LIVRO DO CÉU VOLUME 1
(238) Enquanto esta voz assim dizia, vi que a Santíssima Trindade desceu em meu coração e se
apoderaram dele e aí formaram sua sede. Quem pode dizer a mudança que aconteceu em mim?
Sentia-me divinizada, não mais vivia eu mas eles viviam em mim. A mim me parecia que meu
corpo fosse como uma habitação, e que dentro habitasse o Deus vivente, porque eu sentia a
presença real sensivelmente em meu interior, ouvia sua voz clara que saía de dentro de meu
interior e ressoava nos ouvidos do corpo. Acontecia precisamente como quando há pessoas dentro
de uma sala, que falam e suas vozes se ouvem claras e distintas mesmo de fora.
(239) Desde então não tive mais a necessidade de ir em sua busca a outros lugares para
encontra-lo, mas estava dentro do meu coração. E quando algumas vezes se escondia e eu fui em
busca de Jesus girando pelo céu e pela terra, buscando a meu sumo e único Bem, enquanto me encontrava na fogueira das lágrimas, na intensidade dos desejos, nas penas inenarráveis por havê-
lo perdido, Jesus saía de dentro de mim e me dizia:
(240) "Estou aqui contigo, não me procures em outro lugar".
2-38
Junho 19, 1899
Quem se faz desaparecer a si mesmo, jamais comete pecados.
(1) Tendo passado ontem uma jornada de purgatório pela privação quase total de meu sumo
Bem, e pelas tantas tentações que me punha o demônio, me parecia que cometia muitos
pecados. ¡ Oh Deus, que pena ofender a Deus!
(2) Esta manhã, assim que vi Jesus, rapidamente lhe disse: "Jesus bom, perdoa-me os tantos
pecados que fiz ontem". E queria dizer-lhe o mal que sentia que tinha feito. Ele, interrompendo-
me, disse-me:
(3) "Se te fizeres desaparecer a ti mesma, não cometerás pecados jamais".
(4) Eu queria continuar falando, mas Jesus me fazendo ver muitas almas devotas e mostrando
que não queria ouvir o que queria dizer, continuou dizendo:
(5) "O que mais me desagrada nestas almas é a instabilidade em fazer o bem, basta uma
pequena coisa, um desgosto, mesmo um defeito, enquanto é então o tempo mais necessário
para estreitar-se a Mim, estas em troca, irritam-se, incomodam-se e deixam a metade o bem
começado. Quantas vezes eu preparei obrigado para dar-lhes, mas vendo-os tão instáveis, fui
obrigado a retê-los".
(6) Depois, sabendo que não queria saber nada do que queria lhe dizer e vendo que meu
confessor estava um pouco mal no corpo, orei longamente por ele, e fazia a Jesus várias
perguntas que não é necessário dizer aqui. E Jesus, benignamente, respondeu-me a tudo e
assim terminou.
3-37
Fevereiro 13, 1900
A mortificação é como a cal.
(1) Esta manhã depois de ter recebido a comunhão vi o meu adorável Jesus, mas tudo mudou de
aspecto. Parecia sério, tudo reservado, em ato de repreender-me. Que triste mudança! Meu pobre
coração, em vez de ser aliviado, sentia-me mais oprimido, mais trespassado diante do aspecto tão
insólito de Jesus. No entanto, sentia toda a necessidade de um alívio pelas dores sofridas nos
últimos dias por sua privação, em que me parecia que Vivia, mas agonizante e em contínua
violência. Mas Jesus bendito, querendo repreender-me porque ia buscando alívio devido a sua
presença, enquanto não devia procurar outra coisa que sofrer, disse-me:
(2) "Assim como a cal tem virtude de queimar os objetos que se metem nela, assim a mortificação
tem virtude de queimar todas as imperfeições e os defeitos que se encontram na alma, e chega a
tanto, que espiritualiza até o corpo, e como um cerco se põe ao redor, e aí sela todas as virtudes.
Até que a mortificação não te queime bem, tanto a alma como o corpo, até desfazê-lo, não poderei
selar perfeitamente em ti a marca da minha crucificação".
(3) Depois disto, não sei bem quem era, mas me parecia que fosse um anjo, me trespassou as
mãos e os pés, e Jesus com uma lança que saía de seu coração, traspassou-me o meu com
extrema dor e desapareceu deixando-me mais aflita que antes. Oh!, como compreendia bem a
necessidade da mortificação, minha inseparável amiga, e que em mim não existia nem sequer a
sombra de amizade com ela! Ah! Senhor, ata-me Tu com indissolúvel amizade a esta boa amiga,
porque por mim não sei mostrar-me mais que toda rudeza, e ela não vendo-se acolhida por mim
com boa cara, usa comigo todas as considerações, vai me fugindo sempre, temendo que eu lhe
volte as costas completamente, e jamais cumpre comigo seu belo e majestoso trabalho, porque
estamos um pouco distantes, suas mãos prodigiosas não chegam até mim para poder trabalhar e
apresentar-me diante de Ti como obra digna de suas santíssimas mãos.
+ + + +
3-38
Fevereiro 16, 1900
A mortificação deve ser o respiro da alma.
(1) Continua quase sempre o mesmo. Esta manhã, depois de me ter renovado as penas da
crucificação, disse-me:
(2) "A mortificação deve ser o respiro da alma. Assim como ao corpo é necessária a respiração, e
do ar bom ou mau que se respira assim fica infectado ou purificado, também pela respiração se
conhece se está são ou doente o interior do homem, se todas as partes vitais estão de acordo,
assim a alma: se respira o ar da mortificação, tudo estará nela purificado, todos seus sentidos
soarão com um mesmo som concordante, seu interior exalará um respiro balsâmico, saudável,
fortificante; mas se não respirar o ar da mortificação tudo será discordante na alma, exalará um
respiro malcheiroso e nauseante; enquanto está por domar uma paixão, outra se desenfreada. Em
suma, sua vida não será outra coisa que um jogo de crianças".
(3) Parecia-me ver a mortificação como um instrumento musical, no qual, se todas as cordas estão
boas e fortes, produz um som harmonioso e agradável, mas se as cordas não são boas, agora há
que reparar uma, agora há que afinar outra, por isso todo o tempo o emprega em ajustá-lo, mas
jamais em tocá-lo, no máximo poderá emitir um som discordante e desagradável, por isso jamais
fará nada de bom.
4-41
Dezembro 25, 1900
Vê o Nascimento de Jesus.
(1) Encontrando-me em meu estado habitual me senti fora de mim mesma, e depois de ter virado
me encontrei dentro de uma caverna, e vi a Rainha Mãe que estava no momento de dar a luz ao
Menino Jesus. Que maravilhoso prodígio! Parecia-me que tanto a Mãe como o Filho estavam
mudados em luz puríssima, mas nessa luz distinguia-se muito bem a natureza humana de Jesus,
que continha em si a Divindade, que o servia como de véu para cobrir a Divindade, de modo que
abrindo o véu da natureza humana era Deus, e coberto com esse véu era homem, e eis o prodígio
dos prodígios: Deus e homem, homem e Deus, que sem deixar o Pai e o Espírito Santo vem
habitar conosco e toma carne humana, porque o verdadeiro amor nunca desune. Agora, me
pareceu que a Mãe e o Filho nesse felicíssimo instante ficaram como espiritualizados, e sem o
mínimo obstáculo Jesus saiu do seio materno, transbordando ambos em um excesso de amor, ou
seja, esses Santíssimos corpos transformados em Luz, sem o mínimo impedimento, Jesus luz saiu
de dentro da luz Mãe, ficando sãos e intactos tanto o Um como a Outra, retornando depois ao
estado natural. Mas quem pode dizer a beleza do Menino, que nesse momento de seu nascimento
transcorria ainda externamente os raios de sua Divindade? Quem pode dizer a beleza da Mãe que
ficou toda absorvida naqueles raios Divinos? Me parecia que São José não estava presente no
momento do parto, mas que permanecia em outro canto da caverna, todo absorto naquele
profundo mistério, e se não viu com os olhos do corpo, viu muito bem com os olhos da alma,
porque estava arrebatado em êxtase sublime.
(2) Agora, no momento em que o Menino saiu à luz, eu teria querido voar para pegá-lo em meus
braços, mas os anjos me impediram, me dizendo que cabia à Mãe a honra de ser a primeira a
tomá-lo. Então a Virgem Santíssima como sacudida voltou em si, e das mãos de um anjo recebeu
o Filho em seus braços, o apertou tão forte no arrebatamento de amor em que se encontrava, que
parecia que o queria meter de novo nela, depois querendo dar um desabafo a seu ardente amor, o
pôs a pôs a mamar de seus seios. Entretanto eu permanecia toda aniquilada, esperando ser
chamada para não receber outra repreensão dos anjos. Então a Rainha me disse:
(3) "Vem, vem tomar a teu amado e gozar lo também tu, desafoga com Ele teu amor". Assim que
disse isto me aproximei, e a Mamãe o pôs nos braços. Quem pode dizer minha alegria, os beijos,
os abraços, as ternuras? Depois que desabafei um pouco, disse-lhe: "Meu amado, Tu bebeste leite
de nossa Mãe, torna-me partícipe". E Ele condescendente, de sua boca derramou parte desse leite
na minha, e depois me disse:
(4) "Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos
com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas
que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,
dispersas do seu Criador e sem nenhum freio".
(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,
vendo-o chorar disse: "Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem
te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto". E assim dizendo
condescendente, de sua boca derramou parte desse leite na minha, e depois me disse:
(4) "Amada minha, Eu fui concebido unido à dor, nasci à dor e morri na dor, e com os três cravos
com que me crucificaram cravei as três potências: inteligência, memória e vontade daquelas almas
que desejam me amar, fazendo-as todas atraídas a Mim, porque a culpa as tinha tornado doentes,
dispersas do seu Criador e sem nenhum freio".
(5) E enquanto dizia isso, deu uma olhada no mundo e começou a chorar suas misérias. Eu,
vendo-o chorar disse: "Amável Menino, não entristeça uma noite tão alegre com teu pranto a quem
te ama, em lugar de dar desabafo ao pranto demos desafogo ao canto". E assim dizendo comecei
a cantar; Jesus distraiu-se ao ouvir-me cantar e deixou de chorar. Ao terminar meu verso Ele
cantou o seu, com uma voz tão forte e harmoniosa, que todas as demais vozes desapareciam ante
sua voz dulcíssima. Depois disto pedi ao Menino Jesus pelo meu confessor, por aqueles que me
pertencem, e finalmente por todos, e Ele parecia todo condescendente. Enquanto eu estava neste
desapareceu e eu voltei em mim mesma.
6-37
Abril 29, 1904
A vida de Deus manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos.
(1) Continuando meu estado habitual, me encontrei rodeada por três virgens, as quais tomando-me
a viva força queriam me crucificar sobre uma cruz, e eu como não via ao bendito Jesus, temendo,
punha resistência, e elas vendo minha resistência me disseram: "Irmã caríssima, não temas que
não esteja nosso Esposo, deixa que te comecemos a crucificar, que o Senhor atraído pela virtude
dos sofrimentos virá, nós viemos do Céu, e como vimos males gravíssimos que estão por
acontecer na Europa, para fazer com que pelo menos aconteçam mais benignos viemos fazer-te
sofrer". Enquanto isso me trespassaram com pregos as mãos e os pés, mas com tal crueza de dor
que me sentia morrer. Agora, enquanto sofria veio o bendito Jesus, e vendo-me com severidade
me disse:
(2) "Quem te ordenou que te pusesses nestes sofrimentos? Então para que me serves? Para não
poder nem sequer ser livre de fazer o que quero, e para ser um contínuo estorvo à minha justiça?"
(3) Eu no meu íntimo dizia: "Que quer de mim, eu nem sequer queria, foram elas que me
induziram, e a toma contra mim". Mas não podia falar por causa da dor; aquelas virgens vendo a
severidade de nosso Senhor, mais me faziam sofrer tirando e voltando a cravar os pregos, e me
aproximavam a Ele mostrando-lhe meus sofrimentos, e quanto mais sofria, mais parecia que o
Senhor se apaziguava, e quando o viram mais apaziguado e quase enternecido por meu sofrer, me
deixaram e se foram, deixando-me só com nosso Senhor. Então Ele mesmo me assistia e
sustentava, e vendo-me sofrer, para me reanimar disse-me:
(4) "Minha filha, a minha Vida manifesta-se nas criaturas com as palavras, com as obras e com os
sofrimentos, mas o que a manifesta mais claramente são os sofrimentos".
(5) Enquanto estava nisto, o confessor veio chamar-me à obediência, e em parte pelos sofrimentos,
e em parte porque o Senhor não me deixava, não podia obedecer. Então lamentei com meu Jesus,
dizendo: "Senhor, como é que o confessor está esta hora? Justo agora devia vir?"
(6) E Ele: "Minha filha, deixa que fique um pouco conosco e que participe também em minhas
graças. Quando alguém continuamente frequenta uma casa, participa do pranto e do riso, da
pobreza e da riqueza; assim é do confessor, não participou de suas mortificações e privações?
Agora participa de minha presença".
(7) Então parecia que lhe participava a força divina dizendo-lhe: "A Vida de Deus na alma é a
esperança, e por quanto esperas, tanto de Vida Divina contes em ti mesmo, e assim como a Vida
Divina contém potência, sabedoria, fortaleza, amor e outras coisas, assim a alma se sente regar
por tantos fluxos por quantas são as virtudes divinas, e a Vida Divina cresce sempre em ti mesmo;
mas se não esperas, no espiritual, e pelo espiritual participará também o corporal, a Vida Divina se
irá consumindo até apagar-se de tudo, por isso espera, espera sempre".
(8) Depois, com esforço recebi a comunhão, e depois me encontrei fora de mim mesma e via três
homens em forma de três cavalos indômitos que desenfreados na Europa, fazendo tantos estragos
de sangue, e parecia que queriam envolver como dentro de uma rede à maior parte da Europa em
guerras encarniçadas, todos tremiam à vista destes diabos encarnados, e muitos ficavam
destruídos.
7-39
Agosto 25, 1906
O interesse e as ciências humanas nos sacerdotes.
(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, parecia-me ver sacerdotes, prelados
atentos ao interesse e às ciências humanas, que não são necessários para o seu estado,
acrescentando a isto um espírito de rebelião às autoridades superiores. Nosso Senhor, muito
aflito me disse:
(2) "Minha filha, o interesse, as ciências humanas, e tudo o que ao sacerdote não lhe pertence,
forma-lhe uma segunda natureza, enlameada e putrefacta, e as obras que saem destes, mesmo
santas, provocam-me náuseas pela peste que exalam, tanto, que me são intoleráveis. Reza e
repára-me estas ofensas, porque não posso mais".
9-40
Agosto 12, 1910
O princípio e todo o mal do sacerdote consiste em tratar com as almas de coisas humanas.
(1) Estando em meu estado habitual, encontrei-me fora de mim mesma e via sacerdotes, e Jesus
que se fazia ver em meu interior todo deslocado e com os membros separados, e Ele apontava a
esses sacerdotes, e fazia compreender que apesar de serem sacerdotes, eram também membros
separados de seu corpo, e lamentando-se dizia:
(2) "Minha filha, como sou ofendido por sacerdotes. Os superiores não vigiam sobre minha sorte
sacramental, e me expõem a sacrilégios enormes. Estes que você vê são membros separados que
me ofendem muito, mas meu corpo não tem mais contato com suas ações perversas, mas os
outros que fingem não estar separados de Mim e continuam sua atividade de sacerdotes, oh!
quanto mais me ofendem, a que atroz tormento estou exposto, quantos castigos atraem, Eu não
posso suportá-los mais".
(3) E enquanto dizia isto, eu via muitos sacerdotes que escapavam da Igreja e se viravam contra
Ela para fazer guerra; por isso olhava para aqueles sacerdotes com grande desgosto, e via uma luz
que me fazia compreender que o princípio e todo o mal do sacerdote consiste em tratar com as
almas de coisas humanas, de natureza toda material sem uma estreita necessidade; estas coisas
humanas formam uma rede para os sacerdotes que lhes cega a mente, endurece lhes o coração
para as coisas divinas, e lhes impede o passo no caminho que convém fazer no exercício de seu
ministério; e não só isto, senão que é rede para as almas, porque levam o humano e o humano
recebem, e a graça fica como excluída delas. ¡ Oh, quanto mal se comete por estes tais, quantos
estragos de almas fazem! O Senhor queira iluminá-los a todos.
10-39
Outubro 20, 1911
Jesus chora e quer ser consolado. Novas ameaças para a Itália.
(1) O meu adorável Jesus dava compaixão, chorava muito, apoiava o seu rosto sobre o meu e
sentia as suas lágrimas sobre mim. Eu, vendo-o chorar, chorava também e dizia-lhe: "Que tens, ó
Jesus, que choras? Rogo-te que não chores, derrama sobre mim tuas tristezas, faz-me tomar parte
de tuas amarguras, mas não chores porque me sinto morrer pela dor. Pobre Jesus, que te
fizeram?" E acariciava-o, beijava-o para lhe acalmar o pranto.
(2) E Jesus: "Ah minha filha, você não sabe o quanto me fazem, se você o visse morreria pela dor.
Você diz que não devo fazer vir os estrangeiros, mas pelo que estão fazendo eles mesmos estão
me arrancando este castigo, eles me arrancaram o flagelo da guerra, eles me arrancaram o castigo
de que lhes destruísse as cidades, por isso minha filha, paciência".
(3) E eu: "Ao ver-te chorar, sinto os braços quebrados e não sei dizer-te que não o faças, só te digo
que me leves primeiro, porque estando no Céu pensarei como aqueles do Céu, mas estando na
terra não pensarei como eles, e por isso não posso resistir a ver tudo isto". Então parecia que era
tanta a dor de Jesus e a necessidade de que alguém o aliviasse, que se esteve quase sempre
junto comigo, e eu hora lhe falava de amor, hora o reparava, hora rogávamos juntos, hora lhe via a
cabeça para ver se tinha a coroa de espinhos para tirá-la. Jesus tinha desejo de estar comigo, tudo
se deixava fazer; eram tantos os pecados que se cometiam que não queria ir no meio das nações.
Depois derramou um pouco de licor doce dizendo-me:
(4) "Também tu tens necessidade de ser confortada".
(5) Ó, como é bom Jesus!
11-36
Setembro 6,1912
Para receber os benefícios da presença de Jesus, é preciso aproximar-se dEle com a vontade.
(1) Continuando meu estado habitual, enquanto o bendito Jesus veio me disse:
(2) "Minha filha, Eu estou com as almas, dentro e fora, mas quem experimenta os efeitos? Quem
se aproxima com sua vontade à minha, quem me chama, quem reza, quem conhece meu Poder
e o bem que posso lhe fazer, de outra maneira acontece como aquele que tem água em sua
casa mas não se aproxima para tomá-la e beber, apesar de que está a água não goza do
benefício da água e arde pela sede; assim se sente frio, e apesar de que há fogo não se
aproxima dele para esquentar, não desfrutará o benefício do calor, e assim de todo o resto. ¡ O
qual não é meu desagrado, que enquanto eu quero dar não há quem tome meus benefícios!"
38. Maria, mestra de Jesus, de Judas e de Tiago.
29 de outubro de 1944.
38.1 Jesus diz:
– Vem pequeno João, e vê. Volta atrás, segura pela minha mão que te
conduz, aos anos da minha infância. O que vires deverá ser inserido no
Evangelho da minha infância, onde quero que seja colocada também a visão
da estadia da Família no Egito. Colocarás assim: a Família no Egito, depois
a primeira lição de trabalho do menino Jesus, depois o que agora vais
descrever, a cena da maioridade (prometida hoje 25-11)[62]
, por último a
visão de Jesus entre os doutores no Templo, na sua 12ª. Páscoa. Não é sem
motivo também o que agora irás ver. Mas, antes, esclarece alguns pontos e
ligações dos meus primeiros anos, e entre os parentes. É um presente para ti,
nesta festa da minha Realeza, para ti que sentes entrar-te a paz da Casa de
Nazaré, quando a vês. Escreve.
38.2Vejo o quarto onde, habitualmente, se fazem as refeições e onde Maria
trabalha junto ao seu tear, ou com a agulha. O quarto é perto da oficina de
José, do qual se ouve o incansável trabalho. Mas neste quarto há silêncio.
Maria está costurando tiras de lã, certamente tecida por ela, com cerca de
meio metro de largura, por mais do que o dobro de comprimento, e me
parece que desse trabalho vai sair um manto para José.
Da porta aberta, que dá para o pomar-jardim, vêem-se sebes cheias de
folhas de pequenas margaridas de um azul violeta, que comumente são
chamadas “Marias” ou “Céu estrelado”, mas cujo nome científico eu não sei.
Estão floridas, e por isso deve ser outono. Mas o verde ainda está espesso e
bonito nas plantas, e as abelhas de duas colméias, que estão em cima de um
muro bem exposto ao sol, vão zumbindo, dançando e brilhando à luz solar,
indo de uma figueira para uma videira, e desta para uma romãzeira, cheia de
suas frutas redondas, que já estão se arrebentando pelo excesso de vigor, e
mostrando os colares de suculentos rubis, alinhados no interior do escrínio
verde-avermelhado, com compartimentos amarelos.
38.3Debaixo das árvores, Jesus está brincando com dois meninos, mais ou
menos da sua idade. São de cabelos encaracolados, mas não loiros. Um,
aliás, é até moreno: uma cabecinha de cordeirinho preto, que faz aparecer
ainda mais branca a pele do rostinho redondo, no qual estão abertos dois
grandes olhos, de um azul tendente ao violáceo, muito bonitos. O outro tem
os cabelos menos encaracolados, e de uma cor castanho-escuro, olhos
castanhos e de um colorido mais moreno, mas com uma tonalidade rosada
nas faces. Jesus com a sua cabecinha loira, entre os outros dois, parece estar
nimbado por um fulgor. Eles brincam em boa harmonia com uns carrinhos
sobre os quais estão diversas mercadorias: folhas, pedrinhas, maravalhas,
pauzinhos. Fazem-se de mercadores certamente, e Jesus é que compra para a
mamãe, à qual vai levar, ora um objeto, ora outro. Maria, aceita com um
sorriso, as compras.
Mas depois a brincadeira muda. Um dos dois meninos propõe[63]
:
– Vamos representar o Êxodo, atravessando o Egito. Jesus será Moisés,
eu Arão, e tu… Maria.
– Mas eu sou homem!
– Não faz mal. Faz assim mesmo. Tu és Maria, e dançarás diante do
bezerro de ouro, que vai ser aquela colméia lá.
– Eu não danço. Eu sou homem, e não quero ser mulher. Depois, eu sou
um fiel, e não quero dançar diante do ídolo.
Jesus, então, intervém:
– Vamos deixar este ponto. Vamos representar outro: quando Josué foi
escolhido para ser o sucessor de Moisés. Assim não entra aquele feio
pecado de idolatria, e Judas fica contente por ser um homem, e meu sucessor.
Assim ficas contente não é verdade?
– Sim, Jesus. Mas, então, Tu tens que morrer, porque Moisés morre,
depois. E eu não quero que Tu morras, logo Tu que me queres tão bem!
– Todos morrem… Mas Eu, antes de morrer, abençoarei a Israel, e,
como aqui estais somente vós, em vós Eu abençoarei todo Israel.
Foi aceita a proposta. Surge, porém, depois, uma dúvida. Se o povo de
Israel, depois de tanto andar, ainda teria, ou não, os carros que tinha, quando
saiu do Egito. As idéias são contraditórias.
Vão, então, recorrer a Maria.
– Mamãe, Eu digo que os israelitas tinham ainda os carros. Tiago diz
que não. E Judas não sabe a quem dar razão. Tu sabes?
– Sim, meu Filho. O povo nômade tinha ainda os seus carros. Nas
paradas os consertava. Subiam nos carros os mais fracos, onde também eram
transportadas as provisões, e coisas necessárias para o povo. Menos a Arca,
que era levada nas mãos. Tudo o mais ia nos carros.
A dúvida foi desfeita.
38.4Os meninos vão para o fundo do pomar e, de lá, cantando salmos, vêm
vindo em direção da casa. Jesus vem na frente e, com sua vozinha clara e
afinada, canta alguns salmos. Atrás Dele vêm Judas e Tiago, segurando por
baixo uma carriolinha que está elevada ao grau de Tabernáculo. Mas, como
eles têm que fazer também a parte do povo, além da de Arão e Josué, tiraram
as suas cintas e com elas amarraram a seus pés os outros carros em
miniatura, e assim vão para frente, como se fossem verdadeiros atores.
Percorrem toda a parreira, passam diante da porta do quarto onde está
Maria, e Jesus diz:
– Mamãe, saúda a Arca que está passando.
Maria se levanta com um sorriso, e se inclina diante do Filho, que passa
radiante, em um nimbo de sol.
Depois, Jesus vai subindo pelo lado do monte que cerca a casa, ou
melhor, o jardim. Em cima da pequena gruta, tendo-se posto em pé, Ele fala
a… Israel. Fala das ordens e promessas de Deus, indica Josué como guia e o
chama para perto de Si. Judas, por sua vez, salta sobre a gruta. Jesus o
encoraja e abençoa. Depois, manda que lhe tragam uma tabuleta… (é uma
folha grande de uma figueira), nela escreve o cântico, e o lê. Não o lê todo,
mas uma boa parte, e parece que está lendo mesmo sobre a folha. Depois,
despede-se de Josué, que o abraça chorando, e sobe mais, até chegar à beira
da saliência onde estão. De lá, abençoa todo Israel, isto é, aos dois que estão
prostrados por terra, em seguida se estende sobre a erva curta, fecha os
olhos e… morre.
38.5Maria, que tinha ficado à porta sorrindo, quando viu que ele ficou
estendido e rígido, gritou:
– Jesus! Jesus! Levanta-te! Não fiques assim! A mamãe não te quer ver
morto!
Jesus se levanta com um sorriso, e corre para ela e a beija. Vêm também
Tiago e Judas. Eles também recebem carícias de Maria.
– Como pode Jesus lembrar-se daquele cântico tão comprido e difícil e
de todas aquelas bênçãos? –pergunta Tiago.
Maria sorri, e responde simplesmente:
– Ele tem uma memória muito boa, e está sempre muito atento quando eu
leio.
– Eu fico atento na escola. Mas, depois, me dá um sono, com toda aquela
lamentação… Será que não vou aprender nunca?
– Aprenderás, sim. Tenha paciência.
38.6Batem à porta. José atravessa rapidamente o pomar e o quarto e abre.
– A paz esteja convosco, Alfeu e Maria!
– E a vós, paz e bênçãos.
É o irmão de José e sua mulher. Na rua está parado um carro, que veio
puxado por um burrinho forte.
– Fizestes boa viagem?
– Boa. E os meninos?
– Estão lá no pomar, com Maria.
Mas os meninos já saíram correndo para irem saudar à sua mamãe. Vem
chegando também Maria, segurando Jesus pela mão. As cunhadas se beijam.
– Eles têm se comportado bem?
– Muito bem, e são muito queridos. Todos os parentes vão bem?
– Todos. Eles vos saúdam, e vos mandam muitos presentes de Caná.
Uva, maçãs, queijos, ovos, mel. E… José, eu achei justamente o que estavas
querendo para Jesus. Está no carro, naquela cesta redonda.
A mulher de Alfeu sorri. Inclina-se sobre Jesus, que olha para ela com
seus olhos grandes muito abertos, os beija, e diz:
– Sabes o que eu trouxe para ti? Adivinha.
Jesus pensa, e não descobre. Eu desconfio que ele faça assim de
propósito para dar a José a alegria de fazer uma surpresa. De fato, José vem
entrando, e trazendo um grande cesto redondo. Coloca-o no chão, diante de
Jesus, desata a corda que está segurando a tampa no lugar, e a levanta… e
uma ovelhinha toda branca, um verdadeiro floco de espuma, aparece
dormindo, no meio do feno bem limpo.
Jesus solta um “oh!”, admirado e feliz, e quer se precipitar sobre o
animalzinho, mas depois volta atrás, e corre até José, que ainda está
inclinado para o chão, e o abraça e beija, agradecendo-lhe.
Os priminhos olham com admiração a ovelhinha, que despertou, e está
levantando o pequeno focinho rosado e gracioso, procurando a mãe.
Puxam na para fora do cesto, dão-lhe um punhado de trevo, que ela come, olhando
ao seu redor com seus olhos mansos.
Jesus continua a dizer:
– Para Mim! Para Mim! Obrigado, pai!
– Gostaste dela tanto assim?
– Oh! Se gostei… ela é branca, limpa… uma cordeirinha… oh!
E lança os bracinhos ao pescoço da ovelhinha, põe a cabeça loira sobre
a cabecinha branca, e fica todo feliz.
– Também para vós eu trouxe duas –diz Alfeu aos filhos–. Mas são
escuras. Vós não sois ordenados como Jesus, e teríeis tido ovelhas
desordenadas, se fossem brancas. Serão o vosso rebanho. Vós as criareis
juntas, e assim não ficareis mais batendo pernas pelas estradas, vós dois,
jogando pedras como uns moleques.
Os meninos correm para o carro, e ficam olhando as duas outras
ovelhas, mais pretas do que brancas.
Jesus ficou com a sua. Ele a leva ao pomar, dá-lhe de beber, e o
animalzinho o acompanha, como se sempre o tivesse conhecido. Jesus a
chama. Põe-lhe o nome de “Neve”, ao qual ela responde, balindo de modo
todo festivo.
Os hóspedes sentaram-se à mesa, e Maria lhes serve pão, azeitonas e
queijo. Coloca-se à mesa um jarro com cidra, ou água com mel, não sei, mas
vejo que é de um amarelo muito claro.
Falam entre si, enquanto os meninos estão brincando com os três
animais, que Jesus quis que ficassem juntos, para dar também às outras
ovelhas água e um nome:
– A tua, Judas, se chamará “Estrela”, porque tem esse sinal na testa. E a
tua, “Chama”, porque tem a cor de certas chamas de éricas murchas.
– Está aceito.
Os adultos estão conversando, (e é Alfeu quem diz):
– Espero ter resolvido assim a história das brigas dos rapazinhos. Foi a
tua idéia, José, que veio me iluminar. Eu disse: “Meu irmão quer uma
ovelhinha para Jesus, para que ele brinque um pouco. Eu pegarei mais duas
para aqueles garotos, a fim de fazer com que eles fiquem um pouco mais
quietos, e eu não precisar ter sempre questões com os outros pais, por causa
de cabeças e joelhos quebrados. Um pouco a escola, e um pouco as ovelhas,
e eu conseguirei tê-los mais quietos.” 38.7Mas neste ano tu também deverás
mandar Jesus para a escola. Já é hora.
– Eu nunca mandarei Jesus para a escola –diz Maria, decididamente.
É difícil ouvi-la falar assim, e falar antes de José.
– E por que? o Menino precisa aprender para, a seu tempo, ser capaz de
passar no exame de maioridade…
– O Menino saberá. Mas ele não vai à escola. Está decidido.
– Serias a única em Israel a fazer assim.
– Serei. Mas vou fazer assim. Não é verdade, José?
– É verdade. Para Jesus não há necessidade de ir para nenhuma escola.
Maria foi educada no Templo, e é uma verdadeira doutora no conhecimento
da Lei. Ela será a sua mestra. Eu também quero assim.
– Assim, vós acostumais mal o Rapaz.
– Não podes dizer isso. É o melhor de Nazaré. Já o ouviste chorar, fazer
birra, negar obediência, faltar com o respeito?
– Isto não. Mas assim ele se tornará, se continuar a ser viciado.
– Não é viciar os filhos tê-los perto de si. Mas isso é amá-los com bom
senso e bom coração. Assim amamos o nosso Jesus e, visto que Maria é
mais instruída que o mestre, Ela será a mestra de Jesus.
– Quando ficar homem, o teu Jesus será uma mocinha, que terá medo até
de uma mosca.
– Não será assim. Maria é uma mulher forte, e sabe educá-lo virilmente.
Eu não sou nenhum covarde, e sei dar-lhe exemplos viris. Jesus é uma
criança sem defeitos físicos nem morais. Crescerá, por isto, reto e forte no
corpo e no espírito. Fica certo disso, Alfeu. Ele não fará má figura na
família. Além disso, eu já decidi, e assim se fará.
– Maria é que terá decidido, e tu…
– E se tivesse sido assim? Não é bonito que dois que se amam estejam
prontos a ter o mesmo pensamento e a mesma vontade, porque
reciprocamente um abraça o desejo do outro, e o faz seu? Se Maria quisesse
coisas tolas, eu lhe diria: “não.” Mas ela pede coisas cheias de sabedoria, e
eu as aprovo e as faço minhas. Nós nos amamos, como no primeiro dia… e
assim faremos, enquanto estivermos vivos. Não é verdade, Maria?
– Sim, José. E não aconteça nunca, mas, se um tivesse que morrer sem o
outro, ainda assim nos amaríamos.
José acaricia a cabeça de Maria, como se fosse uma filha ainda menina,
e Ela olha para ele com seu olhar sereno e amoroso.
38.8A cunhada intervém:
– Vós tendes razão. Se eu fosse boa para ensinar! Na escola os nossos
filhos aprendem o bem e o mal. Em casa aprendem só o bem. Mas eu não
sei… se Maria…
– Que queres dizer, cunhada? Fala com toda a liberdade. Tu sabes que
eu te amo, e fico alegre quando te posso dar um prazer.
– Eu ia dizendo… Tiago e Judas são um pouco mais velhos do que
Jesus. Eles já vão à escola… mas, pelo que eles sabem!… Jesus, ao
contrário, já sabe tão bem a Lei… Eu queria… te dizer que tivesses também
os dois, quando fores ensinar a Jesus? Eu acho que eles se tornariam
melhores e mais instruídos. Afinal, eles são primos, e que se amem como
irmãos, é justo. E eu ficaria tão feliz!
– Se José assim quer, e o teu marido também, eu estou pronta. Falar para
um e falar para três é a mesma coisa. Repassar toda a Escritura é uma
alegria. Que eles venham.
Os três meninos, que haviam entrado em silêncio, se assentam, e estão à
espera do veredicto.
– Eles vão te pôr desesperada, Maria –diz Alfeu.
– Não. Comigo são sempre bons. Não é verdade que sereis bons, se eu
vos ensinar?
Os dois correm para perto dela, um à direita, o outro à esquerda, põem
lhe os braços ao redor dos ombros, as cabecinhas sobre os ombros, e
prometem fazer tudo para serem bons.
– Deixa-os experimentar, Alfeu, e deixa-me também experimentar. Eu
penso que não ficarás descontente com a experiência. Eles virão todos os
dias, da hora sexta até à tarde. Bastará, podes crer. Eu sei a arte de ensinar
sem cansar. Os meninos ficam quietos e se recreiam, ao mesmo tempo. É
preciso entendê-los, amá-los e ser por eles amados, para conseguir alguma
coisa deles. Vós me amais, não é verdade?
Dois grandes beijos são a resposta.
– Estás vendo?
– Eu estou vendo. Só tenho que te dizer: “Obrigado.” E, Jesus, o que
dirás vendo a mamãe ocupada com os outros? Que dizes, Jesus?
– Eu digo
[64]
: “Felizes os que a estão escutando e que erguem sua
morada junto da morada dela.” Como da Sabedoria, feliz quem é amigo de
minha mãe, e Eu sou feliz se aqueles que eu amo forem amigos dela.
– Mas quem é que põe estas palavras nos lábios do Menino? –pergunta
Alfeu, admirado.
– Ninguém, meu irmão. Ninguém deste mundo.
A visão cessa aqui.
38.9Jesus diz:
– E Maria foi Minha mestra, de Tiago e de Judas. Eis porque nos
amamos como irmãos, não só pelo parentesco, mas pela ciência e por termos
crescido juntos, como três sarmentos de videira sustentados na mesma vara.
A minha mamãe! Doutora, como nenhum outro em Israel, esta minha doce
mãe. Sede da Sabedoria, e da verdadeira Sabedoria, nos instruiu para o
mundo e para o Céu. Digo: “nos instruiu”, porque Eu fui seu aluno, não
diversamente dos primos. E o “sigilo” foi mantido sobre o segredo de Deus,
contra a indagação de Satanás, mantido sob a aparência de uma vida comum.
Ficaste alegre com esta cena suave? Agora, fica em paz. Jesus está
contigo.
[62] a cena da maioridade (prometida hoje 25-11), é um acréscimo que Maria Valtorta inseriu entre as linhas escritas a 29 de
Outubro e se refere à promessa da qual fala no início do capítulo seguinte.
[63] propõe, uma representação a extrair de: Êxodo 32, à qual vem preferida a de: Números 27,12-23; Deuteronómio 31-34.
[64] Eu digo, como em: Provérbios 8,34.
CAPÍTULO 6
A VIRTUDE E O EXERCÍCIO DA FÉ EM MARIA SANTÍSSIMA.
Fundamento e medida desta virtude em Maria
488. Em breves palavras resumiu Santa Isabel - como refere o
evangelista S. Lucas, 1, 45 - a grandeza da fé em Maria Santíssima, quando
lhe disse: - Bem-aventurada és porque creste, e por isto cumprir-se-ão
em ti as palavras e promessas do Senhor. Pela felicidade e bem aventurança desta grande Senhora, e
por sua inefável dignidade, deve ser medida sua fé. Foi tal e tão excelente
que, por haver crido, chegou à maior grandeza, depois do próprio Deus.
Acreditou no maior dos sacramentos e mistérios que nela seria realizado.
Tal foi a prudência e a ciência divina de Maria, senhora nossa, para dar
crédito à esta verdade, tão nova e nunca vista, que transcendeu todo o humano
e angélico entendimento. Somente na sabedoria divina pôde ser forjada a sua
fé, como em oficina do imenso poder do Altíssimo, onde todas as virtudes desta
Rainha foram fabricadas pelo braço de Sua Alteza.
Sinto-me sempre tolhida e embaraçada para falar destas virtudes,
principalmente das interiores. Enquanto a inteligência e luz que delas me são
dadas são muito vastas, extremamente limitados são os termos humanos, para
expressar os conceitos e atos de fé, concebidos no entendimento e espírito da
mais fiel de todas as criaturas. Direi o que puder, reconhecendo minha incapacidade, para satisfazer meu desejo e ainda
mais o assunto.
Grandeza da fé em Nossa Senhora. O que é a fé?
489. A fé da Virgem Santíssima foi assombro para toda natureza criada,
e ostensivo prodígio do poder divino.
Nela encontrou-se esta virtude no supremo e perfeitíssimo grau que pôde
atingir, e de certo modo, satisfez a Deus pela falta e mediocridade da fé em todos
os demais homens.
Aos mortais viadores concedeu o Altíssimo esta virtude para, sem impedimento da carne mortal, receberem
conhecimento da divindade, de seus mistérios e obras admiráveis. Conhecimento com verdade tão certa, infalível e segura,
como se O vissem face a face, assim como O vêem os anjos e os bem-aventurados. O
mesmo objeto e a mesma verdade que eles possuem claramente, nós cremos sob o
véu e obscuridade da fé.
Valor da fé: quão pouco é apreciada. Maria compensou esta falha das criaturas
490. Este inestimável benefício, mal conhecido e menos agradecido pelos mortais, bem faz entender -
olhando-se para a terra - quantas nações, reinos e províncias o têm desmerecido,
desde o princípio do mundo. Quantas, infelizmente, rejeitaram a fé, quando o
Senhor, com liberal misericórdia, lha havia concedido. Quantos fiéis,
recebendo-a sem merecer, a inutilizam e a possuem como farsa, ociosa, sem proveito, nem utilidade para com ela se
encaminhar ao último fim, onde os devia dirigir e guiar.
Convinha, pois, à divina equidade, que este lamentável prejuízo tivesse alguma compensação; que tão incomparável
benefício recebesse adequada e proporcionada correspondência, quanto fosse
possível às criaturas. E, que entre estas, se encontrasse alguma, na qual esta virtude
alcançasse grau perfeitíssimo, para ser modelo e medida para todos os mais.
Maria, modelo e mestra de fé para os mortais.
491. Tudo isto se achou na fé da Virgem Santíssima. Somente por Ela, e para
Ela, - ainda que esta Senhora fosse a única criatura do mundo - seria muitíssimo
conveniente que Deus criasse esta excelente virtude da fé. Somente Maria Santíssima
satisfez à divina Providência, para que, a nosso modo de entender, a formação desta
virtude não ficasse frustrada pela falta de correspondência dos mortais. Esta falha
foi preenchida pela fé da soberana Rainha realizando em si, com suma e possível
perfeição, a divina idéia desta virtude.
Todos os demais crentes podem se regular e medir pela fé desta Senhora, e
serão mais ou menos fiéis, quanto mais ou menos se ajustarem à perfeição de sua
incomparável fé. Para isto foi escolhida e eleita mestra e modelo de todos os crentes,
inclusive dos patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, e de todos quantos, como
eles. creram ou crerão os artigos da fé cristã, até o fim do mundo.
Fé e visão em Maria
492. Alguém poderia objetar que não se adequava na Rainha do céu o exercício da fé, suposto haver muitas vezes
recebido a clara visão da divindade e, outras muitas, a visão abstrativa, o que também
dá a evidência do que o entendimento conhece, como disse acima , e adiante
tomarei a repetir.
A dúvida procederá de que a fé é a substância das coisas que esperamos e
argumentos das que não vemos, como diz o Apóstolo (Hb 11,1). Quer dizer que, das
coisas que esperamos na futura vida e bem-aventurança, não temos outra presença, nem substância ou essência,
enquanto somos viadores, senão aquela que a fé contém em seu objeto, crido obscuramente como por um espelho.
Mas, a força deste hábito infuso que inclina a crer o que não vemos, e a
certeza infalível do que é crido, produzem para o entendimento argumento eficaz e
infalível, e leva a vontade a crer, segura e sem temor, o que deseja e espera
Conforme a esta doutrina, se a Virgem Santíssima, nesta vida, chegou a
ver e possuir a Deus - o que é o mesmo - sem o véu da fé obscura, parece que não lhe
ficaria obscuridade para crer mediante a fé, o que havia visto claramente face a face.
Mais ainda, sabendo-se que em seu entendimento permaneciam as espécies
recebidas na visão, clara ou evidente, da divindade.
Concordância entre fé e visão, na alma de Maria Santíssima
493. Esta dúvida não derroga a fé em Maria Santíssima, antes a eleva e
engrandece. Desejou o Senhor que sua Mãe fosse tão admirável no privilégio
desta virtude da fé - como também na esperança - que transcendesse a qualquer ordem comum dos outros viadores.
Quis que seu excelente entendimento, para vir a ser mestra e artífice destas
grandes virtudes, fosse ilustrado, umas vezes por atos perfeitíssimos de fé e
esperança, e outras vezes com a visão ou posse, ainda que de passagem, do
fim e objeto que acreditava e esperava.
Em sua origem, conheceria e saborearia as verdades que, como mestra dos
crentes, teria que ensinar a crer pela virtude da fé. Unir ambas as coisas na alma
santíssima de Maria era fácil ao poder de Deus. Além disso, era como devido à sua
Mãe puríssima, a quem nenhum privilégio, por grande que fosse excedia, nem poderia faltar.
Quando exercitava a fé obscura
494. Verdade é que, com a clareza do objeto conhecido, não se
coaduna a obscuridade da fé, mediante a qual cremos o que não vemos, nem a
posse pode coexistir com a esperança.
Quando Maria Santíssima gozava destas evidentes visões, ou quando usava das
espécies que, com evidência, ainda que abstrativa, lhe manifestavam os objetos,
também não exercitava os atos obscuros da fé, nem usava deste hábito, mas apenas o da ciência infusa.
Mas, nem por isto lhe permaneciam ociosos os hábitos das virtudes
teologais da fé e esperança. Para Maria Santíssima exercitá-los,
o Senhor suspendia o concurso, ou detinha o uso das
espécies claras e evidentes, com que cessava a ciência atual, deixando operar a fé
obscura. Neste perfeitíssimo estado, permanecia em certos tempos a soberana
Rainha, ocultando-lhe o Senhor as notícias claras, como sucedeu no altíssimo
mistério da Encarnação do Verbo, conforme direi em seu lugar .
Sua fé no mistério da Encarnação
495. Não convinha que à Mãe de Deus faltasse a recompensa destas
virtudes infusas da fé e esperança. Para consegui-la tinha que merecê-la, e para
merecê-la devia exercitar os atos proporcionados à recompensa. Como esta foi
incomparável, assim o foram os atos de fé que praticou esta grande Senhora, em
todas e em cada uma das verdades católicas. Conheceu e creu a todas,
explicitamente, com altíssima e perfeitíssima crença de viadora.
E certo que, quando o entendimento possui a evidência do que conhece
não aguarda para crer o consentimento da vontade. Antes que ela lho mande,
é compelido pela mesma clareza a dar firme
assentimento. Tal ato de crer o que não pode negar, não é meritório.
Quando, porém, Maria Santíssima anuiu à embaixada do Arcanjo, foi digna de
incomparável prêmio, porque o mereceu, na aceitação de tal mistério. O mesmo sucedeu em outros que acreditou. Em tais
ocasiões, o Altíssimo dispunha que usasse da fé infusa, e não da ciência, ainda que
com esta também teria mérito, pelo amor com que a exercitava, como em diferentes
passagens eu disse.
A fé que Maria exercitou na perda do Menino Jesus e na Paixão
496. Tampouco foi-lhe dado o uso da ciência infusa, quando perdeu o
Menino, ao menos para saber onde ele se encontrava, assim como conhecia outras
coisas mediante aquela luz. Nestas ocorrências, também não gozava das espécies
claras da divindade, como aconteceu ao pé da cruz, quando o Senhor suspendeu na
alma santíssima de sua Mãe, a visão e as operações que lhe impediriam a dor. Então
convinha que sofresse somente com fé e esperança.
Tal não aconteceria, se gozasse de qualquer visão ou notícia, ainda que
fosse abstrativa, da divindade, porque este gozo naturalmente impediria a dor, se Deus
não fizesse novo milagre, para pena e gozo subsistirem juntos. Não convinha tal milagre, pois irmanavam-se bem, na Rainha do
céu, o mérito e imitação de seu Filho Santíssimo pelo padecer, com as graças e
excelências de Mãe.
Por isto, procurou o Menino com aflição (Lc 2,48) conforme Ela o disse, na
fé viva e esperança. Praticou-as também na paixão e ressurreição de seu único e amado
Filho. Nesta ocasião, foi Ela a única depositária da fé da igreja, ficando essa virtude
concentrada toda em sua Mestra e Fundadora.
A continuidade de sua fé
497. Três qualidades, ou excelências particulares, podem ser consideradas
na fé em Maria Santíssima: a continuidade a intensidade e a inteligência com que
acreditava.
A continuidade era interrompida somente quando, com claridade intuitiva
ou evidencia abstrativa, via a divindade como já disse. Para discriminar os atos
interiores do conhecimento de Deus que tinha a Rainha do céu, ainda que somente
o Senhor que os concedia pôde saber quando e em que tempos sua Mãe
santíssima exercitava uns e outros atos, não resta dúvida que seu entendimento
jamais esteve ocioso, e nunca perdeu a Deus de vista sequer um instante, desde o
primeiro de sua conceição. Se a fé se suspendia, era porque gozava da divindade
por clara visão ou por altíssima ciência infusa. Se o Senhor lhe ocultava este conhecimento, operava a fé.
A sucessão e diversidade destes atos formavam harmoniosíssima melodia
na mente de Maria Santíssima, para cuja consideração o Altíssimo convidava os
espíritos angélicos, conforme disse nos Cânticos (cap. 8,13): Tu, que habitas nos
jardins, nossos amigos estão atentos; jaze me ouvir a tua voz Sua intensidade
498. A eficácia ou intensidade da fé desta soberana Princesa, excedeu a de
todos os apóstolos, profetas e santos juntos, e atingiu ao supremo que pôde caber
em pura criatura. Não somente ultrapassou todos os crentes, mas teve a fé que faltou
a todos os infiéis que não têm crido, e com sua fé todos poderiam ter sido iluminados.
Foi sua fé, de tal modo firme e constante, como se viu no tempo da paixão, quando os Apóstolos duvidaram. Se
fossem reunidas todas as tentações, enganos, erros e falsidades do mundo, não
poderiam fazer oposição, nem abalar a invencível fé da Rainha dos fiéis. A Fundadora e Mestra da Fé a todos venceria, e de
todos sairia triunfante.
Sua inteligência
499.A clareza ou inteligência com que acreditava, explicitamente, em todas
as verdades divinas, não se pode explicar por palavras, sem com elas obscurecê-la.
Sabia Maria puríssima tudo quanto acreditava, e acreditava em tudo quanto sabia,
porque a ciência infusa teológica da credibilidade dos mistérios da fé, e sua
inteligência, estiveram nesta sapientíssima Virgem e Mãe no mais alto grau possível em
pura criatura.
Possuía, em ato, esta ciência e memória de anjo, sem esquecer o que uma
vez aprendia. Sempre usava desta potência e dom para crer profundamente, salvo
quando, por divina disposição, Deus ordenava que por outros atos lhe fosse
substituída a fé, conforme acima disse .
Fora do estado de compreensora possuía, no de viadora, a mais alta e imediata inteligência, na esfera da fé, para
crer e conhecer a Deus com a notícia clara da divindade. Com isto, seu estado transcendia ao de todos os viadores,
constituindo Ela somente um singular gênero de viadora, ao qual ninguém pôde chegar.
Os méritos de sua fé e seu poder para conceder essa virtude
500. Ao praticar os atos de fé e esperança no estado mais inferior e ordinário, excedia a todos os santos e anjos;
amando mais que eles, os sobrepujou nos merecimentos. Qual seria então sua atividade, merecimento e amor, quando era
elevada pelo poder divino a outros benefícios, e estado mais sublime da visão
beatífica, ou claro conhecimento da divindade? Se, ao entendimento angélico faltaria
capacidade para entendê-lo e penetrá-lo, como terá palavras para o explicar uma
criatura terrena? Ao menos, quisera eu que os mortais conhecessem o valor e preço
desta virtude da fé, considerando-a neste divino modelo, onde ela chegou ao ápice
de sua perfeição, e adequadamente preencheu o fim para o qual foi formada.
Cheguem os infiéis, hereges, pagãos, idolatras, à mestra da fé, Maria
Santíssima, para serem iluminados em seus enganos e tenebrosos erros, e encontrarão
seguro caminho para atinar com o fim último para o qual foram criados.
Cheguem também os católicos e conheçam o copioso prêmio desta excelente virtude e peçam, como os Apóstolos ao
Senhor, que lhes aumente a fé (Lc 17, 5).
Não para igualar a de Maria Santíssima,
mas para imitá-la e segui-la, pois a sua fé nos instrui e dá esperança de conseguirmos tal graça, mediante seus altíssimos
merecimentos.
A fé do pai de todos os crentes, Abraão
501. São Paulo chamou o patriarca Abraão pai de todos os crentes (Rm 4,11), por haver sido o primeiro a receber as
promessas do Messias, e por ter crido em tudo quanto Deus lhe prometeu, esperando contra toda esperança (Rm 4,18).
Quis assim declarar quão excelente se mostrou a fé do Patriarca, pois acreditou nas promessas do Senhor quando,
humana e naturalmente, delas nada podia esperar. Creu que sua mulher Sara, estéril, lhe daria um filho;
creu ainda que depois deste filho ser oferecido em sacrifício, segundo lhe era ordenado,
lhe ficaria inumerável descendência (Gn 15,5), conforme lhe prometia o mesmo Senhor.
Tudo isto, que naturalmente era impossível, creu Abraão que Deus realizaria pelo seu poder sobrenatural.
Por esta fé, mereceu ser chamado pai de todos os crentes e receber a circuncisão, sinal dessa fé, pela qual havia sido justificado.
Maria, mãe de todos os crentes
502. Nossa preexcelsa senhora Maria, entretanto, tem maiores títulos que
Abraão para ser chamada Mãe da fé e de todos os crentes. Em sua mão está arvorado o estandarte e vexilo da fé para todos os
crentes da lei da graça. O patriarca foi o primeiro, na ordem do tempo, destinado
para pai e cabeça do povo hebreu. Grande e excelente foi sua fé no Cristo, nosso
Senhor prometido, e nas palavras do Altíssimo.
Todavia, em todas estas obras, foi a fé da Virgem Santíssima, sem comparação mais admirável e assim, primeira
em dignidade. Maior dificuldade e até impossibilidade do que uma anciã estéril, era uma virgem conceber, dar à luz.
Não estava o patriarca Abraão tão certo de que se executaria o sacrifício
de Isaac, como estava Maria Santíssima de que, efetivamente, seria sacrificado seu
Filho Santíssimo. Foi Ela quem creu e esperou em todos os mistérios, ensinando a
toda a igreja como deveria crer no Altíssimo e nas obras da Redenção. Assim, conhecida a fé da nossa Rainha Maria, não resta
dúvida, ser Ela a Mãe dos crentes, e modelo da fé e esperança católi.ca.
Para concluir este capítulo, digo que Cristo nosso Redentor e Mestre, sendo compreensor e gozando sua alma
santíssima da suma glória e visão beatífica não tinha fé, não podia praticá-la, nem ser mestre desta virtude. O que não pôde fazer
o Senhor, por si mesmo, quis fazê-lo por sua Mãe Santíssima, constituindo-a fundadora, mãe e exemplar da fé, da sua lgreja
evangélica. No dia do juízo universal, será esta soberana Senhora e Rainha, juiz que assistirá, particularmente, com seu Filho
Santíssimo, no julgamento dos que não têm crido, apesar de terem no mundo visto o seu exemplo.
DOUTRINA DA MÃE DE DEUS E SENHORA NOSSA.
Benefício da fé
503. Minha filha, o inestimável tesouro da virtude da fé divina, não é
descoberto pelos mortais de olhar carnal e terreno. Não sabem dar a estimação e o
apreço merecido por este dom e benefício de incomparável valor.
Considera, caríssima, qual era o estado do mundo sem a fé, e qual seria o de
hoje, se meu Filho não a conservasse!
Quantos homens que o mundo tem celebrizado por grandes, poderosos e sábios, precipitaram-se, por lhes faltar a luz
da fé, em abomináveis pecados, e das trevas da infidelidade, para as eternas trevas
do inferno! Quantos reinos e países cegaram-se, e hoje arrastam após si outros mais
cegos, até caírem todos no fosso das penas eternas! A estes seguem os maus fieis
e crentes que têm recebido esta graça e benefício da fé, mas vivem como se não a tivessem.
Valor da fé
504. Não te esqueças, minha amiga, de agradecer esta preciosa pérola.
Recebeste-a do Senhor, como penhor e vínculo do desposório que contigo celebrou, trazendo-te ao tálamo de sua santa
Igreja, para depois te levar ao de sua visão beatífica. Exercita sempre esta virtude da
fé, pois ela te aproxima do fim último para o qual caminhas, e do objeto que desejas
e amas. Ela ensina o caminho certo da eterna felicidade, ilumina as trevas da existência mortal dos viadores, e os conduz
seguros à posse de sua pátria, para onde deveriam caminhar, se não estivessem
mortos pela descrença e pecados. Ela desperta as demais virtudes, serve de alimento
ao justo e o sustenta em seus trabalhos. Ela confunde e atemoriza os infiéis e os crentes
tíbios e negligentes no agir, porque lhes recorda nesta vida os pecados, e o castigo
que os espera na outra.
A fé é poderosa para tudo, pois a quem crê nada é impossível (Mc 9,22) mas
tudo pode e consegue. Esta virtude ilumina e enobrece o entendimento humano,
orientando-o para não errar nas trevas de sua natural ignorância. Com ela, a inteligência ultrapassa a si mesma, para ver e
entender, com infalível certeza, o que não alcançaria com suas próprias forças.
Chega a crer, com tanta certeza, como se o visse com evidência. Ela liberta
o entendimento da grosseria que leva o homem a crer apenas naquilo que com sua
limitação alcança. Enquanto a alma vive no cárcere do corpo corruptível, muito pequeno e limitado é seu alcance, por estar o
entendimento sujeito ao grosseiro uso dos sentidos. Estima, pois, minha filha, esta
preciosa pérola da fé católica que Deus te concedeu, conserva-a e faz uso dela com apreço e reverência.
12-38
Março 19, 1918
Jesus sente náusea pela desunião dos sacerdotes.
(1) Continuando o meu habitual estado, o meu sempre amável Jesus veio todo aflito e disse-
me:
(2) "Minha filha, que náuseas sinto pela desunião dos sacerdotes, é me intolerável. Sua vida
desordenada é a causa pela qual minha justiça permitirá que meus inimigos lhes ponham as
mãos em cima para maltratá-los; já os males estão por lançar-se contra eles, e a Itália está por
cometer o maior pecado, o perseguir a minha Igreja e manchar as mãos de sangue inocente".
(3) E enquanto dizia isto, fazia-me ver as nossas nações aliadas devastadas, e muitos lugares
desaparecidos e a sua soberba abatida.
13-35
Novembro 22, 1921
Os atos feitos na Divina Vontade são luz. A pena que mais trespassou a Jesus em sua Paixão foi o fingimento.
(1) Continuando meu habitual estado e passando quase toda a noite em vigília, meu
pensamento freqüentemente voava a meu prisioneiro Jesus, e Ele fazendo-se ver entre densas
trevas, tanto que ouvia seu respiro afanoso, sentia a proximidade de sua pessoa, mas não o
via; então procurei fundir-me em sua Santíssima Vontade fazendo minhas habituais compaixão
e reparações, e um raio de luz mais luminoso que o sol saiu de dentro de meu interior e
iluminava o rosto de Jesus. Com esta luz seu santíssimo rosto se iluminou, e fazendo-se de dia
se dissiparam as trevas e eu pude me abraçar a seus joelhos, e Ele me disse:
(2) "Minha filha, os atos feitos em minha Vontade são dias para Mim, e se o homem com suas
culpas me circunda de trevas, estes atos, mais que raios solares me defendem das trevas e me
circundam de luz, e me dão a mão para fazer conhecer às criaturas quem sou Eu. Por isso amo
tanto a quem vive em meu Querer, porque em minha Vontade pode dar-me tudo e me defende
de todos, e Eu me sinto levado a dar-lhe tudo e a encerrar nela todos os bens que deveria dar a
todos os demais. Suponha que o sol tivesse razão, e que as plantas fossem racionais, e que
voluntariamente rejeitassem a luz e o calor do sol, que não desejassem nem fecundar nem
produzir frutos; só uma planta recebe com amor a luz do sol e gostaria de dar ao sol todos os
frutos que as outras plantas não querem produzir, não seria justo que o sol retirando de todas
as outras plantas sua luz, fizesse chover sobre esta planta toda sua luz e seu calor? Eu acho
que sim. Agora, o que não acontece ao sol porque é privado da razão, pode acontecer entre a
alma e Eu".
(3) Disse isso desapareceu. Depois voltou e acrescentou:
(4) "Minha filha, a pena que mais me trespassou em minha Paixão foi o fingimento dos fariseus,
fingiam justiça e eram os mais injustos; fingiam santidade, legalidade, ordem, e eram os mais
perversos, fora de toda regra e em plena desordem, e enquanto fingiam honrar a Deus, se
honravam a si mesmos, seu próprio interesse, sua própria conveniência, por isso a luz não
podia entrar neles, porque seus modos fingidos lhes fechavam as portas, e o fingimento era a
chave que a dobrar de fechadura, fechando-a a morte, obstinadamente impedia até qualquer
resplendor de luz, tanto que Pilatos, idólatra, encontrou mais luz que os próprios fariseus,
porque tudo o que ele fez e disse não partia do fingimento, senão ao mais do temor, e Eu me
sinto mais atraído para o pecador mais perverso, não fingido, do que aqueles que são
melhores, mas fingidos.
Oh! , como me dá repugnância quem aparentemente faz o bem, finge
ser bom, reza, mas por dentro aninha o mal, o próprio interesse, e enquanto os lábios rezam
seu coração está distante de Mim, e no mesmo ato de fazer o bem pensa como satisfazer suas
paixões brutais. Além disso, o homem fingido no bem que aparentemente faz e diz, não é capaz
de dar luz aos outros, tendo-lhe fechado as portas à luz, assim que agem como demônios
encarnados, que muitas vezes sob aspecto de bem atraem o homem, e estes vendo o bem se
deixam atrair, mas quando vão no melhor do caminho precipitam-nos nas culpas mais graves. ¡
Oh! como são mais seguras as tentações sob aspecto de culpa, que aquelas sob aspecto de
bem, assim é mais seguro tratar com pessoas perversas, que com pessoas boas mas fingidas,
quanto veneno não escondem, quantas almas não envenenam? Se não fossem os fingimentos
e todos se fizessem conhecer pelo que são, tirariam as raízes do mal da face da terra, e todos
ficariam decepcionados".
14-39
Junho 26, 1922
O isolamento e a solidão de Jesus no meio das criaturas.
(1) Continuando meu habitual estado, meu sempre amável Jesus veio, e como há alguns dias
eu me encontrava como amarrada, tanto que me sentia impotente mesmo para me mover, me
disse tomando minhas mãos nas suas:
(2) "Minha filha, deixa que Eu te desamarre".
(3) E, pondo-se ao meu lado, pôs os meus braços sobre os seus ombros, dizendo-me:
(4) "Agora estás livre, oferece-me a ti, pois vim para te fazer companhia e para receber a
tua. Olhe, Eu sou o Deus isolado pelas criaturas, vivo no meio delas, sou vida de cada um de
seus atos e me têm como se não existisse com elas. ¡ Oh! como choro a minha solidão, tocou-
me a mesma sorte do sol, que enquanto ele vive com a sua luz e calor no meio de todos, não
há fecundidade que dele não venha, com o seu calor purifica a terra de tantas imundícias, seus
bens são incalculáveis e com magnanimidade os faz descer sobre todos, mas ele no alto vive
sempre sozinho, e o homem ingrato não lhe dá jamais um obrigado, um testemunho de
agradecimento. Assim estou eu, sozinho! , sempre sozinho, enquanto estando no meio deles
sou luz de cada pensamento, som de cada palavra, movimento de cada obra, passo de cada
pé, batimento de cada coração, e o homem ingrato me deixa só, não me diz um obrigado, um
Te amo; fico isolado na inteligência, porque da luz que lhes dou se servem para eles, e talvez
para me ofenderem; fico isolado nas palavras, porque o som que fazem muitas vezes serve
para me blasfemar; fico isolado nas suas obras, das quais se serve para me matar; nos passos,
no coração, só atentos a desobedecer-me e a amar o que a Mim não pertence. ¡ Oh, como me
pesa esta solidão! Mas meu amor, minha magnanimidade são tão grandes, que mais que sol
continuo meu curso, e em meu curso vou investigando se alguém quer me fazer companhia em
tanta solidão, e encontrando-o, com ele formo minha companhia perene e o abundo de todas
minhas graças. Eis por que vim a você, estava cansado de tanta solidão, não me deixe jamais
só minha filha".
16-45
Fevereiro 8, 1924
Como devem estar e o que devem fazer os pequenos na Divina Vontade.
(1) Estava fundindo-me toda no Santo Querer Divino, e como ao fazer isto, como a mais pequena
de todos, me ponho diante de todas as gerações, mesmo antes de Adão e Eva foram criados, a fim
de que antes que eles pecassem eu já tivesse preparado o ato de reparação à Divina Majestade,
porque no Querer Divino não há nem passado nem futuro, senão que tudo é presente, e também
porque sendo pequena poderia aproximar-me para interceder e fazer meus pequenos atos em seu
Querer, para poder cobrir todos os atos das criaturas com sua Vontade Divina, e assim poder vincular
a vontade humana separada da Divina e fazer de elas uma só. Agora, enquanto estava por
fazer isto, era tanto meu aniquilamento, minha miséria e a minha pequenez extrema, que disse entre
mim: "Em vez de me colocar à frente de todos na Santíssima Vontade, devo antes pôr-me atrás
de todos, mesmo atrás do último homem que virá, pois sendo a mais desprezível e a mais miserável
de todos, me convém o último posto". Enquanto isso, meu amado Jesus saiu de dentro de mim,
e Ele segurou minha mão e disse:
(2) "Minha pequena filha, na minha Vontade os pequenos devem estar diante de todos, ou melhor,
no meu seio; quem deve interceder, reparar, unificar a nossa Vontade, não só com a sua mas com
a dos demais, deve estar junto e tão unido conosco que receba todos os reflexos da Divindade para
copiá-los em si mesmo; deve ter um pensamento que seja de todos, uma palavra, uma obra, um
passo, um amor, que seja de todos e por todos. E sendo que nossa Vontade envolve a todos, esse
teu pensamento seja de todos em nosso Querer, essa palavra, esse ato, esse amor brilhem em
cada pensamento, palavra e ato de todas as gerações, e na potência de nossa Vontade se façam
antídoto, defensores, amantes, atores, etc. Se você soubesse com que amor nosso Pai Celestial o
espera, a alegria, a alegria que sente ao ver-te tão pequena levando-lhe ao colo a Criação toda para
lhe dar a correspondência para todos; sente que lhe retorna a glória, as alegrias e as complacências
da finalidade da Criação; por isso é necessário que você venha diante de todos, e depois de
que tenhas vindo diante de todos, darás uma volta em nossa Vontade e te porás atrás de todos,
os porás como em teu regaço e os trarás a todos a nosso seio, e Nós, vendo-os cobertos por seus
atos feitos em nosso Querer, os acolheremos com mais amor e nos sentiremos mais dispostos a
vincular nossa Vontade com a das criaturas, para trazê-lo de volta com o seu pleno domínio. Por
isso, coragem, os pequenos são perdidos na multidão, por isso é necessário que venha à frente,
para cumprir a missão de seu ofício em nossa Vontade. Os pequenos em nossa Vontade não têm
pensamentos próprios, coisas próprias, mas tudo em comum com o Pai Celestial, por isso, como
todos gozam do sol, ficando todos inundados por sua luz, porque foi criado por Deus para o bem
de todos, assim todos desfrutam dos atos feitos pela pequena filha em nossa Vontade, que mais
que sol dardean a todos para fazer que o Sol do Querer Eterno surja de novo com aquela finalidade
pela qual foram criadas todas as gerações. Portanto, não se perca entre a multidão de suas misérias,
de seu estado miserável, dos pensamentos próprios, senão pensa só no teu ofício de pequena
de nossa Vontade e sê atenta em cumprir tua missão".
17-40
Maio 1, 1925
A missão de Luisa é única: fazer conhecer as qualidades, o valor e o bem que a Divina Vontade contém, e fazê-la reinar sobre a terra.
(1) Estava pensando nas tantas coisas que meu amado Jesus me disse sobre sua Santíssima
Vontade, e uma dúvida me veio na alma, que não é necessário dizê-la, direi só o que meu sumo
Bem me disse:.
(2) "Minha filha, em certas missões ou ofícios estão encerrados juntos tais dons, graças, riquezas e
prerrogativas, os quais, se não fosse pela missão ou por ocupação de ofício, não seria necessário
que se possuíssem, mas que devido à necessidade de desempenhar o ofício lhe foram dados.
Minha Humanidade teve por missão de minha Divindade a salvação de todas as almas e o ofício de
Redentor, de redimi-las, por este ofício me foram confiadas suas almas, suas penas, suas
satisfações, o ofício de Redentor não estaria completo, portanto não teria encerrado em Mim todas
as graças, os bens, a luz que era necessário dar a cada alma. E se bem que nem todas as almas
se salvem, isto diz nada, Eu devia encerrar os bens de todas, para fazer que por todas tivesse, por
parte minha, graças necessárias e superabundantes para poder salvar a todas; isto me convinha
por decoro e por justa honra ao meu ofício de Redentor. Isto acontece ao sol que está sobre o
vosso horizonte, que contém tanta luz que pode dar luz a todos, e embora nem todos queiram
gozar da sua luz, ele, pelo ofício único de sol que tem, possui aquela mesma luz que as criaturas
possam rejeitar. Se isto acontece com o sol porque foi criado por Deus como único astro que devia
aquecer a terra e abraçá-la com sua luz, - quando uma coisa ou um ofício é único, para poder
desempenhar seu ofício é necessário que contenha tanto daquele bem que possa dá-lo a todos,
sem que por dá-lo aos demais esgote nem um átomo - muito mais isto me convinha a Mim, que
devia ser o novo Sol das almas, que devia com minha luz dar luz a todos e abraçar tudo para poder
levá-los à Majestade Suprema e poder oferecer-lhe um ato que contivesse todos os atos, e fazer
descer sobre todos a luz para pô-los a salvo..
(3) Além de Mim está minha Celestial Mamãe, que teve a missão única de Mãe do Filho de Deus e
o ofício de Corredentora do gênero humano. Como missão de Maternidade Divina foi enriquecida
de tanta Graça, que unido tudo junto com todas as demais criaturas, celestes e terrestres, jamais
poderão igualá-la; mas isto não bastou para atrair o Verbo ao seu seio materno, abraçou todas as
criaturas, amou, reparou, adorou a Majestade Suprema por todas, de maneira de poder fazer Ela
sozinha tudo o que as gerações humanas deviam fazer a Deus; então em seu coração virginal
tinha uma veia inesgotável para Deus e para todas as criaturas. Quando a Divindade encontrou
nesta Virgem a compensação do amor de todos, sentiu-se sequestrado e nela fez sua Concepção,
e ao conceber-me Ela tomou o ofício de Corredentora e tomou parte e abraçou junto Comigo todas
as penas, as satisfações, as reparações, o amor materno por todos; assim que no coração de
minha Mãe havia uma fibra de amor materno por cada criatura. Por isso, com verdade e com
justiça a declarei, quando Eu estava sobre a cruz, Mãe de todos. Ela corria junto Comigo no amor,
nas penas, em tudo, não me deixava jamais só; e se o Eterno não lhe tivesse dado tanta graça de
poder receber Dela sozinha o amor de todos, jamais se teria movido do Céu para vir à terra a
redimir o gênero humano. Eis a necessidade, a conveniência de que devido à missão de Mãe do
Verbo tinha que abraçar tudo e ultrapassar tudo. Quando um ofício é único, vem como de
conseqüência que nada lhe deve escapar, deve ter sob seu olhar tudo, para poder dar esse bem
que possui, deve ser como um verdadeiro sol que pode dar luz a todos. Isto foi de Mim e de minha
Mãe Celestial..
(4) Agora, sua missão de fazer conhecer a Vontade eterna se entrelaça com a minha e com a da
minha querida Mãe, e devendo servir para o bem de todos, era necessário concentrar em uma
criatura este Sol Eterno de meu Querer, para que assim, como missão única, pudesse este Sol,
desde uma criatura, expandir seus raios para que todos possam tomar o bem de sua luz. Então por
decoro e honra de minha Vontade devia derramar em ti tais graças, luz, amor e conhecimento dela,
como precursor e preparativo que convinham ao habitação do Sol do meu Querer. E mais, tu deves
saber que assim como minha Humanidade, pelo ofício de Redentor concebeu nela todas as almas,
assim tu, pelo ofício de fazer conhecer e reinar minha Vontade, enquanto vais fazendo teus atos
por todos em minha Vontade, todas as criaturas ficam concebidas em tua vontade, e conforme vais
repetindo teus atos na minha, assim forma outros tantos sorvos de Vida de Vontade Divina para
poder alimentar a todas as criaturas que em virtude de minha Vontade ficam como concebidas na
tua. Não sentes como em minha Vontade tu abraças a todas, desde a primeira até a última criatura
que deverá existir sobre a terra, e por todas desejarias satisfazer, amar, agradar a esta Suprema
Vontade, amarrá-la a todas, remover todos os impedimentos que impedem seu domínio nas
criaturas, fazê-la conhecer por todas, e te ofereces tu, mesmo com penas a satisfazer por todas a
esta Vontade Suprema que tanto ama fazer-se conhecer e reinar nas criaturas? A ti é dado, filha
primogênita de meu Divino Querer, o fazer conhecer os méritos, o valor, o bem que minha Vontade
contém e sua eterna dor por viver desconhecida, oculta no meio das gerações humanas, antes,
desprezada e ofendida, e posta a par das outras virtudes pelos bons, como se fosse uma pequena
lanterna, como são as virtudes, E não um sol como a minha vontade. A missão da minha Vontade é
a maior que pode existir, não há bem que dela não desça, não há glória que dela não me venha,
Céu e terra, tudo concentra, por isso sê atenta e não queiras perder tempo, tudo o que te disse
para esta missão da Minha Vontade era necessário, não por ti mas pela honra, a glória, o
conhecimento e a Santidade da Minha Vontade, e assim como o Querer é um, a quem devia
confiá-lo devia ser uma, por meio da qual devia fazer resplandecer seus raios para fazer bem a
todos".. .
19-37
Julho 14, 1926
Como Jesus tinha preparado o Reino de sua Vontade em sua Humanidade, para dá-lo de novo às criaturas.
Todos os interesses, divinos e humanos estão em perigo se não se vive na Divina Vontade.
(1) Continuo a encontrar-me no Santo Querer, meu doce Jesus muitas vezes acompanha-me na
repetição destes atos, outras vezes só está para ver se alguma coisa me escapa de tudo o que fez,
seja na Criação como na Redenção, e se isto acontecer, Ele com toda a bondade me faz presente
a fim de que eu ponha nisso ainda que seja um pequeno "amo-te", um obrigado, uma adoração,
dizendo-me que é necessário reconhecer até onde sua Vontade estendeu os confins do Reino de
seu Querer por amor da criatura, a fim de que ela gire neste Reino para gozá-lo, e com seu amor
se torne mais estável sua possessão, e vendo-a sempre nele, todos, Céu e terra possam
reconhecer que o Reino de minha Vontade já tem sua herdeira, e que o ama e é feliz por possuí-lo.
(2) Agora, enquanto me sentia abismada neste Eterno Querer, meu amável Jesus se fazia ver com
seu coração aberto, e a cada batimento seu saía um raio de luz, em cuja ponta se via impresso um
Fiat, e assim como o batimento do coração é contínuo, Enquanto saía um raio outro o seguia e
depois outros mais não terminavam jamais de sair. Estes raios invadiam o Céu e a Terra, mas
todos tinham impresso o Fiat, e não somente de seu coração saíam estes raios, mas também de
seus olhos, conforme saíam raios, conforme falava, quando movia suas mãos e pés saíam raios
levando todos como glória e triunfo o Fiat Supremo. Ver a Jesus era um encanto, belo, todo
transfundido nestes raios de luz que saíam de sua adorável pessoa, mas o que punha a
suntuosidade, a majestade, a magnificência, a glória, a beleza, era o Fiat. Sua luz me eclipsava e
eu teria permanecido séculos diante de Jesus sem lhe dizer nada se Ele mesmo não tivesse
rompido o silêncio dizendo-me:.
(3) "Minha filha, a perfeita glória e a honra completa a minha Vontade o deu minha humanidade, foi
propriamente em meu interior, no centro deste coração, onde formei o Reino do Querer Supremo; e
como o homem o havia perdido não havia esperança de poder readquirir-lo, minha Humanidade o
readquiriu com penas íntimas e inauditas, dando-lhe todas as honras devidas e a glória que lhe
havia sido tirada pela criatura, para dá-lo de novo a ela. Assim que o Reino de minha Vontade foi
formado dentro de minha humanidade, por isso tudo o que era formado em minha Humanidade e
saía fora, levava a marca do Fiat, cada pensamento, olhar, respiro, batimento, cada gota de meu
sangue, tudo, levava o selo do Fiat de meu Reino supremo; isto me dava tanta glória e me
embelezava tanto, que Céu e terra ficavam por debaixo e como obscurecidos diante de Mim,
porque minha Vontade Divina é superior a tudo e tudo fica por debaixo dela como seu escabelo.
Agora, no decorrer dos séculos Eu olhava a quem devia confiar este Reino, e tenho estado como
uma mãe grávida, que sofre, que se magoa porque queria dar à luz seu parto e não podia; pobre
mãe, quanto sofre porque não pode gozar-se o fruto de suas entranhas, muito mais que tendo
amadurecido este parto e não saindo, sua existência está sempre em perigo. Assim Eu, mais que
mãe grávida estive por tantos séculos, quanto sofri, como penalizei ao ver em perigo os interesses
de minha glória, tanto da Criação como da Redenção, muito mais que este reino o tinha como em
secreto e escondido em meu coração, sem ter nem sequer o desabafo de o manifestar, e isto me
fazia sofrer de mais, porque não vendo nas criaturas as verdadeiras disposições para poder dar
este meu parto, e não tendo eles tomado todos os bens que há no reino da redenção, não podia
arriscar-me a dar-lhes o reino da minha vontade, que contém bens maiores, muito mais que os
bens da Redenção servirão como traje, como antídoto, para fazer que entrando no Reino de minha
Vontade não possam repetir uma segunda queda, como fez Adão. Assim, se nem todos estes bens
foram tomados, mas sim menosprezados e pisoteados, como poderia sair de dentro da minha
Humanidade este nascimento do meu Reino? Por isso tive que me contentar com penar, com
sofrer e esperar mais que uma mãe para não pôr em perigo meu amado parto do meu Reino;
sofrendo porque queria pô-lo fora para fazer dom dele à criatura e pôr ao seguro os interesses da
Criação e Redenção, pois estão todos em perigo, porque até que o homem não retorne ao Reino
do Supremo Querer, nossos interesses e os seus estarão sempre em perigo. O homem fora de
nossa Vontade é sempre uma desordem em nossa obra Criadora, uma nota discordante que tira a
perfeita harmonia à santidade de nossas obras, e por isso Eu olhava através dos séculos,
esperando a minha pequena recém-nascida no Reino de minha Vontade, pondo-lhe em torno
todos os bens da Redenção para segurança do Reino de minha Vontade, e mais que mãe
sofredora que tanto sofreu, confio a ti este meu parto e a sorte deste meu Reino.
E não é só a minha Humanidade que quer dar à luz este parto que me custa tanto, mas toda a Criação está
grávida da minha Vontade, e sofre porque quer dá-la à luz às criaturas para restabelecer o Reino
do seu Deus no meio delas, portanto a Criação é como um véu que esconde como um parto à
minha Vontade e as criaturas tomam o véu e rejeitam o parto que há dentro; prenhe da minha
Vontade está o sol, e enquanto tomam os efeitos da luz, que como véu esconde à minha Vontade,
os bens que produz, rejeitam depois minha Vontade, não a reconhecem nem se fazem dominar por
Ela, assim que tomam os bens naturais que há no sol, mas os bens da alma, o Reino de meu
Querer que reina no sol e que quer dar-se a eles o rechaçam; oh, como sofre minha Vontade no
sol, a qual quer ser dada à luz desde a altura da esfera para reinar no meio das criaturas; grávida
da minha Vontade está o céu, que olha com os seus olhos de luz, como são as estrelas, para as
criaturas, para ver se querem receber a minha Vontade para que reine no meio delas; Com as suas
ondas fragorosas se faz ouvir e as águas como véu escondem a minha Vontade, mas o homem se
serve do mar, toma seus peixes, mas não tem cuidado de minha Vontade e a faz sofrer como parto
reprimido nas entranhas das águas. Portanto, todos os elementos estão prenhes da minha
vontade: o vento, o fogo, a flor, toda a terra são todos véus que a escondem. Agora, quem dará
este alívio e alívio à minha humanidade? Quem romperá estes véus de tantas coisas criadas que a
escondem? Quem reconhecerá em todas as coisas o portador de minha Vontade e fazendo-lhe as
devidas honras a faça reinar em sua alma, dando-lhe o domínio e a sua submissão? Por isso
minha filha, fica atenta, dá esta alegria a teu Jesus que até agora tem estado sofrendo por pôr fora
este parto de meu Reino supremo, e junto Comigo toda a Criação, como um ato só romperá os
véus e depositará em ti o parto de minha Vontade que escondem"..
20-40
Dezembro 24, 1926
Lamentos e dores pela privação de Jesus. Penas de Jesus no seio materno.
Quem vive no Querer Divino é como membro vinculado com a Criação.
(1) Sentia-me toda em ânsias porque meu doce Jesus não vinha, mas enquanto delirava dizia
desatinos e na força de minha dor repetia sempre: "Jesus, como mudaste, jamais teria acreditado
que chegaria a privar-me tão longamente de Ti". Mas, enquanto aliviava a minha dor, o doce Jesus
veio como um menino, e, lançando-se nos meus braços, disse-me:
(2) "Filha minha, dize-me, e tu mudaste? Talvez você ama algum outro? Você não quer fazer mais
a minha Vontade?"
(3) Estas perguntas de Jesus tocaram-me ao vivo e não gostando disse: "Jesus, que queres dizer
com isto? Não, não, não mudei, nem amo nem conheço outro amor, e amo mais bem morrer antes
que não fazer sua Santíssima Vontade". E Jesus docemente adicionou:
(4) "Então você não mudou? E bem minha filha, se não mudaste tu, que tens uma natureza sujeita
a mudar, poderia mudar Eu que sou o imutável? O teu Jesus não muda, tem a certeza disso, nem
pode ser mudado".
(5) Eu fiquei confusa e não sabia o que dizer, e Ele acrescentou todo a bondade:
(6) "Queres ver como estava no seio da minha Mãe Soberana e o que nele sofria?"
(7) Agora, enquanto dizia isto, pôs-se dentro de mim, no meio do meu peito, estendido, num estado
de perfeita imobilidade, os seus pezinhos e mãos estavam tão duros e imóveis que davam piedade,
faltava-lhe o espaço para se mover, para abrir os olhos, para respirar livremente, e o que mais
dilacerava era vê-lo no ato de morrer continuamente. Que pena ver meu pequeno Jesus morrer, eu
me sentia posta junto com Ele no mesmo estado de imobilidade. Então, depois de algum tempo o
menino Jesus me apertando a Si me disse:
(8) "Minha filha, meu estado no seio materno foi dolorosíssimo, minha pequena Humanidade tinha
o uso perfeito de razão e de sabedoria infinita, portanto desde o primeiro instante de minha
concepção compreendia todo meu estado doloroso, a escuridão da prisão materna, não tinha nem
um buraco por onde entrasse um pouco de luz. Que longa noite de nove meses! A estreiteza do
lugar que me obrigava a uma perfeita imobilidade, sempre em silêncio, não me era dado gemer,
nem soluçar para desabafar minha dor, quantas lágrimas não derramei no sacrário do seio de
minha Mamãe sem fazer o mínimo movimento, e isto era nada, minha pequena Humanidade havia
tomado o empenho de morrer tantas vezes, para satisfazer à Divina Justiça, por quantas vezes as
criaturas tinham feito morrer a Vontade Divina nelas, fazendo a grande afronta de dar vida à
vontade humana, fazendo morrer nelas uma Vontade Divina. Oh! como me custaram estas mortes;
morrer e viver, viver e morrer, foi para Mim a pena mais dilacerante e contínua, muito mais que
minha Divindade, ainda que Comigo fosse uma só coisa e inseparável de Mim, ao receber de Mim
estas satisfações punha-se em atitude de justiça, e embora a minha Humanidade fosse santa e
também fosse a lâmpada diante do Sol imenso da minha Divindade, Eu sentia todo o peso das
satisfações que devia dar a este Sol Divino e a pena da decaída humanidade que em Mim devia
ressurgir à custa de tantas mortes minhas. Foi o rejeitar a Vontade Divina dando vida à própria o
que formou a ruína da humanidade decaída, e Eu devia ter em estado de morte contínua a minha
Humanidade e vontade humana, para fazer que a Vontade Divina tivesse vida contínua em Mim
para estender ali seu reino. Desde que fui concebido, Eu pensava e me ocupava em estender o
reino do Fiat Supremo em minha Humanidade, à custa de não dar vida a minha vontade humana,
para fazer ressurgir a humanidade decaída, a fim de que fundado em Mim este reino, preparasse
as graças, as coisas necessárias, as penas, as satisfações que se necessitavam para fazê-lo
conhecer e fundá-lo no meio das criaturas. Por isso tudo o que você faz, o que faço em você para
este reino, não é outra coisa que a continuação do que eu fiz desde que fui concebido no seio da
minha mãe. Por isso, se queres que desenvolva em ti o reino do Eterno Fiat, deixa-me livre e
nunca dês vida à tua vontade".
(9) Depois disto seguia meus atos no Eterno Querer e o doce Jesus adicionou:
(10) "Minha filha, minha Vontade é a alma e toda a Criação é o corpo d‟Ela, e como a alma é uma
no corpo, uma sua vontade, em troca o corpo tem tantos diversos sentidos, que como tantas teclas
diferentes, cada uma faz sua pequena canção e exercita cada membro seu ofício distinto; mas há
tal ordem e harmonia entre eles, que quando um membro exercita seu ofício, todos os demais
membros estão atentos ao membro trabalhador, e sofrem juntos se esse membro sofre, e gozam
se goza, porque uma é a vontade que os move, uma é a força que possuem. Assim é toda a
Criação, é como corpo animado por minha Vontade, e embora cada coisa criada faça seu ofício
distinto, estão tão unidas entre elas, que são mais que membros ao corpo; e sendo só minha
Vontade a que as anima e domina, uma é a força que possuem. Agora, quem faz minha Vontade e
vive n‟Ela, é um membro que pertence ao corpo da Criação, e por isso possui a força universal de
todas as coisas criadas, nem sequer excluída a de seu Criador, porque a minha Vontade circula
nas veias de toda a Criação mais do que sangue no corpo, sangue puro, santo e vivificado de luz,
que chega a espiritualizar o mesmo corpo. A alma está toda atenta a toda a Criação para fazer o
que Ela faz, para estar em comunicação com todos os seus atos, e toda a Criação está atenta à
alma para receber seus atos, porque este é o ofício deste membro no meio dela, é tão bela sua
canção que todos estão atentos a escutá-la, por isso viver em meu Querer é a sorte mais feliz e
indescritível, seus atos, seu ponto de partida é sempre para o Céu, sua vida está no meio das
esferas".
21-6
Março 13, 1927
Como a Vontade Divina não deixa ninguém. Como Ela tem a virtude regeneradora e tem tudo em seu próprio punho.
(1) Minha pobre existência vive sob a pesada pressão da privação de meu doce Jesus, as horas
me parecem séculos sem Ele e sinto todo o peso de meu duro exílio. Oh Deus! que pena viver sem
Aquele que forma minha vida, meu coração, meu fôlego. Jesus, que duro rasgo é para mim tua
privação, tudo é obstáculo, tudo é dificuldade, como pode resistir a bondade de teu terno coração
me ver tão paralisada unicamente por tua causa? Como pode me deixar por tanto tempo? Não te
ferem mais meus suspiros, não te comovem meus gemidos, meus delírios que te buscam, não por
outra coisa senão porque querem a vida, é vida o que quero, não outra coisa, e você me nega esta
vida? Jesus, Jesus! Quem diria que você teria me deixado por tanto tempo. Ah! Volte, volte, porque
não posso mais. Então enquanto desabafava minha dor, meu amado Jesus, minha doce Vida se
moveu em meu interior e me disse:
(2) "Minha filha, se a ti parece que te deixei e não sentes a minha Vida em ti, a minha Vontade não
te deixou, mas sim a sua Vida em ti estava na sua plenitude, porque Ela não deixa a nenhum, nem
sequer aos condenados no inferno, mas bem ali está cumprindo sua Justiça inexorável e
irreconciliável, porque no inferno não há reconciliação, antes forma seu tormento; é justo que quem
não quis recebê-la para ser amado, feito feliz, glorificado, a receba para ser atormentado e
humilhado. Por isso a minha vontade não deixa a nenhum, nem no Céu, nem na terra, nem no
inferno, tem tudo em Si como em seu próprio punho, nenhum pode lhe escapar, nem o homem,
nem o fogo, nem a água, nem o vento, nem o sol, onde quer que tenha o seu império e estenda a
sua Vida imperando e dominando tudo. Se nada deixa e tudo investe, poderia acaso deixar a sua
pequena filha primogênita onde concentrou seu amor, sua Vida e seu Reino? Porque, se bem que
a minha Vontade Divina se estenda por toda a parte e tenha sobretudo o seu império, se a criatura
a ama, faz-se todo o amor e dá o seu amor; se a quer como vida, forma sua Vida Divina nela; se a
quer fazer reinar, se forma seu Reino, desenvolve seus atos segundo as disposições das criaturas;
tem a virtude regeneradora, regenera a Vida Divina, a santidade, a paz, a reconciliação, a
felicidade, regenera a luz, a beleza, a graça;
Ela sabe fazer tudo, dá-se a todos, estende-se onde
quer que seja, os seus atos são inumeráveis, multiplicam-se ao infinito; a cada criatura dá um ato
novo conforme estão dispostas, a sua variedade é inalcançável. Quem pode jamais fugir da minha
vontade? Ninguém, deveria sair da Criação ou ser um ser não criado por Nós, o que não pode
jamais ser, porque o direito de criar é só de Deus. Por isso minha Vontade não te deixará jamais,
nem em vida nem em morte, nem depois de morta, muito mais que regenerando-te como seu parto
especial, ambas quereis que forme seu Reino, e onde Ela está, estou Eu em meu pleno triunfo;
pode haver uma vontade sem a pessoa que possui este querer? Certamente que não; nem te
admires se frequentemente sentes em ti como se minha Vida terminasse, sentes que termina mas
não é verdade. Acontece como às coisas criadas, que parece que morrem mas logo ressurgem
sempre; o sol parece que morre, mas porque a terra gira perde o sol e parece que morre, mas o sol
vive e está sempre em seu posto, tão é verdade que girando mais a terra encontra de novo seu sol,
como se renascesse a vida nova para ela. À terra parece que tudo lhe morre, as plantas, as belas
flores, os frutos deliciosos, mas depois tudo lhe ressurgem e adquirem a vida, mesmo a mesma
natureza humana, com o sono parece que morre, mas do sono ressurge mais vigorosa e refeita.
De todas as coisas criadas só o céu está sempre fixo, não morre jamais, símbolo dos bens estáveis
da Pátria Celestial, não sujeitos a mudanças, mas todas as outras coisas, a água, o fogo, o vento,
tudo, parece que morrem, mas depois ressurgem animadas todas por minha Vontade, não sujeita a
morte e que possui o ato de fazer ressurgir quantas vezes quer todas as coisas. Mas enquanto
parece que morrem, têm vida perene em virtude da força regeneradora da minha Vontade. Assim
acontece em ti, parece-te que minha Vida morre, mas não é verdade, porque estando em ti meu
Querer está a virtude regeneradora que me faz ressurgir quantas vezes quer. Onde está meu Fiat
não pode haver nem morte nem bens que terminam, senão vida perene não sujeita a terminar".
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