cumprimento dos mistérios da encarnação que então conheceram.
Nestas petições contínuas perseveraram, até a hora que Deus lhes manifestou o cumprimento de seus desejos e súplicas.
Os anjos alegram-se por servir a Mãe de Deus
201. Por este motivo, esta revelação proporcionou aos espíritos celestes novo júbilo e glória acidental. Disseram ao Senhor: - Altíssimo e incompreensível Senhor e Deus nosso, sois digno de toda reverência, louvor e glória eterna e nós somos vossas criaturas formadas por vossa divina vontade. Enviai-nos Senhor poderosíssimo, para executar vossas maravilhosas obras e mistérios, e em todos e em tudo cumpra-se vosso justíssimo beneplácito.
Os anjos escolhidos para o serviço de Maria
202. Logo nomeou o Altíssimo quais seriam empregados em tão alto ministério, e escolheu cem de cada um dos nove coros, somando novecentos.
Em seguida, nomeou outros doze, para mais freqüentemente a assistirem em forma corporal e visível. Levavam dísticos e emblemas da Redenção, e eram os doze guardas das portas da cidade referidos pelo Apocalipse (Ap 21,12), e dos quais falarei adiante na explicação daquele.
Além destes, designou o Senhor outros dezoito anjos dos mais superiores, para que subissem e descessem por esta mística escada de Jacó, com embaixadas da Rainha à sua Alteza e do Senhor para Ela.
Muitas vezes os enviava ao eterno Pai, para ser guiada em todas as suas ações pelo Espírito Santo, pois nenhuma praticou sem seu divino beneplácito, mesmo nas pequenas coisas. Quando não recebia especial ilustração para se orientar, enviava estes santos anjos para apresentarem ao Senhor suas dúvidas, seu desejo de fazer o mais agradável à vontade divina, e saber o que lhe ordenava, como no decurso desta História diremos.
Os setenta serafins
•
203. Além de todos estes santos anjos, assinalou o Altíssimo outros setenta serafins, dos supremos e mais próximo ao trono da Divindade. Deviam comunicar-se com a Princesa do céu pelo mesmo modo como entre si eles se comunicam, ou seja, pela iluminação que os inferiores recebem dos superiores. Ainda que era superior em dignidade e graça a todos os serafins, este favor foi concedido à Mãe de Deus, porque então era viadora e inferior a eles quanto à natureza.
Quando alguma vez se ausentava e ocultava o Senhor - como adiante veremos - estes setenta serafins a iluminavam e consolavam. A eles confiava os afetos de seu ardentíssimo amor e ânsias pelo seu tesouro escondido. O número setenta, correspondeu aos anos de sua vida santíssima que foram, não sessenta, mas setenta, como direi em seu lugar. Dentro desse número encontram-se os sessenta serafins figurados por aqueles sessenta valentes que, no capítulo 3 dos Cânticos, se diz, guardavam o tálamo de Salomão, escolhidos entre os mais fortes valentes de Israel, peritos na guerra, cingidos de espadas para defendê-lo dos temores noturnos.
204. Estes valorosos príncipes e capitães da guarda da Rainha do céu, foram nomeados entre os supremos das ordens hierárquicas.
Naquela antiga batalha travada no céu entre os espíritos humildes e o soberbo dragão, haviam sido assinalados e armados cavaleiros pelo supremo Rei de toda a criação. Com a espada de sua virtude e divina palavra pelejaram e venceram a Lúcifer com todos os apóstatas que o seguiram.
Neste grande combate e triunfo, estes serafins distinguiram-se no zelo da honra do Altíssimo. Como valorosos capitães adestrados no amor divino, e nas* armas da graça que lhes foram dadas por virtude do Verbo humanado, defenderam tanto a honra de sua Cabeça e Senhor como a de sua Mãe Santíssima.
Por isto, se diz que guardavam o tálamo de Salomão (Ct 3, 7) e lhe faziam escolta, tendo cingidas suas espadas naquela parte do corpo que significa a humana geração. Lembra a humanidade de Cristo Senhor nosso, concebida no tálamo virginal com o puríssimo sangue e substância deste.
Mil anjos para a custódia de Maria
205. Os outros dez serafins que restam para completar o número de setenta, foram também dos supremos daquela primeira ordem angélica. Contra a antiga serpente, manifestaram maior reverência pela divindade e humanidade do Verbo e de sua Mãe Santíssima, pois para tudo isto houve tempo naquele breve conflito dos santos anjos. Seus principais chefes foram condecorados com a honra de fazer parte do número dos custódios da Rainha e Senhora. Reunidos, somam o número de mil, entre serafins e os outros anjos de ordens inferiores. Com isso, esta cidade de Deus ficou superabundantemente guarnecida contra os exércitos infernais.
São Miguel e São Gabriel
206. Para melhor ordenar este invencível esquadrão, foi nomeado seu chefe o príncipe da milícia celestial, São Miguel, que embora não assistisse sempre com a Rainha, muitas vezes a acompanhava e se lhe manifestava.
O Altíssimo o incumbiu de alguns, ministérios como especial embaixador de Cristo Senhor nosso, para atender à guarda de sua Mãe Santíssima.
De igual* modo, foi nomeado o santo príncipe Gabriel, para do Eterno Pai descer com legações e ministérios referentes à Princesa do céu. Isto foi quanto ordenou a Santíssima Trindade para sua ordinária defesa e custódia.
Diferença entre os anjos
207. Esta escolha foi graça do Altíssimo. Entendi, porém, que nela observou alguma ordem de justiça distributiva.
Sua equidade e providência levou em consideração os atos e disposição com que os santos anjos aceitaram os mistérios, no princípio a eles revelados, sobre a encarnação do Verbo e os de sua Mãe Santíssima.
Reverentes à divina vontade, manifestaram diferentes afetos e inclinações aos mistérios que lhes foram propostos. Não foi igual em todos a graça, a vontade e o sentimento.
Uns inclinaram-se com especial devoção para a união das duas naturezas divina e humana na pessoa do Verbo, velada nos limites de um corpo humano e elevada para ser cabeça de toda a criação.
Outros, admirados, comoviam-se de que o Unigênito do Pai se fizesse passível e tivesse tanto amor aos homens, que se oferecesse a morrer por eles.
Outros distinguiam-se no louvor pela criação de uma alma e corpo humano de tanta excelência, que fosse superior a todos os espíritos celestiais, e dessa criatura tomasse carne humana o Criador de todos.
De acordo com estes afetos e como sua recompensa acidental, foram os santos anjos escolhidos para o serviço de Cristo e de sua Mãe puríssima, de modo semelhante como serão premiados com as respectivas auréolas, os que nesta vida se distinguem em alguma virtude, por exemplo, os doutores, as virgens, etc.
Distintivos dos anjos
208. Segundo estas diferenças, quando se manifestavam corporalmente à Mãe de Deus, estes santos príncipes -como direi adiante - ostentavam divisas.
Representavam, umas a encarnação, outras a paixão de Cristo Senhor nosso, e outras a mesma Rainha, sua grandeza e dignidade. A princípio Ela não as entendeu, porque o Altíssimo ordenou a estes santos anjos não lhe revelassem que viria a ser Mãe de seu Unigênito até o tempo determinado por sua divina sabedoria. Apesar disso, sempre deveriam tratar com Ela sobre estes mistérios da Encarnação e Redenção humana, para afervorá-Ia e incliná-la a pedi-las.
Incapaz é a língua humana, e insuficientes meus curtos termos e palavras, para manifestar tão alta luz e inteligência.
MEDITAÇÃO
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-77
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-78
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-79
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-80
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-81
Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-82
MORTICÍNIO DOS INOCENTES.
Tendo o Pai atendido minhas súplicas e sendo-lhe gratas minhas ofertas, estava naquela casa com toda a paz e tranqüilidade. Minha querida Mãe e José louvavam-no, bendiziam-no em todas as horas e empregavam-se em obras manuais para o próprio sustento, e eu conversava continuamente com meu Pai, procurando sempre a salvação de meus irmãos — comunicou-me então o Pai ser vontade sua que eu deixasse aquele leve repouso e me submetesse a novas tribulações com a fuga para o Egito, declarando-me a crueldade de Herodes que procurava a minha morte, fazendo um massacre crudelíssimo de tantos inocentes. Meu Pai o permitiu, pois a crueldade de Herodes seria um grande bem para aqueles que seriam sujeitos à morte cruel por ele ordenada, porque perdendo a vida temporal que ainda desconheciam, conquistariam felicidade eterna na glória bem-aventurada. O rei cruel ordenou o morticínio, mas meu Pai já o havia disposto, porque pelo sangue derramado por mim na circuncisão e por outros sofrimentos naquela tenra idade, quis dar-me, como presente, aquelas almas inocentes, a fim de me seguirem e glorificarem eternamente. Agradou-me muito este dom, como nolo direi em seu lugar.
A ORDEM DO PAI.
Neste interim, aceitei a ordem do Pai de fugir para um país bárbaro e sujeitar-me a novos padecimentos, mostrando-me, como de fato estava, muito consolado por cumprir a vontade do Pai, embora em coisa árdua e muito dolorosa. Ofereci esta obediência pronta ao Pai para suprir as faltas de meus irmãos, os quais se mostram prontos a obedecer somente em coisas que lhes proporcionam satisfação e conforto, mas são muito duros e renitentes em obedecer nas coisas contrárias a seu gênio e repugnantes a sua delicadeza e vontade depravada, chegando a responderem não, com as obras, se não com as palavras, ao Pai; revelam-se filhos obedientes só no prazer, enquanto no sofrer não são apenas desobedientes, mas pertinazes, e seguem a vontade própria. Conhecia eu, como o Pai estava muito irado para com os meus irmãos por esta resistência a sua vontade, e por isso, procurava sempre oferecer-lhe vontade pronta e obediência para suprir pela dureza deles. O Pai ficava muito aplacado com esta oferta, e como recebia satisfação condigna, comprazia-se muito em mim, relevando-se inteiramente como amor e estando inclinado a conceder-me quanto lhe pedisse. Correspondia eu ao amor infinito do Pai amado pelo oferecimento cada vez mais pronto de cumprir a sua vontade. Uma vez que pelas obras se manifesta o amor verdadeiro, eu, como o amava muito, fazia sempre tudo o que lhe dava gosto e maior glória. Tendo aceitado a ordem divina, orei ao Pai que, em virtude de minha prontidão para sofrer, se dignasse dar muita graça a todos os que, por disposição divina, devem submeter-se às ordens dos superiores e, vendo-se sobrecarregados de ordens e mandamentos duros, ásperos e dolorosos, de boa vontade se sujeitam a eles por seu amor e para imitar-me. Atendeu-me nisto o Pai. E efetivamente vedes quantas almas se sujeitaram até agora de boa vontade e ânimo alegre às ordens e mandamentos dos superiores, mesmo em coisas muito árduas e difíceis; e igualmente existem muitas no mundo que o fazem com prontidão de ânimo. Tudo isso é fruto de meus pedidos ao Pai e da promessa feita por Ele a mim. Digna-se Ele conceder-lhes uma graça particular, a fim de superarem o amor próprio e a repugnância da natureza que sempre ambiciona mandar e deleitar-se e não sujeitar-se e sofrer. Em muitos, porem, o efeito não é este; em Verdade, demonstram-se cada vez mais duros e contrários. Não querem de, modo algum sujeitar-se à obediência e à dor. Isto não quer dizer que ()- Pai não dê a graça como aos outros, mas que eles não dão acesso à graça para penetrar na alma e produzir seus admiráveis efeitos, e que, inteiramente atentos a seguirem as próprias paixões e a aderirem aos próprios pareceres, expulsam da alma a graça que o Pai lhes concede e assim se tornam presa da própria vontade, aderindo ao amor próprio e às paixões desordenadas. Sem advertirem, correm pela via da perdição, enganando-se a sí mesmos.
EXORTAÇÕES A SUA ESPOSA.
Estai bem atenta, esposa minha. Não vos deixeis vencer pelas paixões do amor próprio e da vossa vontade, mas entregai-vos sempre e em tudo à vontade do Pai e de quem vos dirige. Sujeitai-vos de bom grado ao sofrimento. Obedecei prontamente em tudo, sem procurar nada e sempre desejosa de que se realize em vós a vontade divina. Oferecei-vos freqüentemente ao Pai, a fim de que faça de vós o que mais lhe aprouver, e procurai imitar-me perfeitamente em tudo que vos disse até agora, a fím de seres a minha verdadeira esposa.
O QUE O FILHO DE DEUS PRATICOU EM SEU INTIMO DA PARTIDA DE NAZARÉ ATÉ A CHEGADA AO EGITO
IMPETRA GRAÇAS PARA MARIA E JOSÉ.
Devendo partir da pátria ' para ir a país estrangeiro, segundo a ordem de meu Pai, pedi-lhe que se dignasse dar, tanto à querida Mãe como a seu esposo José, uma nova graça, para que de boa vontade se submetessem a ordem tão dura. E como deviam ser eles que mais haveriam de sofrer na fuga, para pôr a salvo minha pessoa, assim era-lhes necessária maior graça para de boa vontade se submeterem à ordem divina. Por esta razão supliquei ainda ao Pai que na revelação que mandasse o anjo fazer em sonho a José, desse-lhe nova virtude e nova graça. Assim, de fato, fez o Pai. Na mesma noite em que o anjo falou em sonho a José, falei eu próprio a minha dileta Mãe e lhe expliquei em poucas palavras a vontade do Pai, acrescentando que sofresse de bom grado a aflição por meu amor, e que em tal ocorrência eu queria pôr à prova a realidade de seu amor, como o Pai punha à prova meu amor para com Ele e para com meus irmãos. Como o Pai estava certo de meu amor, sem submeter-me a prova alguma, e não obstante o fazia, assim agia eu de modo semelhante para com ela, se bem que estivesse seguro de seu amor mais do que materno, e por isso se sujeitasse voluntariamente às ordens do Pai eterno, como voluntariamente me sujeitava eu também. Confortada com tais palavras, a querida Mãe mostrou-se inteiramente pronta a realizar as ordens do Pai, e quando José a avisou da partida, ela já estava preparada.
DOR E RESIGNAÇÃO
Atravessava o coração da querida Mãe e de José a dor de terem de levar-me a país estrangeiro, completamente desprevenidos de qualquer provisão. A compaixão para com minha pessoa era muito grande! Não obstante, estavam totalmente entregues à vontade do Pai, aceitando de bom grado a ordem. E na verdade, esposa minha, podiam estar contentes, enquanto tinham consigo o Unigênito Filho de Deus. Que podiam temer? Se Davi dizia com tanta segurança: "Nada temerei, pois estais comigo (SI. 22:4) tanto mais podiam dizê-lo eles, que possuíam segurança maior do que a de Davi, por me ter no meio deles, porque me viam com os olhos do corpo, enquanto aquele via-me e considerava-me só em espírito. Sentia, porém, alguma aflição ao ver o grande sofrimento que dominava a querida Mãe e a José e como suas almas inocentes deviam estar angustiadas e atribuladas. Oferecia esta aflição ao Pai e pedia-lhe que desse vísceras de piedade e de compaixão a todos os meus irmãos, em particular àqueles aos quais compete consolar os aflitos e atribulados, e perdoar aqueles que se mostram duros e cruéis minha sem se compadecerem do Pai estava muito irado e disposto a usar para com eles de Sua Justiça: reza, não querendo mostrar-se compassivo para com os que não ter piedade do próximo. Revelou-se o Pai aplacado pelas oferendas feitas por mim com tanta insistência e prometeu-me infundir, em todos, parte da piedade e da compaixão que eu experimentava para com meus irmãos. Fez-me saber que existem muitos corações duros, obstinados e perversos. que não se deteriam diante das inspirações e da graça que Ele lhes concedia, para os quais havia um decreto terrível, isto é, que não encontrariam em sua presença a benignidade e a compaixão que haviam negado ao próximo. Senti por isso grande pesar. Mas, porque a justiça divina reclamava satisfação, entregava-me ao divino beneplácito. Tanto mais que sabia claramente que este castigo era merecido por meus irmãos, pois de fato o queriam; conheciam eles muito bem a ordem do Pai de que "com aquela medida com que se mede, haver-se-á de ser medido" (Mt. 7:2).
E como o Pai lhes dá tanta graça que poderiam se violentar e usar de misericórdia, embora por natureza sejam cruéis, eles, uma vez que não querem se servir dela, tornam-se dignos do castigo merecido. Pedia ao Pai diferisse-lhes o castigo e não os castigasse com o devido rigor, o que obtive benignamente do Pai, como também a graça de dar força e virtude a todos aqueles aos quais convinha sujeitar-se à crueldade e dureza do próximo, seu superior. O Pai não deixava de dar-lhes virtude e graça necessárias para sofrerem a dureza e crueldade daqueles. Pedi ainda ao Pai que, como se dignara avisar a José que pusesse a salvo minha pessoa e a libertasse da crueldade de Herodes, assim se dignasse avisar a todos os meus irmãos, ou por inspiração, ou por meio de seus servos fiéis, a fim de que, ao se encontrarem em qualquer perigo de perderem pelo pecado a vida espiritual, que consiste em sua graça, subtraiam-se ao perigo e fujam da ocasião; não considerem os sofrimentos do corpo e, se preciso for, até se submetam à morte para salvarem a alma. Fiz tal pedido com grande instância ao Pai, porque, na verdade, muito me oprimia ver a maioria dos meus irmãos dar maior importância à vida temporal do que à eterna e estimarem mais o corpo do que a alma. Realmente vós vedes que todos os dias alguns fazem tanto pela saúde corporal, mas para a salvação espiritual mal dedicam um pensamento, enquanto a sua ocupação devia ser toda esta; Pois, se perdem o corpo, nada perdem; mas se perdem a alma, perdem tudo, e para sempre. Quanta aflição sentia por tal loucura de meus irmãos! Não é possível chegardes a compreender quanto me afadigava a orar ao Pai inserisse em seus corações tal verdade e estima devidas à alma e à graça divina, com a fuga do pecado, como não sois capaz de chegar a conhecer o valor de uma alma e o valor da graça divina. Mas eu, que exatamente os conheço, ocupava-me totalmente em suplicar. ao Pai pela salvação das almas e sua libertação de qualquer culpa, sendo esta a fera cruel que devasta tantas e tantas, conduzindo-as ao abismo de toda miséria, a saber* à morte eterna. Por causa disto, quanto vivia aflito e emocionado! De fato, meus irmãos dão-lhe tão pouca importância! O Pai, para consolar-me.
Muitas vezes prometia-me a conversão de grandes pecadores, concedendo sua graça eficaz para ressurgirem da iniqüidade. Pelas numerosas instâncias desta graça que lhe apresentava, mostrava-se assaz verdade, todas as vezes que eu lhe suplicava por esta intenção, d' Ele, dava-me a salvação de unia alma já perdida. Por isso, sabei, esposa minha, que se uma alma recupera a graça perdida e ergue-se da queda, então colhe o fruto de minhas súplicas, porque, enquanto eu vivia na terra na graça de meu Pai. Mas, mostram-se-me a, tinha-lhe obtido tão ingratas que não sentem obrigação alguma para comigo, nem ao menos me agradecem. Realizava, porém, essa parte em favor delas relativamente a meu Pai, agradecendo-lhe em nome delas, bendizendo e louvando a infinita bondade e misericórdia infinita, e o infinito amor para comigo ao conceder-me quanto lhe pedia, embora a ingratidão de meus irmãos não o merecesse de modo algum.
MEDITAÇÃO
12-19
Setembro 18, 1917
Efeitos da constância no bem.
(1) Continuando o meu estado habitual, passei-o em penas, muito mais que a minha Mãe Celestial se fizera ver chorando, e tendo-lhe perguntado, minha mãe, por que choras? Disse-me:
(2) "Minha filha, como não devo chorar se o fogo da justiça divina quiser devorar tudo? O fogo das culpas devora todo o bem das almas, e o fogo da justiça quer destruir tudo o que pertence às criaturas, e vendo que o fogo corre, choro, por isso, reza, reza".
(3) Depois lamentava-me com Jesus por suas privações, me parecia que sem Ele não podia mais, e meu amável Jesus, movido à compaixão de minha pobre alma, veio e me transformando em Ele me disse:
(4) "Minha filha, paciência, a constância no bem põe tudo a salvo, mas digo-te que quando tu, privada de Mim, lutas entre a vida e a morte pela dor de estar privada do teu Jesus, e apesar de tudo isto és constante no bem e nada descuidas, não fazes outra coisa que espremer-te a ti mesma, e ao espremer-te sai o amor próprio, as satisfações naturais, a natureza fica como desfeita e fica só um sumo tão puro e doce, que Eu com muito gosto tomo e adoço-me e olho-te com tanto amor e ternura, de sentir as tuas dores como se fossem minhas. Então se você está frio, árido ou de outro modo e é constante, são outras tantas espremidas que você se dá, e mais suco formas para o meu coração amargo. Acontece como com um fruto espinhoso e de casca dura, mas que dentro contém uma substância doce e útil; se a pessoa é constante em remover as espinhas, ao espremer aquele fruto extrairá toda a substância do fruto e provará o requinte desse fruto, Assim que o pobre fruto ficou vazio do requintado que continha e os espinhos e a casca foram jogados. Assim a alma, na frieza, na aridez, lança à terra as satisfações naturais, se esvazia de si mesma e com a constância se expressa a si mesma, e a alma fica com o fruto puro do bem, e eu desfruto o doce deste. Por isso, se fores constante, tudo te servirá para o bem, e eu apoiarei com segurança os meus agradecimentos".
13-17
Setembro 14, 1921
Cada vez que a alma faz seus atos na Divina Vontade, assim cresce sempre mais em santidade.
(1) Continuando meu habitual estado, meu sempre amável Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, cada vez que a alma faz seus atos em minha Vontade, cresce sempre mais ante Mim em sabedoria, em bondade, poder e beleza, porque conforme vai repetindo os atos em minha Vontade, tantos bocados toma de sabedoria, de bondade, etc., e a alma cresce daquele alimento do qual se alimenta, por isso de Mim está escrito no santo Evangelho que crescia em sabedoria diante de Deus e diante dos homens; como Deus não podia nem crescer nem decrescer, o meu crescer não era outra coisa que a minha humanidade, que conforme crescia nos anos vinha a multiplicar meus atos no Querer Supremo, e um ato de mais que fazia era um crescer de mais na Sabedoria de meu Pai Celestial, e era tão verdadeiro este meu crescimento, que até as criaturas o notavam. Cada ato meu corria no mar imenso da Vontade Divina, e conforme operava me nutria deste alimento celestial; seria demasiado extenso dizer-te os mares de sabedoria, de bondade, de beleza, de potência que recebia minha Humanidade em cada ato de mais que fazia, Assim acontece com a alma. Minha filha, a santidade em minha Vontade cresce a cada instante, não há nada que se escape do crescer e que a alma não possa fazer correr no mar infinito de minha Vontade; as coisas mais indiferentes, o sono, o alimento, o trabalho, etc., podem entrar em meu Querer e tomar nele seu posto de honra como obras de meu Querer; só que a alma o queira, e todas as coisas, desde as maiores até as menores podem ser ocasiões para entrar em meu Querer, o que não acontece com as virtudes, porque as virtudes, se se quiser exercitar, muitas vezes falta a ocasião, se se quiser exercitar a obediência, necessita-se de alguém que dê ordens, e pode acontecer que por dias e por semanas falte quem dê novas ordens para fazê-la obedecer, e então, por quanto boa vontade tenha de obedecer, a pobre obediência ficará ociosa; assim da paciência, da humildade e de todas as outras virtudes, pois como são virtudes deste submundo, são necessárias as outras criaturas para exercitá-las, em troca minha Vontade é virtude de Céu, e Eu só basto para tê-la a cada instante em contínuo exercício, para Mim é fácil mantê-la tão elevada, assim de noite ou de dia, para tê-la exercitada em meu Querer".
14-17
Março 28, 1922
Tudo o que Jesus fez na terra, está em contínua atitude de dar-se ao homem.
(1) Continuando meu habitual estado, estava Fundindo-me toda no Santo Querer de meu amável Jesus, e Ele me disse:
(2) "Filha de meu Querer, se soubesses os portentos, os prodígios que acontecem quando te fundes em meu Querer, tu ficarias estupefata; escuta um pouco: Tudo o que Eu fiz sobre a terra está em contínua atitude de dar-se ao homem, fazendo-lhe coroa: Meus pensamentos formam coroa em torno da inteligência da criatura, minhas palavras, minhas obras, meus passos, etc., formam coroa em torno de suas palavras, de suas obras e de seus passos, a fim de que entrelaçando suas coisas com as minhas possa dizer a meu Pai Celestial que seu obrar é como o meu. Agora, quem toma esta minha atitude contínua? Quem se deixa entrelaçar por minhas obras com as que coroei a toda a família humana? Que vive no meu Querer.
A medida que tu fundias os teus pensamentos no meu Querer, os meus pensamentos que te faziam coroa sentiam o eco dos meus na tua mente, e, fundindo-se com os teus, multiplicavam os teus e os meus, e formava uma coroa dupla em torno do entendimento humano, e meu Pai recebia não só de Mim, mas também de ti a glória divina por parte de todas as inteligências criadas, e assim das palavras e de todo o resto. E não só por parte das criaturas resgata esta glória divina, senão por parte de todas as outras coisas criadas, porque todas as coisas foram criadas para fazer correr contínuo amor para o homem, e o homem por justiça deveria dar por cada coisa criada, homenagem, amor ao seu Criador. Agora, quem substitui isto? Quem faz seu este Fiat pelo qual todas as coisas foram feitas, para difundir sobretudo uma homenagem, uma adoração, um amor Divino a seu Criador? Quem vive no meu Querer! Quase a cada palavra sua faz seu aquele Fiat Onipotente, o eco do Fiat eterno faz eco no seu Fiat Divino no qual vive e se difunde, corre, voa, e em cada coisa criada imprime outro Fiat, e dá novamente ao seu Criador a homenagem, o amor por Ele queridos. Isto o fiz Eu quando estive na terra, não houve coisa alguma pela qual Eu não correspondesse a meu Divino Pai por parte de todas as criaturas; agora o faça-o, quero-o, espero-o, de quem vive em meu Querer. Se você visse a como é belo ver em cada piscar de estrela, em cada gota de luz do sol, minha glória, meu amor, minha profunda adoração unida à sua, oh! como corre, como voa sobre as asas dos ventos enchendo toda a atmosfera, como percorre as águas do mar, como se apoia em cada planta, em cada flor, como se multiplica em cada movimento; é uma voz que faz eco sobretudo e diz:
Amor, glória, adoração ao meu Criador'. Por isso quem vive em minha Vontade é o eco de minha voz, a repetidora de minha Vida, a perfeita glória de minha Criação, como não devo amá-la? Como não devo dar-lhe tudo o que você deve dar a todas as outras criaturas juntas, e fazê-la ter o primado sobre tudo? Oh! meu amor se meteria em dificuldades se não o fizesse!"
15-18
Abril 25, 1923
A Vontade de Deus é o caminho real que conduz à Santidade da semelhança do Criador. Luisa continuando de onde ficou Adão, Deus a constitui como cabeça de todos e portadora da felicidade e bens que haviam sido atribuídos a todos.
(1) Estava rezando e meu doce Jesus veio, pondo-se junto a mim para rezar junto comigo, mas bem sua inteligência se refletia na minha e eu rezava com a sua, sua voz ecoava na minha e rezava com sua palavra; mas quem pode dizer os efeitos intermináveis desta oração? Depois o meu amado Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, quis rezar juntamente contigo para te reafirmar em minha Vontade e te dar a graça de te encontrar ante a Majestade Suprema no ato da criação do homem, e como o dotamos de todos os bens e sua vontade era a nossa, e a nossa a sua, tudo era harmonia entre Ele e Nós, o que queria tomava de Nós: santidade, sabedoria, poder, felicidade, etc., era nosso protótipo, nosso retrato, nosso filho feliz, Assim que Adão no princípio de sua existência teve uma época em que cumpria a maravilha a finalidade para a qual foi criado, provou o que significa viver do Querer de seu Criador, éramos felizes mutuamente ao ver reproduzir em nossa imagem nossos mesmos atos. Logo, assim que rompeu a sua vontade com a nossa, ficou dividido de nós; portanto os primeiros atos do homem estão em nossa vontade, e eu não quero outra coisa de ti, senão que venhas em nosso Querer para seguir de onde Adão deixou, para poder ligar em ti todas as harmonias que ele rompeu; e assim como esta primeira criatura tendo sido criada por nós como cabeça de toda a família humana, com subtrair-se do nosso Querer levou a infelicidade a todos, assim tu com vir a continuar de onde ele deixou, constituímos-te como cabeça de todos, e portanto portadora daquela felicidade e bens que tinham sido atribuídos a todos se tivessem vivido em nosso Querer".
(3) E eu: "Meu Jesus, como pode ser possível isto, se com vir Tu mesmo sobre a terra a redimir-nos e a sofrer tantas penas, não se adquiriu a felicidade que o primeiro homem perdeu para si e para todos, Como pode ser agora que ao me vincular em teu Eterno Querer possa restituir esta felicidade perdida?"
(4) E Jesus: "Minha filha, todos os tempos estão em minhas mãos, dou a quem quero, e para isso me sirvo de quem quero. Muito bem poderia ter trazido a felicidade que contém minha Vontade sobre a terra, mas não encontrei nenhuma vontade humana que quisesse fazer vida perene na minha, para retomar os vínculos da Criação e dar-me novamente todos os atos do primeiro homem como se os tivesse feito todos com o selo da Vontade Suprema, e por isso pôr à disposição de todos a felicidade perdida. É verdade que estava a minha amada Mãe, mas Ela devia cooperar junto Comigo à Redenção. Além disso, o homem era escravo, aprisionado por suas mesmas culpas, doente, coberto de chagas, as mais asquerosas, e Eu como pai amante vinha a desembolsar meu sangue para resgatá-lo, vinha como médico a curá-lo, como professor a ensinar-lhe o caminho, o meio para não deixá-lo precipitar no inferno; pobre enfermo, como poderia ter-se espaçado nos eternos vôos de meu Querer se não sabia caminhar; se Eu tivesse querido dar a felicidade que contém minha Vontade, teria sido como dá-la aos mortos e fazê-la pisotear, o homem estava indisposto para receber tanto bem e por isso quis ensinar a oração para dispô-los, e me conformei em esperar outras épocas, deixar passar séculos e séculos para fazer conhecer o viver em meu Querer, para dar o princípio a esta felicidade".
(5) E eu: "Meu amor, se com a tua Redenção nem todos se salvam, como pode a tua Vontade dar a todos esta felicidade?"
(6) E Jesus: "O homem será sempre livre, não lhe tirarei jamais os direitos que lhe dei ao criá-lo; só que na Redenção vim abrir tantos caminhos, sendas, atalhos para facilitar a salvação, a santidade do homem; com a minha Vontade venho abrir o caminho real e direto que conduz à santidade da semelhança do seu Criador e que contém a verdadeira felicidade, mas apesar de tudo isto serão sempre livres de ficar, quem no caminho real, quem nos caminhos, e quem fora de tudo, mas estará no mundo o que agora não há, a felicidade do Fiat Volutas Tua como no Céu assim na terra. O homem fez os primeiros atos em meu Querer e depois se subtraiu, por isso arruinou tudo, e como era a cabeça de todos, junto se arruinaram os membros. Minha Humanidade formou o plano de todos os atos humanos na Vontade Divina, minha Mãe me seguiu fielmente, assim que tudo está preparado; agora não se necessita outra coisa, que outra criatura que querendo viver perenemente neste Querer, venha a tomar a posse do plano feito por Mim, e abra este caminho real a todos, o qual conduz à felicidade terrena e Celeste".
16-17
Agosto 28, 1923
Não basta possuir, senão se requer cultivar e guardar o que se possui.
(1) Sentia-me extremamente aflita pela privação do meu doce Jesus, porque o chamava e rogava, não se dignava retornar a sua pequena exilada daqui abaixo. Ai, como é duro meu exílio! Meu pobre coração agonizava pela dor que sentia, porque Aquele que forma sua vida estava distante de mim; mas enquanto suspirava seu retorno, veio o confessor, e Jesus, precisamente então, depois de tanto esperar se moveu em meu interior, estreitando-me forte o coração se fazia ver e eu lhe disse:
(2) "Meu Jesus, não podias ter vindo antes? Agora devo obedecer; se te parece bem virás quando te receber no Santíssimo Sacramento, então ficaremos sós outra vez e Estaremos livres para ficarmos juntos".
(3) E Jesus, com um aspecto digno e descuidado, disse-me:
(4) "Minha filha, quereis que destrua a ordem da minha Sabedoria e que retire esse poder dada à minha Igreja?"
(5) E, enquanto dizia, fazia-me participar nas suas penas. Depois disse-lhe:
(6) "Mas diz-me, meu amor, porque não vens? Fizeste-me esperar tanto, quase até me fazer perder a esperança de seu retorno, e meu pobre coração, pela dor, se debate entre a vida e a morte".
(7) E Jesus todo bondade: "Minha filha, tendo posto em ti a propriedade do meu querer, quero que não só seja possuído por ti, mas que o saibas conservar bem, cultivar, ampliar, de maneira de multiplicá-lo; assim que as penas, as mortificações, a vigilância, a paciência, e até minha mesma privação servem para ampliar e guardar os confins de minha Vontade em tua alma. Não basta possuir, mas saber possuir; de que serve ao homem possuir uma propriedade se não se toma o cuidado de semeá-la, cultivá-la, guardá-la, para depois recolher os frutos de suas fadiga? Se você não trabalhar seu terreno, mesmo que você o possui você pode dizer que você não terá com o que tirar a fome, assim que não é possuir o que faz rico e feliz ao homem, senão o saber cultivar bem o que possui. Assim são minhas graças, meus dons, especialmente minha Vontade que como Rainha tenho posto em ti, quer o alimento de ti, quer o trabalho de tuas penas, de tuas ações, quer que em cada coisa, sua vontade toda submetida à sua lhe dê as honras e o cortejo que como a Rainha convém, e Ela em cada coisa que faça ou sofra terá disposto o alimento com que nutrir tua alma. E assim tu por um lado e minha Vontade pela outra, alongareis os confins da minha Suprema Vontade em ti".
17-18
Outubro 11, 1924
Amor de Deus ao criar a criatura. Cada sentido é uma comunicação entre a alma e Deus.
(1) Sentia-me muito oprimida pela privação do meu doce Jesus. Oh. Oh! quantos temores se suscitavam em minha alma, mas o que mais me destroçava era que meu Jesus não me amasse como antes. Depois, enquanto estava nisto, senti-me tomada pelos ombros, e ouvindo a voz de Jesus no meu ouvido, dizia-me:
(2) "Minha filha, por que teme que eu não te ame? Ah! Se você só conhecesse o meu amor em geral por todas as criaturas, ficaria surpresa. Com quanto amor não criei a criatura? Com quantos sentidos não a criei? Cada sentido era uma comunicação que deixei entre Eu e ela, o pensamento era comunicação entre minha inteligência e a sua, o olho era comunicação entre minha luz e a sua, a palavra era meio de comunicação entre meu Fiat e o seu, o coração entre meu amor e o seu, em suma, tudo, o respiro, o movimento, o passo, tudo, tudo era comunicação entre Mim e a criatura.
Eu fazia mais que um pai que, devendo sair de viagem um filho, não só lhe prepara o alojamento, as vestes, o alimento e tudo o que pode fazer feliz a seu filho, senão que dá virtude ao filho e lhe diz: Separar-nos-emos, é verdade, mas de longe tu sentirás a minha vida e eu a tua, tu sentirás o meu pensamento e eu o teu, tu o meu fôlego, o meu coração, e eu os teus, assim que estaremos longe e perto, separados e inseparáveis, tu sentirás a minha vida e eu a tua'. Mas isto que não pode ser feito por um pai terreno por seu filho, porque lhe é impossível, o fiz Eu, Pai Celestial, que enquanto fazia sair à luz a este meu filho, depois de haver preparado Eu mesmo o quarto deste mundo, punha entre ele e Eu tal união, que eu devia sentir a sua vida em Mim, e a minha criatura a minha, e este é o meu amor em geral e por todos; que te dizer além do meu amor especial que tive por ti? Cada sofrimento que te enviei tem sido uma comunicação de mais entre ti e Eu, e portanto um adorno de mais com o qual embelezava a tua alma; cada verdade que te manifestava era uma partícula das minhas qualidades, com as quais embelezava e enchia a tua alma; cada graça e cada vinda minha a ti eram dons que fazia chover sobre ti; não fiz outra coisa que multiplicar minhas comunicações quase a cada instante para plasmar em ti as diversas belezas minhas, minha semelhança, a fim de que tu vivas Comigo no Céu e Eu viva contigo na terra, e depois de tudo isso você duvida do meu amor? Mas digo-te: “Pensa em amar-me e Eu pensarei sempre mais em amar-te".
18-17
Dezembro 20, 1925
Sobre as lágrimas de Jesus e como derramou todas as lágrimas das criaturas. Viver na Divina Vontade significa possuí-la.
(1) Estava pensando nas lágrimas que derramou o menino Jesus em seu nascimento e dizia entre mim: "Quão amargas devem ter sido essas lágrimas, como lhe puderam agora congelar, agora
queimar aquele terno rosto, porque pelo que eu sei, as lágrimas têm dois efeitos, segundo a causa pela qual são derramadas, se a causa é por um amor, queimam e fazem dar em soluços; se são produzidas pela dor, são geladas e fazem tremer. No meu menino real havia um intenso e infinito amor e uma dor sem fim, assim que muito lhe devem ter custado suas lágrimas". Agora, enquanto pensava nisso, o meu doce Jesus mexeu-se dentro de mim e fez-me ver o seu rosto banhado em lágrimas, mas tantas, que uma corria atrás da outra, até lhe banhar o peito e as mãos, e suspirando disse-me:.
(2) "Minha filha, minhas lágrimas começaram desde o primeiro instante de minha Concepção no seio de minha Mãe Celestial e duraram até meu último respiro sobre a cruz. A Vontade de meu Pai Celestial confiou-me também o trabalho das lágrimas, e devia derramar tantas de meus olhos por quantas deviam derramar todas as criaturas juntas. Assim como concebi todas suas almas em Mim, Assim devia derramar todas suas lágrimas de meus olhos. Vê, pois, quanto chorei; de meus olhos derramei as lágrimas que as criaturas derramaram por paixões, para que as minhas apagassem as suas paixões; e derramei as lágrimas necessárias depois do pecado, para lhes dar a dor de me ter ofendido e a convicção do mal que fizeram, preparando com minhas lágrimas o propósito de não me ofender mais; devo derramar as lágrimas para enternecer as almas para fazê-las compreender as penas de minha Paixão; como também derramei lágrimas abundantes de amor para atrair as almas a me amar, para captar sua simpatia e seu coração tudo para Mim; basta dizer-te que não há lágrima que brote do olho humano que não tenha derramado Eu de meus olhos. Ninguém soube das minhas tantas lágrimas, dos meus tantos choros ocultos e dos meus segredos; quantas vezes ainda como tenro menino voava da terra ao Céu, e encostando a minha cabecinha aos joelhos de meu Pai Celestial chorava, chorava e soluçava, dizia-lhe: meu pai, olha, eu nasci no mundo para lágrimas e dor, como os meus irmãos que nascem às lágrimas e morrem em pranto, e eu amo tanto estes irmãos, que quero derramar todas as suas lágrimas de meus olhos, não quero que nenhuma me escape, para dar a suas lágrimas, lágrimas de amor, de dor, de vitória, de santificação e de divinização'. Quantas vezes minha querida Mamãe me olhando ficava trespassada ao me ver todo banhado em pranto, e Ela unia, pela dor de me ver chorar, suas lágrimas às minhas, e chorávamos juntos; às vezes me via obrigado a esconder-me para dar desabafo ao pranto para não traspassar seu inocente e materno coração, outras vezes esperava a que minha Celestial Mamãe, por necessidade, se ocupasse em seus afazeres domésticos para dar desabafo a minhas lágrimas para poder completar o número das lágrimas de todas as criaturas".
(3) Então eu ao ouvir isto lhe disse: "Jesus, meu amor, já que também minhas lágrimas foram derramadas por teus olhos, como também as de nosso primeiro pai Adão, eu quero que as derrames sobre minha alma para me dar a graça não somente de fazer tua Santíssima Vontade, mas de possuí-la como coisa e vontade minha". Então Jesus sacudia a cabeça, e do seu rosto corriam as lágrimas sobre minha pobre alma, e acrescentou:.
(4) "Filha de meu Querer, certamente que derramei tuas lágrimas, para que passando por meus olhos as tuas, pudesse te dar o grande dom de minha Vontade. O que Adão não pôde receber com suas lágrimas, apesar de que passaram por meus olhos, podes receber tu, porque Adão antes de que pecasse possuía minha Vontade, e com a possessão de minha Vontade, na semelhança crescente de seu Criador, e crescia tanto que formava o encanto de todo o Céu e todos se sentiam honrados em servi-lo; depois do pecado perdeu a possessão de meu Querer, e apesar de ter chorado sua culpa e não ter pecado mais, pôde fazer minha Vontade, mas não possuí-la, porque faltava o Divino Ofendido que devia formar o novo enxerto divino entre a criatura e o Criador, para poder cruzar de novo os limites das possessões do Eterno Querer. Este enxerto foi feito por Mim, Verbo Eterno, depois de quatro mil anos, e Adão até então havia passado aos limiares da eternidade. Mas apesar deste enxerto divino feito por Mim com lágrimas, suspiros e penas inauditas, quantos se reduzem à condição de Adão depois do pecado a só fazer minha Vontade, outros não a querem conhecer, outros se revelam a Ela; só quem vive em minha Vontade eleva-se ao estado de Adão inocente antes de cair em pecado, porque há uma grande distância entre quem faz a minha vontade e entre aqueles que a possuem, há a distância entre Adão inocente e Adão depois do pecado. E eu, vindo à terra, devia agir como Deus, cumprir em toda a obra do homem, elevá-lo ao ponto primeiro da sua origem, dando-lhe a posse da minha vontade, e enquanto muitos se servem da minha vinda apenas como remédio para a sua salvação e, portanto, tomam a minha vontade como remédio, como força e como antídoto para não ir para o inferno, Eu esperarei ainda, a fim de que surjam as almas que a tomem como vida, e com fazê-la conhecer tomem posse dela e assim completarei a obra da minha vinda à terra e terá fruto o enxerto divino formado de novo com a criatura, e minhas lágrimas se transformarão em sorrisos celestiais e divinas para Mim e para elas".
19-16
Maio 1, 1926
Quem vive no Querer Divino é alimentado pelo alento divino, e quem não vive nele é um intruso, um usurpador dos bens de Deus, e recebe os bens a título de esmola.
(1) Sentia-me toda imersa no Querer Supremo, e meu doce Jesus saiu de dentro de mim, e apertando-me forte a Si punha sua boca perto de meus lábios e me mandava seu fôlego onipotente. Mas quem pode dizer o que sentia em mim? Aquele fôlego me penetrava até as mais íntimas fibras, me enchia toda até não sentir mais minha pequenez, minha existência, senão somente e em toda mim mesma só a Jesus. Assim, depois de haver repetido várias vezes este mandar-me seu fôlego, porque parecia que não estava contente se não me via toda cheia daquele fôlego divino, disse-me:.
(2) "Minha filha, tendo tu nascido no meu Querer, é necessário, é justo e decoroso que nele vivas, cresças e te alimentes, que adquiras as prerrogativas de verdadeira filha de meu Querer; nenhum alinhamento estranho nem coisa que não pertença a meu Querer se deve ver em ti, assim que de tua fisionomia, de teus modos, de teu falar e até do modo como tu amas e rezas, Deve saber que és a filha da minha vontade. Vê então como te amo e com que zelo te guardo e te alimento? Com meu mesmo alento, porque quem deve viver em meu Querer, somente meu alento pode conservar íntegra e permanente a Vida de minha Vontade nela, assim que aquele alento que com tanto amor fiz sair de meu seio na criação do homem para infundir-lhe minha semelhança, continuo-o na alma que vive em minha Vontade para formar minhas verdadeiras imagens e os grandes portentos que havia estabelecido formar na Criação, por causa das quais todas as coisas foram feitas, por isso suspiro tanto a quem vive em meu Querer, porque só ela não me deixará desiludido no fim da Criação, só ela desfrutará por direito as coisas criadas por Mim, porque sendo uma minha Vontade com a sua, o que é meu é seu, e com direito pode dizer: O céu, o sol, a terra e todas as outras coisas são minhas, por isso quero me divertir, e também para honrar a Suprema Vontade que as criou e que reina em mim'. Em troca a alma na qual não reina meu Querer não tem nenhum direito, e se as goza é um usurpador, porque não são suas, é um intruso em meus bens, mas como minha bondade é tanta lhe deixo gozar a título de esmola, mas não de direito. Eis por que muitas vezes os elementos se descarregam em dano do homem, porque não tem direito, e das coisas da terra fica a esmola que o Criador lhe manda. Assim quem vive em meu Querer é como rainha no meio da Criação, e Eu gozo sumamente ao vê-la reinante no meio de meus bens".
(3) Depois disso eu continuava rezando, e meu doce Jesus voltou e me fazia ver que de suas santíssimas mãos saíam duas fontes de luz, uma descendo sobre minha pobre alma, mas Jesus fazia um engenho tal em suas mãos, que enquanto descia ascendia novamente ao alto, parecia uma corrente contínua, que enquanto descia, subia, e Jesus se deleitava no meio destas fontes de luz, e estava todo atento a fim de que toda esta luz ficasse concentrada em mim, e depois me disse:.
(4) "Minha filha, estas fontes de luz que descem de minhas mãos, é a minha Vontade que desce do Céu e faz seu caminho na alma para cumprir o que quer fazer nela; este fazer de minha Vontade forma a outra fonte de luz que sobe, por meio de minhas mãos, de volta ao Céu para levar o cumprimento de minha Vontade pela criatura ao Eterno Criador, mas enquanto sobe, em seguida desce de novo, duplicada, para continuar sua ação divina na criatura. Minha Vontade tem um movimento contínuo, não se detém jamais, se pudesse deter seu movimento, o que não pode ser, cessaria a vida a toda a Criação, ao sol, ao céu estrelado, às plantas, à água, ao fogo e às criaturas, todas desceriam em nada; Por isso minha Vontade com seu movimento contínuo é vida de cada coisa criada, vincula tudo, é mais que ar que com sua respiração faz respirar, desenvolver, crescer todas as coisas saídas de nossas mãos. Veja então que afronta fazem as criaturas, pois enquanto minha Vontade é vida de tudo e centro de cada coisa, e sem Ela nada existiria, nem nenhum bem, elas não querem reconhecer nem seu domínio nem sua Vida que corre nelas, eis por que quem reconhece a Vida de minha Vontade nela e em todas as coisas, é o triunfo de nossa Vontade e a conquista de nossas vitórias, é a correspondência de nosso Amor a nosso movimento contínuo, nossa Vontade a vincula a toda a Criação fazendo-a fazer todo o bem que faz minha mesma Vontade. Então tudo é seu, e Eu a amo tanto que não sei fazer nada sem ela, porque em virtude de minha Vontade temos a mesma Vida, o mesmo amor, um só batimento e um só respiro".
(5) E enquanto dizia isto, lançou-se nos meus braços como se estivesse desfalecido de amor e desapareceu.
20-16
Outubro 26, 1926
Em todos os atos que Jesus fez, sua finalidade era o reino do Fiat Divino. Adão se sente dando de novo a honra perdida por Ele.
(1) Continuava unindo-me junto com os atos que Jesus fez na Redenção, e meu sempre amável Jesus me disse:
(2) "Minha filha, olha como todos os atos que fiz ao redimir ao homem, ainda meus mesmos milagres que fiz em minha vida pública, não eram outra coisa que chamar o reino do Fiat Supremo no meio das criaturas, no ato de fazê-los pedia a meu Pai Celestial que o fizesse conhecer e o restabelecesse no meio das gerações humanas. Se eu olhava para os cegos, o meu primeiro ato era pôr em fuga as trevas da vontade humana, causa primária da cegueira da alma e do corpo, e que a luz da minha iluminasse as almas de tantos cegos, a fim de que obtivessem a vista para
olhar minha Vontade para amá-la, a fim de que também seus corpos estivessem livres de perder a vista; se desse o ouvido aos surdos, primeiro pedia a meu Pai que adquirissem o ouvido para escutar as vozes, os conhecimentos, os prodígios de meu Querer Divino, a fim de que entrasse em seus corações como caminho para dominá-los, a fim de que não mais surdos existissem no mundo, nem na alma nem no corpo; também quando ressuscitei os mortos pedia que ressuscitassem as almas em meu Eterno Querer, também aquelas apodrecidas e mais que cadáveres pela vontade humana. E quando tomei as cordas para lançar aos profanadores do templo, era à vontade humana que lançava, a fim de que entrasse a minha, reinante e dominante, para que fossem verdadeiramente ricos na alma e não mais sujeitos a pobreza natural. E até quando eu entrei triunfante em Jerusalém, no meio da multidão, rodeado de honra e de glória, era o triunfo da minha Vontade que estabelecia no meio dos povos, não houve um ato que eu fizesse estando na terra em que não pusesse a minha Vontade como ato primeiro para restaurá-la no meio das criaturas, porque era a coisa que mais me importava. E se não fosse assim, que em tudo o que fiz e sofri não tivesse tido como ato primeiro o reino do Fiat Supremo para restaurá-lo no meio das criaturas, a minha vinda à terra teria trazido às gerações humanas um bem pela metade, não completo, e a glória de meu Pai Celestial não teria sido completamente reintegrada por Mim, porque como minha Vontade é princípio de todo bem, é finalidade única da Criação e Redenção, portanto é fim de cumprimento de todas as nossas obras. Assim, sem Ela, nossas obras mais belas são iniciadas e sem cumprimento, porque é Ela sozinha a coroa de nossas obras e o selo de que nossa obra está cumprida. Eis por que, por honra e glória da mesma obra da Redenção, devia ter como ato primeiro a finalidade do Reino da minha Vontade".
(3) Depois disto estava começando meu giro na Divina Vontade e pondo-me no Éden terreno, onde Adão havia feito o primeiro ato de subtração de sua vontade à Divina, dizia a meu doce Jesus:
"Meu amor, quero aniquilar meu querer no teu, para que jamais tenha vida, para fazer que em tudo e para sempre tenha vida a tua, para reparar o primeiro ato que fez Adão, para voltar a dar toda aquela glória a teu Supremo Querer como se Adão não se tivesse subtraído d‟Ele. Oh! como gostaria de voltar a dar-lhe a honra perdida por ele porque fez sua vontade e rejeitou a tua, e este ato tento fazê-lo por quantas vezes todas as criaturas têm feito sua vontade, causa de todos seus males e têm rejeitado a tua, princípio e fonte de todos os bens, por isso te rogo que venha logo o Reino do Fiat Supremo, a fim de que todos, desde Adão até todas as criaturas que fizeram sua vontade, recebam a honra, a glória perdida e teu Querer receba o triunfo, a glória e seu cumprimento". Agora, enquanto dizia isto, o meu Sumo Bem Jesus comoveu-se todo e abrandado, e fazendo-me presente ao meu primeiro pai Adão, fez com que ele me dissesse com uma ênfase de amor todo especial:
(4) "Filha bendita, finalmente meu Senhor Deus depois de tantos séculos, fez sair à luz do dia aquela que devia pensar em voltar a dar-me a honra e a glória que perdi ao fazer infelizmente minha vontade. Como me sinto duplicada minha felicidade, até agora ninguém pensou em voltar a dar-me esta honra que perdi, por isso agradeço vivamente a Deus que te fez sair à luz, e agradeço a ti, como filha a mim muito amada, que tenhas tomado o empenho de voltar a dar a Deus a glória como se jamais sua Vontade tivesse sido ofendida por mim, e a mim a grande honra de que o Reino do Fiat Supremo seja restabelecido no meio das gerações humanas. É justo que te ceda o lugar que a mim me tocava, como primeira criatura que saiu das mãos do nosso Criador".
(5) Depois disto meu amável Jesus me apertando a Ele me disse:
(6) "Minha filha, não só Adão, mas todo o Céu esperam tuas ações em meu Querer, a fim de que recebam a honra que lhes tirou seu querer humano; tu deves saber que pus mais graça em ti que não pus em Adão, para fazer que meu Querer te possuísse e com triunfo te dominasse, e o teu se sentisse honrado de nunca ter vida e cedesse o posto à minha Vontade. Nele não pus a minha humanidade como ajuda e força sua e como cortejo da minha vontade, porque não a tinha então, em ti a pus para te fornecer todas as ajudas que se precisa para fazer com que a tua esteja em seu posto e a minha possa reinar, e junto contigo seguir teus giros no meu Eterno Querer para estabelecer o seu Reino".
(7) Eu, ao ouvir isto, como surpreendida disse: "Meu Jesus, o que dizes? Eu acho que você quer me tentar e zombar de mim. Será possível que você colocou mais graça em mim do que em
Adão?"
(8) E Jesus: "Certo, certo filha minha, devia fazer de modo que tua vontade fosse sustentada por uma Humanidade Divina para fazer que não vacilasse e estivesse firme em minha Vontade, por
isso não me burlo, mas sim te digo a fim de que me correspondas e sejas atenta".
Nenhum comentário:
Postar um comentário