ESCOLA DA DIVINA VONTADE- TRIGÉSIMA PRIMEIRA SEMANA DE ESTUDOS

 aula cap444 Maria Valtorta

LIVRO DO CÉU: VOLUME 1

(212) Na manhã desse dia, Jesus fez-se ver de novo todo afável, doce e majestoso, juntamente
com a sua Mãe Santíssima e Santa Catarina. Primeiro os anjos cantaram um hino, Santa Catarina
me assistia, a Mãe tomou minha mão e Jesus pôs em meu dedo o anel, depois nos abraçamos e
me beijou, e assim fez também a Mãe. Depois tivemos um colóquio todo de amor, Jesus falava-me
do grande amor que me tinha, e eu dizia-lhe também do amor com que o amava. A Santíssima
Virgem fez-me compreender a grande graça que tinha recebido e a correspondência que devia dar
ao Amor de Jesus.
(213) Meu esposo Jesus me deu novas regras para viver mais perfeitamente, mas como passou
muito tempo não as recordo muito bem, por isso não as digo, e assim terminou aquele dia.
(214) Quem pode dizer as finezas de amor que Jesus fazia a minha alma? Eram tais e tantas, que
é impossível descrevê-las, mas o pouco que recordo tratarei de dizê-lo. Às vezes, transportando-
me com Ele, levava-me ao Paraíso, e ali escutava os cânticos dos bem-aventurados, via a
Divindade, os diversos coros dos anjos, as ordens dos santos, todos imersos, absorvidos e
identificados na Divindade de Deus. Parecia-me que em torno do trono havia muitas luzes, como
se fossem mais que sóis resplandecentes e a claras notas estas luzes denotavam todas as virtudes
e atributos de Deus. Os bem-aventurados, refletindo-se em uma destas luzes, ficavam arrebatados,
mas não chegavam a penetrar toda a imensidão daquela luz, de modo que passavam a uma
segunda luz sem compreender a fundo a primeira. Assim, os bem-aventurados no Céu não podem
compreender perfeitamente a Deus, porque é tanta a Imensidão, a Grandeza, a Santidade de
Deus, que mente criada não pode compreender um Ser incriado. Agora, os bem-aventurados
refletindo-se nestas luzes, parecia-me que vinham participar nas virtudes destas luzes, assim que a
alma no Céu se assemelha a Deus, com esta diferença: que Deus é aquele Sol grandíssimo, e a
alma é um pequeno sol. Mas quem pode dizer tudo o que nessa beata morada se compreende?
Enquanto a alma se encontra nesta prisão do corpo é impossível, enquanto na mente se escuta
algo, os lábios não encontram palavras para poder explicar-se, me parece como uma criança que
começa a balbuciar, que gostaria de dizer tantas e tantas coisas, Mas afinal parece que ele não
sabe dizer uma palavra clara, por isso, vou direto ao assunto. Só direi que às vezes, enquanto me
encontrava naquela bem-aventurada pátria, passeava junto com Jesus no meio dos coros dos
anjos e dos santos, e como eu era nova esposa todos os bem-aventurados se uniam conosco para
participar das alegrias de nosso matrimonio, me parecia que esqueciam seus contentamentos para
cuidar dos nossos, e Jesus me mostrava aos santos dizendo:
(215) "Vejam esta alma, é um triunfo do meu Amor, meu Amor tudo superou nela".
(216) Outras vezes me fazia ficar no lugar que me tocava e me dizia: "Este é seu lugar, ninguém
pode te tirar". E às vezes eu chegava a acreditar que não devia voltar mais à terra, mas em um
simples instante me encontrava fechada no muro deste corpo. Quem pode dizer o quão amargo eu
estava de volta? A mim me parecia, pelas coisas do Céu, que as desta terra tudo era podridão,
insípido, fastidioso; as coisas que tanto deleitam aos demais, para mim eram amargas, as pessoas
mais amadas, mais respeitáveis, que os demais quem sabe o que teriam feito para entreter-se com
elas, a mim me resultavam indiferentes e até fastidiosas, só vendo-as como imagens de Deus me
parecia que podia suportá-las, mas minha alma tinha perdido toda satisfação, nada lhe dava a
menor sombra de contentamento, e era tanta a pena que eu sentia que não fazia mais do que
chorar e lamentar-me com meu amado Jesus. Ah! Meu coração vivia inquieto, entre contínuas
ânsias e desejos, me sentia mais no Céu que na terra, sentia em meu interior uma coisa que me
roía continuamente, tanto, que me resultava amargo e doloroso ter que continuar vivendo. Mas a
obediência pôs um freio a estas penas minhas, mandando-me absolutamente que não desejasse
morrer, e que só devia morrer quando o confessor me desse a obediência. Então para cumprir esta
santa obediência fazia quanto mais podia para não pensar nisso, porque meu interior era uma
contínua jaculatória de desejo de me querer ir. Assim, em grande parte meu coração se acalmou,
mas não de todo. Confesso a verdade, muito faltou nisto, mas o que podia fazer? Não sabia deter-
me, para mim era um verdadeiro martírio. Meu benigno Jesus me dizia:

(217) "Acalma-te, qual é a coisa que tanto te faz desejar o Céu?"
(218) E eu lhe dizia: "Porque quero estar sempre unida Contigo, minha alma não resiste mais estar
separada de Ti, não só por um dia, nem sequer por um momento, por isso a qualquer custo quero
ir".
(219) "Pois bem". Dizia-me. "Se é por Mim te quero contentar, virei a estar contigo".
(220) Eu lhe dizia: "Mas logo me deixa e eu te perco de vista, em troca no Céu não é assim, lá
jamais te perderei de vista"

2-43
Junho 25, 1899

Jesus fala da Fé.

(1) Esta manhã Jesus continua a fazer-se ver de vez em quando, participando-me um pouco de
seus sofrimentos e às vezes via o confessor com Ele, e como ele me havia dito que rezasse
por certas necessidades suas, Vendo-o juntamente com Nosso Senhor, comecei a rezar a
Jesus para que lhe concedesse o que Ele queria. Enquanto eu lhe rogava, Jesus, toda
bondade se dirigiu ao confessor e lhe disse:
(2) "Quero que a fé te inunde por toda parte, como aquelas barcas que são inundadas pelas
águas do mar, e como a fé sou Eu mesmo, sendo inundado por Mim, que tudo possuo, posso e
dou livremente a quem em Mim confia, sem que tu penses no que virá, e ao quando e o como e
o que farás, Eu mesmo, segundo as tuas necessidades me prestarei a socorrer-te".
(3) Depois ele adicionou: "Se te exercitares nesta fé, quase nadando nela, em recompensa te
infundirei no coração três alegrias espirituais: O primeiro, que penetrarás as coisas de Deus
com clareza e ao fazer coisas santas te sentirás inundado por uma alegria, por um gozo tal,
que te sentirás como empapado, e esta é a unção da minha graça.
(4) O segundo é um aborrecimento das coisas terrenas e sentirás em teu coração alegria pelas
coisas celestiais.
(5) O terceiro é um desapego total de tudo, e onde antes sentia inclinação, sentirá um
incômodo, como há tempos o estou infundindo em seu coração, e você já o está
experimentando. E por isso teu coração será inundado pela alegria que gozam as almas
totalmente desapegadas, que têm seu coração tão inundado de meu amor, que das coisas que
as rodeiam externamente não recebem nenhuma impressão".

3-34
Fevereiro 4, 1900

Desconfiança.

(1) Encontrando-me num estado cheio de desencorajamento, especialmente pela privação do meu
sumo Bem, esta manhã, apenas deixando-se ver, disse-me:
(2) "O desânimo é um humor infeccioso que infecta as mais belas flores e os mais agradáveis
frutos e penetra até o fundo da raiz, de modo que aquele humor infeccioso, invadindo toda a
árvore, a murcha, a torna esquálida, e se não se lhe põe remédio regá-la com o humor contrário,
como aquele humor mau se introduziu até a raiz, seca a raiz e faz cair por terra a árvore. Assim
acontece à alma que se embebe deste humor infeccioso do desalento".
(3) Apesar de tudo isso eu me sentia ainda desalentada, toda encolhida em mim mesma e me via
tão má que não me atrevia a me jogar para o meu doce Jesus. Minha mente estava ocupada
pensando que para mim era inútil esperar como antes as contínuas visitas d'Ele, suas graças, seus
carismas, tudo para mim tinha terminado. E Ele, quase me repreendeu, adicionou:
(4) "O que você faz? O que você faz? Você não sabe que a desconfiança deixa a alma moribunda?
que pensando que deve morrer não pensa mais em nada, nem em adquirir, nem em comerciar,
nem em embelezar-se mais, nem em pôr remédio a seus males, não pensa outra coisa senão que
para ela tudo terminou. E não só volta a alma moribunda, senão que a desconfiança põe a todas as
virtudes em perigo de expirar".
(5) "Ah Senhor! imagino ver este espectro de desconfiança, triste, murcho, medroso e todo trêmulo,
e toda a sua mestria, não com outra astúcia mas apenas com o medo, conduz as almas para o
túmulo. Mas o que é pior, é que este espectro não se mostra como inimigo, porque então a alma
poderia burlar-se de seu medo, senão que se mostra como amigo, e se infiltra tão docemente na
alma, que se a alma não está atenta, parecendo-lhe que é um amigo fiel que agoniza junto e chega
a morrer junto com ela, dificilmente se saberá liberar de sua artificiosa maestria.

3,35
Fevereiro 5, 1900
(1) Continuando o mesmo estado, com um pouco mais de ânimo, embora não perfeitamente livre,
meu amadíssimo Jesus ao vir me disse:
(2) "Minha filha, às vezes a alma sente uma luta em alguma virtude, e a alma esforçando-se supera
aquele combate; então a virtude fica mais resplandecente e mais radicada na alma. Mas a alma
deve estar atenta para evitar que ela mesma não forneça a corda para fazer-se atar pela
desconfiança, e isto o fará ao restringir-se sempre, sem sair jamais, no círculo da verdade, que é o
conhecimento do próprio nada".

4-52
Janeiro 30, 1901

As virtudes, os meritos de Jesus, são tantas torres de força, nas quais cada um pode
apoiar-se no caminho para a Eternidade. O veneno do interesse.

(1) Esta manhã ao vir o bendito Jesus me transportou para fora de mim mesma, no meio de muitas
pessoas de diferentes condições: sacerdotes, monjas, leigos, e Jesus dando um doloroso lamento
disse:
(2) "Minha filha, o veneno do interesse entrou em todos os corações, e como esponjas ficaram
encharcados deste veneno. Este veneno pestífero penetrou nos mosteiros, nos sacerdotes, nos
leigos. Minha filha, o que não cede à luz da verdade e à potência da virtude, cede ante um vilíssimo
interesse, e as virtudes mais sublimes e excelsas, ante este veneno, como frágil vidro caem feitas
pedaços".
(3) E enquanto dizia isto chorava amargamente. Agora, quem pode dizer o rasgo de minha alma ao
ver chorar a meu amorosíssimo Jesus? Não sabendo o que fazer para que deixasse de chorar
disse disparates: "Meu amado, ah! não chores, se os outros não te amam, te ofendem e têm os
olhos cegos pelo veneno do interesse, de modo que por ele ficam todos embebidos, estou eu que
te amo, te louvo, e olho como imundícia tudo o que é terreno, e não anseio mais que a Ti, por isso
deveria ficar contente com meu amor e deixar de chorar, e se te sentes amargurado derrama em
mim tuas amarguras, que estarei mais contente, antes que te veja chorar".
(4) Ao ouvir-me deixou de chorar, derramou um pouco e logo me participou as dores da cruz, e
depois acrescentou:
(5) "Minhas virtudes e os méritos adquiridos para o homem em minha Paixão, são tantas torres de
fortaleza nas quais cada um pode apoiar-se no caminho para a Eternidade, mas o homem ingrato,
fugindo destas torres de fortaleza, apoia-se na lama, e é conduzido para o caminho da perdição".
(6) Então Jesus desapareceu, e eu me encontrei em mim mesma.

6-50
Julho 22, 1904
Só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma.

(1) Continuando meu habitual estado, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, quando a alma se propõe não pecar, ou bem fazer um bem e não segue os
propósitos feitos, significa que não se faz com toda a vontade, e que a luz divina não teve contato
com a alma, porque quando a vontade é verdadeira e a luz é divina, lhes faz conhecer o mal a
evitar ou o bem a fazer, e dificilmente a alma não segue o que se propôs, e isto porque a luz divina
não vendo a estabilidade da vontade, não fornece a luz necessária para evitar um e para fazer o
outro, no máximo podem ser momentos de desventura, abandonos de criaturas, ou qualquer outro
acidente pelo que a alma parece que se quereria destruir por Deus, que quer mudar de vida, mas
apenas o vento dos acidentes muda, que logo muda a vontade humana. Assim, em vez de vontade
e luz, pode-se dizer que há uma mistura de paixões segundo as mudanças dos ventos. Assim que
só a estabilidade é a que faz conhecer o progresso da Vida Divina na alma, porque sendo Deus
imutável, quem o possui participa de sua imutabilidade no bem".

7-45
Setembro 18, 1906

A paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus.

(1) Depois de ter esperado muito, sentia-me toda oprimida e um pouco perturbada, pensando no
por que não vinha meu adorável Jesus. Então veio e me disse:
(2) "Minha filha, a paz é luz à alma, luz ao próximo e luz a Deus, assim que uma alma em paz é
sempre luz, e sendo luz está sempre unida à Luz eterna, da qual toma sempre nova luz para
poder dar também luz aos demais; assim se queres sempre nova luz, esteja em paz”.

8-38
Junho 22, 1908

A Divina Vontade triunfa sobre tudo.

(1) Esta manhã me sentia muito oprimida pela privação de meu adorável Jesus, e dizia entre mim:
"Não posso mais, como posso viver sem minha Vida? Que paciência é necessária sem Ti! Qual
será a virtude que poderá induzi-lo a vir?" Enquanto estava nisto, veio e me disse:
(2) "Minha filha, a virtude que triunfa sobre tudo, que conquista tudo, que aplana tudo, que adoça
tudo, é a Vontade de Deus, porque esta contém tal poder que não há nada que lhe possa resistir".
(3) Enquanto dizia isto, aparecia diante de mim um caminho todo cheio de pedras, de espinhos e
de montes escarpados. Tudo isso, posto na Vontade de Deus, com seu poder as pedras ficavam
pulverizadas, os espinhos mudados em flores e os montes aplanados, assim que na Vontade de
Deus todas as coisas têm um só aspecto, todas tomam a mesma cor. Seja sempre bendita sua
Santíssima Vontade!

9-39
Agosto 3, 1910

O pecado voluntário decompõe os humores na alma.

(1) Encontrando-me não meu estado habitual, assim que Jesus me disse:
(2) "Escuta, minha Ilha, as misérias, as fraquezas, são meios para encontrar-se não porto da
Divindade, porque a alma sentindo o fardo das misérias humanas, aborrece-se, si enfastia e
procura desembaraçar-se de si, e desembaraçando de si já se encontra em Deus".
3) Depois de ter posto o meu braço à volta do seu pescoço, estreitava-me e rosto e desapareceu.
Depois, ao retornar eu voltei a lamentar-me porque fugia como um relâmpago, e sem dar-me tempo
me disse:
(4) "Já que te desagrada, aceita-me, experimenta-me como queiras e não me deixes fugir".
(5) E eu: "Bravo, bravo Jesus, que bela proposta me fazes, mas contigo se pode fazer isto?

Enquanto te deixas atar, estreitar-te por quanto mais se pode, no melhor desapareces e não te
deixas encontrar mais, bravo por Jesus que quer zombar de mim; mas do resto faz o que Tu
queiras, o que me importa é que me digas em que te ofendo, em que coisa te desagradei que já
não vens como antes".
(6) E Jesus acrescentou: "Minha filha, não te esforces, quando há verdadeira culpa não é
necessário que o diga Eu, a alma por si só o adverte, porque o pecado, quando é voluntário,
transtorna os humores naturais, e o homem recebe como uma transformação no mal, sente como
uma impregnação da culpa que voluntariamente é cometida, bem como também a verdadeira
virtude transforma a alma no bem e os humores ficam todos combinados entre eles, a natureza
sente como impregnar-se de doçura, de caridade, de paz; assim é o pecado. Então, já alguma vez
notaste esta confusão? Sentiste-te como se estivesse impregnada de impaciência, de ira, de
distúrbios?"
(7) E enquanto dizia isto, parecia que me olhava até muito fundo para ver se algo disso havia em
mim, e parecia que não havia nada, e continuou:
(8) "Viste tu mesma?"
9) E não sei por que, mas enquanto dizia isso me fazia ver terremotos com destruição de cidades
inteiras, revoluções, e tantas outras desgraças, e desapareceu.

 

35
10-34
Outubro 15, 1911

Pede a Jesus que queime a todos em amor.

(1) Esta manhã o bendito Jesus se fazia ver queimando-se de amor, o fôlego que lhe saía era tão
ardente, que parecia que fosse suficiente para queimar a todos de amor se o quisesse, então lhe
disse: "Jesus, meu amor, como é ardente teu alento, queima a todos, dá amor a todos,
especialmente àqueles que o querem".
(2) E Ele: "Queima tu a todos aqueles que se aproximam de ti".
(3) E eu: "Como posso queimá-los se eu não estiver queimada?" E naquele momento parecia que
queria falar de castigos, e eu: "Quer te comportar como impertinente, agora não, depois se pensará
nisso". Então parecia que os santos rogavam ao meu doce Jesus para ver se podiam me levar com
eles ao Céu, e eu: "Olha Jesus como são bons os santos que querem me levar com eles, e Você
não, não que Você não seja bom, mas não é bom comigo porque Você não me leva. Oh, como
todos são cruéis, crueldade maior que esta não se pode dar, que me querem ter atada à terra!"
Jesus se retirou deixando-me amarga.

11-66
Novembro 18,1913
Tanto bem pode produzir a cruz, por quanta conexão tem a alma com a Vontade de Deus.

(1) Estava pensando em meu pobre estado e como até a cruz se afastou de mim, e Jesus em
meu interior me disse:
(2) "Minha filha, quando duas vontades estão opostas entre elas, uma forma a cruz da
outra; assim é entre Eu e as criaturas: Quando sua vontade está oposta à Minha, Eu formo a
cruz delas e elas a cruz minha, assim que Eu sou a haste longa da cruz e elas a curta, que se
cruzam formam a cruz. Agora, quando a vontade da alma se une com a Minha, as hastes não
ficam mais cruzadas, senão unidas entre elas, e portanto a cruz não é mais cruz, entendeu? E
além disso, Eu santifiquei a Cruz, não a Cruz a Mim, por isso não é a Cruz que santifica, é a
resignação à minha Vontade que santifica a Cruz; portanto, também a Cruz pode fazer tanto bem
quanto a conexão que tem com a minha Vontade, não só isto, a Cruz santifica, crucifica parte da
pessoa, mas a minha Vontade não lhe escapa nada, santifica tudo e crucifica os pensamentos,
os desejos, a vontade, os afetos, o coração, tudo, e sendo luz, minha Vontade faz ver à alma a
necessidade desta santificação e crucificação completa, de modo que ela mesma me incita a
querer cumprir o trabalho de minha Vontade nela. Assim que a cruz e todas as outras virtudes se
contentam em ter alguma coisa, e se podem cravar à criatura com três pregos se alegram e
cantam vitória; em troca minha Vontade, não sabendo fazer obras incompletas, não se contenta
com três pregos, mas com tantos pregos por quantos atos de minha Vontade disponho sobre a
criatura".


cap444 Valtorta (Revelação dos méritos de Jesus)   (baixepdf)
444.

Os dotes de Marziam. Lições sobre a caridade, a salvação, os méritos do Salvador.

30 de maio de 1946. (Ascensão)

-Onde foi que deixaste as barcas, Simão, quando vieste para Nazaré? pergunta-lhe Jesus, enquanto vai caminhando rumo ao nordeste, virado de costas para a planície de Esdrelon, indo para frente na direção do Tabor.

- Eu as fiz voltar para a pesca, Mestre. Mas eu disse que devem encontrar-se em Tariqueia de três em três dias... Eu não sabia quanto tempo haveria de ficar contigo.

- Muito bem. Quem de vós quer ir avisar à minha mãe e a Maria de Alfeu que venham encontrar-se conosco em Tiberíades? Na casa de José será o encontro.
- Fale quem deve ir, será melhor.

- Nesse caso, vão Mateus, Filipe, André e Tiago de Zebedeu. Os Mestre... nós todos gostaríamos de ir. Então, manda Tu quem é outros venham comigo a Tariqueia. Direis às mulheres o motivo do atraso. E que elas fechem as casas e venham. Estaremos juntos durante um mês inteiro. Ide. Pois aqui já está a encruzilhada. A paz es-IP. tela convosco. III' Ele beija os quatro, que se separam, e continua a marcha com os outros.
Mas, depois de darem uns poucos passos, Jesus pára e observa Marziam, que vem andando com a cabeça inclinada, um pouco atrás. Quando o jovenzinho o alcança, Jesus lhe põe a mão por sob o queixo, fazendo-o levantar o rosto.

- Irias tu de boa vontade também a Nazaré?

- Sim, Mestre... Mas faze o que Tu quiseres.

- Eu quero que tenhas um conforto, meu filho... Vai... Corre atrás daqueles. A Mãe te consolará». E o beija e o deixa ir. Marziam se põe a correr, alcançando logo os quatro.

- É ainda um menino..., observa Pedro. - E está sofrendo muito...

Ele me dizia ontem à tarde, quando o encontrei dormindo num dos cantos da casa: "E como se tivessem morrido ontem meu pai e minha mãe... A morte do velho pai me reabriu completamente o coração...", diz João.

- Pobre filho! Mas foi bom que ele estivesse presente àquela morte..., diz Zelotes.

-Ele tinha posto na cabeça a ideia de poder ajudar ao velho! Assim me dizia Porfirio, que ele fazia sacrifícios de toda espécie para Poder ajuntar o dinheiro. Trabalhou nos campos, buscou lenha para os fornos, pescou, deixou de comer os queijinhos e o mel para vendê-los. Tinha aquele espinho no coração e queria ter consigo o velho,.. mas..., diz Pedro.

- É um homem de propósitos sérios. Não lhe pesam os sacrifícios com que disciplina e o trabalho. Que belos dotes!. diz Bartolomeu

- Sim. É um bom filho e será um dos melhores discípulos. Vede com que disciplina ele se regula, mesmo nos momentos de maior perturbação... Seu coração aflito estava desejando a presença de Maria, mas ele não pediu para ir a ela. Ele compreendeu tão bem, o que é a força da oração, que se adiantou acima de muitos adultos, diz Jesus.

- Crês que ele faça os seus sacrifícios por alguma intenção prefixada?, pergunta Tomé.

- Disso tenho certeza.

- É verdade. Ontem, ele deu as frutas a um velho, dizendo-lhe: "Reza pelo pai de meu pai, que morreu há pouco tempo.;¨ Eu então o observei: "Ele está em paz, Marziam. Não crês que tenha sido válida a absolvição de Jesus?".

E ele me respondeu: "Creio que foi válida. Mas eu penso que, ao oferecer sufrágios às almas, pelas quais ninguém reza, eu digo: se ao meu pai isto não é mais necessário, que estes sacrifícios sirvam para aqueles por quem ninguém reza." E eu fiquei edificado com isso, diz Tiago de Alfeu.

- Sim, diz Pedro. Ontem mesmo, ele veio a mim, jogando-me os braços ao pescoço, pois ele é ainda menino em seus sentimentos. Disse-me: "Agora tu és mesmo o meu pai... e eu te entrego o que a tua bondade me tinha feito ajuntar. Aquele dinheiro não serve mais ao velho pai... e tu e Porfiria fazeis tanto por mim„ .'' Eu, tendo dificuldade em reter as lágrimas, lhe respondi: "Não, meu filho. Vamos usar aquele dinheiro dando esmolas aos velhos necessitados, ou para orfãozinhos pobres, e Deus usará as tuas esmolas para aumentar a paz do pobre velho."

E Marziam me deu dois beijos tão fortes, que... eu não fui capaz de reter as lágrimas. E, corno te esta ' eido, Bartolomeu, por te teres feito pagador das despesas. Ele agradecia: "Para mim as honras prestadas ao velho não têm preço. Vou dizer ao Bartolomeu que me torne para seu servo"
- Oh! Pobre filho! Nem por uma hora. Ele serve ao Senhor e edifica a todos nós. Eu prestei honras a um justo. Eu o podia fazer, porque o meu nome é conhecido e, para mim, é fácil achar quem vá antes de mim. Em Betsaida vou prover ao pagamento da pequena dívida, que afinal, foi uma ninharia.

- Sim, diz Jesus. Como dinheiro é pouca coisa, pois que os de Jezrael foram generosos. Mas o teu amor para com o condiscípulo não foi nenhuma ninharia. Porque todo ato de amor é de grande valor... Vós vos estais formando para este amor ao próximo, que é a segunda parte do preceito básico da Lei de Deus, mas que, na verdade, tinha sido muito deixado de lado em Israel. Os muitos preceitos, as minuciosidades vieram ocupar da forma profunda, simples e completa a Lei do Sinai, vendo desfigurar a primeira parte do preceito básico, reduzindo-o a um montão de ritos exteriores, aos quais falta o que lhes dá a consistência, o valor, a verdade, isto é, falta-lhes a aderência ativa do interior com as obras que manda cumprir, com as tentações que ensina a superar, por meio das obras do culto externo. Que valor pode ter, aos olhos de Deus, a ostentação de um culto, quando depois, no interior do coração, não se ama a Deus, não nos aniquilamos no amor cheio de veneração a Deus, deixando de adorá-lo e admirá-lo, para dar amor às coisas por Ele feitas e, em primeiro lugar ao homem, que é a obra-prima da Criação terrestre?

Estais vendo em que consistiu o erro de Israel? Foi o de ter feito de um único preceito dois preceitos, continuando, tendo, mais tarde, com a decadência espiritual, separado o segundo do primeiro, como se corta um ramo inútil. Não era um ramo inútil, nem eram dois ramos. Era um único tronco que, desde sua base, se havia ornado com as singulares virtudes dos dois amores. Olhai aquela figueira grande, que nasceu lá em cima, naquele outeiro. Nasceu lá espontaneamente e, quase desde a raiz, isto é, mal brotou do chão, apareceu já com dois ramos, tão perto um do outro que as duas cascas aderiram a de um com a do outro. Mas cada um dos dois lançou depois suas copas para os lados, de um modo tão bonito, que deram o nome de "Casa da Figueira Gêmea" a este pequeno lugarejo, que está sobre esta pequena colina. Pois bem. Se alguém quisesse agora separar os dois troncos, que no princípio são um só tronco, precisaria fazer uso do machado ou do serrote. Mas que faria? O que faria era matar a planta ou, se fosse tão perito em manejar o machado e o serro-te, de modo a ferir só um dos dois troncos, dos dois salvaria um, mas o Outro inexoravelmente morreria e o supérstite, embora vivo, estaria mal em sua vida, ficaria triste sem produzir mais fruto ou muito Pouco fruto. Foi isso mesmo que aconteceu em Israel. Quiseram dividir, separar as duas partes, que estavam tão bem unidas, a ponto de formarem uma só coisa, quiseram retocar o que já estava perfeito. pois toda obra de Deus é perfeita.

E, por isso, se Deus no Sinai deu a ordem de amar ao Deus Santíssimo e ao próximo, em um único preceito, é claro que não são dois preceitos, que podem ser praticados independentemente um do outro, mas são um só preceito. E, não me bastando nunca formar-vos para esta sublime virtude (caridade), a que sobe com a alma ao Céu, porque é a única que continua a existir no Céu, por isso insisto sobre ela, que é a alma de toda a vida do espírito (caridade), sob qual perde a vida, se perder a Caridade, porque perde a Deus.

Ouvi-me. Fazei de conta que à vossa casa venham bater um dia dois esposos muito ricos, pedindo hospedagem para toda a sua vida. Vós podereis dizer: "Aceitamos o esposo, mas não queremos a esposa", sem quererdes ouvir isto que o esposo responde: "Assim não pode ser, porque eu não posso separar-me da carne da minha carne. Se vós não a quereis acolher, eu também não posso ficar junto de vós e vou-me embora com todos os meus tesouros, dos quais eu vos teria feito participantes?"

Deus está unido à Caridade. Esta é verdadeiramente mais íntima do que o amor de dois esposos, que se amam intensamente como espírito do seu Espírito. A Caridade é o próprio Deus. A Caridade não é mais do que o aspecto mais ostensivo (que se revela por evidências), e mais ilustrativo de Deus. Entre todos os seus atributos, ela é o atributo-rei, o atributo-origem, porque todos os outros atributos de Deus ainda nascem da Caridade. Que é o Poder, senão a Caridade que age? Que é a Sabedoria, senão a Caridade que ensina? Que é a Misericórdia, senão a Caridade que perdoa? Que é a Justiça, senão a Caridade que exorta... E Eu poderia continuar assim, tratando de todos os atributos de Deus.

Agora, conforme o que acabo de dizer, podeis vós pensar que quem não tem a Caridade tem a Deus? Não tem. Pode ele possa acolher a Deus e não a Caridade? A Caridade que é única,  abraçando o Criador e as criaturas, e que não se pode ter dela somente uma metade, aquela que se dá ao Criador, sem que se tenha também a outra metade, a que se deve ter para com o próximo.
Deus está nas criaturas. Nelas está com o seu sinal indestrutível, com os seus direitos de Pai, de Esposo, de Rei. A alma é o trono Dele, seu corpo, seu templo. Mas o que não ama um seu irmão, o despreza,, despreza, faz sofrer e desconhece o Dono do casa do seu irmão, o Esposo (Deus), e é natural que este grande Ser, que é tudo, e que está presente em um irmão, em todos os irmãos, tome como feita a Si a ofensa feita ao ser menor, à parte do Todo, isto é, a cada homem.

Por isso Eu vos ensinei as obras de misericórdia corporais e espirituais, por isso Eu vos ensinei a não julgar, a não desprezar, a não repelir os irmãos, tanto bons como maus, fiéis ou gentios, amigos ou inimigos, ricos ou pobres. Quando em um tálamo (ventre materno) se realiza uma concepção, esta se realiza com um mesmo ato, tanto em um tálamo de ouro, como sobre a esteira do estábulo. E a criatura que se forma no seio de uma rainha não é diferente da que se forma no seio de uma mendiga, mas é igual em todos os pontos da terra, seja qual for a religião delas.

Todas as criaturas nascem como nasceram Abel e Caim do seio de Eva. E à igualdade da concepção, formação e modo de nascer dos filhos de um homem e de uma mulher sobre a terra, corresponde a uma outra igualdade no Céu, a criação de uma alma a ser infundida no embrião para que ele seja de homem e não de animal, o acompanhe, desde o momento em que foi criado até a morte, e lhe sobreviva na esperança da ressurreição universal para se unirem de novo, agora, no corpo ressuscitado, e receber com ele o prêmio ou o castigo. O prêmio ou o castigo, de acordo com as ações praticadas durante a vida terrena. Para que não fiqueis pensando que a Caridade seja injusta e que só porque muitos não serão de Israel ou de Cristo, mas sendo virtuosos na religião que seguem, convencidos de que ela é verdadeira, tenham que ficar para sempre sem prêmio. Depois do fim do mundo, não sobreviverá outra virtude, a não ser a caridade, isto é, a união com o Criador de todas as criaturas, que viveram com justiça.

Não haverá muitos céus, um para Israel, um para os cristãos, um para os católicos, um para os gentios, um para os pagãos. Não haverá mais de um. Haverá um só Céu. Portanto, haverá um só prêmio: Deus, o Criador, que se reúne com suas criaturas que viveram na justiça, nas quais, pela beleza dos espíritos e dos corpos dos Santos, admirar-se-á de Si mesmo, com uma alegria de Pai e de Deus. Haverá um só Senhor. Não um Senhor para Israel, outro para o Catolicismo, outro para cada uma das outras religiões.

Agora vou revelar-vos uma grande verdade. Lembrai-vos dela.  Transmiti-a aos vossos sucessores. Não fiqueis sempre esperando que o Espírito Santo esclareça as verdades, depois de anos e séculos de obscurantismo. Ouvi. Vós talvez direis: "Mas, então, que vantagens há em sermos da religião que é santa, se no fim do mundo iremos ser tratados todos do mesmo modo, como o serão os gentios?" Eu vos respondo: É a mesma a justiça que há, é uma verdadeira Justiça para aqueles que, mesmo sendo da verdadeira religião santa, ainda não forem felizes, por não terem vivido como santos. Um pagão virtuoso, somente por ter vivido virtuosamente, convencido de que sua religião era boa, terá, no fim, o Céu. Mas, quando? No fim do mundo, quando, das quatro moradas dos mortos, só duas subsistirão, isto é, o Céu e o Inferno.

Porque a Justiça, naquele momento, só poderá conservar e dar os dois reinos a quem, da árvore do livre arbítrio quis escolher os frutos bons ou quis os frutos maus. Quanto se terá que esperar antes que um pagão virtuoso chegue àquele prêmio!? Não pensais nisso??

E essa espera, especialmente a partir do momento no qual a Redenção, com todos os seus consequentes prodígios, já se tiver verificado, o Evangelho tiver sido pregado, é que será a purificação das almas, que viveram como justas em outra religião, mas não puderam entrar na verdadeira Fé, depois de a terem conhecido como existente e de provada realidade. Para esses o Limbo, pelos séculos dos séculos até o fim do mundo. Para os que creem no verdadeiro Deus, mas não souberam ser heroicamente santos, haverá um longo purgatório que para alguns poderá terminar no fim do mundo.

Mas, depois da expiação e da espera, seja qual for a sua proveniência, estarão todos à direita de Deus. E os maus, seja qual for a sua proveniência, à esquerda, e depois, no Inferno horrível, enquanto o Salvador entrará, com os bons, no Reino eterno.

- Senhor, perdoa, se eu não te entendo. O que estás dizendo é muito difícil... pelo menos para mim... Tu dizes sempre que és o Salvador e que redimirás aos que creem em Ti. E, então, aqueles que não creem, ou porque não te conheceram, por terem vivido antes de Ti, ou então, como é grande este mundo, por não terem tido notícia de Ti, como poderão ser salvos?, pergunta Bartolomeu.

Eu já to disse: pela vida de justos deles, por suas boas obras pela fé deles, que eles creem ser a verdadeira. Mas eles não recorreram ao Salvador...

— Mas o Salvador sofrerá também por eles. Não fazes ideia filho de Tolmai, de qual seja a amplitude de valor que terão os meus méritos de Homem-Deus.

-Meu Senhor, sempre menores que os de Deus, que aos que Tu tens, desde todo o sempre.

- Resposta justa e não justa resposta. Os méritos de Deus são infinitos, dizes tu, Tudo é infinito em Deus. Mas Deus não tem méritos, no sentido de não ter merecido. Ele tem os atributos de suas próprias virtudes. Ele é o que é: a Perfeição, o Infinito, o Onipotente. Mas, para merecer, precisa cumprir, com esforço, alguma coisa que seja superior à nossa natureza. Não é um mérito comer, por exemplo. Mas pode granjear um mérito o saber comer, por exemplo. Pois pode granjear um mérito, o saber comer moderadamente, fazendo até verdadeiros sacrifícios para dar aquilo que economizamos aos pobres. Também não é nenhum mérito estarmos calados. Mas o pode ser, quando o fazemos para não rebater a uma ofensa. E assim por diante. Agora tu compreendes que Deus não tem necessidade de esforçar-se, pois é Perfeito e Infinito. O Homem-Deus pode esforçar-se a Si mesmo, humilhando a infinita Natureza divina sob uma limitação humana, vencendo a natureza humana, que não está ausente, nem é metafísica nele, mas é real com todos os sentidos e sentimentos, com as suas possibilidades de sofrimento e de morte, com sua vontade livre. Ninguém ama a morte especialmente se ela é dolorosa, se é antes do tempo e não merecida. Ninguém a ama. E, no entanto, todo homem deve morrer. Por isso, ele deverá olhar para a morte, com a mesma calma com que ele vê ir-se acabando tudo o que tem vida. Pois bem. Eu me esforço com minha humanidade para amar a morte. E não só isso. Eu escolhi a vida para poder ter a morte. Pela humanidade. Por isso na minha veste de Homem-Deus adquiro aqueles merecimentos que, permanecendo Deus. Eu não podia adquirir. E com eles, que são infinitos por causa da forma com que os adquiro, pela natureza divina unida à humana, pelas virtudes da Caridade e da Obediência, com as quais Eu me coloquei em condições de os merecer pela Fortaleza, Justiça, Temperança e Prudência, por todas as virtudes que Eu pus no meu coração para torná-lo agradável a Deus, meu Pai.

Eu terei um poder infinito, não só como Deus, mas como homem que se imola por todos, ou seja, que atinge o limite máximo da Caridade. É o sacrifício o que dá merecimento. Eu completo o sacrifício e completo o mérito. Perfeito o sacrifício e perfeito o mérito. E esse merecimento pode ser usado, segundo a santa vontade da vítima, à qual o Pai diz: "Seja como tu queres", porque ela o amou sem medida, amou o próximo sem medida. Eis que Eu vo-lo digo. O mais pobre dos homens pode ser o mais rico e beneficiar um número sem medida de irmãos, se ele souber  até ao sacrifício. Eu vo-lo digo: Ainda que não tivésseis nem mesmo uma migalha de pão, um copo d'água, uma veste esfarrapada, vós sempre podeis fazer benefícios. Como? Rezando e sofrendo pelos irmãos. Fazendo benefícios a quem? A todos. De que modo? De mil modos, todos santos, porque, se vós souberdes amar, sabereis agir como Deus, ensinar, perdoar, administrar, e, como o Homem-Deus, até redimir.

-Senhor, dá-nos essa Caridade, suspira João.

- Deus vô-la dá, porque a vós Ele se doa. Mas vós deveis acolhê-la e praticá-la sempre com maior perfeição. Nenhum acontecimento deve ser por vós separado da caridade. Desde os materiais até os do espírito. Que tudo seja feito com caridade e pela caridade. Santificai as vossas ações, as vossas jornadas, ponde o sal em vossas orações e a luz em vossas obras. A luz, o sabor, a santificação e a Caridade. Sem esta, são nulos os ritos, vãs as orações e falsas as ofertas. Em verdade, Eu vos digo que o sorriso com que um pobre vos saúda como a irmãos, tem mais valor do que um saco de moedas que alguém jogar a vossos pés somente para ser notado. Sabei amar e Deus estará convosco sempre.

- Ensina-nos a amar assim, Senhor.

- Há dois anos que Eu vos venho ensinando. Fazei o que me vedes fazer e estareis na Caridade e a Caridade estará em vós, e sobre vós estará o selo, o crisma, a coroa que vos fará verdadeiramente reconhecer como ministros de Deus-Caridade. Agora à sombra deste lugar. Aqui há grama abundante e sempre temperam o calor. Continuaremos a viagem à tarde...

LUZES INEDITAS NO FINAL DO VIDEO

CAPÍTULO 1
A APRESENTAÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA NO TEMPLO AOS TRÊS ANOS DE IDADE

A arca da aliança, figura de Maria

413. Entre as figuras que, na lei escrita, simbolizam Maria Santíssima, nenhuma foi mais expressiva que a Arca do
Testamento.

A matéria de que era feita, o que continha, o fim para o qual servia, o que por
ela e com ela operava o Senhor naquela antiga Sinagoga. Tudo era um esboço desta Senhora e do que por Ela e com Ela
realizaria em a nova Igreja evangélica.
O cedro incorruptível (Ex 25,10) de que - não por acaso, mas por divina
disposição - foi construída, representa expressamente nossa arca mística, livre da
corrupção do pecado atual e da oculta carcoma do original, com seu inseparável
fomes e paixões.
O finíssimo e puríssimo ouro (Idem, 11) de que era revestida, por dentro
e por fora, indubitavelmente significava a mais perfeita elevação da graça e dons que
em seus divinos pensamentos, ações e costumes resplandecia.
Interior e exteriormente, foi impossível divisar nesta arca, parte, tempo
ou instante, em que não estivesse toda repleta e revestida de graça, e graça de
subidíssimos quilates.

Maria, escrínio de Deus (cofre de pequeno tamanho onde se guardam jóias)

414. As tábuas da lei, feitas de pedra, a urna do maná (Hb 9,4) e a vara
dos prodígios, que aquela antiga Arca continha e guardava, não poderiam simbolizar com maior exatidão o Verbo
humanado. Encerrado na arca viva de Maria Santíssima, foi seu Filho unigênito
a pedra fundamental (ICor 3,11) e viva do edifício da Igreja evangélica; a pedra
angular (Ef 2,20) que uniu dois povos tão opostos, como o judeu e o gentio.
Para isso foi cortada do monte (Dn 2,34) da eterna geração, gravada pelo
dedo de Deus com a nova lei da graça, e depositada na arca virginal de Maria. Entenda-se, portanto, que esta grande Rainha
se tornou a depositária de quanto Deus era e fazia com as criaturas. Guardava também
consigo o maná da Divindade e da graça, o poder e a vara dos prodígios e maravilhas, para que somente nesta divina e mística
Arca se encontrasse a fonte das graças, o mesmo Deus, para Dela transbordarem as
maravilhas e prodígios do poder divino.
Quanto este Senhor é, quer e faz, saiba-se que em Maria está encerrado e depositado.
Maria, propiciatório e trono da graça. A tudo isto, era conseqüente
que a Arca da Aliança (Êx 26,34), não pela figura e sombra, mas pela verdade que
simbolizava, servisse de peanha ou sustentáculo ao propiciatório. Neste pusera o
Senhor seu trono e tribunal de misericórdia, para ouvir seu povo, responder-lhe e
conceder-lhe suas petições e favores.
Assim, em nenhuma outra criatura, fora de Maria Santíssima, colocou Deus
seu trono de graça. Não podia deixar de fazê-la propiciatório, uma vez que havia
construído esta mística e verdadeira Arca para nela se encerrar.
Deste modo, parece que o tribunal da divina justiça ficou reservado a
Deus, enquanto o propiciatório e tribunal da misericórdia foram dados a Maria
dulcíssima. A Ela, como ao trono da graça deveríamos ir com segura confiança, apresentar nossos pedidos, suplicar benefícios
graças e misericórdias que, fora do propiciatório da grande rainha Maria, nem
são ouvidas, nem despachadas para o gênero humano.

Maria, a arca do Novo Testamento, deveria ficar no Templo

416. Tão misteriosa e sagrada Arca, construída pela mão do mesmo Senhor para sua habitação, e propiciatório de
seu povo, não estava bem fora do templo, onde se encontrava guardada a outra arca
material, figura desta verdadeira e espiritual do Novo Testamento.
Por esta razão, ordenou o Autor desta maravilha, que Maria Santíssima
fosse colocada em sua casa, o templo, terminados três anos após seu felicíssimo
nascimento.
Verdade é que, com grande admiração, vejo muita diferença entre o que
sucedeu com aquela primeira e figurativa Arca, e o que acontece com a segunda e
verdadeira.
Quando o rei David trasladou a arca para diferentes lugares, e depois seu
filho Salomão a colocou no templo, seu lugar apropriado - ainda que aquela arca
não tinha outra grandeza senão a de representar Maria Puríssima e seus mistérios -
foram suas trasladações e mudanças festivas e cheias de regozijo para aquele antigo
povo. Testemunharam as solenes procissões que fez Davi da casa de Aminadab e
à de Obededon (2Rs 6,10; 2Par 23; 3Rs 8,5; 2Par 5) e desta ao tabernáculo de Sião
(2Rs 12), cidade de Davi. Finalmente, de Sião trasladada por Salomão ao novo
templo edificado para o Senhor, para casa de Deus e oração.

As trasladações da antiga arca e a apresentação de Maria

417. Em todas estas trasladações, conduziu-se a antiga arca da aliança com
pública veneração, e culto soleníssimo de música, danças, sacrifícios e júbilo daqueles reis e de todo o povo de Israel. Refere-o
a história sagrada nos livros segundo e terceiro dos Reis, e primeiro e segundo dos
Paralipômenos.
Nossa mística e verdadeira Arca, Maria, entretanto, ainda que mais rica, estimável e digna da maior veneração entre
todas as criaturas, não foi levada ao templo com tão solene aparato e ostentação pública. Não houve nesta misteriosa trasladação
sacrifícios de animais, nem pompa real e majestade de Rainha. Foi conduzida da
casa de seu pai Joaquim, nos humildes braços de sua mãe Ana que, embora não
fosse pobre, nesta ocasião levou sua querida Filha para apresentá-la ao templo ao
modo dos pobres, com humilde recolhimento, sozinha e sem ostentação popular.
Toda a glória e majestade desta procissão, quis o Altíssimo fosse divina e
invisível. Os mistérios de Maria Santíssima foram tão elevados e ocultos, que muitos
deles até hoje são desconhecidos, pelos inescrutáveis juízos do Senhor, que reserva tempo e hora oportunos para todas e
cada uma das coisas.

Razão pela qual a apresentação da Virgem foi sem aparato

418. Admirando-me eu, na presença do Altíssimo, desta maravilha e
louvando seus desígnios, dignou-se Sua Majestade responder-me desta maneira: -
Se ordenei que a arca do velho testamento fosse venerada com tanta festividade e
aparato, era por ser figura expressa de quem seria Mãe do Verbo humanado.
Aquela arca era irracional e material e com ela podia-se, sem inconveniente,
usar de tal celebridade e ostentação. Com a Arca viva e verdadeira, porém, não permiti assim, enquanto viveu em carne mortal,
para ensinar com este exemplo o que tu e as demais almas deveis aprender, enquanto
sois viadoras.
A meus escolhidos, gravados em minha mente e aceitação para eterna memória, não quero que a honra e exagerado e
ostensivo aplauso dos homens lhes sirva, na vida mortal, como recompensa do que
fizeram para minha honra e serviço.
Tampouco lhes convém o risco de repartir o amor, entre Aquele que os justifica e faz
santos, e aqueles que os celebram por tais.
Um é o Criador que os fez, sustenta, ilumina e defende; único há de ser
o amor e atenção, e não o devem repartir, ainda que seja para remunerar e agradecer
as honras tributadas, com zelo piedoso aos justos. O amor divino é delicado, a
vontade humana fragilíssima e limitada;
dividida, pouco e imperfeitamente pode fazer, e depressa tudo perde. Para deixar
este ensinamento, Eu não quis que fosse conhecida e honrada durante a vida, nem
levada ao templo com ostentação e honra visíveis, Aquela que era santíssima e por
minha proteção não podia cometer imperfeição.

O exemplo de Cristo e Maria, devem abonar a virtude e condenar o vício

419. Além disto, enviei meu Unigênito do céu, e criei aquela que seria
sua Mãe, para desiludir os mortais e tirar do mundo o erro, que se tornara
iniqüissima lei estabelecida pelo pecado:
ser o pobre desprezado e o rico estimado; abatido o humilde e exaltado o
soberbo; o virtuoso vituperado e o pecador acreditado: o modesto e recolhido
julgado por insensato e o arrogante considerado corajoso, a pobreza humilhante
e infeliz; as riquezas, fausto, ostentação, pompas, honras e deleites perecedores,
procurados e apreciados pelos homens insipientes e carnais.
O Verbo e sua Mãe vieram reprovar e condenar tudo isto como ilusório e
enganador, para que os mortais conhecessem o formidável perigo em que vivem,
amando e entregando-se tão cegamente, à falsidade do sensível e deleitável.
Deste insano amor lhes nasce o afã com que fogem da humildade, mansidão e pobreza, afastando de si tudo o que
tem cheiro de virtude verdadeira, penitência e abnegação de suas paixões. Entretanto, é isto que agrada à minha justiça, e
é aceito a meus olhos, por ser o santo, o honesto, o justo que será recompensado
com prêmio de eterna glória, enquanto o contrário receberá sempiterno castigo.

O espírito de Deus oposto ao do mundo .

Os olhos terrenos dos mundanos e carnais não conseguem ver esta
verdade, nem querem aceitar a luz que ela lhes mostraria. Tu, porém, ouve-a, grava-a
em teu coração pelo exemplo do Verbo humanado e de sua Mãe, que em tudo o
imitou. Ela era santa, e em minha estima, a primeira depois de Cristo. Toda veneração
e honra dos homens eram-lhe devidas, pois nem poderiam lhe dar o quanto merecia.
Todavia dispus que, por então, não fosse conhecida nem honrada, para
nela ostentar o mais santo, o mais perfeito, o mais apreciável e seguro que meus
escolhidos deveriam imitar e aprender da mestra da verdade: a humildade, 0
escondimento, o retiro, o desprezo da enganadora vaidade do mundo, o amor
aos trabalhos, às tribulação, desprezos aflições e descrédito das criaturas.
Uma vez que tudo isto não se ajusta com os aplausos, honras e estima
dos mundanos, determinei que Maria Puríssima não as tivesse, nem quero que
meus amigos as recebam ou aceitem. Se, para minha glória, às vezes os torno conhecidos no mundo, não é porque eles
o desejem, mas com humildade e sem dela se afastarem, se submetem à minha
disposição e vontade. Quanto deles depende, para si só desejam e amam o que
o mundo despreza e o que o Verbo humanado e sua Mãe Santíssima fizeram
e ensinaram.
Esta foi a resposta do Senhor à minha admiração e reparo: com isto me
deixou satisfeita e instruída de quanto desejo e devo executar.

São Joaquim e SantAna levam Maria ao templo

421. Findo o prazo dos três anos determinado pelo Senhor, saíram de Nazaré,
Joaquim e Ana, acompanhados de alguns parentes, levando consigo a verdadeira
Arca da Aliança, Maria Santíssima, nos braços de sua mãe, para depositá-la no
santo templo de Jerusalém.
Apressava-se a formosa Menina com fervorosos afetos, seguindo os perfumes de seu amado (Ct 1,3), para ir procurar
no templo aquele mesmo que levava no coração. Esta humilde procissão seguia
sem acompanhamento de criaturas terrenas nem visível aparato, mas com brilhante e
numeroso séquito de espíritos angélicos para celebrar esta festa haviam descido do
céu, além dos que ordinariamente guardavam sua Rainha menina. Cantavam com
música celestial novos cânticos de glória e louvor do Altíssimo, ouvindo-os a Princesa do céu, que caminhava com formosos
passos à vista do supremo e verdadeiro Salomão.
Assim prosseguiram sua viagem de Nazaré até a cidade santa de Jerusalém,
sentindo os ditosos pais da menina Maria grande júbilo e consolação espiritual.

Chegada ao templo

422. Chegaram ao templo, e nele entraram, a bem-aventurada Ana em companhia de São Joaquim, levando sua Filha
e Senhora pela mão. Fizeram, os três, devota ·e fervorosa oração ao Senhor: os
pais oferecendo a Filha, e esta oferecendo-se a si mesma, com profunda
humildade, adoração e reverência.
Somente Ela conheceu como o Altíssimo a aceitava e recebia. De um divino resplendor, que encheu o templo, saiu
uma voz que lhe dizia: - Vem, esposa minha, escolhida, vem a meu templo onde quero
que me louves e bendigas.
Terminada a oração, levantaram se e dirigiram-se ao sacerdote que os
abençoou.Todos juntos, levaram a Menina a um aposento onde se encontrava o
colégio das jovens que ali se educavam, em Internato e santos costumes, até chegarem
à idade de tomar estado de matrimônio.
Recolhiam-se ali, especialmente, as
Primogênitas da tribo real de Judá e da
sacerdotal de Levi.

Maria despede-se de seus pais

423. Subia-se a este colégio por uma escada de quinze degraus, onde vieram outros sacerdotes receber a bendita
menina Maria; aquele que a levava colocou-a no primeiro degrau.
Ela lhe pediu licença e, voltando-se para seus pais Joaquim e Ana, pôs-se de
joelhos, beijou-lhes as mãos, pediu-lhes a bênção e rogou-lhes que a encomendassem a Deus.
Os santos pais abençoaram-na com grande ternura e muitas lágrimas, e a
menina subiu os quinze degraus com incomparável fervor e alegria, sem voltar-se
para trás, sem chorar, sem tomar qualquer atitude pueril, nem demonstrar sentimento
pela despedida de seus pais. A todos admirou vê-la com majestade e inteireza tão
peregrina, em tão tenra idade. Os sacerdotes a receberam, levaram ao colégio das
demais virgens, e o santo Simeão, sumo sacerdote, a entregou às mestras, uma das
quais era Ana, a profetisa.
Esta santa matrona havia sido preparada com especial graça e luz do
Altíssimo, para se encarregar da filha de Joaquim e Ana. Por divina disposição mereceu, por sua santidade e virtude, ter por
discípula aquela que seria Mãe de Deus e mestra de todas as criaturas.

São Joaquim e Sant' Ana voltam a Nazaré. A escada de Jacó

424. Voltaram Joaquim e Ana para Nazaré, desolados e empobrecidos,
sem o rico tesouro de seu lar; mas o Altíssimo os confortou e consolou.
O santo sacerdote Simeão, ainda que no momento não conhecesse o
mistério encerrado naquela Menina, teve, porém, grande luz de que era santa e
escolhida do Senhor. Os outros sacerdotes sentiram também por ela grande
admiração e reverência.

Naquela escada, que a menina subiu, realizou-se com toda a exatidão o
que Jacó viu na sua (Gn 28,12): anjos que subiam e desciam; uns acompanhavam,
outros vinham receber sua Rainha; no alto esperava-a Deus para aceitá-la por Filha e
Esposa: e, em seus afetos amorosos, ela sentiu que verdadeiramente aquela era a
casa de Deus e a porta do céu.
Maria confia-se à Mestra e cumprimenta as companheiras
425. Confiada à mestra, a menina Maria com profunda humildade, de
joelhos lhe pediu a bênção e lhe suplicou que a recebesse sob sua obediência,
ensino e direção, tendo paciência pelo muito que com ela trabalharia e padeceria. Ana profetisa, a mestra, recebeu-a
com agrado e lhe disse: - Minha Filha, em mim achareis mãe e amparo e eu
cuidarei de vós e de vossa criação com todo o desvelo possível.
Em seguida, com a mesma humildade, Maria dirigiu-se a todas as meninas
que ali se encontravam, cumprimentando as e abraçando-as. Ofereceu-se para serva
de todas, e pediu-lhes que, sendo mais velhas e mais instruídas no que deviam
fazer, a ensinassem e mandassem. Finalmente, lhes agradeceu por a terem aceitado
em sua companhia, apesar de não a merecer.

DOUTRINA DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA

Graça da vocação à vida religiosa

426. Minha filha, a maior felicidade que, nesta vida mortal, uma alma pode
receber é ser chamada pelo-AItíssimo à sua casa, para se consagrar ao seu serviço. Por
este favor, a resgata de perigosa escravidão, e a liberta da vil servidão do mundo,
onde, sem liberdade, deve comer o pão com o suor de seu rosto (Gn 3,10).(1)
Quem há, tão insipiente e obscurecido, que não conheça o perigo da vida
mundana, com tantas leis e costumes abomináveis, tais como a astúcia diabólica e a
perversidade dos homens nela introduziram?
A melhor parte é a vida religiosa e o retiro. Aqui se encontra porto
seguro. O resto é tormenta, ondas encapeladas, cheias de dor e desgostos.
Não reconhecerem os homens esta verdade, nem agradecerem este singular
benefício, é repreensível dureza de coração e esquecimento de si mesmos.
Tu, porém, minha filha, não te faças surda à voz do Altíssimo. Atende,
trabalha e corresponde a ela. Advirto-te que um dos maiores empenhos do demônio é impedir a vocação religiosa, quando
o Senhor chama e dispõe as almas para se dedicarem ao seu serviço.

Aversão do demônio pela vida religiosa

427. Somente o ato público e sagrado de receber o hábito e entrar em
religião, ainda que não se faça sempre com fervor e pureza de intenção devidas, revolta e enfurece o dragão infernal e seus
demônios. Não toleram á glória do Senhor o gozo que sentem os santos anjos além de
saber aquele mortal inimigo, que a vida religiosa santifica e aperfeiçoa.
Acontece, muitas vezes, que havendo nela entrado por motivos humanos
e terrenos, depois a ação da graça melhora e corrige tudo. Se isto sucede quando no
princípio não houve intenção tão reta como convinha, muito mais poderosa e eficaz
será a luz e virtude do Senhor e disciplina da religião, para a alma que a abraça movida
pelo divino amor, e com íntimo e verdadeiro desejo de procurar, servir e amar a Deus.

Ser fiel sem olhar para trás

428. Para o Altíssimo reformar e aperfeiçoar quem entra no estado religioso, qualquer que seja o motivo que o trouxe,
convém que, tendo voltado as costas ao mundo, não torne a olhá-lo, apague suas
imagens da memória e esqueça o que com tanta dignidade deixou.
Os que não seguem este ensinamento e são ingratos e desleais a Deus,
sem dúvida são atingidos pelo castigo da mulher de Ló (Gn 19,26). Embora pela
divina piedade, não seja visível ao olhar exterior, interiormente é muito real, tornando a alma seca, gelada, sem fervor nem
virtude.
Sem o amparo da graça, não realizam o ideal de sua vocação, nem aproveitam o benefício da vida religiosa.
Nela não encontram consolo espiritual, nem merecem que o Senhor os olhe e visite
como a filhos; mas são repudiados como escravos infiéis e fugitivos.
Lembra, Maria, que para ti o mundo há de estar morto e crucificado e tu para
ele, sem guardares afeto e recordação de qualquer coisa terrena. Se, às vezes, for
necessário exercitar a caridade com o próximo, ordena-a tão bem que, em primeiro
lugar, ponhas o bem de tua alma, sua segurança, quietude, paz e tranqüilidade interior.
Evitando os excessos viciosos, deves ser muito atenta a estas advertências, se quiseres permanecer em minha escola.


SUA PESSOA SANTIFICA OS LUGARES.

Ao raiar do dia, e rendidas as devidas graças ao Pai, prosseguíamos viagem. Todos aqueles lugares, porém, onde repousava e passava a noite, ficavam santificados e consagrados por se ter ali demorado a minha pessoa. Pedi ao Pai se dignasse fazer com que aquele terreno, onde havia me demorado e entretido com Ele, produzisse frutos de santidade. Isto é, fosse habitado por pessoas que, abandonando o mundo, se retirassem à solidão para viverem uma vida inteiramente perfeita e santa, lá se tornassem perfeitos e resplandecessem neles toda virtude e santidade. Prometeu-me fazê-lo o Pai, como efetivamente em seguida o realizou. Com o correr do tempo, naquele deserto habitaram homens santos, nos quais resplandecia toda virtude e perfeição. Alegrava-me muito com isso, e rendia ao Pai afetuosíssimas graças, deixando todos esses lugares por onde eu passava, cumulados de bençãos celestes.

OS CÂNTICOS DE MARIA E DE JESUS.

Continuando assim o nosso caminho, íamos louvando o Pai e a dileta Mãe cantava hinos de louvor. Apreciava muito aquele canto suave, pois vinha de um coração inflamado de amor por mim, Algumas vezes, ao ver a querida Mãe e José muito aflitos e cansados pela longa viagem, alçava minha voz, embora fosse menino bem pequeno, e prestando louvores a meu querido Pai, fazia-os experimentar um paraíso de alegria. Isto, contudo, muito raramente. Mas, quando o fazia, a querida Mãe e José caiam em êxtase; e toda a Corte celeste dos espíritos angélicos tinha nova e incomparável alegria e ficava a ouvir-me em atitude humilde. Aprazia muito a meu Pai, que com isto muito se alegrava. Oferecia-lhe depois esses louvores, em nome de todos os meus irmãos, para suprir as omissões deles a este respeito.

PEDE ALIMENTO AO PAI.

Chegada a hora de tomar algum reconfortante para sustentar a humanidade e achando-nos de fato sem coisa alguma que pudesse nutrir, pedi ao Pai se dignasse prover-nos em tamanha necessidade; e podendo fazê-lo, não o quis antes de chegarmos à hora determinada por meu Pai. Sempre lhe pedi a Ele, como Filho obediente e em tudo submisso. Ao Pai aprouve enviar o socorro necessário, por meio dos seus anjos. Assim nos alimentamos e rendemos depois as devidas graças ao Pai. Reiterava no íntimo os atos que já assinalei a este respeito. Cada vez que tomava algum alimento para subsistência de minha humanidade, suplicava ao Pai se dignasse nutrir todos os meus irmãos com a sua infinita providência e se dignasse ainda nutrir as almas de todos com abundância da graça, as santas inspirações e a divina palavra, esposa minha, que do Pão material, pensei unir ao pão material a minha humanidade e divindade conjuntamente.  Desde então iniciei a preparação de tão grande dom a todos os meus irmãos. Eu o pedia continuamente ao meu Pai, para sua complacência e divino beneplácito. Mas disto falarei depois em seu lugar. (fala da Eucaristia).

OS ÍDOLOS DERRIBADOS

No entanto, prosseguindo assim nosso caminho, às vezes encontrávamos alguma cidade, onde eu entrava com minha Mãe e lá pedíamos esmola de porta em porta. Por muitos era a nós negada. Todavia, antes de lá ingressar, pedia ao Pai se dignasse destruir todos os ídolos daquele lugar à minha entrada. Efetivamente, atendia-me nisto meu Pai dileto; sentiam-se os espíritos infernais expulsos de seus simulacros, por minha virtude e pelo poder da divindade que em mim se encontrava, embora não lhes fosse manifesto a mistério divino. Alegrava-me muito esposa minha, quando isto acontecia, rendia afetuosas graças a meu Pai e pedia-lhe que fizesse coisa semelhante em todas as almas de meus irmãos. Ao penetrar neles a divina força, por virtude minha, fossem destruídos todos os seus afetos desordenados, abatidas e vencidas todas as paixões viciosas que, à guisa de ídolos fazem por eles adorar, ficando a razão subjugada e dominados por essas paixões viciosas. Mostrava-se nisto um pouco renitente o Pai, por causa da indignidade de meus irmãos, que não merecem descer o Espírito divino para habitar neles pela graça e o amor, por se acharem em estado culpado e serem odiosos ao Pai, e por isto incapazes da graça e favor divino. A graça divina não pode entrar em tais almas para lá permanecer, por serem inimigas de meu Pai e odiadas por Ele, devido ao pecado que ali se encontra. Como sabia de tudo isto, redobrava as instâncias e suplicava-lhe se dignasse antes preveni-las, com santas inspirações e auxílios potentes e válidas, para conhecerem o estado em que se encontravam e dar-lhes luz e virtude a fim de expulsar de si a culpa (pelo arrependimento e perdoando-se a si mesmos e ao próximo) e assim se tornarem capazes de receber as graças que eu já lhes impetrara. Diante disso inclinou-se meu Pai com toda a benignidade, pois não podia opor resistência às minhas duplicadas súplicas, em vista do imenso amor que me dedicava, e enquanto eu lhe recordava freqüentemente as promessas que me fizera, isto é, mesmo que eu pedisse tudo o que queria, tudo obteria dele. Tendo me já concedido a graça que eu lhe rogava, fez-me ver como efetivamente a exerceria para com todos e como tamanho benefício seria mal correspondido por meus irmãos. Vi então a multidão inumerável daqueles que abusariam de tantas ajudas e graças, rejeitando as inspirações divinas, não dando ouvido aos impulsos da graça que procurava habitar neles para ali permanecer e líbertá-Ias da dura escravidão de suas paixões perversas. Oh, esposa minha, quanta aflição trouxe essa dureza e resistência ao meu Coração, que ardia no desejo da glória e honra de meu Pai e da eterna salvação deles! Ofereci ao Pai as minhas aflições e supliquei-lhe, com duplicadas instâncias que não desistisse nem se retirasse, com seus divinos impulsos e auxílios poderosos. O Pai benigno, para consolar-me em tamanha aflição, prometeu-me fazê-lo. Efetivamente, fez-me ver os efeitos admiráveis que, por fim operariam em muitas almas as repetidas inspirações e potentes impulsos. Consolei-me e rendi muitas graças ao benigno e misericordiosíssimo Pai.

Agradeci-lhe e rendi muitas graças ao lhe também por parte das mesmas, porque apesar de inteiramente indigna e não merecedoras de tantas graças, se dignou concede-lhes, somente por bondade e misericórdia às minhas instâncias. Ciente de que, se a criatura recusa uma vez admitir em si as graças de seu Criador, torna-se indigna delas e incapaz de recebê-las interiormente. Instei (Insisti) com o dileto Pai não procedesse com elas conforme o direito e a razão, os quais na realidade o exigem, mas segundo a multidão de sua misericórdia. O benigno Pai aceitou esta minha nova súplica e atendeu-a com rescrito de graças querendo comprazer-me em tudo. Quando às vezes, se mostrava um pouco renitente, eu lhe dizia: 'Pai, bem conheces que nisto não busco a minha glória, mas a tua; não a minha utilidade, mas a das criaturas que formaste a tua imagem e semelhança e chamaste e destinaste à posse de teu Reino eterno.' Ao ouvir isto, o Pai inclinava-se com toda benignidade e muito se comprazia. Mostrava-se benigno quando lhe falava que desejava a salvação daquelas criaturas que Ele havia criado a sua imagem e semelhança e revelava para com elas grande amor e compaixão imensa. Tendo conhecimento de que assim mais facilmente se inclinava a usar de misericórdia para com elas, frequentemente lho repetia, pelo prazer que nisto tinha, o qual, de fato, era muito grande: e assim como verificava nele um grande desejo da salvação de todos e de sua santificação, todas as súplicas e pedidos que fazia tendiam a obter a santificação e a salvação de todos, sem excetuar um só.

PROCURANDO ESMOLA

Havendo entrado, pois, em certa cidade, e obtido do Pai quanto desejava. rendia-lhe novas graças. Pedindo depois esmola de porta em porta. como já disse, sem encontrar coisa alguma. afligia-me por aquela ingratidão. Suportava-a, no entanto, de boa vontade, com perfeita resignação e tudo o que de contrário me sucedia. Suplicava ao Pai que, em virtude daquela resignação. se dignasse conceder a todos os que vão bater à porta de sua misericórdia, as graças que lhe suplicam, e dar-lhes a esmola que me negavam. pois queria em tudo e por tudo retribuir o mal com o bem, e as repulsas com favores e graças. Depois de andar muito, encontrava-se enfim alguma coisa para comer. Então rendia graças ao Pai e pedia-lhe que assim como finalmente havia encontrado o necessário para sustentar a minha humanidade, se dignasse consolar todas aquelas almas que, ao procurarem obter de sua misericórdia as graças dispensáveis. Ele as nega, ou por causa do demérito delas, ou por outros motivos seus; Ele por fim se dignasse consola-las com a concessão do que tanto lhe pediam. O Pai prometeu-me fazê-Io, como efetivamente o realiza, pois não há criatura alguma que lhe peça graça para a própria salvação sem que Ele, depois de dobradas instâncias, não lhe conceda quanto deseja. Jamais são desiludidas a oração prolongada e a prece continuada. Agradecia por isso ao Pai dileto e benigno, também por parte de todos aqueles que seriam consolados, e pedia-lhe se demonstrasse para com todos benigno e amoroso.

ALIMENTAM-SE COM ALEGRIA.

Havendo, pois, encontrado alguma coisa para comer, salmos da cidade e prosseguindo a caminhada. Pusemo-nos a tomar aquele alimento necessário ao sustento da humanidade, do qual, por estarmos muito cansados e debilitados pela longa viagem, tínhamos, tanto eu como a dileta Mãe e José, muita necessidade. Tomamos aquele alimento com grande alegria e embora fosse bastante ruim, tornou-se-nos assaz agradável e saboroso. Rogava ao Pai que por esse gosto que sentia em nutrir-me com aquela esmola recebida, se dignasse dar gosto e sabor ao alimento que meus irmãos recebiam dos outros em esmola e que, embora fosse o pior e sem sabor, que seria dado aos meus irmãos pobres um pior, o que muito me desagradava — não obstante se dignasse meu Pai fazer com que lhes parecesse muito suave e agradável, como de fato acontece. Sentem maior sabor pelo alimento ruim que recebem de esmola os meus irmãos pobres, do que aquele que experimentam os ricos, apesar que serem as  iguarias mais requintadas do mundo. Rendia por isso as devidas graças ao Pai, também por parte de todos os meus irmãos que se encontram em semelhante situação.

PASSAGEM POR BELÉM

Continuando desta maneira nossa viagem, antes de chegar a minha pátria, quis retornar a Belém, onde nascera, tendo também minha querida Mãe e José idêntico desejo. Tomando o caminho da gruta, mais difícil se tornava a viagem e maiores eram as incomodidades que pela estrada sofria. Abracei, contudo, esta nova tribulação para ter a consolação de rever aquele lugar e deter-me um pouco ali onde se operara o mistério de meu nascimento. Ofereci ao Pai esta minha nova opção pelo sofrimento e pedi-lhe que. em virtude disto, se dignasse perdoar a todos os meus irmãos a negligência e a delicadeza com as quais, para não sofrer algum incômodo, se descuidam de fazer o bem e privam-se do consolo que lhes traria tal prática, como ainda do grande mérito que adquiririam se o fizessem. Ficava satisfeito o meu Pai no referente a sua glória, mas meus irmãos eram privados do mérito e da utilidade, pois sem agir não podiam tampouco ter algum mérito. Com isto não se satisfazia o amor que eu lhes dedicava e por isso orei novamente a meu Pai se dignasse inspirar-lhes ao coração um vivo desejo de praticar o bom que podia trazer vantagem e consolo às suas almas. Fazia-o com impulsos assaz poderosos para que pudessem superar qualquer dificuldade e abater o amor próprio, que faz o possível para fugir de qualquer ocasião de sofrimento, sob pretexto de conservação da saúde, como se esta estivesse nas mãos deles e não nas de meu Pai, e alguém tivesse de perder a saúde para praticar o bem, e se o meu Pai não tomasse cuidado deles, quando, ao invés, assiste-os de modo particular. Eles não confiam em meu Pai, e não entregam todo cuidado de si mesmos a suas Mãos. O Pai prometeu-me fazê-lo. Na realidade verifiquei a este respeito, como em tudo o mais, sua altíssima providência e como condescende com tanta benignidade a tudo o que dele reclamei. Vi como muitos se prevaleceriam das graças e santas inspirações e que a força dos divinos impulsos os levaria a superar o amor próprio. Este fato muito me alegrava, tanto pela contentamento e a glória de meu Pai, como também pela vantagem e consolo deles. Vi muitos que seriam superados pelo amor próprio e que neles não produziriam efeitos as inspirações e impulsos divinos. Senti grande pesar por verificar serem tão pouco estimadas as graças de meu Pai e pela privação do mérito que eles teriam podido adquirir. Tornava a orar ao dileto Pai que não desistisse das graças costumeiras para com eles. De fato, contemplava como meu Pai jamais cessaria de inspirar a seus corações tudo o que lhe pedia. Ficava, esposa minha, muito admirado e simultaneamente contuso ao ver a grande paciência de meu amoroso Pai: teria querido ser todo Inteiro língua para louvá-lo e bendizê-lo e inteiramente coração para amá-lo. Queria ter em mãos a vontade de todos os meus irmãos, para oferecê-la unida à santíssima vontade e modelada segundo a mesma. Ao ver que não podia tê-la e que meus irmãos queriam seguir as suas vontades próprias contra toda razão, afligia-me; sentia dor no Coração ao ver tão pouco estimadas pelas criaturas a bondade, a paciência e a longanimidade de meu amoroso Pai. Chorava copiosamente a tal vista, e era imensa a minha dor. Oferecia a dor e as lágrimas ao dileto Pai suplicava-lhe que com estas se dignasse satisfazer a sua justiça. e bondoso Pai amorosamente as recebia e dizia-me com grande amor: 'Filho por mim infinitamente amado, fico plenamente satisfeito com tudo o  que me ofereces e nisto tenho minha complacência.¨  Agradecia muito a meu Pai e oferecia-me todo a Ele, suplicando que retirasse de mim as satisfações requeridas por sua divina justiça pelas faltas de todos meu irmãos: como sabia que elas lhe causavam muito desgosto, procurava eu satisfazer por elas, fazendo todas aquelas coisas que eram de seu gosto e satisfação a fim de que, com isto, ficasse meu Pai aplacado e usasse para com meus irmãos daquela misericórdia que por eles mesmos não mereciam.



14-32
Junho 1, 1922

O que é verdade.

(1) Encontrando-me no meu estado habitual, estava seguindo as horas da Paixão do meu doce
Jesus, especialmente quando foi apresentado a Pilatos, o qual lhe perguntou qual era o seu
reino, e o meu sempre amável Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, foi a primeira vez em minha Vida terrena que tive que lidar com um governante
gentil, o qual me perguntou qual era meu reino, e Eu lhe respondi que meu reino não é deste
mundo, que se deste mundo fosse, milhões de legiões de anjos me defenderiam. Com isto abria
o meu reino aos gentios e lhes comunicava a minha doutrina celestial, tanto que Pilatos me
perguntou: Como, Tu és rei?

E eu imediatamente lhe respondi: 'Eu sou Rei, e vim ao mundo
para ensinar a verdade. ' Com isso Eu queria abrir caminho em sua mente para me fazer
conhecer, e ele, sentindo-se como golpeado me perguntou: Que coisa é a verdade? ' Mas não
esperou minha resposta, não tive o bem de fazer-me compreender, ter-lhe-ia dito: A verdade
sou Eu, tudo em Mim é verdade; verdade é minha paciência no meio de tantos insultos; verdade
é meu olhar doce entre tantas zombarias, calúnias, desprezos; verdade são meus modos
afáveis, atrativos, no meio de tantos inimigos, que enquanto eles me odeiam Eu os amo, e
enquanto querem me dar a morte Eu quero abraçá-los e dar-lhes a vida; verdade são minhas
palavras dignas e cheias de sabedoria celestial; tudo em Mim é verdade". A verdade é mais que
sol majestoso, que por quanto se queira pisotear, surge mais belo, mais luminoso e faz
envergonhar os mesmos inimigos, fazendo-os cair por terra, a seus pés. Pilatos me perguntou
com ânimo sincero, e Eu lhe respondi imediatamente, em troca Herodes me perguntou com
maldade e por curiosidade, e Eu não lhe respondi, assim a quem quer saber as coisas santas
com sinceridade, Eu me revelo além do que se quer; em vez disso, a quem quer sabê-las com
maldade e para bisbilhotar, eu escondo-me dele, e enquanto estes querem zombar de mim, eu
confundo-os e debocho deles. Mas como minha pessoa levava consigo a verdade, também
diante de Herodes fez seu ofício, meu silêncio ante suas tempestuosas perguntas, meu olhar
modesto, o aspecto todo cheio de doçura, de dignidade, de nobreza de minha mesma pessoa,
eram todas verdades, e verdades operantes".

14-33
Junho 6, 1922
Vivendo na Divina Vontade, a cruz e a santidade se tornam semelhantes às de Jesus.

(1) Estava pensando entre mim: "Meu bom Jesus mudou comigo, antes se deleitava em fazer-
me sofrer, tudo era participação de pregos e cruz, agora tudo desapareceu, não se deleita mais

em fazer-me sofrer, e se alguma vez sofro me olha com indiferença e não mostra mais aquele
gosto de antes". Agora, enquanto pensava assim, o meu doce Jesus movendo-se dentro de
mim, suspirando disse-me:
(2) "Minha filha, quando se tem gostos maiores, os gostos menores perdem o seu deleite, a sua
atração, e por isso se vêem com indiferença. A cruz ata à graça, mas quem a alimenta, quem a
faz crescer à devida estatura? Minha Vontade. É só Ela que completa tudo e faz cumprir meus
mais altos desígnios na alma, e se não fosse por minha Vontade, a mesma cruz, por quanto
poder e grandeza contém, pode fazer com que as almas permaneçam a meio caminho. ¡Oh!
quantos sofrem, mas como lhes falta o alimento contínuo da minha Vontade, não chegam à
meta, à destruição do querer humano, e o Querer Divino não pode dar o último toque, a última
pincelada da santidade Divina. Olha, tu dizes que desapareceram pregos e cruz, falso isso filha
minha, falso, antes tua cruz era pequena, incompleta, agora minha Vontade elevando-te nela,
faz que tua cruz seja grande, e cada ato que fazes em meu Querer é um prego que recebe teu
querer, e vivendo em minha Vontade, a tua se estende tanto, que te difundes em cada criatura,
e me dá por cada uma a vida que lhes dei para devolver-me a honra, a glória, a finalidade para
as quais as criei. Olha, a tua cruz estende-se não só por ti, mas por cada uma das criaturas,
assim que por toda parte vejo a tua cruz; primeiro via-a só em ti, agora vejo-a por toda a
parte. Este fundir-te em minha Vontade sem nenhum interesse pessoal, senão só para dar-me o
que todos deveriam dar-me, e para dar a todos o bem que meu Querer contém, é só da Vida
Divina, não da humana; assim que só minha Vontade é a que forma esta Santidade divina na
alma. Então suas cruzes anteriores eram santidade humana, e o humano por quanto santo seja,
não sabe fazer coisas grandes mas pequenas, muito menos elevar a alma à santidade e à
fusão do agir de seu Criador, fica sempre na restrição de criatura, mas minha Vontade
derrubando todas as barreiras humanas, a lança na imensidão divina, e tudo se faz imenso
nela: Cruz, pregos, santidade, amor, reparação, tudo; a minha mira sobre ti não era a santidade
humana, embora fosse necessário que primeiro fizesse as pequenas coisas em ti, e por isso me
deleitava tanto.
(3) Agora, tendo-te feito passar mais adiante e devendo-te fazer viver em meu Querer, vendo
tua pequenez, teu átomo, abraçar a imensidão para dar-me por todos e por cada um amor e
glória para voltar a dar-me todos os direitos de toda a Criação, isto me deleita tanto, que todas
as outras coisas não me agradam mais. Então a tua cruz, os teus pregos, serão a minha
vontade, aquela que, tendo crucificada a tua, completará em ti a verdadeira crucificação, não a
intervalos, mas perpétua, toda semelhante à minha, que fui concebido crucificado e morto
crucificado, alimentada a minha cruz da única Vontade eterna, e por isso, por todos e por cada
um Eu fui crucificado. Minha cruz selou a todos com seu emblema".

16-36
Dezembro 8, 1923

Sobre a Imaculada Conceição de Maria.

(1) Estava a pensar na Imaculada Conceição da minha Mãe Rainha, e meu sempre amável Jesus,
depois de ter recebido a santa comunhão, fazia-se ver em meu interior como dentro de uma estan-
cia toda luz, e nesta luz fazia ver tudo o que tinha feito em todo o curso de sua Vida; pareciam co-
mo alinhados em ordem todos os seus méritos, suas obras, suas penas, seus chagas, seu sangue,
tudo o que continha a Vida de um Homem e Deus, como em ato de proteger a uma alma, a Ele tão
querida, de qualquer mínimo mal que pudesse ensombrá-la. Eu me admirava ver tanta atenção de
Jesus, e Ele disse-me:

(2) "À minha pequena recém-nascida quero que conheça a Imaculada Conceição da Virgem, con-
cebida sem pecado. Mas primeiro você deve saber que minha Divindade é um ato só, todos os
seus atos se concentram em um só, isto significa ser Deus, o portento mais grande de nossa
Essência Divina, não estar sujeita a sucessão de atos, e se a criatura lhe parece que agora faze-
mos uma coisa, e agora outra, é mais bem que fazemos saber o que há naquele ato só, porque a
criatura, incapaz de conhecer tudo de um só golpe, se o fazemos conhecer pouco a pouco. Agora,
tudo o que Eu, Verbo Eterno devia fazer em minha assumida Humanidade, formava um só ato com
aquele ato único que contém minha Divindade, assim que antes que esta nobre Criatura fosse con-
cebida, já existia tudo o que devia fazer na terra o Verbo Eterno, portanto, no ato em que esta Vir-
gem foi concebida, se alinharam em torno de sua Concepção todos os meus méritos, minhas pe-
nas, meu sangue, tudo o que continha a Vida de um Homem Deus, e foi concebida nos abismos
intermináveis de meus méritos, de meu sangue divino, no mar imenso de minhas penas. Em virtude
deles ficou imaculada, bela e pura; ao inimigo ficou fechado o passo pelos incalculáveis méritos
meus e não pôde lhe fazer nenhum mal. Era justo que quem devia conceber o Filho de um Deus,
devia primeiro ser Ela concebida nas obras deste Deus, para poder ter virtude de conceber o Verbo
que devia vir redimir o gênero humano; assim que Ela primeiro ficou concebida em Mim, e Eu fiquei
concebido nela, não havia mais que a tempo oportuno fazê-lo conhecer as criaturas, mas na Divin-
dade estava como já feito. Por isso, a que mais recebeu os frutos da Redenção, antes teve o fruto
completo, foi esta excelsa Criatura, que sendo concebido nela, amou, estimou e conservou como
coisa sua tudo o que o Filho de Deus fez na Terra. Oh! a beleza desta tenra menina, era um prodí-
gio da graça, um portento de nossa Divindade, cresceu como nossa Filha, foi nosso decoro, nossa
alegria, o honra e a nossa glória".
(3) Então, enquanto o meu doce Jesus dizia tudo isto, eu pensava na minha mente: "É verdade que
a minha Rainha Mãe foi concebida nos méritos intermináveis do meu Jesus, mas o sangue, o cor-
po, foram concebidos no seio de Santa Ana, a qual não estava isenta da mancha de origem; então,
como pode ser que nada herdou dos tantos males que todos temos herdado pelo pecado do nosso
primeiro pai Adão?"

(4) E Jesus: "Minha filha, tu ainda não entendeste que todo o mal está na vontade. A vontade atro-
pelou o homem, ou seja, a sua natureza, não a natureza atropelou a vontade do homem, assim
que a natureza ficou em seu lugar, tal como foi criada por Mim, nada mudou, foi Sua vontade a que
se mudou e se pôs, nada menos, que contra uma Vontade Divina, e esta vontade rebelde arrastou
sua natureza, enfraqueceu-a, contaminou-a e tornou-a escrava de vilíssimas paixões; aconteceu
como a um recipiente cheio de perfumes ou de coisas preciosas, se se esvaziar isso e encher-se
de podridão ou de coisas vis, acaso muda o recipiente? Muda o que se põe dentro, mas ele é sem-
pre o que é, no máximo se torna mais ou menos apreciável segundo o que contém, assim foi do
homem.
(5) Agora a minha Mãe, ser concebida numa criatura da raça humana não causou nenhum dano,
porque sua alma era imune de toda culpa, entre sua vontade e a de seu Deus não havia divisão, as
correntes divinas não encontravam obstáculo nem oposição para derramar-se sobre Ela, a cada
instante estava sob a densa chuva de novas graças. Então, com esta vontade e esta alma toda
santa, toda pura, toda bela, o recipiente de seu corpo que tomou de sua mãe ficou perfumado, rea-
bilitado, ordenado, divinizado, em modo de ficar isenta mesmo de todos os males naturais de que é
invadida a natureza humana. Ah! Foi propriamente Ela que recebeu o germe do Fiat Voluntas Tua
como no Céu assim na terra, que a enobreceu e a restituiu ao seu princípio, tal como o homem foi
criado por Nós antes que pecasse; aliás, ultrapassou-o, embelezando-a ainda mais aos contínuos
fluxos daquele Fiat que só tem virtude de reproduzir imagens todas semelhantes àquele que criou-
as, e em virtude desta Vontade Divina que operava nela, pode-se dizer que o que Deus é por natu-
reza, Ela o é por graça. Nossa Vontade tudo pode fazer, a tudo pode chegar quando a alma nos dá
liberdade de agir e não interrompe com sua vontade humana nosso agir".

17-32
Fevereiro 22, 1925
Como Deus ao criar o homem formou diferentes caminhos para facilitar-lhe a entrada em sua Vontade, portanto na Pátria Celestial.

(1) Estava pensando no Santo Querer Divino, e pedia a meu amável Jesus, que por sua bondade
me desse a graça de que em tudo cumprisse sua Santíssima Vontade, e dizia: "Tu que amas e
queres que tua Vontade se faça, ajuda-me, Deus, põe a cada instante teu Querer em mim, a fim de
que nenhuma outra coisa possa ter vida em mim". Agora, enquanto eu rezava, meu doce Jesus se
moveu dentro de mim, e me apertando fortemente a Ele me disse:.
(2) "Minha filha, como me fere o coração a oração de quem busca só meu Querer! Sinto o eco de
minha oração que fiz estando Eu sobre a terra, todas minhas orações se reduziam a um ponto só,
que a Vontade de meu Pai, tanto sobre Mim como sobre todas as criaturas se cumprisse. Foi a
maior honra para mim e para meu Pai Celestial, que em tudo fiz sua Santíssima Vontade. A minha
humanidade, ao fazer sempre e em tudo a Vontade do Eterno abria os caminhos entre a vontade
humana e a Divina, fechadas pela criatura.

(3) Você deve saber que a Divindade ao criar o homem formou muitas vias de comunicação entre o
Criador e a criatura: Via eram as três potências da alma: a inteligência, caminho para compreender
minha Vontade; a memória, via para recordar-se dela continuamente; e a vontade em meio a estas
duas vias, formava a terceira via para ir na Vontade de seu Criador. A inteligência e a memória
eram o sustento, a defesa, a força do caminho da vontade, para que não pudesse desviar-se nem
para a direita nem para a esquerda; via era o olho, para que pudesse ver as belezas, as riquezas
que há em minha Vontade; via era o ouvido, para que pudesse ouvir as chamadas, as harmonias
que há nela; via a palavra, na qual pudesse receber o meu contínuo desafogo da minha palavra
Fiat, e os bens que o meu Fiat contém; via eram as mãos, que elevando-as em suas obras na
minha Vontade, tivesse chegado a unificar suas obras às obras de seu Criador; via eram os pés,
para seguir os passos de meu Querer; via era o coração, os desejos, os afetos, para encher-se do
amor de minha Vontade e repousar nela. Veja então quantas vias há na criatura para vir em minha
Vontade, sempre e quando o queira. Todas as vias estavam abertas entre Deus e o homem, e em
virtude de nossa Vontade, nossos bens eram seus; além disso era nosso filho, imagem nossa, obra
saída das nossas mãos e do sopro ardente do nosso seio. Mas a vontade humana, ingrata, não
quis gozar dos direitos que Nós lhe demos sobre nossos bens, e não querendo fazer nossa
Vontade fez a sua, e fazendo a sua formou as barreiras e os muros em todos esses caminhos e se
restringiu no mísero cerco de sua vontade, perdeu a nossa e andou errante no exílio de suas
paixões, de suas fraquezas, sob um céu tenebroso carregado de raios e de tempestades, pobre
filho em meio a tantos males queridos por ele mesmo. Assim, cada ato de vontade humana é uma
barreira que coloca a minha, é uma grade que forma para impedir a união dos nossos querer, e a
comunicação dos bens entre o Céu e a terra fica interrompida.

(4) Minha humanidade compadecendo e amando com amor infinito ao homem, com fazer em tudo
a Vontade de meu Pai manteve íntegras estas vias, e impediu remover as barreiras e romper as
cercas que a vontade humana havia formado; Então abri de novo os caminhos para quem quiser vir
em minha Vontade, para restituir os direitos que por nós haviam sido dados ao homem quando o
criamos. As vias são necessárias para facilitar o caminho, são meios para poder fazer com
frequência uma visita à sua própria Pátria Celestial, e conhecendo como é bela a sua Pátria, como
é feliz nela, a ame e aspire a tomar posse, portanto viva desapegado do exílio. Estes caminhos na
criatura eram necessários para fazer que freqüentemente subisse a sua verdadeira Pátria, a
conhecesse e a amasse, e um sinal de que a alma está nestes caminhos e de que ama sua Pátria
Celestial é, pondo-se em caminho em nossa Vontade faz suas visitas.

Este é também um sinal para você, você não se lembra quantas vezes você tomou o caminho do Céu e você entrou nas
regiões celestiais e fazendo sua breve visita, meu Querer fez você descer de novo para o exílio, e
você amando a Pátria, o exílio parecia feio e quase insuportável. Este amar a Pátria, sentir a
amargura de viver no exílio, é um bom sinal para ti, que a Pátria é tua. Olha, também nas coisas
baixas deste mundo acontece o mesmo: Se alguém tem uma grande possessão, forma-se o
caminho para ir freqüentemente a visitá-la, a gozá-la, a tomar os bens que há nela, e enquanto a
visita, a ama e a leva em seu próprio coração, mas se em troca não se forma um caminho, jamais
visita sua propriedade, porque sem caminho é quase inacessível, e nunca fala dela, isto é um sinal
de que não a ama e despreza os seus próprios bens, e embora pudesse ser um rico, ele, por sua
má vontade, é um pobre que vive na mais esquálida miséria. “Eis por que razão a minha sabedoria
ao criar o homem quis formar os caminhos entre Eu e Ele, para lhe facilitar a santidade, a
comunicação dos nossos bens e a entrada na Pátria Celestial".

19-31
Junho 29, 1926

Cada coisa criada contém uma imagem das qualidades divinas, e a Divina Vontade glorifica
estas qualidades em cada coisa criada.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privações, meu amado Jesus para me reanimar, ao vir
se entreteu por algumas horas, fazia-se ver de idade muito jovem, de uma rara beleza que raptava,
e se sentou sobre minha cama, perto de mim, dizendo-me:.
(2) "Minha filha, eu sei, eu sei que você não pode ficar sem Mim, porque Eu sou para você mais do
que a sua própria vida, então se Eu não viesse você não teria a substância da vida, e além disso
temos que fazer tantas coisas juntos no Reino da Vontade Suprema, por isso quando vires que não
venho depressa, não te oprimas tanto, está certa que virei, porque a minha vinda é necessária para
ti e para mim, porque devo ver as coisas do meu Reino, e enquanto o dirijo, devo regozijar-me dele.
Poderia você ter a mínima dúvida de que faltasse o Rei do triunfo em um Reino tão suspirado por
Mim? Por isso vêem nos meus braços, a fim de que teu Jesus te fortifique".
(3) E enquanto isso dizia me tomou em seus braços, me apertava forte a seu peito e me arrulhava
me dizia:.
(4) "Dorme, dorme sobre o meu peito minha pequena recém nascida da minha Vontade".
(5) Eu nos braços de Jesus era muito pequena, e sentia-me sem vontade de dormir, queria gozar
com Jesus, queria dizer-lhe tantas coisas agora que tinha o bem de que se entretinha longamente
comigo, mas Jesus continuava a me arrulhar, e eu sem querer tomava um doce, Doce sono, mas
no sono ouvia o bater do coração de Jesus que falava e dizia: "Minha vontade". E ao seguinte bater
como se respondesse: "Amor quero infundir na pequena filha de meu Querer".
(6) No batimento "Minha vontade", formava-se um cerco de luz maior, e no batimento "amor" outro
cerco menor, de maneira que o grande trancava o pequeno; e Jesus, enquanto eu dormia, pegava
naqueles ferrolhos que formavam o seu coração e os imprimia em toda a minha pessoa. Eu me
sentia toda reforçada e confirmada nos braços de Jesus, oh, como me sentia feliz!. Mas Jesus me
apertando mais forte ao seu peito me despertou e me disse:.
(7) "Minha pequena filha, giremos por toda a Criação, onde o Querer Supremo contém sua Vida e
em cada coisa criada faz seu ato distinto, e triunfador, por Si mesmo exalta e glorifica em modo
perfeito todas as supremas qualidades. Se olhas para o céu, o teu olho não sabe descobrir os seus
confins, onde quer que olhe é céu, não sabe dizer onde começa nem onde termina; imagem do
nosso Ser que não tem princípio nem fim, e a nossa Vontade louva, glorifica no céu azul o nosso
Ser Eterno que não tem princípio nem fim; este céu está adornado de estrelas, isto é imagem do
nosso Ser, pois igual que a Divindade é um ato único, o céu é um, mas na multiplicidade das
estrelas se assemelha as nossas obras ad extra, que descendem deste ato único e os efeitos e as
obras deste único ato são inumeráveis, e a nossa Vontade nas estrelas exalta e glorifica os efeitos
e a multiplicidade das nossas obras, nas quais encerra os anjos, o homem e todas as coisas
criadas. Veja como é belo viver em meu Querer, na unidade desta luz suprema, e estar ao dia do
que significam todas as coisas criadas e louvar, exaltar e glorificar o Supremo Criador com sua
mesma Vontade em todas as nossas imagens que cada uma das coisas criadas contém. Agora
passa a olhar o sol, sob a esfera do céu vê-se uma circunferência de luz limitada que contém luz e
calor, que descendo ao baixo investe toda a terra, isto é imagem da luz e do amor do Supremo
Criador que ama a todos, faz bem a todos e que desde a altura de sua Majestade desce ao baixo,
até nos corações, até no inferno, mas silenciosamente, sem estrondo, onde quer se encontra, oh,
como nossa Vontade glorifica e exalta nossa eterna luz, nosso amor inextinguível e nossa
onividência; nossa Vontade murmura no mar, e na imensidão das águas, que escondem
inumeráveis peixes de toda espécie e cor, glorifica a nossa imensidão que tudo envolve e tem
como que um punho a todas as coisas; a nossa Vontade glorifica a imagem da nossa imutabilidade
na firmeza dos montes; a imagem da nossa justiça no ruído do trovão e na explosão do relâmpago;
a imagem da nossa alegria no passarinho que canta, que canta e gorjeia; a imagem do nosso amor
gemendo na rola que geme; a imagem da contínua chamada que fazemos ao homem, no cordeiro
que bale, dizendo em cada balido: A Mim, a Mim, vem a Mim, vem a Mim'; e nossa Vontade
glorifica-nos na contínua reclamação que fazemos à criatura. Todas as coisas criadas têm um
símbolo nosso, uma imagem nossa, e nossa Vontade tem o compromisso de nos exaltar e glorificar
em todas as nossas obras, porque sendo a obra da Criação obra do Fiat Supremo, convinha a Ela
conservar-nos a glória em todas as coisas criadas íntegra e permanentemente. “Agora, este
empenho, nosso Querer Supremo quer dá-lo como herança a quem deve viver na unidade de sua
luz, porque não seria conveniente viver em sua luz e não fundir-se nos atos do Fiat Supremo, por
isso minha pequena filha, todas as coisas criadas, e a minha vontade, esperam-te em cada coisa
para repetir os seus próprios atos, para glorificar e exaltar com a mesma Vontade Divina o teu
Criador".
(8) Agora, quem pode dizer todas as imagens que encerram toda a Criação do nosso Criador? Se
quisesse dizer tudo não terminaria jamais, por isso, para não me alongar muito somente disse
alguma coisa e o fiz por obedecer e por temor de desagradar a Jesus.

20-27
Novembro 20, 1926

Como todos os atributos divinos fazem seu ofício para formar na alma o novo mar de suas 
qualidades. Como todos temos um movimento.

(1) Estava segundo meu costume fazendo meu giro na Criação para seguir os atos da Vontade
Suprema n‟Ela, mas enquanto isso fazia, meu sempre amável Jesus me fazendo ouvir sua voz
dulcíssima em cada uma das coisas criadas me dizia:
(2) "Quem chama ao meu amor para fazer, ou que meu amor desça nela ou que o seu suba no
meu para fundir-se juntos, e formar um só amor e dar o campo de ação ao meu amor para fazer
surgir na alma o novo marzinho de seu amor, faz triunfar ao meu amor, e este festeja porque lhe é
dado seu desabafo e seu campo de ação".
(3) E conforme passava pelo sol, pelo céu, pelo mar, assim ouvia a sua voz que dizia:
(4) "Quem chama a minha luz eterna, a minha doçura infinita, a minha beleza inigualável, a minha
firmeza irremovível, a minha imensidão, para cortejá-las e dar-lhes o campo de ação para fazer
surgir na criatura outros tantos mares de luz, de doçura, de beleza, de firmeza e demais, para dar-
lhe o prazer de não fazê-la estar inativa e servir-se da pequenez da criatura para encerrar nela
suas qualidades? Quem é então aquela? Ah, é a pequena filha de nosso Querer!"
(5) Então, depois que em cada coisa criada ouvia me dizer: "Quem é a que me chama?" Meu doce
Jesus saiu de dentro de mim e me apertando toda a Si me disse:
(6) "Minha filha, conforme gira em minha Vontade para segui-la em cada coisa criada, assim todos
meus atributos escutam sua chamada e saem ao campo de ação para formar cada um o marzinho
de suas qualidades. Oh! assim como triunfam ao verem-se trabalhadores e poder formar cada um
seu marzinho, assim cresce seu sumo gosto e deleite ao poder formar na pequena criatura seus
mares de amor, de luz, de beleza, de ternura, de potência e demais. Minha sabedoria faz de artífice
perito e de engenho maravilhoso ao pôr na pequenez suas qualidades imensas e infinitas, oh!
como harmoniza a alma que vive em meu Querer com meus atributos, cada um deles se põe em
seu ofício para estabelecer suas qualidades divinas; se tu soubesses o grande bem que te vem ao
seguir minha Vontade em todos seus atos e o trabalho que desenvolve em ti, também tu sentirias a
alegria de uma festa contínua".
(7) Depois disto eu continuava seguindo a Criação, e por toda parte via correr aquele movimento
eterno que jamais se detém e pensava em mim: "Como posso seguir em tudo ao Supremo Querer
se Ele corre tão rápido em todas as coisas? Eu não tenho sua virtude nem sua rapidez, portanto é
natural que eu fique para trás sem poder seguir em todo seu eterno murmúrio". Então, enquanto
pensava nisso, o meu doce Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(8) "Minha filha, todas as coisas têm um movimento contínuo, porque tendo saído de um Ente
Supremo que contém um movimento cheio de vida, vinha por consequência que todas as coisas
saídas de Deus deviam conter um movimento vital que nunca cessa, e se cessar significa que
cessa a vida. Olhe, você mesma tem um murmúrio, um movimento contínuo em seu interior; mais
bem a Divindade ao criar à criatura lhe dava a semelhança das Três Divinas Pessoas, punha nela
três movimentos que deviam murmurar continuamente para unir-se àquele movimento contínuo e
murmúrio de amor de seu Criador, e estes são: O movimento do batimento do coração que jamais
cessa, a circulação do sangue que sempre gira sem jamais deter-se, a respiração que jamais se
detém, isto no corpo, e na alma há outros três movimentos que murmuram continuamente: a
inteligência, a memória e a vontade. Por isso o todo está em que teu movimento esteja atado ao
movimento de teu Criador para murmurar junto com seu movimento eterno, assim seguirá a minha
Vontade em seu movimento que jamais se detém, em seus atos que jamais cessam e fará retornar
teu movimento ao seio de teu Criador, que com tanto amor espera o retorno de suas obras, de seu
Amor e de seu murmúrio. A Divindade ao criar as criaturas faz como um pai que manda a seus
filhos, para seu bem, um a um país, outro a outras terras, quem para fazê-lo navegar o mar e quem
a um ponto próximo e quem a um distante, dando a cada um, um trabalho que fazer, mas enquanto
os manda espera com ânsia seu retorno, está sempre vigiando para ver se vêm, se fala, fala dos
filhos; se ama, seu amor corre aos filhos, seus pensamentos voam aos filhos; pobre pai, sente-se
na cruz porque mandou os seus filhos para longe dele e suspira mais que a própria vida o seu
regresso, e se, jamais, os vê regressar a todos ou em parte, ele está inconsolável, chora e emite
gemidos e gritos de dor até arrancar lágrimas até aos mais duros, e só se alegra quando os vê
retornar a todos a seu colo paterno para apertá-los a seu seio que arde de amor por seus filhos.
Oh! Como nosso Pai Celestial mais que pai suspira, arde, delira por seus filhos, porque, tendo-os
parido de seu seio espera seu retorno para gozá-los em seus braços amorosos. E é propriamente
isto o Reino do Fiat Supremo, o retorno de nossos filhos a nossos braços paternos, e por isso o
suspiramos tanto".
(9) Depois disto, sentia-me toda imersa na adorável Vontade de Deus, e pensava em mim no
grande bem se todos conhecessem e cumprissem este Fiat tão santo e o grande contentamento
que dariam a nosso Pai Celestial, e meu doce Jesus voltando a falar acrescentou:
(10) "Minha filha, Nós ao criar a criatura, conforme nossas mãos criadoras a íamos formando,
assim nos sentíamos sair de nosso seio uma alegria, um contento, porque devia servir para manter
nosso entretenimento sobre a face da terra e nossa festa contínua, por isso conforme formávamos

os pés, assim pensávamos que deviam servir a nossos beijos, porque deviam fechar os nossos
passos e ser meio de encontro para nos entreter juntos; à medida que formávamos as mãos, assim
pensávamos que deviam servir aos nossos beijos e abraços, porque devíamos ver nelas as
repetidoras de nossas obras; à medida que formávamos a boca, o coração, que devia servir o eco
da nossa palavra e do nosso amor, e conforme o nosso alento lhe infundimos a vida, vendo que
essa vida tinha saído de nós, que era vida toda nossa, o estreitamos a nosso seio beijando-o como
confirmação de nossa obra e de nosso amor, e para fazer que se mantivesse íntegro em nossos
passos, em nossas obras, no eco de nossa palavra e amor e da vida de nossa imagem impressa
nele, lhe demos como herança nosso Divino Querer, a fim de que o conservasse tal como o
havíamos tirado para poder continuar nossos entretenimentos, nossos beijos afetuosos, nossas
doces conversas com a obra de nossas mãos. Quando vemos na criatura nossa Vontade, Nós
vemos nela nossos passos, nossas obras, nosso Amor, nossas palavras, nossa memória e
inteligência, porque sabemos que nossa Suprema Vontade nada deixará entrar que não seja
nosso, e por isso como coisa nossa tudo lhe damos, beijos, carícias, favores, amor, ternura mais
que paternal, não toleramos estar com ela nem sequer a um passo de distância, porque mesmo as
pequenas distâncias não permitem formar entretenimentos contínuos, nem dar-se beijos, nem
participar das alegrias mais íntimas e secretas. Ao contrário, na alma na qual não vemos a nossa
Vontade, não podemos entreter-nos porque nada vemos que seja nosso, nela se sente tal
perplexidade, uma tal angústia de passos, de obras, de palavras, de amor, que por si mesma se
põe à distância do seu Criador, e Nós onde vemos que não está o ímã potente do nosso Querer,
que nos faz como esquecer a infinita distância que há entre o Criador e a criatura, desdenhamos
entreter-nos com ela, enchê-la de nossos beijos e favores. Eis por que o homem ao subtrair-se de
nossa Vontade despedaçou nossos entretenimentos e destruiu nossos desígnios que tínhamos ao
formar a Criação, e somente ao reinar nosso Fiat Supremo, ao estabelecer seu Reino, serão
realizados os nossos desígnios e retomados os nossos entretenimentos sobre a face da terra".

21-3
Março 3, 1927
Onde reina o Divino Querer chama a Deus junto com seu agir. O oferecimento a Deus das
próprias ações as purifica e as desinfeta.

(1) Estava oferecendo meus pequenos atos como homenagem de adoração e de amor ao
Supremo Querer, e pensava entre mim: "Mas será certo que o que faz a alma que faz a Divina
Vontade, o faz o mesmo Deus? Que glória pode ele receber, se eu lhe oferecesse o meu pequeno
trabalho e tudo o que posso fazer, o viesse fazer comigo?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro
de mim disse-me:
(2) "Minha filha, não me sentes em ti que estou a seguir os teus atos? Porque onde reina minha
Vontade, todas as coisas, até as mais pequenas e naturais se convertem em deleite para Mim e
para a criatura, porque são efeito de uma Vontade Divina reinante nela, que não sabe fazer sair de
Si nem sequer a sombra de alguma infelicidade. Além disso, você deve saber que na Criação
nosso Fiat Supremo estabeleceu todos os atos humanos, investindo-os de deleite, de alegria e de
felicidade, assim que o mesmo trabalho não devia provocar nenhum peso ao homem, nem causar-
lhe a mínima sombra de cansaço, porque possuindo meu Querer possuía a força que jamais se
cansa nem diminui. Olhe, também as coisas criadas são símbolo disto, cansa-se talvez o sol de dar
sempre a sua luz? Certamente que não; cansa-se o mar de murmurar continuamente, de formar as
suas ondas, de nutrir e de multiplicar os seus peixes? Certamente que não; cansa-se o céu de
estar sempre estendido, a terra de florescer? Não. Mas por que não se cansam? Porque está
dentro deles o poder do Fiat Divino, que tem a força que não se esgota jamais. Então todos os atos
humanos entram na ordem de todas as coisas criadas e todos recebem a marca da felicidade: o
trabalho, o alimento, o sono, a palavra, o olhar, o passo, tudo.

Agora, até que o homem se mantenha em nosso Querer, se mantém santo e são, cheio de vigor e de energia incansável, capaz
de saborear a felicidade de seus atos e de fazer feliz Aquele que lhe dava tanta felicidade; mas
assim que se subtraiu, adoeceu e perdeu a felicidade, a força incansável, a capacidade e o gosto
de saborear a felicidade de seus atos que o Divino Querer com tanto amor havia investido. Isto
acontece também entre quem está são e entre quem está doente: O primeiro saboreia o alimento,
trabalha com mais energia, toma prazer em divertir-se, em passear, em conversar; o enfermo se
desagrada do alimento, não sente força para trabalhar, se aborrece das diversões, estragam lhe
as conversas, tudo lhe faz mal; A doença mudou sua natureza, seus atos em dor. Agora supõe que
o enfermo voltasse ao vigor de sua saúde, se restabeleceria nas forças, no gosto, em tudo. Assim,
a causa de sua enfermidade tem sido o sair de minha Vontade; o retornar e fazê-la reinar será
causa de que volte a ordem da felicidade nos atos humanos, e fazer que minha Vontade tome sua
atitude nos atos da criatura. E enquanto oferece seu trabalho, o alimento que toma, e tudo o que
faz, desde dentro daqueles atos humanos brota a felicidade colocada por meu Querer nesses atos
e sobe a seu Criador para dar-lhe a glória de sua felicidade. Eis por que onde reina minha Vontade,
não só me chama junto com Ela a agir, mas dá-me a honra, a glória daquela felicidade com a qual
investimos os atos humanos, e ainda que a criatura não possua toda a plenitude da unidade da luz
da minha Vontade, desde que ofereça todos os seus atos ao seu Criador como homenagem e
adoração, como a doente é ela, não Deus, Deus recebe a glória da felicidade de seus atos
humanos. Suponha um enfermo que fizesse um trabalho, ou que preparasse um alimento e o
desse a outro que está são, este que goza a plenitude da saúde não percebe nada, nem do
cansaço daquele trabalho, nem da fadiga que o enfermo sentiu ao fazê-lo, nem o desgosto desse
alimento que teria sentido se o tivesse tomado o enfermo, mas sim goza na plenitude de sua saúde
do bem, da glória e da felicidade que lhe levará aquele trabalho e gosta do alimento que lhe foi
oferecido. Assim o oferecimento das próprias ações purifica, desinfeta as ações humanas e Deus
recebe a glória devida a Ele, e por correspondência faz descer novas graças sobre aquela que
oferece a Ele suas ações".


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