ESCOLA DA DIVINA VONTADE - QUARTA SEMANA DE ESTUDOS

 MEDITAÇÃO DO ESTUDO 4

Purificação interior. Purificação do interior de sua alma.
Quando o Divino Mestre me libertou do mundo externo, então pôs a mão a purificar o interior, e
com voz interior me dizia:
(24) "Agora estamos sozinhos, não há mais quem nos perturbe, não está agora mais contente que antes que devia contentar a tantos e tantos? Olha, é mais fácil contentar um só, deves fazer de conta que eu e tu estamos sozinhos no mundo, promete ser fiel e eu verterei em ti tais e tantas graças que tu mesma ficarás maravilhada".
(25) Depois continuou a dizer-me: "Sobre ti fiz grandes desígnios, sempre e quando tu me corresponderes, quero fazer de ti uma perfeita imagem minha, começando desde que nasci até que morri; Eu mesmo te ensinarei um pouco cada vez o modo como o farás".
(26) E acontecia assim: Todas as manhãs, depois da Comunhão, dizia-me o que devia fazer no dia. Direi tudo brevemente, porque depois de tanto tempo é impossível poder dizer tudo. Não me lembro bem, mas me parece que a primeira coisa que me dizia que era necessária para purificar o interior de meu coração, era o aniquilamento de mim mesma, isto é, a humildade. E continuava dizendo-me:

27) "Olha, para fazer com que Eu derrame as minhas graças no teu coração, quero fazer-te compreender que por ti nada podes. Eu me cuido muito bem daquelas almas que se atribuem a si mesmas o que fazem, querendo me fazer tantos furtos de minhas graças. Em vez disso, com aquelas que se conhecem a si mesmas, Eu sou generoso em verter a torrentes minhas graças, sabendo muito bem que nada se referem a elas mesmas, agradecem-me e têm a estima que convém, Vivem com medo de que, se não me corresponderem, posso tirar-lhes o que lhes dei,
sabendo que não é uma delas. Pelo contrário, nos corações que fedem de soberba, nem sequer posso entrar em seu coração, porque inflado deles mesmos não há lugar onde possa me colocar; as miseráveis não levam em conta minhas graças e vão de queda em queda até à ruína. Por isso quero que neste dia faça contínuos atos de humildade, quero que você esteja como um menino envolto em fraldas, que não pode mover nem um pé para dar um passo, nem uma mão para agir, senão que tudo o espera da mãe, assim você estará junto a Mim como um menino, me rogando sempre que te assista, que te ajude, confessando-me sempre teu nada, em suma, esperando tudo de Mim".
(28) Então procurava fazer quanto mais podia para satisfazê-lo, me diminuía, me aniquilava, e às vezes chegava a tanto, de sentir quase desfeito meu ser, de modo que não podia obrar, nem dar um passo, nem sequer um respiro se Ele não me sustentava. Além disso, eu estava tão mal que tinha vergonha de me deixar ver pelas pessoas, sabendo que sou a mais feia, como em realidade Eu ainda sou, então quanto mais eu podia fugir e dizer entre mim: "Oh, se vocês soubessem como eu sou ruim, e se pudessem ver as graças que o Senhor está me fazendo, (porque eu não dizia nada a ninguém) e que eu sou sempre a mesma; oh, como me teriam horror!".

(29) Depois, na manhã em que ia de novo a comungar, me parecia que ao vir Jesus a mim fazia festa pelo contente que sentia ao me ver tão aniquilada, me dizia outras coisas sobre o aniquilamento de mim mesma, mas sempre de maneira diferente da anterior, Acho que não uma, mas centenas de vezes ele falou comigo, e se ele me tivesse falado milhares de vezes teria sempre novas maneiras de falar sobre a mesma virtude, oh! meu Divino Mestre, quão sábio és, se ao menos te tivesse correspondido .

(30) Lembro-me de uma manhã, quando ele me falava sobre a mesma virtude, ele me disse que por falta de humildade havia cometido muitos pecados, e que se eu tivesse sido humilde, eu teria ficado mais perto dele e não teria feito tanto mal; ele me fez entender como o pecado era feio, a afronta que este miserável verme tinha feito a Jesus Cristo, a ingratidão horrenda, a impiedade enorme, o dano que tinha vindo a minha alma. Fiquei tão espantada que não sabia o que fazer para reparar, fazia algumas mortificações, pedia outras ao confessor, mas poucas me eram concedidas, assim que todas me pareciam sombras e não fazia outra coisa que pensar em meus
pecados, mas sempre mais estreita a Ele. Tinha tanto medo de me afastar dele e de agir pior que antes, que eu mesma não sei explicar. Não fazia outra coisa quando me encontrava com Ele que dizer-lhe a pena que sentia por havê-lo ofendido, pedia-lhe sempre perdão, agradecia-lhe porque tinha sido tão bom comigo, e dizia-lhe de coração: "Olha, oh! Senhor o tempo que perdi, enquanto poderia ter te amado".

2-2
Março 10, 1899

O Senhor o faz ver muitos castigos.

(1) Estando em meu habitual estado, fez-se ver meu sempre amável Jesus, todo amargo e aflito e me disse:
(2) "Minha filha, minha justiça se tornou muito pesada, e são tantas as ofensas que me fazem os homens que não posso mais sustentá-las. Portanto a foice da morte está a ponto de matar a muitos, de improviso e de enfermidades, e além disso são tantos os castigos que verterei sobre o mundo, que serão uma espécie de juízo".

(3) Quem pode dizer os tantos castigos que me fez ver, e o modo como eu fiquei aterrorizada e espantada? É tanta a dor que sente minha alma, que acho que é melhor passá-la em silêncio.
(4) Continuo dizendo porque a obediência o quer; então me parecia ver as ruas cheias de carne humana e o sangue que inundava a terra, cidades sitiadas por inimigos que não perdoavam nem sequer as crianças; me pareciam como tantos animais saídos do inferno, não respeitaram nem igrejas nem sacerdotes. Parecia que o Senhor mandava um castigo do Céu, qualquer que seja não sei dizer, só me parecia que todos receberemos um golpe mortal, e quem ficará vítima da morte e quem se recuperará. E pareceu-me também ver as plantas secas
e muitos outros males que devem vir em cima das colheitas. ¡ Ó Deus, que pena ver estas coisas e estar obrigada a manifestá-las! ¡ Ah Senhor, se apresse, eu espero que seu sangue e suas chagas sejam nosso remédio, ou então os jogue sobre esta pecadora, pois os mereço, de outra maneira leve-me e então estará livre de fazer o que quiser, mas enquanto viva farei o possível para me opor!

3-4
Novembro 6, 1899

Pureza de intenção.

(1) Esta manhã, tendo vindo o adorável Jesus e transportando-me para fora de mim mesma, fez-me ver ruas cheias de cadáveres. Que cruel carnificina! dá horror pensar. Depois fez-me ver que acontecia uma coisa no ar e muitos morriam de improviso; vi isso também no mês de Março. Eu comecei, segundo meu costume, a rogar-lhe que se acalmasse e que livrasse a suas mesmas imagens de suplícios tão cruéis, de guerras tão sangrentas, e como tinha a coroa de espinhos a tirei para que eu a colocasse, e isto para aplacá-lo principalmente; Mas com grande tristeza vi que quase todos os espinhos estavam quebrados na sua cabeça santíssima, de modo que pouco me restava para sofrer a mim. Jesus se mostrava severo; quase sem me prestar atenção o que significava aquilo, para romper esse ar severo que tinha lhe disse: "Dulcíssimo amor meu, te ofereço estes movimentos de meu corpo que Tu mesmo me fizeste e todos os demais que possa eu fazer, com o único fim de te agradar e te glorificar. Ah sim, quero que também os movimentos das pálpebras, os de meus olhos, de meus lábios e de toda eu mesma sejam feitos com o único fim de te agradar só a Ti. Faze, ó bom Jesus, que todos os meus ossos, os meus nervos, ressoem entre eles e com clara voz te atestem o meu amor".

(2) E Ele me disse: "Tudo o que se faz com a única finalidade de me agradar, resplandece Diante de mim de uma maneira tal, que atrai meus olhares divinos, e me agrada tanto, que a essas ações, embora fossem só um movimento de cílios, lhes dou o valor como se fossem feitas por Mim. Em troca as outras ações, que em si mesmas são boas e ainda grandes, não feitas unicamente para Mim, são como esse ouro enlameado e cheio de ferrugem que não resplandece, e Eu não me digno nem sequer olhá-las".
(3) E eu: "Ah Senhor, que fácil é que o pó suje nossas ações".
(4) E Ele: "Não se necessita prestar atenção ao pó, porque este se agita, ao que há que atender é à intenção".
(5) Agora, enquanto isso se dizia, Jesus se ocupava em atar-me os braços. Eu lhe disse: "Senhor, que fazes?"
(6) E Ele: "Faço isto porque Tu estando na posição da crucificação me aplacas, e como Eu quero punir as pessoas Eu estou amarrando-os a você".
(7) E disse isso desapareceu.

4-4
Setembro 10, 1900

Ameaça contra os perversos.

(1) Esta manhã me encontrei fora de mim mesma e via as tantas infâmias e pecados enormes que se comentem, assim como também os cometidos contra a Igreja e o Santo Padre. Depois, voltando em mim mesma, veio o meu adorável Jesus e disse-me:
(2) "Que dizes tu do mundo?"
(3) E eu, sem saber aonde queria chegar com esta pergunta, impressionada como estava pelas coisas vistas, disse: "Senhor bendito, quem pode dizer a perversidade, a dureza, a feiúra do mundo? Não tenho palavras para te dizer o quão ruim é".
(4) E Ele, tomando ocasião de minhas mesmas palavras acrescentou: "Viu como é perverso? Tu mesma o disseste, não há maneira de fazê-lo render-se, depois de que quase lhe tirei o pão, permanece na mesma obstinação, bastante pior, e por agora vai consegui-lo com os roubos e com as rapinas, fazendo mal aos seus semelhantes, portanto, é necessário que você toque a pele, caso contrário você vai perverter mais".

(5) Quem pode dizer como fiquei petrificada ante este falar de Jesus, me parece que fui eu a ocasião para fazer que se irritasse contra o mundo; em vez de desculpá-lo o tenho pintado preto, depois fiz o que pude por desculpá-lo, mas não me prestou atenção; o mal já estava feito. Ah Senhor, perdoe esta falta de caridade e use misericórdia!

5-4
Março 23, 1903
Se o amor é santo forma a vida da santificação, se é perverso a vida da condenação.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, depois de ter esperado muito, vi por pouco tempo a meu adorável Jesus entre meus braços e uma luz que saía de sua testa, e nesta luz estavam escritas as seguintes palavras: "O amor é tudo para Deus e para o homem, se cessa o amor cessaria a vida, porém há duas espécies de amor, um espiritual e divino, e o outro corporal e desordenado, e entre estes amores há grande diferença entre eles pela intensidade, multiplicidade, diversidade, pode-se quase dizer que é a diferença que há entre o pensar da mente e do agir das mãos; a mente em brevíssimo tempo pode pensar em centenas de coisas, onde as mãos apenas
podem fazer uma só obra. Deus Criador, se cria às criaturas, é o amor que faz que as crie; se tem em contínua atitude seus atributos para com as criaturas, é o amor que a isto o empurra, e seus mesmos atributos do amor recebem a vida. O mesmo amor desordenado, como às riquezas, aos prazeres e a tantas outras coisas, não são estas as que formam a vida do homem, mas se sente amor a estas coisas, não só formam a vida, mas chega a fazer delas um ídolo próprio. Assim, se o amor é santo forma a vida da santificação, se é perverso forma a vida da condenação.

6-4
Novembro 16, 1903

Não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o esquecimento de si mesmo fazem nascer o amor mais puro e perfeito.

1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus nos braços, e uma virgem que me estendeu em terra para me fazer sofrer a crucificação, mas não com pregos, mas com fogo, pondo-me um carvão de fogo nas mãos e nos pés, e o bendito Jesus que me assistia enquanto sofria, dizia-me:

(2) "Minha filha, não há sacrifício sem esquecimento de si mesmo, e o sacrifício e o esquecimento de si faz nascer o amor mais puro e perfeito, e sendo sagrado o sacrifício, acontece que este me consagra à alma como digno santuário meu para fazer ali minha perpétua morada. Então faz com que o sacrifício trabalhe em ti para te tornares sagrado a alma e o corpo, para que tudo seja em ti sagrado, e consagra-me tudo a Mim".

7-3
Fevereiro 12, 1906

As virtudes nos fazem chegar a certa altura. Na Divina Vontade não há limites.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, sentia-me toda oprimida pela privação de meu bendito Jesus, então, quando veio me disse:
(2) "Minha filha, todas as virtudes nas criaturas fabricam um muro de determinada altura, mas o muro da alma que vive na Vontade de Deus é um muro tão alto e profundo, que não se encontra nem a profundidade, nem a altura, e é todo de ouro puro e maciço, não sujeito a nenhum infortúnio, Porque estando este muro no Divino Querer, isto é, em Deus, o próprio Deus o conserva, e contra Deus não há poder que valha, e a alma, enquanto vive neste Querer Divino, é revestida por uma luz toda semelhante à daquele em que vive, tanto, que até no Céu resplandecerá mais que todos os outros e será para os mesmos santos ocasião de maior glória.

Ah! Minha filha, pense um pouco que ambiente de paz, de bens contém a única palavra: "Vontade de Deus", a alma, com o único pensamento de querer viver neste ambiente, já se sente mudada, sente um ar divino que a investe, sente perder seu ser humano, sente-se divinizada; de impaciente se torna paciente; de soberba, humilde, dócil, caritativa, obediente; em suma, de pobre se faz rica; todas as outras virtudes surgem para fazer coroa a este muro tão alto que não tem confins; porque Deus não tem confins, a alma fica perdida em Deus e perde seus próprios confins e adquire os confins da Vontade de Deus".

8-3
Julho 1, 1907

Na Divina Vontade se esquecem os pecados.

(1) Estava lendo sobre uma santa que sempre pensava nas próprias culpas, e que pedia a Deus dor e perdão. E eu no meu íntimo dizia: "Senhor, que diferença entre esta santa e eu, eu nunca penso nos pecados, e ela que sempre pensa neles, vê-se que me enganei". Nesse instante o senti mover-se em meu interior e se fez como um relâmpago de luz em minha mente, e ouvi que me diziam:
(2) "Néscia, néscia que és, não queres entendê-lo? Quando minha Vontade produziu pecados, imperfeições?
Minha Vontade é sempre santa, e quem vive nela já fica santificado, e goza, alimenta-se e pensa em tudo o que a minha Vontade contém, e ainda que no passado tenha cometido pecados, encontrando-se na beleza, na santidade, na imensidão dos bens que contém a minha Vontade, esquece o feio do seu passado e recorda-se só do presente, com a condição de que não saia de meu Querer; mas se chegar a sair, regressando ao próprio ser, não é de admirar que recorde pecados e misérias. Tenha presente em sua mente que em minha Vontade não entram nem podem entrar estes pensamentos de pecados e de si mesma, e se a alma os sente significa que não é estável nem está fixa dentro de Mim, senão que se dá suas escapadas".

(3) Encontrando-me depois no meu habitual estado, assim que o vi disse-me:
(4) "Minha filha, a verdade, por quanto for perseguida, não se pode fazer menos que reconhecer que é verdade, e chegará o tempo em que essa mesma verdade perseguida virá a ser reconhecida e amada.
Nestes tristes tempos tudo é falsidade e dobra, e para fazer com que a verdade possa governar, o homem  Necessita ser castigado e destruído; e estes golpes, parte eles mesmos se darão e se destruirão mutuamente, outros virão de Mim, especialmente para a França, onde haverá grande mortalidade, tanto, que ficará quase despovoada".

9-3
Maio 5, 1909

Os sofrimentos imprimem a Santidade de Jesus na alma.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o meu benigno Jesus fez-se ouvir com
a sua doce voz, dizendo-me:

(2) "Minha filha, as mortificações, misérias, privações, dores, cruzes, servem a quem se serve deles para imprimir minha santidade na alma, e para ir embelezado de todas as variedades das cores divinas; além disso não são outra coisa que tantos perfumes de Céu, com os quais a alma fica toda perfumada".

10-4
Novembro 28, 1910

A falta de amor lançou o mundo numa rede de vícios.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado via a meu sempre amável Jesus, e eu me sentia em meu interior toda transformada no amor de meu amado Jesus, e hora me encontrava dentro de Jesus e enchia em atos de amor junto com Ele, e amava como amava Jesus, mas não sei dizê-lo bem, me faltam palavras; hora encontrava a meu doce Jesus em mim e me enchia só em atos de amor, e Jesus os ouvia e dizia:

(2) "Diz, diz, repete de novo, me alivie com teu amor; a falta do amor lançou ao mundo numa rede de vícios".

(3) E fazia silêncio para me ouvir, e eu repetia de novo os atos de amor; direi o pouco que recordo:

(4) "Em todos os momentos, em todas as horas, quero sempre amar-te com o teu coração. Em todos os respiros de minha vida, respirando te amarei; em todos os batimentos de meu coração, amor, amor repetirei; em todas as gotas de meu sangue, amor, amor gritarei; em todos os movimentos de meu corpo, só amor abraçarei. Só de amor quero falar, só ao amor quero olhar, só ao amor quero escutar, sempre no amor quero pensar. Só de amor quero arder, só de amor quero consumir, só o amor quero gostar, só ao amor quero contentar. Só de amor quero viver, e no amor
quero morrer. Em todos os instantes, em todas as horas, a todos ao amor quero chamar. Sozinha e sempre com Jesus, e em Jesus sempre viverei, em seu coração mergulharei, e junto com Jesus e com seu coração, amor, amor, te amarei".
(5) Mas quem pode dizer tudo? Ao fazer isto, sentia-me completamente dividida em muitas pequenas chagas, e depois faziam uma só chama.

11-4
Fevereiro, 1912

Oferta de uma vítima.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu adorável Jesus fazia-se ver crucificado e com uma alma junto a Ele, a qual se oferecia vítima a Jesus, e Jesus disse-lhe:

(2) "Minha filha, aceito-te como vítima da dor. Tudo o que podes sofrer sofrerás como se estivesses Comigo na cruz, e com teus sofrimentos me consolarás; muitas vezes te escapa isto de consolar-me com teus sofrimentos, deves saber que Eu fui vítima e hóstia pacífica e assim também tu, não te quero vítima oprimida, mas pacífica e alegre, serás como um cordeirinho dócil e o teu balir, isto é as tuas orações, os teus sofrimentos, as tuas obras, servirão para adoçar as minhas amargas chagas".

MEDITAÇÃO DO CAPITULO

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4. Ana, com um cântico anuncia que será mâe.

No seu ventre está a alma imaculada de Maria.

24 de agosto de 1944.

Revejo a casa de Joaquim e Ana. Nada mudou no seu interior, se se tirarem os 4.1 muitos ramos floridos, colocados em ânforas aqui e ali, fruto das podas feitas nas árvores do pomar em flor: uma nuvem que varia do branco neve ao vermelho de certos corais.

O trabalho de Ana também é diferente. Sobre um tear menor, ela tece algumas bonitas telas de linho, e canta, cadenciando o movi mento do pé com o canto. Canta e sorri… A quem? A si mesma, a alguma coisa que ela vê no seu interior.

Eis o canto, lento mas alegre, que escrevi à parte para segui-lo, porque o repete muitas vezes deleitando-se nisso, sempre mais forte e segura, como quem encontrou um ritmo no seu coração; primeiro o murmura em surdina, depois, segura, canta mais veloz e alto (aqui o transcrevo porque, na sua simplicidade é muito doce:

“Glória ao Senhor onipotente que dos filhos de Davi teve amor. Glória ao Senhor!
A sua suprema graça do Céu me visitou.
A velha planta colocou novo ramo e eu sou bem-aventurada.
Pela festa das Luzes a semente lançou a esperança;
ora a fragrância de Nisam o vê brotar.
Como a amendoeira na minha carne floresce a primavera.
O seu fruto, nesta tarde, ela sente transportar.
Naquele ramo há uma rosa, há um pomo dos mais doces.
Há uma estrela reluzente, há uma criança inocente.
Há a alegria da casa, do esposo e da esposa.

Louvor a Deus, ao meu Senhor, que teve piedade de mim.
A sua luz me disse: “Uma estrela virá a ti”.
Glória, glória! Será teu este fruto da planta,
primeiro e derradeiro, santo e puro como dádiva do Senhor.
Teu será e por causa dele venha alegria e paz sobre a terra.
Vôa, oh lançadeira. O fio sé aperta sobre o tecido da criança.
Ele nasce! A Deus glorioso vá o canto do meu coração”.

Joaquim entra quando ela está para repetir pela quarta vez o seu canto.
– Estás feliz, Ana? Pareces-me um pássaro que viu a primavera. Que canto é este? Nunca ouvi. De onde ele vem?
– Do meu coração, Joaquim. Ana levanta-se e agora se dirige até o esposo, toda risonha. Parece mais jovem e mais bonita.
– Não te imaginava poetisa – diz o marido, olhando-a com clara admiração.
Não pareciam dois esposos idosos. Em seus olhares, existia uma ternura de jovens esposos.

– Vim do fundo do pomar ouvindo-te cantar. Eram anos que não ouvia a tua voz de rolinha enamorada. Queres repetir-me aquele canto?
– Eu o repetiria mesmo que tu não me pedisses. Os filhos de Israel sempre confiaram ao canto os clamores mais verdadeiros de suas esperanças, alegrias e dores. Eu confiei ao canto o cuidado de dizer- me e dizer-te uma grande alegria. Sim, também dizer a mim mesma, porque é uma coisa imensa que, por quanto esteja certa, parece-me ainda não ser verdadeira…- e recomeça o canto, mas chegando ao ponto: “sobre aquele ramo há uma rosa, há uma maçã das mais doces, há uma estrela…” a sua voz bem entoada de contralto fez-se primeiro trémula, depois se rompe e com um soluço de alegria olha Joaquim e, levantando os braços grita:
– Sou mãe meu deleite – e se refugia no seu coração, entre os braços que ele estendeu para encerrarem em torno de sua feliz esposa. O mais casto e feliz abraço que eu jamais vi, desde que estou no mundo. Casto e ardente, na sua castidade.
E a doce repreensão entre os cabelos grisalhos de Ana:
– E não me disseste antes?
– Porque queria estar certa. Velha como sou… Saber-me mãe… Não podia acreditar ser verdade… não queria dar-te uma desilusão mais amarga ainda. Desde fins de dezembro sinto fazerem-se novas as minhas profundas entranhas e brotar, como posso dizer, um novo ramo. Mas agora sobre aquele ramo está seguro o fruto. Vês? Aquele tecido já é para aquele que virá.
– Não é o linho que comprastes em outubro em Jerusalém?
– Sim. Eu o teci depois enquanto esperava. Esperava porque no último dia, enquanto orava no Templo, o maior tempo que pudesse uma mulher ficar na Casa de Deus, até a noite… Tu te recordas que eu dizia: “Ainda, ainda um pouco”. Não podia afastar-me dali sem receber a graça!
Pois bem! Na sombra que já descia do interior do lugar sagrado, que eu olhava com atração de alma para arrancar uma anuência do Deus presente, vi partir uma luz, uma centelha de luz maravilhosa. Era alva como a lua, contudo tinha em si as luzes de todas as pérolas e pedras preciosas que existem sobre a terra. Parecia que uma das estrelas preciosas do Véu, daquelas estrelas postas sob os pés dos querubins, se desprendesse uma e se tornasse esplêndida, de uma luz sobrenatural… Parecia partir um fogo para além do Véu sagrado, proveniente da  própria Glória, vindo a mim veloz, e ao cortar o ar cantasse com voz celeste dizendo: “O que pedistes venha a ti”.

É por isso que eu canto: “Uma estrela virá a ti”. Que filho será esse nosso, que se manifesta como luz de estrela no Templo e que diz: “Eu sou” na festa das Luzes? Que filho fez com que tu tenhas visto em mim uma nova Ana de Elcana? Como chamaremos a nossa criança, que doce como um canto de águas ouço falar-me no ventre com o seu pequeno coração que bate como o de uma rolinha apanhada na cavidade das mãos?

– Se for menino o chamaremos Samuel. Se for menina Estrela. A palavra que fortaleceu o teu canto para dar-me a alegria de saber me pai. A forma que escolheu para manifestar-se entre a sacra sombra do Templo.

– Estrela. A nossa estrela, porque, não sei, penso que seja mesmo uma menina. Parece-me que carícias tão doces não possam vir senão de uma dulcíssima filha. Eu não a carrego, não tenho nenhum sofri mento. É ela que me carrega sobre uma vereda azul e florida, como se eu estivesse amparada pelos santos anjos e a terra já estivesse longe… Sempre ouvi as mulheres dizerem que conceber e gerar é sinônimo de dor. Mas eu não tenho dor. Sinto-me forte, jovem, fresca, mais do que quando te dei a minha virgindade na juventude distante. Filha de Deus, visto que é mais de Deus do que nossa aquela que nasce de um tronco árido, não dá dores à sua mãe. Ela traz somente
paz e bênção: os frutos de Deus, seu verdadeiro Pai.

– Então a chamaremos Maria. Estrela do nosso mar, pérola, felicidade. O nome da primeira grande mulher de Israel. Mas esta não pecará nunca contra o Senhor, e só a Ele dará o seu canto porque a Ele é oferecida, como hóstia, antes de nascer.
– A Ele é oferecida, sim. Homem ou mulher que seja, depois de nos alegrarmos por três anos com a nossa criança, nós a daremos ao Senhor. Hóstia também nós com ela, pela glória de Deus.
Não vejo nem ouço mais nada.

Jesus diz: 

“A Sabedoria, depois de tê-los iluminado com os sonhos da noite, desceu àquela que é “vapor da virtude de Deus, certa emanação da glória do Onipotente”, e tornou-se Palavra para a estéril.
Aquele que agora via próximo o Seu tempo de redimir, Eu, o Cristo, neto de Ana, quase cinqüenta anos depois, mediante a Palavra, farei milagres sobre as estéreis e as doentes, sobre as endemoninhadas, sobre as desoladas, sobre todas as misérias da terra.
No entanto, pela alegria de ter uma mãe, eis que murmuro misteriosamente a Palavra na sombra do Templo que continha as esperanças de Israel. Templo agora no limiar da sua vida, porque o novo e verdadeiro Templo não contém mais as esperanças de um povo, mas a certeza de um Paraíso para o povo de toda a terra, por todos os séculos até o fim do mundo; Paraíso que está para vir sobre a terra. E esta Palavra opera o milagre de tornar fecundo o que era in fecundo. Dar-me uma mãe, que não teve apenas ótima proveniência, como era seu destino, nascida de dois santos; não teve somente um aumento contínuo da bondade pelo seu bem querer, não teve somente um corpo imaculado, teve também o espírito imaculado, sendo única entre as criaturas.

Tu vistes* a geração contínua das almas de Deus. Agora imagines qual deva ser a beleza desta alma que o Pai almejou antes que o tempo existisse, desta alma que constituía as delícias da Trindade, que ardia por enfeitá-la com as suas dádivas para lhe fazer um dom a Si mesma. Ó toda santa, que Deus criou para Si e depois para refúgio dos homens! Portadora do Salvador, tu fostes a primeira salvação. Paraíso Vivente, com teu sorriso, começastes a santificar a terra.

A alma criada para ser a alma da mãe de Deus! Quando, de uma mais viva palpitação do Trino Amor, brotou esta centelha vital, jubilaram os anjos, porque o Paraíso nunca viu luz mais viva.
Como pétala de uma empírea rosa, uma pétala imaterial e preciosa que era jóia e chama, que era o hálito de Deus* que descia para animar uma carne diferentemente das outras, que descia com fogo tão potente que a Culpa não pode contaminá-la, atravessando os espaços e encerrando-se num seio santo.

Ainda sem saber, a terra já tinha a sua flor. A verdadeira, única flor que floresce eternamente: lírio e rosa, violeta e jasmim, girassol e ciclame fundidos juntos, e com essas todas as flores da terra numa única flor, Maria, na qual se reúne toda virtude e graça.

Em abril, a terra da Palestina parecia um enorme jardim: as fragrâncias e as cores davam delícia ao coração dos homens. Mas a rosa mais bonita ainda era desconhecida. Ela já era florescente a Deus no segredo do ventre materno, já que minha mãe amou desde que foi concebida, mas só quando a videira dá o seu sangue para fazer vinho, e o perfume dos mostos, açucarado e forte, enche as eiras e as narinas, ela iria sorrir primeiro a Deus e depois ao mundo, dizendo com o seu sorriso super inocente: “Eis que a Videira, que vos dará o Cacho espremido na prensa, como Remédio eterno contra o vosso mal, está entre vós”.

Eu disse: “Maria amou desde que foi concebida”. O que dá ao espírito luz e conhecimento? A Graça. O que eva a Graça? O pecado de origem e o pecado mortal. Maria, aquela sem mácula, nunca foi despojada da lembrança de Deus, da sua proximidade, do seu amor, da sua luz, da sua sabedoria. Ela pôde por isto, compreender e amar até quando era apenas carne em torno de uma alma imaculada que sempre amou.

Depois, faço-te contemplar mentalmente a profundidade da virgindade de Maria. Terás uma vertigem celeste, como quando te fiz entender a nossa eternidade. Por enquanto, considera apenas como o trazer no ventre uma criatura isenta da mácula da ausência de Deus, dá à mãe uma inteligência superior e a transforma em um profeta, mesmo tendo esta mãe concebido natural e humanamente. O profeta da sua filha, que a chama: “Filha de Deus”. Imagina o que seria se pais inocentes concebessem filhos inocentes, assim como Deus gostaria.

Ó homens, que vos dizeis semelhantes ao “super-homem”, mas com os vossos vícios vos assemelhais unicamente ao “super-demônio”, neste exemplo teríeis encontrado o meio de chegardes ao “super-homem”. Saber permanecer sem a contaminação de satanás para deixar a Deus a administração da vida, do conhecimento, do bem, não desejando mais do que isto, que é pouco menos que o infinito. Deus vos teria dado poder de gerar em uma contínua evolução até a perfeição, filhos que fossem homens no corpo e filhos da Inteligência no espírito, ou seja triunfadores, fortes, gigantes contra satanás, que seria derrubado muitos milhares de séculos antes da hora em que o será, junto a todo o seu mal”.

MEDITAÇÃO DO ESTUDO 4

PLAYLIST DOS AUDIOS DO LIVRO MISTICA CIDADE DE DEUS

A ação da graça
18. Não digo que a luz seja total.Mas sendo apenas uma parte, já é um conhecimento além das forças e capacidade da criatura.
Para esta visão o Altíssimo fortalece o entendimento, dando-lhe certa qualidade de luz que proporcione esta faculdade ao conhecimento superior às suas forças. Isto também é compreendido pela certeza com que se crêem ou se conhecem as demais coisas divinas.
Entretanto, a fé também acompanha a certeza, e neste estado mostra o Todo-poderoso à alma, o valor desta ciência e luz que lhe infunde. Sua claridade (Sb 7,10-13) não pode ser extinta, e todos os bens me vieram juntamente com ela, e por suas mãos uma honestidade de grande preço.

Esta lâmpada vai em minha frente, dirigindo meus caminhos; aprendi-a sem intenções reservadas (Idem 8, 16, 18),
desejo comunicá-la sem inveja e não escondo suas riquezas; é participação de Deus, e seu uso é bom deleite e alegria.
Num momento ensina muito, conquista o coração, e com força poderosa o afasta da falsidade que, vista nesta luz, está repleta de imensa amargura. A alma se afasta do que é transitório, e correndo se refugia na sagrada e eterna verdade, entra na adega (Ct 2,4) do capitoso vinho, onde o Altíssimo ordena em mim a caridade.

Obriga-me a ser paciente (ICor 13,4) e sem inveja; benigna sem ofender a ninguém; a não ser soberba nem ambiciosa; que não me ire nem pense mal de ninguém; que tudo sofra e tolere; sempre clama (Pr 8,1) e admoesta-me interiormente com poderosa força, para que faça o mais santo e puro, instruindo-me em tudo. E, se falto, ainda em pequenas coisas, repreende-me sem nada deixar passar.

Conhecimento místico
19. Esta luz a um tempo esclarece, afervora, instrui, repreende, transforma e vivifica, chama e detém, admoesta, impele, ensina com distinção o bem e o mal, o sublime e o profundo, a longitude e a latitude (Ef 3,18). Faz conhecer o mundo com seu caráter e enganos, as mentiras e fraudes de seus moradores e amadores, e mais que tudo, ensina-me a desprezá-lo e pisá-lo, para elevar-me ao Senhor, supremo dono e governador de tudo.

Em Deus vejo e conheço a disposição das coisas (Sb 7, 17-20), as forças dos elementos, o princípio, o meio e o fim dos tempos, suas mudanças e variações, o curso dos anos, a harmonia de todas as criaturas e suas propriedades.
Tudo o que é oculto aos homens, suas operações e pensamentos e quanto distam do Senhor; os perigos em que vivem, os sinistros caminhos que palmilham;
Os estados, os governos, sua momentânea firmeza e pouca estabilidade; em que consiste seu princípio e fim, o que têm de verdadeiro ou falso. Com esta luz tudo é visto distintamente em Deus, com conhecimento das pessoas e circunstâncias.
Há, porém, outro estado mais inferior no qual a alma se encontra ordinariamente, usando da substância e hábito da luz, mas não em toda a claridade.
Neste estado há alguma limitação daquele conhecimento tão vasto de pessoas e estados, segredos e pensamentos. Nele não possuo mais conhecimento além do que basta para afastar-me do perigo e fugir do pecado.
Compadeço-me das pessoas, com verdadeiro amor, mas não tenho liberdade para lhes falar com clareza e descobrir-lhes o que sei. Nem poderia fazê-lo, porque pareço emudecer, a menos que o autor destas obras me permita e ordene que admoeste algum próximo. Quando o faço, não é revelando-lhes o modo como cheguei ao conhecimento de suas necessidades, mas sim falando-lhes ao coração com reflexões simples, despretensiosas e caritativas em Deus, além de rezar por estas intenções, pois para tanto me são manifestadas.

20. Ainda que eu tenha conhecido tudo isto com clareza, jamais o Senhor mostrou-me o triste fim de alguma alma que se haja condenado. A providência divina guarda esta ordem, por ser justo não manifestar, sem gravíssimas razões, a condenação de alguém.

Julgo que se o visse, morreria com a dor produzida pelo conhecimento dessa luz, pois imensa é a pena de saber que uma alma perdeu a Deus para sempre, tenho-lhe suplicado não me mostrar ninguém que se condene. Se com minha vida posso livrar disso a alguém que esteja em pecado, não recusarei o trabalho nem a previsão dele;
todavia, quem não pode se salvar, não o veja eu.

Uso da luz divina
21. Esta luz me é dada não para revelar meu privilégio pessoal, mas para dele usar com prudência e sabedoria. Fica me esta luz como uma substância que emana de Deus e vivifica, ainda que seja acidental, e o hábito para dela usar, ordenando bem os sentidos e a parte inferior. A parte superior do espírito, porém, sempre goza da visão e estado de paz, e conheço intelectualmente todos os mistérios da Rainha do céu e outros muitos da fé, que me são
mostrados e quase incessantemente os tenho presentes; pelo menos, a luz nunca a perco de vista.

Se às vezes desço, como criatura, pondo a atenção no convívio humano, logo me chama o Senhor com insistência e suave força, e me faz voltar a atenção para suas palavras, locuções, e para o conhecimento dos mistérios, graças, virtudes e obras exteriores e interiores da Virgem Mãe, conforme irei descrevendo.

Visão de Nossa Senhora e dos Anjos

22. Deste modo, nos estados de luz que digo, vejo também a Senhora e Rainha nossa quando me fala, e aos santos anjos em sua natureza e excelência. Algumas vezes vejo-os no Senhor, e outras em si mesmos, com a diferença que para conhecê-los em si mesmos, desço a grau inferior. Sinto essa diferença porque ela resulta dos objetos e da maneira como o entendimento opera.

Neste grau mais inferior vejo, falo e entendo os santos espíritos, que conversam comigo e me explicam muitos dos mistérios que o Senhor me tem mostrado.

A Rainha do céu me explica e mostra os de sua vida santíssima com seus admiráveis sucessos. Distintamente conheço cada uma destas pessoas, sentindo os efeitos divinos que, respectivamente, cada qual produz na alma.
Visão só de Deus e das criaturas em Deus.

23. No Senhor vejo-os como num espelho voluntário, mostrando-me Sua Majestade os santos que quer, conforme lhe apraz, com grande claridade e efeitos maiores e superiores.

Com admirável luz, conhece-se o Senhor e os santos, com suas excelentes e extraordinárias virtudes, e como as praticaram, auxiliados pela graça, por cuja virtude tudo puderam (FI 4,13).

Neste conhecimento a criatura fica mais repleta de gozo, cheia de mais vida e satisfação, e permanece como no repouso de seu centro. Quanto mais intelectual.
Menos corpóreo e imaginário o conhecimento, mais intensa a luz, os efeitos mais elevados, maior a substância e a certeza que se sente.
Todavia, aqui também se percebe a diferença e se conhece que a visão do Senhor, seus atributos e perfeições, e conseqüentes efeitos dulcíssimos e inefáveis, é superior à visão e conhecimento das criaturas, ainda que esta visão seja no mesmo Senhor.

Esta inferioridade parece-me proceder da alma. Sendo tão limitada sua visão, vendo a Deus junto com as criaturas, não o conhece tanto como quando O vê sem elas. Ver só a Deus oferece maior plenitude de gozo do que ver as criaturas em Deus.

Tão delicado é este conhecimento da Divindade que, durante ele, prestar atenção a outra coisa o diminui um tanto, pelo menos enquanto somos mortais.

Modo de receber as comunicações divinas

24. No estado mais inferior, do qual tenho falado, vejo a Virgem Santíssima em si mesma e aos anjos. Entendo que o modo de me ensinarem, falarem, e ilustrarem é semelhante ao modo como os anjos se comunicam entre si, e como os superiores iluminam os inferiores.
Deus, causa primeira, dá esta luz, mas ela é participação daquela imensa luz, que Maria Santíssima goza com tanta plenitude. É comunicada à parte superior da alma, e nela vejo a Ssma. Virgem, suas prerrogativas e mistérios, do modo como o anjo inferior conhece o que lhe comunica o superior.

Da eficácia da doutrina que ensina, e por outras condições que se sentem e gozam, infere-se a pureza, elevação e verdade da visão. Nada obscuro, impuro, falso, ou suspeito aí se nota, e tudo o que é santo, puro e verdadeiro não deixa de estar presente. O mesmo acontece, a seu modo, com os santos anjos e assim o Senhor me tem mostrado, muitas vezes, que a comunicação e ilustração em meu interior é como a que eles têm entre si.

Muitas vezes me acontece receber a iluminação através de todos estes canais e aquedutos: o Senhor dá a inteligência e luz, ou o objeto dela; a Virgem Santíssima a explica e os anjos me dão os termos. Outras vezes, mais ordinariamente, o Senhor faz tudo e me ensina a doutrina.

Outras é a Rainha ou os anjos que me dão tudo.
Costumam também dar-me apenas a inteligência, e os termos para me declarar tomo-os do que tenho entendido.
Nisto poderia errar se o permitisse o Senhor, porque sou mulher ignorante e me valho do que tenho entendido. Quando tenho dificuldade em expor as inteligências, nas matérias mais árduas e difíceis, recorro a meu mestre e pai espiritual.

Visões inferiores

25. Nestes tempos e estados, tenho muito poucas vezes visões corpóreas, apenas algumas imaginárias.
O grau destas é muito inferior a todos os outros graus que tenho descrito. Estes são muito superiores, por serem espirituais ou intelectuais.

O que posso assegurar é que em todas as inteligências, grandes e pequenas, inferiores e superiores, recebidas do Senhor, da Santíssima Virgem e dos santos anjos, me é dada abundantíssima luz e doutrina muito proveitosa, na qual conheço a verdade, a maior perfeição e santidade. Sinto força e luz divina que me obriga a fazer em tudo o melhor, a desejar mais pureza de alma e graça do Senhor, até morrer por ela.

Com estes graus e modos de inteligência que tenho dito, conheço todos os mistérios da vida da Rainha do céu, com grande proveito e júbilo de meu espírito.

Por tudo isto, de toda a minha mente e coração, exalto ao Todo-poderoso, glorifico-o, adoro-o e o confesso por santo e Onipotente Deus, forte e admirável, digno de louvor, magnificência, glória
e reverência por todos os séculos, Amém.


REFLEXÃO DO LIVRO NA DIVINA VONTADE
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AFLIÇÃO DA LÍNGUA.
Oferecia-lhe depois o silêncio; durante nove meses nunca desatei a língua para dizer uma palavra, Ainda que praticasse este silêncio em minha infância, no entanto falava então muitas vezes com minha dileta Mãe. Mas, durante os nove meses nunca me servi do uso deste sentido, permanecendo em contínuo silêncio. Era uma aflição
muito grande para mim. Pensa, esposa minha, que eu, sendo a Sabedoria | eterna, aceitava estar tão mudo. Que aflição não sofreria uma pessoa erudita, eloquente, por estar tantos meses sem proferir uma só palavra! Certamente, ser-lhe-ia insuportável. Ora, considera de que sorte seria a aflição que eu experimentava, uma vez que a sabedoria, a eloquência, a erudição das criaturas, em comparação com a minha, são estultície e ignorância. Todavia, sofria todo esse tormento e oferecia-o a meu Pai em satisfação por todas as faltas que meus irmãos tivessem cometido com à língua. E como sabia que com este sentido meu Pai deveria ser muito ofendido, mais do que com OS outros, mais ardentemente eu o suplicava e tratava de aplacar a ira paterna, justamente indignada contra o gênero humano.
— Pedia-lhe não só aceitasse esta oferta que eu lhe fazia em satisfação de tantas culpas, mas que ainda se dignasse conceder muita virtude àqueles cuja fama seria ofendida pelo próximo, sendo desonrados e injuriados, caluniados, escarnecidos e ultrajados, a fim de que o sofressem de bom grado por amor a Ele e para imitar-me, pois já sabia que também eu seria a respeito disto muito ofendido por meus inimigos. — Além disto suplicava que desse virtude a todos os que soubessem mortificar-so por meio deste sentido e não apenas tivessem querido fugir de qualquer bem que fosse.

Como é difícil ao homem mortificar e frear este sentido! Quanto faz o demônio para fazer com que o exercitem, porque sabe muito bom às danos que a mortificação deste sentido lhe causa e as grandes conquistas que obtém do uso deste sentido. Uma lingua solta e não mortificada é a ruína de uma cidade inteira. O inimigo infernal prevalece se disto para aprisionar as almas mais inocentes e do uso deste sentido alcança muitas vitórias. — Além disso pedia-lhe que se mostrasse misericordioso com os que, tendo caído em muitos erros e cometido muitas faltas por falarem demais e desregradamente, quisessem depois emendar-se com a ajuda de sua graça. Pedia-lhe ainda por aqueles miseráveis que, não querendo prestar ouvido às inspirações divinas, permaneciam impenitentes em seis erros; e visto que estes não queriam de modo algum emendar- se, se dignasse ao menos adiar-lhes o merecido castigo, não os castigasse com rigor conforme costumava fazer antes de minha vinda ao mundo. como de fato sucedeu aos meninos que escarneciam do proteta Eliseu, os quais foram todos devorados pelos ursos; e muitos outros castigos severos que se abatem sobre os que usam em demasia da língua no falar, contra a
ordem divina. — Meu Pai prometia-me tudo, declarando que doravante que ria ser o Deus da misericórdia e não mais o Deus da justiça, como havia sido até então. Efetivamente, esposa caríssima, estás vendo como vai se mostrando misericordioso e paciente para cada um, mas também liberal e benigno para quem realmente a Ele recorre e chama-o em ajuda para vencer o inimigo e dominar seus sentidos e paixões. Vê quantas almas silenciosas houve no mundo após minha Encarnação! Quantos conven tos foram instituídos nos quais é observado continuo silêncio! Tudo isto é fruto daquele silêncio que eu, a Sabedoria eterna, tive por nove meses continuados sem emitir sequer um suspiro; é fruto também das minhas súplicas a meu Pai. Vê quão grandes pecadores existem no mundo, oa quais com sua língua o infestam com tantas blasfêmias, tantos perjurioa, tantas murmurações, tantas detrações! Observa com que paciência e longanimidade meu Pai os suporta! Suporta essas ofensas como se não lhe fossem dirigidas! Tudo isso procede da promessa que Ele faz a Mim.

... Se o homem não realiza coisas prodigiosas, isto não provém da largueza e beneficência divinas, mas de sua indignidade e obstinação que não quer render-se às inspirações divinas, nem obedecer aos preceitos divinos, mas viver a seu bel prazer; em coisa alguma quer mortificar suas paixões e seus sentidos, deixando-se escorregar desregradamente aqui e ali, aonde o amor próprio e a vontade perversa o transportam. Meu Pai está sempre pronto para conceder-lhe todas as graças e a ajuda necessárias para alcançar vitória sobre todos os sentidos, especialmente sobre a língua, que é péssima, porque uma má língua causa dano maior do que uma espada afiada. Aquela fere e mata a alma, enquanto esta fere e mata apenas o corpo, muito inferior e de nenhum valor em comparação com aquela.

AFLIÇÕES DO OLFATO.
Quanto ao olfato senti aflição por carecer completamente de tudo o que pudesse deleitar e recrear este sentido. Oferecia ainda isto a meu Pai em desconto de todas as ofensas que recebesse de meus irmãos relativamente a este sentido. Embora este sen- tido não seja tão prejudicial por não ser instrumento tão apto para pecar, não obstante prejudica também a alma por excesso de delicadeza e de outros modos pelos quais a criatura ofende ao Criador; não o explico mais detalhado porque não és capaz de compreender isto. Digo-te, porém, que
aquele que mortifica este sentido adquire muitos méritos: a graça divina sempre o ajudará em virtude do que eu sofri e ofereci a meu Pai. Não julgues, esposa caríssima, que sofri somente a privação deste sentido em
todas as coisas que poderiam agradar-me naturalmente; mas privei-me ainda de fruir do odor suavíssimo que exalava minha humanidade unida ao Verbo, porque a força da divindade fazia com que meu corpo emitisse
um suavíssimo odor; embora não fosse por todos percebido, sentia-o todavia minha dileta Mãe, às vezes mais, outras vezes menos, conforme queria que também ela ficasse privada disto, a fim de que se mortificasse
e adquirisse maior mérito. Eu, todavia, renunciei a este prazer e deleite que podia proporcionar a minha humanidade, querendo carecer completamente de toda consolação para assim pagar os débitos de meus irmãos e
“satisfazer à divina justiça pelos mesmos sentidos pelos quais meus irmãos irritavam.

Minha esposa dileta, admiras-te ao ouvir como meu corpo exalava odor tão suave e não era percebido por quem tratava comigo, pois tu, lã mente, não havias ouvido dizer coisa semelhante. Digo-te, em verdade, O odor exalado de minha humanidade era tão forte às almas que se tornaram dignas de senti-lo. Eram as almas justas e inocentes. Não sentiam este odor com O sentido corporal, mas ia olfato da alma. Essas almas, pois, pela suavidade do odor, acorriam para mim como ouviste que, em minha infância, as crianças inocentes que estavam em torno de mim, porque sua alma era atraída ia aquele suave dor Disto dá certo testemunho a figura da esposa ao dileto esposo, figurado em minha humanidade: . Estas donzelas me amavam muito e corriam à minha procura, atraídas pela fragrância do odor que sentiram como almas  justas, pois, sentiam-no com O olfato espiritual e isto a faziam vir a mim e amar-me; todavia havia algumas que, por aquela suave fragrância, chegaram a entender que minha divindade estava unida à natureza humana e me confessaram e adoraram como verdadeiro Filho de Deus: Os Reis Magos, o velho Simeão, a profetisa Ana por exemplo, e outros dos quais te falarei em outra ocasião. Por agora te digo que me privei completamente de sentir esse agradável e suave odor que minha própria humanidade exalava.

Fiz isto como te disse anteriormente, em desconto de todas as ofensas que com o olfato cometeriam meus irmãos.
Não julgues, esposa dileta, que essa fragrância fosse um simples odor, isto é, de uma única coisa e que proporcionasse um só deleite. Oh! Era uma fragrância mista de vários e suavíssimos bálsamos deleitáveis, que
faziam transparecer minha divindade. Ouve como a esposa sagrada diz “na fragrância dos ungúentos”. Era um odor misto de várias fragrâncias;
assim como o unguento não se faz de uma só coisa, mas de muitas, e todas participam do mesmo odor, e uma unida à outra produzem um só odor, assim era meu odor. A divindade exalava sua fragrância suave e todas as minhas virtudes produziam seu odor e unidas ao odor de minha divindade produziam uma só fragrância. Esta era tão intensa que, se uma criatura a tivesse sentido com o olfato corporal, teria sido absorvida num
paraiso de delícias. Mas disto só minha dileta Mãe foi favorecida, sendo amiúde confortada por meu Pai a fim de que não exalasse a alma por causa de tanta fragrância. A todas as outras criaturas, porém, a mantinha oculta, porque soube ser isto do agrado e da vontade de meu Pai.

AFLIÇÃO DOS MEMBROS.
Estando, pois, no seio de minha Mãe, privado completamente de todos os sentidos, isto é, de seu uso, encontrava- me ainda muito angustiado por não poder fazer movimento algum com as mãos e os pés tão cruzados, sem nunca movê-los. Oferecia esta pena a meu Pai em satisfação de tantas e tão graves ofensas que recebia de todo o gênero humano por meio destes membros. Via muito bem todas as faltas que meus irmãos cometeriam com estes membros. A um ou outro eu contemplava; considerava todos os passos, todos os movimentos, sentia grande dor ao ver os ultrajes feitos à divina bondade. Tendo-lhes esta concedido o uso dos sentidos e dos membros, a fim de que fossem em- pregados para proveito deles e maior glória sua, eles depois faziam justamente o contrário, empregando-os e servindo-se deles em seu próprio sentia, prejuízo e em desonra de meu Pai. Oferecia-lhe ainda essa intensa dor que em satisfação de todas as culpas que eles cometiam com estes membros, estava pronto
e com todos os sentidos. Meu Pai, com isto, foi aplacado e mostrava aberto para o perdão, cada vez que se recorresse a Ele com dor pelas suas ofensas. Rogava-lhe se dignasse conceder tanta graça e virtude emendarem, prevenisse-os e dirigisse-lhes os passos de sua alma;

Tudo, esposa caríssima, é fruto de preces e só ficam excluídos os que desesperadamente entregar-se não querem ao querer divino e afastam imprudentemente da alma as inspirações divinas e a graça; eles são atormentados e convém-lhes sofrer o que meu Pai dispõe. Mas, devido à sua vontade rebelde e desespero co- meçam a experimentar na vida presente um inferno antecipado, do qual poderiam ter escapado pela entrega às disposições divinas e à divina vontade. Sofria por eles indizível pena, vendo que tudo o que eu sofria e
todas as minhas orações eram para eles inúteis. Olhava-os cheio de com- paixão, mas estes olhares e esta compaixão eram inúteis para eles, por- que não queriam se render. Assim fez a cidade de Jerusalém enquanto eu derramava lágrimas de dor por causa de sua ruína; de nada lhe serviram, em consequência de sua obstinação.

AFLIÇÃO DO GOSTO.

Embora a tenha sofrido durante todo o tempo de minha vida, abstendo-me completamente de provar de todas essas coisas que costumam deleitar a este sentido, não obstante esta aflição tornou-se- me mais sensível no útero materno, se bem que não fosse privado daquele sustento que me convinha para nutrir-me. Embora minha humani- dade recebesse o alimento necessário e bem limitado da parte de minha dileta Mãe, este não me deu gosto algum, relativamente à humanidade, por- que era igual ao das outras crianças. Alegrava-se, no entanto, meu espírito ao receber aquele alimento tão puro e delicado que proporcionava a meu corpo matéria para se formar e para crescer. Retirava seu alimento de uma matéria que me era tão grata por sua pureza e inocência. Oferecia também esta pena e esta aflição — e esta privação — que sofria, relativamente à humanidade, e outrossim o gosto que tinha quanto à alma. A pena sofrida pela humanidade eu a sofria em desconto de todas as ofensas que, com o sentido do gosto, recebia meu Pai de todos os meus irmãos. E porque estas eram muitas e graves, desde agora me
ofereci ao Pai declarando querer privar-me completamente, durante todo o tempo de minha vida, de todas as coisas que me proporcionariam qualquer deleite; até privar-me do sustento necessário, como efetivamente ouvirás na narrativa. Muitas vezes sofri fome e sede, privando-me daquele parco alimento que minha dileta Mãe e outros me proporcionavam. Meu Pai aceitava todos esses oferecimentos e mostrava-se aplacado para com os pecadores por ser maior o mérito das minhas ofertas do que todas as ofensas recebidas de meus irmãos, embora fossem muitas e graves.
Oferecia-lhe, pois, esse agrado espiritual, quando recebia o alimento. Pedia-lhe, outrossim, fazer que estes experimentassem uma gota do que saboreava meu espírito, quando recebia O alimento de minha dileta Mãe.
De fato, meu Pai me atendia, como O experimentam no espírito os que mortificam este sentido; porque sentem mais consolação na alma quando se privam das coisas deleitáveis ao paladar do que sentem os que satisfazem inteiramente este sentido tão prejudicial ao espírito. Sabe, minha esposa, que todas as almas que vês mortificadas e que fizeram e fazem penitência, que vivem apenas de ervas e outras coisas vis, tudo isso é fruto de meus sofrimentos. Todos receberam de meu Pai a graça de poder fazê-lo.  Via, depois, todos os que se mortificariam e todos os que fariam penitência e me comprazia por causa da glória de meu Pai e da exaltação É e dos méritos que assim adquiririam. Tanto maior prazer sentia ao ver que tudo era em virtude de minha mortificação e prêmio de minha pena.

Por isso louvava meu Pai, agradecendo sua infinita misericórdia e bondade: e a essas almas olhava-as com amor como irmãos meus caríssimos, que anelavam imitar-me e seguir meus exemplos. Assim impetrava para elas maiores graças. Olhava depois aquelas almas infelizes que, vítimas do gosto e da satisfação deste sentido, não se preocupam por perderem a graça divina com este gosto, e vendo-as obstinadas no mal, sentia por elas grande pena, tanto mais quanto eu satisfazia por elas. Mas elas não queriam prevalecer-se de modo algum desta satisfação, permitindo por própria culpa que não lhes trouxesse bem algum, nem tudo aquilo que por !

PENAS E ALEGRIAS.

O mesmo que experimentei quanto a este sentido, sentia-o em todos os outros sentidos e todos juntos causavam grande pena a meu espírito; no entanto, mais me atormentava a aflição causada por meus irmãos que ofendiam meu Pai por todos os sentidos e E não queriam prevalecer-se de todos os meus sofrimentos e obras em seu
favor. Proporcionava-me, porém, alguma consolação ver que muitos prevalecer-se-iam de meus sofrimentos e de meus méritos e que em vista destes, e para imitar-me, mortificar-se-iam e avançariam na virtude e na per- ê
| feição. E eu, vendo sua boa vontade e a correspondência à minha graça, incitava-me a amá-los mais e impetrar-lhes maior graça e fortaleza, a fim de que pudessem perseverar no bem e conquistar cada vez mais méritos o
para a vida eterna.

| REPOUSO NOTURNO.

Terminados todos esses atos de súplicas e oferecimentos, como te disse anteriormente, minha humanidade entregava-se a algum repouso e, embora pareça que naquele estado não houvesse capacidade de sono, ou de outra coisa — sendo a criatura no seio materno incapaz de qualquer coisa, ficando ali como um corpo sem vida, ignorante | e sem o uso da razão — todavia isso não me acontecia, porque habitava naquela estreiteza como uma criança privada de juízo e do uso da razão e de todos os sentidos quanto à aparência, mas, de fato, era verdadeiro homem com todo o uso da razão, e Deus imortal.
E então, a alma unida ao Verbo, louvava, bendizia e dava graças ao Pai eterno, que ela contemplava abertamente.
O Verbo eterno fruía, pois, de todas as perfeições divinas das quais te falei acima, e fruía delas de modo mais sublime e perfeito, porque delas usufruia como coisa própria, sendo também ele Deus eterno, imortal e impassível. Não obstante, porque estava unido à natureza humana e por esta parte era menor do que o Pai, fruía, como costuma fazer um filho, das riquezas, honras e grandezas do próprio pai, e delas desfruta como herdeiro e senhor: no entanto, sendo filho, possui o domínio com certa submissão ao pai, e se o pai quer dispor a seu modo, o filho se entrega à sua vontade, embora ele também tenha seu jus, como filho. E quando o filho queria dispor pedia ao pai e este, benigno e amoroso, de boa vontade condescendia aos pedidos do filho. Ora, eu fruía e dispunha exatamente assim dos bens de meu Pai: louvava-o e glorificava-o e estando o Verbo unido à alma, juntos fruíam como uma só coisa. De fato, estavam tão perfeitamente unidos que o Verbo era uma coisa com a alma. Neste deleite passavam-se horas; mas, ao recuperar a humanidade os sentidos próprios, a alma ficava privada da fruição e da beatitude que conservava certamente em si, mas fruía com maior perfeição, quando a humanidade estava privada dos sentidos, em ordem ao repouso necessário para Seu sustento e desenvolvimento.


MEDITAÇÃO DOS 3 PRIMEIROS TRECHOS

 

12-4
Abril 2, 1917

As penas da privação de Jesus são penas divinas.

(1) Estava me lamentando com meu sempre amável Jesus de suas habituais privações e lhe dizia: "Meu amor, que morte contínua, cada privação tua é uma morte que sinto, mas morte tão cruel e impiedosa, que enquanto faz sentir os efeitos da morte, não faz morrer ". Eu não entendo como a bondade de seu coração pode resistir em me ver sofrer tantas mortes contínuas, e depois me fazer viver ainda. E o bendito Jesus veio por pouco tempo e me apertando ao seu coração me disse:

(2) "Minha filha, abraça-te ao meu coração e toma vida. Saiba que a pena mais satisfatória, mais agradável, mais potente, que mais me iguala e pode me enfrentar, é a pena da minha privação, porque é pena divina. Você deve saber que as almas estão tão unidas Comigo que formam muitos elos unidos juntos em minha Humanidade, e à medida que as almas se perdem rompem estes elos, e Eu sinto por isso uma dor como se se arrancasse um membro do outro.
Agora, quem pode me unir estes anéis? Quem pode soldar de novo para fazer desaparecer a ruptura? Quem poderá fazê-los entrar de novo em Mim para dar-lhes vida? As penas de minha privação, porque é divina. Minha pena pela perda das almas é divina; a pena da alma que não me vê, não me sente é divina, e como as duas são penas divinas, podem beijar-se, unir-se, fazer-se frente, e ter tal poder, de tomar as almas desvinculadas e uni-las em minha Humanidade. Minha filha, te custa muito minha privação? então, se te custa, não tenha inútil uma pena de tanto custo. Assim como eu te faço dom dela, não a tenhas para ti, mas fá-la voar no meio dos combatentes e arranca as almas do meio das balas e encerra-as em Mim, e como fechadura e selo põe a tua pena, e depois a tua pena faz girar por todo o mundo para fazê-la pescar almas e conduzi-las novamente a todas em Mim, e à medida que sentes as penas das minhas privações, assim irás pondo o selo de nova união".

13-4
Junho 6, 1921
O maior milagre que Deus pode fazer, é que uma alma viva de seu Fiat.

(1) Estava me perdendo no Santo Querer de Jesus bendito e pensava entre mim: "Qual será maior, mais variada, mais múltipla, a obra da Criação ou a obra da Redenção?" E meu sempre amável Jesus me disse:

(2) "Minha filha, a obra Redentora é maior, mais variada e múltipla que a obra da Criação, tão maior, que cada ato da obra Redentora são mares imensos que circundam a obra da Criação, a qual, circundada pela obra Redentora, não é mais que pequenos riachos circundados pelos vastíssimos mares da obra Redentora. Agora, quem vive em minha Vontade, quem toma por vida meu Fiat Voluntas Tua, corre nestes mares imensos da obra Redentora, difunde-se e amplia-se junto, de modo que supera a mesma obra da Criação por isso unicamente a vida do meu Fiat pode dar verdadeira honra e glória à obra da Criação, porque o meu Fiat se multiplica, se estende em qualquer lugar, não tem limites; em troca a obra da Criação tem seus limites e não se pode fazer maior do que é.,

(3) Minha filha, o maior milagre que a minha onipotência pode realizar é que uma alma viva do meu Fiat. Parece-te pouco que minha Vontade santa, imensa, eterna, desça em uma criatura, e pondo juntas minha Vontade com a sua a perco em Mim e me faço vida de todo o obrar da criatura, ainda das mais pequenas coisas? Assim, o seu palpitar, a palavra, o pensamento, o movimento, o respiro, é do Deus vivo na criatura; esconde nela Céu e Terra e, aparentemente, vê-se uma simples criatura. Graça maior, prodígio mais portentoso, santidade mais heróica não poderia dar que meu Fiat. Olhe, a obra da Criação é grande, a obra da Redenção é maior ainda, mas meu Fiat, fazer viver a criatura em minha Vontade supera a uma e a outra, porque na Criação meu Fiat criou e pôs fora minhas obras, mas não ficou como centro de vida nas coisas criadas; na Redenção, o meu Fiat ficou como centro de vida na minha humanidade, mas não ficou como centro de vida nas criaturas, aliás, se a sua vontade não se adere à minha, deixam inúteis os frutos da minha Redenção; em troca o meu Fiat, ao fazer viver a criatura no meu Querer, Eu fico como centro de vida da criatura, e por isso te repito, como outras vezes, que meu Fiat Voluntas Tua será a verdadeira glória da obra da Criação, e o cumprimento dos copiosos frutos da obra da Redenção. Eis a causa pela qual não quero outra coisa de você, senão que meu Fiat seja sua vida, que não olhe outra coisa que meu Querer, porque quero ser centro de sua vida".

14-5
Fevereiro 21, 1922

*O amor faz morrer e viver continuamente.*

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre adorável Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, o meu amor pela criatura fazia-me morrer a cada instante. A natureza do verdadeiro amor é morrer e viver continuamente pela pessoa amada; o amor de amá-la consigo faz-lhe sentir a morte, procura-lhe um martírio, talvez dos mais dolorosos e prolongados, mas o mesmo amor, mais forte que a própria morte, no mesmo instante que morre lhe dá a vida, mas para fazer o que? Para dar vida à pessoa amada e formar com ela uma só vida, aquelas chamas têm virtude de consumir uma vida para a fundir na outra. É propriamente esta a virtude do meu amor, fazer-me morrer, e da minha consumação formar tantas sementes para colocá-las nos corações de todas as criaturas, para fazer-me ressurgir de novo e formar com elas uma só vida Comigo. e novo e formar com elas uma só vida Comigo.

(3) Agora, também tu podes morrer quem sabe quantas vezes por amor meu, e talvez a cada instante, cada vez que me queres ver e não me vês, a tua vontade sente a morte da minha privação, mas em realidade, porque não me vendo, a tua vontade morre porque não encontra a vida que busca, mas depois de que nesse ato se tem consumado, Eu renasço em ti e tu em Mim e reencontras assim a vida querida por ti, mas para voltar de novo a morrer para viver em Mim; assim também se me desejas, teu desejo não satisfeito sente a morte, mas fazendo-me ver encontra novamente sua vida, e assim seu amor, sua inteligência, seu coração, podem estar em contínuo ato de morrer e viver por Mim. Se eu fiz isso por você, é justo que você faça por mim".

15-5
Fevereiro 3, 1923

Os dois agonizantes.

12
(1) Sentia-me faltar a vida pela privação do meu doce Jesus, e se se move em meu interior, faz-se ver naquele mar espantoso das culpas das criaturas; então não podendo mais me lamentava forte, e Ele como comovido por meus lamentos saiu como fora daquele mar, E, estreitando-me, disse- me:

(2) "Minha filha, o que tens? Ouvi os teus lamentos, o estertor da tua agonia, e fiz tudo o que pude para vir em teu socorro e para te sustentar. Minha filha, paciência, somos dois pobres agonizantes, Eu e você, pelo bem da humanidade, e enquanto estamos agonizando o amor nos sustenta para não nos deixar morrer, para dar ajuda à pobre humanidade que jaz como morrendo no mar de tantas culpas".
(3) E enquanto isso me dizia parecia que as ondas daquele mar nos submergiam a ambos. Quem pode dizer o que se sofria? E como naquelas ondas se viam os preparativos de guerra lhe disse:
"Minha vida, quem sabe quanto durará esta segunda desordem, se a primeira durou tanto, o que será da segunda que parece mais longa?
(4) E Jesus muito aflito: "Certamente será mais longo, mas não durará tanto, porque porei a minha mão e os flagelos do Céu os apagarão da terra. Por isso oremos, e você não saia jamais de minha Vontade".

 

16-5
Julho 19, 1923

Prodígios do Fiat Divino no grande vazio da alma.

(1) Estava a rezar e a abandonar-me nos braços da Santíssima Vontade de Deus, e meu sempre amável Jesus saindo de meu interior e dando-me a mão me disse:
(2) "Minha filha, vem comigo e vê o grande vazio que existe entre o Céu e a Terra. Este grande vazio antes de meu Fiat se pronunciar era horrível de ver-se, tudo era desordem, Não se via divisão de terra, nem de águas, nem de montes; era uma massa de espanto; em quando meu Fiat se pronunciou todas as coisas rolaram agitando-se entre elas, e cada uma tomou seu posto, ficando todas ordenadas com a marca de meu Fiat Eterno, e não podem afastar-se se o meu Fiat não quer. A terra não dava mais pavor, e mais, ao ver a vastidão dos mares, suas águas não mais enlameadas mas cristalinas, seu doce murmúrio, como se as águas fossem vozes que muito pouco falassem entre elas, suas ondas fragorosas que às vezes se levantam tanto que parecem montes de água e depois caem no mesmo mar; quanta beleza não contém, Quanto ordem e quanta atenção não desperta na criatura? E logo, a terra toda pintada de verde e florida, quanta variedade de beleza não contém? No entanto, é nada ainda, o vazio não estava completamente cheio, e assim como meu Fiat se moveu sobre a terra e dividiu as coisas e ordenou a terra, assim, movendo-se para cima, no alto, estendi os céus, adornei-os com estrelas, e para preencher o vazio da escuridão criei o sol, que fazendo fugir as trevas encheu de luz este grande vazio e colocou o realce de toda a beleza em tudo criado. Então, quem foi a causa de tanto bem? Meu Fiat Onipotente, mas este Fiat quis o vazio para criar esta máquina do universo.

(3) Agora minha filha, vês este grande vazio no qual muitas coisas criei? Pois o vazio da alma é maior ainda, aquele devia servir para habitação do homem, o vazio da alma devia servir para habitação de um Deus. Não devia pronunciar por seis dias meu Fiat como ao criar o universo, mas por quantos dias contém a vida do homem, e tantas vezes, por quantas vezes pondo de lado o seu querer faz o meu agir; portanto, devo o meu Fiat fazer mais coisas que fez na Criação, queria mais espaço, mas você sabe quem me dá campo livre para preencher este grande vazio da alma?

Quem vive em meu Querer. Meus Fiat são repetidamente ditos, cada pensamento é acompanhado pela potência de meu Fiat, e oh! quantas estrelas adornam o céu da inteligência da alma; suas ações são seguidas por mim Fiat, e oh! quantos sóis surgem nela; suas palavras investidas por meu Fiat são mais doces que o murmúrio das águas do mar, onde o mar das minhas graças corre para encher este grande vazio, e meu Fiat se deleita em formar as ondas que chegam até além do Céu e dele descem mais carregadas para engrandecer o mar da alma. Meu Fiat sopra sobre seu coração, e de suas batidas forma incêndios de amor; meu Fiat não deixa nada, investe todo afeto, as tendências, desejos, e neles forma os mais belos floridos. Quantas coisas não trabalha meu trabalho Fiat neste grande vazio da alma que vive no meu Querer? Oh! como fica para trás toda a máquina do universo, os céus ficam estupefatos e olham trêmulos ao Fiat Onipotente atuante na vontade da criatura e se sentem duplamente felizes cada vez que este Fiat obra e renova sua potência criadora, assim que estão todos atentos em torno de Mim para ver quando meu Fiat é pronunciado, para alcançar a sua dupla glória e felicidade. Oh! se todos conhecessem a potência do meu Fiat, o grande bem que contém, todos se dariam a mercê de mim Vontade Onipotente.

Entretanto, é de chorar, quantas almas com estes grandes vazios em seu seio são piores que o grande vazio do universo antes de que meu Fiat fosse pronunciado? Não agitando nelas meu Fiat, tudo é desordem, as trevas são tão densas que provocam horror e espanto, é uma confusão tudo junto, nada está em seu lugar, a obra da Criação está transtornada nelas, porque só meu Fiat é ordem, a vontade humana é desordem. Por isso filha de meu Querer, se você quer a ordem em você, faça que meu Fiat seja a vida de tudo em você, e me dará o grande contentamento de que meu Fiat possa se desenvolver, fazendo sair os prodígios e os bens que contém"

17-3
Junho 20, 1924
A Divina Vontade contém a plenitude da felicidade. Quando a criatura viver na Divina Vontade, então a caridade e todas as virtudes alcançarão a completa perfeição.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, encontrei-me fora de mim mesma junto com meu dulcíssimo Jesus, Ele era todo bondade e todo admirável; tomou-me minhas mãos entre as suas e as apertou forte a seu peito, e todo amor me disse:.

(2) "Minha querida filha, se soubesses que prazer, que prazer sinto ao falar-te da minha Vontade!
Cada coisa de mais que te manifesto sobre meu Querer é uma felicidade que faço sair de Mim, e que comunico à criatura, e Eu me sinto mais feliz nela em virtude de minha mesma felicidade, porque a especialidade característica de minha Vontade é precisamente esta: Fazer Deus e o homem felizes. Não te lembras, minha filha, do prazer que tivemos juntos, eu ao falar contigo e tu ao ouvir-me, e como nos fazíamos felizes reciprocamente? E sendo minha Vontade a única que contém o germe da felicidade, Eu com manifestá-la e a alma com conhecê-la formamos a planta e os frutos da verdadeira felicidade imperecível e eterna que não diminui nem termina jamais, e não só nós, mas também aqueles que ouvem ou lêem as coisas admiráveis e surpreendentes do meu Querer sentem o doce encanto da minha felicidade. Por isso, para me fazer feliz em minhas obras quero te falar da nobreza de minha Vontade, e até onde pode chegar a alma e o que deve fechar se dá entrada em sua alma a minha Vontade. A nobreza de minha Vontade é divina, e como é do Céu, Ela não desce senão em quem encontra um nobre cortejo, e por isso a primeira que lhe deu a  entrada foi minha Humanidade; Ela não se contenta com pouco, senão que quer tudo porque quer dar tudo, e como pode dar tudo se não encontra tudo para poder nele colocar todos os seus bens?

Assim minha Humanidade lhe deu o santo e nobre cortejo e Ela concentrou em Mim tudo e a todos.
Vê então que para vir a reinar minha Vontade na alma, deve encerrar nela tudo o que fez minha Humanidade, e se as demais criaturas participaram em parte dos frutos de minha Redenção segundo suas disposições, esta criatura os concentrará todos para formar o nobre cortejo a minha Vontade e Ela concentrará na alma o amor que dá e quer de todos, para poder receber o amor de todos e de cada um, não se contenta em encontrar nela a correspondência só do seu amor, mas quer a correspondência de tudo; todas as relações que há na Criação entre o Criador e a criatura a minha Vontade quer encontrá-las na alma onde quer reinar, de outra maneira não seria plena sua felicidade nem encontraria todas suas coisas, nem toda Ela mesma. Minha Vontade deve poder dizer na alma onde reina: Se ninguém me amasse nem me correspondesse, Eu sou feliz por Mim mesma, ninguém pode entristecer minha felicidade, porque nesta alma encontro tudo, recebo tudo e posso dar tudo'.

Repetiria a frase que há nas Três Divinas Pessoas: Somos intangíveis, por quanto as criaturas possam fazer, nenhum pode nos tocar, nem minimamente obscurecer nossa eterna e imutável felicidade'. Só pode nos tocar, entrar a fazer uma só coisa conosco, quem possui minha Vontade, porque sendo ela feliz de nossa mesma felicidade, ficamos glorificados pela felicidade da criatura, e então a caridade alcançará a completa perfeição na criatura, quando minha Vontade reine em modo completo nelas, porque então cada uma se encontrará em virtude dela, em cada criatura, amada, defendida e sustentada, como a ama, defende e sustenta seu Deus, a uma se encontrará transfundida na outra como na própria vida. Então todas as virtudes alcançarão a completa perfeição, porque não se alimentarão da vida humana, senão da Vida Divina..

(3) Por isso de duas humanidades tenho necessidade: da minha para formar a Redenção, e da outra para formar o Fiat Voluntas Tua como no Céu assim na terra. Uma mais necessária que a outra, porque se na primeira devia vir redimi-los, na segunda devia vir restaurá-lo à finalidade única pela qual foi criado e abrir a corrente das graças entre a vontade humana e a Divina, e fazê-la reinar como no Céu assim na terra. E como minha Humanidade para redimir o homem fez reinar minha Vontade como no Céu assim na terra, agora vou buscando outra humanidade, que fazendo reinar como no Céu assim na terra, me faça cumprir todos os desígnios de minha Criação. “Por isso atenta em fazer reinar em ti a minha Vontade, e Eu te amarei com o mesmo Amor com o qual amei a minha Santíssima Humanidade".

18-3
Setembro 16, 1925

Jesus foi sempre igual nas penas. O ser sempre igual é virtude divina. O silêncio de Jesus.

(1) Meus dias são sempre mais amargos pelas longas privações de meu doce Jesus. Só sua Vontade me ficou como preciosa herança de suas tantas visitas feitas a minha pobre alma, mas agora fiquei sozinha, esquecida por Aquele que formava minha vida, que me parecia estar fundidos juntos, e que nem Ele podia estar sem mim, nem eu sem Ele; e enquanto penso: Onde, para onde terá ido Aquele que tanto me amava? O que fiz que me deixou? " Ah Jesus, regressa, regressa que não posso mais! E enquanto eu queria abandonar-me à dor e pensar na minha grande desventura por ter perdido Aquele em quem tinha posto todas as minhas esperanças, a minha felicidade, o Santo Querer Divino se impõe sobre mim fazendo-me fazer o curso de meus atos em sua adorável Vontade, e quase me impede doer mais por estar privada de meu único bem, e fico como petrificada, imóvel, toda sozinha, sem o mínimo consolo nem do Céu nem da terra.

Agora, enquanto eu estava neste estado, eu estava pensando em várias penas da Paixão de Jesus, que me mostrou por pouco tempo:.
(2) "Minha filha, em todas as minhas penas fui sempre igual, jamais mudei, meu olhar foi sempre doce, meu rosto sempre sereno, minhas palavras sempre calmas e dignas; em toda minha pessoa havia tal igualdade de modos, que se tivessem querido me conhecer como seu Redentor, Só pelo meu modo sempre igual em tudo e por tudo me teriam conhecido. É verdade que minhas penas foram tantas que me eclipsavam, e como tantas nuvens que me rodeavam, mas isto era nada, depois da intensidade das penas Eu reaparecia no meio de meus inimigos como sol majestoso, com minha habitual serenidade e com meus mesmos modos sempre iguais e pacíficos. Ser sempre igual é só de Deus e dos verdadeiros filhos de Deus, o modo sempre igual imprime o caráter divino na alma, e faz conhecer que puro e santo é o agir das criaturas. Ao contrário, um caráter desigual é das criaturas e é sinal de paixões que se agitam no coração humano, que o tiranizam, de modo que também no exterior mostram um caráter desagradável que desagrada a todos. Por isso te recomendo ser sempre igual Comigo, contigo mesma e com os demais; igual nas penas e até em minha mesma privação. O caráter igual em ti deve ser indelével, e se bem que as penas da minha privação te aterrorizam e formam dentro e fora de ti as nuvens da dor, teus modos iguais serão luz que afastarão estas nuvens e farão conhecer que, embora escondido, Eu habito em ti"..

(3) Depois disto eu continuava pensando nas penas da Paixão de meu adorável Jesus, com o cravo de sua privação em meu coração, e meu amável Jesus se fazia ver em meu interior todo taciturno e tão afligido que dava piedade, e eu lhe disse:.
(4) "Meu amor, por que se cala? Parece-me que não queres dizer-me mais nada, nem confiar-me os teus segredos e as tuas penas".
(5) E Jesus, todo bondade mas aflito me disse: "Minha filha, o silêncio diz alguma coisa maior que não diz o falar. O silêncio é decisão de quem não querendo ser distraído, cala-se. O silêncio de um pai com um filho amado enquanto se encontra no meio de outros filhos libertinos, é sinal de que quer punir os filhos perversos. Você acredita que seja coisa de nada que não venha a você e que quase não te participe minhas penas? Ah minha filha, não é coisa de nada, pelo contrário, é coisa grande! ; quando eu não venho a ti, a minha justiça se enche de flagelos para castigar ao homem, de maneira que todos os males passados, os terremotos, as guerras, serão como nada diante dos males que virão e diante da grande guerra e revolução que estão preparando; são tantos os pecados que não merecem que te participe minhas penas para livrá-los dos castigos merecidos, por isso tenha paciência, minha Vontade suprirá a minha vista, ainda que esteja escondido em ti, e se isto não fosse não poderias manter a batuta em fazer teus acostumados giros em minha Vontade; sou eu que, embora escondido, os faço em ti, e tu segues Aquele que não vês, mas quando a minha justiça tiver cumprido o cumprimento dos flagelos, Eu estarei contigo como antes, por isso, coragem, espera-me e não temas"..

(6) Agora, enquanto dizia, encontrei-me fora de mim mesma no meio do mundo, e em quase todas as nações se viam preparativos de guerras, novos modos mais trágicos de combater, que davam espanto só de olhar para eles, e além disso a grande cegueira humana, que, tornando o homem mais cego, o fazia agir como besta, não como homem, e tão cego que não via que, enquanto magoava os outros, se magoava a si mesmo. Depois, toda assustada me encontrei em mim mesma, sozinha, sem meu Jesus e com o prego no coração, porque Aquele que amo se tinha ido de mim deixando-me sozinha e abandonada. E enquanto delirava e sofria pela dor, meu doce Jesus, movendo-se em meu interior e suspirando por meu duro estado me disse:.

(7) "Minha filha, acalma-te, acalma-te, estou em ti, não te deixo, e além disso, como posso deixar-te? Olhe, minha Vontade está em toda parte, se você está em minha Vontade não tenho para onde ir, nem encontro lugar para me afastar de você, deveria fazer limitada minha Vontade, reuni-la num ponto para te deixar, mas nem isto consigo fazer. Minha imensidão se estende por toda parte e minha Natureza faz imenso tudo o que me pertence, portanto, imensa é minha Vontade, minha potência, meu amor, minha sabedoria, etc., então, como posso te deixar se em minha Vontade onde quer Eu te encontro? Por isso deves estar segura de que não te deixo, aprofunde-te sempre mais na imensidão do abismo da minha Vontade".

19-4
Março 6, 1926

Assim como da Mãe Celestial soube a coisa mais importante, que o Filho de Deus era Seu Filho, assim será da filha da Divina Vontade, só saberá o mais importante para fazê-la conhecer a Ela. O bem não conhecido não tem caminho para comunicar-se.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, Meu sempre amável Jesus veio, e tomando-me a mão na sua me atraía a Ele no alto, entre o céu e a terra, e eu quase temendo me apertava a Jesus, tomando-me forte de sua santíssima mão, e querendo desafogar com Ele minha pena que tanto me oprime lhe tenho dito:.

(2) "Meu amor e minha vida, Jesus, tempos atrás Você me dizia que queria fazer de mim uma cópia de minha Mãe Celestial, entretanto dela quase nada se soube dos tantos mares de graça com os quais Você a cada instante a inundava, não disse nada a nenhum, tudo o reservou para Si, nem o evangelho diz nada, só se sabe que foi tua Mãe e que deu ao mundo o Verbo Eterno, a Ti, mas tudo o que aconteceu entre Tu e Ela de favores, de graça, Ela guardou tudo para si mesma.

Mas para mim queres o contrário, queres que manifeste o que me dizes, não queres o segredo do que se passa entre nós. Por isso estou dolorida, onde está então a cópia que queres fazer em mim da minha Mãe Celestial?" E meu doce Jesus me apertando forte a seu coração, todo ternura me disse:.

(3) "Minha filha, coragem, não temas, assim como foi de minha Mãe, que não se soube outra coisa senão o que foi necessário, que Eu era seu Filho e que por meio dela vim redimir as gerações humanas, e que foi Ela a primeira na qual Eu tive meu primeiro campo de ações divinas em sua alma; todo o resto, dos favores, dos mares de graças que recebeu, ficou no sacrário dos segredos divinos, no entanto se soube a coisa mais importante, maior, mais santa, que o Filho de Deus era Seu Filho, isto para Ela era a maior honra e que a punha acima de todas as criaturas; portanto, sabendo o mais da minha Mãe, o menos não era necessário. Assim será de minha filha, só se saberá que minha Vontade teve seu primeiro campo de ação divina em tua alma, e tudo o que é necessário para fazer conhecer o que concerne a minha Vontade e como quer sair em campo para fazer com que a criatura regresse à sua origem, como com ânsia a espera em seus braços, a fim de que não haja mais divisão entre Eu e ela. Se isto não se soubesse, como podem suspirar este grande bem? Como dispor-se a uma graça tão grande? Se minha Mãe não tivesse querido fazer saber que Eu era o Verbo Eterno e Filho seu, que bem teria produzido a Redenção? O bem desconhecido, por maior que seja, não tem caminhos para comunicar o bem que possui. E assim como a minha mãe não se opôs, assim a minha filha não se deve opor a comunicar o que diz respeito à minha Vontade, todo o resto dos segredos, os voos que fazes no meu Querer, os bens que tomas, as coisas mais íntimas entre Eu e tu permanecerão no sacrário dos segredos divinos.

Não temas, teu Jesus te contentará em tudo".

20-2
Setembro 20, 1926

Quem não faz a Vontade de Deus é como uma constelação celestial que sai de seu posto, é como um membro deslocado. Ela é dia para quem a faz e noite para quem não a faz.

(1) Tendo terminado de escrever o livro anterior e devendo começar outro, sentia o peso de escrever, e quase amarga tenho suspirado, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior fazia-se ver que movia a cabeça, e suspirando me disse:

(2) "Minha filha, o que há, o que há, como, você não quer escrever?"
(3) E eu, quase tremendo ao vê-lo suspirar por minha causa disse: "Meu amor, quero o que queres Tu, é verdade que sinto o sacrifício de escrever, mas por amor teu farei tudo". E Jesus acrescentou:
(4) "Minha filha, tu não compreendeste bem o que significa viver na minha Vontade, enquanto tu suspiravas, a Criação e todos, e até Eu suspirei junto contigo, porque para quem vive n‟Ela, uma é a vida, um é o ato, um é o movimento, um é o eco, não se pode fazer menos que fazer a mesma coisa, porque Deus é o movimento primeiro, e todas as coisas criadas tendo saído de um movimento cheio de vida, não há coisa que não possua seu movimento, e todos giram em torno do movimento primeiro de seu Criador, então a Criação toda está em minha Vontade e seu giro é incessante, rápido, ordenado, e quem vive n‟Ela tem seu posto de ordem no meio delas, e gira com rapidez junto com todas as coisas criadas sem cessar jamais.

Minha filha, esse teu suspiro de pesar, em todas formou seu eco, e sabes o que sentiram? Como se uma constelação quisesse sair de seu posto, da ordem, do rápido giro em torno de seu Criador; e ao ver esta constelação celestial como sair do meio delas, todas ficaram sacudidas e como obstruídas em seu giro, mas rapidamente recuperadas pela tua rápida adesão continuaram com ordem seu rápido giro, louvando o seu Criador que as tem unidas a Si para as fazer girar em torno d‟Ele. O que dirias se visses uma estrela a sair do meio das outras e a descer? Não dirias: Saiu do seu posto, não faz mais vida comum com as demais, é uma estrela perdida? Tal é quem vivendo em minha Vontade gostaria de fazer a sua, afasta-se de seu posto, desce da altura dos Céus, perde a união com a família celestial, separa-se de minha Vontade, separa-se da luz, da força, da santidade, da semelhança divina, separa-se da ordem, da harmonia e perde a rapidez do giro em torno do seu Criador. Por isso fique atenta, porque no Reino de meu Querer não há pesares, amarguras, mas tudo é alegria; não há coisas forçadas, mas tudo é espontaneidade, como se a criatura quisesse fazer o que Deus quer, como se o quisesse fazer ela mesma".

(5) Eu fiquei espantada ao ouvir isso de meu doce Jesus, e compreendia o grande mal que é fazer a própria vontade e lhe pedia de coração que me desse tanta graça para não me fazer cair em um mal tão grave. Mas enquanto fazia isso, o meu amado Bem voltou, mas se fazia ver com seus membros quase todos deslocados, que lhe davam uma dor indescritível e lançando-se em meus braços me disse:

(6) "Minha filha, estes membros deslocados que me dão tanta dor, são todas as almas que não fazem minha Vontade, Eu ao vir à terra me constituí cabeça da família humana e elas são meus
membros, mas estes membros vinham formados, cheios de nós novamente, vinculados, por meio dos humores vitais de minha Vontade, conforme Ela corre neles, assim vêm em comunicação com meu corpo e ficam reafirmados cada um em seu posto. Minha Vontade como médico piedoso, não só faz correr seus humores vitais e divinos para formar a circulação necessária entre a cabeça e os membros, mas também lhes forma sua perfeita atadura para fazer que fiquem atados e firmes os membros sob sua cabeça. Agora, faltando a minha vontade neles, falta quem ponha o calor, o sangue, a força, o comando da cabeça para voltar a pôr os membros em campo; falta quem os vende, se estiverem deslocados; falta tudo, pode-se dizer que todas as comunicações entre os membros e a cabeça estão quebradas, e estão no meu corpo para me dar dor. É só minha Vontade que põe de acordo e em comunicação ao Criador e à criatura, ao Redentor e aos redimidos, ao Santificador e aos santificados, sem Ela, a Criação, a Redenção, são como se fossem nada para eles, porque não há quem faça correr a vida e os bens que contêm. Os próprios Sacramentos servirão de condenação, porque faltando minha Vontade neles falta quem rompa o véu dos Sacramentos para dar-lhes o fruto e a vida que contêm. Por isso minha Vontade é tudo, sem Ela nossas obras mais belas, nossos prodígios maiores, ficam estranhos às pobres criaturas, porque Ela sozinha é a depositária de todas nossas obras, e portanto só por meio seu são dadas à luz às criaturas. Oh! se todos soubessem o que significa fazer ou não fazer minha Vontade, todos se poriam de acordo com Ela para receber todos os bens possíveis e imagináveis, e a transmissão da mesma Vida Divina".

(7) Depois disto estava fazendo meus acostumados atos no Supremo Querer, e como era quase o alvorecer do dia estava dizendo: "Meu Jesus, meu amor, já é o princípio do dia, e eu em teu Querer quero girar por todas as criaturas, a fim de que ressurgindo de seu sono ressurjam todas em tua Vontade, para te dar a adoração de todas as inteligências, o amor de todos os corações, o ressurgimento de todas as suas obras e de todo o seu ser na luz que este dia fará resplandecer em todas as gerações". Enquanto isso e outras coisas dizia, meu doce Jesus se moveu em meu interior e me disse:

(8) "Minha filha, em minha Vontade não há dias nem noites, nem alvoradas nem pores do sol, mas sim um é seu dia, sempre na plenitude de sua luz, e quem vive n‟Ela pode dizer: „Para mim não há noites, mas sim sempre é dia, por isso um é meu dia.‟ E conforme age para cumprir minha Vontade e para desenvolver sua vida n‟Ela, forma outras tantas luzes fulgidíssimas no dia de sua vida, que voltam mais glorioso, mais belo, o dia de meu Querer onde ela vive. Sabe para quem vem formado o dia e a noite, a alvorada e o pôr do sol? Para quem ora faz a minha Vontade e ora a sua: Se faz a minha forma o dia, se faz a sua forma a noite, quem vive totalmente n‟Ela forma a plenitude do dia, quem não vive de todo, e só com esforço faz a minha Vontade, forma a alvorada; quem se lamenta do que Ela dispõe e quer subtrair-se, forma o pôr do sol; e para quem de fato não faz minha Vontade, é sempre noite perene, princípio daquela noite eterna do inferno que não terá jamais fim".

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