ESCOLA DA DIVINA VONTADE - OITAVA SEMANA DE ESTUDOS

MEDITAÇÃO parte 1 Parte 2

Meditação da Paixão de Nosso Senhor.

14
(63) "Minha amada as coisas passadas foram apenas uma preparação, agora eu quero vir a atos, e para dispor seu coração para fazer o que eu quero de você, isto é, imitação da minha Vida, quero que você entre no imenso mar da minha paixão, e quando tiver compreendido bem a amargura das minhas penas, o amor com que as sofri, quem sou eu que tanto sofri, e quem és tu, s criatura vil, ah, seu coração não se atreverá a se opor aos golpes, a cruz, que eu só preparei para o seu bem.
Em vez de apenas pensar que eu, seu mestre, ao que sofri, suas tristezas parecerão sombras comparadas às minhas, sofrimento será doce e você não poderá ficar sem sofrer ”.
(64) Minha natureza tremia só de pensar no sofrimento, pedi a Ele para me dar força, porque sem Ele eu teria usado seus próprios presentes para ofender o doador. Então comecei a meditar na Paixão, e isso fez tanto bem à minha alma, que acho que tudo o bem chegou a mim dessa fonte.
Via a paixão de Jesus Cristo como um imenso mar de luz, que com seus inúmeros raios eles me machucavam muito, isto é, raios de paciência, de humildade, de obediência e de tantas outras virtudes; Eu me vi toda cercado por essa luz e fui aniquilada me vendo tão diferente de Ele.
Aqueles raios que me inundaram eram para mim muitas outras censuras que me disseram:
(65) “Um Deus paciente, e você? Um Deus humilde e submetido até aos seus próprios inimigos, e você? Um Deus que sofre tanto por seu amor e seus sofrimentos por seu amor, onde estão eles?
(66) Às vezes, ele mesmo me narrava as penas sofridas por Ele, e ficava tão comovida que chorava amargamente. Um dia, enquanto trabalhava, eu estava considerando as penas muito amargas que meu bom Jesus sofreu, meu coração se sentiu tão oprimido pela dor, que me faltava a respiração; Temendo que algo acontecesse comigo, eu queria me distrair inclinando-me para a varanda a rua, mas o que eu vejo? Eu vejo a rua cheia de gente, e no meio meu amante Jesus com a cruz nas costas; um o empurrava de um lado e outro alguém pro outro, todo agitado, com o rosto pingando sangue, que levantou os olhos em minha direção, numa atitude de me pedir ajuda.
Quem pode conta a dor que senti, a impressão que uma cena tão lamentável causou em minha alma?
Entrei rapidamente no meu quarto, eu mesma não sabia onde estava, meu coração, o sentia rasgar em pedaços por causa da dor, e chorando lhe dizia:: "Meu Jesus, se ao menos eu pudesse ajudar, te pudesse libertar daqueles lobos furiosos! Ai! eu gostaria ao menos de sofrer essas penas em seu lugar, para aliviar minha dor. Ah, meu bem, me dê o sofrimento, porque não é justo que Tu sofras tanto, e eu, pecadora, fique sem sofrer ”.

2-7
Março 20, 1899
Jesus derrama suas amarguras e lhe diz a causa dos males do mundo.

(1) Esta manhã Jesus transportou-me para fora de mim mesma e fez-me ver muitas pessoas, todas em discórdia. Oh, quanta dor dava a Jesus! Eu, vendo-o sofrer muito, pedi-lhe que derramasse em mim suas amarguras, mas como continuava querendo castigar o mundo, Jesus não queria derramá-las em mim, mas depois de havê-lo pedido e voltado a pedir, para contentar-me derramou um pouco. Então, tendo-se aliviado um pouco, disse-me:

(2) "A causa pela qual o mundo se reduziu a este triste estado, é por ter perdido a subordinação às cabeças, e como a primeira cabeça é Deus, ao Qual se rebelaram, como conseqüência aconteceu que perderam toda sujeição e dependência à Igreja, às leis, e a todos os outros que se dizem cabeças.

Ah! Minha filha, o que será de tantos membros infectados por este mau exemplo dado por aqueles mesmos que se dizem cabeças, isto é, por superiores, por pais e por tantos outros? ¡ Ah, chegarão a tanto, que não se reconhecerão mais nem pais, nem
irmãos, nem reis, nem príncipes, estes membros serão como tantas víboras que reciprocamente se envenenarão, por isso vê como são necessários os castigos nestes tempos, e que a morte quase destrua esta gente, para que os poucos que restam aprendam às custas dos outros a serem humildes e obedientes! Por isso me deixe fazer, não queira se opor a que castigue as pessoas".

3-8
Novembro,13 1889

Jesus sofre ao ver sofrer as criaturas. Luisa se oferece para consolá-lo.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus parecia inquieto, não fazia outra coisa que ir e vir, agora se entretia comigo, agora quase atraído por seu ardente amor pelas criaturas ia ver o que faziam, e tudo se lamentava pelo que sofriam, como se Ele mesmo e não elas estivesse sofrendo. Muitas vezes vi o confessor, que com seu poder sacerdotal obrigava Jesus a fazer-me sofrer suas penas para poder aplacá-lo, e Ele, enquanto parecia que não queria ser aplacado, depois mostrava-se contente e agradecia de coração a quem se ocupava em sustentar seu braço indignado, e agora me participava um sofrimento e agora outro. Oh, como era terno e comovedor vê-lo neste estado!
Fazia destroçar o coração de compaixão. Muitas vezes me disse:
(2) "Conforme-se a minha Justiça, que não posso mais. Ah! o homem é muito ingrato e quase me obriga por toda parte a castigá-lo, arranca-me ele mesmo das minhas mãos os castigos. Se você soubesse quanto sofro ao fazer uso de minha justiça, mas é o próprio homem que me faz violência!
Ah! se não tivesse feito outra coisa que comprar a preço de sangue sua liberdade, mesmo assim deveria ser agradecido Comigo; mas o homem, para me fazer maior agravo vai inventando novas maneiras para fazer inútil meu desembolso".

(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente, e eu para consolá-lo eu disse: "Doce Bem meu, não te aflijas, vejo que a tua aflição é maior porque te sentes obrigado a punir as pessoas. Ah não, não seja jamais! Se Tu és tudo para mim, eu quero ser toda para Ti, assim que sobre mim manda os flagelos, aqui está a vítima sempre disposta e à tua disposição, podes fazer-me sofrer o que quiseres e assim ficará tua justiça de algum modo aplacada, e Tu aliviado da aflição que sentes ao ver as criaturas sofrerem. Foi sempre esta a minha intenção ao não me conformar à justiça, porque sofrendo o homem sofrerás mais Tu do que Ele mesmo".

(4) Enquanto isso eu estava dizendo que a nossa Rainha Mãe veio, e eu me lembrei que, tendo pedido ao confessor a obediência de me conformar com a justiça, ele tinha me dito para perguntar à Virgem Santíssima se eu queria me uniformizar. Eu disse-lhe e ela disse-me: "Não, não, reza antes minha filha, e nestes dias trata por quanto mais possas ter a Jesus junto contigo e aplacá-lo, porque muitos castigos estão preparados".

4-8
Setembro 18, 1900

A Caridade ao próximo. Luisa roga-lhe que a leve ao Céu.

(1) Esta manhã meu adorável Jesus me transportou para fora de mim mesma e me fazia ver os muitos males que se cometem contra a caridade do próximo, quanta pena davam ao pacientíssimo Jesus, parecia que os recebia Ele mesmo; então todo aflito me disse:
(2) "Minha filha, quem faz mal ao próximo se faz mal a si mesmo, e matando ao próximo mata sua alma, e assim como a caridade predispõe a alma a todas as virtudes, assim não ter a caridade predispõe a alma a cometer toda sorte de vícios".
(3) Depois disto nos retiramos, e como há vários dias sofria uma dor intensa nas costelas, me sentia por isso sem forças. E o bendito Jesus, compadecendo-me, disse-me:
(4) "Amada minha, tu queres vir, não queres?"
(5) E eu: "Queira o Céu meu Senhor, que esta dor fosse causa para vir a Ti; como lhe estaria agradecida, como me seria querido, e tê-lo-ia por um de meus mais fiéis amigos, mas creio que queres me tentar como as outras vezes, e excitar-me com teus convites, e, ficando desiludida, virás a tornar mais crua e dilacerante o meu martírio. Mas, ah, tem compaixão de mim e não me deixe muito mais tempo sobre a terra! absorve em Ti este mísero verme que tem razão, porque de Ti mesmo saiu". O amável Jesus enternecendo-se todo ao ouvir-me, disse:
(6) "Pobre filha, não temas, porque é certo que virá o teu dia no qual ficarás absorvida em Mim, no entanto, deves saber que as tuas contínuas violências de vir a Mim, especialmente depois dos meus convites, te servem muito e te fazem viver na atmosfera do ar, sem a sombra de nenhum peso terreno; tanto que tu és como aquelas flores que nem sequer têm a raiz na terra, e vivendo assim suspensa no ar, vens recriar o Céu e a terra, e tu, olhando para o Céu, somente nele te recrias e te nutres de tudo o que é celestial, e vendo a terra tens compaixão dela, e a ajudas por quanto podes por parte tua; mas em comparação com o cheiro do Céu advertes imediatamente a peste que exala da terra e a aborreces. Poderia te colocar em uma posição para Mim e para o Céu mais querido, e para ti e para o mundo mais proveitoso?"
(7) E eu: "Contudo, ó meu Senhor, deverias ter compaixão de mim por não alargar a minha morada aqui, pelas tantas razões que tenho; especialmente pelos tristes tempos que se preparam; quem terá coração para ver carnificina tão sangrenta? E além disso, por suas contínuas privações que me custam mais que a morte". Enquanto dizia isto, vi uma multidão de anjos ao redor de Nosso Senhor que diziam:
8) "Senhor e nosso Deus, não vos façais mais importunar, contenta-la, nós com ânsia a esperamos. Feridos por sua voz viemos aqui para ouvi-la, e estamos ansiosos por levá-la conosco.
E tu, ó escolhida, vem alegrar-nos na nossa celeste morada".
(9) O bendito Jesus, comovido, parecia que queria condescender e desapareceu, e encontrando-me em mim mesma me sentia aumentado a dor, tanto, que delirava continuamente; mas não me entendia a mim mesma pelo contentamento.

5-8
Abril 21, 1903

Jesus suspende Luisa de seu habitual estado para poder castigar.

(1) Tendo passado dias amargos de privações e lágrimas, com o acréscimo de me ver na possibilidade de que o Senhor me suspendesse do estado de vítima, como de fato me aconteceu, que porque me esforçava não podia perder os sentidos, Mas fiquei surpreendida por muitas dores internas que me inquietavam, sem que o pudesse compreender. Apenas um sonho na noite, no qual me parecia ver um anjo que me levava dentro de um jardim, no qual estavam todas as plantas enegrecidas, mas eu não fiz só pensava em como Jesus me tinha expulsado de Si. Então, ao fim da tarde, o confessor chegou, e encontrando-me em mim mesma, disse-me que as vinhas tinham
congelado. Fiquei aflita ao pensar nas pobres pessoas, e no temor de que não me fizesse cair em meu estado acostumado para poder livremente castigar. Mas esta manhã o Bendito Jesus veio-me fazendo cair no meu estado habitual, e eu mal o vi lhe disse:
(2) "Ah! Senhor, e ontem que fizeste? Então você saiu com a sua, e além disso, nem sequer me disse nada, que pelo menos teria implorado para evitar em parte o castigo".
(3) E Ele: "Minha filha, era necessário que te suspendesse, de outra maneira tu me terias impedido, e Eu não poderia estar livre; e além disso, quantas vezes não fiz Eu o que tu quiseste? Ah! minha filha, é necessário que no mundo chovam os flagelos, de outra maneira por cuidar dos corpos se perderão as almas".
(4) Dito isto desapareceu e eu me encontrei fora de mim mesma, sem meu doce Jesus, por isso ia buscando-o, e nesse momento via no céu um Sol diferente do sol que nós vemos, e junto uma multidão de santos, os quais ao ver o estado do mundo, a corrupção, e como se fazem zombaria de Deus, todos a uma voz gritavam: "Vingança de tua honra, de tua glória, faz uso da justiça enquanto o homem não quer reconhecer mais os direitos de seu Criador; mas como falavam em latim, eu pensava que fosse este o significado; ao ouvir isto eu tremia, me sentia gelar e implorava piedade e misericórdia.

6-8
Dezembro 3, 1903

Com a Divina Vontade somos tudo, sem Ela somos nada.

(1) Continuando o meu estado habitual, por pouco tempo veio o meu bendito Jesus dizendo-me:
(2) "Minha filha, qualquer ação humana que não tem nenhum nexo com a Vontade Divina, põe fora a Deus de sua própria criação; até mesmo o mesmo sofrer, por quão santo, nobre e precioso fosse a meus olhos, não obstante, se não é parto de minha Vontade, em vez de me agradar me indigna e me é desagradável".

(3) Oh! poder da Vontade Divina, como é santa, adorável e amável, Contigo somos tudo, ainda que nada façamos, porque tua Vontade é fecunda e nos dá a luz todos os bens, e sem Ti somos nada, embora tudo façamos, porque a vontade humana é estéril e esteriliza todas as coisas.

7-8
Março 9, 1906

Vê as almas purgantes irem em socorro dos povos.

(1) Continuando meu habitual estado, vi o bendito Jesus e muitas almas purgantes que Jesus Cristo mandava em ajuda dos povos, nos quais parecia que deviam acontecer muitas desgraças de doenças contagiosas, em algum lugar terremotos; além disso, quem se suicidava, quem se atirava nos poços, nos mares, e quem matava a outros, parecia que o homem estava cansado de si mesmo, porque sem Deus não sente a força de continuar a vida. Oh Deus, quantos castigos e quantos milhares de pessoas serão vítimas destes flagelos!

8-9
Agosto 6, 1907

Não vê outra coisa que castigos.

(1) Continuando meu estado habitual, eu estava fora de mim dentro de uma igreja, e eu parecia ver uma bela senhora com seus seios tão cheios de leite, que parecia que gostaria de lhe abrir a pele.
Depois, chamando-me, disse-me:
(2) "Minha filha, este é o estado da Igreja, está cheia de amarguras internas, e, juntamente com elas, está no ato de receber as amarguras externas. Sofre tu um pouco para atenuá-las em algo".
(3) E enquanto dizia isto, parecia que se abria os seios, e enchendo sua mão com leite me dava a momento via que faziam revoluções, entravam nas igrejas, despojavam altares, os queimavam, atentavam contra sacerdotes, rompiam estátuas, e milhares de outros insultos e infâmias.
Enquanto faziam isso, o Senhor mandava outros castigos do Céu, muitos ficavam mortos ou feridos, parecia uma briga geral contra a Igreja, contra o governo e entre eles mesmos. Eu fiquei espantada e me encontrei em mim mesma, e continuava vendo a Rainha Mãe, junto com outros santos, que rogavam a Jesus Cristo que me fizesse sofrer, mas parecia que Ele não prestava atenção, e entravam em conflito, e irritado respondeu o bendito Jesus:
(4) "Não me incomodem, Acalmem-se, senão trago-a para mim".
(5) Mas apesar disso parece que eu sofri um pouco.
(6) Agora digo tudo junto, que em todos estes dias, encontrando-me em meu habitual estado, não vi outra coisa que revoluções e castigos. O bendito Jesus está quase sempre taciturno, e de vez em quando só me diz:
(7) "Minha filha, não me faças violência, de outra maneira te farei sair deste estado".
(8) E eu digo: "Minha vida e meu tudo, se quiser ser deixado livre para fazer o que quiser, leve-me, e depois poderá fazer o que quiser".
(9) Parece que nestes dias é preciso muita paciência para lidar com Jesus bendito.

9-8
Maio 25, 1909

Jesus confunde a alma de amor.

(1) Continuando meu estado habitual, o bendito Jesus não vinha, mas eu senti todo o dia como alguém que me apressava, que não me deixava perder nem um minuto de tempo, mas que me tinha sempre em contínua oração. Um pensamento queria distrair-me ao dizer-me: "Quando o Senhor não vem tu rezas mais, estás mais atenta, e com isto dás ocasião para que não venha, porque o Senhor dirá: Já que se porta melhor quando não venho, é melhor que a prive de Mim". Eu não posso perder tempo e escutar o que dizia o pensamento, para fechar-lhe a porta na cara disse:
"Por quanto mais Ele não venha, eu mais o confundirei em amor, eu não quero dar-lhe ocasião, isto posso e isto quero fazer, e Ele é dono de fazer o que queira". E sem pensar no desatino que me havia dito o pensamento continuei o que devia fazer. E na noite, quando já nem me lembrava disso, o bendito Jesus veio e sorrindo me disse:
(2) "Bravo, bravo a minha amante que quer me confundir em amor, entretanto te digo: Jamais me confundirá, e se alguma vez parecer que me confunde em amor, sou Eu quem te dá a liberdade de fazê-lo, porque o único alívio e a coisa que mais gozo por parte das criaturas é o amor. De fato era Eu quem te sugeria rezar, que rezava contigo, que não te dava descanso, assim que em vez de me confundires tu, Eu te confundia em amor, e como tu te sentias toda cheia de amor e por isso ficavas confusa, vendo o quanto meu amor derramava em ti, pensavas que me confundias com o teu amor, mas digo-te, contanto, desde que tu procures amar-me mais, gozo destes teus desatinos e faço deles um entretenimento entre tu e eu".

10-8
Dezembro 24, 1910

Almas indecisas não são boas para nada.

(1) Tendo recebido a comunhão rogava ao bom Jesus por um sacerdote que queria saber se o Senhor o chamava ao estado religioso, e o bom Jesus me disse:
(2) "Minha filha, Eu o chamo e ele está sempre indeciso. As almas que não são decididas não são boas para nada; ao contrário quando são decididas e resolvidas, então todas as dificuldades as supera, as soluciona, aqueles mesmos que suscitam as dificuldades, vendo-o tão resolvido, se enfraquecem e não têm o valor de opor-se. É um pouco de apego o que o ata, e Eu não quero contaminar minha graça nos corações que não estão livres de tudo; se se separa de tudo e de todos, então minha graça o inundará de mais e sentirá a força necessária para seguir meu chamado".

11-9
Março 3,1912

O temperamento de Jesus forma sua Vontade, e a alma que faz a Vontade de Deus toma parte em todas as qualidades de seu temperamento.
(1) Continuando meu habitual estado, veio meu adorável Jesus e me disse:
(2) "Minha filha, quem faz minha Vontade perde seu temperamento e toma o meu, e como em meu temperamento há tantas músicas que formam o paraíso dos bem-aventurados, isto é:
música é meu temperamento doce, música é a Bondade, música a Santidade, música a Beleza, a Potência, A Sabedoria, a Imensidão, e assim de tudo o resto de meu Ser, então a alma tomando parte em todas as qualidades de meu temperamento, recebe nela todas as variedades destas músicas, e conforme vai fazendo ainda as menores ações, me faz uma música e Eu ao ouvi-la conheço imediatamente que é música que a alma tomou de minha Vontade, isto é de meu temperamento, e corro e vou ouvi-la, e me agrada tanto que fico recriado e ressarcido por
todas as afrontas que me fazem todas as demais criaturas. Minha filha, o que será quando estas músicas passarem para o céu? A alma a porei diante de Mim, Eu farei minha música e ela a sua, nos flecharemos reciprocamente, o som de um será o eco do som da outra, as harmonias se confundirão, e com toda a clareza se conhecerá por todos os bem-aventurados que esta alma não é outra coisa senão fruto do meu Querer, portento da minha Vontade, e todo o Céu por ela gozará de um paraíso a mais. Estas são as almas às quais vou repetindo:

"Se não tivesse criado o Céu, por ti só o criaria". Distendendo o céu de meu Querer nelas, e nelas faço minhas
verdadeiras imagens, nestes céus vou-me espalhando, divertindo-me e entretendo-me com elas; a estes céus repito: "Se não tivesse ficado no Sacramento, por vocês eu ficaria". Porque elas são as minhas verdadeiras hóstias, e eu, assim como não poderia viver sem um Querer, assim também não posso viver sem estes céus da minha vontade; aliás, não são só as minhas verdadeiras hóstias, mas o meu calvário e a minha própria Vida. Estes céus de meu Querer são-me mais queridos e são mais privilegiados que os tabernáculos e que as mesmas hóstias consagradas, porque na hóstia, com o consumir-se as espécies minha Vida termina, em troca nestes céus de meu Querer minha Vida não termina jamais, antes me servem de hóstias na terra e serão hóstias eternas no Céu. A estes céus do meu Querer acrescento: "Se não tivesse encarnado no seio da minha Mãe, por estas almas ter-me-ia encarnado, por estas teria sofrido a Paixão". Porque nelas encontro o verdadeiro fruto completo da minha Encarnação e da minha Paixão".

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8. Maria é acolhida no Templo. Ela, em sua humildade, não sabia que era a cheia de sabedoria.

30 de agosto de 1944.

Vejo Maria caminhar entre o pai e a mãe, pelas ruas de Jerusalém.

Os passantes detêm-se para olhar a formosa menina, toda vestida de um branco neve, coberta com um véu muito leve que, por seus desenhos de ramos e de flores, mais escuros por entre os pontos mais claros do fundo, parece-me ser o mesmo que Ana usou no dia de sua Purificação. Com esta diferença: enquanto para Ana ele chegava só até a cintura, para a pequenina Maria desce quase até o chão, e a envolve em uma nuvem tênue e clara de uma extraordinária beleza.

O loiro dos cabelos soltos sobre os ombros, ou melhor, sobre a graciosa nuca, transparece aqui e ali, nos pontos em que o véu não é adamascado, apresentando à vista apenas o fundo, que é quase diáfano. O véu está preso sobre a fronte por meio de uma fita de um azul muito claro sobre a qual, certamente por obra da mamãe, estão bordadas, a fio de prata, pequenos lírios.
O vestido de Maria, como eu disse, é alvíssimo, desce até o chão, e os pezinhos mal se mostram, quando ela anda, com suas sandalinhas brancas. Suas mãozinhas lembram duas pétalas de magnólia, saindo das mangas largas. Fora o círculo azul formado pela fita, não se vê nenhuma outra cor. Tudo é branco. Maria parece vestida de neve.

Joaquim e Ana estão vestidos, ele com a mesma roupa da Purificação e Ana ao invés, com um vestido de cor violeta muito escuro. Até o manto, que lhe cobre a cabeça, é de um violeta escuro.
Ela o traz caído totalmente sobre os olhos, dois pobres olhos de mãe, vermelhos de tanto chorar, que não queriam ser vistos assim, por isso choram sob a proteção do manto. Essa proteção serve por causa dos transeuntes e também por Joaquim que, embora tenha sempre olhos serenos, hoje eles estão avermelhados e opacos de lágrimas. Ele caminha, muito encurvado, debaixo do seu véu colocado como um turbante, com as beiras laterais descendo ao longo do rosto.

Joaquim agora está, realmente, envelhecido. Quem o vê deve pensar que ele seja o avô, talvez até bisavô daquela pequenina que leva pela mão. O sofrimento por ter que separar-se dela faz que o pai ande como que arrastando os pés, desanimado em todos os seus movimentos e modos, o que o faz ficar vinte anos mais velho. Seu rosto parece o de uma pessoa doente, além de envelhecida, tão grande é o grau do seu cansaço e de sua tristeza, e sua boca está com um leve tremor, por entre duas rugas ao lado do nariz, mais acentuadas hoje.

Os dois estão procurando esconder o pranto. Mas, se o podem esconder para muitos, não o escondem de Maria que, pelo seu pequeno tamanho, pode ver, olhando de baixo para cima e,
levantando a cabecinha, olha uma vez o pai, outra vez, a mãe. Eles se esforçam para sorrir a ela, com um tremor na boca, aumentando o aperto de suas mãos sobre a pequenina mão, cada vez que sua filhinha olha para eles sorrindo. Eles devem ficar pensando: “Aí está. É esta uma vez a menos que vemos este sorriso”.

Vão andando bem devagar. Parecem querer que aquela sua viagem dure o mais possível. Tudo serve de motivo para mais uma parada… Mas, afinal, uma estrada uma hora tem que acabar. E esta já está no fim. No alto deste último trecho da estrada, que vai subindo, estão os muros que rodeiam o Templo. Ana solta um gemido e aperta com mais força a mãozinha de Maria.

– Ana querida, eu estou contigo! – assim diz uma voz, que vem da sombra de um arco baixo, que se projeta sobre um cruzamento. Isabel, que, com certeza, a estava esperando, se aproxima dela e a aperta ao coração. Vendo que Ana está chorando, lhe diz:

– Vem, entra um pouco nesta casa amiga. Depois, iremos juntos. Zacarias também está aqui.
Entram todos em uma morada baixa e escura, na qual se vê o clarão de um grande fogo. A dona da casa deve ser amiga de Isabel, mas para Ana é estranha, e então se retira dali delicadamente, deixando os recém-chegados mais a vontade.

– Não pense que eu esteja arrependida, ou esteja dando o meu tesouro de má vontade ao Senhor –explica-lhe Ana, entre lágrimas – Mas o coração… oh! como o meu coração está doendo, o meu velho coração, que vai voltar para aquela solidão dos que não têm filhos!… Se pudesses sentir o que estou sentindo…
– Eu compreendo, minha querida Ana… Mas, tu és boa, Deus te confortará em tua solidão. Maria rezará pela paz de sua mamãe. Não é mesmo?
Maria acaricia as mãos maternas e as beija, e as passa em seu rosto para ser acariciada, enquanto Ana aperta entre as suas aquele rostinho, e o beija, repetidamente. E não se sacia de beijá-lo.

Entra Zacarias, e saúda:
– Aos justos, a paz do Senhor!
– Sim – diz Joaquim – suplica para nós a paz, pois as nossas entranhas estão trêmulas, ao fazermos nossa oferta, como deviam estar as entranhas de nosso Pai Abraão, quando subia o monte, só * que nós não encontraremos outra oferta para darmos no lugar desta. Também não quereríamos fazer isso, pois somos fiéis a Deus. Mas estamos sofrendo, Zacarias. Sacerdote de Deus, procura compreender-nos e não fiques escandalizado conosco.

– Nunca. Pelo contrário, a vossa dor, que sabe não passar além do permitido e levar-vos à infidelidade, serve para mim até como um exemplo de amor ao Altíssimo. Mas, tende coragem! Ana, a profetisa, tomará muito cuidado desta  flor de Davi e de Arão. Neste momento ela é o único lírio de sua estirpe santa, que Davi ainda tem no Templo, e cuidaremos dela como de uma pérola real. Visto que os tempos vão chegando ao fim, as mães da estirpe deveriam consagrar suas filhas ao Templo, dado que há de ser de uma virgem, da estirpe de Davi, que nascerá o Messias. No entanto, por um relaxamento na fé, os lugares das virgens estão vazios. São muito poucas no Templo, e nenhuma da estirpe real, depois que Sara, a esposa de Eliseu, saiu para se casar, há três anos. É verdade que ainda faltam seis lustros para o fim, mas… ainda bem!
Esperemos que Maria seja a primeira de muitas outras virgens da estirpe de Davi diante do Sagrado Véu. E depois… quem sabe… – Zacarias não diz mais nada, mas, pensativo olha para Maria. Depois, retoma o assunto:

– Eu mesmo velarei por ela. Sou sacerdote, e lá dentro tenho as minhas funções. E, no desempenho delas cuidarei deste anjo. Isabel também virá muitas vezes se encontrar com ela…
– Oh! Decerto! Eu tenho tanta necessidade de Deus, e virei dizer isso a esta menina, para que ela o transmita ao Eterno.

Ana se sente reanimada. Isabel, para aliviá-la ainda mais, lhe pergunta:
– Esse não é o teu véu de esposa? Ou será que o fiaste de um novo linho?

– É aquele mesmo. Eu o consagro com ela ao Senhor. Já não tenho mais aquela vista boa… Depois, as riquezas estão muito diminuídas pelos impostos e pelas desventuras… Nem eu podia estar fazendo pesadas despesas. Tomei as providências necessárias só para um bom enxoval durante o tempo que vai passar na Casa de Deus, e para depois… pois penso que não serei eu quem a vai vestir para as núpcias… Mas quero que tenha sido a mão de sua mamãe, ainda que fria e imóvel, a preparar-lhe para as núpcias, fiando os linhos e as vestes de esposa.

– Oh! Por que ficar pensando estas coisas?
– Eu estou velha, prima. Nunca me senti assim, como agora que estou passando por esta dor. As últimas forças de minha vida foram dadas a esta flor, quando a trouxe comigo, quando a alimentei, e agora… agora que estou nas últimas, estou sentindo a dor de perdê-la, o que vai acabar com minhas forças.

Não digas uma coisa dessas. Pensa no Joaquim.
Tens razão. Procurarei viver para o meu homem.
Joaquim fez como se não tivesse ouvido, atento como estava em ouvir Zacarias; mas bem que ele ouviu, e dá um forte suspiro, com os olhos marejados de lágrimas.
– Estamos entre a terça e a sexta horas. Acho que seria bom irmos andando – diz Zacarias.
Levantam-se todos para colocarem-se os mantos e partirem.

Mas antes de saírem, Maria se ajoelha sobre a soleira, de braços abertos. É um pequeno querubim, que implora:
– Pai! Mãe! Dai-me a vossa bênção!

A pequenina é forte, não chora. Mas seus labiozinhos tremem, e a voz, entrecortada por um interno soluço, tem, mais do que nunca, o som do gemido trêmulo da rolinha. Seu rostinho está mais pálido, e seus olhos têm aquele olhar cheio de uma resignada angústia que parece sempre mais forte até provocar-nos um profundo sofrimento. Este olhar só o verei de novo no Calvário e junto ao Sepulcro.
Seus pais a abençoam e beijam. Uma, duas, dez vezes. Não sabem saciar-se… Isabel chora silenciosamente, e Zacarias, por mais que não queira demonstrá-lo está comovido.
Saem. Maria entre o pai e a mãe, como antes. Na frente, vão Zacarias e a mulher.

Ei-los dentro dos muros do Templo.
– Vou ao Sumo Sacerdote. Vós subi até o grande terraço.
Atravessam três pátios e três átrios sobrepostos. Chegam aos pés do grande cubo de mármore coroado de ouro. Cada cúpula, convexa como uma enorme laranja, está brilhando agora ao sol, cujos raios incidem perpendicularmente sobre o vasto pátio que circunda a majestosa construção, ocupando toda a ampla esplanada, abrangendo a escadaria que conduz ao Templo. Só o pórtico, que fica à frente da escadaria, está na sombra, tornando a alta porta feita de bronze e ouro ainda mais escura e majestosa, rodeada de muita luz.

Maria parece ainda mais ser feita de neve, quando anda ao sol. Agora ela está aos pés da escadaria.
Entre o pai e a mãe. Como devem estar batendo os corações dos três! Isabel está ao lado de Ana, mas a um meio passo atrás.

Um toque de trombetas de prata, e a porta, girando sobre as dobradiças, parece produzir um som de cítara, ao correr sobre as esferas de bronze. Pode-se ver agora o interior, com suas lâmpadas lá no fundo, e um cortejo que vem saindo do interior. É um cortejo pomposo, com o soar das trombetas de prata, nuvens de incenso e muitas luzes.

Ei-lo que chega à soleira da porta. O Sumo Sacerdote parece vir à frente. É um ancião cheio de majestade, vestido de linho finíssimo, tendo sobre o linho uma túnica mais curta, também de linho, sobre a qual traz uma espécie de casula, um paramento multicolor, parecido com a planeta e a veste dos diáconos. Nas suas vestes, as cores púrpura e ouro, roxo e branco se alternam, e brilham como pedras preciosas ao sol; duas gemas verdadeiras brilham ainda mais vivamente sobre os ombros.
Também parecem ser duas fivelas em seus engastes preciosos. Sobre o peito uma larga placa reluzente com pedras preciosas presas por uma corrente de ouro. Há ainda pingentes e ornamentos vários, que reluzem na barra da túnica curta, enquanto o ouro lhe resplende sobre a fronte por cima da cobertura da cabeça, fazendo lembrar os padres ortodoxos, na mitra que eles usam em forma de cúpula, diferente da católica, que tem uma ponta.

O solene personagem avança sozinho, até o começo da escadaria, exposto ao brilho do sol, que o torna ainda mais esplêndido. Os outros, numa fila em semicírculo, o esperam do lado de fora da porta, à sombra do pórtico. A esquerda, há um grupo de meninas vestidas de branco, em companhia de Ana, a profetisa, e outras anciãs, que certamente são mestras.
O Sumo Sacerdote olha para a pequena e sorri. Ela deve estar-lhe parecendo muito pequena, ainda mais, aos pés daquela escadaria que parece digna de um templo egípcio! Ele eleva os braços em oração. Todos abaixam a cabeça, como que aniquilados, diante da majestade sacerdotal que está em comunhão com a Majestade eterna.

Depois, chegou a hora! Ele faz um sinal a Maria. E ela se separa da mãe e do pai e sobe, vai subindo, como se estivesse fascinada. Ela sorri. Está sorrindo, agora já à sombra do Templo, onde
desce o Véu precioso… Já está no alto da escadaria, aos pés do Sumo Sacerdote, que lhe impõe as mãos sobre a cabeça, a vítima é aceita. Que hóstia mais pura terá tido algum dia o Templo?
Depois o Sumo Sacerdote se volta até a porta do Templo, conservando a mão sobre o ombro dela, como para conduzir a cordeirinha sem mácula ao altar. Antes de fazê-la entrar, lhe pergunta:
– Maria de Davi, sabes qual é o teu voto? Ao “sim” alto e claro, com que ela lhe responde, ele  exclama:

– Entra, então. Caminha em minha presença. E sê perfeita.
Maria entra, pois, e a sombra a faz desaparecer, enquanto o grupo das virgens e das mestras, e depois o dos levitas, a escondem cada vez mais, até separá-la. Acabou-se…
Agora a porta também gira sobre suas dobradiças harmoniosas… Uma pequena fresta, permite ainda que se veja o cortejo, que se vai encaminhando para o Santo. A fresta torna-se apenas um fio. Já não se vê mais nada. A porta é então fechada.
Ao último acorde das dobradiças sonoras, responde o soluço de dois velhinhos e um único grito:
– Maria! Minha filha! – depois, dois gemidos, um que chama o outro:
– Ana!
– Joaquim! – e terminam, dizendo:
– Demos glória ao Senhor, que a recebe em sua Casa, e a conduz pelo seu caminho.
E tudo termina assim.

Jesus diz: 
“O Sumo Sacerdote havia dito: “Caminha em minha presença, e sê perfeita”. Ele não sabia que estava falando à mulher que era inferior em perfeição só a Deus. Mas ele falava em nome de Deus e, por isso, sua ordem era sagrada. Sempre sagrada, especialmente quando dada àquela que é cheia de sabedoria.
Maria havia merecido que a “Sabedoria fosse ao seu encontro mostrando-se primeiro a ela”, porque, “desde o começo de sua vida, tinha ficado vigiando à sua porta, desejando instruir-se por amor, quis ser pura para conseguir o perfeito amor e merecer ter a sabedoria por mestra”.
Em sua humildade, não sabia que a possuía desde antes de nascer, e que sua união com a Sabedoria não era outra coisa, senão a continuação das divinas palpitações do Paraíso. Ela nem podia imaginar isso. E, quando, no silêncio do coração, Deus lhe dizia palavras sublimes, Ela humildemente pensava que fossem pensamentos de orgulho, e, elevando a Deus seu coração inocente, suplicava:
“Tem piedade de tua serva, Senhor!”.
Oh! É bem verdade que a verdadeira sábia, a virgem eterna, teve um só pensamento, desde a aurora do seu dia: “Dirigir a Deus o seu coração, desde a manhã de sua vida, estando atenta à vontade do Senhor, orando diante do Altíssimo”, pedindo perdão pela fraqueza do seu coração, como sua humildade lhe sugeria, sem saber que estava antecipando os apelos de perdão que haveria de fazer pelos pecadores, aos pés da Cruz, em companhia de seu Filho, quase morto.

“Quando, pois, o Senhor o quiser, ela ficará cheia do Espírito de inteligência, compreendendo, então, sua sublime missão. Por enquanto, não é senão uma pequenina que, na sagrada paz do Templo, abraça, tornando mais estreitos com Deus, os laços de seus colóquios, de seus afetos e de suas recordações.
Isto é para todos.

Mas para ti, pequena Maria, não terá nada em particular para dizer-te o teu Mestre? “Caminha na minha presença: e portanto sê perfeita”. Modifico ligeiramente a frase sagrada fazendo dela uma ordem para ti: sê perfeita no amor, na generosidade, no sofrer.
Olha uma vez mais para minha mãe. E medita sobre aquilo que tantos ignoram ou querem ignorar, porque a dor é uma matéria por demais dura para o seu paladar e o seu espírito. A dor. Maria teve-a desde as primeiras horas da vida. Ser perfeita assim era possuir uma sensibilidade também perfeita.
Portanto mais agudo ainda devia ser o seu sacrifício, sendo, então, mais meritório também. Quem possui pureza, possui amor, quem possui amor possui sabedoria, quem possui sabedoria, possui generosidade e heroísmo, porque sabe o motivo pelo qual se sacrifica.
Eleva para o alto o teu espírito, mesmo quando a cruz te perturba, te estraçalha, te mata. Deus está contigo”.


parte 1
CAPITULO 6
DÚVIDA QUE APRESENTEI AO SENHOR SOBRE A DOUTRINA DESTES CAPÍTULOS, E A SOLUÇÃO DELA.

Finalidades da Encarnação

72. Sobre as inteligências e doutrina dos capítulos anteriores surgiu-me a seguinte dúvida, ocasionada pelo que muitas vezes tenho ouvido de pessoas doutas e é disputado nas escolas: - se a causa e motivo principal para que o Verbo divino se humanasse foi constituí-lo cabeça e primogênito de todas as criaturas (Cl1,15s.), e por meio da união hipostática com a natureza humana, comunicar seus atributos e perfeições, no modo conveniente, por graça e glória aos predestinados.
O assumir carne passível e morrer pelo homem, foi decreto e fim secundário. Sendo assim verdade, por que na santa Igreja há tantas opiniões diferentes sobre isso, sendo a mais comum que o Verbo eterno desceu do céu principalmente para remir os homens, por meio de sua santíssima paixão e morte?

Glória de Deus e redenção do homem

73. Humildemente propus esta dúvida ao Senhor, que se dignou responder. Deu-me inteligência e luz muito vasta, na qual conheci muitos mistérios que não poderei explicar inteiramente, porquanto suas palavras significam muito mais do que o som transmite.
Disse-me: - Esposa e pomba minha, ouve: como teu Pai e mestre, quero responder a tua dúvida e instruir tua ignorância. Adverte que o principal e legítimo fim do decreto de comunicar minha divindade à pessoa do Verbo, unida hipostaticamente à natureza humana, foi a glória que desta comunicação resultaria para meu nome, e para as criaturas capazes da que Eu lhes quis dar.

- Este decreto seria infalivelmente executado na Encarnação, ainda que o primeiro homem não tivesse pecado. Decreto expresso e incondicional na substância, por ele deveria cumprir-se minha vontade de, em primeiro lugar,
comunicar-me à alma e à humanidade do Verbo Encarnado. Assim era conveniente à minha eqüidade e à retidão de minhas obras.
- Ainda que isso foi posterior na execução, na intenção foi anterior. Se tardei enviar meu Unigênito ao mundo, foi porque desejei preparar-lhe um grupo escolhido e santo de justos que, não obstante o pecado original comum a todos, seriam como rosas entre os espinhos dos outros pecadores.
- Em conseqüência da queda do gênero humano, é que determinei com decreto expresso, que o Verbo viesse em
forma passível e mortal para redimir o povo de quem era cabeça. Deste modo, mais se manifestaria meu amor infinito pelos homens, e seria prestada a devida satisfação à minha eqüidade e justiça. Se aquele que pecou era homem, e o primeiro no existir, o Redentor devia ser homem (Cor 15,21), e o primeiro na dignidade.
- Nisto conheceriam os homens a gravidade do pecado, e o amor de todos teria um único objeto, pois um só e o mesmo é seu Criador, Redentor e Juiz. Quis também obrigá-los a esta gratidão e amor, não punindo os mortais, como os anjos apóstatas que castiguei sem apelação. Ao homem perdoei, esperei e lhe dei oportuno remédio, executando o rigor de minha justiça em meu unigênito Filho (Rm 8,32), e passando ao homem a piedade de minha grande misericórdia.

A Encarnação, se não existisse pecado

74. - Para melhor entenderes a resposta de tua dúvida deves advertir que, visto em meus decretos não haver sucessão de tempo, nem eu dele necessitar para entender e agir, os que dizem que o Verbo se encarnou para redimir o mundo não erram, e os que dizem que se encarnaria mesmo que o homem não pecasse, também acertam, desde que o entendam de acordo com a verdade.
- Se Adão não pecara, o Verbo desceria do céu na forma conveniente àquele estado de inocência. Como pecou, houve aquele segundo decreto, para descer passível e reparar o pecado.

- Desejas saber como se executaria o mistério da Encarnação, caso o homem conservasse seu estado de inocência? Sua forma humana na substância seria a mesma, mas com o dom da impassibilidade e imortalidade, como esteve meu Unigênito depois que ressuscitou, até subir aos céus.
Viveria e conversaria com os homens, seus mistérios seriam conhecidos por todos.
Muitas vezes lhes revelaria sua glória, como uma vez em sua vida mortal, a revelou diante de três apóstolos (Mt 17,1) apenas.
- Naquele estado de inocência, todos o veriam com grande glória, alegrar-se-iam na sua convivência, não oferecendo impedimentos às suas divinas influências, já que seriam sem pecado. Tudo isto, porém, foi impedido e frustrado pela culpa, e por causa dela o Verbo veio passível e mortal.

75. - As diversas opiniões em
minha Igreja sobre estes e outros mistérios, tiveram origem no fato de a mestres diversos Eu manifestar á luz de diferentes mistérios.
- Os mortais não são capazes de receber a luz total, e enquanto são viadores, não seria conveniente dar a um deles a ciência de todas as coisas. Mesmo quando compreensores, recebem-na parcialmente, e lhas dou em proporção ao estado e merecimentos de cada um, e como convém à minha providência distribuí-la. A plenitude da ciência só foi devida à humanidade de meu Unigênito e à sua Mãe respectivamente. Os demais mortais nunca a recebem toda, nem tão clara que possam estar seguros de tudo. Por isso adquirem-na com trabalho e estüdo. Ainda que minhas Escrituras contenham muitas verdades reveladas, deixo-os freqüentemente em sua inteligência natural, apesar de que noutras vezes lhas dou infusa.
Daqui procede que entendam os mistérios com diversidade de pareceres e encontrem diferentes explicações e sentidos nas Escrituras, e cada um adota sua opinião conforme a entende. Não obstante a intenção de muitos ser reta, e a luz da verdade em substância ser uma só, entendem e usam dela com diferentes julgamentos, inclinando-se cada qual pelos mestres de sua preferência. Assim originam-se entre eles as controvérsias.

A Encarnação ordenada à Redenção

76. - O motivo de ser mais geral a opinião que o Verbo desceu do céu principalmente para redimir o mundo, procede, entre outras causas, de ser o mistério da redenção e seus fins mais conhecidos, além de já estar realizado, e a Sagrada Escritura nele insistir muitas vezes.
- O desígnio da impassibilidade, pelo contrário, não se executou nem foi decretado absoluta e expressamente. Tudo o que se referia a esse estado, portanto, permaneceu oculto, e ninguém pode vir a sabê-lo, se Eu não lhe der particular luz e revelação, sobre aquela nossa intenção e amor pela natureza humana.
- Ainda que isto poderia comover muito os mortais, se o meditassem e o compreendessem, o decreto e obras da redenção de sua queda, é mais forte e eficaz para movê-los e trazê-los ao conhecimento e correspondência de meu amor, finalidade de todas minhas obras. Por esta vantagem, providencio para que estes motivos e mistérios sejam mais lembrados e tratados do que aqueles outros.

Além disto, numa obra pode haver dois fins, quando um deles é condicional. Se o homem não pecasse, não desceria o Verbo em forma passível, e se pecasse, seria passível e mortal. Deste modo, em qualquer caso não se deixaria de realizar o mistério da Encarnação.

- Quero que os mistérios da Redenção sejam conhecidos, estimados e continuamente lembrados para me agradecerem. Não obstante, quero também que os mortais reconheçam o Verbo humanado por sua cabeça e causa final de toda criação. Foi Ele, depois de minha própria benignidade, o principal motivo que tive para dar existência às criaturas. Deve ser reverenciado, não somente porque redimiu a estirpe humana, mas também porque foi a causa de sua criação.

Utilidade das controvérsias

77. - Adverte, esposa minha, que Eu permito muitas vezes terem os doutores e mestres diferentes opiniões. Uns dizem o verdadeiro e outros o duvidoso, seguindo cada qual seu natural engenho. Noutras ocasiões, permito digam o que não é, ainda que em princípio não seja contrário à verdade obscura da fé, na qual todos os fiéis estão firmes. Em outras dizem o que julgam possível, segundo entendem.

- Com esta diversidade, a luz e a verdade vão sendo investigadas e os mistérios esclarecidos, porque a dúvida serve de estímulo ao entendimento, para inquirir a verdade. Esla é a honesta e santa causa das controvérsias dos mestres.
- Tantas diligências e estudos de grandes e perfeitos doutores e sábios, demonstram também, que em minha Igreja há ciência que forma sábios eminentes, superiores aos do mundo, e que acima de todos há um emendador de sábios (Sb 7, 15), Eu, que unicamente tudo sei, compreendo, peso e meço (Sb 9, 13), sem poder ser medido nem compreendido. Por mais que esquadrinhem meus juízos e testemunhos, não poderão os homens compreendê-los, se Eu, que sou o princípio e autor de toda a sabedoria e ciência, não lhes der inteligência e luz (Jó 32, 8). Sabendo isso, quero que os mortais me louvem, enalteçam e glorifiquem eternamente.

Ás heresias

- Quero também que os santos doutores com seu honesto, santo e louvável trabalho adquiram para si muita graça, luz e glória, para a verdade ir sendo descoberta, esclarecida e cada vez mais se aproxime de sua fonte. Investiguem com humildade os mistérios e obras de minha destra, delas participem e gozem do pão do entendimento (Eclo 15, 3)  de minhas Escrituras.
Usei de grande providência com os doutores e mestres, ainda que suas opiniões e dúvidas tenham sido tão diversas e por diferentes motivos: umas vezes são para minha honra e glória, e outras apenas para impugnar-se e contradizer-se por razões terrenas. Com esta porfia e paixão procedem desigualmente.

Apesar disso, tenho-os governado, dirigido e iluminado, assistindo-os com minha proteção, de maneira que a verdade tem sido muito investigada e esclarecida. A luz para conhecer muitas de minhas perfeições e obras maravilhosas foi bastante aumentada, sendo as santas Escrituras tão altamente interpretadas, que isto muito me tem agradado e satisfeito.

- O inferno, ao contrário, por esta mesma causa, enfureceu-se com incrível inveja, e ainda mais nos tempos atuais. Ergueu seu trono de iniqüidade, combatendo a verdade e pretendendo tragar o Jordão (Jó 40, 18). Valendo-se dos homens (Mt 13, 25), por meio de heresias e falsas doutrinas, derramou sua cizânia para obscurecer a luz da santa fé.
O resto da Igreja, porém, e suas verdades encontram-se em grau perfeitíssimo. É assim que para os fiéis católicos, mesmo quando seduzidos e cegos por outras misérias, se mantêm à luz da verdadeira fé. Mas, são poucos ainda (Mt 22, 14) os que se dispõem a atender-me com total submissão e fervor.

79. - Quero também, minha esposa, que entendas: minha providência dispõe que haja entre os mestres muitas opiniões, a fim de mais se investigarem meus testemunhos. Assim é manifestada aos homens viadores a medula das divinas letras, mediante suas honestas diligências, estudos e trabalhos.
Não obstante, seria de muito agrado e serviço para Mim, que as pessoas doutas evitassem a soberba, inveja, ambição de vangloria, e outras paixões e vícios daí gerados, além de toda a má semente (Idem 13, 29) que resulta de tais trabalhos, quando desempenhados com viciosas intenções. Entretanto, não a arranco logo, para não se extirpar a boa com a má semente.
Tudo isso me respondeu o Altíssimo e outras muitas coisas, que não posso manifestar. Seja eternamente bendita sua grandeza, que houve por bem instruir minha ignorância e satisfazê-la tão adequada e misericordiosamente, sem dedignar-se com a pequenez desta mulher insipiente e de todo inútil. Dêem-lhe graças e louvores sem fim, todos os espíritos bem-aventurados do céu e justos da terra.


MEDITAÇÃO DO ESTUDO
LÁGRIMAS DE JESUS E DE MARIA.

Deveis saber, esposa caríssima que eu conhecia muito bem quais os atos e as ofertas que seriam; agrado de meu Pai e que desejava ardentemente do mim, e eu, em tudo o comprazia, de modo que ficava plenamente satisfeito e contente; e por, esta complacência que de mim recebia, dignava-se ainda comprazer-me o condescender benignamente a respeito dos pedidos que lhe dirigia em prol de meus irmãos, porque o que lhe dizia e fazia, tudo fazia em favor deles, com ânsia e veemente desejo de vê-los todos salvos e para que todos tivessem parte em meus méritos e na Redenção. Por aqueles que deviam disto ficar privados — os quais via bem distem troca da obstinação em que vivem esses míseros cegos, sem a luz da fé e por isso excluídos da Redenção e privados efetivamente de meus méritos. Oh! quanto me afligia ver tantas almas que eu amava e às quais desejava todo o bem por serem obras de meu Pai! Tinha vindo ao mundo para salvá-las e por culpa delas mesmas de nada lhes serviriam a Redenção e tantos méritos! Era meu anelo que todas as almas eleitas se unissem a mim para chorar; e este anelo penetrava no coração de minha Mãe querida e ela também se desfazia em pranto. Agradava-me sobremaneira vê-la tão unida a mim, a chorar tão grande perda. Oferecia estas lágrimas e esta dor a meu Pai, e pedia-lhe desse sentimentos semelhantes às almas escolhidas, especialmente àquelas que podiam fazer algum bem às almas cegas e desventuradas, a fim de ajudá-las e comunicar-lhes o conhecimento do verdadeiro Deus e chamá-las assim à luz da verdadeira fé e fazê-las partícipes da Redenção. Não fosse inútil para elas a Redenção que eu obtivera tão copiosa, por falta de quem lhes ensinasse a verdadeira fé.

O PRIMEIRO BEIJO DE MARIA E JESUS.

Estando, pois, nos braços de minha dileta Mãe e percebendo o desejo de seu coração de dar-me a mim, seu Filho amado, um casto beijo e também recebê-lo de mim — desejava-o muito mais do que a figura da esposa sagrada que dizia ao amado de seu coração: "Ah! Beija-me com os beijos de tua boca!" (Cant. 1:1)— com muito mais ardor ansiava eu por comprazê-la e por ter ainda o prazer que podia receber de uma criatura tão pura e inocente e por mim tão amada e tão amante. Dei-lhe esta satisfação com a plenitude de consolação que podia receber uma criatura tão digna, convidando-a primeiro a aproximar II seus castos lábios de meu rosto, a fim de dar-me e de receber de mim o beijo sagrado. Fiz penetrar este convite amorosamente em seu coração e, como já compreendia minha voz interior, atendeu logo ao amoroso convite, beijou-me a seu gosto e foi correspondida com tanto amor que, enchendo-a de nova graça, fê-la saborear a doçura do casto beijo. Também eu senti grande deleite em recebê-lo dela. E este primeiro beijo dado à minha querida Mãe ofereci a meu Pai, com aquele que dela recebi e com todos esses deleites de espírito que fiz sua alma saborear e que minha humanidade sentiu, rogando-lhe se dignasse fazer com que as almas inocentes que, desejosas de provarem sua suavidade, lha pedissem intensa-,.mente, experimentassem amiúde as doçuras divinas e fosse Ele o primeiro a convidá-las, quando elas o desejassem. De fato, mostrou-se pronto a fazê-lo, dizendo pela boca do profeta real: "Provai e vede como o Senhor lip é bom"! (SI. 33:9). A meu Pai muito agradou esta oferta e súplica e condescendeu benignamente a tudo que lhe pedira, de modo que as almas amantes podem ter o desejo de experimentar a doçura e a suavidade de Deus, porque serão satisfeitas, corno, de fato, o experimenta quem o deseja.

MUlTA PRIVAÇÃO. Não se deve julgar, caríssima esposa, que, ao experimentarmos tanto eu como minha querida Mãe tamanho gosto, suavidade e agrado neste ato amoroso de nos beijarmos com recíproco afeto, eu admitisse com freqüência este gosto; antes, para privar-me de tudo quanto podia causar-me consolação, abstive-me justamente do que mais me consolava. Raríssimas vezes houve entre nós tais atos de mútuo amor. Via o ardente desejo de minha dileta Mãe que excitava em mim um desejo mais veemente não só de comprazê-la, mas de experimentar também eu a doçura de seus castos 'beijos. Tal desejo tão ardente a tinha mortificado e privado daquilo que anelava, embora fosse perfeito e santo. Oferecia a privação, causa de grande pena, visto ser, enquanto Deus, inclinado a comprazer e consolar as minhas criaturas, e enquanto homem, inclinado a receber consolação das mesmas; oferecia, como disse, a privação a meu Pai em desconto das muitas e graves ofensas que a este respeito ele recebia das criaturas. E quando trocava com minha dileta Mãe este ato de recíproco amor, sempre fazia penetrar-lhe no coração o beijo de Judas traidor e os muitos golpes e desprezos que eu devia receber em meu rosto divino. Fazia-o para moderar a doçura e consolação que em tal ação experimentávamos; ela, pensando nos desprezos de que eu seria alvo; eu, na ingratidão daqueles que me haveriam de menoscabar. Assim o deleite era acompanhado sempre da amargura dos futuros sofrimentos.

ENVOLTO EM PANOS.

Depois que minha querida Mãe me segurou durante algum tempo nos braços, já sabia que devia, conforme se faz às outras crianças, envolver-me nos pobres panos preparados para esta ocasião. Minha dileta Mãe fê-lo com muita graça, amor e consolação. Tal consolação, no entanto, não era isenta de amargura, porque lhe dizia ao mesmo tempo ao coração: "Envolvei, minha Mãe, vosso Filho nestes pobres panos, mas sabei que outros liames estão preparados para mim, pois virá o tempo em que serei ligado com cordas e cadeias, sem piedade". Oh! que tormento causaram estas palavras ao coração inocente e amante de minha Mãe querida! — Vendo-me, pois, assim envolto e apertado entre os panos, experimentei a pena que sentiria um homem adulto e de juízo maduro. Oferecia o sofrimento a meu Pai, dizendo-lhe: "Eis, ó Pai, vosso amado Filho envolto em faixas! Eis-me ligado e privado inteiramente de movimento! Rogo-vos que vos digneis em virtude desta minha aflição, desatar os vínculos dos pecados das almas incautas, que, com tanta facilidade, se deixam prender e depois não encontram meios de solver os vínculos da iniqüidade e querem, mas não podem por si mesmas. livrar-se. Portanto, Pai amantíssimo, dai-lhes multa graça e força, para poderem se libertar!" Meu Pai prometeu-me tudo e, de fato, vai efetuando isto todos os dias, enquanto muitas almas se acham emaranhadas em duros vínculos de pecado quase sem o perceberem. São, porém, almas destituídas de malícia plena, antes incautamente constrangidas por alguma consideração ou necessidade aparente, encontram-se envolvidas em culpa, mas desejam com vontade decidida livrar-se dos horríveis vínculos. Meu Pai não deixa de ajudá-las de modo particular e muitas, em virtude desta minha oração, ficam inteiramente livres.

Enchi esta alma feliz de tanto gáudio O de tal doçura que quase caiu em êxtase de amor e, prorrompendo em lágrimas de júbilo, parecia-lhe estar num Paraíso de delícias. Não obstante tantas delicias, experimentou também suas amarguras, enquanto olhava essa pobreza em que eu aceitara estar sem que ele pudesse me socorrer como desejava. Alegrei-me também eu, esposa caríssima, ao ver essa alma santa inundada de tais delícias paradisíacas, tendo em seus braços o seu Deus. Não obstante, afligia-me ver-lhe o sofrimento de não poder me socorrer como seria conveniente. Oferecia esta consolação e esta pena a meu Pai, pedindo-lhe se dignasse consolar todas as almas inocentes, fazendo com que possam me prelibar por meio da infusão da graça divina, especialmente aquelas que se afligem com o pensamento de meus sofrimentos. Meu Pai atendia-me em tudo e, efetivamente, realiza-o, fazendo bem amiúde as almas inocentes experimentarem a doçura de minha presença e da divina graça.

PEDIDO AO PAI ENQUANTO HOMEM

Mas vós, esposa caríssima, ficais muito admirada de ouvir que eu, sendo Deus igual ao Pai, lhe pedia todas essas coisas nesta obra explicadas, uma vez que posso, como Deus, decidir e repartir por mim mesmo todas essas graças e favores às criaturas. Conheceis, caríssima, a grande verdade de que eu, verdadeiro Deus, igual ao Pai, sou urna só coisa com o Pai, conforme afirmei a meus discípulos: "Eu e o Pai somos um só" (Jo. 10:30). Mas deveis saber que, tendo-me encarnado e estando assim unido à natureza humana, sou segundo esta natureza menor do que ele. Tinha vindo ao mundo para fazer sua vontade e ser-lhe em tudo submisso. Então, Filho submisso e obediente, dirigia-lhe todos os pedidos e rogava-lhe concedesse aos meus irmãos todas as graças e favores que já vos contei e ainda contarei. Ao ouvir isto, não vos admireis mais, antes confundi-vos e procurai imitar-me na sujeição às criaturas iguais a vós, porque vivi na terra sempre submisso ao Pai, se bem que fosse Deus como ele; também não fui submisso só ao Pai, mas ouvireis nesta obra a quem estive submisso e a que ponto chegou vosso Deus por amor ao homem que, ingrato e rebelde, recusa as mais das vezes sujeitar-se a seu próprio Criador, resistindo a sua vontade.

JESUS NA MANJEDOURA

Destinado, como já vos disse, a jazer numa manjedoura de animais, sobre uni pouco de feno, minha querida Mãe tornou-me novamente e com as próprias mãos, em companhia de José, colocou-me no presépio e, adorando-me, juntos se puseram genuflexos a contemplar o divino mistério. Jazia eu entre dois animais que procuravam esquentar-me com seu hálito e com este humilde ato me reconheciam corno seu Criador; como se fossem dotados do uso da razão, estavam bem atentos e admirados, parecendo compadecer-se de minha Enquanto me encontrava deitado naquela vil manjedoura, quanto, ó pobreza esposa . minha, agi eu em favor de meus irmãos junto do Pai! Sentia em alto grau, como homem que era, aquela pobreza e humilhação. Via que nascera num estábulo. Além disso repousava num lugar tão humilde, tendo por mimo, um pouco de feno que por sorte aí se achava, sobejo de animais. Via, esposa minha, os dois animais diante de mim, as duas personagens presentes ao meu nascimento. Grande coisa, esposa minha! Quem jamais haveria pensado que vosso Deus se humilhasse tanto até chegar a ficar numa manjedoura em companhia de animais e ter necessidade de seu hálito para se esquentar? No entanto, foi assim! Houve, sem dúvida, primeiro, cantos e sinfonias dos anjos, mas eles foram enviados por meu Pai, a fim de que me honrassem como seu Rei. Porém, que me deu o mundo pelo qual nasci na terra? Um estábulo e uma manjedoura para repouso. Este foi meu primeiro presente por ocasião de minha vinda à terra. Ouvireis depois o que me deu na partida, o que fiz no fim de minha vida. Estando, pois colocado assim no feno, em ato de repouso, sofri em minha humanidade. Em primeiro lugar, ofereci a meu Pai o sofrimento em desconto de tantas suavidades e delicadezas que as criaturas procuram ter em seu repouso, chegando esta suavidade até a enganar mesmo as pessoas mais perfeitas, com a escusa de serem obrigadas a conservar a saúde, quando, ao invés, sem o perceber, satisfazem o amor próprio. Pedi-lhe se dignasse dar graças, forças e virtudes a todos os que nisto soubessem se mortificar, imitando-me, privando-se das delicadezas das quais ainda ordenadamente podiam usar. O Pai se mostrou pronto a assistir a todos e a ajudá-los com sua graça, como efetivamente o fez e está fazendo. E quantos, esposa caríssima, empregaram e empregam o duro pavimento ou um pouco de sarmentos para seu repouso! E no entanto, têm resistência, com tanta generosidade e espírito que parece encontrarem nisto suas delícias. Tudo é fruto de minhas súplicas, visto que, sem graça e assistência particulares, não poderiam aguentar. Vendo-me assim entre dois animais, pedi ao Pai que, em virtude desta humilhação, se dignasse ter piedade e compaixão das almas indignas que, por seus vícios, se tornam semelhantes aos animais; desse-lhes luz e graça, para poderem conhecer o estado miserável em que vivem. E assim como eu não desdenhava estar entre dois animais, assim ele não desdenhasse ficar entre as almas infelizes, com suas luzes e divinas inspirações O Pai prometeu fazê-lo, como deveras o faz; mas as almas insipientes e animais resistem à graça divina, não dão ouvido às divinas inspirações e com sua insipiência e seu desatino encobrem e rejeitam as luzes que o Pai das misericórdias com tanto amor lhes distribui. Afligia-me, esposa caríssima, grande pena por essas almas infelizes. Chorava amargamente sua dureza e cegueira. Oferecia ao Pai minhas lágrimas, a fim de que a divina justiça se desse por satisfeita por todas as ofensas recebidas da parte dos homens animais, de modo tal que, se quisessem retornar ao estado de pessoas racionais, desde já a justiça divina se considerasse satisfeita em relação à satisfação que elas mesmas deveriam dar, por sofrer eu através daquilo em que elas se tornaram culpadas. Deitado assim por algum tempo, e terminados os deveres para com meu Pai, contemplava um por um, distintamente, todos os que me imitariam em semelhantes sofrimentos. Com quanto amor os contemplava! A vista dos sofrimentos deles aliviava um pouco o meu sofrer, porque me consolava ver que haveria quem me amasse e por meio do amor me imitasse. No entanto, esta consolação foi depressa amargurada ao ver tantos e tantas que não só não me imitariam, mas que, ao contrário, procurariam todas as delicadezas, todas as suavidades, mesmo nos próprios lugares...

INTRODUÇÃO
12-7
Maio 2, 1917

Como Jesus morria pouco a pouco.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava a lamentar-me com o meu doce Jesus das suas privações, dizendo-lhe: "Meu amor, quem poderia pensar, que a tua privação me devia custar tanto? Sinto-me morrer pouco a pouco, cada ato meu é uma morte que sinto, porque não encontro a vida, mas morrer e viver é mais cruel ainda, melhor, é dupla morte". E meu amável Jesus, de carreira veio e me disse:
(2) "Minha filha, ânimo e firmeza em tudo, ou o que, não queres me imitar? Também eu morria pouco a pouco, conforme as criaturas me ofendiam em seus passos, Eu sentia o rasgo em meus pés, mas com tal acerbidade de espasmos, capazes de me dar a morte, e enquanto me sentia morrer não morria; conforme me ofendiam com suas obras Eu sentia a morte em minhas mãos, e pelo cruel rasgo Eu agonizava, sentia-me desfalecer, mas a Vontade do Pai me sustentava, morria e não morria; conforme as palavras más, as blasfêmias horrendas das criaturas se repercutiam em minha voz, Eu me sentia sufocar, afogar, amargar a palavra e sentia a morte em minha voz, mas não morria. E meu coração dilacerado conforme pulsava, sentia em meu coração as vidas más, as almas que se arrancavam, e meu coração estava em contínuos dilaceramentos e lacerações; agonizava e morria continuamente em cada criatura, em cada ofensa, não obstante o amor, O Querer Divino, obrigavam-me a viver. Eis por que de
sua morte pouco a pouco, te quero junto Comigo, quero sua companhia em minhas mortes, não está contente?"

13-8
Julho 14, 1921
Assim como o sol forma a vida de toda a natureza, o Divino Querer forma a vida das almas.

(1) Minha vontade nadava no Querer Eterno, e uma luz incompreensível me fazia compreender e me dizia:
(2) "Minha filha, para quem vive em minha Vontade acontece como à terra que está exposta ao sol; o sol, rei de tudo o criado está acima de tudo, e toda a natureza parece mendigar do sol o que forma sua vida, sua beleza, sua fecundidade: a flor mendiga do sol sua beleza, O seu colorido, o seu perfume, e conforme vai brotando e abrindo-se, assim abre a boca para receber do sol o calor e a luz para colorir, perfumar e formar a sua vida; as plantas mendigam do sol a maturidade, a doçura, o sabor; todas as coisas mendigam do sol a sua vida.

(3) Meu Querer é mais que sol, e conforme a alma entra em seus ardentes raios, assim recebe a vida, e ao ir repetindo seus atos em meu Querer, assim recebe, agora minha beleza, agora minha doçura e fecundidade, agora minha bondade e santidade, assim que cada vez que entra nos raios de meu Querer, tantas qualidades divinas de sobra recebe. ¡ Oh! quantas belezas variadas adquire, quanta vivacidade de cores, quantos perfumes, se isto pudesse ser visto pelas demais criaturas, formaria seu paraíso na terra, tal é a beleza destas almas, elas são meus refletores, minhas verdadeiras imagens".

14-8
Março 1, 1922
Como Jesus fica acorrentado pela alma que faz sua Vontade, e a alma por Jesus.

(1) Estava muito aflita pela privação de meu doce Jesus, e depois de muito esperar veio, e de suas chagas fazia correr seu sangue ao redor de meu pescoço e sobre meu peito, e à medida que caíam sobre mim essas gotas de sangue formavam-se como tantos rubis brilhantíssimos, que formavam o mais belo dos adornos. E Jesus olhou para mim e disse:
(2) "Minha filha, como te fica bem o colar do meu sangue, como te embeleza, olha, olha tu mesma como te faz parecer bela".
(3) E eu, um pouco aborrecida porque me tinha feito esperar tanto tenho dito:
(4) "Meu amor e minha vida, oh! Por muito que gostasse de colar o teu braço apertado ao meu pescoço, isso até me agradaria, porque sentiria a vida e me apegaria tanto a Ti, que não te deixaria fugir mais. Suas coisas, é verdade, são belas, mas quando as separa de Ti eu não te encontro a Ti, não encontro a vida, e apesar de ter suas coisas meu coração delira, desvairia e sangra pela dor, porque Você não está comigo. ¡ Ah! se soubesse em que tortura me põe quando não vem, teria mais cuidado de não me fazer esperar tanto".
(5) E Jesus todo enternecido circundou o meu pescoço com o seu braço, tomando uma mão na sua, e acrescentou:

(6) "Eu sei, sei quanto sofres, e para te contentar eis o meu braço como um colar ao redor do teu pescoço, não estás agora contente? Deve saber que a quem faz minha Vontade não posso fazer menos que satisfazê-la, porque conforme respira assim forma o ar de meu Querer em torno de mim, de modo que não só me cinja o pescoço, mas toda a vida, e Eu fico como acorrentado e impedido pela alma com a mesma força da minha Vontade, mas isto não me desagrada, mas sim pelo grande contentamento que sinto, acorrentando-a a ela, e se tu não sabes estar sem Mim, são minhas correntes, minhas algemas que te têm tão estreitada, que basta um momento sem Mim para te dar um martírio tão doloroso, que não há outro igual. Pobre filha, pobre filha, tens razão, Eu terei conta de tudo, mas não te deixo, mais bem me encerro em ti para desfrutar o ar de meu Querer que me forma você mesma, porque ar de minha Vontade é teu bater de coração, teu pensamento, teu desejo, o teu movimento, e eu neste ar encontrarei o meu apoio, a minha defesa e o mais belo repouso sobre o teu peito".

15-8
Fevereiro 22, 1923
Medo ao fingimento. Quem deve subir mais alto que todos, deve descer no mais baixo.

(1) Eu estava muito angustiada pelo pensamento de que o meu estado era um fingimento contínuo.
Que golpe cruel é isso para mim! Chama-me todas as desgraças, põe-me por debaixo de todos os desgraçados e até dos mesmos condenados; alma mais perversa que eu nunca existiu na terra, mas o que mais me dói é não poder sair deste estado de fingimento, pois confessaria a minha culpa e às custas da minha vida não o faria mais, e Jesus que é tão bom, em sua infinita misericórdia perdoaria a esta alma, a mais perversa de todas. Então, depois de ter passado uma destas tormentas, o meu sempre amável Jesus fez-se ver, e eu lhe disse:

(2) "Amado Jesus meu, que pensamento feio é este, ah! Não permita que exista em mim o fingimento, mande-me a morte antes que te ofenda com o vício mais feio, como é o fingimento, isto me aterroriza, me esmaga, me aniquila, me arranca de seus doces braços e me põe sob os pés de todos, mesmo dos mesmos condenados. Meu Jesus, Tu dizes que me amas muito, e depois permites esta separação de minha alma de Ti? Como teu coração pode resistir ante tanta dor minha?"
(3) E Jesus: "Minha filha, coragem, não te abatas, quem deve subir mais alto que todos, deve descer no mais baixo, abaixo de todos. De minha Mãe, Rainha de todos, se diz que foi a mais humilde de todos, porque devia ser superior a todos, mas para ser mais humilde que todos devia descer no mais baixo, por baixo de todos, e minha Celestial Mãe com o conhecimento que tinha de seu Deus Criador, e quem era Ela, criatura, descia tanto no baixo, que à medida que Ela descia assim Nós a elevávamos, mas tanto, que não há nenhum que a iguale. Assim é de ti, a pequena filha de meu Querer, para lhe dar o primado em minha Vontade, devendo elevá-la sobre todos, a faço descer ao mais baixo, por debaixo de todos, e por quanto mais desce tanto mais a elevo e a faço tomar lugar no Querer Divino. Oh, como me rapta quando quem está acima de todos a vejo por debaixo de todos! Eu corro, vôo, para te tomar em meus braços, e faço ampliar teus confins em minha Vontade, por isso permito tudo para teu bem e também para cumprir meus mais altos desígnios sobre ti. Mas não quero que perca tempo pensando e pensando nisso, quando te tomo em meus braços faça tudo a um lado e siga meu Querer".

16-8
Julho 24, 1923

A vontade é o depósito de toda a obra da criatura.

(1) Sentia-me muito oprimida pela privação do meu sempre amável Jesus e dizia entre mim: "Tudo acabou para mim, porque quanto o busco não vem, que tortura, que martírio". Mas enquanto isso eu pensava, meu adorável Jesus fez-se ver crucificado, que se estendia sobre minha pobre pessoa, e uma luz que saía de dentro da sua adorável testa dizia-me:
(2) "Minha filha, a minha Vontade contém todo o meu Ser, e quem em si a possui, possui a Mim mais que se tivesse minha contínua presença, porque minha Vontade penetra em qualquer lugar, nas mais íntimas fibras; conta os batimentos, os pensamentos, torna-se vida da parte mais bela da criatura, isto é, de seu interior, do qual brotam como de uma fonte as obras externas, tornando-a inseparável de Mim; enquanto a minha presença, se não encontrar a minha vontade na alma, não pode ser vida de todo seu interior, e ela fica como dividida de Mim, quantas almas depois de ter gozado de meus favores e de minha presença, não estando nelas a plenitude de minha Vontade, sua luz, sua santidade, foram engolfados de novo na culpa, tomaram parte nos prazeres, se separaram de Mim porque não estava nelas essa Vontade Divina que volta à alma intangível de qualquer culpa, ainda mínima, por isso as obras mais puras, mais santas, maiores, são formadas em quem possui toda a plenitude da minha Vontade. Veja, também na criatura sua vontade tem a primazia, assim se esta esta tem vida, e se esta não está, parece uma árvore que enquanto tem tronco, galhos, folhas, está sem fruto; a vontade na criatura não é pensamento, mas dá a vida à atitude da mente; não é olho, mas dá a vida ao olhar, porque se tem vontade o olho quer ver, quer conhecer as coisas, de outro modo é como se o olho não tivesse vida; não é palavra, mas dá vida a cada uma das palavras; não é mão, mas dá vida à ação; não é passo, mas dá vida ao passo; não é amor, desejo, afeto, mas dá vida ao amor, ao desejo, ao afeto. Mas isto não é tudo, enquanto é vida de todos os atos humanos, ao cumpri-los a criatura fica despojada de seus mesmos atos, como a árvore carregada de frutos é despojada pelas mãos de quem os toma; em vez disso, na vontade ficam como seladas as olhadas que deu, os pensamentos que formou, as palavras que disse, as ações que fez; assim que a mão operou, mas sua ação não fica em suas mãos, passa além e quem sabe para onde vai, mas na vontade fica, por isso tudo fica escrito, formado, selado na vontade humana, e se isto passa na vontade humana só porque pus o germe, a semelhança da minha, pensa tu mesma como será a minha em Mim mesmo, e como será se a criatura se faz possuir de mim Vontade".

17-10
Setembro 2, 1924

Quanto dano causa a desconfiança na alma.

(1) Sentia-me muito oprimida, mas toda abandonada nos braços de Jesus, e lhe pedia que tivesse compaixão de mim, mas enquanto isso fazia senti perder os sentidos, e via que saía de dentro de mim uma pequena menina, débil, pálida e toda absorta em uma profunda tristeza; e Jesus bendito, indo ao seu encontro, tomava-a nos braços e, movendo-se com piedade, apertava-a ao coração, e com as mãos acariciava-lhe a testa, marcando-lhe com sinais de cruz os olhos, os lábios, o peito e todo o resto da menina; enquanto isso fazia a menina se revigorava, adquiria a cor e se sacudia do estado de tristeza, e Jesus vendo que a menina readquiria as forças, a estreitava mais forte para mais energizar e lhe dizia:.
(2) "Pobre pequena, a que estado estás reduzida, mas não temas, teu Jesus te fará sair deste estado".
(3) Então, enquanto isso acontecia eu pensava entre mim: "Quem será esta menina que saiu de mim e que Jesus ama tanto?" E meu doce Jesus me disse:.

(4) "Minha filha, esta menina é a tua alma, e Eu a amo tanto que não tolero ver-te tão triste e débil, por isso vim para infundir-te nova vida e novo vigor".
(5) Então eu, ouvindo isto, disse-lhe chorando: "Meu amor e minha vida, Jesus, quanto temo que Tu me deixes, como farei sem Ti? Como poderei viver, a que estado deplorável se reduzirá minha pobre alma? Que pena tão dilacerante é o pensamento de que Você possa me deixar! Pena que me lacera, me tira a paz e me põe o inferno no coração. Jesus, piedade, compaixão, misericórdia de mim, pequena menina, não tenho ninguém, se me deixares, tudo terá terminado para mim".
(6) E Jesus, falando de novo acrescentou: "Minha filha, acalma-te, não temas, teu Jesus não te deixa. Eu sou ciumento de sua confiança, não quero que desconfie minimamente de Mim. Olhe, Eu amo tanto que as almas estejam com toda confiança Comigo, que muitas vezes escondo algum defeito ou imperfeição delas, ou alguma incorrespondência a minha graça, para não dar-lhes ocasião de que não estejam Comigo com toda confiança, porque se perde a confiança a alma fica como dividida de Mim e toda encolhida em si mesma, põe-se a distância de Mim e fica paralisada no lançar-se ao amor, e por isso paralisada no sacrificar-se por Mim. ¡ Oh! quanto dano faz a desconfiança, pode-se dizer que é como essa geada primaveril que apaga a vida às plantas, e muitas vezes se a geada é forte as faz mesmo morrer; assim a desconfiança, mais que geada detém o desenvolvimento às virtudes e põe o gelo ao mais ardente amor; OH! quantas vezes por falta de confiança ficam presos meus desígnios e as maiores santidades, por isso Eu tolero qualquer defeito exceto a desconfiança, porque jamais lhe podem produzir tanto dano. E além disso, como posso deixá-la se trabalhei tanto em sua alma? Olhe um pouco quanto tive que
trabalhar"..
(7) E enquanto dizia isto, fazia ver um palácio suntuoso e imenso, construído pelas mãos de Jesus
no fundo da minha alma e depois acrescentou:
(8) "Minha filha, como posso deixar-te? Veja quantas permanências, são quase inumeráveis; por
quantos conhecimentos, efeitos, valores e méritos em minha Vontade te fiz conhecer, tantas
permanências formava Eu em ti, para depositar todos esses bens. Não me resta outra coisa, que
acrescentar alguma outra variedade de outras cores diferentes para pintar outras raras belezas de
minha Suprema Vontade, para dar mais realce e honra a meu trabalho. E você duvida, pensando
que poderia deixar tanto trabalho meu? Me custa muito, está minha Vontade comprometida, e onde
está minha Vontade está a Vida, Vida não sujeita a morrer. Seu temor não é outra coisa que um
pouco de desconfiança de sua parte, por isso confia de Mim e estaremos de acordo, e Eu cumprirei
o trabalho de minha Vontade"..

18-8
Outubro 21, 1925
Efeitos de um ato feito na Divina Vontade. A dor de Jesus está suspensa na Divina Vontade esperando o pecador.

(1) Esta manhã meu doce Jesus me disse: "Minha filha, trago-te o beijo de todo o Céu". E enquanto isso dizia me beijou e acrescentou:.
(2) "Todo o Céu está em minha Vontade, e tudo o que Eu faço, estando eles neste Supremo Querer, sentem o eco de meus atos e repetem como respondendo ao meu eco o que faço Eu".
(3) Dito isto desapareceu, mas depois de algumas horas voltou dizendo-me:.
(4) "Minha filha, devolve-me o beijo que te dei, porque todo o Céu, minha Mãe, nosso Pai Celestial e o Divino Espírito estão esperando a correspondência de teu beijo, porque tendo saído um ato deles em minha Vontade para a criatura que vive no exílio, desejam que lhes seja restituída a correspondência em minha mesma Vontade".
(5) Então, aproximando sua boca à minha, quase tremendo lhe dei meu beijo, o qual produziu um som harmonioso nunca ouvido, que se elevava ao alto e se difundia em tudo e a todos. E Jesus, com um amor indescritível acrescentou:.
(6) "Como são belos os atos na minha Vontade! Ah! você não sabe a potência, a grandeza, a maravilha de um ato em minha Vontade, este ato move tudo, Céu e terra como se fosse um ato só, e tudo o criado, anjos, santos, dão e recebem a correspondência desse ato. Por isso um ato feito em minha Vontade não pode estar sem correspondência, de outra maneira todos sentiriam dor de um ato divino que moveu a todos, no qual todos puseram do seu, e no entanto não correspondido.
O obrar da alma em minha Vontade é como o som argentino de um vibrante e sonora sino que soa tão forte, que chama a atenção de todos, e soa e ressoa tão doce, que todos conhecem nesse som, o obrar da alma em minha Vontade, recebendo todos a glória, a honra de um ato divino"..

(7) E, dito isto, desapareceu. Mais tarde, continuando a fundir-me na Vontade Divina, magoando-me por cada ofensa que foi feita a meu Jesus, desde o primeiro até o último homem que virá sobre a terra, e enquanto me doía pedia perdão, mas enquanto isso fazia dizia entre mim:
(8) "Meu Jesus, meu amor, não me basta magoar-me e pedir-te perdão, senão que quisesse aniquilar qualquer pecado, para fazer que jamais, jamais, sejas ofendido". E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:.
(9) "Minha filha, Eu tive uma dor especial por cada pecado, e sobre minha dor estava suspenso o perdão ao pecador. Agora, esta minha dor está suspensa em minha Vontade esperando o pecador quando me ofende, a fim de que, magoando-se de me ter ofendido, desça a minha dor para que se magoe juntamente com a sua, e em breve lhe dê o perdão; mas quantos me ofendem e não se magoam? E minha dor e perdão estão suspensos em minha Vontade e como isolados. Obrigado minha filha, obrigado por vir em minha Vontade a fazer companhia a minha dor e a meu perdão.
Continua girando em minha Vontade e fazendo tua minha mesma dor, grita por cada ofensa: talha dor, perdão', a fim de que não seja só Eu a me doer e a impetrar o perdão, senão que tenha a companhia da pequena filha de meu Querer que se dói junto Comigo"..

19-8
Março 28, 1926

Com viver no Querer Divino todos os bens ficam concentrados na alma. A finalidade primária da Redenção foi o Fiat Divino.

(1) Tendo recebido a Santa Comunhão, estava chamando a todos, a minha Rainha Mãe, aos santos, ao primeiro homem Adão, com o séquito de todas as gerações até o último homem que virá sobre a terra e além de todas as coisas criadas, a fim de que todos junto comigo, prostrados à volta de Jesus, adoremo-lo, abençoá-lo e amá-lo, a fim de que a Jesus nada lhe faltasse em torno de todas as obras que saíssem das suas mãos, nem um só coração que pulsasse, nem um sol que resplandecesse, nem a vastidão do céu azul adornado de estrelas, nem o mar que murmura, nem sequer a pequena flor que eleva seu perfume, tudo e a todos gostaria de concentrar em torno de
Jesus Hóstia, a fim de que lhe rendessem as honras devidas; seu Querer me fazia tudo presente como se tudo fosse meu, e eu queria dar tudo a Jesus. Agora, enquanto fazia isto, parecia-me que Jesus era feliz ao olhar para todas as gerações e as suas coisas em torno dele, e, estreitando-me a Si, disse-me:.

(2) "Minha filha, como estou contente ao ver em torno de Mim todas as minhas obras, sinto-me restituir a alegria, a felicidade que lhes dei ao criá-las, e Eu lhes retribuo com nova felicidade; este é o grande bem que contém e leva a minha Vontade, e em quem vive nela concentra os bens de todos nela, porque a minha Vontade não há bem que não leve e vincula a alma a todos e a tudo o que a Ela pertence, assim que se a criatura não se houvesse subtraído do meu Querer, Eu devia  encontrar a todos em uma, e a cada uma em todos; os bens, a luz, a força, a ciência, o amor, a beleza, deviam ser comuns a todos, não devia haver nem teu nem meu, nem na ordem natural nem na ordem espiritual, cada uma das criaturas poderia tomar quanto quisesse. Símbolo do sol devia ser a vida humana em minha Vontade, que todos podem tomar a luz por quanto queiram, sem que a nenhum lhe falte; mas como se subtraiu de minha Vontade, os bens, a luz, a força, o amor, a beleza, ficaram divididos e como incompletos entre as criaturas, Por isso não houve mais ordem, nem harmonia, nem verdadeiro amor, nem para Deus nem entre eles. Oh! Se o sol pudesse ser dividido em tantos raios, separando-se do centro da luz, estes raios solares acabariam se tornando trevas, e o que seria da terra? Ah, certamente nenhum poderia ter tido mais uma luz toda sua e toda para si! Assim foi da minha Vontade, o homem ao subtrair-se dela perdeu a plenitude dos bens, a plenitude da luz, da força, da beleza, etc., e por isso foi obrigado a viver com privações. Por isso sê atenta, teu viver em meu Querer seja contínuo, a fim de que tu contenhas tudo e Eu encontre a todos em ti".

(3) Depois estava pensando entre mim: "Se tanto bem contém o verdadeiro viver na Suprema Vontade, por que minha Mãe Celestial, que era toda Vontade de Deus, não conseguiu junto ao suspirado Redentor o Fiat Voluntas Tua como no Céu assim na terra, e assim fazer regressar o homem naquele Fiat Supremo de onde saiu, para dar-lhe novamente todos os bens e o fim pelo qual tinha sido criado? Muito mais que Ela, sendo toda Vontade de Deus, não tinha nenhum alimento estranho a Deus, portanto possuía a mesma potência divina e com esta tudo podia
conseguir". E meu doce Jesus movendo-se de novo dentro de mim, suspirando acrescentou:.

(4) "Minha filha, tudo o que minha Mãe fez e tudo o que eu fiz na Redenção, sua finalidade primária era que meu Fiat reinasse sobre a terra; não seria nem decoroso, nem verdadeiro amor, nem grande magnanimidade, nem muito menos agir como aquele Deus que era, se, vindo ao mundo, eu devesse e quisesse dar às criaturas a coisa mais pequena, como eram os meios para salvar-se, e não a maior coisa, como era a minha Vontade, que contém não só os remédios mas todos os bens possíveis que há no Céu e na terra, e não só a salvação e a santidade, mas aquela santidade que a eleva à própria Santidade do seu Criador.  Oh, se você pudesse penetrar em cada oração, ato, palavra e pena de minha indivisível Mamãe, você encontraria dentro de si o Fiat que suspirava e pedia; se pudesse penetrar dentro de cada gota de meu sangue, em cada coração meu, respiro, passo, obra, dor e lágrima, encontrarias dentro o Fiat que tinha a supremacia, que suspirava e pedia para as criaturas, mas enquanto o fim primário era o Fiat, minha bondade devia descer ao fim secundário e quase fazer como um mestre que enquanto possui as ciências mais altas, e poderia dar lições nobres e sublimes, dignas de si, como os escolares são todos analfabetos deve-se abaixar a dar lições de: a, b, c, para poder pouco a pouco chegar à sua finalidade primária de dar as lições da ciência que possui para fazer outros tantos mestres dignos de tal mestre; se este mestre não se quiser rebaixar a dar lições de estudos inferiores e quiser dar lições de sua alta ciência, os escolares, sendo analfabetos, não o teriam entendido e confundidos por tanta ciência ignorada por eles o teriam deixado, e o pobre mestre por não ter querido baixar-se, não deu nem o pequeno bem de sua ciência nem o grande.

Agora minha filha, quando Eu vim à terra as criaturas eram todas analfabetas nas coisas do Céu, e se Eu tivesse querido falar do Fiat e do verdadeiro viver nele, teriam sido incapazes de compreendê-lo se não conheciam o caminho para vir a Mim, em sua maior parte eram coxos, cegos, doentes, devia ter-me abaixado nos vestidos da minha Humanidade que cobriam aquele Fiat que queria dar, irmanar-me com eles, misturar-me com todos para poder ensinar as primeiras noções, o a, b, c, do Fiat Supremo, e tudo o que Eu ensinei, fiz e sofri, não foi outra coisa que preparar o caminho, o Reino e o domínio a minha Vontade. Este é o costume em nossas obras, fazer as coisas menores como ato preparatório às coisas maiores, não fiz contigo outro tanto? Ao princípio não te falei do Fiat Supremo, nem da altura, nem da santidade a que Eu queria que você chegasse em meu Querer, nem te fiz nenhuma menção da grande missão a que te chamava, senão que te tive como a uma pequena menina, com a qual eu me deleitava em te ensinar a obediência, o amor ao sofrer, o desapego de tudo e de todos, a morte a teu próprio eu; e conforme tu te prestavas eu me alegrava, porque via em ti preparado o posto onde colocar o meu Fiat e as lições sublimes que pertenciam à minha Vontade. Assim foi na Redenção, tudo foi feito com a finalidade de que o Fiat pudesse de novo reinar na criatura, como quando a tiramos de nossas mãos criadoras; nós não temos pressa em nossas obras, porque temos não somente os séculos mas toda a eternidade a nossa disposição, por isso vamos a passo lento, mas com o nosso triunfo; primeiro preparamos e depois fazemos. Não por haver-me regressado ao Céu minha potência diminuiu de como era quando estava na terra, minha potência é sempre igual, tanto estando no Céu como na terra; não chamei e escolhi a minha Mãe estando em minha pátria celestial? Assim te chamei e escolhi a ti com aquela mesma potência que nenhum pode resistir-me para o suspirado Fiat, mas bem te digo que para obter isto, tu tens à tua disposição coisas maiores e mais importantes que não as teve minha amada Mamãe, por isso tu és mais feliz, Porque ela não teve uma Mãe, nem as suas obras por ajuda para conseguir o suspirado Redentor, mas só teve o cortejo dos atos dos profetas, dos patriarcas e dos bons do antigo testamento e dos grandes bens previstos do futuro Redentor. Mas tu tens uma Mãe e todas as suas obras por ajuda, tens as ajudas, as penas, as orações e a mesma Vida, não prevista mas realizada, do teu Redentor; não há bem nem orações que tenham sido feitas ou feitas na Igreja que não estejam contigo para te ajudar a obter o suspirado Fiat; e como tudo o que foi feito por Mim, pela Rainha do Céu e por todos os bons, o fim primário era o cumprimento da minha Vontade, por isso tudo está contigo para implorar a realização da sua finalidade. “Por isso seja atenta, Eu estarei junto contigo, também minha Mãe, não estarás sozinha a suspirar o triunfo de nossa Vontade".

 

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