VIDEO DA AULA
LIVRO DO CÉU VOLUME 1
(227) Então disse Jesus, voltando à fé: "Para obtê-la é preciso crer. Assim como à cabeça sem a
vista dos olhos tudo é trevas, tudo é confusão, tanto que se quisesse caminhar, agora cairia em um
ponto, agora em outro e terminaria com precipitar-se de todo, assim o alma sem fé, não faz outra
coisa que ir de precipício em precipício, porque a fé serve de vista à alma e como luz que a guia à
vida eterna. Agora, de que é alimentada esta luz da fé? Pela esperança. E de que substância é
esta luz da fé e este alimento da esperança? A caridade. Estas três virtudes estão enxertadas entre
elas, de modo que uma não pode estar sem a outra".
(228) Com efeito, de que serve ao homem crer nas imensas riquezas da fé, se não as espera para
ele? As verá, sim, mas com olhar indiferente porque sabe que não são suas, mas a esperança
fornece as asas à luz da fé, e esperando nos méritos de Jesus Cristo olha-as como suas e vem
amá-las.
(229) "A esperança". Dizia Jesus, "fornece à alma uma veste de força, quase de ferro, de modo
que todos os inimigos com suas flechas não podem feri-la, e não só feri-la, senão que nem sequer
lhe causar o mínimo incômodo. Tudo é tranquilidade nela, tudo é paz. Ah! É bom ver esta alma
investida pela esperança, toda apoiada no seu amado, toda desconfiada de si, e toda confiante em
Deus; desafia os inimigos mais ferozes, é rainha das suas paixões, regula todo o seu interior, as
suas inclinações, os desejos, os batimentos, os pensamentos, com tal maestria, que o próprio
Jesus fica apaixonado porque vê que esta alma trabalha com tal coragem e fortaleza; mas ela os
toma e o espera todo dele, tanto que Jesus vendo esta firme esperança, nada sabe negar a esta
alma".
(230) Agora, enquanto Jesus falava da esperança, retirava-se um pouco, deixando-me uma luz na
inteligência. Quem pode dizer o que entendia sobre esperança? Se as outras virtudes, todas
servem para embelezar a alma, mas podem nos fazer vacilar e nos tornar inconstantes, em troca a
esperança torna a alma firme e estável, como aqueles montes altos que não se podem mover nem
um pouco. Parece-me que a alma investida pela esperança lhe sucede como a certos montes
altíssimos, que todas as inclemências do ar não lhes podem fazer nenhum dano, sobre estes
montes não penetra nem neve, nem ventos, nem calor, qualquer coisa se poderia pôr sobre eles, e
se pode estar seguro que ainda que passassem centenas de anos, Onde quer que ele esteja, está
lá. Assim é a alma vestida pela esperança, nada a pode prejudicar, nem a tribulação, nem a
pobreza, nem todos os acidentes da vida, no máximo a desanimam um instante, mas diz entre si:
"Eu tudo posso fazer, tudo posso suportar, tudo sofrer esperando em Jesus que é o objeto de todas
as minhas esperanças". A esperança torna a alma quase onipotente, invencível e lhe fornece a
perseverança final, tanto que só cessa de esperar e perseverar quando tomou posse do Reino do
Céu, então deixa a esperança e toda se lança no oceano imenso do Amor Divino. Enquanto a
minha alma se perdia no mar imenso da esperança, o meu amado Jesus regressava e falava da
caridade dizendo-me:
(231) "À fé e à esperança une-se a caridade, e esta une tudo o que há nas outras duas, de modo a
formar uma só enquanto são três. Eis, ó minha esposa, simbolizada nas três virtudes teologais à
Trindade das Divinas Pessoas"
(232) Depois prosseguiu: "Se a fé faz crer, a esperança faz esperar, a caridade faz amar. Se a fé é
luz e serve de vista à alma, a esperança que é o alimento da fé fornece à alma o valor, a paz, a
perseverança e todo o resto; a caridade que é a substância desta luz e deste alimento, É como
aquele unguento dulcíssimo e odoroso que penetrando por toda parte, aplaca, adoça as penas da
vida. A caridade torna doce o sofrer e faz chegar a alma até mesmo a desejar este sofrimento. A
alma que possui a caridade expande odor por toda parte, suas obras feitas todas por amor
despedem odor gratíssimo, e qual é este odor? É o cheiro do próprio Deus. As outras virtudes
tornam a alma solitária e quase rústica com as criaturas; a caridade, ao contrário, sendo substância
que une, une os corações, mas onde? Em Deus. A caridade sendo unguento perfumado se
expande por toda parte e por todos. A caridade faz sofrer com alegria os mais impiedosos
tormentos, e chega a não saber estar sem o sofrer, e quando se vê privada dele diz a seu esposo
Jesus: "Me sustente com os frutos, como é o sofrimento, porque definho de amor, e em que outra
maneira posso te mostrar meu amor senão no sofrer por Ti? A caridade queima, consome todas as
outras coisas, e até as mesmas virtudes, e converte tudo nela. Em suma, é como uma rainha que
quer reinar em toda parte, e que não quer ceder este reinar a nenhum".
2-35
Junho 14, 1899
Jesus quer castigar.
(1) Esta manhã o amantíssimo Jesus não vinha, e em meu íntimo ia pensando: Como é que
não vem? O que há de novo? " Ontem veio freqüentemente, e hoje já é tarde e não se faz ver
ainda, que dor, quanta paciência se necessita com Jesus! Todo meu interior me parecia que se
levantasse em armas, porque queriam a Jesus e me faziam uma guerra que me dava penas de
morte. A vontade, como superior a tudo, buscava pôr paz com persuadir a meus sentidos,
inclinações, desejos, afetos e a todo o resto de aquietar-se, porque Jesus devia vir. Assim,
depois de um longo penar, Jesus veio trazendo uma taça na mão, cheia de sangue coagulado,
putrefato e pestilento e me disse:
(2) "Olha esta taça de sangue, derramarei-a sobre o mundo".
(3) Enquanto assim dizia, veio a Mãe, a Virgem Santíssima, e junto com Ela meu confessor e
pediam a Jesus que não o derramasse sobre o mundo, senão que me fizesse beber a mim, o
confessor lhe disse: "Senhor, de que adianta tê-la como vítima se não quiser derramá-la sobre
ela? Absolutamente quero que a faça sofrer e perdoe as pessoas".
(4) A Mãe chorava e insistia diante de Jesus e do confessor para que não desistisse de rogar
até que Jesus não se contentasse em aceitar a mudança. Jesus insistia em que a queria
derramar sobre todo o mundo e parecia que se zangava. Eu me via toda confusa, não sabia
dizer nada porque era tanto o horror que se sentia ao ver aquela taxa cheia de sangue tão
espantosa, que dava estremecimento em toda a natureza; que seria o bebê-la? Mas eu estava
resignada, porque se o Senhor me tivesse dado, tê-la-ia aceitado. Quem pode dizer, além
disso, os castigos que se continham naquele sangue se o Senhor a derramara no mundo? A
partir deste dia, parece que está a preparar uma tempestade de granizo que vai causar muitos
danos, e parece que deve continuar nos próximos dias.
(5) Depois, Jesus parecia um pouco mais calmo, tanto que parecia que abraçava o confessor
porque lhe tinha rogado naquele modo, mas sem chegar a nenhuma determinação se a deve
derramar sobre as pessoas ou não. Assim terminou, deixando-me uma pena indescritível pelo
que poderá acontecer.
3-34
Fevereiro 4, 1900
Desconfiança.
(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu
sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:
(2) "O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis
frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a
árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário,
como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim
acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento".
(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via
tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada
pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d'Ele, suas graças, seus
carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:
(4) "O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda?
que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar,
nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que
para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as
virtudes em perigo de expirar".
(5) "Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo,
e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o
túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma
poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na
alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega
a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.
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3,35
Fevereiro 5, 1900
(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre,
meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera
aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma
deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela
desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o
conhecimento do próprio nada".
4-39
Dezembro 3, 1900
A natureza da Santíssima Trindade é formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo.
(1) Esta manhã, encontrando-me fora de mim mesma, encontrei o menino Jesus entre os braços, e
enquanto me deleitava em olhá-lo, sem saber como, do mesmo Menino saiu um segundo, e depois
de breves instantes um terceiro Menino, os dois semelhantes ao primeiro, embora diferentes entre
eles. Surpreendida ao olhar para isto, disse: "Ó, como se toca com a mão o mistério sacrossanto
da Santíssima Trindade, que enquanto sois Um, sois também Três!" Parecia-me que os Três me
diziam, mas ao sair a palavra formava uma só voz:
(2) "Nossa natureza está formada de amor puríssimo, simplíssimo e comunicativo, e a natureza do
verdadeiro Amor tem como propriedade especial produzir de si mesmo imagens todas semelhantes
na potência, na bondade, na beleza e em tudo o que ele contém, e só para dar um realce mais
sublime à nossa onipotência põe a marca da distinção, de modo que esta nossa natureza,
derretendo-se em amor, como é simples, sem nenhuma matéria que pudesse impedir a união, dela
forma Três e voltando a derreter forma Um só. E é tão certo que a natureza do verdadeiro Amor
tem isto de produzir imagens todas semelhantes a si, ou de assumir a imagem de quem se ama,
que a Segunda Pessoa ao redimir o gênero humano assumiu a natureza e a imagem do homem, e
comunicou ao homem a Divindade".
(3) Enquanto isso diziam, eu distinguia muito bem o meu amado Jesus, reconhecendo n'Ele a
imagem da natureza humana, e só por Ele tinha a confiança de permanecer diante deles, senão
quem se atreveria? Ah, sim, me parecia que a humanidade assumida por Jesus havia aberto o
comércio à criatura, a fim de fazê-la subir até o trono da Divindade para ser admitida a sua
conversação, e obter reescritos de graças. Oh, que momentos felizes desfrutei, quantas coisas
compreendia! ; mas para escrever algumas coisas eu preciso descrevê-las quando a minha alma
se encontra com o meu amado Jesus, porque então me parece liberada do corpo, mas ao me
encontrar novamente aprisionada, as trevas da prisão, a distância do meu místico Sol, a pena de
não vê-lo, me tornam incapaz de descrevê-las e me fazem viver morrendo, mas sou obrigada a
viver atada, encarcerada neste mísero corpo. Ah! Senhor, tenha compaixão de uma miserável
pecadora que vive doente e prisioneira, rompe logo os muros desta prisão para voar a Ti e não
retornar mais.
6-35
Abril 21, 1904
Quem tem o título de vítima pode lutar com a justiça.
(1) Continuando o meu habitual estado, ouvia ao redor do meu leito pessoas que rogavam a nosso
Senhor, eu não prestava atenção a escutar o que queriam, prestava atenção só a que já era tarde
e que Jesus bendito não se fazia ver ainda. Oh! como se destroçava meu coração temendo que
não viesse, e dizia para mim: "Senhor bendito, estamos já na última hora, e não vem ainda? Ai! não
me dê este desgosto, pelo menos faça-se ver". Enquanto isso dizia saiu de dentro de mim e disse
àqueles que estavam ao meu redor:
(2) "Lutar com a minha justiça não é lícito às criaturas, mas só é lícito a quem tem o título de vítima,
e não só de lutar mas de brincar com a justiça, e isto porque ao lutar ou jogar facilmente se
recebem os golpes, as derrotas, as perdas, e a vítima está pronta a receber sobre si os golpes,
resignar-se nas derrotas e perdas sem que preste atenção às suas perdas, aos sofrimentos, senão
só à glória de Deus e ao bem do próximo. Se eu quisesse me acalmar, tenho aqui a minha vítima
que está pronta a lutar e a receber sobre si todo o furor da minha justiça".
(3) Vê-se que estavam rogando para aplacar ao Senhor, eu fiquei mortificada e mais amarga ao
escutar isto de nosso Senhor.
7-37
Agosto 10, 1906
Um contentamento a menos na terra, é um paraíso a mais no céu.
(1) Continuando meu estado habitual, assim que vi o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, por quantos mínimos prazeres a alma se priva nesta vida por meu amor outros
tantos paraísos de mais lhe darei na outra vida; assim que um contento de menos aqui, é um paraíso
de mais além. Imagina um pouco quantas privações tiveste tu nestes vinte anos de cama por minha
causa, e quantos paraísos de mais Eu te darei no Céu".
(3) E eu ao ouvir isto disse: "Meu bem, o que dizes? Eu me sinto honrada e quase devedora de Ti
porque me dás a ocasião de poder privar-me por amor teu, e me dizes que me darás outros tantos
paraísos?"
(4) E Ele adicionou: "E é exatamente assim".
(5) Graças a Deus.
10-37
Outubro 18, 1911
Jesus brinca com a alma.
(1) Esta manhã meu dulcíssimo Jesus se fazia ver em atitude de pôr o dedo na boca, quase como
se quisesse que levantasse a voz para lhe falar, e me dizia:
(2) "Faça-me um canto de amor, quero distrair-me um pouco do que me fazem as criaturas, fale-me
de amor, aliene-me".
(3) E eu: "Diga-me Tu primeiro, que de Ti aprenderei para fazer-to eu". E Jesus dizia-me tantas
coisas de amor, e acrescentava: “Queres jogar?” E eu: "Sim". E parecia que tomasse uma flecha
de dentro de seu coração e a mandasse ao meu, eu me sentia morrer de dor, e de amor me
contorcionava.
(4) E Jesus: "Eu te fiz, me faça tu a Mim".
(5) E eu: "Não sei o que pôr para te fazer, devo servir-me da tua". E assim tomei sua flecha e a
lancei dentro de seu coração, e Jesus ficou ferido e desfalecia, e eu o segurava entre meus braços,
mas quem pode dizer tudo o que fazíamos?
(6) Agora, quando estava no melhor desapareceu sem sequer me ajudar a voltar, me parecia que
me queria ajudar o anjo, e eu: "Não, quero Jesus, meu anjo, chama-o, chama-o, de outra maneira
estou aqui". E gritava alto: "Vem, vem, ó! Jesus". E parecia que Jesus vinha, venci-o; bravo por
Jesus, e assim ajudando-me a voltar, disse-me:
(7) "Tu ofendes o anjo".
(8) E eu: "Não é verdade, quero tudo de Ti, e além disso ele sabe que entre todos eu devo amar
muito a Ti". Jesus sorriu e desapareceu.
11-33
Agosto 28,1912
O amor é o que transforma a alma em Deus, e quer encontrar as almas desocupadas de tudo.
(1) Continuando o meu estado habitual, assim que veio o meu sempre amável Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, as outras virtudes, por quanto altas e sublimes sejam, fazem sempre distinguir a
criatura e o Criador, só o amor é o que transforma a alma em Deus e a forma uma só coisa com
Ele. Assim, só o amor é o que triunfa sobre todas as imperfeições humanas, o único que
consome o que impede que a alma chegue a tomar Vida Divina em Deus. Mas não pode haver
verdadeiro amor se não receber vida, alimento de minha Vontade, assim que minha Vontade
unida ao amor é a que forma a verdadeira transformação Comigo, pois a alma está em contínuo
contato com minha Potência, com minha Santidade e com tudo o que Eu sou, Então pode dizer
que é outro Eu. Tudo é precioso, tudo é santidade para aquela alma; pode-se dizer que seu
respiro, o contato com a terra que pisa é precioso, é santo, porque não são outra coisa que
efeitos de meu querer".
(3) Depois acrescentou: "Oh! Se todos conhecessem meu Amor e meu Querer, deixariam de se
apoiar em si mesmos, e muito mais nos demais, os apoios humanos terminariam. Oh! como os
encontrariam insignificantes, dolorosos, incômodos, todos se apoiariam somente em meu Amor,
porque sendo espírito puríssimo, não contendo matéria, se encontrariam muito a gosto apoiados
em Mim, e os efeitos queridos por eles.
(4) Minha filha, o Amor quer encontrar as almas libertadas de tudo, de outra maneira não pode
vesti-las com o vestido do amor, sucederia como a alguém que querendo colocar um vestido o
encontre cheio de estorvos por dentro, portanto não o pode pôr, quer tirar um braço e encontra
um estorvo, assim que o pobrezinho, ou deve deixar de tentar ou faz o ridículo. Assim o Amor,
quando quer vestir a alma de Si, se não encontra a alma desterrada de todo, amargado se
retira".
VIDEO DA AULA
36. A sagrada Família no Egito. Uma lição para as famílias.
25 de janeiro de 1944 (24:00 horas).
36.1Uma suave visão da Sagrada Família. O lugar é o Egito. Não tenho ‐
dúvidas disso, porque vejo o deserto e uma pirâmide.
Vejo uma casinha de um só andar térreo, toda branca. É uma pobre casa
de gente muito pobre. As paredes são apenas rebocadas e cobertas com uma
mão de cal. A pequena casa tem duas portas, uma perto da outra, e dão para
os dois únicos cômodos da casa, nos quais, por enquanto, eu não entro. A
casinha está no meio de um pequeno terreno arenoso, cercado por bambus
fincados no chão, cerca esta muito fraca contra os ladrões; pode, quando
muito, servir para deter algum cachorro ou gato vadio. Mas, quem é que vai
ter a vontade de ir roubar, onde se vê que nem existe sombra de riqueza?
Este pequeno terreno foi pacientemente cultivado, apesar de a terra ser
árida e pobre, para nela se fazer uma pequena horta e é cercado por uma
sebe de bambus, sobre a qual, para torná-la mais firme e bonita, foram
plantadas trepadeiras, que me parecem modestos convólvulos. De um dos
lados, há uma moita de jasmim em flor e outra de rosas comuns. Vejo ali
algumas verduras muito comuns, nos poucos canteiros do centro, debaixo de
uma árvore alta, que não sei dizer qual é, mas que dá um pouco de sombra
para o terreno ensolarado e para a casinha. Nesta árvore está amarrada uma
cabrita branca e preta, que arranca e come as folhas de alguns ramos que
caíram no chão.
36.2Ali perto, sobre uma esteira estendida no chão, está o Menino Jesus.
Parece-me ter uns dois anos, ou dois e meio no máximo. Está brincando com
pedacinhos de madeira entalhada, que parecem ovelhinhas ou cavalinhos, e
com algumas maravalhas de madeira clara, menos encaracoladas do que os
caracóis de ouro do seu cabelo. Com suas mãozinhas gorduchas, ele procura
colocar esses colares de madeira no pescoço de seus animaizinhos.
Ele é bom e sorridente. Muito bonito. Uma cabecinha cheia de
caracoizinhos de ouro, pele clara e delicadamente rosada, olhinhos vivos,
brilhantes, muito azuis. Sua expressão natural está diferente, mas eu
reconheço a cor dos olhos do meu Jesus: são duas safiras escuras e muito
belas.
Está vestindo uma espécie de longa camisinha branca, que certamente
deve ser a sua túnica. Suas mangas vão até os cotovelos. Nos pés, por ora,
não tem nada. As minúsculas sandálias estão sobre a esteira, servindo
também de brinquedo para o Menino, que põe sobre a sola os seus bichinhos
e puxa a sandália pela correia, como se fosse um carrinho. São sandálias
muito simples: uma sola e duas correias que partem, uma da ponta, e outra
do calcanhar. A da ponta, depois se abre em duas partes, em um certo ponto,
e passa por dentro de um furo da correia, que vem do calcanhar, para ir
depois atar-se com o outro pedaço e formar uma argola no peito do pé.
36.3A pouca distância dali, à sombra de uma árvore, também está Maria.
Está tecendo em um tear rústico, vigiando o Menino. Vejo suas mãos
delicadas e brancas, que vão e vêm, atirando a lançadeira sobre a trama, e o
pé, calçado com sandália, movendo o pedal. Está vestida com uma túnica da
cor flor de malva: um roxo meio rosado, como o de certas ametistas. Sua
cabeça está descoberta e assim posso ver que seus cabelos loiros estão
repartidos ao meio e penteados de modo simples, em duas tranças, que lhe
formam uma bela madeixa sobre a nuca. Maria está de mangas compridas, e
um tanto estreitas. Nenhum enfeite, além de sua beleza e da sua doce
expressão. A cor da face, dos cabelos e dos olhos e a forma do rosto é
sempre a mesma quando a vejo. Parece muito jovem. Pelo sim, pelo não,
podem dar-se-lhe uns vinte anos.
A um certo momento, ela se levanta e se inclina sobre o Menino, põe-lhe
de novo as sandalinhas, e as amarra com todo o cuidado. Depois, o acaricia
e o beija sobre a cabecinha e sobre os olhinhos. O Menino balbucia e ela
responde, mas não compreendo as palavras. Depois ela volta ao seu tear,
estende um pano sobre a tela e sobre a trama, pega o banco sobre o qual
estava sentada, e o leva para casa. O Menino a segue com o olhar, sem
importuná-la, quando ela o deixa sozinho.
Vê-se que o trabalho terminou, e que a tarde está chegando. De fato, o
sol desce sobre as areias nuas, e um verdadeiro incêndio invade o céu
inteiro, atrás da longínqua pirâmide.
Maria volta. Pega Jesus pela mão, e o faz levantar-se de sua esteira. O
Menino obedece sem resistência. Enquanto a mamãe recolhe os brinquedos e
a esteira, e os leva para casa, Ele corre aos pulinhos com suas perninhas
torneadas, ao encontro da cabritinha, lançando-lhe os bracinhos ao pescoço.
A cabrita bale, e esfrega o focinho nas costas de Jesus.
Maria volta de novo. Agora está com um longo véu sobre a cabeça, e
com uma ânfora na mão. Pega Jesus pela mãozinha, e põem-se os dois a
caminho, andando ao redor da casa, para chegarem do outro lado.
Eu os acompanho, admirando a graça deste quadro. Maria, que regula o
seu passo pelo do Menino, e o Menino que vai dando pulinhos ao seu lado.
Vejo os calcanhares rosados dele, que se levantam e se põem outra vez no
chão, sobre a areia da vereda, com a graça própria das crianças. Noto que a
pequena túnica não lhe chega até os pés, mas só até a metade da barriga da
perna. A túnica é muito bonita, muito simples, ajustada à cintura por um
cordãozinho também branco.
Vejo que à frente da casa, a sebe é interrompida por uma rústica cancela,
que Maria abre para sair para a estrada. É um pequeno caminho, desses que
há nas periferias de uma cidade, ou lugarejo, no ponto em que este se limita
com os campos, que aqui são formados pela areia e por uma ou outra
casinha, pobre como esta, com algumas pequenas hortas de escassas
verduras.
Não vejo ninguém. Maria não olha para o campo e sim para o centro,
como se estivesse esperando alguém, depois se dirige para um pequeno
tanque ou poço, que está a uns dez metros, mais ou menos, e sobre o qual
algumas palmeiras fazem um círculo de sombra. Vejo que ali também o
terreno tem ervas verdes.
36.4Agora vejo, vindo pelo caminho um homem, não muito alto, mas
robusto. Reconheço que é José, que vem sorrindo. Está mais jovem do
que quando eu o vi na visão do Paraíso. Parece ter, no máximo, quarenta
anos. Está com os cabelos e a barba crescidos e pretos, a pele bastante
bronzeada, os olhos escuros. Um rosto honesto e agradável, um rosto que
inspira confiança.
Vendo Jesus e Maria, ele apressa o passo. Traz sobre o ombro esquerdo
uma espécie de serra e uma espécie de plaina, e com a mão está segurando
outras ferramentas do seu ofício, não como as de hoje, mas quase iguais.
Parece que está voltando de algum trabalho na casa de alguém. Está com uma
roupa entre a cor avelã e o marrom, não muito comprida, que chega a uma
boa altura acima do tornozelo, e tem as mangas curtas até o cotovelo. À
cintura, tem uma cinta de couro, me parece. Uma verdadeira roupa de traba‐
lho . Nos pés leva sandálias atadas ao tornozelo.
Maria sorri, e o Menino solta gritinhos de alegria e estende o bracinho
que está livre. Quando os três se encontram, José se inclina, oferecendo ao
Menino uma fruta, que me parece ser uma maçã, pela cor e pela forma.
Depois lhe estende os braços, e o Menino deixa a mamãe, e vai-se aninhar
nos braços de José, curvando a cabecinha na cavidade do pescoço de José
que o beija e por ele é beijado. São gestos cheios de graça e de afeto.
Eu ia me esquecendo de dizer que Maria foi solícita em ir apanhar as
ferramentas de trabalho de José, a fim de deixá-lo com os braços livres para
poder abraçar o Menino.
Depois, José, que tinha se abaixado para poder ficar à altura de Jesus,
se levanta, pega novamente com a mão esquerda as suas ferramentas e, com
o braço direito, segura apertado contra o seu peito o pequeno Jesus. E se
dirige para a casa, enquanto Maria vai à fonte encher a sua ânfora.
Tendo entrado no recinto da casa, José põe o Menino no chão, pega o
tear de Maria e o leva para casa, depois vai tirar o leite da cabrita. Jesus
observa atentamente essas operações e a do fechamento da cabrita num
pequeno cubículo, que está ao lado da casa.
A tarde cai. Vejo o vermelho do pôr-do-sol ir-se tornando violáceo
sobre as areias que, por causa do calor, parecem tremular. A pirâmide
parece mais escura.
José entra em casa, em um dos cômodos da casa que deve ser oficina,
cozinha e sala de jantar, ao mesmo tempo. Vê-se que o outro cômodo é o
quarto de dormir. Mas nele eu não entro. Aí há uma lareira baixa, que está
acesa. Há também um banco de carpinteiro, uma pequena mesa, bancos,
prateleiras com umas poucas louças e duas candeias. Em um canto está o tear
de Maria. E muita ordem e limpeza. Morada muito pobre mas muito limpa.
Eis uma observação que pude fazer: em todas as visões referentes à vida
humana de Jesus, notei que, tanto Ele, como Maria, como José, como João,
estão sempre ordenados e limpos em suas roupas e na cabeça. Roupas
modestas e penteados simples, mas de uma limpeza que os faz parecerem
pessoas de grande distinção.
36.5Maria volta com a ânfora e, em seguida, fecha a porta, pois o
crepúsculo chegou de repente. O quarto é iluminado por uma candeia que
José acendeu e pôs sobre o seu banco, onde ele está trabalhando debruçado
sobre umas pequenas peças de madeira, enquanto Maria prepara o jantar. O
fogo também está clareando o quarto. Jesus, com as mãozinhas apoiadas
sobre o banco, e a cabecinha virada para cima, está observando o que José
faz.
Depois eles se aproximam da mesa, tendo rezado antes. Não fazem, é
natural, o sinal da cruz, mas rezam. É José que reza, e Maria responde. Mas
eu não entendo nada. Deve ser um salmo. Mas foi dito em uma língua que
para mim é totalmente desconhecida.
Aí é que se sentam à mesa. Agora a candeia está sobre a mesa. Maria
está com Jesus em seu colo, e o faz beber do leite da cabrita, no qual ela vai
molhando pequenas fatias de pão, tiradas de um pãozinhoredondo, de crosta
escura, e escuro também por dentro. Parece pão feito com centeio ou cevada.
Deve ter muito farelo, porque está cinzento. Enquanto isso, José está
comendo pão e queijo, uma fatiazinha de queijo e muito pão. Depois Maria
coloca Jesus sentado sobre um banquinho perto dela, e põe sobre a mesa
verduras cozidas — parecem cozidas na água e temperadas como
costumamos fazer — e come ela também, depois de José ter-se servido.
Jesus, tranqüilo, está mordiscando sua maçã, e sorri, mostrando os dentinhos
brancos. O jantar termina com umas azeitonas ou com tâmaras. Não entendo
bem, porque para serem azeitonas, estão claras demais; e, para serem
tâmaras estão por demais duras. De vinho, nada. É um jantar de gente pobre.
Mas é tão grande a paz que se respira neste quarto, que nem a visão de
um palácio real, por mais pomposo que fosse, me poderia dar uma paz
semelhante. Quanta harmonia!
36.6 Jesus nesta noite não fala. Não veio me ilustrar a cena. Ele me
ensina com o seu dom da visão, e basta. Por isso seja Ele sempre e
igualmente bendito.
26 de janeiro de 1944.
36.7 Jesus diz:
– A lição para ti e para os outros é dada pelas coisas que estás vendo. É
lição de humildade, de resignação e de boa harmonia. Posta como exemplo a
todas as famílias cristãs, e especialmente às famílias cristãs deste especial e
doloroso momento.
36.8Tu viste uma casa pobre. O que é mais doloroso, uma casa pobre em
país estrangeiro.
Muitos, só porque são dos fiéis “passáveis”, que rezam e Me recebem
na Eucaristia, rezam e comungam pelas “suas” necessidades, não pelas
necessidades das almas e pela glória de Deus, porque é raro alguém rezar
sem ser egoísta, muitos pretenderiam ter uma vida material fácil, bem
protegida de qualquer menor sofrimento, próspera e feliz.
José e Maria tinham a Mim, Deus verdadeiro, como seu Filho e, no
entanto, não tiveram nem o pobre bem de serem pobres na própria pátria, no
lugar onde eram conhecidos, onde ao menos tinham a “própria” casinha, e
um alojamento não era uma preocupação constante entre tantas outras,
naquele lugar onde, por serem conhecidos, era mais fácil encontrar trabalho
e prover-se do necessário para a vida. Eles são dois fugitivos, e justamente
porque Me têm consigo. O clima é diferente, o lugar é diferente, tão triste em
comparação com os doces campos da Galiléia, língua e costumes diferentes,
em meio a uma população que não os conhece, e que tem a habitual
desconfiança para com desconhecidos.
Privados daqueles móveis cômodos e estimados da “sua” casinha, de
tantas coisas humildes mas necessárias que lá havia, e que não pareciam tão
necessárias, enquanto que aqui, neste nada que os rodeia, parecem tão belas,
como aquelas coisas supérfluas, que tornam as casas dos ricos deliciosas.
Com saudade da cidade e da casa, com o pensamento naquelas pobres coisas
lá deixadas, do pomar, do qual talvez ninguém esteja cuidando, da videira e
da figueira e de outras muitas árvores úteis. Com a necessidade de prover ao
alimento de cada dia, às roupas, ao fogo, dia após dia, às Minhas
necessidades de criança, à qual não se pode dar o alimento dos grandes.
Com tanto desgosto no coração. Pelas saudades, pelo amanhã, que ainda é
desconhecido, pela desconfiança de um povo que se esquiva, principalmente
nos primeiros tempos, a aceitar as ofertas de trabalho de dois
desconhecidos.
Contudo, tu viste a casa. Naquela morada paira a serenidade, o sorriso,
a concórdia, e se procura torná-la mais bela de comum acordo; também a
pobre hortinha, para que fique parecida com a que foi deixada, e mais
confortável. Nesta casa só há um pensamento: que esta terra se torne menos
hostil, menos miserável para Mim, Santo, que venho de Deus. O amor destas
pessoas de fé, que são os meus pais, amor que se manifesta em mil cuidados,
desde a cabrita que compraram a preço de muitas horas extras de trabalho,
até aos brinquedos entalhados em sobras de madeira, às frutas apanhadas só
para Mim, sem que delas eles nem provassem.
Meu querido pai da terra, como foste amado por Deus, por Deus Pai no
alto dos Céus, por Deus Filho, que se fez Salvador sobre a terra!
Naquela casa não houve nervosismos, mau humor, caras fechadas, nem
reprovações recíprocas, nem, muito menos, se falou contra Deus, que não os
cumulou com o bem-estar material. José não censura Maria por ser causa de
suas dificuldades, nem Maria censura José por ele não saber-lhe dar um
maior bem-estar. Eles se amam santamente, eis a explicação. Portanto, a
preocupação não é com o próprio bem-estar, mas cada um se preocupa com
o outro. O verdadeiro amor não conhece egoísmo. O verdadeiro amor é
sempre casto, mesmo sem castidade perfeita dos dois esposos virgens. A
castidade unida à caridade leva consigo todo um acompanhamento de outras
virtudes, fazendo de dois que se amam castamente, duas perfeições de
cônjuges.
O amor de minha mãe e de José era perfeito. Por isso ele era um
incentivo para todas as outras virtudes e especialmente para a da caridade
para com Deus, bendito em todo tempo, não obstante sua santa vontade fosse
penosa para a carne e o coração, bendito porque, acima da carne e do
coração, o espírito estava mais vivo e senhor nos dois santos. Este espírito,
com reconhecimento, exaltava o Senhor, por tê-los escolhido para serem
guardas do seu eterno Filho.
36.9Naquela casa se rezava. Agora reza-se pouco nas casas. Nasce o dia e
chega a noite, começam-se os trabalhos, e sentai-vos à mesa sem um
pensamento dirigido ao Senhor, que vos permitiu ver um novo dia, podendo
chegar a uma nova noite, que abençoou as vossas fadigas, concedendo que
essa fadigas se tornassem o meio de conquistar aquele alimento que o fogo
cozinhou, as vestes que vestis, aquele teto, todo o necessário à vossa
natureza humana. Sempre é “bom” o que vem do bom Deus. Ainda quando
pobre e escasso, o amor lhes dá sabor e substância, esse amor que vos faz
ver o Pai que vos ama no eterno Criador.
Naquela casa há frugalidade. Haveria, mesmo que o dinheiro não
faltasse. Eles se nutrem para viver, e não para agradar à gula, com a
voracidade dos insaciáveis, com os caprichos dos gulosos, que se vão
enchendo até não poderem mais, e esbanjam seus haveres em alimentos
caros, sem um pensamento aquem tem pouco ou é privado de alimento, sem
refletirem que, se tivessem moderação, muitos poderiam ser aliviados do
tormento da fome.
Naquela casa se ama o trabalho. Ele seria amado, mesmo se o dinheiro
fosse abundante, porque no trabalho o homem obedece ao mandamento de
Deus e se livra do vício que, como hera firme, aperta e sufoca os ociosos,
como blocos imóveis de pedra. Bom é o alimento, sereno é o repouso,
contente está o coração, quando se trabalhou bem e se goza o tempo de pausa
entre um trabalho e outro. Aquele vício que tem múltiplas faces, não se
arraiga na casa e na mente de quem ama o trabalho. Não se arraigando, então
aí prospera o afeto, a estima, o respeito recíproco, e os pequenos pimpolhos
crescem numa atmosfera pura, e dão origem a futuras famílias santas.
Naquela casa reina a humildade. Esta é uma lição de humildade para
vós, soberbos! Maria teria tido, humanamente, mil e uma razões para se
ensoberbecer fazendo-se adorar por seu cônjuge. Tantas mulheres assim
fazem, somente por serem um pouco mais cultas, ou de nascimento mais
nobre, ou mais ricas que o marido. Maria é Esposa e mãe de Deus, e, no
entanto, serve o seu cônjuge, não se fazendo servir por ele, é toda amor para
com ele. José é o chefe de casa, julgado por Deus tão digno de ser um chefe
de família, a ponto de receber de Deus a guarda do Verbo feito carne e da
Esposa do eterno Espírito. Contudo, é sempre solícito em poupar Maria de
fadigas e trabalhos, fazendo até os mais humildes trabalhos de casa, para que
Maria não se canse. Mas não só, pois procura proporcionar a Ela alguma
recreação o quanto pode, esforçando-se para tornar-lhe a casa cômoda, e a
pequena horta com flores viçosas.
Naquela casa a ordem é respeitada. Sobrenatural, moral e material.
Deus é o Chefe supremo e a Ele é prestado culto e amor: ordem
sobrenatural. José é o chefe da família e a ele é dado afeto, respeito e
obediência: ordem moral. A casa é um dom de Deus, como as vestes e os
móveis. Em todas as coisas é a Providência de Deus que se mostra, daquele
Deus que provê a lã às ovelhas, as penas aos pássaros, as ervas aos prados,
o feno aos animais, as sementes e as árvores frondosas às aves, tecendo a
veste para o lírio do vale. A casa, as vestes, os móveis são recebidos com
gratidão, bendizendo a mão divina, tratando-os com respeito como dons do
Senhor, sem olhar com descontentamento porque são pobres, sem estragar os
dons, abusando da Providência: ordem material.
36.10Não entendeste as palavras trocadas no dialeto de Nazaré, nem as
palavras de oração. Mas as coisas vistas deram uma grande lição. Meditaias,
ó vós todos, que agora tanto estais sofrendo por terdes falhado para com
Deus, também aquelas coisas em que não falharam nunca os santos Esposos,
que foram mãe e pai para Mim.
E tu, deleita-te com a recordação do pequeno Jesus, sorri, pensando em
seus passinhos de criança. Dentro em pouco, o verás, caminhando debaixo
de uma cruz. E será uma visão de pranto
VIDEO DA AULA
LOUVOR SETÉMPLICE.
Ciente, portanto, da vontade do modo pelo qual devíamos viver do Pai acerca naquela casa, e como devia portar-me nas obras exteriores, sentado entre minha querida Mãe e José, fiz-lhes um discurso. Em seguida, disse-lhes tudo o que deviam eles fazer por si a sós e o que haveriam de fazer comigo. Primeiro expliquei-lhes como devíamos sete vezes por dia reunir-nos para cantar os louvores do Pai. No restante do tempo, cada um devia fazê-lo por si. Estas sete vezes começavam à meia noite; depois pela manhã ao raiar do dia, em seguida à hora de terça, depois ao meio-dia, logo à hora de nona, em seguida à hora das vésperas e ao declinar do dia. Tendo ouvido isto, a querida Mãe e José, com grande júbilo de coração, renderam graças a meu Pai pelo novo modo com o qual queria ser por eles louvado. Não era novo quanto aos louvores, pois no passado os haviam exercitado; mas relativamente ao tempo e à nova ordem estabelecida, segundo a qual queria ser louvado. Unidos a mim, deram início à execução da ordem recebida, começando logo a louvar juntos a meu Pai. A querida Mãe e José ficavam absortos ao ouvirem o modo, o fervor, o espírito e a graça com os quais eu cantava os divinos louvores a meu amantíssimo e dileto Pai. Estes começavam à hora das vésperas, e embora não durassem muito, ficavam todavia a dileta Mãe e José longamente absortos e elevados em êxtase, aprazendo-se muito o seu espírito e unindo-se a Deus de modo assaz particular e perfeito. Eu, no tempo em que louvava a meu Pai, estava todo dedicado a Ele, ansiando por dar-lhe todo o prazer e agrado que Ele desejava e merecia. Estava, contudo, com o olhar sempre voltado para meus irmãos e urgia-me muito rezar por eles, e adquirir-lhes o amor e o favor de meu Pai. Por isto, não deixava passar nem um breve tempo que não orasse por eles e lhes merecesse algum favor e graça especial. Terminados os louvores divinos, enquanto minha querida Mãe e José estavam absortos, fruindo das divinas consolações, eu oferecia esses louvores a meu Pai como suplemento pelas omissões e negligências de meus irmãos em louvá-lo e bendizê-lo. E assim como meu Pai tinha muito prazer em ser louvado deste modo, eu lhe oferecia esse gosto e aprazimento que lhe dava ao louvá-lo, em suplência por todos aqueles que, por não aplicar-se a tão santo exercício, privam-se a si mesmos de grande mérito e a meu Pai daquele gosto e prazer que, na verdade, recebe de quem o louva de modo tão acabado. Oferecia-lhe ainda o modo admirável com qual eu o louvava tão perfeitamente, e com todo o amor e atenção, em suprimento por aqueles que ao louvá-lo são tão desafeiçoados e distraídos. Suplicava-lhe que se dignasse receber aqueles meus louvores em suplemento por todos os meus irmãos desafeiçoados e ingratos, que jamais se recordam de louvar a sua infinita bondade e prestar-lhe o culto devido a tão grande Majestade recebia tudo o Pai amoroso e mostrava-se contente, satisfeito e aplacado por todos, sendo-lhe tão gratos e aceitos os meus louvores e as minhas súplicas que tudo o que eu lhe pedia, em virtude destas, concedia-me com grande liberalidade e amor. Estendia-se depois mais além o meu desejo, e pedia a meu Pai se dignasse dar aos meus irmãos desejo tão grande de louvá-lo naquelas mesmas horas, nas quais unia-me para louvá-lo à querida Mãe e a José, seu esposo, e que este desejo fosse acompanhado de grande amor a fim de que superassem todas as dificuldades que, em tão santo exercício, costuma sugerir a meus irmãos o amor próprio e o excessivo cuidado com a saúde corporal. O Pai atendeu-me e concedeu-me quanto lhe pedia. Vi, naquele instante, como muitos seguiriam a inspiração divina e reunir-se-iam para fazer tão santo exercício. Recebi com isto grande consolo, tanto pelo prazer de meu Pai, como ainda por ver cumprido meu desejo, em parte. Por tudo rendi muitas graças a meu Pai. Era, todavia, assaz amargurada esta minha consolação ao ver muitos de meus irmãos tão relaxados, negligentes e distraídos em tão santo exercício; e esta pena que experimentava era causada na maior parte por ver meu dileto Pai privado do gosto habitual, ao ser louvado com toda a atenção, diligência e amor; e depois por ver meus irmãos privados de tamanho mérito. Louvam ao Pai somente com a língua, sem a devida atenção; por isto não são dignos do prêmio e em vão se afadigam, pois não dão gosto a meu Pai e não alcançam a recompensa que, ao invés, se dá a quem o louva com a devida disposição, atenção e amor. Via tudo isso, então, esposa minha, e pedia a meu Pai desse-lhes particular auxílio e graça maior para praticarem aquele santo exercício com a devida atenção. Meu Pai prometeu-me fazer quanto eu dele reclamava. De fato, não deixou, nem jamais deixa de dar a todos particular auxílio e graça especial. Muitos, na verdade, aproveitam os divinos impulsos e os seguem, dando lugar no coração à graça divina. Numerosos, todavia, dela abusam e tornam-se mais obstinados, distraídos e negligentes. Por estes, sentia grande pesar e por aqueles, muito me consolava. Não omitia, contudo, as preces por uns e outros. Por uns, a fim de que fossem cada vez mais fervorosos, atentos e diligentes; por outros, para que se emendassem enfim de suas negligências, desamor e tibieza. Fazia-o de modo que meu Pai ficava aplacado para com os negligentes e tépidos, e muito mais inclinado a favorecer os diligentes e fervorosos. Havendo obtido do Pai todas as graças que lhe pedia para meus irmãos, agradecia-lhe por parte deles e principalmente por parte daqueles que, tendo recebido um tão grande favor, isto é, haverem sido escolhidos para tão santo exercício, não agradecem nem reconhecem o favor particular que lhes fez o Pai, escolhendo-os com tanto amor e tão profunda providência para serem os anjos da hierarquia terrestre e serem-no depois da hierarquia celeste e louvá-lo eternamente, começando no tempo, para durar por toda a eternidade.
NA OFICINA.
Terminadas as minhas ofertas e petições e obtido de meu Pai tudo quanto anelava em prol de meus irmãos e tendo-lhe rendido as devidas graças, pedia a minha querida Mãe e a José que determinassem em que devia ocupar-me, enquanto eles se ocupavam no trabalho a fim de obterem a necessária subsistência para suas pessoas e para mim. Este pedido causava-lhes muita confusão, mas como sabiam ser esta a vontade de meu Pai, faziam-no com grande prontidão e amor. O mais das vezes, porém, como a querida Mãe conhecia o desejo de José, seu esposo, atendia-o e mandava-me trabalhar com ele, ajudando-o e coisa no seu mister de carpinteiro- e eu, inclinando a Cabeça, prontamente obedecia. Era tão grande a caridade da querida Mãe para com São José que mais das vezes se privava de minha Companhia dela para que ele fruisse. Ia trabalhar com José, por algum tempo; fazia algum serviço até que cheguei à idade de trabalhar. o santo homem muito apreciava ter-me em sua companhia de tal modo que se desfazia em lágrimas de Consolação e conhecendo a vontade de meu Pai, mandava-me e ordenava minhas ocupações. Fazia-as prontamente. Muitas vezes, enquanto ele se afadigava e estava cansado, eu lhe enxugava o suor com as minhas mãos e olhava-o com grande amor e compaixão. Era o suficiente para aliviar-lhe a fadiga e restaurá-lo de tal modo que caía em êxtase de alegria. Oferecia, depois, ao Pai esta humilhação. Em verdade, era grande em relação a minha pessoa, por ser o verdadeiro Filho de Deus e Senhor do universo. Achava-me naquela vil oficina diminuído e era olhado por todos como filho de um pobre carpinteiro. Alegrava-me muito a humilhação e pequenez na qual me encontrava e este prazer oferecia-o ao Pai, em desconto por aqueles soberbos que, sendo realmente de condição humilde e inferior, querem ser tidos por grandes e fazer-se estimar pelos outros. Rogava ainda a meu Pai se dignasse consolar todos os meus irmãos que se afadigam e cansam para obter a própria subsistência e o necessário. Como não podem fruir de minha presença visível conforme dela fruía José, inspirasse-lhes ao coração o modo de se consolarem, isto é, oferecerem-lhe esta fadiga e suportá-la por seu amor, pois este motivo apenas, com a ajuda da graça divina, basta para consolar uma pessoa cansada e aliviar-lhe qualquer fadiga, por grande que seja. Prometeu-me fazer isto meu Pai, e de fato não deixa de executá-lo, embora a maioria de meus irmãos abuse desta graça e não dê ouvidos às inspirações divinas, estimando mais o sofrimento e o consolo que lhes vêm das criaturas do que o enviado pelo Criador. Com mais boa vontade se afadigam e trabalham por amor à criatura e por interesse próprio do que por amor ao Criador e pelo bem de suas próprias almas. Sentia grande desprazer a este respeito, tanto mais que os via privados de tão grande bem. Trazia-me, porém, algum consolo ver alguns que, aplicados a dar gosto a meu Pai, não têm outro alvo de suas fadigas senão cumprir a vontade divina, e por amor de meu Pai fazem tudo de boa vontade. Assim sentem-se muito consolados e contentes. Com estes colabora principalmente a graça de meu divino Pai, que tudo lhes alivia. Na fadiga, ficam contentes e consolados. Por tudo isso agradecia ao Pai e impetrava-lhes maior graça. Aos outros, impetrava luzes maiores para chegarem a conhecer o bem que por descuido perdiam.
COMO SANTIFICAVA O TRABALHO.
Enquanto me entretinha a trabalhar com José, não deixava de conversar com meu Pai e pedir para os meus irmãos tudo que sabia ser-lhes necessário eterna salvação. O trabalho de minhas mãos não me impedia o trato contínuo com meu Pai. Pedia-lhe ainda se dignasse conceder também a todos os meus irmãos graça semelhante, embora não pudesse ser de modo igual ao meu, por estar a divindade unida a minha humanidade. Não obstante, desejava que cada um Conversasse sempre com meu divino Pai do modo sem lhe fosse possível e mais fácil, visto que meu Pai tudo ê e ouve, sem que a criatura faça necessidade do uso de palavras audíveis. Penetra os segredos dos corações e os pensamentos mais escondidos. Assim eu ansiava por que meus irmãos estivessem Inteiramente atentos e tivessem sempre na mente e no coração a contínua presença de meu Pai, conversassem com Ele sem cessar como eu fazia, sobre os interesses de sua eterna salvação. Meu Pai consolou-me muito, prometendo-me quanto eu dele reclamava, embora essa minha consolação fosse logo amargurada por ver em meus irmãos tão pouca correspondência a tamanha graça, e como se deixavam vencer pelas ocupações exteriores, estando tão entregues a elas e atentos que nem sequer dedicam um pensamento ao que tanto os deveria empenhar, porque disto depende, na maioria dos casos, o proveito espiritual deles. Se meu Pai os encontra ocupados em pensar nele e tratar com ele, não deixa de olhá-los com amor, e de entreter-se com eles, de comprazer-se e por isto também, está pronto a conceder-lhes quanto desejam. Ao ver eu que muitos de meus irmãos se ocupariam de contínuo em tão santo exercício, muito me alegrava e dava graças a meu Pai e em suplência por aqueles que nisto falham, oferecia-lhe meu desejo, deveras muito grande, de que todos estivessem ocupados com isto, sem interromperem jamais tão santo exercício.
JUNTO DA MÃE.
Depois de haver dado algum alívio a José, pedia-lhe licença para ir ao encontro de minha querida Mãe. Na verdade, muito me empenhava em consolá-la com minha presença, e ainda ansiava entreter-me com ela, por ser no mundo a criatura mais cara a meu Pai e a mim, e sumamente amada por mim devido a suas excelsas e raras virtudes. O grande amor que lhe dedicava, como sendo minha verdadeira Mãe, estimulava-me a ir para junto dela. Não podia permanecer muito tempo longe. la, como vos disse, freqüentemente revê-la e com finura de afeto saudava-a, Ela prostrava-se aos meus pés, logo que me via. Não deixava de abraçá-la amorosamente e soerguê-la do chão. Saudando-nos mutuamente com afeto, fruíamos da presença um do outro e por algum tempo nos entretíamos a discorrer sobre as grandezas de meu divino Pai. Apesar de estar ela a este respeito bem informada, não obstante ficava cada vez mais iluminada. As grandezas divinas são imensas e infinitas as divinas perfeições. Por mais que uma criatura consiga apreendê-las e entendê-las, sempre lhe restam coisas assaz maiores a entender e apreender. Em tais ocasiões rogava ao Pai que, ao fazer as almas de alguns de meus irmãos, por Ele amados e que o amam, sentirem a sua ausência, se dignasse logo retornar sensivelmente com a divina presença a consolá-los, não deixando por muito tempo de fazê-los experimentar a sua visita, acompanhada das consolações divinas, a fim de que as almas cresçam mais no desejo e no amor dele. Efetivamente, quanto mais a alma o experimenta, tanto mais fica faminta e desejosa. Pedia-lhe com grande instância, pois conhecia a fraqueza de meus irmãos. Sem consolação, suportam por pouco tempo, se o Pai não os assistir de modo particular, como realmente faz a tantos. O divino Pai atendia todos os meus apelos, e eu me demonstrava grato, agradecendo-lhe por parte de meus irmãos. Isto era muito agradável a meu Pai; por esta razão, achava-o sempre pronto e disposto a conceder-me quanto dele esperava.
A HORA DA REFEIÇÃO.
Estando, poís, em santos entretenimentos com minha querida Mãe, chegava a hora de tomar algum alimento, para manter a humanidade. Tendo minha querida Mãe preparado uma pequena porção, eu avisava a José que viesse também ele refazer-se. Mandavam-me abençoar a comida. Eu obedecia, e fazia tudo com muita graça e jovialidade, de tal modo que, só ao ver-me praticar aquele ato, ficavam plenamente saciados com o pouco alimento que tomavam. Caiam em êxtase bem freqüentemente também ao ver-me comer. Era o melhor condimento de sua "refeição, a qual constava na maioria dos casos só de pão. Mas, com, frequência, naquele pão percebiam a graça espargida por minha bênção. Após havermos tomado a parca refeição, dávamos juntos as devidas graças ao Pai, da maneira que já disse em outra ocasião, isto é, igualmente por parte de todos os meus irmãos e em particular por aqueles que, depois de terem se alimentado, nem ao menos elevam a mente ao Pai para agradecer-lhe.
SANTA RECREAÇÃO
Terminadas as graças que juntos dávamos ao Pai, entretíamo-nos por certo espaço de tempo em conversas alegres, isto é, acerca das magnificências da pátria celeste, dos prazeres lá existentes, dos lugares eminentes preparados para aqueles que tiverem a sorte de lá entrar, mais ou menos segundo os seus méritos, ou ainda sobre as divinas perfeições e outros assuntos aprazíveis à alma de minha Mãe e de José. Concluído o breve discurso, José ia trabalhar, e ficava minha querida Mãe ainda a fazer seus trabalhos. Neste interim, eu oferecia ao Pai aquele recreio tão santo que juntos tivéramos. Pedia-lhe se dignasse aceitá-lo em suplência por todas as faltas de meus irmãos, os quais parecem não saber recrear-se senão em mundanidades e nas baixezas desta mísera terra. E como eu bem via que muitos iam mais além, uma vez que suas recreações jamais terminam sem ofensa a meu Pai e ao próximo, sentia grande dor, e rogava ao Pai lhes perdoasse tão grande erro e recebesse minhas ofertas em desconto daquelas ofensas. Pedia-lhe ainda se dignas-se inserir-lhes nos corações e nas mentes pensamentos sobre as coisas santas, máxime sobre sua infinita bondade, poder e grandeza, e acerca da glória do paraíso, do prêmio preparado para quem o teme e ama. Via como a meu Pai muito apraziam tais ofertas e súplicas e mostrava-se pronto a conceder-me quanto lhe rogava. Com isto muito me alegrava, e agradecia-lhe. Este prazer, contudo, era bastante amargurado ao ver a pouca correspondência da maioria de meus irmãos. Não dão ouvidos às divinas inspirações, não sabem recrear-se senão com as coisas visíveis. Muitas vezes, como vos disse, todas as suas distrações são manchadas de culpas. Ofendem ao Pai e ao próximo, que devem amar e olhar com amor e caridade. Trazia-me algum conforto ver alguns que, na verdade, passam a recreação inteira a tratar do que eu desejava para a glória de meu Pai e proveito de suas almas.
RECOLHE-SE A ORAR.
Havendo estado por algum tempo em companhia da querida Mãe, afastava-me também dela e, genuflexo em terra num ato de humildade, orava ao Pai, e pedia-lhe com maior ardor pela salvação de meus irmãos. Nas orações que fazia, retirado à solidão, dava algum desafogo à dor que sentia. Então, mais do que nunca, se me representava ao vivo a multidão das ofensas feitas ao Pai. Via, um por um, todos os meus irmãos negligentes, a andarem pelo caminho da perdição. Não podendo então opor um dique a tantos males, suspirava e chorava essa dureza e obstinação. Oferecia os suspiros e as lágrimas ao querido Pai e pedia-lhe opusesse um dique qualquer a tantas ofensas. O Pai me ouvia com gosto e atendia as minhas súplicas. Oferecia-me inteiramente a Ele como remédio a tantas ofensas, expunha aos rigores de sua Justiça, desejoso de satisfazer plenamente a ela. Com isso redobrava as instâncias ao Pai: de que acelerasse o tempo de minha Paixão, a fim de que imediatamente, opusesse um dique a tantos males e se remediasse à ruína de tantas almas, a andarem para a perdição. Ainda ansiava porque a justiça divina fosse logo plenamente satisfeita devido a tantas ofensas recebidas. Sabendo que só a minha morte seria seria suficiente para aplacá-la e dar-lhe satisfação, desejava a chegada do tempo determinado, e todo momento parecia-me longo, devido ao anelo (desejo intenso) e à expectativa dela.
PARTE 1 PARTE 2
12-36
Março 4, 1918
A firmeza produz o heroísmo.
(1) Continuando o meu estado habitual, lamentava-me com Jesus do meu pobre estado, e Ele
disse-me:
(2) "Minha filha, coragem, não te apartes em nada, a firmeza é a maior virtude, a firmeza produz
o heroísmo, e é quase impossível que o homem não seja, com a firmeza, um grande santo;
aliás, conforme vai repetindo seus atos, assim vai formando duas barreiras, uma à direita e a
outra à esquerda, que lhe servem de apoio e defesa, e reiterando seus atos se forma em si uma
fonte de novo e crescente amor. A firmeza reafirma a graça e põe o selo da perseverança final.
Seu Jesus não teme que suas graças possam ficar sem efeito nas almas firmes, e por isso a
torrentes Eu as despejo sobre a alma constante. Portanto, de uma alma que hoje trabalha e
amanhã não, agora faz um bem, agora faz outro diferente, não há muito que esperar, não terá
nenhum apoio, e agora será lançada de um lado e agora a outro, morrerá de fome porque não
terá a fonte da firmeza que faz surgir o amor; a graça teme derramar-se, porque dela fará abuso
e se servirá dela para me ofender".
13-33
Novembro 16, 1921
O pecado é cadeia que ata o homem, e Jesus quis ser atado para romper suas cadeias.
(1) Esta manhã, meu sempre amável Jesus se fazia ver todo atado, atadas as mãos, os pés, a
cintura; do pescoço lhe descia uma dupla corrente de ferro, mas estava atado tão fortemente,
que tirava o movimento a sua Divina Pessoa. Que posição dura era esta, de fazer chorar até as
pedras, e meu sumo bem Jesus me disse:
(2) "Minha filha, no curso de minha Paixão todas as outras penas faziam competição entre elas,
mas uma cedia o lugar à outra, e se mantinham vigilantes para me fazer sofrer o pior, para dar-
se a vanglória de que uma tinha sido mais dura que as demais, mas as cordas não me tiraram
jamais, desde que me prenderam até o monte calvário estive sempre atado, aliás,
acrescentavam sempre mais cordas e cadeias por temor de que pudesse fugir, e para fazer
mais zombaria e escárnio de Mim; quantas dores, confusões, Humilhações e quedas me
causaram estas correntes. Mas deves saber que nestas cadeias havia um grande mistério e
uma grande expiação: O homem, ao começar a cair no pecado fica atado com as mesmas
cadeias de seu pecado, se é grave são cadeias de ferro, se venial são cordas; então, se quer
caminhar no bem, sente as travas das cadeias e fica impedido em seu caminho, o estorvo que
sente o esgota, o debilita, e o leva a novas quedas; se obra sente o impedimento nas mãos e
quase fica como se não tivesse mãos para fazer o bem; as paixões, vendo-o tão atado fazem
festa e dizem: "É nossa a vitória". E de rei que é o homem, o tornam escravo de paixões
brutais. Como é abominável o homem no estado de culpa, e eu para romper suas correntes
quis ser atado, e não quis estar em nenhum momento sem cadeias, para ter sempre prontas as
minhas para romper as suas, e quando os golpes, os empurrões me faziam cair, Eu estendia-
lhe as mãos para desamarrá-lo e torná-lo livre de novo".
(3) Mas enquanto dizia isto, eu via quase todas as pessoas amarradas por correntes, que
davam piedade, e rogava a Jesus que tocasse com suas correntes as cadeias delas, a fim de
que pelo toque das suas ficassem quebradas as das criaturas.
14-37
Junho 19, 1922
Cada vez que a alma trabalha no Divino Querer dá campo a Jesus para pôr fora novas
bem-aventuranças e novos contentamentos.
(1) Continuando meu estado habitual, eu me sentia abismada no Querer Supremo do meu doce
Jesus, parecia-me que cada pequeno ato meu feito no Divino Querer fazia sair novos contentos
desde dentro da Majestade Divina, e meu amável Jesus me disse:
(2) "Minha filha, eu possuo tais contentamentos, felicidade e bem-aventuranças, que poderia
dar a cada instante sempre novas alegrias e bem-aventuranças, assim que cada vez que a
alma atua em meu Querer, me dá o campo para fazer sair novas bem-aventuranças e novos
contentamentos que Eu possuo, e como meu Querer é imenso e invade a todos e a tudo,
assim, conforme saem correm sobre a alma que está operando em meu Querer, como causa
primária de que minhas bem-aventuranças são postas fora, e depois circulam em todos, no céu
e na terra. Então, por quantas vezes você trabalha em meu Querer, tantas bem-aventuranças e
alegrias de mais me faz pôr fora, e Eu sinto o prazer de participar das alegrias que
possuo. Minha Vontade quer fazer sair o que possui, mas vai buscando quem lhe dê a ocasião,
quem esteja disposto a recebê-lo, quem prepare um lugar em sua alma onde pôr estes meus
novos contentamentos. Agora, a alma com querer fazer minha Vontade, abre as portas de meu
Querer, e esvaziando de seu querer me prepara um lugarzinho onde pôr meus bens, e entrando
a obrar em minha Vontade me dá a ocasião de fazer sair de Mim novas bem-aventuranças, por
isso espero ansiosamente que a alma venha a obrar em meu Querer eterno, para fazer sair de
Mim uma nova alegria e fazer-me conhecer que sou aquele Deus que não me canso jamais, e
que sempre tenho que dar a quem faz minha Vontade".
16-43
Fevereiro 2, 1924
O abandono em Deus forma as asas para voar no o âmbito da Eternidade. O que é a Eternidade.
(1) Sentia-me muito oprimida pela privação do meu doce Jesus, e por outras razões que não é ne-
cessário escrever aqui, e meu amado Jesus movendo-se em meu interior e estreitando-me a Ele
para me dar força, pois me sentia sucumbir, me disse:
(2) "Minha filha, a minha vontade é vida e movimento de tudo, mas sabes tu quem segue a seu
movimento e toma o vôo em meu Eterno Querer, de maneira que gira como gira Ele no âmbito da
eternidade e se encontra onde Ele se encontra e faz o que Ele faz? A alma totalmente abandonada
em minha Santa Vontade; o abandono são as asas para voar junto com meu Querer, quando cessa
o abandono assim perde o vôo e ficam destruídas as asas. Assim que todos sentem o movimento,
a Vida da minha Vontade, mas ficam no ponto onde estão, porque não há movimento que não par-
ta de Mim, mas só quem tem as asas do abandono em Mim, faz o mesmo caminho de minha Von-
tade, sobrevoa sobre tudo, seja no Céu ou na terra, entra no âmbito da eternidade e gira no meio
das Três Divinas Pessoas, penetra nos lugares mais íntimos delas, está a par dos seus segredos e
das suas bem-aventuranças. Acontece como uma máquina, onde no meio está a primeira roda e
em torno dela outras muitas pequenas rodas que são fixas; assim que a primeira roda se move todas
as outras recebem o movimento, mas nunca chegam a tocar a primeira roda, nem sabem nada
do que ela faz nem dos bens que contém; em troca outra pequena roda que não esteja fixa, e que
por meio de um mecanismo gire sempre por todas as rodas para encontrar-se em cada movimento
da primeira roda, para fazer de novo seu giro, esta roda giratória gira sabe o que há na primeira
roda e toma parte nos bens que ela contém. Agora, a primeira roda é minha Vontade, as rodas fixas
são as almas abandonadas a si mesmas, o que as torna imóveis no bem; a roda giratória é a
alma que vive na minha Vontade, o mecanismo é o abandono tudo em Mim, assim que cada falta
de abandono em Mim é um giro que Você perde no âmbito da Eternidade. Se você soubesse o que
significa perder um giro eterno!"
(3) Quando ouvi isto, disse: "Mas diz-me, meu amor, o que significa eternidade e o que é este giro
eterno?"
(4) E Jesus acrescentou: "Minha filha, a eternidade é um círculo imenso, onde não se pode conhecer
nem onde começa nem onde termina; neste círculo se encontra Deus, sem princípio e sem fim,
onde possui felicidade, bem-aventuranças, alegrias, riquezas, beleza, etc., infinitas. Em cada movimento
divino, que nunca cessa, faz sair deste círculo da eternidade novas felicidades, novas belezas,
novas bem-aventuranças, etc., mas este novo é um ato jamais interrompido; mas um não é
parecido com o outro, diferentes entre eles, nossos contentamentos são sempre novos; são tais e
tantas as nossas bem-aventuranças, que enquanto gozamos uma, outra nos surpreende, e isto
sempre e jamais terminam, são eternas, imensas como Nós, e o que é eterno tem virtude de fazer
surgir coisas sempre novas; o antigo, as coisas repetidas não existem no que é eterno. Mas você
sabe quem toma mais parte no Céu do novo que jamais se esgota? Quem mais praticou o bem na
terra, este bem será como o germe que lhe dará o conhecimento de nossas bem-aventuranças,
alegrias, belezas, amor, bondade, etc., e segundo o bem que a alma tenha praticado na terra, que
tenha alguma harmonia com nossas variadas bem-aventuranças, assim se aproximará de nós e de
grandes goles será preenchido com a bem-aventurança da qual o gérmen contém, até transbordar
fora. De tudo o que contém o círculo da eternidade tomarão parte; em troca dos germes adquiridos
na terra, deles serão enchidos. Acontecerá como a um que tenha aprendido música, um trabalho,
uma ciência; soando a música, muitos escutam e gozam, mas, quem entende? Quem sente penetrar-lhe
na inteligência e descer-lhe no coração todas aquelas notas de gozo ou de dor? Quem se
sente como cheio e vê em ato as cenas que a música expressa? Quem estudou, quem tem fatigado
para aprender, os outros apreciam mas não entendem, sua alegria está só na percepção do ouvido,
mas todo o seu interior fica em jejum; assim também quem aprendeu as ciências, quem goza
mais, um que estudou, que tem consumido sua inteligência nos livros, em tantas coisas científicas,
ou bem quem só as olhou? Certo, quem estudou pode fazer ganhos justos, pode ocupar vários lugares,
enquanto o outro pode desfrutar só com a vista se vê coisas que pertencem às ciências; assim
de todas as outras coisas. Se isto acontece na terra, muito mais no Céu, onde a justiça pesa
com a balança do amor cada pequeno ato bom feito pela criatura, e põe sobre esse ato bom uma
felicidade, uma alegria, uma beleza intermináveis.
(5) Agora, o que será da alma que terá vivido no meu Querer, onde todos os seus actos permanecem
com um germe eterno e divino? O círculo da eternidade se verterá de tal forma nela, que toda
a Jerusalém Celestial ficará surpreendida e farão novas festas e receberão nova glória".
17-38
Abril 23, 1925
Deus ao criar o homem, com seu alento infundia-lhe a vida, e nesta vida lhe infundia uma inteligência, memória e vontade para colocá-lo em
relação com sua Divina Vontade, e Esta devia dominar todo o interior da criatura e dar vida a tudo.
(1) Estava a fundir-me segundo o meu costume no Santo Querer Divino, e o meu doce Jesus
fazendo-se sentir dentro de mim disse-me:.
(2) "Minha filha, vem na imensidão de meu Querer, todo o Céu e todas as coisas criadas por Mim,
vivem e recebem vida contínua de meu Querer, no qual encontram sua completa glória, sua plena
felicidade e sua perfeita beleza, e esperam com ansiedade o beijo da alma viadora que vive no
mesmo Querer em que elas vivem, para lhe corresponder o seu beijo e pôr em comum com ela a
glória, a felicidade, a beleza que elas possuem, a fim de que outra criatura se acrescente ao seu
número, que me dê a glória completa, quanto à criatura é possível, e me faça olhar a terra com
aquele amor com o qual a criei, porque existe na terra uma alma que opera e vive em minha
Vontade. Sabendo o Céu que nenhuma outra coisa me glorifica tanto como uma alma que vive em
minha Vontade, por isso também suspiram que meu Querer viva nas almas na terra; assim que
cada ato que faz a criatura em minha Vontade, é um beijo que dá e recebe d'Aquele que a criou e
de todos os bem-aventurados. Mas você sabe que coisa é este beijo? É a transformação da alma
com seu Criador, é a posse de Deus na alma e da alma em Deus, é o crescimento da Vida Divina
na alma, é a harmonia de todo o Céu e é o direito da supremacia sobre todas as coisas criadas. A
alma purificada pela minha Vontade, graças ao alento onipotente que lhe vem infundido por Deus,
não mais dá náusea pela vontade humana, e portanto Deus continua infundindo-lhe seu alento
onipotente, a fim de que cresça com essa Vontade com a qual a criou; enquanto a alma que ainda
não foi purificada sente o atrativo de sua vontade, e portanto obra contra a Vontade de Deus
fazendo a sua; Deus não pode aproximar-se dela para infundir-lhe seu alento de novo, até que não
se dá toda ao exercício e cumprimento da Divina Vontade.
Por isso tu deves saber que Deus ao criar o homem com o seu alento lhe infundia a vida, e nesta vida lhe infundia uma inteligência,
memória e vontade, para a pôr em relação com a sua, e esta Vontade Divina devia ser como rei
que devia dominar todo o interior da criatura e dar vida a tudo, em modo de formar a inteligência e
a memória querida pela Vontade Suprema nela; formada esta, era como conatural que o olho da
criatura devia olhar as coisas criadas e conhecer nelas a ordem e a Vontade de Deus sobre todo o
universo, o ouvido devia ouvir os prodígios desta eterna Vontade, a boca devia sentir-se infundir
continuamente o alento de seu Criador para comunicar-lhe a Vida e os bens que contém seu
Querer, sua palavra devia fazer eco àquele Fiat eterno para narrar o que significa Vontade de
Deus, as mãos deviam ser o desabafo das obras desta Vontade Suprema, os pés não deviam fazer
outra coisa que seguir passo a passo os passos de seu Criador. Assim que estabelecida a Vontade
Divina na vontade da criatura, ela tem o olho, o ouvido, a boca, as mãos, os pés de minha Vontade,
não se separa jamais do princípio de onde saiu, portanto está sempre em meus braços, e é fácil
para ela sentir meu alento, e a Mim infundi-lo. Agora, é precisamente isto que quero da criatura,
que faça reinar minha Vontade na sua, e que a sua lhe sirva de habitação para fazê-la depositar
nela os bens celestes que contém. Isto quero de ti, a fim de que todos teus atos, selados por minha
Vontade, formem um ato só, que unindo-se a esse ato único de minha Vontade, que não tem
multiplicidade de atos como é no homem, Fique suas ações nesse princípio eterno para copiar o
seu Criador e dar-lhe a glória e a alegria de que seu Querer seja cumprido em você como se
cumpre no Céu".
19-35
Julho 8, 1926
Ameaça de novos castigos. Como quem deve fazer um bem universal deve fazer e sofrer mais que todos.
(1) Estava a fundir-me toda no Santo Querer Divino, e o meu doce Jesus fazia-se ver dentro de
mim com os braços levantados, no ato de impedir que a divina justiça se derramasse sobre as
criaturas, pondo-me também a mim na sua mesma posição para fazer-me fazer o que Ele mesmo
fazia; mas parecia que as criaturas incitavam à justiça divina a golpeá-las, e Jesus, como cansado,
baixando seus braços me disse:.
(2) "Minha filha, que perfídia humana! Mas é justo, é necessário que depois de tanto tolerar me
libere de tanta coisa velha que ocupa a Criação, porque estando infectada leva a infecção à coisa
nova, às plantinhas novas. Estou cansado de que a Criação, minha habitação dada ao homem,
mas é sempre minha, porque é conservada e vivificada continuamente por Mim, seja ocupada por
servos, por ingratos, por inimigos e até por aqueles que nem sequer me reconhecem, por isso
quero despachar-me com o destruir regiões inteiras e o que serve para seu alimento; os ministros
de justiça serão os elementos, que investindo-os farão sentir a força divina sobre eles. Quero
purificar a terra para preparar a habitação para meus filhos, você estará sempre junto Comigo,
minha Vontade será sempre seu ponto de partida mesmo em seus menores atos, porque mesmo
nas coisas mais pequenas meu Querer quer ter sua Vida Divina, seu princípio e seu fim, não tolera
que a vontade humana faça suas pequenas aparições em seu Reino, de outra maneira viria a sair
freqüentemente ao reino vicioso de sua vontade, a qual te tiraria a nobreza, o que de fato não
convém a quem deve viver no Reino de minha Vontade.
(3) agora minha filha, assim como as penas da Celestial Rainha, minhas penas e minha morte,
como sol fizeram amadurecer, fecundar, adoçar os frutos que há no Reino da Redenção, de modo
que todos possam tomá-los, e são frutos que levam a saúde aos enfermos, a santidade aos sãos,
assim as tuas penas, enxertadas com as nossas e maduras com o calor do Sol do meu Querer,
farão amadurecer os frutos que há no Reino da minha Vontade, serão tantos e tão doces e
saborosos, que quem quiser tomá-los e prová-los nunca mais se adaptará aos frutos acerbos,
insípidos e nocivos do mísero e esquálido reino da vontade humana. Tu deves saber que quem
deve ser o primeiro a formar um Reino, em levar um bem, em formar um trabalho, deve sofrer mais
que todos e fazer mais que todos, deve encaminhar, facilitar as coisas, os meios e preparar o que
convém para fazer que os outros, encontrando as matérias-primas daquele trabalho e vendo-o
feito, possam imitá-lo; assim que muito te dei e te dou para que tu possas formar as matérias-
primas para quem deve viver no reino de minha Vontade. “Por isso está atenta e disposta ao que te
dou e a fazer o que quero de ti".
20-38
Dezembro 19, 1926
Na Criação a Divindade bilocou sua Vontade. Natureza dela: A felicidade. Como se constituiu ato de tudo.
Posse que quer dar à criatura.
(1) Continuo meu estado de abandono no Supremo Querer, e enquanto girava com minha mente
em toda a Criação para segui-lo em todas as coisas criadas e fazer uma minha vontade com a sua,
para formar um ato só com o seu, meu sempre amável Jesus detendo-me disse:
(2) "Minha filha, a Divindade ao fazer sair fora a Criação bilocou sua Vontade, uma ficou dentro
deles, para seu regime, alegria, felicidade, contentamentos e beatitudes inumeráveis e infinitas que
possuímos, porque nossa Vontade tem o primeiro posto em todos nossos atos; a outra Vontade
nossa bilocada saiu de Nós na Criação, para nos dar também externamente honras e glória
divinas, felicidade e alegrias inumeráveis. Porque nossa Vontade, as alegrias, a felicidade, as
beatitudes, possui-as como dotes próprios, é sua natureza e se não tirasse de Si estas beatitudes e
contentamentos inumeráveis que possui, seria para Ela uma coisa contra sua natureza. Agora, a
Majestade Suprema ao fazer sair nossa Vontade bilocada em toda a Criação, para constituí-la vida
e ato de cada coisa criada, tirou de Si inumeráveis riquezas, beatitudes e alegrias sem número,
que só a Potência do Eterno Fiat podia conservar, manter o regime, para que nunca percam a sua
integridade e beleza. Agora, todas estas propriedades vindas de Nós, enquanto nos glorificavam
dando-nos a glória de tantos atos contínuos e divinos por quantas coisas criadas saíam à luz, eram
estabelecidas como propriedade das criaturas, porque unificando sua vontade à nossa deviam ter
seu ato em cada ato d‟Ela, de maneira que assim como devíamos ter o ato divino de nossa
Vontade em cada coisa criada, devíamos ter o ato da criatura transfundido como se fosse um só,
com isto vinha a conhecer suas riquezas, e conhecendo-as as amaria e adquiria o direito de
possuí-las. Quantos atos divinos não faz meu Supremo Querer em cada coisa criada, que a
criatura nem sequer conhece a antessala destes atos? E se não os conhece como pode amá-los e
possuí-los se são para ela desconhecidos? Então todas as riquezas, as felicidades, os atos divinos
que há em toda a Criação, para as criaturas estão inativos e sem vida, e se alguma coisa recebem,
não é como propriedade mas como efeito da bondade suprema que dá sempre do seu, mesmo a
quem não tem direito de posse, o dá como esmola, outros o tomam como usurpação, porque para
possuir estes bens que o Pai Celestial pôs fora na Criação, a criatura deve fazer seu caminho,
deve elevar-se à união daquela Vontade Divina, para trabalhar junto com Ela, fazer os mesmos
atos, conhecê-los para fazê-los, de modo a poder dizer: „O que Ela faz, eu faço'. Com isto adquire o
direito de posse em todos os atos desta Suprema Vontade, e quando duas vontades formam uma
só, o meu e o teu não existe mais, mas sim com direito o que é meu é teu e o que é teu é meu.
Esta é a causa pela qual meu Supremo Querer te chama, te espera em cada coisa criada para te
fazer conhecer as riquezas que há nelas, para te fazer repetir junto com Ela seus atos divinos e te
dar o direito da posse, tu mesma te convertes em coisa Sua, fica perdida em suas imensas
riquezas e em seus mesmos atos, e oh! como goza o Fiat Divino ao fazer-te proprietária de suas
imensas riquezas. É tanto o desejo que tem de constituir suas herdeiras, que se sente duplamente
feliz quando vê a quem conhece suas posses, que faz seu, seu ato divino, que apesar de que viu
que o homem ao subtrair-se de sua Vontade perdeu o caminho para chegar a possuir estes
domínios, não se deteve, mas sim no excesso de seu amor e de sua prolongada dor ao ver inativas
suas riquezas para o bem das criaturas, enquanto o Verbo Eterno se vestiu de carne humana se
constituiu vida de cada ato seu para formar outros bens para elas, ajudas poderosas e remédios
eficazes, mais ao alcance da humanidade caída, para realizar a finalidade de fazê-los possuir o
que foi posto fora na Criação. Não há nada que saia de Nós sem esta finalidade, que a criatura e
tudo voltem em nosso Querer, se isto não fosse nos tornaríamos estranhos a nossas obras. Assim,
a Criação, a Redenção minha filha, a finalidade primária, é que tudo seja Vontade nossa, no Céu e
na terra; por isso Ela corre por toda parte, por toda parte se encontra para fazer tudo seu e dar tudo
o que a Ela pertence. Por isso seja atenta em seguir nossas obras, apaga este desejo tão
insistente de meu Supremo Querer, que quer que haja quem possua seus bens".
21-5
Março 10, 1927
Como Deus na Criação dava os direitos de possuir o Reino da Divina Vontade.
(1) Estava segundo meu costume seguindo os atos do Querer Supremo na Criação, e tendo
chegado ao ponto quando Deus criava o homem, unia-me com os primeiros atos perfeitos que fez
Adão quando foi criado, para começar junto com ele, e para seguir onde terminou de amar a Deus,
de adorá-lo, quando pecou, com aquela perfeição com que tinha começado na unidade do Fiat
Supremo, mas enquanto isso fazia pensava entre mim: "Mas nós temos direito a este Reino do
Querer Divino?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro de mim disse-me:
(2) "Minha filha, você deve saber que Adão antes de pecar fazia seus atos no Fiat Divino, isto
significava que a Trindade lhe havia dado a posse deste Reino, porque para poder possuir um
reino se necessita quem o forme, quem o doe e quem o receba. A Divindade o formou e o doou, o
homem o recebeu, assim que Adão em seu primeiro tempo da Criação possuía este Reino do Fiat
Supremo, e como ele era a cabeça de toda a geração humana, todas as criaturas recebiam o
direito desta possessão; e, conquanto Adão, ao subtrair-se da nossa vontade, tenha perdido a
possessão deste reino, porque, fazendo a sua vontade, se pôs em estado de guerra com o eterno
Fiat, e, pobre, não tendo força suficiente para combater, nem exército bem provido para poder lutar
com um Querer tão Santo, que tinha força invencível e um exército formidável, ficou vencido e
perdeu o Reino dado por Nós, muito mais que a força que possuía antes era a nossa, e demos-lhe
também o nosso exército à sua disposição; assim que pecou a força, voltou-se para a nossa fonte,
e o exército retirou-se dele, pondo-se à nossa disposição.
Tudo isto não tirou os direitos aos seus descendentes de poder readquirir o Reino da minha Vontade.
Aconteceu como a um rei que por uma guerra perde seu reino, não haverá a probabilidade que um de seus filhos, com outra guerra
possa readquirir o reino de seu pai, que já era seu? Muito mais que vim Eu à terra, o divino
vencedor, para refazer as perdas do homem, e encontrando a quem quisesse receber este Reino
restituía-lhe a força, pondo de novo meu exército a sua disposição para manter a ordem, o decoro
e a glória deste Reino. E que exército é esse? É toda a Criação, na qual em cada coisa criada está
situada a Vida de minha Vontade mais que exército maravilhoso e formidável para manter a vida
deste Reino. O homem poderia perder a esperança de possuir de novo este Reino só se visse
desaparecer todo o exército invencível da Criação, então poderia dizer: que Deus retirou sua
Vontade da face da terra, que a vivificava, a embelezava, Não há mais esperança de que o Reino
possa estar em nossa posse. Mas até que a Criação exista, é apenas uma questão de tempo para
encontrar aqueles que o queiram receber, e além disso, se não se pudesse esperar a posse do
Reino do Fiat Divino, não era necessário que Eu te manifestasse tantos conhecimentos a respeito
dele, nem te teria manifestado seu Querer que quer reinar, nem sua dor porque não reina; quando
uma coisa não se pode efetuar é inútil falar dela, portanto não teria tido nenhum interesse de dizer
tantas coisas a respeito de minha Vontade Divina. Então só falar sobre Ela é sinal de que quero
que venha sua posse".
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