ESCOLA DA DIVINA VONTADE - DÉCIMA SEXTA SEMANA DE ESTUDOS

 MEDITAÇÃO

LIVRO DO CÉU VOLUME 1

(124) Depois de que passei algum tempo neste estado descrito acima, cerca de seis ou sete meses, os sofrimentos aumentaram mais, tanto que me vi obrigada a estar na cama, freqüentemente se multiplicava aquele estado de perder os sentidos, e quase não tinha nem uma hora livre, me reduzi a um estado de extrema debilidade, a boca se apertava de tal modo que não a podia abrir e em algum momento livre que tinha apenas algumas gotas de algum líquido podia tomar, se é que o conseguia, E depois era obrigada a devolvê-lo pelos vómitos que sempre tive.

Depois de que estive dezoito dias neste estado contínuo, mandou-se chamar o confessor para me confessar. Quando o confessor veio me encontrou nesse estado de letargia. Quando me recuperei me perguntou o que tinha, somente lhe disse, calando todo o resto, e como continuavam as moléstias dos demônios e as visitas de Nosso Senhor, então lhe disse: "Padre, é o demônio". Ele me disse para não ter medo, porque se for ele, o padre liberta-te. Assim dando-me a obediência e perseguindo-me com a cruz e ajudando-me a mover os braços, porque sentia todo o corpo petrificado como se tudo se tivesse tornado numa só peça, conseguiu que os braços retomassem o movimento, Conseguiu fazer com que a boca se abrisse depois de estar imóvel para tudo. Atribuí isto à santidade do  meu confessor, que na verdade era um santo sacerdote, considerei-o quase um milagre, tanto que dizia entre mim: "Olha, estavas prestes a morrer".
Porque na verdade me sentia mal, e se tivesse durado esse estado, eu acho que teria deixado a vida. Se bem me lembro que estava resignada e quando me vi libertada senti um certo pesar porque não tinha morrido.
(125) Depois que o confessor se foi, e eu fiquei livre voltei ao mesmo estado de antes, e assim acontecia, às vezes semanas, às vezes quinze dias e até meses em que era surpreendida de vez
em quando por aquele estado durante o dia, mas por mim mesma consegui libertar-me; depois quando era surpreendida com mais frequência, como disse mais acima, então os familiares
mandavam chamar o confessor, pois tinham visto que a primeira vez tinha ficado libertada por ele, quando todos acreditavam que não me haveria de recuperar mais daquele estado, E, em vez disso, até pude ir à igreja, por causa disto chamavam o confessor e então ficava livre. Nunca me passou pela mente que para tal estado se necessitasse o sacerdote para libertar-me, nem que meu mal fosse uma coisa extraordinária; é certo que quando perdia os sentidos via Jesus Cristo, mas isto atribuía-o à bondade de Nosso Senhor e dizia para mim mesma: "Olha como o Senhor é bom para mim, que neste estado de sofrimentos vem a dar-me a força, de outra maneira como poderia sustentar-me, quem me daria a força?" Também é verdade que quando devia cair nesse estado, na manhã da Comunhão Jesus me dizia isso, e caindo nesse estado de Ele mesmo me vinham os sofrimentos, mas não dava importância a nada. Só de pensar alguma vez em dizê-lo ao confessor eu acreditava ser a alma mais soberba que existisse no mundo se me atrevia a falar destas coisas de ver a Jesus Cristo; e sentia tal vergonha que foi impossível dizer algo a esse confessor apesar do bom e santo que era. Tanto é verdade, que não acreditava que se necessitasse do sacerdote para me libertar e que isto acontecia pela santidade do confessor, que quando chegou o tempo, ele foi ao campo, então uma manhã, depois da Comunhão o Senhor me fez entender que devia ser surpreendida por esse estado, Convidou-me a fazer-lhe companhia com a participação nas suas dores, mas eu subitamente lhe disse: "Senhor, como farei? O confessor não está, quem deve me libertar? Quer acaso me fazer morrer?" E o Senhor me disse somente:
(126) "Sua confiança deve estar somente em Mim, esteja resignada, pois a resignação faz a alma luminosa, faz estar em seu lugar às paixões, de modo que Eu, atraído por esses raios de luz, vou à alma e a uniformo toda em Mim, e a faço viver de minha mesma Vida".

2-18
Maio 2, 1899

Como na Igreja está refletido todo o Céu.

(1) Esta manhã Jesus dava muita compaixão, estava tão aflito e sofredor que eu não me atrevia a lhe fazer nenhuma pergunta, nos olhávamos em silêncio, de vez em quando me dava um beijo e eu a Ele, e assim continuou a fazer-se ver algumas vezes. A última vez me fez ver a Igreja dizendo-me estas palavras:
(2) "Na minha Igreja está representado todo o Céu: Assim como no Céu uma é a cabeça, que é Deus, e muitos são os santos, de diferentes condições, ordens e méritos, assim na minha Igreja, uma é a cabeça, que é o Papa, e até na tiara que rodeia sua cabeça está representada a Trindade Sacrossanta, e muitos são os membros que desta cabeça dependem, ou seja, diferentes dignidades, diferentes ordens, superiores e inferiores, desde o menor até o maior, todos servem para embelezar a minha Igreja, e cada um, segundo o seu grau, tem um ofício que lhe foi dado, e com o exato cumprimento das virtudes vem dar de si na minha Igreja um esplendor odoroso, de modo que a terra e o Céu ficam perfumados e iluminados, e as pessoas ficam tão atraídas por esta luz e por este perfume, que é quase impossível não se render à verdade. Deixo-te a ti considerar aqueles membros infectados, que em vez de produzir luz dão trevas, quantos destroços fazem na minha Igreja!"
(3) Enquanto Jesus assim me dizia, vi o confessor junto a Ele, Jesus com o seu olhar penetrante olhava-o fixamente; depois, dirigindo-se a mim, disse-me:
(4) "Quero que tenha plena confiança com o confessor, mesmo nas mínimas coisas, tanto que entre Eu e ele não deve haver diferença alguma, porque na medida de sua confiança e da fé que der a suas palavras, assim Eu entrarei em contato".
(5) No momento em que Jesus dizia estas palavras lembrei-me de certas tentações do demônio que haviam produzido em mim um pouco de desconfiança, mas Jesus com seu olho vigilante, de imediato me tomou novamente junto a Si, e nesse mesmo instante senti-me a tirar de dentro de mim essa desconfiança. Seja sempre bendito o Senhor, que tem tanto cuidado desta alma tão miserável e pecadora.

3-17
Dezembro 2, 1899

Eloquente elogio da cruz.

(1) Encontrando-me muito aflita por certas coisas que não é lícito dizer aqui, o amável Jesus, querendo aliviar-me na minha aflição veio com um aspecto todo novo, me parecia vestido de cor celeste, todo adornado de sinos pequenos de ouro, que ao baterem umas nas outras ressoavam com um som jamais ouvido. Ante o aspecto de Jesus e o harmonioso som me senti encantar e aliviar em minha aflição, que como fumaça se afastava de mim. Eu teria permanecido ali, em silêncio, tanto me sentia encantar as potências de minha alma, se o bendito Jesus não tivesse rompido meu silêncio ao me dizer:
(2) "Minha querida filha, todos estes sinos são tantas vozes que te falam do meu amor e que te chamam a amar-me. Agora, deixe-me ver quantos sinos você tem, que me falem de seu amor e
que me chamem a te amar".
(3) E eu, toda cheia de vergonha, disse-lhe: "Ah Senhor! Que dizes? Eu não tenho nada, não tenho outra coisa senão defeitos".
(4) Então Jesus compadecendo-se da minha miséria, continuou a dizer-me:
(5) "Tu não tens nada, é verdade, pois bem, quero adornar-te Eu com os meus sinos, a fim de que possas ter tantas vozes para me chamar e para me demonstrar o teu amor".
(6) Assim parecia que como uma faixa adornada destes sininhos me apertava a cintura. Depois disto, fiquei em silêncio e Ele acrescentou:
(7) "Hoje quero entreter-me contigo, diz-me alguma coisa".
(8) E eu: "Você sabe que todo meu contentamento é estar junto Contigo, e tendo-te a Ti tenho tudo, por isso possuindo-te a Ti, parece-me que não tenho outra coisa que desejar, nem que dizer".
(9) E Jesus: "Faze-me ouvir a tua voz que recria o meu ouvido, conversemos um pouco juntos, Eu te falei tantas vezes da cruz, hoje deixa-me ouvir-te falar da cruz".
(10) Eu me sentia toda confusa, não sabia o que dizer, mas Ele me enviou um raio de luz intelectual, e para agradá-lo comecei a dizer: "Meu amado, quem te pode dizer que coisa é a cruz?
, só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da cruz, mas já que queres que eu fale, está bem, faço-o: A cruz sofrida por Ti libertou-me da escravidão do demônio e me desposou com a
Divindade com nó indissolúvel; a cruz é fecunda e me sustém a graça; a cruz é luz e me desaponta do temporal, e me descobre o eterno; a cruz é fogo, e tudo o que não é de Deus o transforma em cinzas, até me esvaziar o coração do menor fio de erva que possa estar nele; a cruz é moeda de inestimável preço, e se eu tenho, Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, me enriquecerei de moedas eternas, até me tornar a mais rica do paraíso, porque a moeda que corre no Céu é a cruz sofrida na terra; a cruz faz-me conhecer mais a mim mesma, e não só isso, mas dá-me o conhecimento de Deus; a cruz enxerta-me todas as virtudes; a cruz é a nobre cátedra da Sabedoria incriada, que me ensina as doutrinas mais altas, sutis e sublimes; assim que só a cruz me revelará os mistérios mais escondidos, as coisas mais recônditas, a perfeição mais perfeita escondida aos mais doutos e sábios do mundo. A cruz é como água benéfica que me purifica, não só isso, senão que me fornece o nutrimento às virtudes, faz-me crescer e só me deixa quando me conduz à vida eterna. A cruz é como orvalho celeste que me conserva e me embeleza o belo lírio da pureza; a cruz é o alimento da esperança; a cruz é a tocha da fé obrante; a cruz é aquele lenho sólido que conserva e mantém sempre aceso o fogo da caridade; a cruz é aquele pau seco que faz desvanecer e pôr em fuga toda fumaça de soberba e de vanglória, e produz na alma a humilde violeta da humildade; a cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras. Assim que a alma que possui a cruz, é de inveja e admiração aos mesmos anjos e santos;
de raiva e desdém aos demônios. A cruz é o meu paraíso na terra, de modo que se o paraíso de lá, dos bem-aventurados, são as alegrias; o paraíso daqui são os sofrimentos. A cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une Contigo, meu sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, até fazer desaparecer meu ser e me transforma em Ti, meu objeto amado, tanto de sentir-me perdida em Ti e vivo de tua mesma vida".
(11) Depois de dizer isto, (não sei se são desatinos) meu amável Jesus ao me ouvir, tudo se comprazia e levado por um entusiasmo de amor, toda me beijava e me disse:
(12) "Bravo, bravo a minha amada filha, disse bem. Meu amor é fogo, mas não como fogo terreno que onde quer que penetre tudo o torna estéril e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só esteriliza o que não é virtude, mas a tudo o mais dá vida e faz germinar as belas flores, faz produzir os mais requintados frutos e converte a alma no mais delicioso jardim celestial.
(13) A Cruz é tão poderosa e comuniquei-lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios sacramentos, e isto porque ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem faltar, mas a cruz tem a virtude de dispor a alma à graça".

4-16
Outubro 4, 1900

Jesus sofre ao castigar o homem porque são suas imagens.

(1) Depois de ter passado um dia de privação e com escasso sofrimento, sentia-me convencida de que o Senhor não queria ter-me mais neste estado; no entanto a obediência, mesmo nisto, não quer ceder, e quer que continue a estar nele, ainda que deva morrer. Seja sempre bendito o Senhor e em tudo seja feito seu santo e amável Querer. Então, esta manhã, ao vir o bendito Jesus, fazia-se ver em um estado que dava compaixão, parecia que sofria em seus membros, e seu corpo era cortado em tantos pedaços que era impossível numera-los; e com voz lastimosa dizia:
(2) "Minha filha, que sinto! O que sinto! são penas inenarráveis e incompreensíveis à natureza humana; é carne de meus filhos que é dilacerada, e é tanto a dor que sinto, que me sinto dilacerar
minha própria carne".
(3) E enquanto isso gemia e doía. Eu sentia-me enternecedor ao vê-lo neste estado, e fiz tudo o que pude por compadecê-lo e rogar-lhe que me participasse suas tristezas. Agradou-me em parte e apenas pude dizer-lhe: "Ah Senhor, não te dizia eu, que não lançasses mão dos castigos, porque o que mais me desagrada é que ficarás ferido nos teus próprios membros? Ah, desta vez não houve modos nem orações para aplacar-te!" Mas Jesus não prestou atenção a minhas palavras, parecia que tinha uma coisa séria no coração que o levava a outra parte, e num instante me transportou fora de mim mesma, levando-me a lugares onde Ocorriam massacres sangrentos.
Oh, quantas cenas dolorosas se viam no mundo, quantas carnes humanas atormentadas, feitas em pedaços, pisoteadas como se pisa a terra e deixadas sem sepultar; quantas desgraças, quantas misérias! e o pior era que outras coisas mais terríveis deviam acontecer. O bendito Senhor olhou, e comovendo-se tudo começou a chorar amargamente. Eu, não podendo resistir chorei junto com Ele a triste condição do mundo, tanto que minhas lágrimas se misturavam com as de Jesus. Depois de ter chorado um bom momento, admirei outro traço da bondade de Nosso Senhor: Para fazer que deixasse de chorar ocultou seu rosto de mim, secou-se as lágrimas, e logo voltando-se de novo com rosto alegre me disse:

(4) "Amada minha, não chores, basta, basta, o que vês serve para justificar a minha Justiça".

(5) E eu: "Ah Senhor, digo bem que já não é Vontade tua o meu estado, em que aproveita o meu estado de vítima se não me for dado livrar os teus caríssimos membros e isentar o mundo de
tantos castigos?"
(6) E Ele: "Não é como você diz; também Eu fui vítima, e apesar de sê-lo não me foi dado livrar ao mundo de todos os castigos; abri-lhe o Céu, o livrei da culpa, sim, levei sobre Mim suas penas, mas é justiça que o homem receba sobre si parte daqueles castigos que ele mesmo se atrai pecando.
E, se não fosse pelas vítimas, não só mereceria o simples castigo, ou seja, a destruição do corpo, mas também a perda da alma; e eis a necessidade das vítimas, que quem se quiser servir delas, porque o homem é sempre livre na sua vontade, pode encontrar o perdão da pena e o porto de sua salvação".
(7) E eu: "Ah Senhor, como gostaria de ir antes que avancem mais estes castigos!"
(8) E Ele: "Se o mundo chega a tal impiedade de não merecer nenhuma vítima, seguro que te levarei".
(9) Ao ouvir isto disse: "Senhor, não permita que permaneça aqui, e assistir a cenas tão dolorosas".
(10) E Jesus, quase me repreendeu acrescentou: "Em vez de me pedir que os liberte, você diz que quer vir; se Eu levasse todos os meus, o que seria do pobre mundo? Certamente não teria mais o que fazer com ele, e não lhe teria mais nenhuma consideração".
(11) Depois disso eu pedi por várias pessoas, Ele desapareceu e eu retornei em mim mesma.

5-17
Agosto 3, 1903

Quanto mais a alma se despoja das coisas naturais, tanto mais adquire as coisas sobrenaturais e divinas.

(1) Encontrando-me no meu habitual estado, assim que chegou o meu adorável Jesus fazia-me ouvir a sua dulcíssima voz que dizia:
(2) "Quanto mais a alma se despoja das coisas naturais, tanto mais adquire as coisas sobrenaturais e divinas; quanto mais se despoja do amor próprio, tanto mais conquista do amor de Deus; quanto menos se fatiga em conhecer as ciências humanas, em gozar os prazeres da vida, tanto de conhecimento de mais adquire das coisas do Céu, da virtude, e tanto mais as gostará convertendo as amargas em doces. Em suma, todas são coisas que andam de mãos dadas, de modo que se nada se sente de sobrenatural, se o amor de Deus está apagado na alma, se nada se conhece das virtudes e das coisas do Céu, e nenhum gosto se sente por elas, a razão é bem conhecida".

6-19
Fevereiro 12, 1904

Lamentações da alma, Jesus tranquiliza-a.

(1) Continuando em meu estado habitual, sofrendo mais, veio o bendito Jesus e de todas as partes de sua humanidade saíam tantos riachos de luz que se comunicavam a todas as partes de meu corpo, e destes rios que eu recebia saíam de mim outros tantos rios que se comunicavam à Humanidade de nosso Senhor. Enquanto estava nisto encontrei-me rodeada por uma multidão de santos, que olhavam para mim e diziam entre eles: "Se o Senhor não concordar com um milagre não poderá viver mais, porque lhe faltam os humores vitais, o curso do sangue já não é natural, por isso, segundo as leis naturais deve morrer". E rogavam a Jesus bendito que fizesse este milagre, que eu continuasse a viver, e nosso Senhor lhes disse:
(2) Pela comunicação dos rios, como vêem, significa que tudo o que ela faz, até as coisas naturais estão identificadas com a minha humanidade, e quando eu faço chegar a alma a este ponto, de tudo o que opera a alma e o corpo nada se perde, tudo permanece em Mim; enquanto que se a alma não chegou a identificar-se em tudo com a minha humanidade, muitas obras que faz se
perdem. E tendo-a feito chegar a este ponto, por que não posso eu levá-la?"
(3) Agora, enquanto diziam isto, pensava entre mim: "Parece que todos estão contra mim, a obediência não quer que eu morra, estes estão rogando ao Senhor que não me leve, que querem
de mim? Eu não sei por que quase à força querem que esteja nesta terra, afastada do meu sumo bem". E toda me afligia. Enquanto isso pensava Jesus me disse:

(4) "Minha filha amada, não queira te afligir, as coisas do mundo ficam tristíssimas e sempre mais piorarão, se chegar o ponto em que deva dar livre desabafo a minha justiça te levarei, e então não escutarei mais a nenhum".

6-20
Fevereiro 21, 1904

Promessa.

(1) Diante da presença da Santíssima Trindade, da Rainha-Mãe Maria Santíssima, do meu anjo guardião, e de toda a corte celestial, e por obedecer ao meu confessor, prometo que se o Senhor
por sua infinita misericórdia me fizer a graça de morrer, quando me encontrar com meu Esposo Celestial, rogarei e suplicarei o triunfo da Igreja e a confusão e conversão de seus inimigos; que em nosso país triunfe o partido católico e que a igreja de São Cataldo se reabra ao culto, que meu confessor fique livre de seus habituais sofrimentos, com uma santa liberdade de espírito e a
santidade de um verdadeiro apóstolo de nosso Senhor, e que, se o Senhor permite que me envie a Ele, pelo menos uma vez por mês, para lhe referir as coisas celestiais e coisas pertencentes ao bem da sua alma. Eu prometo, quanto está do meu lado e eu juro.

7-18
Maio 18, 1906

A alma sofre enquanto Jesus repousa.

(1) Estava sofrendo tanto na alma e no corpo, que eu mesma não sei como é que vivo, então vi em meu interior o bendito Jesus que repousava e dormia tranquilamente; eu o chamava, o
puxava, mas Ele não me prestava atenção. Depois de muito esperar me disse:
(2) "Minha querida, não queiras perturbar o meu repouso, não me disseste que queres sofrer em meu lugar, e que queres sofrer em tua humanidade tudo o que eu devia sofrer na minha se
estivesse vivo, tentando confortar meus membros sofredores com teus sofrimentos, Você está sofrendo para me deixar livre? Por isso enquanto você sofre Eu repouso".
(3) E enquanto isso dizia, dormiu mais profundamente, e desapareceu. Isto que me disse são as minhas contínuas intenções nos sofrimentos.

8-16
Novembro 3, 1907

A alma na Divina Vontade deve comparecer a tudo.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, senti o meu amável Jesus mover-se dentro de mim, e repetia:
(2) "Vamos mais adiante".
(3) Eu ao ouvir isto me encolhi de ombros dizendo: "Senhor, por que diz vamos mais adiante? Mas bendiga, irei mais adiante nos castigos, eu tenho medo de pôr nisto minha vontade".
(4) E Ele: "Minha filha, minha Vontade e a tua são uma, e se digo vamos mais adiante nos castigos, não digo o mesmo no bem que faço às criaturas, que é, oh! quanto mais do que Os castigos? e nos muitos outros castigos que não mando, você não está unida Comigo? Então, quem está unido no bem, não deve estar unido nas mortificações? Entre Eu e você não deve haver divisões. Você não é outra coisa que aquela pequena erva que Deus se tem comprazido em dotar com uma maravilhosa virtude, e assim como à pequena erva da que não se conhece a virtude que contém pisa e nem sequer se olha, assim quem não conhece o dom que coloquei em ti e a virtude que contém minha erva, não só te pisa, senão que não compreende quanto me agrado Eu com dar valor às coisas menores".
(5) Depois disto parecia que apoiava a sua cabeça sobre a minha, e eu disse: "Ah, faz-me sentir os teus espinhos!"
(6) E Ele: "Queres que te bata?"
(7) E eu: "Sim". Neste momento vi nas mãos de Jesus uma vara com bolas de fogo, e eu vendo o fogo: "Senhor, tenho medo do fogo, bate-me só com a vara".
(8) E Ele: "Não queres ser espancada, Eu vou-me embora".
(9) E desapareceu sem me dar tempo para lhe pedir que me batesse como a Ele lhe agradasse.
Oh! como fiquei pensativa e aflita, mas Ele que é tão bom me perdoará.

9-15
Outubro 4, 1909
O pensamento de si mesmo deve ser interrompido para fazer o que Jesus faz.

(1) Continuando meu estado de aflição e de perda de meu bendito Jesus, estava segundo meu costume toda ocupada em meu interior nas horas da Paixão, justo na hora em que Jesus carrega o pesado madeiro da cruz. Todo mundo me estava presente: Presente, passado e futuro, minha fantasia parecia ver todas as culpas de todas as gerações que pressionavam e quase esmagavam o benigno Jesus, assim que a cruz não era outra coisa que uma folha de palha, uma sombra de peso em comparação com o peso de todos os pecados; eu tentei me estreitar a Jesus e dizia:
"Olha minha vida, meu bem, estou eu em nome de todos eles. Vês quantas ondas de blasfêmias?
E eu, para te reparar, te abençoo por todos. Vês quantas ondas de amargura, de ódios, de desprezos, de ingratidão, de pouquíssimo amor? E eu quero adoçar-te por todos, amar-te por todos, agradecer-te, adorar-te, honrar-te por todos, mas os meus reparos são frios, mesquinhos, finitos; tu que és o ofendido és Infinito, por isso também os meus reparos, meu amor, quero torná-los infinitos, e para torná-los infinitos, imensos, intermináveis, me uno a Ti, com tua mesma Divindade, e mais, junto com o Pai e com o Espírito Santo e te bendigo com vossas bênçãos, te amo com vosso amor, te adoço com vossas mesmas doçuras, te honro, te adoro como fazeis entre as Divinas Pessoas". Mas quem pode dizer todos os desatinos que dizia? Não terminaria jamais se quisesse dizer tudo. Quando me encontro nas horas da Paixão, sinto que, juntamente com Jesus, também eu abracei a imensidão do seu agir, e por todos e por cada um glorifico a Deus, reparo, impetro por todos, e por isso é-me difícil dizer tudo. Então, enquanto fazia isso, o pensamento me disse: "Pensas nos pecados dos outros, e os teus? Pensa em ti, repara por ti". Por isso tentei pensar nos meus males, nas minhas grandes misérias, nas privações de Jesus, que são causa dos meus pecados, e distraindo-me das coisas habituais do meu interior chorava a minha grande desventura. Enquanto eu estava nisto, meu sempre amável Jesus se moveu em meu interior, e com voz sensível me disse.
(2) "Queres tu julgar-te? O obrar do teu interior não é teu, senão meu, tu não fazes outra coisa que seguir-me, o resto faço tudo por Mim. O pensamento de ti mesma deve ser tirado, não deves fazer outra coisa senão o que quero Eu, e Eu pensarei em teus males e em teus bens. Quem pode fazer-te melhor, tu ou eu?"

(3) E mostrava que se desgostava. Então pus-me a segui-lo, mas pouco depois, chegando a outro ponto do caminho do calvário, no qual mais do que nunca me internava nas diversas intenções de Jesus, o pensamento me disse: "Não só deves tirar o pensamento de santificar-te, mas também o de salvar-te, não vês que por ti mesma não és boa para nada? Em que te aproveitará fazer pelos demais?" Eu, dirigindo-me a Jesus, disse-lhe: "Meu Jesus, o teu sangue não é para mim, as tuas dores, a tua cruz? Tenho sido tão má que tendo pisado sob meus pés com minhas culpas, Tu talvez as tenhas esgotado para mim, ah, perdoa-me, mas se não queres perdoar-me deixa teu Querer e estarei contente, tua Vontade é tudo para mim; fiquei só sem Ti, e só Tu podes conhecer a perda que tive, não tenho ninguém, as criaturas sem Ti me aborrecem, sinto-me nesta prisão do meu corpo como escrava em correntes; pelo menos por piedade não me tires o teu Santo Querer".
E enquanto eu pensava isso eu me distraí de novo de meu interior, e Jesus me fez ouvir sua voz, alta, forte e imponente que dizia:
(4) "Não queres terminar com isso? Queres tu estragar a minha obra em ti?"
(5) E não sei, mas como se tivesse posto silêncio em minha mente tratei de segui-lo e de terminar com esses pensamentos.

10-21
Maio 19, 1911

A confiança arrebata Jesus. Ele quer que a alma se esqueça de si mesma e se ocupe só d’Ele.

(1) Continuando meu habitual estado, meu sempre amável Jesus se fazia ver todo aflito, e eu estava junto a Ele para compadecê-lo, amá-lo, abraçá-lo e consolá-lo com toda a plenitude da confiança, e meu doce Jesus me disse:
(2) "Minha filha, tu és o meu contentamento, assim me agrada, que a alma se esqueça de si mesma, de suas misérias, que se ocupe só de Mim, de minhas aflições, de minhas amarguras, de meu amor, e que com toda confiança se esteja junto a Mim. Esta confiança me arrebata o coração e me inunda de muita alegria, porque como a alma se esquece de si por Mim, assim Eu esqueço tudo por ela e a faço uma só coisa para Mim, e chego não só a dar-lhe, mas a fazer-lhe tomar o que quer. Ao contrário a alma que não esquece tudo por Mim, mesmo suas misérias e se quer estar ao redor de Mim com todo respeito, com temor e sem a confiança que me arrebata o coração, e como se quisesse estar com temerosa compostura Comigo e toda reservada, a este tal nada lhe dou e nada pode tomar, porque falta a chave da confiança, da liberdade, da simplicidade, coisas todas necessárias, para Mim para dar, e para ela para tomar; portanto, com as misérias vem e com as misérias fica".

11-18
Maio 9,1912

Como nos podemos consumir no amor.

(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, estava pensando como podemos nos consumar no amor, e o bendito Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, se a vontade não quer outra coisa que a Mim só, se a inteligência não se ocupa de outra coisa que de me conhecer a Mim, se a memória não se recorda de outra coisa senão só
de Mim, aqui consumadas as três potências da alma no amor." Assim também dos sentidos: Se fala só de Mim, se escuta só o que se refere a Mim, se se gostam somente das coisas minhas,
se se obra e se caminha só por Mim, se o coração me ama só a Mim, se os desejos me desejam só a Mim, eis a consumação do amor formada nos sentidos. Minha filha, o amor tem um doce
encanto quem ama, qualquer coisa que a vontade encontra, se é amor, se torna toda olho, se não, se volta cega, tola e não compreende nada; assim a língua, se deve falar de amor sente-se correr em sua palavra tantos olhos de luz e se faz eloquente, se não, torna-se balbuciante e termina por emudecer; e assim de todo o resto".

11-19
Maio 22,1912

O verdadeiro amor não está sujeito a descontentamento.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, brevemente veio o bendito Jesus, e sentindo em mim um certo descontentamento me disse:
(2) "Minha filha, o verdadeiro amor não está sujeito a descontentamentos, mas sim, dos mesmos descontentamentos toma ocasião para mudá-los nos mais belos contentamentos por virtude do
amor, muito mais, que sendo Eu o contente dos contentes, não posso tolerar algum descontentamento na alma que me ama, pois sentindo Eu seu descontentamento como se fosse mais meu que seu, sou obrigado a dar-lhe a coisa que a faz feliz para tê-la toda uniforme a Mim, de outra maneira haveria algumas fibras, batimentos, pensamentos discordantes, dessemelhantes, que fariam com que se perdesse o mais belo de nossa harmonia, e Eu não posso tolerar tudo isto em quem verdadeiramente me ama. Além disso, o verdadeiro amor por amor obra e por amor não obra, por amor pede e por amor cede, assim que o verdadeiro amor faz terminar tudo no amor, por amor morre e por amor ressurge".
(3) E eu: "Jesus, parece que queres evitar-me com este falar, mas deves saber que eu não cedo; por agora por amor cede Tu a mim, faz-me um ato de amor e cede ao que me é tão necessário e que a tanto estou obrigada, do resto cedo tudo diante de Ti, de outra maneira ficaria descontente".
(4) E Jesus: "Queres vencer por caminhos de descontentamentos".
(5) Sorriu e desapareceu.

 
16. A Anunciação.

8 de março de 1944.
1Vejo o seguinte: Maria, ainda muito jovem, com a aparência no máximo de uns quinze anos, está num pequeno quarto retangular. Um quarto de menina. A frente de uma das duas paredes mais longas, há o catre: uma cama baixa, sem beiral, coberta com altas esteiras ou tapetes. Dir-se-ia que eles estão estendidos, ou sobre uma mesa, ou sobre uma esteira de caniços, pois estão muito rígidos e retos, como acontece com as nossas camas.

Em frente de outra parede, há uma estante com uma lâmpada de azeite, rolos de pergaminho, um trabalho de costura dobrado com cuidado, parecendo ser um bordado.

A virgem está sentada num banco, ao lado da estante, perto da porta, que embora esteja aberta para o jardim, está velada por uma cortina em movimento pela brisa. Está fiando um linho muito alvo, e macio como uma seda. Suas pequenas mãos, pouco mais escuras do que o linho, volteiam com grande agilidade o fuso. Seu rosto juvenil e belo está levemente inclinado, ligeiramente sorridente, como se estivesse acariciando ou acompanhando um doce pensamento.

Há muito silêncio na casinha e no jardim. Há muita paz, tanto no semblante de Maria, como no ambiente que a rodeia. Paz e ordem. Tudo muito bonito e em ordem, e o ambiente, ainda que humilde no aspecto e nos móveis, embora parecendo despojado de tudo como uma cela, tem um ar de austeridade e realeza, pela grande nitidez e cuidado com que a colcha está colocada sobre a pequena cama, como estão dispostos os rolos de pergaminho, a lâmpada, a pequena jarra de cobre perto da lâmpada, com um maço de ramos floridos, de pessegueiro ou pereira, pois, certamente, são árvores que produzem um fruto branco, levemente rosado.

Maria se põe a cantar em voz baixa e depois eleva um pouco a voz. Não chega a cantar alto. Mas sua voz que começa a vibrar o pequeno quarto, traduz uma vibração de alma. Não compreendo as palavras que ela está dizendo, certamente em hebraico. Mas, como ela repete saltiadamente “Jeová”, eu percebo que se trata de um canto sagrado, como um salmo.

Parece que Maria está relembrando os cantos do Templo. Deve estar sendo uma doce recordação, porque ela pousa as mãos que estão segurando o fio e o fuso sobre o regaço, levantando a cabeça, apoiando-a para trás na parede, com um belo enrubescimento no rosto, um olhar perdido, talvez atrás de algum suave pensamento. Seus olhos se tornam brilhantes por uma onda de pranto, que não chega a se derramar, mas os deixa maiores. Contudo aqueles olhos estão sorrindo, com o pensamento da visão, que os abstraem das coisas sensíveis. Seu rosto sobressai, das suas vestes brancas e tão simples,  pois está tão rosado, que, rodeado pelas tranças, como coroa ao redor da cabeça, mais parece uma bela flor.

O canto de Maria se transforma em oração:
– Senhor Deus Altíssimo, não tardes a mandar o teu Servo, que venha trazer a paz sobre a terra. Faz chegar o tempo e a virgem pura e fecunda, para a vinda do teu Cristo.
Pai Santo, concede à tua serva que possa oferecer a sua vida para que isso aconteça sobre a terra, concede-me morrer, depois de ter visto a Tua luz e a Tua justiça sobre a terra, sabendo que a Redenção já se cumpriu. Ó Pai Santo, manda à terra o suspiro dos profetas. Manda a esta tua serva o Redentor. Que no dia em que cessar a minha vida, se abra para mim a tua morada, porque, as portas do céu já terão sido abertas pelo teu Cristo, para todos aqueles que em Ti esperaram. Vem, ó Espírito do Senhor! Vem aos teus fiéis, que te esperam! Vem, Príncipe da Paz!…- Maria fica assim absorta…

A cortina tremula mais fortemente, como se alguém estivesse agitando o ar com alguma coisa por detrás dela, ou a estivesse sacudindo, a fim de afastá-la para um lado. Uma luz branca, como se fosse de pérola fundida com prata pura, torna as paredes, que são de um amarelo claro, brancas, as cores das roupas e tecidos mais vivas e o rosto de Maria, agora soerguido, mais espiritual. O Arcanjo se prostra diante daquela luz, sem que a cortina tenha sido afastada, frente ao mistério que está acontecendo, pois a cortina não está mais tremulando, mas está bem esticada, ao lado dos umbrais, como uma parede separando o interior da casa, da parte exterior.

Ele assumiu necessariamente o aspecto humano. Mas é um aspecto que ultrapassa os limites da natureza humana. De que carne estará feita esta figura tão bela e tão fulgurante? Com que substância Deus a terá materializado, para que os sentidos da Virgem a percebessem? Só mesmo Deus pode possuir essas substâncias, e usá-las de uma maneira tão perfeita. Possui rosto, corpo, olhos, boca, cabelos e mãos, como as nossas. Mas não são feitos de uma matéria opaca como a do nosso corpo. É uma luz que assumiu cor de carne, de olhos, de cabelos, de lábios; uma luz que se move, sorri, enxerga e fala.

– Ave, Maria, cheia de Graça, ave! -. Sua voz é como um doce arpejo, como pérolas jogadas sobre um metal precioso.
Maria estremece, abaixando o olhar. Estremece mais ainda, quando vê aquela fulgurante criatura ajoelhada a cerca de um metro de distância dela, olhando para ela com uma veneração sem limites, com as mãos cruzadas sobre o peito.
Maria se põe de pé, encostando-se à parede. Ela se torna, ora pálida, ora vermelha. Seu rosto exprime estupor e susto. Instintivamente une as mãos sobre o seio, escondendo-as nas longas mangas, e se inclina quase que para esconder, do melhor modo possível, o seu corpo. É um ato de delicado pudor.

– Não tenhas medo… O Senhor está contigo. Bendita és tu entre todas as mulheres.
Maria, porém, continua com medo. De onde terá vindo esse ser extraordinário? Será ele um enviado de Deus, ou do enganador?

– Não tenhas medo, Maria! – lhe repete o Arcanjo – Eu sou Gabriel, o Anjo de Deus. Meu Senhor me mandou a ti. Não tenhas medo, porque achaste graça junto de Deus. Eis que agora conceberás em teu ventre, e darás à luz um Filho, e lhe porás o nome de “Jesus”. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo (como de fato é). O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai. Ele reinará para sempre na casa de Jacó e o seu Reino nunca terá fim. Procura compreender, ó santa virgem
amada do Senhor, filha bendita do Senhor, que foste chamada para ser mãe de seu Filho, o Qual tu gerarás.

– Como poderá acontecer isso, se eu não conheço varão? Talvez o Senhor Deus não quer mais receber a oferta de sua serva, de ficar virgem por amor Dele?
– Não serás mãe por obra de homem, ó Maria. Tu és a virgem eterna, a santa de Deus. O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com Sua sombra. Por isso, Aquele que nascer de ti, se chamará Santo, Filho de Deus. Tudo pode o Senhor nosso Deus. Isabel, a estéril, concebeu em sua velhice aquele que será o profeta do teu Filho, ele preparará o caminho para teu Filho. O Senhor tirou de Isabel o seu opróbrio, e os povos lembrarão dela, unida ao teu nome, como também o nome do filho dela ficará unido ao do teu, até o fim dos séculos. As nações vos chamarão bem-aventuradas, pela Graça do Senhor que veio a vós, e especialmente a ti, pois esta Graça chegou a todos os povos por meio de ti. Isabel já está em seu sexto mês, e o peso que ela carrega, a soergue até à alegria. Nada é impossível para Deus, Maria, cheia de Graça. O que devo ir dizer ao meu Senhor? Nenhuma dificuldade deverá perturbar-te. O Senhor defenderá os teus interesses, se
confiares Nele. O mundo, o Céu, o Eterno estão esperando pela tua palavra!

Maria, por sua vez, cruzando as mãos sobre o peito, e fazendo uma profunda inclinação, diz:
– Eis aqui a serva de Deus. Faça-se de mim conforme a sua palavra.
O Anjo cintila de alegria. Ele adora, porque certamente está vendo o Espírito de Deus descer sobre a virgem, que está inclinada ao dar sua resposta de assentimento, e depois desaparece, sem precisar mover a cortina, que fica bem estendida sobre o mistério santo.


Semelhanças entre a anunciação da concepção de Maria e a de Cristo

183. Nesta oração e colóquios estava ocupada Sant'Ana, depois das inteligências que recebera sobre este inefável mistério. Conferia suas reflexões com o seu anjo da guarda que, muitas vezes por esse tempo, se lhe manifestou com mais clareza.
Dispôs o Altíssimo que á embaixada da concepção de sua Mãe Santíssima, fosse de algum modo semelhante a que mandaria mais tarde para sua inefável Encarnação.
Sant'Ana estava meditando, com humilde fervor, naquela que deveria ser a mãe da Mãe do Verbo encarnado, e a Virgem Santíssima fazia os mesmos atos para a que havia de ser Mãe de Deus, como em seu lugar direi. As duas embaixadas foram desempenhadas pelo mesmo anjo, em forma humana, ainda que com mais bela e misteriosa figura à Virgem Maria.

Mensagem de São Gabriel à Sant'Ana

184. Mais formoso e refulgente que o sol, entrou o santo arcanjo Gabriel à presença de Sant'Ana e disse-lhe: - Ana, serva do Altíssimo, sou anjo do conselho de sua Alteza, enviado das alturas por sua divina dignação que olha aos humildes na terra (SI 137,6). Boa é a oração incessante e a confiança humilde. O Senhor ouviu tuas súplicas, porque está perto (SI 144, 18) dos que o chamam com viva fé e esperança, aguardando com resignação serem atendidos.
Se adia o cumprimento de seus clamores, e se tarda em conceder as petições dos justos, é para melhor prepará-los e obrigar-se a lhes dar muito mais do que pedem e desejam. A oração e a esmola abrem os tesouros do Rei onipotente (Tb 11,8-9) e o inclinam a ser rico em misericórdias com os que o rogam.
Tu e Joaquim pedistes descendência e o Altíssimo determinou dar-vos admirável e santa, e por ela enriquecer-vos de dons celestiais, concedendo-vos muito mais do que Lhe pedistes. Porque vos humilhastes em pedir, o Senhor quer glorificar-se atendendo vossas súplicas. A criatura lhe é muito agradável quando roga humilde e confiante, não limitando seu poder infinito.
Persevera na oração e pede sem cessar a salvação da linhagem humana, para inclinar o Altíssimo. Moisés, com oração contínua, alcançou vitória do povo (Êx 17,11). Ester com oração e confiança obteve libertação da morte (Est 4, 11).
Judite pela mesma oração foi destemida em ação tão difícil (Jd 9,1; 13,6) como a que executou para defender Israel, apesar de ser débil mulher. Davi (IRs 17, 45) saiu vitorioso contra Golias, porque orou invocando o nome do Senhor (3Rs 18, 36).
Elias obteve fogo do céu para seu sacrifício, e com a oração abria e fechava os céus.
- A humildade, a fé e as esmolas de Joaquim e as tuas chegaram ao trono do Altíssimo, e Ele enviou-me, seu anjo, para te dar alegres notícias para teu espírito.
Quer sua Alteza que sejas ditosa e bem aventurada e escolhe-te para mãe daquela que há de conceber e dar à luz o Unigênito do Pai. Terás uma filha que por divina ordenação se chamará Maria. Será bendita entre as mulheres, cheia do Espírito Santo (3Rs 18, 44), a nuvem que derramará o rocio do céu para refrigério dos mortais, e nela se cumprirão as profecias de vossos antigos pais. Será a porta da vida e a salvação dos filhos de Adão.
- Adverte que, revelando a Joaquim que terá uma filha ditosa e bendita, o Senhor reservou o mistério, não lhe manifestando que será Mãe do Messias. Por isto deves guardar este segredo. Irás logo ao templo dar graças ao Altíssimo por que tão liberalmente te favoreceu com sua poderosa destra, e na porta Áurea encontrarás Joaquim com quem conferirás estas mensagens.
- A ti, bendita do Senhor, quer sua grandeza ainda visitar e enriquecer com seus mais singulares favores. Na soledade te falará ao coração (Os 2,14) e dará origem à lei da graça, formando em teu seio àquela que há de vestir de carne mortal ao imortal Senhor, dando-lhe forma humana. Com o sangue desta humanidade unida ao Verbo, será escrita a verdadeira lei de misericórdia (Hb9,ll).

Alegria de São Joaquim e Sant'Ana

185. Para que o humilde coração de Sant*Ana não desfalecesse com a admiração e júbilo produzidos por esta embaixada do santo anjo, foi confortada pelo Espírito Santo. Assim, a ouviu e recebeu com grandeza de ânimo e incomparável alegria.
Dirigiu-se logo ao templo de Jerusalém onde encontrou S. Joaquim, como o anjo havia dito. Juntos deram graças ao Autor desta maravilha, oferecendo especiais dons e sacrifícios.
Novamente iluminados pela graça do divino Espírito, e cheios de consolação divina, voltaram para casa. Iam falando sobre os favores que haviam recebido do Altíssimo e como o santo arcanjo
Gabriel se comunicara com cada um em particular, prometendo-lhes da parte do Senhor uma filha que seria muito ditosa e bem-aventurada.

Nesta ocasião revelaram um ao outro como antes de tomarem estado de matrimônio, o mesmo santo anjo por ordem de Deus lhes mandara que se unissem e juntos servissem a Deus. Haviam guardado este segredo durante vinte anos, sem o revelar mutuamente, até que o mesmo anjo lhes prometeu o nascimento da filha.
Fizeram novamente voto de oferecê-la ao templo, e que todos os anos naquele dia, ali iriam passá-lo em louvores e ações de graças, oferecendo especiais sacrifícios e esmolas. Assim o cumpriram depois, com grandes cânticos de louvores ao Altíssimo.

186. Nunca revelou a prudente matrona, quer a São Joaquim, quer a qualquer outra criatura, que sua filha seria a Mãe do Messias. Durante toda a sua vida, o santo progenitor soube apenas que ela seria grande e misteriosa mulher. Nos últimos instantes antes de sua morte, porém, o Altíssimo lho revelou, como direi em seu lugar.

Grande inteligência me foi dada sobre as virtudes e santidade dos pais da Rainha do céu. A fim de chegar ao assunto principal não me demoro mais em falar sobre o que todos os fiéis devem supor.

Revelação a Sant'Ana

187. Depois da primeira concepção do corpo da Mãe da graça, e antes de criar sua alma santíssima, Deus concedeu singular favor a SantAna. Por modo altíssimo e intelectual, teve uma visão de Sua Majestade, dele recebendo grandes inteligências e graças, para prepará-la com graças especiais (SI 20, 4). Purificou-a, espiritualizou-a e elevou sua alma e espírito de tal modo que, desde aquele dia, nenhuma coisa humana a impediu de permanecer na presença de Deus com todo o afeto de sua mente e vontade.
Disse-lhe o Senhor nesta ocasião:
- Ana, minha serva, Eu sou o Deus de Abraão, Isaac e Jacó; esteja contigo minha luz e bênção eterna. Criei o homem para elevá-lo do pó e fazê-lo herdeiro de minha glória e participante de minha divindade.
Ainda que nele coloquei muitos dons, dando-lhe lugar e estado muito perfeito, ele tudo perdeu por dar ouvidos à serpente.
Só por minha vontade, esquecendo sua ingratidão quero reparar seus males, cumprir o que a meus servos e profetas prometi, e enviar-lhes meu unigênito e seu Redentor.
Os céus estão fechados, os antigos pais aprisionados, impedidos de ver a minha face e gozar o prêmio de minha eterna glória. Deste modo, a propensão de minha infinita bondade está como coagida por não se comunicar ao gênero humano.
Quero já usar com ele de minha liberal misericórdia, e dar-lhe a pessoa do eterno Verbo para fazer-se homem, nascendo de mulher que seja mãe e virgem imaculada, pura, bendita e santa sobre todas as criaturas.
Desta minha eleita (Ct 6,8) e única faço-te mãe.

Resposta de SantAna

188. Os efeitos que estas palavras produziram no cândido coração de SantAna, não os posso facilmente explicar.
Foi a primeira dos mortais a quem se revelou o mistério de que sua filha santíssima seria Mãe de Deus, e de seu seio nasceria a eleita para realizar o maior mistério do poder divino. Convinha que assim ela o conhecesse, pois a haveria de dar à luz e criar, e deveria saber estimar o tesouro que possuía.
Ouviu com profunda humildade a voz do Altíssimo, e com submisso coração respondeu:
- Senhor, Deus eterno, é próprio de vossa imensa bondade, e obra de vosso poderoso braço elevar do pó a quem é pobre e desprezado (SI 112,7). Reconheço-me, altíssimo Senhor, indigna de tais misericórdias e benefícios. Que fará este vil bichinho em vossa presença? Somente posso oferecer, em agradecimento, vosso mesmo ser e grandeza, e em sacrifício, minha alma e potências.
Disponde de mim, Senhor, à vossa vontade, pois a ela me entrego inteiramente. Eu quisera ser tão dignamente vossa, como exige esta graça;
mas que farei, pois não mereço ser escrava daquela que será Mãe de vosso Unigênito e minha filha? Assim o reconheço e confessarei sempre. Entretanto, aos pés de vossa grandeza, espero que useis comigo de vossa misericórdia, pois sois Pai piedoso e Deus onipotente.
Tornai-me, Senhor, como me desejais, de acordo com a dignidade que me dais.
189. Esta visão foi recebida por Sant*Ana num maravilhoso êxtase, no qual lhe foram concedidas altíssimas inteligências das leis natural, escrita e evangélica. Conheceu como a divina natureza do Verbo eterno se uniria à nossa, e como a humanidade santíssima seria elevada ao ser de Deus, e outros muitos mistérios dos que seriam realizados na encarnação do Verbo divino. Com
estas ilustrações e outros divinos dons de graça, o Altíssimo a preparou para a concepção e a criação da alma de sua filha santíssima e Mãe de Deus.

CAPÍTULO 14
O ALTÍSSIMO REVELOU AOS SANTOS ANJOS O TEMPO DETERMINADO PARA A CONCEPÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA. OS QUE NOMEOU PARA SEUS CUSTÓDIOS.

Tudo foi feito para a glória de Deus
190. No tribunal da divina vontade, princípio necessário e causa universal de tudo o que existe, decretam-se e determinam-se todas as coisas que hão de ser, com suas condições e circunstâncias, sem nada ser esquecido. Depois de estar tudo determinado, nenhum poder criado o poderá impedir. Todos os orbes e seus moradores dependem deste inefável governo, que a todos açode em colaboração com as causas naturais, sem jamais haver faltado nem poder faltar o mínimo necessário.
Tudo foi feito por Deus que o sustentará só por seu querer, e dele depende conservar a existência que deu a todas as coisas, ou aniquilá-las devolvendo-as ao nada de onde as tirou.
Todavia, como tudo criou para glória sua e do Verbo humanado, desde o princípio da criação foi dispondo os caminhos a abrindo as sendas por onde o mesmo Verbo descesse a tomar carne humana.
Viria conviver com os homens e ser o caminho para eles subirem a Deus, procurando-o, conhecendo-o, temendo-o, servindo-o, amando-o, para depois louvá-lo e gozá-lo eternamente.

Criação de Maria

191. Admirável tem sido seu nome em toda a terra (SI 8,11) e enaltecido na plenitude e congregação dos santos, com os quais organizou um povo digno, do qual o Verbo fosse cabeça.
Quando tudo estava na última e conveniente disposição que sua providencia quis estabelecer, chegou o tempo marcado para criar a maravilhosa mulher vestida de sol (Ap 12,1), aparecida no céu e que alegraria e enriqueceria a terra. Para formá-la decretou a Santíssima Trindade o que entendi e manifestarei com minhas curtas razões e pobres conceitos.

Maria, tipo da humanidade idealizada por Deus

192. Ficou dito acima que para Deus não há passado nem futuro, porque tudo vê presente em sua mente infinita, e tudo conhece com um ato simplicíssimo.
Transpondo-o, porém, aos nossos termos e modo de entender, dizemos que Ele reconsiderou os decretos que fizera para criar digna Mãe à altura da encarnação do Verbo, porquanto o cumprimento de seus decretos é infalível.
Chegando o tempo oportuno e determinado, as três pessoas divinas disseram em si mesmas: Já é tempo que comecemos a obra de nosso beneplácito, e criemos aquela pura criatura, que achará graça a nossos olhos acima de todas as outras. Dotemo-la com ricos dons e somente nela depositemos os maiores tesouros de nossa graça.
- Todas as outras por nós criadas tomaram-se ingratas e rebeldes à nossa vontade opondo-se, por sua culpa, à nossa intenção de que se conservassem no inicial e feliz estado em que criamos os primeiros homens. Não sendo conveniente que nossa vontade falhe em coisa alguma, formemos em toda santidade e perfeição esta criatura, na qual não tenha parte a desordem do primeiro pecado.
- Criemos uma alma segundo nossos desejos, fruto de nossas perfeições, prodígio de nosso infinito poder, sem ser ofendida nem tocada pela mácula do pecado de Adão. Façamos uma obra que seja objeto de nossa onipotência, amostra da perfeição que destinávamos a nossos filhos, e o alvo que pretendíamos atingir na criação.
- Visto todos haverem prevaricado na livre vontade do primeiro homem (Rm 5,12), nesta única criatura restauremos e concedamos o que, desviando-se de nosso querer, eles perderam. Seja imagem e semelhança unicamente de nossa Divindade e permaneça em nossa presença por toda a eternidade, para a plenitude de nosso beneplácito e agrado.
- Nela depositaremos todas as prerrogativas e graças que, em nossa primeira e condicional vontade, tínhamos destinado para os anjos e homens, se se tivessem conservado no primeiro estado.
Se eles as perderam, renovemo-las nesta criatura acrescentando a estes dons outros muitos. Assim não ficará sem efeito o decreto que havíamos estabelecido, mas será cumprido com vantagem em nossa única eleita (Ct 6,8).
- Já que tínhamos destinado o mais santo, o melhor, o mais perfeito e louvável para as criaturas e elas o perderam, dirijamos o caudal de nossa bondade para nossa amada. Separemo-la da lei ordinária da formação de todos os mortais, para que nela não tenha parte a semente do inimigo. Quero descer do céu a seu seio e nele, com sua substância, vestir-me da natureza humana.


Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-70

Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-71

A AMADA GRUTA

Tendo permanecido por pouco tempo na gruta de Belém, fiz minha dileta Mãe entender que devia partir e retornar a Nazaré, sua pátria, sendo tal a vontade de meu Pai. Manifestou-o a seu esposo José e prepararam-se para a partida. Muito, me alegrava, como também minha dileta Mãe, de estar na gruta, e lá ficaria todo o tempo de minha hibernal (inverno). Andávamos todos os três de modo humilde, mas com o rosto alegre, fazendo a Vontade do Pai, ao qual oferecia-lhe todo meu sofrimento e  minha humildade, contentando-me com ir no máximo num vil jumento, em suplência por meus irmãos, que viajam com todas as comodidades e parece não saberem dar um passo senão levados com fausto e pompa, sem que nada lhes falte, nada querendo sofrer por meu amor; e aqueles que o sofrem, fazem-no obrigados pela pobreza e não tanto por amor de mim. Oh, quanto mérito perdem alguns que vão visitar os santuários com todo o conforto, quase como se tivessem de viajar de um mundo a outro. Uma multidão de anjos acompanhava-nos nesta viagem. Igualmente um bando de pássaros vinha cantar melodias a seu Criador humanado. Pensava naquele tempo em tantos irmãos que teriam andado errantes à procura de algum socorro, de cidade em cidade, mendigando o pão. Quanta compaixão sentia por seus padecimentos! Eu os via a todos, um a um, e rogava ao Pai quisesse socorrê-los, e fazê-los encontrar ao menos o necessário, inspirando ao coração dos possuidores de bens que lhes dessem fartas esmolas. Na verdade, não há quem não seja provido pela divina beneficência, embora muitos não a mereçam por sua própria indignidade. No entanto, o Pai provê a todos, tendo-me prometido distribuir a cada um, embora indigno, quanto for necessário para a própria manutenção. Como estas providências empenham as criaturas! Mas elas, ingratas, nem ao menos agradecem ao Pai tanta bondade. Eu, contudo, suplicava e simultaneamente agradecia ao Pai por elas, uma vez que vivia no mundo para resgate do gênero humano e para suprir suas deficiências e dar ao Pai a glória e amor que elas lhe negam pela ingratidão e o desamor.

REPOUSO NOTURNO NO CAMINHO E DESCANSO.

Foram muitas as tribulações desta viagem. À noite, encontrando algum lugar conveniente, repousávamos no campo, onde o manto de José servia na maioria das vezes de teto e ali debaixo se punham de joelhos a querida Mãe com seu esposo. Olhavam o meu rosto, onde descobriam um raio da divindade que ali estava escondida, mas que eu lhes manifestava, a fim de que se consolassem e confortassem em tempo de tantos sofrimentos. Só esta visão tornava-os cheios de todas as consolações que podiam desejar. Eu só estava aflito entre tantos sofrimentos, não querendo na maioria das vezes, admitir consolação alguma. No entanto, estava com fisionomia jovial e majestosa, de modo que apresentava muito mais de divino do que de humano para consolar os aflitos peregrinos. Orava ao Pai se dignasse dar consolo a todas as almas necessitadas e aflitas por meu amor, a fim de que um raio da divina graça, ilustrasse-lhes a mente de modo tal que chegassem a conhecer como em seus corações habitava o seu Deus e que, percebendo-o verdadeiramente por amor, crendo nele pela fé e experimentando-o pela doçura, viessem a ser consolados e confortados por sua graça e presença. Havendo-se detido um tanto, pois, a querida Mãe e José, a contemplar meu rosto e fruir de minha presença tão amável, refaziam-se com um bocado de pão e água, depois do que davam graças ao Pai e a mim, e com novos cânticos louvavam a divina bondade. Os anjos acompanhavam os seus cânticos, bendizendo também eles o seu Criador. E eu, tudo oferecia ao Pai, no que se comprazia mais do que em todos esses louvores. Depois dava-me a dileta Mãe o seu puríssimo leite, que tomava com tanto gosto, tendo grande necessidade dele para sustentar a minha humanidade até a hora que chegasse a hora de pregar ao público.

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Tomo 1 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo-73

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12-18
Agosto 14, 1917

Jesus não fazia outra coisa que dar-se em poder da Vontade do Pai. Exemplo da Santidade de viver no Divino Querer.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, meu doce Jesus, depressa veio e me disse:
(2) "Minha filha, Eu não fazia outra coisa senão dar-me em poder da Vontade do Pai, se pensava, pensava na mente do Pai; se falava, falava na boca e com a língua do Pai; se operava, operava nas mãos do Pai; também o respiro respirava nele, e tudo o que fazia ia ordenado como Ele queria. Assim eu podia dizer que minha Vida a desenvolvia no Pai, e Eu era o portador do Pai, porque tudo encerrei em seu Querer e nada fazia por Mim, meu ponto principal era a Vontade do Pai, porque Eu não punha atenção a Mim mesmo, nem pelas ofensas que me faziam interrompia meu curso, senão que sempre voava mais a meu centro, e minha Vida natural terminou quando em tudo cumpri a Vontade do Pai. Assim, tu filha minha, se te deres em poder de minha Vontade, não terás mais pensamento de nada, minha mesma privação que tanto te atormenta e te consome, correndo em minha Vontade encontrará o sustento, meus beijos escondidos, minha Vida em ti vestida de ti, em tua mesma batida de coração sentirás o meu, ardente e dolorido, e se não me vês, sentes-me, meus braços te estreitam, e quantas vezes não sentes meu movimento, meu alento refrescante que acalma teus ardores? Você sente tudo isto, e quando faz por ver quem te estreitou, quem te deu seu alento, e não me vê, Eu te sorrio e te beijo com os beijos de meu Querer e me escondo mais em você, para te surpreender de novo e para te dar um avanço de mais em minha Vontade. Por isso não me amargures com afligir-te, senão deixa-
me fazer, o voo do meu Querer não se detenha jamais em ti, de outra maneira impedirias a minha Vida em ti, enquanto com o viver do meu Querer, Eu não encontro impedimento e faço crescer e desenvolver a minha Vida como quero".
(3) Agora, para obedecer quero dizer duas palavras acerca da diferença do viver resignado à Divina Vontade, e o viver no Divino Querer:
(4) Primeiro, viver resignado segundo meu pobre parecer, significa resignar-se em tudo à Vontade Divina, tanto nas coisas prósperas como nas adversas, olhando em todas as coisas à Divina Vontade, a ordem das disposições divinas que tem sobre todas as criaturas, e que nem sequer um cabelo pode cair de nossa cabeça se o Senhor não o quer. Parece-me que é como um bom filho que vai aonde quer o pai, sofre o que quer o pai; rico ou pobre lhe é indiferente, porque está contente só de ser o que o pai quer; se recebe ou pede ordens de ir a alguma parte para o desempenho de alguma empresa, ele vai somente porque o quis o pai, mas enquanto dura o tempo de estar longe deve tomar um descanso, deter-se para descansar, tomar o alimento, tratar com pessoas, portanto deve pôr muito de seu querer apesar de que vai porque o quis o pai, mas em tantas coisas se encontra na ocasião de fazer por si mesmo, portanto pode estar os dias, os meses, longe do pai, sem estar em todas as coisas especificada a vontade do pai. Assim, a quem vive resignado ao Divino Querer é quase impossível não misturar sua vontade no que faz, será um bom filho, mas não terá em todos os pensamentos, as palavras, a vida do pai retratada de todo nele, porque devendo ir, voltar, seguir, tratar com outros, o amor fica quebrado, porque só a união contínua faz crescer o amor, e jamais se rompe, e a corrente da vontade do pai não está em comunicação contínua com a corrente da vontade do filho, e naqueles intervalos o filho pode habituar-se a fazer a própria vontade; no entanto, eu acho que é o primeiro passo para a santidade.
(5) Segundo, viver no Divino Querer, queria a mão de meu amável Jesus para escrevê-lo. Ah! Só Ele poderia dizer tudo o belo, o bom e o santo do viver no Divino Querer, eu sou incapaz, tenho muitos conceitos na mente mas faltam-me as palavras. Jesus meu, converte-te em minha palavra, e eu direi o que posso:
(6) Viver no Divino Querer significa inseparabilidade, não fazer nada por si mesmo, porque diante do Divino Querer se sente incapaz de tudo, não pede ordens nem as recebe, porque se sente incapaz de ir sozinho e diz: "Se queres que faça, façamos juntos, e se queres que vá, vamos juntos". Portanto, faz tudo o que o Pai faz: Se o Pai pensa, faz seus os pensamentos do Pai, e não faz nenhum a mais pensamento do que faz o Pai; se o Pai olha, se fala, se age, se caminha, se sofre, se ama, também ela olha para o que olha o Pai, repete as palavras do Pai, age com as mãos do Pai, caminha com os pés do Pai, sofre as mesmas penas do Pai e ama com o amor do Pai; vive não fora mas dentro do Pai, por isso é o reflexo e o retrato perfeito do Pai; O que não é para quem vive somente resignado. A este filho é impossível encontrar sem o Pai, nem o Pai sem ele, e não só externamente, mas todo o seu interior se vê como entrelaçado com o interior do Pai, transformado, perdido tudo, tudo em Deus. ¡Oh, os vôos rápidos e sublimes deste filho no Querer Divino! Este Querer Divino é imenso, a cada instante circula em todos, dá vida e ordena tudo, e a alma espaçando-se nesta imensidão voa para todos, ajuda a todos, ama a todos, mas como ajuda e ama o mesmo Jesus, o que não pode fazer quem vive só resignado, Assim, a quem vive no Divino Querer é impossível fazer por si só, mas bem sente náusea de seu obrar humano, ainda que seja santo, porque no Divino Querer, as coisas, ainda as menores, tomam outro aspecto, adquirem nobreza, esplendor, santidade divina, potência e beleza divinas, multiplicam-se ao infinito, e num instante faz tudo e depois que fez tudo, diz:
"Não fiz nada, fez Jesus, e este é todo meu contentamento, que miserável qual sou, Jesus me deu a honra de ter-me no Divino Querer para fazer-me fazer o que fez Ele". Assim que o inimigo não pode molestar a esta filha em se fez bem ou mal, pouco ou muito, porque tudo o fez Jesus, e ela junto com Jesus, esta é a mais pacífica, não está sujeita a ansiedades, não ama a nenhum e ama a todos, mas divinamente, pode-se dizer: "É a repetidora da Vida de Jesus, o órgão da sua voz, o bater do seu coração, o mar das suas graças".
(7) Só nisto, creio, consiste a verdadeira santidade; todas as outras coisas são sombras, larvas, espectros de santidade. No Querer Divino as virtudes tomam lugar na ordem divina; ao contrário, fora Dele, na ordem humana, estão sujeitas a estima própria, a vanglória, a paixões.
Oh! quantas boas obras e quantos sacramentos freqüentados são de chorar diante de Deus, e de reparar-se, porque estão vazios do Divino Querer, portanto sem frutos. Queira o Céu que todos compreendessem a verdadeira santidade, oh! como todas as outras coisas desapareceriam.
(8) Portanto, muitos se encontram no caminho falso da santidade, muitos a põem nas pias práticas de piedade, e ai de quem as estorve! Oh! como se enganam, se seus querer não estão unidos com Jesus, e também transformados nele, o que é contínua oração, com todas as suas pias práticas sua santidade é falsa, e se vê que estas almas passam com muita facilidade das pias práticas aos defeitos, às diversões, a semear discórdias e a tantas outras coisas. Oh, como é desonrosa esta espécie de santidade! Outros põem a santidade em ir à igreja e assistir a todas as funções, mas seu querer está distante de Jesus, e se vê que estas almas pouca atenção põem a seus próprios deveres, e se são impedidas se enfurecem, choram porque sua santidade lhes vai pelo ar, lamentam-se, desobedecem, são as chagas das famílias; oh, que falsa santidade! Outros a colocam nas confissões freqüentes, na direção detalhada, em fazer escrúpulo de tudo, mas logo não se fazem escrúpulo de que seu querer não corre junto com o Querer de Jesus, e ai de quem as contradiz! ; estas almas são como os balões inflados, que assim que lhes faz um pequeno buraco, sai o ar e sua santidade se esfuma, e caem por terra, estes pobres balões têm sempre que dizer, são facilmente levados à tristeza, vivem sempre em dúvida, e por isso queriam um diretor para eles, que em cada pequena coisa os aconselhasse, os tranquilizasse, os consolasse, mas logo estão mais agitados que antes. Pobre santidade, como é falsificada, gostaria das lágrimas de meu Jesus para chorar junto com Ele sobre estas santidades falsas e fazer conhecer a todos como a verdadeira santidade está em fazer a Divina Vontade e viver no Divino Querer, esta santidade lança as suas raízes tão profundas, que não há perigo de que oscile, porque enche Céu e terra, e onde quer que encontre o seu apoio; é firme, não sujeita a inconstâncias, a defeitos voluntários, atenta aos próprios deveres, é a mais sacrificada, desapegada de todos e de tudo, mesmo das mesmas direções, e como suas raízes são profundas, eleva-se tão alto, que as flores e os frutos florescem no Céu, e está tão escondida em Deus que a terra pouco ou nada vê desta alma; o Querer Divino a tem absorvida nele; Só Jesus é o artífice, a vida, a forma da santidade desta invejável criatura, não tem nada de seu, senão tudo é em comum com Jesus, sua paixão é o Divino Querer; sua característica é o Querer de seu Jesus, e o Fiat é seu movimento contínuo.
(9) Ao contrário, a pobre e falsa santidade dos balões está sujeita a contínuas inconstâncias, e enquanto parece que os balões de sua santidade se inflam tanto, que parecem voar pelo ar a uma certa altura, tanto que muitos e os mesmos diretores ficam admirados, mas logo se desenganam; e basta para fazer esvaziar estes balões, uma humilhação, uma preferência usada pelos diretores com qualquer outra pessoa, acreditando-lhes um roubo que lhes fazem, pois se acreditam as mais necessitadas, portanto, enquanto se fazem escrúpulo de tolices, depois chegam a desobedecer; é a inveja e a traça destes balões, que roendo-lhes o bem que fazem, vai tirando-lhes o ar e o pobre balão se esvazia e cai por terra, chegando a sujar-se de terra, e então se vê a santidade que havia no globo; E o que se encontra? Amor próprio, ressentimento, paixões escondidas sob aspecto de bem, e se tem ocasião para dizer: Fizeram-se brinquedo do demônio; assim que de toda a santidade, não se encontrou outra coisa que um amasso de defeitos, aparentemente disfarçados de virtude. Mas quem pode dizer tudo? Só Jesus conhece os males piores desta falsa santidade, desta vida devota sem fundamento, porque está apoiada sobre uma falsa piedade. Estas falsas santidades são as vidas espirituais sem fruto, estéreis, que são causa de fazer chorar, quem sabe quanto, ao meu amável Jesus; são o mal humor da sociedade, as cruzes dos mesmos diretores, das famílias. Pode-se dizer que levam junto a eles um ar maléfico que danifica a todos.
(10)  Oh, que diferente é a santidade da alma que vive no Querer Divino! Estas almas são o sorriso de Jesus, estão afastadas de todos, mesmo dos mesmos diretores, só Jesus é tudo para elas, assim que não são suplício para nenhum; o ar benéfico que possuem embalsama a todos, são a ordem e a harmonia de todos. Jesus, zeloso destas almas, faz-se ator e espectador do que fazem, nem sequer um batimento cardíaco, um respiro, um pensamento que Ele não regule e domine. Jesus as tem tão absorvidas no Divino Querer, que dificilmente podem lembrar-se que vivem no exílio.

13-16
Setembro 6, 1921

Conforme se conhecem as verdades, assim se forma nova união com Jesus. Jesus quer fazer conhecer o que fazia sua Vontade em sua Humanidade para fazer herdeiras às novas gerações de sua Vontade, dos efeitos, do valor que Ela contém.

(1) Estava eu toda no Santo Querer do meu doce Jesus, e dizia-lhe: "Meu amor, entro em teu Querer e aqui encontro todos os pensamentos de tua mente e todos os das criaturas, e eu faço coroa com meus pensamentos e com os de todos meus irmãos em torno dos teus, e depois os uno todos e faço de todos um só, para te dar a homenagem, a adoração, a glória, o amor, a
reparação de sua própria inteligência". E enquanto dizia isto, o meu Jesus mexeu-se dentro de mim e, levantando-se, disse-me:
(2) "Filha inseparável de minha Vontade, como estou contente ao ouvir repetir o que fazia minha Humanidade em minha Vontade, e Eu beijo teus pensamentos nos meus, tuas palavras nas minhas, teu batimento no meu".
(3) E enquanto dizia isto, cobria-me de beijos. Então lhe disse: "Minha vida, por que gozas tanto e fazes festa cada vez que manifestas outro efeito da tua Vontade?"
(4) E Jesus: "Tu deves saber que cada vez que te manifesto uma verdade a mais sobre a minha Vontade, é uma união a mais que formo entre tu e Eu e com toda a família humana; é uma união maior, um vínculo mais estreito, é um maior participar na minha herança, e conforme as manifesto formo a escritura da oferta de alimentos, e vendo os meus filhos mais ricos, e tomando parte na herança, sinto novos contentes e faço festa. Acontece-me a mim como a um pai, que possui muitas posses, mas estas posses não são conhecidas pelos filhos, assim que não sabem que são filhos de um pai tão rico. Agora, vindo o pai os filhos à idade mais velha, dia após dia lhes vai dizendo que possui tal e tal fazenda; os filhos ao ouvi-lo festejam e estreitam-se com um maior vínculo de amor em torno do pai; este, ao ver a festa dos filhos, faz também festa e prepara-lhes uma surpresa maior e diz-lhes: Tal província é minha, depois tal reino. Os filhos ficam encantados e não só fazem festa, mas se sentem afortunados de ser filhos de tal pai. Mas o pai não só faz conhecer suas posses aos filhos, senão que os constitui herdeiros de seus bens. Assim me sucede a Mim, até agora fiz conhecer o que fez minha humanidade, suas virtudes, suas penas, para constituir a família humana herdeira dos bens de minha Humanidade, mas agora quero ir mais além, quero fazer-lhes conhecer o que fazia minha Vontade em minha Humanidade para constituir herdeiras de minha Vontade, dos efeitos, do valor que Ela contém às novas gerações, por isso sei atenta em me escutar e não perca nada dos efeitos e do valor de minha Vontade, para que possas ser fiel relator destes bens e primeiro vínculo de união com o meu Querer e de comunicação para as demais criaturas".

14-16

20
Março 24, 1922

Quem vive na Divina Vontade, com seus atos suplantará à multiplicação da Vida Sacramental de Jesus.

(1) Continuando meu habitual estado, meu sempre amável Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, conforme a alma faz seus atos em meu Querer, assim multiplica minha Vida, de maneira que se faz dez atos em minha Vontade, dez vezes me multiplica; se faz vinte, cem, mil, ou ainda mais, tantas vezes de mais fico multiplicado. Acontece como na Consagração Sacramental, quantas hóstias põem, tantas vezes fico multiplicado, a diferença que há é que na Consagração Sacramental tenho necessidade das hóstias para me multiplicar e do sacerdote que me consagre. Em minha Vontade para ficar multiplicado, tenho necessidade dos atos da criatura, onde mais que hóstia viva, não morta como as hóstias antes de Consagrar-me, minha Vontade me consagra e me encerra no ato da criatura,e eu fico multiplicado em cada ato seu feito em minha Vontade, por isso meu amor tem seu desabafo completo com as almas que fazem minha Vontade e vivem em meu Querer, são sempre elas que suplementam não só a todos os atos que me devem as criaturas, mas a minha própria Vida Sacramental. Quantas vezes fica obstruída minha Vida Sacramental nas poucas hóstias nas quais Eu fico consagrado, porque são poucos os que comungam, outras vezes faltam sacerdotes que me consagrem, e minha Vida Sacramental não só não fica multiplicada quanto quisesse, mas fica sem existência.

¡ Oh! como sofre por isso meu amor, gostaria de multiplicar minha Vida todos os dias em tantas hóstias por quantas criaturas existem para me dar a elas, mas em vão espero, minha Vontade fica sem efeito. Mas o que decidi, tudo terá cumprimento, por isso tomo outro caminho e me multiplico em cada ato da criatura feito em meu Querer, para me fazer suprir à multiplicação das Vidas Sacramentais. Ah, sim, só as almas que vivem em meu Querer suplantarão a todas as comunhões que não recebem as criaturas, a todas as consagrações que não são feitas pelos sacerdotes; nelas encontrarei tudo, ainda a mesma multiplicação de minha Vida Sacramental. Por isso te repito que tua missão é grande, a missão mais alta, mais nobre, sublime e divina não poderia escolher-te, não há coisa que não concentrarei em ti, ainda a multiplicação da minha Vida, farei novos prodígios de graça jamais feitos até agora; por isso te peço, sê atenta, sê me fiel, faz com que a minha Vontade tenha vida sempre em ti, e Eu em Mim Querer em Ti, encontrarei toda completada a obra da Criação, com os meus plenos direitos, e tudo o que quero".

15-17
Abril 21, 1923

O ponto mais negro da sociedade presente.

(1) Esta manhã meu sempre amável Jesus me transportou para fora de mim mesma, em um lugar onde se viam bandeiras tremulando no ar, audiências onde todas as classes de pessoas tomavam parte, também sacerdotes, e Jesus como ofendido por tudo isto queria tomar em sua mão as criaturas para tritura-las, e eu tomando sua mão na minha a tenho estreitado dizendo-lhe:
(2) " Meu Jesus, o que estás a fazer? Parece que não são coisas más as que fazem, mas bem parecem boas, parece que a Igreja se une com seus inimigos de antes, e estes não mostram mais aquela aversão a tratar com as pessoas da Igreja, mas sim as chamam a abençoar as bandeiras, não é isto um bom sinal? E você em vez de agradecer parece que se ofende". E Jesus suspirando e extremamente aflito me disse:
(3) "Minha filha, como te enganas, este é o ponto mais negro da sociedade presente, e a união significa que todos têm uma mesma cor; os inimigos não têm mais temor, horror de aproximar-se das pessoas da Igreja, porque não há neles verdadeira fonte de virtude e de religião, É mais, alguns celebram o Divino Sacrifício sem crer na minha presença, outros, se acreditam, é fé sem obras e sua vida é uma cadeia de sacrilégios enormes, portanto, que bem podem fazer se não o têm neles? Como podem chamar ao cumprimento de verdadeiro cristão, fazendo conhecer que grande mal é o pecado, se falta neles a vida da graça? Com todas as uniões que fazem já não há homens que cumpram o preceito, portanto não é a união do triunfo da religião, é o triunfo do partido, o qual, disfarçando-se procura ocultar o mal que vão maquinando, é a verdadeira revolução que se esconde sob estas máscaras, e Eu fico sempre o Deus ofendido, tanto pelos maus que fingem uma aparência de piedade para reforçar seu partido e assim poder fazer um mal mais grave, como pelas pessoas da Igreja, porque tendo eles uma falsa piedade, já não são bons para atrair os povos a meu seguimento, São mais aqueles que os arrastam para estes. Pode-se dar um tempo mais triste que este? O fingimento é o pecado mais feio e o que mais fere meu
coração, por isso roga e repara".

16-19
Setembro 6, 1923

Quando o amor acaba, começa a culpa.

(1) Sentia-me petrificada pela dor da privação do meu doce Jesus, parece-me que também suas breves visitas como relâmpagos, sua sombra, vão diminuindo, único sustento meu na sua privação, que como pequenas gotas de orvalho sustentam a pobre planta da minha alma, que queimada, seca por sua privação lhe dão um fio de vida para não fazê-la morrer; mas estava toda resignada a sua Vontade, e buscava por quanto estava em mim seguir meus atos interiores como quando junto com Jesus empreendia o vôo em seu Santíssimo Querer, mas oh! Como diversos os fazia, os fazia mal, não encontrando a todos para dar por todos ao meu Deus. Então estava dizendo em meu interior:

(2) "Meu Jesus, no teu Querer uno os meus pensamentos aos teus, e como os teus pensamentos circulam em cada inteligência criada, quero que cada pensamento tome dos teus o amor de sua inteligência, para poder pôr no vôo do amor cada pensamento de criatura; este Voe para cima, no Céu, ante a Majestade Suprema, e fundindo-se com o Amor Eterno atraia a terra, sobre todas as criaturas, o amor da Santíssima Trindade".
(3) Agora, enquanto isso e outras coisas fazia, meu adorável Jesus se moveu dentro de mim e suspirando me disse:
(4) "Minha filha, tu não podes estar sem Mim, e muito menos posso Eu estar sem ti; tudo o que tu sentes em seu coração, sou Eu; suas ânsias, seus suspiros, o martírio que sofre porque está privada de Mim, sou Eu, são meus batimentos que se repercutem em ti, que te levam minhas penas, que me escondem de você, por isso, não podendo mais, o amor, superando a justiça me obriga a me mostrar".

(5) E, enquanto dizia, fez-se ver. Meu Deus, quem pode dizer como me senti renascer? Depois adicionou:

(6) "Minha filha, tu me deste o quarto em ti na terra, e Eu te tenho no Céu, em meu coração, então enquanto você está na terra, você está Comigo no Céu. A Divindade se deleita com a pequena filha do Supremo Querer tendo-a com Eles no Céu, e como temos a nossa pequena filha no Céu e na terra, não nos convém destruir a terra como a justiça gostaria de fazer, merecendo-o as criaturas, ao mais desaparecerão muitas cidades, a terra vai abrir redemoinhos em diferentes pontos fazendo desaparecer lugares e pessoas, as guerras a dizimarão, mas por consideração de nossa pequena filha não a destruiremos, tendo dado a ela a tarefa de fazer viver nossa Vontade sobre a terra. Por isso tem valor, não te abatas demasiado em minha ausência; deves saber que não poderei durar muito sem me fazer ver, Eu mesmo não posso, e você não cessa jamais, jamais de me amar, não só por você mas também por todos os nossos queridos irmãos. Com efeito, queres tu saber porquê Adão pecou? Porque esqueceu que Eu o amava e esqueceu de me amar, foi este o primeiro germe de sua culpa, se tivesse pensado que eu o amava muito e que ele estava obrigado a me amar, jamais teria decidido desobedecer-me, então primeiro parou o amor, depois começou o pecado; e assim que cessou de amar a seu Deus, cessou o verdadeiro amor a si mesmo; seus membros e suas potências se rebelaram a ele mesmo; perdeu o domínio, a ordem e se voltou temeroso, não só isto, mas cessou o verdadeiro amor para com as outras criaturas, enquanto que Eu o havia criado com o mesmo amor que reinava entre as Divinas Pessoas, no qual um devia ser a imagem do outro, a felicidade, a alegria, a vida do outro, por isso, vindo à terra, a coisa à qual dei mais importância foi que se amassem um ao outro como eram amados por Mim, para dar-lhes meu primeiro amor, para fazer pairar sobre a terra o amor da Santíssima Trindade. Por isso em todas as tuas penas e privações não te esqueças jamais que Eu te amo muito, para nunca te esquecer de me amar, e como filha do nosso Querer tens a tarefa de me amar por todos, assim estará na ordem e não terá medo de nada".

17-17
Outubro 6, 1924

A Divina Vontade é pulsação primária da alma e de todas as coisas criadas.

(1) Estava me fundindo toda no Santo Querer Divino, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:.
(2) "Minha filha, como é belo ver uma alma fundir-se em minha Vontade, enquanto a alma se funde nela, o batimento criado toma lugar e vida no batimento incriado e formam um só, e corre e bate junto com o batimento eterno. Esta é a maior felicidade do coração humano, bater na batida eterna do seu Criador. Meu Querer o põe em vôo e o batimento humano se lança no centro de seu Criador".
(3) Então eu lhe disse: "Diz-me, meu amor, quantas vezes gira o teu Querer em todas as criaturas?".
(4) E Jesus: "Minha filha, meu Querer, em cada batida de criatura forma seu giro completo em toda a Criação, e assim como o batimento na criatura é contínuo, e se cessa o batimento cessa da vida, assim minha Vontade, mais que pulsação, para dar Vida Divina às criaturas gira e forma o batimento da minha Vontade em cada coração. Veja então como está minha Vontade em cada criatura, como batimento primário, porque o seu é secundário. Aliás, se há pulsação de criatura, é em virtude do bater da minha Vontade, mas sim, esta minha Vontade forma dois batimentos, um para o coração humano como vida do corpo; e outro para a alma, como batida e vida da alma. Mas queres saber o que faz este batimento da minha vontade na criatura? Se pensa, minha Vontade corre e circula como sangue nas veias da alma e lhe dá o pensamento divino, a fim de que faça a um lado o pensamento humano e dê o lugar primário ao pensamento de minha Vontade; se fala, quer o lugar a palavra de minha Vontade; se obra, se caminha, se ama, minha Vontade quer o lugar da obra, do passo, do amor. É tanto o amor e o zelo de minha Vontade na criatura, que enquanto bate, se a criatura quer pensar se faz pensamento, se quer olhar se faz olho, se quer falar se faz palavra, se quer obrar se faz obra, se quer caminhar se faz pé, se quer amar se faz fogo, em suma, corre e gira em cada ato da criatura para tomar nele seu lugar primário que lhe é devido; mas com grande dor nossa a criatura lhe nega este lugar de honra e dá este lugar a sua vontade humana, e a minha Vontade é forçada a estar na criatura como se não tivesse nem pensamento, nem olho, nem palavra, nem mãos, nem pés, sem poder desenvolver a Vida da minha Vontade no centro da alma da criatura. Que dor! Que grande ingratidão! Mas você quer saber quem me dá campo livre e faz a minha Vontade trabalhar como batida de vida em sua alma?

Quem vive na minha Vontade. Pois bem, oh! como nela desenvolve bem sua Vida e se constitui pensamento de seu pensamento, olho de seu olho, palavra de sua boca, batido de seu coração e assim de tudo o resto. Oh! como nos entendemos imediatamente, e minha Vontade consegue a tentativa de formar sua Vida na alma da criatura. E não só na criatura racional minha Vontade tem seu lugar primário e é como bater que dando a circulação à vida da alma, corre a dar vida a todos os atos da criatura, senão que em todas as coisas criadas minha Vontade tem seu lugar primário e circula como latido de vida, desde a mais pequena coisa criada até à maior, e ninguém pode separar-se da potência e imensidão da minha Vontade. Ela se faz vida do céu azul e mantém nele sempre novo e vívido a cor celeste, não pode descolorar-se, nem mudar-se, nem perder o brilho, porque minha Vontade assim quis que fosse, e uma vez estabelecido assim, Ela não muda; minha Vontade é vida da luz e do calor do sol, e com a sua pulsação de vida conserva sempre igual e viva a luz e o calor, e mantém-no imóvel na minha Vontade, sem poder afastar-se, nem crescer nem decrescer no bem que deve fazer a toda a terra. Minha Vontade é vida do mar e nele forma o murmúrio das águas, o serpentear dos peixes, as ondas estrondosas. Oh! como a minha Vontade faz festa da potência que contém e desenvolve a sua Vida com tanta majestade e absoluto domínio nas coisas criadas, que nem o mar pode deixar de murmurar, nem o peixe de nadar; aliás, poderia dizer que é a minha Vontade que murmura no mar, Minha vontade que nada no peixe, minha Vontade que forma as ondas e com seu ruído faz ouvir que aí está sua Vida, que pode fazer tudo como lhe parece e como gosta.

Minha Vontade é pulsação de vida no pássaro que trina, no piar do pintinho, no cordeiro que bale, na rola que geme, nas plantas que vegetam, no ar que todos respiram, em suma, em toda minha Vontade tem sua Vida e forma com sua potência o ato que Ela quer, assim, tem a harmonia em todas as coisas criadas e forma nelas os vários efeitos, cores, ofícios que cada uma contém. Mas sabes para quê? para me fazer conhecer pela criatura, para ir a ela, para cortejá-la, para amá-la com tantos atos diversos de minha Vontade por quantas coisas criei. Meu Amor não ficou contente em colocar no fundo da alma a minha Vontade como batimento de vida, senão que quis pôr minha Vontade em todas as coisas criadas, a fim de que também por fora minha Vontade não a deixasse jamais, e assim pudesse conservar-se e crescer na santidade de minha mesma Vontade, e todas as coisas criadas lhe fossem de incentivo, de exemplo, de voz e de reclamo contínuo para fazê-la sempre correr no cumprimento de minha Vontade, finalidade única para a qual foi criada. Mas a criatura se faz surda às tantas vozes da Criação, cega à vista de tantos exemplos, e se abre os olhos os fixa em sua vontade. Que pena! Por isso te recomendo que não queiras jamais sair de minha Vontade se não queres multiplicar minha dor e perder a finalidade para a qual foste criada"..

18-20
Janeiro 24, 1926
A Divina Vontade é mãe de todas as vontades humanas. Na Divina Vontade não há mortes.

(1) Sentia-me abandonada pelo Céu e pela terra, e pensava entre mim que Jesus me havia dito há muito tempo, que eu devia viver no duro exílio da vida como se não existisse ninguém mais que Jesus e eu, Todos tinham de desaparecer da minha mente e do meu coração. E agora, depois que tudo me desapareceu e habituada a viver só com Jesus, também Ele fugiu deixando-me sozinha em poder de amarguras indizíveis no duro estado de isolamento. ¡ Oh! Deus, que pena, tem piedade de mim, retorna a quem sente necessidade de tua Vida mais que da vida própria. Agora, enquanto eu pensava nisso e outras coisas ainda mais dolorosas, que seria muito longo para dizê-las, meu doce Jesus se moveu dentro de mim, e suspirando me disse:.

(2) "Filha de meu Supremo Querer, ânimo em seu isolamento, este serve como companhia a mim.
Vontade abandonada pelas criaturas; a dor de seu isolamento, oh, como é mais duro que o seu!
Minha Vontade é a Mãe de todas as vontades das criaturas, Ela, como Mãe terníssima, ficou no centro da Criação para dar à luz as vontades humanas e tê-las todas em torno dela, subi-las sobre seus joelhos, alimentá-las com o leite de seus ensinamentos celestiais e fazê-las crescer à sua semelhança, dando-lhes toda a Criação onde entreter-se, e como minha Vontade é centro de cada coisa criada, a qualquer parte que as criaturas fossem, Ela, como centro de cada coisa, estaria mais do que mãe afetuosa sempre próxima de vós, para nunca vos fazer faltar os vossos cuidados maternos e para não vos deixardes descer da vossa nobreza e semelhança. Mas, ai de mim! Estas filhas, estas vontades humanas paridas por esta Mãe Celestial de minha Vontade, desprezando e não apreciando todos os cuidados maternos, seu amor, suas ternuras e pressa, embora Ela esteja junto a elas, as vontades humanas estão distantes desta Mãe, muitas nem sequer a conhecem, outras a desprezam e fazem dela zomba. Pobre Mãe que é Vontade, no meio de tantas filhas por Ela é isolada, abandonada, e enquanto todas tomam do seu para viver, servem-se de tudo para crescer ao seu desespero e para ofendê-la; É possível dar dor maior a uma mãe do que o abandono de seus próprios filhos, não ser conhecida pelo parto de suas próprias entranhas, e trocar-se em inimigas ofendam Aquela que as deu à luz? Por isso a dor do isolamento de minha Vontade é grande e inconcebível. Por isso seu isolamento seja a companhia desta Mãe isolada, que chora e busca a suas filhas, que por quanto chora, grita e chama as suas filhas com as vozes mais ternas, com as lágrimas mais amargas, com os suspiros mais ardentes e com as vozes mais fortes de castigos, estas filhas ingratas estão distantes do seio daquela que as gerou. Minha filha, não queres tomar parte, como verdadeira filha fiel da minha Vontade, na sua dor e no seu isolamento?".
(3) Depois me pus a fazer a adoração a meu Crucificado Jesus, e diante de minha mente passava uma longa fila de soldados, todos armados, que não terminava jamais. Eu gostaria de ter pensado no meu Jesus crucificado e já não ver soldados, mas apesar de mim era obrigada a ver estes soldados armados. Então pedia ao meu doce Jesus que afastasse de mim esta vista a fim de que pudesse ficar livre com Ele, e Jesus todo aflito me disse:.
(4) "Minha filha, quanto mais o mundo aparentemente parece em paz, louva a paz, tanto mais debaixo daquela paz efêmera e mascarada escondem guerras, revoluções e cenas trágicas para a pobre humanidade, e quanto mais parece que favorecem minha Igreja e a louvam, cantem vitórias e triunfos e práticas de união entre Estado e Igreja, tanto mais próxima está a contenda que
preparam contra Ela. Assim foi de Mim, até que não me aclamaram Rei e me receberam em triunfo, Eu pude viver no meio dos povos, mas depois de minha entrada triunfal em Jerusalém não me deixaram viver mais, e depois de poucos dias gritaram-me crucifica-o' e armando-se todos contra Mim me fizeram morrer. Quando as coisas não partem de um fundo de verdade, não têm força de reinar longamente, porque faltando a verdade falta o amor e falta a vida que as sustenta, e por isso é fácil que saia fora o que escondiam e mudam a paz em guerra, os favores em vinganças. Oh, quantas coisas imprevistas estão preparando!".
(5) Jesus desapareceu, e eu fiquei toda aflita e pensava entre mim: "Meu amado Jesus me disse tantas vezes que eu sou a pequena recém-nascida da Divina Vontade, por isso recém-nascida apenas, sem ter formado minha pequena vida neste Querer Supremo. Jesus, agora que tinha mais necessidade de formar meu crescimento me deixa só, então eu serei como um parto abortado da Divina Vontade, sem ter existência. Não vê meu amor em que estado lamentável me encontro, e como seus próprios desígnios sobre mim se resolvem no nada? Ah- Ah! se não queres ter piedade de mim, tenha piedade de si mesmo, de seus desígnios e de seus trabalhos que tem feito a minha pobre alma". Mas enquanto minha pobre mente queria adentrar-se no estado doloroso em que me encontro, meu amado Bem saiu de dentro de meu interior, e olhando-me toda da cabeça aos pés me disse:.
(6) "Minha filha, em minha Vontade não há mortos nem abortos, e quem vive nela contém por vida a Vida de minha Vontade, e embora se sinta morrer, ou mesmo morta, encontra-se em minha Vontade, a qual contendo a vida a faz ressurgir a cada instante a nova luz, a nova beleza, graça e felicidade, deleitando-se em conservá-la sempre pequena em si, para tê-la grande com Ela; pequena mas forte, pequena mas bela, recém-nascida apenas, a fim de que nada de humano tenha, senão todo divino, assim que sua vida é só minha Vontade, Que cumprirá todos os meus desígnios, sem que nada se perca. Serás como a gota de água submersa no grande mar, como um grão nas grandes massas dos celeiros; enquanto a gota de água parecer como desaparecida no mar e o grão nos inumeráveis grãos, não se pode negar nem tirar-lhe o direito de que sua vida existe. Por isso não temas, e faça de tal maneira que perca sua vida para adquirir o direito de ter por vida minha Vontade".

18-21
Janeiro 28, 1926
Adão, depois do pecado fazia os mesmos atos de antes, mas como se subtraiu da Vontade Suprema, estavam vazios de substância de Vida Divina.

(1) Estava pensando no Santo Querer Divino, e pensava entre mim: Como pôde ser que Adão depois do pecado, tendo quebrado sua vontade com a de Deus, perdeu a força, o domínio, e seus atos não eram tão agradáveis a Deus para formar sua delícia, enquanto Adão, antes de pecar, havia feito seus atos para com Deus, os havia aprendido, e por que repeti-los depois não soavam com o mesmo som, não continham a plenitude do amor divino e da completa glória de Deus?

Agora, enquanto pensava nisso, o meu amável Jesus moveu-se dentro de mim, e com uma luz que me enviava disse-me:.
(2) "Minha filha, antes de tudo, Adão antes que se subtraísse de minha Vontade era meu filho, continha por centro de sua vida e de todos seus atos a minha Vontade, portanto possuía uma força, um domínio, um atrativo todo divino, por isso sua respiração, seu batimento, seus atos, davam o divino, todo seu ser emanava um perfume celestial que a todos nos atraía para ele, assim que nos sentíamos feridos por toda parte por este filho, se respirava, se falava, se operava as coisas mais inocentes, indiferentes e naturais, eram feridas de amor para nós, E nós, entretendo-nos com ele, cumpríamos sempre mais dos nossos bens, porque tudo o que fazia saía de um só ponto, o qual era a nossa Vontade, por isso tudo nos agradava, não encontrávamos nada em que nos desagradar. Agora, depois do pecado Adão desceu do estado de filho e se reduziu ao estado de servo, e assim que rompeu com a Vontade Suprema saiu dele a força divina, o domínio, o atrativo, o perfume celestial, por isso seus atos, seu ser, não davam já o divino, mas se encheu de uma sensação humana, que fazendo-o perder a atração, não nos sentíamos mais feridos, é mais, nos púnhamos a distância, ele de Nós e Nós dele. Nada diz que ele repetisse os mesmos atos que fazia antes de pecar, como de fato os fazia; mas tu sabes o que são os atos da criatura sem a plenitude de nossa Vontade? São como aqueles alimentos sem condimento e sem substância, que em vez de agradá-los desagradam o paladar humano, assim desagradam o paladar divino, são como aqueles frutos não maduros, que não contêm nem doçura nem sabor; são como aquelas flores sem perfume; são como aqueles vasos cheios, sim, mas de coisas velhas, frágeis e quebradas. Tudo isto pode servir a uma estreita necessidade do homem e também como uma sombra da glória de Deus, mas não à felicidade e a todo o bem-estar da criatura e à plenitude da glória de Deus. Pelo contrário, com que gosto não se come um alimento bem condimentado e substancioso? Como reforça a toda a pessoa? O simples perfume do condimento estimula o apetite e a avidez de comê-lo. E assim Adão, antes que pecasse, temperava com a substância da nossa vontade todas as suas obras, e portanto estimulava o apetite do nosso amor a tomar todas as suas obras como o alimento mais agradável para nós, e nós em correspondência lhe dávamos nosso alimento requintado de nossa Vontade. Mas depois do pecado, pobrezinho! perdeu o caminho direto de comunicação com seu Criador, não reinava mais nele o puro amor; o amor foi dividido pelo temor, pelo medo, e não mais contendo o absoluto domínio da Suprema Vontade, seus atos de antes feitos depois do pecado, não tinham mais aquele valor. Muito mais, pois toda a Criação, inclusive o homem, saiu do Eterno Criador, que é como fonte de vida, na qual deviam conservar-se só com a Vida da Divina Vontade, tudo devia estar baseado nela, e esta base de Divino Querer devia conservar todas as coisas belas, nobres, como tinham saído de Deus, como de fato estão todas as coisas criadas, tal como foram criadas tais são, nenhuma perdeu nada de sua origem, só o homem perdeu a vida, a base, e por isso perdeu sua nobreza, a força, a semelhança com seu Criador. Mas, apesar de tudo isto, a minha Vontade não deixou de todo o homem, e não lhe podendo ser mais fonte de vida e base que o sustentava, porque ele mesmo se tinha subtraído dela, ofereceu-se como remédio para fazer com que não perecesse de todo. Então a minha Vontade é medicina, é saúde, é conservação, é alimento, é vida, é plenitude da mais alta santidade, e como a criatura quer, Ela se oferece: Se a quer como remédio, Ela se oferece para tirar à febre das paixões, as fraquezas das impaciências, as vertigens da soberba, o mal-estar dos apegos, e assim por todo o resto dos males; se a quer como saúde, Ela se oferece para conservá-la sadia, para libertá-la de qualquer mal espiritual; se a quer como alimento, Ela dá-se como alimento para lhe fazer desenvolver as forças e fazê-la crescer mais na santidade; se a quer como vida e como plenitude de santidade, oh! então a minha Vontade festeja, porque vê o homem regressar ao colo da sua origem, de onde veio, e oferece-se para lhe dar a semelhança com o seu Criador, finalidade única da sua criação. “Minha Vontade jamais deixa o homem, se o deixasse seria resolvida no nada; e se não se presta a fazer-se santo por minha Vontade, Ela usa os modos ao menos para salvá-lo"..
(3) Quando ouvi isto, disse entre mim: "Jesus, meu amor, se amas tanto aquele que a tua Vontade opera na criatura como no ato no qual Tu a criaste, como se não tivesse havido nenhuma ruptura entre a tua Vontade e a da criatura, por que não nos deste este grande bem ao vires à terra para nos redimir, que a tua Vontade triunfante sobretudo nos pusesse na ordem da Criação, Como saímos das mãos de nosso Pai Celestial?" E Jesus, saindo do meu íntimo, estremeceu-me toda ao seu coração, e com ternura indescritível me disse:.

(4) "Minha filha, a finalidade primária da minha vinda à terra foi precisamente isto, que o homem retornasse ao seio do meu Querer, como saiu dele quando foi criado; mas para fazer isto tive que formar por meio da minha humanidade a raiz, o tronco, os ramos, as folhas, as flores das quais deviam sair os frutos celestiais de meu Querer; ninguém tem o fruto sem a árvore, esta árvore foi
regada por meu sangue, foi cultivado por minhas penas, por meus suspiros e lágrimas; o sol que resplandeceu sobre ele foi só o Sol de minha Vontade, portanto, com toda certeza virão os frutos do meu Querer, mas para desejar estes frutos deve-se conhecer quão preciosos são, o bem que trazem, as riquezas que produzem. Eis por que das tantas manifestações que te fiz de meu Querer, porque o conhecimento levará o desejo de comê-lo, e quando tiverem provado o que significa viver só para fazer minha Vontade, se não todos, pelo menos em parte voltarão sobre o caminho de meu Querer, as duas vontades se darão o beijo perene, não haverá mais luta entre a vontade humana e a do Criador, e a minha Redenção, aos tantos frutos que deu, dará também o fruto do Fiat Voluntas Tua como no Céu assim na terra. Por isso sê tu a primeira a tomar este fruto, e não queiras outro alimento nem outra vida que minha só Vontade".

30-21
Março 13, 1932
A prisioneira e o Prisioneiro divino. A Virgem, anunciadora, mensageira, condutora do reino da Divina Vontade. Quem vive na Divina Vontade forma a criação falante.

(1) O meu abandono no Fiat continua, mas sinto ao vivo a minha pobreza extrema, a minha nulidade, a dor contínua das privações do meu doce Jesus. Se não fosse por seu Querer Divino que me sustenta, e que frequentemente me infunde com o Céu, de modo que me infunde nova vida, eu não teria conseguido seguir adiante sem Aquele que frequentemente desaparece, se
esconde, e eu fico sobre a fogueira do amor a esperá-lo, que me consome lentamente, e então repete sua breve visita quando chego aos extremos. Então pensava entre mim: "Jesus aprisionou-me e amarrou-me com correntes, que não há perigo que se possam romper, sou na realidade a pobre prisioneira. Oh! Como queria a minha Mãe Celestial em minha companhia, a fim de que sob sua guia pudesse viver como se necessita viver na Divina Vontade. Mas enquanto pensava assim, o meu doce Jesus repetiu a sua breve visita, e com toda a ternura me disse:
(2) "Minha querida prisioneira! Como estou contente porque te aprisionei e te amarrei, porque minhas ataduras e minhas correntes dizem que meu amor, só por te ter a minha disposição, tem usado ataduras e correntes para te tornar prisioneira só para Mim, mas sabe? O amor quer quem o iguale, se te fiz prisioneira, primeiro me fiz prisioneiro Eu por você em seu próprio coração, e não querendo estar sozinho, te fiz prisioneira, em modo de poder dizer: ‘Somos dois prisioneiros, que um não sabe estar sem o outro'. Assim poderemos preparar o reino de minha Divina Vontade. As obras feitas a sós não são agradáveis, mas a companhia as torna agradáveis, empurra ao trabalho, adoça o sacrifício e forma as obras mais belas, e ao ver-te chamar a nossa Mãe Celestial como teu guia, teu prisioneiro Jesus exultou de alegria ao ter sua doce companhia em nosso trabalho. Tu deves saber que foi Ela a verdadeira e celestial prisioneira de minha Divina Vontade, assim que conhece todos os segredos, os caminhos, possui as chaves de seu reino, e mais, cada ato que fazia a Rainha Prisioneira, preparava em seu ato o posto para receber os atos da criatura feitos na Divina Vontade, e oh! Como a Soberana Celestial está à expectativa e muito atenta para ver se a criatura trabalha em meu Fiat, para levar com suas mãos maternas estes atos e encerrá-los em seus atos como vestígio de que se quer o reino da Divina Vontade sobre a terra.

Assim que este reino já foi formado por Mim e pela Celestial Senhora, já existe, só que se deve dar às criaturas; para dá-lo é necessário conhecê-lo, e como Ela é a criatura mais santa, maior e que não conheceu outro reino que o de minha Divina Vontade, ocupa o primeiro lugar nela, e por direito a Celestial Rainha será a anunciadora, a mensageira, a condutora de um reino tão santo, por isso roga-lhe, convida-a, e Ela te servirá de guia, de mestra, e com amor todo materno receberá todos teus atos e os encerrará nos seus, e ele vai dizer-te: ‘Os atos da minha filha são como os atos da sua Mãe, por isso podem estar com os meus para duplicar o direito das criaturas para que lhes seja dado o reino da Divina Vontade'. E como este seu reino, Deus o deve dar e a criatura o deve receber, se requerem os atos de ambas as partes para obter a tentativa, por isso Aquela que tem mais ascendência, mais poder, mais império sobre o coração divino, é a Soberana do Céu, os seus atos serão seguidos pelos outros atos das criaturas que mudaram em divinos em virtude da minha Vontade, para lhes dar o direito de receber este Reino, e Deus ao ver estes atos se sentirá movido a dá-lo por aquele amor que teve na Criação, que tudo o criou para fazer que sua Vontade se fizesse como no Céu assim na terra, e que cada criatura fosse um reino de sua Vontade, para que tivesse seu total domínio. Por isso sempre avante no agir e viver no Fiat Supremo".
(3) Depois disto, minha mente se perdia no Querer Divino, e meu doce Jesus adicionou:
(4) "Minha filha, a alma que entra em minha Vontade se converte em luz, e todos seus atos sem perder nada de sua diversidade, de sua natureza, e do que são em si mesmos, são vivificados e animados pela luz, assim que cada ato, ainda que distintos entre eles, têm por vida a luz de meu Fiat, E agora ele se deleita em formar com sua Vida de luz o pensamento, a palavra, a obra, o
passo, e assim do resto, e a alma como céu primeiro animado pelo Fiat, forma com seus atos o sol, as estrelas, o mar que sempre murmura, o vento que geme, que fala, que uiva, que assobia, que acaricia e que forma seus refrigérios de luz divina a seu Criador, a si mesma, e desce até o baixo das criaturas, e como a luz é fecunda e tem a virtude que por si mesma se expande por toda parte, forma as mais belas flores, mas toda investida de luz. E eis que a minha Divina Vontade repete a sua amada Criação na alma que vive na sua luz, aliás, mais bela ainda, porque se a Criação é muda, e se fala eloquentemente é sempre na sua linguagem muda, pelo contrário a criação que forma na alma é toda falante, fala o sol de suas obras, o mar de seus pensamentos, o vento de suas palavras, o pisar de seus passos, que à medida que caminha deixa as flores de suas virtudes, e tudo o que faz, falam como estrelas brilhantes, que com seu brilho rogam, amam, louvam, abençoam, reparam e agradecem continuamente, sem jamais deter-se, àquele Fiat Supremo que com tanto amor se deleita de formar neles a bela criação falante, animada toda de sua luz divina.

Por isso não é maravilha se seu Jesus forma sua contínua morada em meio a esta criação falante que me forma minha Divina Vontade, seria mais maravilha se Eu não estivesse nela, porque faltaria o Senhor, o Rei que com tanto amor a formou. Para que formá-la se Eu não deveria morar dentro e gozar minha agradável criação falante? Muito mais que nesta criação falante há sempre o que fazer, sempre o que adicionar. Cada ato seu é uma voz de mais que adquire, e que com toda eloquência me fala de meu amor e de seu amor, e Eu devo escutá-la; e não só isto, mas quero desfrutar de seus gostos que ela me dá. Gosto tanto deles que os suspiro, e por isso não posso afastá-los. Além disso há sempre o que dar, e sempre o que tomar, por isso não posso deixá-la nem sequer um instante sem Mim, no máximo agora falo e agora faço silêncio, agora faço-me sentir e agora estou escondido, mas deixar quem vive em minha Divina Vontade não posso. Por isso está segura que mesmo que você não saia dela, seu Jesus não te deixa, estará sempre contigo, e você estará sempre Comigo".

30-22
Março 20, 1932
Três condições necessárias para obter o reino da Divina Vontade. Como todos vivem na Divina Vontade. Modo diverso de viver.

(1) Estava pensando na Divina Vontade e dizia entre mim: "Se Nosso Senhor ama tanto fazer conhecer um Querer tão santo, e quer que reine no meio das criaturas, por que então quer que se peça para obtê-lo? Enquanto que uma vez que o quer pode dá-lo, mesmo sem tanto pedir. E meu doce Jesus, me surpreendeu, disse:
(2) "Minha filha, conhecer minha Divina Vontade é a coisa maior que Eu posso dar e a criatura pode receber, e seu reinar é a confirmação de seu grande dom, e o desenvolvimento de sua Vontade conhecida. Por isso é necessário pedi-lo; com pedi-lo se dispõe, forma em si a morada real onde o recebo; com pedi-lo adquire o amor para amá-lo, adquire os dotes de sacrifício
necessário para possuí-lo, e conforme se pede, o querer humano perde seu terreno, se debilita, perde a força e se dispõe a receber o domínio do Querer Supremo, e Deus vendo que lhe rogam se dispõe a dá-lo. São necessárias as disposições de ambas as partes para dar nossos dons celestiais, quantos dons queremos dar! Mas como não são pedidos os retenhamos em Nós
mesmos, esperando dá-los quando forem pedidos. Pedir é como se o comércio entre o Criador e a criatura fosse aberto; se não for pedido, o comércio está fechado, e os nossos dons celestiais não descem para se porem em giro sobre a face da terra, por isso, a primeira necessidade indispensável para obter o reino da Divina Vontade, é pedir com orações incessantes, porque conforme se pede, assim nos chegam as cartinhas, agora de pressas, agora de súplicas, agora de acordo que querem fazer com nossa Vontade, até que chegue a última carta do acordo final.
(3) Segunda necessidade, mais indispensável que a primeira, para obter este reino, é necessário saber que se pode ter. Quem pode pensar em um bem, desejá-lo, amá-lo, se não sabe que pode obtê-lo? Nenhum. Se os antigos não tivessem conhecido que o futuro Redentor devia vir, ninguém teria pensado, nem pedido, nem esperado salvação, porque a salvação, a santidade daqueles tempos estava fixada, concentrada no futuro Salvador Celestial. Fora disto não se podia esperar nenhum bem. Saber que se pode ter um bem forma a substância, a vida, o alimento daquele bem na criatura. Eis por que os tantos conhecimentos sobre minha Vontade que te manifestei, a fim de que se possa conhecer que podem ter o reino de minha Vontade. Quando se sabe que um bem se pode ter, se usam as artes, as indústrias, e se empenham os meios para obter a tentativa.
(4) O terceiro meio necessário é conhecer que Deus quer dar este reino, isto põe os fundamentos, a esperança certa para obtê-lo, e forma os últimos preparativos para receber o reino de minha Divina Vontade. Um bem que se ama e suspira, saber que quem o pode dar, já quer dar, pode-se chamar o último golpe de graça, e ato final para obter o que se quer. De fato, se Eu não te tivesse manifestado que posso dar, e quero dar minha Vontade Divina dominadora e reinante entre as criaturas, tu terias sido indiferente, como todos os demais, a um bem tão grande, assim que teu interesse, tuas orações, foram efeitos e partos do que você conheceu. E Eu mesmo, quando vim sobre a terra, os trinta anos da minha Vida escondida, pode-se dizer que aparentemente não fiz bem a ninguém, nem sequer um me conheceu; estava no meio deles não observado, todo o bem se desenvolvia entre Eu e o Pai Celestial, minha Mãe Celestial e o amado São José, porque sabiam quem eu era; todos os outros nada. Quando, porém, saí do meu escondimento, e abertamente me fiz conhecer, dizendo que era propriamente Eu, o Messias prometido, seu Redentor e Salvador; e, embora eu tenha sido atraído por calúnias, perseguições, contradições, ira, ódio dos hebreus, e a mesma Paixão e morte, todos estes males que como chuva tupida choviam sobre Mim, teve origem porque Eu fazendo-me conhecer, afirmava o que Eu era na realidade, o Verbo Eterno descido do Céu para salvá-los.

Tanto é verdade que, estando eu na casa de Nazaré, não sabendo quem eu era, ninguém me disse nada, nem me caluniaram, nem me fizeram mal algum; assim que me revelei, todos os males choveram sobre mim. Mas o me fazer conhecer era necessário, de outra maneira teria retornado ao Céu sem cumprir a finalidade pela qual vim à terra. Mas com o fazer-me conhecer, apesar de ter sido atraído por tantos males, no meio deste turbilhão de males formei os meus apóstolos, anunciei o Evangelho, fiz prodígios, e o meu conhecimento instigou os meus inimigos a fazer-me sofrer tantas penas até dar-me a morte de cruz. Mas consegui minha tentativa, que muitos me conheceram no meio de tantos que não quiseram me conhecer, e de cumprir minha Redenção. Eu sabia, que com me fazer conhecer, a perfídia e soberba dos hebreus me teriam feito tanto, mas era necessário fazer-me conhecer, porque uma pessoa, um bem se não se conhece, não é portador de vida, nem de bem. O bem, a verdade não conhecida, ficam impedidos em si mesmos, sem fecundidade, como tantas mães estéreis que terminam com elas a sua geração. Veja então como é necessário que se saiba que posso dar o reino de minha Vontade e que quero dá-lo. Posso dizer que há a mesma necessidade como aquela de fazer conhecer que Eu era o Filho de Deus que veio sobre a terra. É também verdade que muitos ao conhecerem isto, repetirão o que me fizeram quando fiz saber que Eu era o suspirado Messias; calúnias, contradições, dúvidas, suspeitas, desprezo, como já o fizeram assim que se iniciou a impressão com a qual se iniciava o dar a conhecer a minha Divina Vontade; mas esta não é a causa principal, é o bem, que possuindo a força que fere ao mal, as criaturas, o inferno, sentindo-se feridos se armam contra o bem e querem aniquilar o bem, e àquela ou aquele que quer fazer conhecer o bem. Mas apesar de tudo o que quiseram fazer no princípio do querer nascer o conhecimento de minha Vontade e que quer reinar, que a têm como sufocado, no entanto deu seus primeiros passos, e o que não acreditavam alguns outros acreditaram, os primeiros passos chamarão aos segundos, aos terceiros, e assim pouco a pouco, embora não faltarão aqueles que suscitarão contradições e dúvidas, mas é de absoluta necessidade que se conheça minha Divina Vontade, que posso dá-la, e quero dá-la. Estas são condições, que sem elas Deus não pode dar o que quer dar, e a criatura não pode receber. Por isso roga, e não dê marcha atrás em fazer conhecer minha Divina Vontade. O tempo, as circunstâncias, as coisas, as pessoas, mudam, nem sempre são as mesmas, por isso o que não se obtém hoje, se poderá obter amanhã, e será para confusão de quem sufocou um bem tão grande. Mas minha Vontade triunfará e terá seu reino sobre a terra".
(5) Depois continuava pensando na Divina Vontade, e toda me abandonava em seus braços divinos, e meu amado Jesus acrescentou:
(6) "Filha boa, você deve saber que minha Divina Vontade possui e contém dentro de Si tudo, todas as alegrias, todas as belezas, dela tudo sai e sem perder nada tudo contém em Si, pode-se dizer que leva a todos e tudo em seu regaço imenso de luz. Assim que todos vivem nela, com esta diferença, que quem com toda a sua vontade quer viver nela, e se faz dominar por seu domínio, vive como filha, e como filha é constituída herdeira das alegrias, das belezas, dos bens de sua Mãe, de modo que esta Mãe Divina está toda atenta a embelezar, enriquecer e a fazer gozar a sua filha. Em vez disso, quem quer viver de vontade humana e não se faz dominar pelo seu domínio, vive nesta Santa Vontade, mas vive não como filha, mas como estranha, e todas as alegrias se convertem para a criatura em amargura, as riquezas em pobreza, as belezas em feiúras, porque vivendo como estranha vive como afastada dos bens que minha Divina Vontade possui, e justamente merece que nada possua de bem, seu querer humano que a domina lhe dá o que tem, paixões, debilidades, misérias. Nada foge de minha Divina Vontade, nem sequer o inferno, e como não a amaram em vida, viveram como membros separados dela, mas sempre dentro, não fora, agora, naquelas tétricas prisões, as alegrias, a felicidade, as bem-aventuranças de minha Divina Vontade se convertem em penas e tormentos eternos, por isso viver em minha Vontade não é novo como alguns crêem, todos vivem nela, bons e maus, se se quer dizer novo, é o modo de viver, quem a reconhece como um ato contínuo de vida, que lhe dá o domínio em todos os seus atos, porque viver nela é a santidade de cada instante que a criatura recebe, pode-se dizer que cresce continuamente em santidade, mas santidade dada por minha Vontade, cresceu junto com Ela, assim que sente por vida, mais a minha Vontade que a sua própria vida. Ao contrário, quem não vive nela, embora esteja dentro, não a reconhece em cada ato seu, e vive como se vivesse distante dela e não recebesse o ato contínuo de sua vida, mesmo que o receba. Desta maneira não se forma a santidade de viver em meu Querer, senão ao mais a santidade das circunstâncias, assim que se recordam de minha Divina Vontade quando as oprime uma necessidade, uma dor, uma cruz, então se ouvem exclamar: ‘Seja feita a Divina Vontade.’ E em todo o resto de sua vida, minha Vontade, onde estava? Não estava já com elas contribuindo para todos os seus atos? Estava, mas não a reconheciam. Acontece como a uma mãe que vive em seu palácio, a qual deu à luz muitos filhos, alguns deles estão sempre junto à mãe, a qual infunde nos filhos seus modos nobres, os nutre com alimentos delicados e bons, os veste com vestidos decentes, lhes confia seus segredos e os faz herdeiros de seus bens. Pode-se dizer que a mãe vive nos filhos e os filhos na mãe, se fazem felizes mutuamente e se amam com amor inseparável; os outros filhos vivem no palácio da mãe, mas não estão sempre junto a ela, encontram prazer em viver em estadias distantes da de sua mãe, por isso não aprendem seus modos nobres, não vestem com decência, os alimentos que tomam lhes fazem mais mal que bem, e se alguma vez vão à mãe não é por amor, senão por necessidade. Por isso a grande diferença entre um e outro destes filhos, mas apesar de tudo isso, no palácio da mãe vivem um e outro. Assim é, todos vivem em minha Vontade, mas só quem quer viver dela, vive nela como filho com sua Mãe, todos os demais, apesar de viverem nela, nem sequer a conhecem, outros vivem como estranhos, outros a conhecem para ofendê-la".

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