ESCOLA DA DIVINA VONTADE - TRIGÉSIMA SEMANA DE ESTUDOS

 Parte1 Parte 2

VOLUME 1

Matrimônio. O Matrimonio com Jesus

(205) Agora, nestas saídas do corpo que o Senhor me fazia fazer, às vezes renovava-me a
promessa do noivado já dito. Quem pode dizer os ardentes desejos que o Senhor infundia em mim
de que se efetuasse este místico matrimonio? Muitas vezes lhe rogava dizendo: "Esposo
dulcíssimo, faça-o logo, não atrase mais minha íntima união Contigo, ah, estreitamo-nos com
vínculos mais fortes de amor, de modo que ninguém nos possa separar nem por poucos instantes".
E Jesus agora me corrigia de uma coisa, agora de outra. Recordo que um dia me disse:
(206) "Tudo o que é terreno, tudo, deves tirar, não só do teu coração mas também de teu corpo,
tu não podes entender quanto nocivo é e que impedimentos são a meu Amor mesmo as mínimas
sombras terrenas".
(207) Eu imediatamente lhe disse: "Se tiver alguma outra coisa para tirar, diga-me, porque estou
disposta a fazê-lo". Mas enquanto dizia isto, eu mesma percebi que tinha um anel de ouro no dedo
que representava a imagem do Crucificado, e imediatamente lhe disse: "Esposo santo, Queres que
o tire?" E Ele me disse:
(208) "Te devendo dar Eu, um anel mais precioso, mais belo, e no qual ao vivo estará impressa
minha imagem, tanto que cada vez que o vir novas flechas de amor receberá seu coração, por isso
este anel não é necessário".
(209) E eu prontamente o tirei. Finalmente chegou o suspirado dia, depois de não pouco sofrer.
Recordo que faltava pouco para completar o ano de estar continuamente na cama, era dia da
Pureza de Maria Santíssima. Na noite anterior daquele dia, o meu amado Jesus fez-se ver em
atitude festiva, aproximou-se de mim e tomou o meu coração nas suas mãos e olhou para ele e
olhou para ele, limpou-o e depois devolveu-me. Depois tomou uma vestidura de imensa beleza,
me parecia que o fundo era como com filetes de ouro de várias cores e me vestiu com ela, depois
tomou duas gemas como se fossem brincos e os pôs em minhas orelhas, logo me adornou o
pescoço e os braços e me cingiu a testa com uma coroa de imenso valor, Adornada de pedras e
pedras preciosas, toda resplandecente de luz, e me parecia que essas luzes eram tantas vozes
que ressoavam entre elas e a claras notas falavam da beleza, poder, força e de todas as outras
virtudes de meu esposo Jesus. Quem pode dizer o que eu entendi e em que mar de consolo
nadava minha alma? É impossível poder dizê-lo. Agora, enquanto Jesus me cingiu a testa me
disse:
(210) "Esposa dulcíssima, esta coroa te ponho a fim de que nada falte para te fazer digna de ser
minha esposa, masque depois que se realize nosso matrimonio a levarei ao Céu para reserva-la
para o momento da morte".
(211) Finalmente tomou um véu e com ele cobriu-me toda, desde a cabeça até os pés e assim
deixou-me. Ah! Parecia-me que nesse véu havia um grande significado, porque os demônios ao
me ver coberta com ele ficavam tão espantados e sentiam tal medo de mim, que fugiam
aterrorizados. Os mesmos anjos estavam ao meu redor com tal veneração que eu mesma ficava
confusa e toda cheia de vergonha.

2-39
Junho 20, 1899

Como tudo está no amor.

(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, parece que Jesus quis aliviar-me um pouco,
depois de que por algum tempo fui em busca Dele. De longe vi um menino, e como um raio que
cai do céu vim, assim que cheguei o tomei em meus braços e me veio uma dúvida de que não
fora Jesus lhe disse:
(2) "Meu querido Teseu, me diga, quem é você?"
(3) E Ele: "Eu sou teu querido e amado Jesus".
(4) E eu a Ele: "Meu menino formoso, peço-te que tomes meu coração e o leves Contigo ao
Paraíso, pois junto com o coração irá minha alma".
(5) Parecia que Jesus tomou meu coração e o uniu de tal maneira ao seu, que se tornavam um
só. Depois abriu-se o Céu, parecendo que se preparava para uma festa grandíssima, no
mesmo momento desceu do Céu um jovem de formoso aspecto, todo cintilante de fogo e
chamas. Jesus disse para mim:
(6) "Amanhã é a festa do meu querido Luís, devo assistir".
(7) E eu: "Então deixa-me sozinha, como farei?"
(8) E Ele: "Também tu virás, olha como é belo Luís, mas o que foi mais nele, que o distinguiu na
terra, era o amor com que operava, tudo era amor nele, o amor ocupava-lhe o interior, o amor
circundava-o no exterior, assim que também o respiro se podia dizer que era amor, por isso
dele se diz que não sofreu jamais distração, porque o amor o inundava por todas as partes e
por este amor será inundado eternamente, como tu vês".
(9) E assim parecia que era tão grande o amor de São Luís, que podia incinerar todo o
mundo. Depois Jesus acrescentou:
(10) "Eu passeio sobre os montes mais altos e neles formo minha delícia".
(11) Eu não entendi o significado, e ele continuou dizendo:
(12) "Os montes mais altos são os santos que mais me amaram, e Eu faço deles minha delícia
quando estão sobre a terra e quando passam ao Céu, assim que o tudo está no amor".
(13) Depois disto pedi a Jesus que me abençoasse e àqueles que naquele momento via, e Ele
dando a bênção desapareceu.

6-31
Abril 11. 1904

Jesus agradece a Luisa.

(1) Continuando o meu estado habitual, depois de ter esperado muito, assim que vi o meu adorável
Jesus disse-me:
(2) "Tu que tanto me querias contigo, o que queres, o que te importa mais?"
(3) E eu: "Senhor, nada quero, o que mais me importa é só Tu".
(4) E Ele disse: "Como, não queres nada? Pede-me qualquer coisa, a santidade, minha graça, as virtudes, que Eu tudo te posso dar".
(5) E eu disse mais uma vez: "Nada, nada, só te quero a Ti e ao que queres Tu".
(6) E mais uma vez acrescentou: "Então não queres mais nada? Eu só basto para você? Seus
desejos não têm outra vida em você que eu só? Então toda a tua confiança deve estar só em Mim,
e apesar de não quereres nada, obterás tudo".
(7) E sem me dar mais tempo, como relâmpago desapareceu. Então eu fiquei muito decepcionada,
especialmente porque quanto mais o chamava, não voltava, e pensava entre mim: "Eu não quero
nada, não penso, não me preocupo mas somente com Ele, e Ele parece que não se interessa por
mim, não sei como seu bom coração pode chegar a tanto". E tantos outros disparates que eu dizia.
Agora, enquanto estava nisto, voltou e me disse:
(8) "Obrigado, obrigado. O que é mais, quando o Criador agradece à criatura ou quando a criatura
agradece ao Criador? Agora, deves saber que quando você me espera e tardo em vir, Eu te
agradeço a ti; quando venho logo, você está obrigada a me agradecer a Mim. Então, parece-te
pouco que o teu Criador te dê a ocasião de poder ficar vinculado contigo e agradecer-te?"
(9) Eu fiquei toda confusa.

7-33
Julho 27, 1906

Na cruz Jesus dotou as almas, e as desposou a Ele.

(1) Esta manhã fez-se ver o meu adorável Jesus abraçando a cruz, e eu pensava
interiormente quais tinham sido seus pensamentos ao recebê-la".
(2) E Ele disse-me: "Minha filha, quando recebi a cruz abracei-a como ao meu mais amado
tesouro, porque na cruz dotei as almas e as desposei Comigo. Agora, olhando a cruz, sua altura
e largura, Eu me alegrei porque via nela os dotes suficientes para todas as minhas esposas, e
nenhuma podia temer não poder casar-se comigo, tendo eu em minhas próprias mãos, na cruz,
o preço de seu dote, mas com esta única condição, que se a alma aceita os pequenos donativos
que Eu lhe envio, os quais são as cruzes, como penhor de que me aceita por Esposo, o
desposório é formado e faço-lhe a doação do dote. Mas se não aceita os donativos, isto é, não
se resignando a minha Vontade, fica tudo anulado, e apesar de que Eu quero dota-la não posso,
porque para formar um esponsal se necessita sempre a vontade de ambas partes, e a alma não
aceitando os donativos, significa que não quer aceitar o noivado".

A FESTA DE CRISTO REI, PRELUDIO DO REINO DA DIVINA VONTADE

Depois disto estava pensando na festa de hoje, isto é a festa de Cristo Rei, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(5) "Minha filha, a Igreja não faz outra coisa que intuir o que deve conhecer sobre minha Divina Vontade e como deve vir seu reino. Por isso esta festa é o prelúdio do reino de meu Fiat Divino.
Assim que a Igreja não está fazendo outra coisa que honrar a minha Humanidade com aqueles títulos que com justiça me devem, e quando me tiverem dado todas as honras que me convêm, passará a honrar e a instituir a festa ao reino de minha Divina Vontade, pela qual a minha humanidade estava animada. A Igreja vai pouco a pouco, e ora institui a festa ao meu coração, ora consagra com toda a solenidade o século ao Cristo Redentor, e ora passa com mais solenidade a instituir a festa ao Cristo Rei. Cristo Rei significa que deve ter seu reino, deve ter povos dignos de tal Rei, e quem poderá me formar este reino senão minha Vontade? Então poderei dizer: ‘Tenho meu povo, meu Fiat me formou.' Oh, se as cabeças da Igreja conhecessem o que te manifestei sobre minha Divina Vontade, o que quero fazer, seus grandes prodígios, meus anseios, meus batimentos dolorosos, meus suspiros angustiosos porque quero que minha Vontade reine, que faça felizes todos, restabeleça a família humana, nesta festa de Cristo Rei sentiriam não ser outra coisa que o eco secreto de meu coração, que fazendo eco no deles para atrair sua atenção e reflexão, sem saber me instituem a festa de Cristo Rei. Cristo..., Rei, e seu verdadeiro povo onde está? E diriam: Apressemo-nos a fazer conhecer sua Vontade Divina, façamo-la reinar a fim de que demos o povo a Cristo que chamamos Rei, de outra maneira o teremos honrado com o nome, mas não com os fatos".

8-30
Março 22, 1908
O estado de Luísa é estado de oração contínua, de sacrifício e de união com Deus.

(1) Continuando meu habitual estado, encontrava-me fora de mim mesma e me parecia ver a M. e a outros sacerdotes, e tendo saído um jovem de beleza divina, aproximando-se a mim me fornecia
um alimento. Eu lhe roguei que desse alimento que me dava a mim também a M. e aos outros.
Então, aproximando-se de M. lhe dava uma boa parte dizendo:
(2) "Eu te compartilho de meu alimento, mas você me tira a fome a Mim dando-me as almas",
apontando-lhe a obra que M. quer fazer, e ao mesmo tempo o incitava fortemente em seu interior
dando-lhe impulsos e inspirações. Depois tornou os outros partícipes do alimento. Neste momento
saiu uma mulher venerável, e aqueles que tinham recebido o alimento do jovem puseram-se ao
redor dela e perguntaram-lhe qual era meu estado; e a mulher respondeu:
(3) "O estado desta alma é estado de oração contínua, de sacrifício e de união com Deus; e
enquanto está neste estado está exposta a todos os eventos da Igreja, do mundo e da justiça de
Deus, e reza, repara, desarma e impede, por quanto pode, os castigos que a justiça quer
descarregar sobre as criaturas, assim que as coisas estão todas suspensas".
(4) Agora, enquanto eu ouvia isso, eu dizia para mim: "Eu sou tão ruim e apesar disso eles dizem
que esse é o meu estado". Eu me encontrava perto de uma janelinha alta, alta e dali via tudo o que
se fazia na Igreja e no mundo, e os flagelos que estavam por cair, mas quem pode dizê-los todos?
Melhor seguir adiante para não me estender muito. Mas eu, oh! Como eu gemia e implorava, e eu
queria me desfazer em pedaços para impedir tudo, mas quando eu estava nisso tudo desapareceu
e me encontrei em mim mesma.

9-31
Março 16, 1910

O caminho estreito da salvação.

(1) Falando com o confessor, tinha-me dito que é difícil salvar-se, e o próprio Jesus Cristo o disse:
"A porta é estreita, deveis esforçar-vos para entrar". Depois, tendo recebido a comunhão, Jesus me
disse:
(2) Pobre de Mim, como me consideram estreito. Dizei ao confessor que da sua estreiteza julgam a
minha; não me têm por aquele Ser grande, imenso, interminável, potente, infinito em todas as
minhas perfeições, e que pelas minhas estreitezas posso fazer passar grandes multidões de
gentes, mais que pelas mesmas larguras".
(3) E enquanto isso dizia me parecia ver um caminho estreito, estreito, que terminava em uma
porta pequena também estreita, mas cheia, cheia de povos que quase brigavam entre eles para ver
quem podia caminhar para frente e entrar. E Jesus acrescentou:
(4) "Olha minha filha que grande multidão se apinha e fazem competição por chegar primeiro, na
competição há muito que fazer, em troca se o caminho fosse amplo nenhum se apressaria,
sabendo que há espaço para caminhar quando lhes agrade, e dando-se tempo pode vir a morte, e
não se encontrando no caminho estreito se encontrariam na desembocadura da porta larga do
inferno. Oh! quanto ajuda esta estreiteza; mesmo entre vocês acontece isto, se se faz uma festa,
uma função, se se sabe que o lugar é estreito muitos se apressam e mais são os espectadores
que gozam daquela festa ou função; mas se se sabe que o lugar é amplo, ninguém se apressa e
poucos são os espectadores, porque sabendo que há lugar para todos tomam seu tempo, e quem
chega a metade, quem no final, e quem acha que já tudo terminou e não goza nada. Assim teria
sido se o caminho que leva à salvação fosse largo, poucos se apressariam, e poucos teriam sido a
festa do Céu".

Outubro 14, 1911

O todo está no amor. Como é escasso o número daqueles que fundem sua vida toda no amor.

(1) Meu sempre amável Jesus se fazia ver como querendo dormir dentro de mim, e eu distraindo-o
lhe disse: "Jesus, que fazes? Não é tempo de dormir, os tempos são tristes e é preciso muita
vigília, ou o que, queres fazer acontecer hoje alguma coisa grave?"
(2) E Jesus: "Deixa-me dormir, porque sinto necessidade disso, e tu repousa junto Comigo".
(3) E eu: "Não Senhor, Tu sofres muito e te é necessário o repouso, eu não".
(4) E Ele: "Então Eu durmo e você detém o peso do mundo, para ver se o faz?"
(5) E eu disse: "Certamente que por mim não o farei, mas, juntamente Contigo, o amor não é para
Ti mais do que o repouso? Eu quero te amar muito, muito, mas com seu amor, para poder te dar o
amor de todos; com o amor te aliviarei toda dor, te farei esquecer todos os desgostos, suplirei a
tudo o que as criaturas deveriam fazer, não é verdade oh! Jesus?"
(6) E Ele: "É verdade o que tu dizes, mas o amor também é justo. Oh, quão escasso é o número
daqueles que fundem toda a sua vida no amor! Te recomendo filha minha, faz conhecer a todos
aqueles que possas que o todo está no amor, a necessidade do amor, e que tudo o que não é
amor, ainda que sejam coisas santas, em lugar de fazê-los caminhar para frente os fazem ir para
trás; sua missão seja ensinar a verdadeira vida de amor, que é onde está todo o belo das criaturas
e tudo o mais belo que me podem dar".
(7) E eu: "Quanto é preciso para fazê-los compreender isso, a alguns parece estranho que o tudo
esteja no amor, e que amando, o amor assume o compromisso de fazê-las semelhantes a Ti que
és todo amor, mas farei tudo o que puder". Nisso via a Jesus que queria retirar-se, e eu: "Não me
deixes, agora que estamos falando de amor queres retirar-te? O amor te agrada tanto". Mas depois
de um pouco desapareceu.
(8) Acrescento que no dia 11 tinha dito a Jesus: "Ou me terás na cruz ou te terei na cruz". E como
Jesus me tinha feito ver que Ele levava um caixão todo preto sobre as costas, Ele todo curvado
debaixo daquele caixão me disse:
(9) "Este caixão é a Itália, não aguento mais carregá-lo, sinto-me esmagado sob o seu peso".
(10) E parecia que levantando-se, o caixão cambaleava e a Itália recebia uma terrível sacudida".

11-35
Setembro 2,1912
As reflexões, as preocupações sobre si mesmo, mesmo sobre o bem, para quem ama a Deus são tantos vazios que formam o amor.

(1) Estava dizendo a meu sempre amável Jesus: "Meu único temor é que Você pudesse me
deixar, retirando-se de mim".
(2) E Jesus: "Minha filha, não posso deixar-te porque tu não fazes nenhuma reflexão sobre ti
mesma, nem tomas nenhum cuidado de ti; as reflexões, os cuidados pessoais mesmo sobre o
bem, para quem me ama de verdade são tantos vazios que forma o amor, portanto minha Vida
não enche toda, toda a alma, estou como que à margem, num canto e dão-me assim ocasião de
me dar as minhas escapadas; em vez disso quem não é levado às reflexões dos cuidados
próprios, e pensa só em me amar, e toma cuidado só de Mim, Eu o encho tudo, Não há ponto
em sua vida em que não encontre a minha, e querendo me dar minhas escapadas deveria me
destruir a Mim mesmo, o que não pode ser jamais.
(3) Minha filha, se as almas soubessem o mal que fazem as reflexões próprias, curvam a alma,
abaixam-na, fazem-na ter o rosto voltado para si mesmas, e quanto mais se olham mais
humanas se tornam, mais refletem, mais sentem as misérias e mais empobrecem, em vez disso,
o único pensamento de Mim, em me amar, em estar toda abandonada em Mim, faz reta a alma,
e em ter o rosto dirigido a me olhar só a Mim, se elevam e crescem; mais me olham mais divinas
se fazem, quanto mais refletem sobre Mim mais se sentem ricas, fortes e corajosas".
(4) Depois acrescentou: "Minha filha, as almas que estão unidas com meu Querer e que me
fazem fazer minha Vida nelas e pensam só em me amar, estão unidas Comigo como os raios ao
sol; quem forma os raios? Quem lhes dá vida? O sol; se o sol não pudesse formar os raios não
poderia estender sua luz nem seu calor, assim que os raios ajudam ao sol a fazer seu curso e o
embelezam demais. Assim eu, somente por meio destes raios que formam uma só coisa Comigo, me estendo sobre todas as regiões e dou luz, graça, calor, e me sinto mais embelezado
que se não os tivesse.
(5) Poderia perguntar-se agora a um raio de sol quantos caminhos fez, quanta luz, quanto calor
deu? Se tivesse razão responderia: "Não quero me ocupar disto, sabe-o o sol e basta; mas se
houvesse outras terras às quais dar luz e calor os daria, porque o sol que me dá vida, a tudo
pode chegar". E se o raio quisesse refletir, voltar atrás ao que fez, perderia seu curso e se
escureceria. Assim são minhas almas amantes, são meus raios viventes, não refletem sobre o
que fazem, estar no Sol Divino é toda sua intenção, e se quisessem refletir lhes sucederia como
ao raio do sol e muito perderiam".


Cap:

32. Apresentação de Jesus ao Templo. A virtude de Simeão e a profecia de Ana.

1 de fevereiro de 1944.

Vejo sair de uma casinha muito modesta um casal. De uma pequena escada externa desce uma mãe muito jovem com um menino nos braços, envolvido em um pano branco. Reconheço esta nossa mamãe. E sempre ela, pálida e loira, elegante e tão gentil em tudo o que faz. Está vestida de branco, com um manto azul claro, no qual se envolve. Na cabeça traz um véu branco. Vai levando com todo o cuidado o seu Menino.

Aos pés da escadinha, José a espera, ao lado de um burrinho cinzento. José está todo vestido de cor marrom claro, tanto na túnica, como no manto. Ele olha para Maria, e lhe sorri. Quando Maria chega perto do burrinho, José passa a rédea do animal por baixo do braço esquerdo e segura, por um momento, o Menino, que está dormindo tranquilo, para que Maria possa acomodar-se melhor na sela. Depois ele lhe devolve Jesus, e põem-se a caminho. José vai ao lado de Maria, segurando sempre o animal pela rédea e prestando atenção para que este vá sempre direito, e sem tropeçar.

Maria está com Jesus no colo e, como por temor de que o frio lhe possa fazer mal, estende sobre ele um dos lados de seu manto. Os dois esposos falam pouco, mas sorriem um para o outro freqüentemente. A estrada, que está longe de ser um modelo de estrada, vai-se estendendo pelo meio de um campo que, nesta estação do ano, está vazio. Um ou outro viajante passa pelo casal, mas são raros.  Depois, eis as casas que vão aparecendo e alguns dos muros que rodeiam as cidades. Os dois esposos entram por uma porta, começando o percurso sobre o calçamento (muito irregular) da cidade. O caminho se torna muito mais difícil, seja porque o trânsito os obriga a parar o burrinho com frequência, seja porque este dá contínuas sacudidelas sobre as pedras e os buracos, perturbando Maria e o Menino.

A estrada não é plana, é uma ladeira ainda que leve. Está apertada entre as casas altas, de portinhas estreitas e baixas, com raras janelas, que dão para a rua. No alto, o céu se mostra, com muitos retalhos do seu azul, entre uma casa e outra, ou melhor, entre um e outro terraço. Em baixo, na rua, há gente e vozerio, transeuntes que se encontram com aqueles que estão nos seus jumentos, ou com os que conduzem jumentos com carga. Outros vão indo atrás de alguma embaraçante caravana de camelos. A um certo ponto, passa uma patrulha de legionários romanos, com grande barulho de cascos e de armas, desaparecendo atrás de um arco colocado em uma rua muito estreita e pedregosa. José vira para a esquerda, e entra por uma rua mais larga e mais bonita. No fim desta vejo o muro de uma fortaleza, que eu já conheço.
Maria apeia do burrinho, junto à porta, onde há uma espécie de posto para outros jumentos. Eu digo "posto", porque é parecido com um barracão, ou melhor, um telheiro, onde há palha pelo chão e umas estacas com argolas onde se amarram os animais. José dá algumas moedas a um homenzinho, que apareceu por ali, conseguindo deste modo um pouco de feno e um cântaro de água tirado de um poço velho que fica num canto, para alimentar o burrinho.

Em seguida, vai ao encontro de Maria, entrando com ela no recinto do Templo. Dirigem se primeiro para os pórticos, onde estão aqueles que Jesus mais tarde fustigaria severamente: os vendedores de pombos e cordeiros e os cambistas. José compra dois pombinhos brancos. Não troca o dinheiro. Compreende-se que ele já tem a quantia certa. José e Maria se dirigem a uma porta lateral, de oito degraus, como, me parece, tenham todas as portas. É como se o cubo do Templo seja erguido do solo. Esta porta tem um grande átrio, parecido com os portões de nossas casas das cidades, mas seu átrio é mais amplo e adornado. Nele se encontram à direita e à esquerda, duas espécies de altares, ou seja, duas construções retangulares, cuja finalidade, a principio, não compreendo bem. Parecem baixas bacias, porque a parte interna é mais baixa do que a beirada externa, que fica alguns centímetros mais alta.

Aparece um sacerdote, não sei se chamado por José, ou se tendo vindo por si mesmo. Maria lhe oferece os dois pobres pombos e eu, que já sei qual a sorte que eles vão ter, viro o olhar para o outro lado. Observo os ornatos do pesado portal, do teto e do átrio. Mas parece-me ver, com o rabo do olho, o sacerdote aspergir Maria com água. Deve ser água, porque não vejo ficarem manchas em sua veste. Depois, Maria que, junto com os pombinhos tinha dado uma porção de moedas ao sacerdote (eu me tinha esquecido de dizer isso), entra com José no Templo verdadeiro e propriamente dito, acompanhada pelo sacerdote. Eu olho para todos os lados. É um lugar cheio de adornos. Esculturas de cabeças de anjos, palmas e outros ornatos estão sobre as colunas, sobre as paredes e o teto. A luz penetra por curiosas janelas longas e estreitas, naturalmente sem vidros, abertas em diagonal sobre a parede. Suponho que seja para impedir a entrada dos aguaceiros.

'Maria segue até um certo ponto, onde pára. A alguns metros há outros degraus, e acima deles há outra espécie de altar, por trás do qual, há ainda uma construção. Percebo agora que eu achava que estivesse no Templo, mas me encontrava na parte que contorna o Templo verdadeiro e propriamente dito, isto é, o Santo, dentro do qual ninguém, a não ser os sacerdotes, acho que podem entrar. Aquilo que eu pensei que fosse o Templo, não é mais que um vestíbulo fechado, que cerca de três partes o Templo, onde está encerrado o Tabernáculo. Não sei, se me expliquei bem. Mas não sou arquiteta, nem engenheira.

Maria oferece ao sacerdote o Menino, que acabou de despertar e está movendo os olhinhos inocentes ao redor de si próprio, com aquele olhar espantado dos bebês de dias. O sacerdote o toma em seus braços, e o ergue, virado para o Templo, junto àquela espécie de altar, que está acima dos degraus. O rito terminou. O Menino é restituído à mamãe, e o sacerdote se retira.

Há várias pessoas olhando, curiosas. Um velhinho encurvado abre caminho entre essas pessoas, mancando, e apoiando-se num bastão. Deve ter muita idade, eu diria, mais de oitenta anos. Aproxima-se de Maria, pedindo-lhe que o deixe pegar o Menino por um instante. Maria atende ao seu pedido, sorrindo. Simeão pega o Menino e o beija. Eu sempre acreditei que ele pertencesse à classe sacerdotal, mas ao invés parece ser apenas um simples fiel, a julgar pelas suas roupas. Jesus lhe sorri, fazendo aquela caretinha cheia de dúvidas, característica das crianças de peito. Parece que o observa com curiosidade, porque o velhinho está chorando e rindo ao mesmo tempo, e suas lágrimas fazem um verdadeiro bordado de pontinhos de luz, brilhando, enquanto vão-se insinuando por entre as rugas, enchendo de pérolas a barba longa e branca, para a qual Jesus estende as mãozinhas. É Jesus, mas é sempre um bebê, e tudo o que se move à sua frente, lhe chama a atenção, e lhe dá vontade de pegar para conhecer melhor, seja lá o que for. Maria e José sorriem, e também os presentes, que elogiam a beleza do Pequenino.

Ouço as palavras do velho santo, e vejo o olhar espantado de José, o olhar comovido de Maria e também da pequena multidão, em parte admirada mas também comovida, tomada pela alegria pelas palavras do velho. No meio da pequena multidão estão alguns barbudos e enfatuados sinedritas, que balançam a cabeça, olhando para, Simeão com uma compaixão zombeteira. Devem pensar que ele está fora de seu juízo, pela idade.

O sorriso de Maria se apaga e se transforma em uma acentuada palidez, quando Simeão lhe anuncia sua futura dor. Por mais Que ela já o saiba, esta palavra lhe aflige o espírito. Ela se aproxima ainda mais de José, em busca de conforto, apertando com sentimento o Menino ao seio, bebendo, como alma sequiosa, as palavras de Ana que, sendo mulher, tem piedade do sofrimento de Maria, e lhe promete que o Eterno amenizará com uma força sobrenatural, a hora de sua dor: "Mulher, para aquele que deu o Salvador ao seu povo, não faltará poder para mandar um anjo confortar-te no teu pranto. Nunca faltou a ajuda do Senhor às grandes mulheres de Israel, e tu és bem mais do que Judite e Jael. O nosso Deus te dará um coração de ouro puríssimo, para que possas resistir ao mar de dor. pelo qual te tornarás a maior mulher da criação, a Mãe. E tu, Menino, lembra-te de mim, na hora da tua missão". E aqui cessa minha visão.

2 de fevereiro de 1944.

'Jesus diz:

- Nascem dois ensinamentos para todos, da descrição que fizeste.

O primeiro: Não é a um sacerdote mergulhado nos ritos, mas o espírito ausente, e, sim, a um simples fiel que a verdade se revela. O sacerdote, sempre em contato com a Divindade, voltado a tudo que é relacionado a Deus, dedicado a tudo o que está acima da carne, deveria ter percebido logo quem era o Menino que estava sendo oferecido ao Templo, naquela manhã. Mas, para que pudesse pressentir, precisava de um espírito vivo. Não simplesmente de uma veste para cobrir um espírito, que, se não estava morto, estava muito adormecido. O Espírito de Deus pode, se quiser, trovejar e sacudir, como um raio e um terremoto, até o espírito mais obtuso. Isto Ele pode. Mas geralmente, visto que Ele é Espírito de ordem, dado que Deus é ordem em cada uma de Suas Pessoas e em Seu modo de agir. Ele se expande e se comunica, não digo só onde há merecimento suficiente para receber a sua efusão (e nesse caso, seriam poucos os casos em que Ele se expandiria, nem mesmo tu conhecerias as suas luzes) mas, sim, onde Ele vê "boa vontade" em merecer a sua efusão.

Como se explica essa boa vontade? Tanto quanto possível, com uma vida inteira em Deus. Na fé, na obediência, na pureza, na caridade, na generosidade, na oração. Não tanto no ativismo, mas na oração. Há uma diferença menor entre a noite e o dia, do que entre ativismo e a oração. A oração é comunhão de espírito com Deus, da qual, vós saís revigorados e decididos a serdes sempre mais d'Ele. O Ativismo é um hábito qualquer, feito por diversos fins, mas sempre egoístas, deixando-vos corno sois, ou melhor, vos agrava até de uma culpa de mentira e de acídia.

Simeão tinha esta boa vontade. A vida não lhe tinha poupado trabalhos e provações. Mas ele não perdeu a boa vontade. Os anos e as vicissitudes não tinham enfraquecido nem abalado a sua fé no Senhor, nas Suas promessas, e não tinham diminuído a sua boa vontade de ser sempre mais digno de Deus. Antes que os olhos de seu servo fiel se fechassem à luz do sol, na esperança de se reabrirem ao Sol de Deus rutilando nos Céus (que seriam abertos, quando Eu lá subisse, após o meu martírio). Deus lhe mandou um raio do Espírito, que o guiou ao Templo para ver a Luz do mundo. "Movido pelo Espírito Santo", diz o Evangelho. Oh! Se os homens soubessem que Amigo perfeito é o Espírito Santo! Que Guia, que Mestre! Se amassem e invocassem, este Amor da Santíssima Trindade, esta Luz da Luz, este Fogo do Fogo, esta Inteligência, esta Sabedoria!

Muito além do necessário, eles haveriam de saber! Escuta, Maria; escutai, meus filhos: Simeão esperou durante toda uma longa vida para "ver a Luz" para saber que a promessa de Deus estava cumprida. Mas ele nunca duvidou. Nunca disse a si mesmo: "É inútil que eu persevere em esperança e em oração." Ele perseverou. E alcançou a graça de "ver" o que nem o sacerdote, nem os sinedritas, cheios de soberba e opacidade, viram: o Filho de Deus. o Messias, o Salvador naquele corpo infantil, que lhe dava calor e sorrisos. Ele recebeu portanto o sorriso de Deus, como primeiro prêmio de sua vida honesta e piedosa, através dos meus lábios de Menino.

Segunda lição: As palavras de Ana. Também ela, que é profetisa, vê o Messias em Mim, recém-nascido. Isto é natural, dada a sua capacidade de profecia. Mas escuta, escutai o que ela, inspirada pela fé e pela caridade, diz à minha mãe. Tirai disto luz para o vosso espirito, para que ele rejubile neste tempo de trevas, nesta festa da Luz. " Àquele que deu um Salvador não faltará o poder de dar o seu anjo para confortar o teu, o vosso pranto."

Pensai que Deus deu-se a si mesmo, para anular a obra de satanás nos espíritos. Agora não poderá Ele vencer os satanases que vos torturam? Não poderá enxugar o vosso pranto, derrotando esses satanases e enviando-vos de novo a paz do seu Cristo? Por que não o pedir com fé? Fé verdadeira, poderosa, urna fé, diante da qual o rigor de Deus, desprezado por vossas inúmeras culpas, caia com um sorriso, trazendo o perdão como ajuda, trazendo a sua bênção, como arco-íris sobre esta terra que está submergindo em um dilúvio de sangue procurado por vós mesmos?

Pensai: O Pai, depois de ter castigado os homens com o dilúvio, disse a Si mesmo e ao Seu patriarca: "Não amaldiçoarei mais a terra por causa dos homens, porque os sentidos e os pensamentos do coração do homem estão inclinados para o mal, desde a adolescência; portanto, não ferirei o ser vivo mais uma vez." Ele foi fiel à Sua palavra. Não mandou mais o dilúvio. Mas vós, muitas vezes já dissestes a vós mesmos e a Deus: "Se nos salvarmos desta vez, se nos salvas, não faremos mais guerras, nunca mais." E depois sempre continuais fazendo guerras, cada vez mais tremendas. Quantas vezes, ó homens falsos e sem respeito para com o Senhor é a vossa palavra? No entanto, Deus vos ajudaria ainda uma vez, se a grande massa dos fiéis o chamasse com fé e amor poderoso. Escutai, ó vós todos — que, sendo muito poucos para contrabalançar os muitos que estão mantendo vivo o rigor de Deus, permanecei devotos a Ele, não obstante a hora tremenda que ameaça crescer a cada instante — e colocai as vossas aflições aos pés de Deus. Ele saberá mandar-vos o Seu anjo, como mandou o Salvador ao mundo. Não temais. Ficai unidos à Cruz. Ela sempre venceu as insídias do demônio, que, por meio da ferocidade dos homens e das tristezas da vida, procura o domínio dos homens pelo desespero, isto é, pela separação de Deus, pois não pode apoderar-se dos corações de outra maneira.



CAPÍTULO 25
COM UM ANO E MEIO DE IDADE A MENINA MARIA SANTÍSSIMA COMEÇOU A FALAR; SUAS OCUPAÇÕES ATÉ IR AO TEMPLO.

Maria começa a falar
389. Chegou o tempo de oportuna e perfeitamente, quebrar-se o santo silêncio de Maria puríssima, e assim se
ouvir em nossa terra a voz daquela divina rola (Ct 2,12), fidelíssima precursora do verão da graça.
Antes de receber permissão do Senhor para começar a falar com os homens - aos dezoito meses de sua idade -
teve uma visão intelectual da Divindade.
Não foi intuitiva, senão por espécies, e renovou-lhe as que outras vezes recebera, aumentando-lhe os dons e
favores da graça. Nesta visão estabeleceu-se entre a Menina e o supremo Senhor comovedor
colóquio que, com temor, me atrevo a traduzirem palavras.

Colóquio com Deus

390. Disse a Rainha à sua Majestade: - Altíssimo Senhor, Deus incompreensível, como favoreceis tanto à mais
'"útil e pobre criatura? Como à vossa escrava, incapaz de vos retribuir, inclinais
vossa grandeza com tão amável benignidade? O poderoso enriquece ao pobre? O
Santo dos Santos se inclina para o pó? Sou pequena, Senhor, entre todas as criaturas
a que menos merece vossos favores. Que farei em vossa divina presença? Como darei a retribuição de quanto vos devo?
Que tenho eu, Senhor, que não seja vosso, se sois Vós que me dais o ser, vida e movimento?
Alegrar-me-ei, entretanto, meu amado, de que tenhais todo o bem e que a
criatura nada tenha fora de Vós. Que seja propensão e glória vossa elevar ao que é
menor, favorecer ao mais inútil e dar existência a quem não a tem, para que assim
vossa magnificência seja conhecida e exaltada.

Resposta de Deus

391. Respondeu-lhe o Senhor: -Minha pomba e minha querida, achaste
graça a meus olhos; és suave, amiga escolhida para minhas delícias. Quero revelar-te
o que em ti será para mim de maior agrado e beneplácito.
Estas razões do Senhor feriam de novo com a força do amor, o terníssimo
porém vigoroso, coração da Menina rainha . Satisfeito, prosseguiu o Altíssimo:

-Sou Deus de misericórdia, com imenso amor amo aos mortais, e entre os muitos
que com suas culpas me têm desobrigado, tenho alguns justos c amigos que, de
coração, me têm servido. Determinei remediá-los enviando-lhes meu Unigênito.
para que eles não sejam privados da minha glória e Eu de seu louvor eterno.

Maria pede a redenção

392. A esta proposição respondeu a santíssima menina Maria: - Altíssimo
Senhor e poderoso Rei, vossas são as criaturas e vosso é o poder; só Vós sois o
Santo e o supremo Regedor de toda a criação; obrigai-vos Senhor, pela vossa
mesma bondade, e apressai a vinda de vosso Unigênito para a redenção dos filhos de Adão. Chegue já o dia desejado
pelos meus antigos pais e vejam os mortais vossa eterna salvação. Por que, amado
Senhor meu, sendo piedoso pai das misericórdias, prorrogais tanto o que vossos
aflitos e cativos filhos ansiosamente esperam? Se minha vida lhes pode ser de algum
valimento, prontamente vô-la ofereço por eles.

Deus manda Maria falar

393. Com grande benevolência mandou-lhe o Altíssimo que daí em diante,
todos os dias, muitas vezes, lhe suplicasse apressar a encarnação do eterno Verbo
para a salvação de todo o gênero humano, e que chorasse os pecados dos homens,
impedimento de sua salvação. Em seguida, lhe declarou que já era tempo de exercitar
todos os sentidos e que para maior glória sua, convinha que falasse com as criaturas
humanas. Para cumprir esta ordem, disse a Menina à Sua Majestade:

Maria pede a proteção de Deus para usar da palavra

394. - Altíssimo Senhor, de incompreensível majestade, como se atreverá
o pó a tratar mistérios tão ocultos e soberanos e a vosso peito de tão estimável
preço, quem é a menor entre todos os nascidos? Como pode interceder por estes, e que pode alcançar a criatura que em
nada vos tem servido? Vós, amado, meu, vos dareis por obrigado da mesma necessidade, e a enferma buscará a saúde, a
sedenta desejará a fonte de vossa misericórdia e obedecerá à vossa divina vontade.
- Se ordenais. Senhor meu, que eu descerre os lábios para falar e tratar com
outros, fora de Vós que sois todo o meu bem e meu desejo, velai eu vos suplico,
pela minha fragilidade e perigo. É muito difícil para a criatura racional não se exceder nas palavras. Eu calaria a vida inteira se
fosse do vosso beneplácito, para não correr o risco de vos perder, pois se tal
acontecesse, impossível ser-me-ia viver um instante sequer.

Poder da palavra de Maria

395. Esta foi a resposta da Menina Santíssima Maria, receosa do novo e perigoso dever de falar. Quanto era de sua
vontade, se Deus o consentisse, tinha desejo de guardar inviolável silêncio e
emudecer toda a vida.
Grande confusão e exemplo para a insipiência dos mortais! Temia o perigo
da língua quem falando não podia pecar enquanto nós, que não podemos falar sem
pecar, vivemos ansiosos por fazê-lo!
- Mas, amável Menina e Rainha de toda a criação, como quereis deixar de falar? Não sabeis, Senhora minha, que
vossa mudez seria ruína para o mundo, tristeza para o céu e até, segundo nosso
Dobre modo de entender, um grande vazio para a própria beatíssima Trindade? Não
sabeis que só com aquela resposta ao santo Arcanjo Fiat mini etc. (Lc 1, 38) dareis a plenitude a tudo quanto existe?
Dareis Filha ao Eterno Pai, Mãe ao Eterno Filho, Esposa ao Espírito Santo, reparação para os anjos, remédio para os
homens, glória aos céus, paz à terra, advogada ao mundo, saúde para os enfermos, vida aos mortos.
Cumprireis a vontade e beneplácito de tudo quanto Deus quer fora de si mesmo. Pois, se unicamente de
vossa palavra depende a maior obra do poder imenso e de todo o bem da criação, Senhora e Mestra minha, como
deseja calar quem tão bem há de falar?
Falai, pois, Menina, e vossa voz seja ouvida em toda a extensão do céu.

Complacência da SSma. Trindade

396. Agradou-se o Altíssimo do recato prudentíssimo de sua Esposa, e seu
coração foi novamente ferido pelo amoroso temor de nossa grande Menina. Satisfeita
com sua dileta, a Beatíssima Trindade, como examinando entre as três Pessoas a sua
petição, disseram aquelas palavras dos Cânticos (8,8-9) - "Nossa irmã é pequena
e não tem seios, que faremos para nossa irmã no dia em que falar?
Se é muro, edifiquemos nela torrões de prata". És pequena a teus olhos,
nossa querida irmã, porém grande aos nossos. Nesse desprezo de ti mesma, nos
feriste o coração com um de teus cabelos (Ct 4,9). És pequena em teu próprio parecer, e isto nos afeiçoa e enamora.
Não tens seios para alimentar com tuas palavras, mas tampouco és mulher para a
lei do pecado, na qual não quis nem quero que sejas incluída.
És humilde, sendo superior a todas as criaturas; temes, possuindo segurança; e foges do perigo que não te
poderá ofender. Que faremos com nossa irmã, no dia em que por nossa vontade,
abra os lábios para nos bendizer, enquanto os mortais os abrem para
blasfemar nosso santo nome? Que faremos para celebrar o dia tão festivo no
qual começará a falar? Com que premiaremos o tão humilde recato de quem
sempre foi deleitável a nossos olhos?
Doce foi seu silêncio, e dulcíssima será sua voz aos nossos ouvidos.
Se é forte muralha, por estar, construída com a virtude de nossa graça e
sustentada com o poder de nosso braço, reedifiquemos sobre tanta fortaleza novos
baluartes de prata, acrescentando novos dons aos passados. Sejam de prata para
que se torne mais rica e preciosa, e suas palavras, ao começar a falar, sejam
puríssimas, cândidas, retas, sonoras aos nossos ouvidos; tenha nossa graça derramada em seus lábios (SI 44,3), e esteja com
Ela nossa poderosa mão e proteção.

A primeira palavra de Maria

397. Ao mesmo tempo que, a nosso entender, fazia-se esta conferência
entre as três divinas Pessoas, nossa menina Rainha foi consolada em seu humilde
receio de começar a falar. O Senhor prometeu-lhe governá-la e assisti-la em suas
palavras, para que todas fossem para seu serviço e agrado.
Com isto, Ela lhe pediu novamente licença e bênção para abrir seus lábios
cheios de graça. Para ser em tudo prudente c sábia, dirigiu sua primeira palavra, pedindo-lhes a bênção, a seus pais São Joaquim
e Sant'Ana, porque deles, depois de Deus, recebera a existência.
Ouviram-na os felizes pais, e vendo que também começava a andar sozinha,
a ditosa mãe Ana, com grande alegria de espírito, tomando-a em seus braços lhe
disse: - Que felicidade, querida filha do meu coração! Seja para glória do Altíssimo que
ouçamos vossa voz e palavras, e que também comeceis a caminhar para seu maior
serviço. Sejam vossas palavras poucas, refletidas e de muita seriedade, e vossos
passos retos e dirigidos ao serviço e honra de nosso Criador.

Conversas entre SantAna e a Menina Maria

398. Ouviu a santíssima Menina Maria estes e outros conselhos de sua
mãe, e gravou-os em seu temo coração, para observá-los com profunda humildade
e obediência.
Durante o seguinte ano e meio até completar três, quando foi ao templo, foram muito poucas suas palavras, salv0
quando sua mãe a chamava para ter o gosto de ouvi-la, mandando-lhe que falasse de
Deus e seus mistérios. A divina Menina assim fazia, ouvindo e fazendo perguntas
à sua santa mãe. Deste modo, a que em sabedoria excedia a todos os nascidos
queria ser instruída e ensinada; e assim, entre Filha e mãe faziam-se amenos diálogos sobre o Senhor.
SantAna não revelava seu segredo.

399. Não seria fácil nem possível dizer o que realizou a divina Menina Maria,
nestes dezoito meses que permaneceu na companhia de sua mãe. Esta, muitas vezes
ao olhar a filha, mais venerável que a figurativa arca do Testamento, derramava
copiosas e doces lágrimas de amor e gratidão. No entanto, jamais deu a entender
o segredo que guardava no coração, de ser Maria a escolhida para Mãe do Messias, ainda que muitas vezes ambas
falavam sobre este inefável mistério. Nestas palestras a Menina inflamava-se em
ardentíssimos afetos, e dizia grandes excelências do Messias, e de sua própria
dignidade que misteriosamente ignorava.
Com isto aumentava o gozo, amor e cuidado da felicíssima Sant'Ana por seu
tesouro.

Humildade de Maria

400. As débeis forças da menina Rainha, eram muito insuficientes para o
desempenho de trabalhos humildes, aos quais era inclinada por sua fervorosa e
profunda humildade e amor. Senhora de todas as criaturas, julgando-se a menor
delas, queria sê-lo exteriormente nas ações e nos trabalhos mais rudes e pesados de
sua casa.
Acreditava que se não servia a todos, não pagaria sua dívida nem agradava ao Senhor. Na realidade, só não satisfazia
seus inflamados desejos, aquela de quem os supremos serafins beijavam as pegadas. Apesar de tudo, muitas vezes tentava
desempenhar o trabalho de varrer e limpar a casa. Como não lho permitiam, procurava
fazê-lo quando se encontrava só, auxiliando-a então os santos anjos, para lhe
proporcionar um pouco o prazer de sua humildade.

O traje de Maria

401. Os haveres de Joaquim eram medianos, e de acordo com a condição da
família, Sant* Ana desejava vestir sua Filha Santíssima com o melhor traje que pudesse, dentro da perfeita modéstia.
A Menina humilíssima conformou-se com este carinho materno, sem se
opor, enquanto não falou. Ao começar a falar, porém, pediu humildemente à mãe
que não lhe vestisse traje rico e de luxo, mas fosse grosseiro e pobre; sendo possível, já
usado por outros, de cor parda cinzenta, como hoje usam as religiosas de Santa Clara .
A santa mãe, que considerava e respeitava a Filha como Senhora, lhe respondeu: - Minha Filha, farei o que me pedis
quanto à forma e cor de vossas vestes; mas vosso físico infantil não o poderá suportar
muito grosseiro como desejais, e nisto obedecereis a mim.

Obediência da Menina

402. Não replicou a obediente Menina à vontade de sua mãe Sant'Ana,
Pois jamais o fazia. Deixou-se vestir com o que ela quis, na forma e na cor que
pediu, semelhante aos hábitos que por devoção as crianças costumam trazer.
Desejava mais pobreza e austeridade, mas supriu-as com a obediência, sendo esta
virtude mais excelente que os sacrifícios (lRs 15, 22).
Deste modo, permaneceu obediente à mãe e pobre no desejo, julgando-se
indigna do que usava para proteger a vida natural.
Nesta obediência aos pais foi perfeitíssima e exata, durante os três anos
que viveu na companhia deles. Pela divina ciência que possuía, conhecia-lhes o íntimo e antecedia-se a obedecer-lhes
prontamente. Para fazer algo de própria iniciativa pedia a bênção e licença da mãe,
beijando-lhe a mão com grande humildade  e reverência. Exteriormente sua mãe o consentia, mas interiormente reverenciava a
dignidade e graça de sua Filha Santíssima.

Penitência de Maria

403. Retirava-se algumas vezes, em tempos oportunos, para com maior liberdade gozar da vista e colóquios de seus
anjos, e manifestar-lhes com atos exteriores seu ardente amor pelo Senhor.
Em alguns exercícios que fazia, prostrava-se chorando e afligindo seu
corpozinho perfeitíssimo e delicado, pelos pecados dos mortais. Pedia e inclinava à
misericórdia do Altíssimo, a lhes fazer grandes benefícios, que desde já começou a
lhes merecer.
A íntima dor das culpas que conhecia, a força do amor donde aquele
sentimento procedia, produziam na Menina intensíssimos afetos de dor e pena.
Começando, naquela idade, a usar das forças corporais, estreou-as na penitência
e mortificação, para em tudo ser Mãe de misericórdia e medianeira da graça, sem
perder um momento nem ação por onde pudesse adquiri-la para si a para nós.

Caridade de Maria
404. Completando dois anos, começou a distinguir-se muito no amor e
caridade pelos pobres. Pedia à sua mãe Sant Ana esmolas para eles, e a piedosa
mãe satisfazia juntamente ao pobre e à sua Filha Santíssima. Exortava a amá-los e
reverenciá-los, a quem era mestra de caridade e perfeição.
Além do que recebia para distribuir aos pobres, desde aquela idade,
reservava alguma parte de seu alimento para lhes dar, e assim poderia dizer melhor
que o santo Jó; - Desde minha meninice a compaixão cresceu comigo (Jó 31,18).
Dava esmola ao pobre, não como se lhe fizesse benefício gratuito, senão
como quem saldava a justiça de uma dívida, dizendo em seu coração: - Este meu
irmão não tem o que lhe é devido, e eu tenho o que não mereço. E, entregando a esmola
beijava a mão do pobre, e se estava só, também o solo que ele havia pisado. Jamais, porém, deu esmola material ao pobre,
sem lhe fazer maior oferta espiritual para a alma, rezando por ela. Assim, voltavam de
sua presença socorridos no corpo e na alma.

Maria manifesta o desejo de ir para o Templo

405. Não foi menos admirável a humildade e obediência da santíssima
Menina, em deixar-se ensinar a ler e fazer outras coisas, como é natural naquela idade. Seus pais cuidaram disso, e Ela tudo
aceitava, não obstante estar repleta de ciência infusa em todas as matérias criadas. Calava e ouvia a todos, com admiração
dos anjos, por verem tão peregrina prudência numa Menina. Sua mãe Sant'Ana, com
amor e a luz que tinha, observava o procedimento da divina Princesa e bendizia o Altíssimo.
Aproximando-se o dia de levá la ao Templo, com o amor lhe crescia o
sentimento de ver que, terminado o prazo de três anos marcados pelo Todo-poderoso,
teria que imediatamente cumprir seu voto.

Para isto começou a Menina Maria a preparar a mãe manifestando-lhe, seis
meses antes, o desejo que tinha de ir ao templo. Representou-lhe os benefícios que
haviam recebido do Senhor e quão justo era cumprir seu maior agrado. No templo,
dedicada a Deus, pertenceria mais à mãe do que em sua própria casa.
Sentimento de SantAna
406. Ouvia a santa Mãe as prudentes razões de sua Menina Santíssima
e concordava em cumprir a promessa de oferecer sua amada Filha. A força da natural afeição por tão rara e única prenda,
porém, com o conhecimento do inestimável tesouro que Nela possuía, combatiam
em seu fidelíssimo coração, com a dor da separação que tão de perto a ameaçava.
Teria, sem dúvida, perdido a vida em tão dura pena, se o Altíssimo não a fortalecesse. A graça e dignidade, só por ela
conhecida, de sua divina Filha lhe tinham cativado o coração, e sua presença e convivência lhe eram mais desejáveis que a
própria vida.
Nesta dor responderia, às vezes, à Menina: Minha querida Filha, por muitos
anos vos desejei e durante poucos mereço gozar de vossa companhia, por se cumprir
a vontade de Deus. Não faltarei à promessa de vos levar ao Templo, mas como falta
algum tempo para cumpri-la, tende paciência até chegar o dia de satisfazer vossos desejos.

Deus avisa Maria de sua ida ao Templo

407. Poucos dias antes que Maria Santíssima completasse três anos, teve
uma visão abstrativa da divindade. Nela foi-lhe manifestado aproximar-se o tempo,
cm que Sua Majestade ordenava fosse levada ao Templo, onde viveria dedicada e
consagrada ao seu serviço.
Com esta nova, seu puríssimo espírito encheu-se de novo gozo e reconhecimento, e falando ao Senhor lhe deu
graças, dizendo: - Altíssimo Deus de Abraão, Isaac e Jacob, eterno e sumo bem
meu, já que não posso louvar-vos dignamente, façam-no em nome desta humilde
escrava todos os espíritos angélicos. Por que Vós, Senhor imenso, que de ninguém
tendes necessidade, olhais a este vil bichinho, com a grandeza de vossa liberal
misericórdia? Donde me vem a graça de ser recebida em vossa casa e serviço, se não
mereço o mais desprezível lugar da terra que me sustenta? Mas se vos obrigais de
vossa mesma grandeza, suplico-vos, Senhor meu, inspireis esta vossa santa
vontade ao coração de meus pais para que a cumpram.

Visão de SantAna e sua oração

408. Logo teve Sant'Ana outra visão, na qual o Senhor lhe mandou cumprir a promessa de levar ao templo sua
Pilha, e apresentá-la no mesmo dia em que completasse três anos.
Não há dúvida que esta ordem foi de maior dor para esta mãe, do que a de
Abraão para sacrificar seu filho Isaac. O Senhor a consolou e confortou, prometendo-lhe assisti-la com sua graça, na soledade e rn que ficaria por lhe pedir a Filha.
A santa matrona mostrou-se submissa e pronta para cumprir a ordem do
Senhor, e obediente fez esta oração: - Senhor e Deus Eterno, dono de todo o meu
ser, já ofereci para vosso templo e serviço a Filha que por inefável misericórdia me
destes. Ela é vossa e vô-Ia dou, agradecida pelo tempo em que a tive e por tê-la concebido e criado. Lembrai-vos, porém, Deus e
Senhor, que guardando vosso inestimável tesouro eu era rica: tinha companhia neste
desterro e vale de lágrimas, alegria em minha tristeza, alívio em meus trabalhos,
espelho para regular minha vida, e um exemplo de altíssima perfeição que estimulava minha tibieza e afervorava meu afeto.
Por esta singular criatura esperava vossa graça e misericórdia, e temo que tudo me
falte ao mesmo tempo, achando-me sem Ela. Curai, Senhor, a ferida do meu coração
e não procedais comigo segundo mereço, mas olhai-me como piedoso pai de misericórdia; levarei minha Filha ao Templo como
Vós, Senhor, o ordenais.

Visão de São Joaquim

409. Ao mesmo tempo recebera São Joaquim outra visita ou visão do Senhor, mandando-lhe o mesmo que à
Sant'Ana. Tendo ambos conferido e conhecido a vontade de Deus, determinaram
cumpri-la com submissão, e marcaram o dia para levar a menina ao templo. Ainda que
grande a dor e ternura do santo ancião, foi menos intensa do que a de Sant'Ana, porque então ignorava o grande mistério
daquela que havia de ser Mãe de Deus.

DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU.

Morte e eternidade

410. Minha caríssima Filha, lembra-te que todos os viventes nascem
destinados a morrer, ignorando o último dia da vida. Com certeza apenas sabem que
sua duração é curta e a eternidade sem fim; e que nesta, o homem só colherá o que
agora semear em boas ou más obras, que então darão fruto de morte ou de vida
eterna. Em tão perigosa viagem, Deus não quer que ninguém conheça, com certeza,
se é digno de seu amor ou de sua indignação (Ecl 9,1). A quem tiver bom senso, esta
dúvida servirá de estímulo para procurar com todas as forças adquirir a amizade do
Senhor e nela crescer. Justifica Ele seu proceder, desde que a alma começa a ter
uso da razão. Infunde-lhe luz e ditame para a estimular e dirigir à virtude, e desviar do
pecado. Ensina-a a distinguir o fogo da água, para escolher a virtude e reprovar o
vício. Além disto, a desperta e chama por muitos modos: diretamente, com santas
inspirações e contínuos impulsos; por meio dos sacramentos e mandamentos, pelos
anjos, pregadores, confessores, superiores e mestres. Pelas provações e favores,
pelos exemplos alheios, pelas tribulações, mortes e outros vários sucessos. Tudo são
meios que sua providência dispõe para atrair todos a si, porque a todos deseja
salvar ( l Tm 2,4). De todas estas coisas faz um conjunto de grandes auxílios e favores,
que a criatura pode e deve aproveitar.

Combate, renúncia, libertação

411. Contra isto combate a parte inferior e sensitiva que, com o "fomes
peccati , inclina aos objetos sensíveis e impele a concupiscência, para perturbar a
razão e arrastar a vontade cega ao gozo e deleite. Por sua vez, o demônio, com fascinações e iníquas mentiras, obscurece o
interior (Sb 4, 12) e dissimula o mortal veneno do deleite transitório. Mas, nem
por isto o Altíssimo abandona logo suas criaturas, antes renova suas misericórdias
e auxílios para chamá-las de volta. Se respondem às primeiras solicitações
acrescenta outras maiores e as vai aumentando e multiplicando. Em recompensada
alma se ter vencido, vão se enfraquecendo as forças das paixões e o "fomes". O espírito toma-se mais livre para poder elevar-se,
e vir a se tornar muito superior às próprias inclinações e ao demônio.

Covardia, perigo de perdição

412. Se, porém, deixando-se arrastar pelo deleite e esquecimento, o homem
dá a mão ao inimigo de Deus e seu, quanto mais se afasta da bondade divina, tanto
menos digno se faz de seus chamamentos.
Tanto menos percebe os auxílios da graça, ainda que sejam grandes, porque o demônio e as paixões adquiriram sobre a razão
maior domínio e força, e a tornaram menos disposta à graça do Altíssimo. Nesta doutrina, minha filha e amiga, consiste o
principal para a salvação ou condenação das almas: começar a resistir ou a aceitar os
auxílios do Senhor. Quero que não esqueças estas lições, para responderes aos
muitos chamamentos que recebes do Altíssimo. Procura ser forte, resiste a teus
inimigos, e pontualmente executa o belprazer de teu Senhor para o agradar.
Obedece à sua vontade que pela divina luz conheceres.

Grande amor tinha eu a meus pais.

As razões e ternura de minha mãe me feriam o coração, mas como sabia ser vontade e
agrado do Senhor deixá-los, esqueci a casa deles e meu povo (SI 44,11) para só seguir
meu Esposo. A boa educação e instrução recebida na infância concorrem muito, para
a criatura se encontrar depois mais livre e habituada à virtude, começando desde o
porto da razão, a seguir este verdadeiro e seguro norte.



 

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12-31
Dezembro 30, 1917
Dor de Jesus por quem lhe rouba os afetos e os corações das criaturas.

(1) Continuando o meu estado habitual, o meu sempre amável Jesus fazia-se ver afligido, e
lamentava-se por tantos que lhe roubam os afetos e os corações das criaturas, pondo-se no
seu lugar nas almas e eu disse-lhe: "Meu amor, é tão feio este vício que tanto te aflige?"
(2) E Ele: "Minha filha, não só é feio mas horrível, é subverter, pôr de cabeça para baixo a
ordem do Criador e pô-los em cima, e a Mim abaixo e dizer-me: "Também eu sou bom para ser
Deus". O que você diria se alguém roubasse um milhão a outro e o deixasse pobre e infeliz?"
(3) E eu: "Ou restitui o roubado ou merece a condenação".

(4) E Jesus: "No entanto, quando me roubam os afetos, os corações, e mais que roubar-me um
milhão, porque estas são coisas materiais e baixas, as outras são espirituais e altas; E se o
fogo do purgatório purificar essas almas, jamais poderá restituir e preencher o vazio de um
único afeto que me foi tirado, mas nem mesmo se dá conta, além disso, alguns parecem estar
vendendo esses afetos, e só estão felizes quando encontram quem os compra para fazer
aquisição dos afetos dos outros sem nenhum escrúpulo. Fazem escrúpulo se roubam às
criaturas, mas se me roubam a Mim, nem sequer um só pensamento. Ahh! minha filha, Eu dei
tudo às criaturas, disse-lhes: "Toma o que quiseres para ti, a Mim deixa só o teu coração". Não
obstante me é negado, e não só isso, mas me roubam os afetos dos demais, e isto não é só por
parte dos leigos, não, mas por parte de pessoas consagradas, por almas piedosas. ¡Oh!
quantos males fazem por certas direções espirituais demasiado doces, por certas
condescendências não necessárias, por ouvir e ouvir usando modos atrativos, isto em lugar de
fazer bem, é um labirinto que formam em torno das almas, E quando sou obrigado a entrar
nesses corações quero fugir, vendo que os afetos não são meus, o coração não é meu, e tudo
isso, por causa de quem? A quem deveria reordenar as almas em Mim, antes ele tomou meu
lugar, e Eu sinto tais náuseas que não posso me acomodar e estar nesses corações, mas sou
obrigado a estar até que os acidentes se consumam. ¡ Que destruição de almas! Estas são as
verdadeiras chagas da minha Igreja. Eis por que tantos ministros arrancados das igrejas, e por
quantas orações se me façam Eu não posso escutá-las, e para eles não há graças, antes
respondo a eles com o grito dolorido de meu coração: "Ladrões, vamos, saiam do meu
Santuário, porque não aguento mais!"

(5) Eu fiquei espantada e disse: "Aplaca-te, ó Jesus, olha para nós em Ti como fruto do teu
sangue, das tuas chagas, e mudarás os castigos em graças".
(6) E Ele acrescentou: "As coisas seguirão adiante, humilharei o homem até o pó, e vários
incidentes imprevistos continuarão acontecendo para confundir principalmente o homem, e
onde ele crê encontrar salvação, encontrará uma armadilha; e onde crerá encontrar uma vitória,
encontrará uma derrota; onde luz, trevas; assim ele mesmo dirá: "Estou cego e não sei mais o
que fazer". E a espada devastadora continuará a devastar até que tudo seja purificado".

13-30
Novembro 4, 1921
A santidade na criatura deve ser entre ela e Jesus, Ele, dando a sua Vida e como fiel
companheiro comunicando-lhe a sua Santidade, e ela como fiel e inseparável companheira recebendo-a.

(1) Sentia-me toda fundida com meu doce Jesus, e ao vir me lancei em seus braços,
abandonando-me toda n'Ele como a meu centro; sentia uma força irresistível de estar em seus
braços e meu doce Jesus me disse:
(2) "Minha filha, é a criatura que busca o seio de seu Criador e repousar em seus braços. É teu
dever vir aos braços do teu Criador e repousar naquele seio de onde saíste, porque tu deves
saber que entre a criatura e o Criador correm muitos fios elétricos de comunicação e de união,
que a tornam quase inseparável de Mim, desde que não tenha se subtraído de meu Querer,
porque subtrair-se não é outra coisa que romper os fios de comunicação, despedaçar a união; a
Vida do Criador, mais que eletricidade corre na criatura e ela corre em Mim, minha Vida está
aspergida na criatura; ao criá-la encadeei minha sabedoria a sua inteligência, a fim de que não
fosse outra coisa que o reflexo da minha, e se o homem chega a tanto com sua ciência, que da
o inacreditável, é o reflexo da minha que se reflete na sua; se seu olho é animado por uma luz,
não é outra coisa que o reflexo de minha luz eterna que se reflete em seu olho.
(3) Entre as Divinas Pessoas não temos necessidade de falar-nos para entender-nos, na
Criação quis usar a palavra e disse Fiat, e as coisas foram feitas; a este Fiat atava e dava o
poder para que as criaturas tivessem a palavra para entender-se. Assim, também as vozes
humanas estão ligadas como fios elétricos à minha primeira palavra, da qual todas as demais
descendem; e, enquanto criei o homem, o animei com o meu fôlego, infundindo-lhe a vida, mas
nesta vida que lhe infundi coloquei toda minha Vida segundo a capacidade humana podia
conter, mas tudo pus, não houve coisa minha da que não o fizesse partícipe. Olha, também a
sua respiração é o reflexo da minha respiração, com a qual dou vida contínua, e a sua reflete-se
na minha e sinto-o continuamente em Mim. Vê então quantas relações há entre a criatura e Eu,
por isso a amo muito, porque a vejo como meu parto, exclusivamente meu. E depois, como
enobreci a vontade do homem? Acorrentei-a com a minha, dando-lhe todas as minhas
prerrogativas, libertei-a como a minha, e se ao corpo tinha dado duas pequenas luzes,
limitadas, circunscritas, que partiam da minha luz eterna, à vontade humana a fiz toda olho.
Então, quantos atos a vontade humana faz, tantos olhos pode dizer que possui, ela olha para a
direita e para a esquerda, para frente e para trás, e se a vida humana não está animada por
esta Vontade, não fará nada de bem; eu ao criá-la lhe disse: "Você será minha irmã na terra,
meu Querer do Céu animará o seu, estaremos em contínuos reflexos, e o que eu farei é por
natureza e você por graça de meus contínuos reflexos; seguirei como sombra, não te deixarei
jamais. Ao criar a criatura minha única finalidade foi que ela fizesse em tudo o meu Querer, com
isto queria dar à existência novos partos de Mim mesmo; queria fazer dela um prodígio
portentoso, digno de Mim e tudo semelhante a Mim; Mas, ai de Mim, a primeira a se opor a Mim
devia ser a vontade humana! Olhe um pouco, todas as coisas se fazem entre dois: você tem um
olho, mas se não tivesse uma luz exterior que te iluminasse nada poderia ver; você tem mãos,
mas se não tivesse as coisas necessárias para formar os trabalhos nada faria, e assim de todo
o resto. Agora, assim quero a santidade na criatura, entre ela e Eu, entre dois, Eu por um lado e
ela por outro, Eu a dar a minha Vida e como fiel companheiro a comunicar-lhe a minha
santidade, e ela como fiel e inseparável companheira a recebê-la. Assim, ela seria o olho que
vê, e eu o sol que lhe dou a luz; ela a boca, e eu a palavra; ela as mãos, e eu que lhe forneço o
trabalho para operar; ela o pé, e eu o passo; ela o coração, e eu o batimento. Mas sabe quem
forma esta santidade? Minha Vontade, é a única que mantém em ordem a finalidade da
Criação, a santidade em meu Querer é a que mantém o perfeito equilíbrio entre criaturas e
Criador, porque são as verdadeiras imagens saídas de Mim".

14-31
Maio 27, 1922

O ato preventivo e o ato atual.

(1) Estava pensando entre mim: "Se é tão grande um ato feito em seu Querer, quantos, ai de
mim, não deixo escapar?" E o meu doce Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(2) "Minha filha, existe o ato preventivo e o ato atual. O preventivo é aquele quando a alma,
desde o primeiro surgir do dia fixa sua vontade na minha, e se decide e se confirma de querer
viver e obrar só em meu Querer, previne todos seus atos e os faz correr todos em meu
Querer. Com a vontade preventiva meu Sol surge, minha Vida fica duplicada em todos seus
atos como dentro de um só ato, e isto suplanta o ato atual. No entanto, o ato preventivo pode
ser obscurecido, obscurecido pelos modos humanos, pela vontade própria, pela própria estima,
pelo descuido e outras coisas, que são como nuvens diante do sol, que tornam menos vívida
sua luz sobre a face da terra. Em troca o ato atual não está sujeito a nuvens, senão que tem
virtude de limpar as nuvens, se é que as há, e faz surgir tantos outros sóis nos quais fica
duplicada minha Vida, com tal intensidade de luz e calor, de formar outros tantos novos sóis,
um mais belo que o outro. No entanto, os dois atos são necessários, o preventivo dá a mão,
dispõe e forma o plano ao atual, e o atual conserva e amplia o plano preventivo".

15-35
Julho 11, 1923
Por quanto maior é a obra que Deus quer fazer, tanto mais é necessário que seja única e
singular a criatura que escolhe. A Paterna Bondade quer abrir outra era de Graça.

(1) Estava rezando e abandonando-me toda nos braços de meu dulcíssimo Jesus, mas com um
pensamento na mente que dizia: "Só para ti este martírio de aborrecer os outros, de ser um peso
para os teus ministros, não podendo fazer menos que irritá-los com os meus feitos que se
desenvolvem entre mim e Jesus; em troca os demais são livres, eles entram no estado de
sofrimento e por si mesmos se libertam; quantas vezes lhe pedi que me libertasse, mas em
vão". Agora, enquanto isto e outras coisas pensava, o bendito Jesus veio, todo bondade e amor, e
pondo-se junto a mim me disse:
(2) "Minha filha, quanto maior é a obra que quero fazer, tanto mais é necessário que seja única e
singular a criatura que escolho. A obra da Redenção era a maior e para ela escolhi uma só criatura,
dotando-a de todos os dons, jamais concedidos a nenhum, para fazer que esta criatura contivesse
tanta graça de poder fazer-me de Mãe, e pudesse depor nela todos os bens da Redenção; e para
guardar os meus dons, desde o momento em que foi concebida até que me concebeu, tive-a
escondida na luz da Santíssima Trindade, que se fazia guarda e tinha o ofício de a dirigir em tudo;
depois, quando fui concebido em seu seio virginal, sendo Eu o verdadeiro, a cabeça e o primeiro
de todos os sacerdotes, tomei Eu a tarefa de guardá-la e de dirigi-la em tudo, até o movimento de
seu batimento; e quando Eu morri confiei-a a outro sacerdote, o qual foi São João. Uma alma tão
privilegiada que continha todas as graças, única na mente divina, única na história, não quis deixá-
la até o último de seus respiros sem a assistência de um representante meu. Acaso fiz isto a outras
almas? Não, porque não contendo tanto bem, tantos dons e graças, não é necessária tanta
custódia e assistência.
(3) Agora, minha filha, também tu és única em minha mente, e serás também única na história, e
não haverá nem antes nem depois de ti outra criatura a que farei ter, como obrigado por
necessidade, a assistência de meus ministros. Tendo-te escolhido para pôr em ti a santidade, os
bens, os efeitos, a atitude da minha Suprema Vontade, era conveniente, justo, decoroso, para a
mesma santidade que contém o meu querer, que um ministro meu te assistisse e fosse o primeiro
depositário dos bens que a minha Vontade contém, e do seu regaço os fizesse passar a todo o
corpo da Igreja. Que atenção não se requer de você e deles, você em receber de Mim, como uma
segunda mãe minha, o grande dom de meu Querer, e conhecer d'Ele todas as suas qualidades; e
eles em recebê-las de você para fazer que se cumpra em minha Igreja o Fiat Voluntas Tua como
no Céu assim na terra.

Ah, tu não sabes quanto te devo ter dado para te tornar capaz de depor
em ti meu Querer, te tirei todo germe de corrupção, purifiquei em tal modo tua alma, tua mesma
natureza, que nem tu sentes nada por eles, nem eles por ti, porque faltando o germe é como se
faltasse o fogo à lenha, e se não te isentei da culpa original como fiz a minha amada Mãe, com
tirar-te o germe da corrupção obrei outro prodígio de graça, jamais concedido a nenhum outro,
porque não era digno para a minha Vontade três vezes santa, descer numa alma, tomar posse
dela, e que estivesse ainda minimamente ensombrada pelo menor fôlego corrupto, Minha Vontade
não se teria adaptado a tomar posse dela e comunicar-lhe sua atitude se tivesse visto algum germe
de corrupção, como não me teria adaptado Eu, Verbo do Pai, a ser concebido no seio da Celeste
Mãe se não a tivesse isento da culpa de origem. Além disso, quantos agradecimentos não te
agradeci? Tu acreditas que não seja nada e por isso nem sequer o pensas, e em lugar de me
agradeceres ocupas-te em pensar no que tenho disposto de ti e dos que pus em torno de ti,
enquanto Eu quero que sigas só o meu Querer. Tu deves saber que este cumprimento de minha
Vontade é tão grande, que entra nas obras maiores que a Divindade tem feito e quero que seja
conhecido, a fim de que ao conhecer a grandeza e os bens imensos que contém, o amem, o
estimem e o desejem. Três vezes a Divindade Suprema decidiu agir ad extra, a primeira foi na
Criação, e esta foi sem intervenção da criatura, porque nenhuma fora à luz do dia; a segunda foi na
Redenção, e nela interveio uma mulher, a mais santa, a mais bela, qual foi minha Celestial Mamãe,
foi Ela o canal e o instrumento do que me servi para cumprir a obra da Redenção; a terceira é o
cumprimento, que minha Vontade se faça como no Céu assim na terra, isto é, que a criatura viva,
obre com a santidade e potência de nossa Vontade, obra inseparável da Criação e da Redenção,
como é inseparável a Trindade Sacrossanta; não podemos dizer que a obra da Criação esteja por
Nós terminada se nossa Vontade, como foi decretado por Nós, não trabalha na criatura e vive com
a liberdade, santidade e poder com que trabalha e vive em Nós, aliás, este é o ponto mais belo,
mais culminante, mais fúlgido, e o selo do cumprimento da obra da Criação e da Redenção.

Estes são decretos divinos, e devem ter o seu pleno cumprimento, e para cumprir este decreto queremos
servir-nos de outra mulher, que és tu; foi a mulher que incitou, a causa pela qual o homem se
precipitou em suas desventuras, e nós queremos servir-nos da mulher para pôr as coisas em
ordem e fazer sair ao homem de suas desventuras, e restituir-lhe o decoro, a honra, a verdadeira
semelhança nossa, como foi por Nós criado, por isso seja atenta, não tome as coisas de ânimo
leve, aqui não se trata de uma coisa qualquer, mas se trata de decretos divinos e de nos dar
campo para nos fazer cumprir a obra da Criação e Redenção, por isso, assim como a nossa Mãe a
confiamos a São João, para pôr nele, e dele à Igreja, os tesouros, as graças, todos os meus
ensinamentos que no curso de minha Vida quando Ela estava confiada a Mim e fazendo-lhe de
sacerdote Eu pus nela como um santuário todas as leis, os preceitos, as doutrinas que a Igreja
devia possuir, e Ela, fiel como era e ciumenta até de uma só palavra minha, para que não se
perdessem, as colocou em meu fiel discípulo João, assim que minha Mãe tem o primado sobre
toda a Igreja. Assim fiz de ti, devendo servir o Fiat Voluntas Tua a toda a Igreja, confiei-te a um
ministro meu, a fim de que ponhas nele tudo o que te manifesto sobre a minha Vontade, os bens
que há, como a criatura deve entrar nela, como a Paterna Bondade quer abrir outra era de graça,
pondo em comum com a criatura seus bens que possui no Céu e restituindo-lhe a felicidade
perdida, por isso seja atenta e me fiel".

16-38
Dezembro 29, 1923

Entre Jesus e a alma que vive na Divina Vontade há um vínculo
eterno que os une e que não pode ser removido. O segredo para saber onde
encontrar todas as criaturas para amar o Pai por todas elas.

(1) Estava a rezar e encontrei-me fora de mim mesma, onde havia um crucifixo lançado por terra;
eu me juntei para adorar e beijar suas santíssimas chagas, mas enquanto fazia isso, o crucifixo,
fazendo-se vivo tem desclavado suas mãos da cruz e se tem abraçado ao meu pescoço, apertan-
do-me forte, forte. Eu, temendo ainda que não fosse Jesus, Procurava livrar-me desses abraços,
então Jesus me disse:
(2) "Minha filha, por que queres fugir de Mim? Como, queres deixar-me? Não sabes que entre Eu e
ti há um vínculo eterno que nos liga, que nem você nem eu podemos desunir, porque o que é
eterno entra em Mim e se torna inseparável de Mim. Todos os atos que fizemos juntos em minha
Vontade são atos eternos, como eterna é minha Vontade, assim que você tem do teu em mim e eu
tenho do meu em ti; corre em ti uma veia eterna que nos faz inseparáveis e quanto mais você con-
tinuar e multiplicar suas ações no meu Querer, tanto mais você toma parte do que é eterno; portanto, para onde queres ir?
Eu estava à espera que viesses para consolar-me e libertar-me deste lugar onde a perfídia humana
me lançou, e com pecados ocultos e males secretos me crucificou barbaramente,
por isso me estreitei a ti, a fim de que me libertes e me leves junto contigo".

(3) Eu estreitei-o, beijei-o e encontrei-me com ele no meu quarto, e via entre mim e Jesus que o

meu interior estava concentrado nele, e o seu concentrado em mim. Depois recebi a santa comunhão,
e eu segundo meu costume estava chamando e pondo a todas as coisas criadas ao redor
de Jesus, para que todas lhe fizessem coroa e lhe dessem a correspondência do amor e das homenagens
ao seu Criador. Todas correram ao meu chamado, e via claramente todo o amor de meu
Jesus para mim em todas as coisas criadas, e Jesus esperava com muita ternura de amor em meu
coração a correspondência de tanto amor, e eu, sobrevoando sobre tudo e abraçando tudo, me
punha aos pés de Jesus e lhe dizia:
(4) "Meu amor, meu Jesus, tudo criaste para mim e me deste, portanto tudo é meu, e eu to dou a ti
para te amar, por isso te digo em cada gota de luz do sol, te amo; no cintilação das estrelas, eu te
amo; em cada gota de água, eu te amo. Seu querer me faz ver até no fundo do oceano teu te amo
por mim, e eu imprimo meu te amo por Ti em cada peixe que agita-se no mar, quero imprimir meu
te amo no vôo de cada pássaro, te amo em todas partes amor meu, eu quero imprimir meu amo
você sobre as asas de vento, no movimento das folhas, em cada faísca de fogo, te amo por mim e
por todos".

(5) Toda a Criação estava comigo para dizer te amo, mas quando eu quis abraçar todas as gerações
humanas no Querer Eterno, para fazer prostrar a todos perante Jesus, para que todos fizessem
seu dever de lhe dizer em cada ato deles, em cada palavra, em cada pensamento, eu te
amo, elas me fugiam e eu me perdia e não sabia o que fazer, então eu o tenho dito a Jesus, e Ele:
(6) "Minha filha, no entanto, isto é precisamente viver no meu Querer, levando-me toda a Criação
diante de Mim, e em nome de todos me dar a correspondência de seus deveres, nenhum deve es-
capar-te, de outra maneira minha Vontade encontraria vazios na Criação e não Ficaria satisfeita.

Mas sabe por que não encontra todos e muitos fogem? É a força do livre arbítrio, mas quero mostrar-te
o segredo de onde os podes encontrar todos: Entre em minha Humanidade e aí encontrará
todos os atos deles como em custódia, pela qual eu tomei a tarefa de satisfazer por eles diante do
meu Pai Celestial, e você vê seguindo todos meus atos, que eram os atos de todos, assim encontrará
tudo e me dará a correspondência de amor por todos e por tudo. Tudo está em Mim; tendo
feito Eu por todos, está em Mim o depósito de tudo, e entrego ao Pai Divino o dever do amor de
tudo, e Quem quer se serve disto como caminho e meio para subir ao Céu".
(7) Eu entrei em Jesus e com facilidade encontrei tudo e todos, e seguindo o agir de Jesus dizia:

(8) "Em cada pensamento de criatura te amo, no vôo de cada olhar te amo, em cada som de pala-
vra te amo, em cada batida, respiração, afeto, te amo, em cada gota de sangue, em Cada peça e passo te amo".

(9) Mas quem pode dizer tudo o que eu fazia e dizia? Muitas coisas não se sabem dizer, ou melhor,
o que se diz se diz muito mau e não é como se diz quando se está junto com Jesus.
Assim, dizendo te amo me encontrei em mim mesma.

17-29
Janeiro 27, 1925
As coisas criadas por Deus não saem dele, e a Divina Vontade faz-se alimentadora e
conservadora delas. Assim acontece para a alma que opera na Divina Vontade.

(1) Enquanto eu estava me fundindo no Santo Querer Divino pensava entre mim: "Antes, quando
me fundi no Santo Supremo Querer, Jesus estava comigo e junto com Jesus eu entrava nele,
assim que o entrar era uma realidade, mas agora eu não o vejo, assim que não sei se entro no
eterno Querer ou não, sinto-o mais como uma lição aprendida de memória, Ou como uma forma de
dizer". Enquanto pensava assim, o meu amável Jesus moveu-se dentro de mim, e tomando uma
mão na sua me empurrava para o alto e me disse:.
(2) "Minha filha, deves saber que me vês ou não me vês, cada vez que tu te fundes em minha
Vontade, Eu, desde dentro de teu interior te tomo uma mão para te empurrar ao alto, e desde o
Céu te dou minha outra mão para tomar a outra tua e te puxar para cima, no meio de nós na nossa
interminável Vontade, por isso estás nas minhas mãos, nos meus braços. Você deve saber que
todos os atos feitos em nossa Vontade entram no ato primeiro, quando criamos todas as coisas
criadas, e os atos da criatura beijando-se com os nossos, porque uma é a Vontade que dá vida a
todos estes atos, difundem-se em todas as coisas criadas, tal como está difundida a nossa Vontade
em toda a parte, e constituem-se correspondência de amor, de adoração e de glória contínua por
tudo o que pusemos fora na Criação. Só o que se faz em nossa Vontade, começa quase junto
conosco a dar-nos correspondência de amor perene, adoração em modo divino, glória que jamais
termina, e assim como por todas as coisas criadas por Nós é tanto o amor que nutrimos, que não
permitimos que saiam de nossa Vontade, conforme as criamos assim todas ficaram conosco, e
nossa Vontade se fez conservadora e alimentadora de toda a Criação, e por isso todas as coisas
se conservam sempre novas, frescas e belas, não crescem nem decrescem, porque por nós todas
foram criadas perfeitas, por isso não estão sujeitas a alterações de nenhuma espécie, todas
conservam seu princípio porque se fazem alimentar e conservar por nossa Vontade, e ficam ao
redor de Nós a louvar nossa glória.

(3) Agora, o obrar da criatura em nossa Vontade entra em nossas obras, e nossa Vontade se faz
alimentadora, conservadora e ato do mesmo ato da criatura, e estes atos feitos em nossa Vontade
pela criatura se colocam em torno de nós, e transfundidos em todas as coisas criadas louvam a
nossa glória perpétua. Como é diferente nosso obrar do da criatura e o amor com o qual
trabalhamos! Nós operamos e é tanto o amor à obra que fazemos, que não permitimos que saia de
Nós, a fim de que nada perca da beleza com que foi feita; mas a criatura, se faz uma obra, não a
sabe ter consigo, aliás, muitas vezes não sabe o que foi feito de sua obra, se se sujou, se a fizeram
um trapo, e isto é sinal do pouco amor a suas próprias obras. E como a criatura saiu fora de seu
princípio, isto é, da Vontade Divina de onde saiu, perdeu o verdadeiro amor a Deus, a si mesma e a
suas obras. Eu quis que o homem estivesse em minha Vontade por sua vontade, não forçado,
porque o amei mais que a todas as outras coisas criadas, e queria que fosse como rei no meio de
minhas obras. Mas o homem ingrato quis sair de seu princípio, por isso se transformou e perdeu
seu frescor, sua beleza, e ficou sujeito a alterações e mudanças contínuas. “E por quanto Eu o
chamo para que volte ao seu princípio, se faz de surdo e finge não me escutar, mas é tanto meu
amor que o espero e continuo chamando-o".

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