Parte 1 Parte 2
Renovação do Matrimonio. Matrimonio diante da Santíssima Trindade. Instrui-a sobre a Fé, a Esperança e a Caridade
(224) Neste estado que mencionei, passei cerca de três anos, e ainda estava na cama. Quando
uma manhã Jesus me fez entender que queria renovar o noivado mas não já na terra como a
primeira vez, mas no Céu diante da presença de toda a corte Celestial, assim que estivesse
preparada para uma graça tão grande. Eu fiz quanto mais pude para dispor-me, mas que, sendo eu
tão miserável e insuficiente para fazer nenhuma sombra de bem, se necessitava a mão do Artífice
Divino para dispor-me, porque por mim jamais teria conseguido purificar minha alma.
(225) Uma manhã, era a véspera da natividade de Maria Santíssima, meu sempre benigno
Jesus veio Ele mesmo para me dispor. Não fazia mais que ir e vir continuamente, agora me falava
da fé e me deixava, eu me sentia infundir na alma uma vida de fé, minha alma, tosca como a sentia
antes, agora, depois de falar de Jesus me sentia levíssima, em modo de penetrar em Deus, e
agora olhava a Potência, Agora a Santidade, agora a Bondade e demais, e minha alma ficava
estupefata, num mar de espanto e dizia: "Poderoso Deus, que poder diante de Ti não fica desfeito?
Santidade imensa de Deus, que outra santidade por quão sublime seja, ousará comparecer ante
sua presença?" Depois sentia-me descer em mim mesma e via o meu nada, a nulidade das coisas
terrenas, como nada é diante de Deus. Eu me via como um pequeno verme todo cheio de pó que
me arrastava para dar algum passo e que para me destruir não era preciso senão que alguém me
pusesse o pé em cima, e com isso ficava desfeita. Então, vendo-me tão feia, quase não me atrevia
a ir ante Deus, mas ante minha mente se apresentava sua bondade, e me sentia atraída como por
um ímã para ir até Ele e dizia entre mim: "Se é Santo, também é Misericordioso; se é Poderoso,
contém também em Si plena e suma Bondade". Parecia-me que a bondade o circundava por fora,
e o inundava por dentro. Quando olhava a Bondade de Deus me parecia que ultrapassava a todos
os outros atributos, mas depois, olhando para os outros, via-os todos iguais em si mesmos,
imensos, incomensuráveis e incompreensíveis à natureza humana. Enquanto minha alma estava
neste estado, Jesus voltava e falava da Esperança.
(226) Recordo algo confusamente, porque depois de tanto tempo é impossível recordar
claramente, mas para cumprir a obediência que assim quer, direi por quanto possa.
(227) Então disse Jesus, voltando à fé: "Para obtê-la é preciso crer. Assim como à cabeça sem a
vista dos olhos tudo é trevas, tudo é confusão, tanto que se quisesse caminhar, agora cairia em um
ponto, agora em outro e terminaria com precipitar-se de todo, assim o alma sem fé, não faz outra
coisa que ir de precipício em precipício, porque a fé serve de vista à alma e como luz que a guia à
vida eterna. Agora, de que é alimentada esta luz da fé? Pela esperança. E de que substância é
esta luz da fé e este alimento da esperança? A caridade. Estas três virtudes estão enxertadas entre
elas, de modo que uma não pode estar sem a outra".
2-34
Junho 12, 1899
O próprio Jesus prepara-a para a comunhão.
(1) Esta manhã, tendo de receber a comunhão, estava a pedir ao bom Jesus que viesse ele
mesmo preparar-me, antes que viesse o confessor para celebrar a Santa Missa. De outra forma
como poderei recebê-la, sendo tão má e estando indisposta? Enquanto fazia isto, o meu doce
Jesus agradou-se em vir, no mesmo momento em que o vi, parecia-me que não fazia outra
coisa senão tirar-me com os seus olhares puríssimos e resplandecentes de luz. Quem pode
dizer o que faziam em mim aqueles olhares penetrantes que não deixavam escapar nem
sequer a sombra de um pequeno defeito? É impossível poder dizê-lo; aliás, teria querido deixar
tudo isto em silêncio, porque as operações internas da graça dificilmente se sabem expor tal
como são com a boca, parece antes que se desfiguram. Mas a senhora obediência não quer e
quando é por ela, é preciso fechar os olhos e ceder sem dizer nada mais, de outra maneira, ai!
por toda parte, porque sendo senhora, por si mesma se faz respeitar.
(2) Então continuo a dizer: "No primeiro olhar, pedi a Jesus que me purificasse, e assim me
parecia que da minha alma se sacudisse tudo o que a ensombrava. No segundo olhar, pedi-lhe
que me iluminasse, porque em que aproveita a uma pedra preciosa ser pura se não está
resplandecente para atrair os olhares daqueles que a olham? Vão olhar para ela, sim, mas com
olhos indiferentes.Tanto mais eu, que não só devia ser olhado, mas identificada com meu doce
Jesus, tinha necessidade daquela luz, que não só me tornava a alma resplandecente, mas que
me fazia entender a grande ação que estava por realizar, por isso não me bastava ser
purificada, mas também iluminada. Então Jesus naquele olhar parecia que me penetrava, como
a luz do sol penetra o cristal. Depois disto, vendo que Jesus continuava olhando para mim, lhe
disse: "Amantíssimo Jesus, já que te deleitaste primeiro em purificar-me e depois em iluminar-
me, dígnate agora santificar-me, muito mais, que devendo receber-te a Ti, que és o Santo dos
santos, não é justo que eu seja tão diversa de Ti".
(3) Então Jesus, sempre benigno a esta miserável, inclinou-se para mim, tomou minha alma
entre seus braços e parecia que com suas próprias mãos toda a retocada, quem pode dizer o
que operavam em mim aqueles toques dessas mãos criadoras? Como minhas paixões ante
aqueles toques se punham em seu posto, meus desejos, inclinações, afetos, batimentos e
demais sentidos, santificados por aqueles toques divinos se mudavam em algo totalmente
diferente e unidos entre eles, não mais discordantes como antes, formavam uma doce
harmonia ao ouvido de meu amado Jesus; me parecia que fossem tantos raios de luz que
feriam seu coração adorável, oh! como Jesus se recriava e que momentos felizes têm sido para
mim. [ Ah! eu experimentava a paz dos santos, para mim era um paraíso de contentes e d
(4) Depois disto parecia que Jesus vestia a minha alma com a veste da fé, da esperança e da
caridade, e no ato mesmo que me vestia, Jesus me sugeria o modo como me devia exercitar
nestas três virtudes. Agora, enquanto eu estava fazendo isso, Jesus, enviando outro raio de luz
me fez entender o meu nada, ah! parecia-me que fosse como um grão de areia no meio de um
vasto mar, qual é Deus, e este pequeno grão ia-se perder naquele mar imenso, mas se perdia
em Deus. Depois me transportou para fora de mim mesma, levando-me em seus braços e
sugerindo vários atos de contrição de meus pecados; recordo somente que fui um abismo de
iniqüidade. Senhor, quantas negras ingratidões tive para Ti!
(5) Enquanto fazia isto olhei para Jesus e tinha a coroa de espinhos na cabeça, estendi-lhe a
mão e tirei-lha, dizendo: "Dá-me os espinhos, ó! Jesus, eu sou pecadora, a mim me convêm os
espinhos, não a Ti que és o Justo, o Santo". Assim Jesus mesmo a cravou sobre minha
cabeça. Depois, não sei como, de longe, vi o confessor, em seguida pedi a Jesus que fosse
preparar o confessor para poder recebê-lo na comunhão; então parecia que Jesus ia com ele.
Depois de um pouco ele voltou e me disse:
(6) "Quero que seja o modo de tratar entre Eu e você e o confessor, e assim também quero
dele, que te olhe e trate contigo como se fosse outro Eu, porque sendo sua vítima como fui Eu,
não quero diferença alguma, e isto para fazer que tudo seja purificado e que em tudo
resplandeça só meu amor".
(7) Eu disse-lhe: "Senhor, isto parece impossível, que possa tratar com o confessor como faço
Contigo, especialmente quando vejo a instabilidade". E Jesus:
(8) "No entanto é assim, a verdadeira virtude, o verdadeiro amor, tudo faz desaparecer, tudo
destrói e com uma maestria que encanta, em todo o seu agir não faz resplandecer outra coisa
que só Deus e tudo olha em Deus".
(9) Depois disto veio o confessor para chamar-me à obediência e assim celebrar a Santa
Missa, e por isso terminou. Então ouvi a Santa Missa e recebi a comunhão. Quem pode dizer a
intimidade que houve entre Jesus e eu? É impossível poder expressá-la, não tenho palavras
para me fazer entender, por isso o deixo em silêncio.
3-33
Janeiro 31, 1900
Correspondência à graça.
(1) Depois que Jesus veio várias vezes, mas sempre em silêncio, eu me sentia um vazio e uma
pena porque não ouvia a voz dulcíssima do meu doce Jesus e Ele, retornando, quase para me
contentar me disse:
(2) "A graça é a vida da alma. Assim como ao corpo dá vida a alma, assim a graça dá vida à alma.
Mas ao corpo não basta ter vida só ter a alma, senão que necessita também de um alimento para
nutrir-se e crescer a devida estatura, assim a alma não basta ter a graça para ter vida, senão que
necessita um alimento para alimentá-la e conduzi-la a devida estatura, E qual é esse alimento? É a
correspondência. Assim que a graça e a correspondência formam essa cadeia que a conduz ao
Céu, e à medida que a alma corresponde à graça, são formados os elos desta cadeia".
(3) Depois acrescentou: "Qual é o passaporte para entrar no reino da graça? É a humildade. A
alma, olhando sempre para o seu nada e descobrindo que não é senão pó, que vento, toda a sua
confiança a porá na graça, tanto que a fará dona, e a graça tomando o domínio sobre toda a alma,
a conduz pelo caminho de todas as virtudes e a faz chegar ao topo da perfeição".
(4) O que será a alma sem graça? Parecia-me como o corpo sem a alma, que se torna pestilento e
se enche de vermes e podridão por toda parte, tanto que se faz objeto de horror à mesma vista
humana; assim a alma sem a graça, torna-se tão abominável que dá horror à vista, não dos
homens, mas daquele Deus três vezes Santo.
(5) Ah Senhor, livra-me de tanta desgraça e do monstro abominável do pecado!
4-38
Novembro 25, 1900
A natureza do verdadeiro amor é de transformar as penas em alegrias, as amarguras em doçuras.
(1) Demorando a vir o meu dulcíssimo Jesus, senti-me quase com temor, e ainda não vinha, mas
depois com a minha surpresa, tudo de improviso veio e me disse:
(2) "Amada minha, queres saber quando uma obra se faz pela pessoa amada? Quando
encontrando sacrifícios, amarguras e penas, tem virtude de mudá-las em doçuras e delícias,
porque esta é a natureza do verdadeiro amor, a de transformar as penas em alegrias, as
amarguras em doçuras, se se experimenta o contrário é sinal de que não é o verdadeiro amor que
opera. Oh, em quantas obras se diz: faço-o por Deus, mas nas dificuldades retrocedem! , com isto
fazem ver que não era por Deus, senão pelo próprio interesse e prazer que sentiam".
(3) Depois ele adicionou: "Geralmente se diz que a própria vontade estraga todas as coisas e
infecta as obras mais santas, porém se esta vontade própria está conectada com a Vontade de
Deus, não há outra virtude que a possa superar, porque onde há vontade há vida no obrar o bem,
mas onde não há vontade há morte no obrar, ou bem se obrará fastidiosamente como se se
estivesse em agonia".
6-34
Abril 16. 1904
Jesus e Deus Pai falam sobre a Misericórdia.
(1) Continuando o meu estado habitual encontrei-me fora de mim mesma, e via uma multidão de
povos, e no meio deles se ouviam rumores de bombas e explosões, e as pessoas caíam mortas e
feridas, os que ficavam fugiam para um palácio próximo, mas os inimigos atacavam-no e matavam-
nos com mais segurança do que aqueles que ficavam expostos. Então eu dizia entre mim: "Como
gostaria de ver se o Senhor está entre estas nações para lhe dizer: "Tem misericórdia, piedade
desta pobre gente". Então eu virei e girado novamente e eu o vi como um pequeno menino, mas
pouco a pouco estava crescendo até que ele chegou à idade perfeita, então eu me aproximei e lhe
disse: "Amável Senhor, não vê a tragédia que acontece? Não queres fazer mais uso da
misericórdia, talvez queiras ter inútil este atributo que sempre glorificou com tanta honra a tua
Divindade encarnada, fazendo com ela uma coroa especial à tua augusta cabeça e adornando-te
uma segunda coroa tão querida e amada por Ti, como são as almas?" Agora, enquanto isso dizia,
Ele me disse:
(2) "Basta, basta, não vá em frente, você quer falar de misericórdia, e da justiça o que faremos? Já
o disse e repito, é necessário que a justiça tenha o seu curso".
(3) Portanto, tenho repetido: "Não há remédio, e para que me deixar nesta terra quando não posso
aplacar-te mais e sofrer eu em lugar de meu próximo? Sendo assim é melhor que me faças
morrer". Enquanto eu estava nisto, via outra pessoa por detrás das costas de Jesus bendito, e
disse-me quase acenando-me com os olhos: "Apresenta-te a meu Pai e vê o que te diz". Eu me
apresentei toda trêmula, e ele me viu e disse:
(4) "Que queres que venhas a mim?"
(5) E eu: "Bondade adorável, misericórdia infinita, sabendo que Tu és a mesma misericórdia, vim
pedir-te misericórdia, misericórdia para as tuas próprias imagens, misericórdia para as obras
criadas por Ti, misericórdia não para os outros, mas para as tuas próprias criaturas". E Ele me
disse:
(6) "Então é misericórdia o que você quer? Mas se você quiser verdadeira misericórdia, a justiça
depois de ter desabafado, produzirá grandes e abundantes frutos de misericórdia".
(7) Então, não sabendo mais o que dizer, disse: "Pai infinitamente santo, quando os servos, os
necessitados se apresentam aos patrões, aos ricos, se são bons, se não dão tudo o que é
necessário, dão-lhes sempre alguma coisa, e eu, que tive o bem de me apresentar ante Ti, dono
absoluto, rico sem termo, bondade infinita, nada queres dar a esta pobrezinha do que te pediu, não
fica acaso mais honrado e contente o patrão quando dá do que quando nega o que é necessário a
seus servos? Depois de um momento de silêncio há agregado:
(8) "Por amor de Ti, em vez de fazer por dez farei por cinco".
(9) Dito isto desapareceram, e eu vi em mais partes da terra, e especialmente na Europa,
multiplicar guerras, guerras civis e revoluções.
7-36
Agosto 8, 1906
Como é necessário correr sem parar jamais.
(1) Esta manhã estando muito cansada por sua privação, assim que veio o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, para a criatura alcançar seu ponto central é necessário correr sempre, sem jamais
deter-se, porque correndo se faz mais fácil o caminho, e conforme caminha lhe será manifestado o
ponto onde deve chegar para encontrar seu centro, e ao longo do caminho lhe será fornecida a Graça
necessária para o caminho, e ajudada pela Graça não sentirá o peso da fadiga nem da vida. Tudo o
contrário para aquele que caminha e se detém, já que só parando sentirá o cansaço dos passos que
deu, perderá o impulso em seguir o caminho, e não caminhando não poderá ver seu ponto final, que
é um sumo bem e não ficará cativado, a Graça não o vendo correr não se dará em vão, e a vida se
tornará insuportável, porque o nada fazer produz tédio e aborrecimento".
8-34
Abril 8, 1908
A Divina Vontade é contínua comunhão. Como saber se um estado é Vontade de Deus.
(1) Estava aborrecida por não poder receber a comunhão todos os dias, e o bom Jesus ao vir me
disse:
(2) "Minha filha, não quero que nada te dê incômodo. É verdade que é grande receber a
comunhão, mas quanto dura a união estreita da alma Comigo? No máximo um quarto de hora, por
isso a coisa que mais te deve importar é desfazer completamente a tua vontade na minha, porque
para quem vive da minha Vontade a união estreita Comigo não é só de um quarto de hora, senão
sempre, sempre, sempre. Assim que minha Vontade é contínua comunhão com a alma, portanto,
não uma vez por dia, mas todas as horas, todos os momentos, é sempre comunhão para quem faz
a minha vontade".
(3) Agora, tendo passado dias amargos pela privação de meu sumo e único Bem, pensando e
temendo que meu estado fosse uma ficção, estar na cama sem nenhum movimento, sem nenhuma
ocupação, esperando a vinda do confessor e sem meu habitual adormecimento, me angustiava e
martirizava tanto, que me fazia adoecer pela dor e pelas contínuas lágrimas. Muitas vezes eu
implorei ao confessor para me dar permissão e obediência de que, quando não estivesse
adormecida e Jesus Cristo não se comprasse em me participar, como vítima, um mistério de sua
Paixão, eu pudesse me sentar na cama segundo meu costume e me dedicar a meu trabalho de
tecelagem, mas ele continua e absolutamente me proibiu, é mais, acrescentou que este meu
estado, embora com a privação de meu Sumo Bem, devia considerar-se como estado de vítima
pela violência e dor na dita privação e pela obediência. Eu sempre obedeci, mas continuamente o
martírio do coração me dizia: "E não é esta uma ficção? Onde está o seu adormecimento? Onde o
estado de vítima? E você o que sofre dos mistérios da Paixão? Levanta-te, levanta-te, não faças
simulações, trabalha, trabalha, não vês que este fingimento te levará à Condenação? E tu não
temes? E não pensas no tremendo juízo de Deus? Não vês que depois de tantos anos não fizeste
outra coisa senão cavar um abismo do qual não sairás em toda a eternidade?" Oh, Deus! Quem
pode dizer o tormento do coração e os cruéis sofrimentos que me atormentam a alma, oprimem-me
e lançam-me num mar de dores? Mas a tirania obediência não me permitiu nem sequer um átomo
de minha vontade. Seja feita a Divina Vontade que assim dispõe.
(4) Enquanto estava nestes tormentos cruéis, esta noite, encontrando-me no meu estado habitual,
via-me circundada por pessoas que diziam:
(5) "Reza um Pai Nosso, uma Ave Maria, e uma glória em honra de São Francisco de Paulo, e ele
lhe trará algum alívio aos seus sofrimentos".
(6) Então eu os rezei, e assim que os terminei apareceu o santo me trazendo um pequeno pedaço
de pão, me deu dizendo:
(7) "Coma-o".
(8) Eu comi e senti-me fortificada, e depois disse-lhe: "Amado Santo, gostaria de te dizer alguma
coisa".
(9) E Ele com toda afabilidade: "Dize, que queres dizer-me?"
(10) E eu: "Temo tanto que o meu estado não seja a vontade de Deus. Olhe, nos primeiros anos
desta doença acontecia-me a intervalos, sentia que Nosso Senhor me chamava porque me queria
vítima, e ao mesmo tempo sentia-me surpreendida por dores e feridas internas, tanto, que
externamente parecia como se tivesse tido um acidente, por isso temo tanto que minha fantasia
produzia esses males".
(11) E o santo: "O sinal seguro para conhecer se um estado é Vontade de Deus, é se a alma está
disposta a fazer diversamente se soubesse que a Vontade de Deus não fosse mais aquela".
(12) E eu, não ficando convencida acrescentei: "Querido santo, não te disse tudo, escuta, as
primeiras vezes foi a intervalos, mas desde que Nosso Senhor me chamou à imolação contínua já
vão 21 anos que estou sempre na cama, e quem te poderá dizer as vicissitudes? Às vezes parece
que me deixa, me tira o sofrimento que é meu único e fiel amigo em meu estado, e eu fico
destroçada sem Deus, sem o sustento do mesmo sofrer, por isso as dúvidas, os medos de que o
meu estado não é a vontade de Deus".
(13) E Ele todo doçura: "Repito-te o que te disse antes, se estás disposta a fazer a Vontade de
Deus se a conhecesses, teu estado é de sua Vontade".
(14) E como eu sinto na alma, que se conhecesse a Vontade de Deus com toda clareza estaria
disposta à custa de minha própria vida, a seguir seu Santo Querer, por isso fiquei mais tranqüila.
(15) Sejam sempre dadas as graças ao Senhor.
9-33
Abril 10, 1910
Preparação e agradecimento na comunhão.
(1) Escrevo para obedecer, mas sinto que me parte o coração pelo esforço que faço, mas viva a
obediência, viva a Vontade de Deus. Escrevo, mas tremo, e não sei o que digo; a obediência quer
que escreva algo sobre como me preparo e como agradeço a Jesus bendito na comunhão. Eu não
sei dizer nada, porque meu doce Jesus vendo minha incapacidade e que não sou boa para nada,
faz tudo por Si mesmo: Ele prepara minha alma, e Ele mesmo me fornece o agradecimento e eu o
sigo. Agora, o modo de Jesus é sempre imenso, e eu junto com Jesus sinto-me imensa e como se
soubesse fazer alguma coisa, e se Jesus se retira eu fico sempre como a tola que sou, a ignorante,
a má, e é exatamente por isso que Jesus me ama tanto, porque sou ignorante e porque nada sou e
nada posso, mas sabendo que a qualquer custo o quer receber, para não fazer-se uma desonra ao
vir em mim, senão suma honra, prepara Ele mesmo minha pobre alma, me dá suas mesmas
coisas, seus méritos, suas vestes, suas obras, seus desejos, em suma, todo o Si mesmo, e se for
necessário, também o que fez a Mãe Santíssima, o que fizeram os santos, porque tudo é seu, e eu
digo a todos: "Jesus, faz-te honrado ao vir em mim, Mãe, Rainha minha, santos, anjos todos, eu
sou pobre, pobre, tudo o que é vosso ponha-lo no meu coração, não para mim, mas para honra de
Jesus". E sinto que todo o Céu concorre para me preparar. E depois Jesus desce em mim, e me
parece vê-lo todo contente ao ver-se honrado por mesmas coisas, e às vezes me diz:
(2) "Bravo, bravo a minha filha, como estou contente, quanto me agrado, onde quer que olho em ti
encontro coisas dignas de Mim, pois tudo o que é meu é teu, quantas coisas belas me fizeste
encontrar".
(3) Eu, sabendo que sou pobre, pobre, que nada tenho feito e nada é meu, alegro-me pelo
contentamento de Jesus e digo: "Menos mal que Jesus pensa deste modo; basta que tenha vindo e
isto me basta, não importa que me tenha servido de suas mesmas coisas, os pobres devem
receber dos ricos". Agora, é verdade que permanece em mim alguma lembrança disto ou daquilo,
do modo como Jesus me prepara na comunhão, mas estas recordações não sei reunir juntas e
formar uma preparação e um agradecimento, falta-me a capacidade, parece-me que me preparo
no próprio Jesus e com o próprio Jesus faço o meu agradecimento .
35. A Fuga para o Egito. Ensinamentos sobre a última visão ligada à vinda de Jesus.
9 de junho de 1944.
O meu espírito vê a seguinte cena.
É noite. José dorme em sua cama no seu pequeno quarto. Um sono tranqüilo de quem descansa de muito
trabalho, feito com honestidade e capricho.
Eu o vejo na escuridão do ambiente, rompida apenas por um pouco da luz do luar, que penetra por uma
abertura da janela, encostada, mas não totalmente fechada, como se José tivesse calor ou quisesse ter
aquele pouco de luz, para saber calcular o despontar da alvorada, levantando-se diligente. Ele está deitado
de lado e, no sono, sorri, quem sabe a qual sonho que esteja tendo. Mas, seu sorriso se transforma em preocupação.
Ele suspira profundamente, como se faz quando se tem
um pesadelo, e acorda sobressaltado. José se assenta sobre a cama, esfrega os olhos, e olha ao redor de si.
Olha, depois, para a janela, por onde está entrando a claridade do luar. É noite alta, mas ele pega a roupa,
que está estendida aos pés da cama e, continuando sentado sobre a mesma, a vai vestindo sobre a túnica
branca de mangas curtas que ele trazia sobre a pele. Afastadas as cobertas, põe os pés no chão e procura
as sandálias. Depois ele as calça e amarra. Põe-se em pé e vai até a porta, que está em frente de sua cama,
não a que está de lado e que dá para o salão onde foram recebidos os Magos.
Ele bate à porta, de leve, só um toc-toc, com a ponta dos dedos. José deve ter ouvido que está sendo
convidado a entrar, porque abre com cuidado a porta, e a torna a encostar, sem fazer barulho. Antes de ir
até à porta, ele acendeu uma pequena candeia, de um só bico, e assim tem uma luz para poder andar. Ele
entra. Mas, em um quarto pouco maior do que o seu, e no qual está uma caminha ao lado de um berço, ele
vê uma luzinha já acesa; a chama vacilante, que está a um canto, parece uma estrelinha de uma luz tênue e
dourada, que permite enxergar, mas sem incomodar quem estiver dormindo.
35.2Maria, porém, não está dormindo. Ela está ajoelhada junto ao berço, vestida com sua veste clara, e
está rezando, velando a Jesus que dorme tranqüilo, Jesus que tem a idade em que o vi na visão dos Magos.
É uma criança de cerca de um ano, bonita, rósea e loira, que está dormindo, com a cabecinha de cabelos
encaracolados afundada no travesseiro, e com uma mãozinha com o punho fechado, encostada na garganta.
– Não estás dormindo? –pergunta José, em voz baixa, e admirada–. Por que? Jesus não está bem?
– Oh, não! Ele está bem. Eu estou rezando. Mas certamente depois dormirei. Por que vieste, José?
Maria fala, permanecendo ajoelhada onde estava.
José fala em voz muito baixa, para não despertar o Menino, mas sua voz é agitada.
– Precisamos ir embora logo daqui. Mas logo! Prepara o baú e um saco com tudo o que puder caber
nele. Eu vou preparar tudo o mais, e levarei o mais que puder. Ao romper da aurora, fugiremos. Eu faria
isso até antes, mas preciso falar com a dona da casa…
– Mas, por que esta fuga?
– Depois, eu te falarei melhor. É por causa de Jesus. Um anjo me disse: “Pega o Menino e a mãe, e foge
para o Egito.” Não percas tempo. Eu vou preparar o que puder.
35.3 Não há necessidade de dizer a Maria que não perca tempo. Assim que ela ouviu falar de anjo, de Jesus
e de fuga, compreendeu que está em perigo o seu Filho, pôs-se em pé, branca como se tivesse um rosto de
cera, com uma mão posta sobre o coração, angustiada. Logo começou a mover-se, desembaraçada e ligeira,
e a arrumar as roupas no baú e num grande saco, que ela estendeu sobre o leito, e que ainda não foi usado.
Certamente está aflita, mas não perde a cabeça, e faz tudo apressadamente, mas com ordem. De vez em
quando, ao passar por perto do berço, olha para o Menino, que está dormindo sem saber de nada.
– Estás precisando de ajuda? –pergunta-lhe José, de vez em quando, pondo a cabeça para dentro da
porta, que está entreaberta.
– Não, obrigada –responde sempre Maria.
Somente quando o saco está cheio, e fica pesado, é que ela chama José para ajudá-la a fechá-lo e
levantá-lo da cama. Mas José não quer ser ajudado e faz tudo sozinho, pegando o grande volume, e levando o para o seu quartinho.
– Pego também as cobertas de lã? –pergunta Maria.
– Pega o mais que puderes. Porque o que ficar estará perdido. Por isso, o mais que puderes, apanha-o!
Para nós vai ser bom, porque… porque teremos pela frente uma longa viagem, Maria!…
José fica muito sentido, ao ter que dizer isso. Pode-se imaginar como está Maria. Suspirando, ela vai
dobrando suas colchas e as de José e ele as amarra com uma corda:
– Vamos deixar os acolchoados e as esteiras –diz ele, enquanto amarra as colchas–. Ainda que eu levasse
três burrinhos, não posso sobrecarregá-los demais. Temos que fazer uma longa e incômoda viagem, uma
parte pelas montanhas, e outra pelo deserto. Cobre bem Jesus. As noites serão frias tanto nas montanhas,
como no deserto. Apanhei os presentes dos Magos, porque eles nos serão úteis lá embaixo. Tudo o que eu
tiver gastarei para comprar os dois burrinhos. Nós não podemos mandá-los de volta, e por isso eu preciso
adquiri-los. Eu vou, sem ficar esperando o romper da aurora. Sei onde procurá-los. Tu, acabas de preparar
tudo.
E sai. Maria recolhe ainda alguns objetos e, depois de ter ido ver Jesus, sai e volta com duas pequenas
vestes que parecem estar ainda úmidas, talvez tenham sido lavadas no dia anterior. Ela as dobra e envolve
em um pano e as ajunta com as outras coisas. Já não há mais nada.
Ela olha ao redor e vê um brinquedo de Jesus em um canto: é uma ovelhinha entalhada em madeira. Ela
a pega com um soluço, e a beija. A madeira está com os sinais dos dentinhos de Jesus, e as orelhas da
ovelhinha estão mordiscadas. Maria acaricia aquele objeto sem valor, feito com uma madeira clara e
comum, mas que para ela é de grande valor, porque lhe fala do afeto de José por Jesus e lhe fala também do
seu Menino. Por isso o põe também junto com as outras coisas sobre o baú já fechado.
35.4 Agora, já não há mais nada mesmo. Só falta Jesus, que ainda está em seu bercinho. Maria acha que é
bom prepará-Lo também. Vai ao berço e o sacode um pouco para despertá-Lo. Mas Ele dá apenas um leve
sinal, e virando-se para o outro lado, continua a dormir. Maria o acaricia de leve, sobre os caracoizinhos.
Jesus abre a boquinha para um bocejo. Maria se inclina e o beija na face. Jesus acaba de despertar. Abre os
olhos. Vê a mamãe, e sorri, e estende as mãozinhas para o seio dela.
– Sim, amor da mamãe. Sim, o leite. Antes da hora habitual… Mas Tu estás sempre pronto para sugar
tua mamãe, meu santo cordeirinho!
Jesus ri e brinca, agitando os pezinhos para fora das cobertas, agitando os braços com uma daquelas
alegrias de criança, tão bela de se ver. Ele apóia os pezinhos sobre o estômago da mãe, curva-se como um
arco e apóia também a cabecinha loira sobre o seu seio e, depois, se atira para trás, rindo, com as
mãozinhas agarradas aos cordõezinhos que ajustam o vestido ao pescoço de Maria, procurando abri-lo. Em
sua camisinha de linho Ele está muito bonito, gorducho, rosado como uma flor. Maria se inclina e, estando
assim por cima do berço como uma proteção, chora e sorri ao mesmo tempo,
enquanto o Menino balbucia aquelas palavras, de todos os bebês, que não são palavras, e entre as quais
ouve-se já clara e repetidamente a palavra “mamãe”. Ele olha para ela, admirado por vê-la chorar. Estende
uma mãozinha para as lágrimas que caem, e se deixa molhar por aquelas carícias. Gracioso, torna a
apoiar-se no seio materno, e se encolhe todo, acariciando-o com sua mãozinha. Maria o beija por entre os
cabelos, e o pega no colo, senta-se e o veste. O vestidinho de lã já está posto,
e as sandalinhas também. Maria lhe dá de mamar, Jesus suga contente o bom leite de sua mamãe e, quando
percebe que da direita está vindo menos, procura a esquerda, ri ao fazer isso, olhando de alto a baixo para
sua mamãe. Depois adormece de novo sobre o seio dela. Sua bochecha rosada e gorducha está ainda contra
o seio branco e redondo. Maria se levanta, lentamente, e o coloca sobre a colcha de seu leito. Cobre-o com o seu manto. Volta ao
berço e dobra as pequenas cobertas. Fica pensando se não será bom pegar também o pequeno colchão. É
tão pequeno! Pode-se levar. Então, Ela o coloca, junto com o travesseiro, perto das coisas já postas sobre o
baú. Chora sobre o berço vazio a pobre mãe, que está sendo perseguida com seu Filho.
35.5 José já está de volta.
– Estás pronta? Jesus está pronto? Pegaste as suas cobertas, a sua caminha? Não podemos levar o berço,
mas pelo menos que Ele tenha o seu pequeno colchão, pobre Pequenino, que procuram a sua morte!
– José!
Maria dá um grito, enquanto se agarra ao braço de José.
– Sim, Maria, a sua morte. Herodes o quer morto… porque tem medo… por causa do seu reino humano,
ele tem medo deste Inocente, aquela fera imunda. Que irá ele fazer, quando ficar sabendo que o Menino
fugiu, eu não sei. Mas nós já estaremos longe. Não creio que ele queira se vingar, procurando-o até na
Galiléia. Já lhe seria muito difícil descobrir que nós somos galileus, e mais ainda, que nós somos de Nazaré,
e quem é que somos exatamente. A não ser que Satanás o ajude, para agradecê-lo por ser-lhe um servo fiel.
Mas… se isso acontecesse… Deus nos ajudará do mesmo modo. Não chores, Maria. Ver-te chorar é para
mim uma dor bem mais forte do que a de ter que ir para o exílio.
– Perdoa-me, José. Não é por mim que eu choro, nem pelas poucas coisas que vamos deixar. Eu choro
por ti… Já tiveste que sacrificar-te tanto! E agora tornas a ficar de novo sem clientes e sem casa. Quanto eu
custo para ti, ó José!
– Quanto? Não, Maria. Tu não me custas nada. Tu me consolas. Sempre. Não fiques pensando no dia de
amanhã. Nós temos as riquezas dos magos. Elas nos ajudarão nos primeiros tempos. Depois, eu acharei
trabalho. Um operário honesto e que tenha capacidade, logo abre caminhos. Já viste como foi aqui. As horas
não me bastam para o trabalho que tenho.
– Eu sei. Mas, quem te aliviará da saudade?
– E a ti, quem te aliviará da saudade daquela casa de que tanto gostas?
– Jesus. Tendo-o, tenho o que lá tive.
– E eu, tendo Jesus, tenho a pátria a qual tenho esperado até a poucos meses. Tenho o meu Deus. Estás
vendo como não vou perder nada do que me é mais querido sobre todas as coisas. Basta que salvemos a
Jesus, que tudo ficará conosco. Mesmo que não tivéssemos mais de ver este céu, estes campos, nem aqueles
ainda mais queridos da Galiléia, teríamos sempre tudo, porque o temos. Vem, Maria, que o amanhecer
está chegando. É hora de irmos saudar a nossa hospedeira e pegar as nossas coisas. Tudo irá bem.
Maria se levanta, obediente. Envolve-se no manto, enquanto José está fazendo um último embrulho, e
depois sai, transportando-o. Maria soergue delicadamente o Menino, e o envolve com um xale, apertando-o contra o coração. Olha
para as paredes que a hospedaram durante alguns meses, e, com uma mão, toca nelas de leve. Feliz casa,
que mereceu ser amada e abençoada por Maria!
Ela sai. Atravessa o pequeno quarto, que era de José, e entra no salão. A dona da casa, em lágrimas, a
beija e saúda, e, levantando uma das extremidades do xale, beija na fronte o Menino, que está dormindo
tranqüilo. Descem pela escadinha externa.
Vem chegando uma primeira claridade da aurora, quando se começa a ver alguma coisa. Naquela pouca
luz, pode-se ver três burrinhos. O mais robusto está carregado com as alfaias. Os outros, estão selados. José
faz força para acomodar bem o baú e os embrulhos sobre a albarda do primeiro. Vejo as suas ferramentas
de carpinteiro, amarradas em pacotes, dentro do saco.
Ainda há saudações e lágrimas. Depois Maria monta no seu burrinho, enquanto a dona da casa segura
Jesus no colo, e o beija ainda, devolvendo-O depois a Maria. José monta também, tendo antes amarrado o
seu jumento ao outro jumento, que vai com a bagagem, a fim de ficar com a mão livre para segurar o
burrinho de Maria, pelo cabresto.
A fuga tem início, enquanto Belém, que sonha ainda com a fantástica cena dos Magos, dorme quieta,
sem saber o que a espera.
E a visão cessa assim.
35.7 Jesus diz:
– Também as visões desta série terminam assim. Em boa paz com os doutores difíceis, viemos te
mostrando as cenas que precederam, que acompanharam e que se seguiram à minha Vinda, não pelas
cenas em si mesmas, pois são muito conhecidas, por mais que tenham sido alteradas, por elementos
sobrepostos através dos séculos, sempre por causa daquele modo de ver humano que, para dar maior
louvor a Deus, e por isso é perdoado, torna irreal o que é tão belo, se for deixado como é. Porque a minha
Humanidade e a de Maria não ficam por isso diminuídas, assim como não fica ofendida a minha Divindade e
a Majestade do Pai e o Amor da Santíssima Trindade, por uma visão das coisas em sua realidade, mas, ao
contrário, esplendem os méritos de minha mãe e a minha humildade perfeita. Assim como daí é que fulgura
a bondade onipotente do eterno Senhor. Mostramos estas cenas para poder aplicar a ti e aos outros o
sentido sobrenatural, que surge daí, dando-vos como norma de vida.
O Decálogo é a Lei. O meu Evangelho é a doutrina que vos torna mais clara essa Lei e mais desejável
para ser seguida. Bastariam esta Lei e esta Doutrina para fazer os homens santos. Mas vós estais tão
embaraçados com a vossa humanidade, que (na verdade, em vós ela ultrapassa
demais ao espírito) que não podeis seguir por estas vias, sem cair; ou então, parar, desencorajados. Dizeis a
vós e a quem queria fazer que vos adiantásseis, citando-vos os exemplos do Evangelho: “Jesus, Maria, José
(e assim por diante todos os santos) não eram como nós. Eles eram fortes, foram logo consolados em suas
dores, até nas pequenas dores que sentiram! Eles não sentiam paixões. Eram já seres fora da terra.”
Ah! Aquelas pequenas dores! Ah! Não sentiam as paixões!
35.8 A dor foi para nós a amiga fiel, e teve todos os mais variados aspectos e nomes.
As paixões… Não useis erradamente um vocábulo, chamando de “paixões” os vícios, que vos
desencaminham. Chamai-os sinceramente de “vícios” e, além disso, capitais. Quanto aos vícios, não é que
os ignorássemos. Nós tínhamos olhos e ouvidos, para ver e ouvir, e Satanás fazia dançar esses vícios à
nossa frente, mostrando-os nas obras, com a sua imundície, ou tentando-nos com as suas insinuações. Mas
a nossa vontade, inclinada a tornar-nos agradáveis a Deus, fazia com que aquela imundície e aquelas
insinuações, em vez de satisfazerem o objetivo de Satanás, provocasse o contrário. Quanto mais ele
trabalhava, mais nós nos refugiávamos na luz de Deus, por repugnância das trevas lamacentas, colocada
diante dos nossos olhos carnais ou espirituais.
Nós não ignoramos as paixões, no sentido filosófico. Nós amamos a pátria, com a nossa pequena Nazaré,
cidade que amamos mais do que qualquer outra da Palestina. Nós sentimos afeto por nossa casa, pelos
parentes e amigos. Por que não haveríamos de sentir? Não nos tornamos escravos deles, porque nada nos
deve possuir, a não ser Deus. Mas fizemos deles bons companheiros. Minha mãe exultou de alegria, quando,
quatro anos depois, voltou a Nazaré e pôs o pé em sua casa,
podendo beijar aquelas paredes, dentro das quais o seu “sim” lhe abriu o ventre para receber o Embrião de
Deus. José saudou com alegria parentes e sobrinhos, crescidos em número e idade, e se alegrou ao ver-se
imediatamente lembrado pelos concidadãos, também por sua capacidade profissional. Eu próprio fui
sensível às amizades e sofri, como uma crucificação moral, pela traição de Judas. Que dizer de tudo isso?
Nem minha mãe, nem José preteriram a casa ou os parentes, à vontade de Deus.
35.9 E Eu não poupei palavras, quando foi preciso, mesmo quando
elas atraíam o ódio dos hebreus e a antipatia de Judas sobre Mim. Eu sabia (e teria podido fazê-lo) que
teria bastado dinheiro para subjugá-lo a Mim. Não a Mim como Redentor, mas a Mim riqueza. Eu que
multipliquei os pães, podia multiplicar também o dinheiro, se quisesse. Mas Eu não tinha vindo procurar
satisfações humanas. De ninguém. Muito menos, dos que foram chamados por Mim. Eu havia pregado a
necessidade do sacrifício, do desapego, de uma vida casta, de posições humildes. Que Mestre e que Justo
teria sido, se tivesse dado dinheiro para alimentar o sensualismo mental e físico de alguém, como único
meio para segurá-lo?
No meu Reino, os grandes se tornam assim, fazendo-se “pequenos.” Quem quer ser “grande” aos olhos
do mundo, não está preparado para reinar no meu Reino. Esse é palha para a cama dos demônios. Porque a
grandeza do mundo está em contraste com a Lei de Deus.
O mundo chama “grandes” os que, com meios quase sempre ilícitos, sabem ocupar as melhores posições
e, para conseguirem isso, fazem do próximo um degrau, sobre o qual sobem, pisando nele. Chama
“grandes” aqueles que sabem matar para reinar, matar moral ou materialmente e, pela extorsão,
conseguem posições e lugares, e enriquecem, sugando o sangue dos outros em suas riquezas particulares
ou coletivas. O mundo muitas vezes chama os delinqüentes de “grandes.” Não. A “grandeza” não está na
delinquência. Está na bondade, na honestidade, no amor, na justiça. Vede os vossos “grandes”, que frutos
envenenados vos oferecem, colhidos no seu malvado e demoníaco pomar interior!
35.10 A última visão, pois eu quero falar dela e deixar de falar de outros assuntos que são tão inúteis, e o
mundo não quer ouvir a verdade que lhe interessa, é uma visão que ilumina um ponto particular, citado
duas vezes no Evangelho de Mateus, numa frase repetida duas vezes: “Levanta, pega o Menino e sua mãe, e
foge para o Egito.” “Levanta, pega o Menino e a mãe Dele, e volta para a terra de Israel.” E, como viste,
Maria estava sozinha com o Menino no quarto.
A virgindade de Maria após o parto e a castidade de José são muito combatidas, por aqueles que, por
serem lama podre, não admitem que alguém possa ser asa e luz. São infelizes, com coração tão corrompido,
com mente que se prostituiu tanto à carne, que se tornaram incapazes de pensar que alguém como eles
possa respeitar a mulher, ver nela a alma e não a carne, elevando-se a si mesmos, vivendo em uma
atmosfera sobrenatural, apetecendo-se de Deus, e não da carne.
Pois bem. Aos negadores do belo, a estes vermes, incapazes de se tornarem borboletas, a estes répteis
cobertos pela baba de sua libidinagem, incapazes de compreender a beleza de um lírio, a estes Eu digo que
Maria foi e permaneceu virgem, e que só sua alma foi casada com José, como o seu espírito se uniu
unicamente ao Espírito de Deus e, por obra Dele, ela concebeu o seu Único Filho: Eu, Jesus Cristo,
Unigênito de Deus e de Maria.
Isto não é uma tradição que floresceu mais tarde, por um amoroso respeito para com a Bem-Aventurada,
que foi minha mãe. Mas é uma verdade que, desde os primeiros tempos, foi conhecida. Mateus não nasceu
séculos depois. Ele foi contemporâneo de Maria. Mateus não era um pobre
ignorante, que tivesse vivido nas selvas, com facilidade de acreditar em qualquer história. Era um fiscal da
receita, como diríeis hoje, ou um cobrador de gabelas, como naquele tempo dizíamos. Ele sabia ver, ouvir,
compreender, separar o verdadeiro do falso. Mateus não ouviu as coisas por meio de terceiros. Mas ele as
recolheu dos lábios de Maria, à qual o seu amor pelo Mestre e pela verdade o havia levado a fazer
perguntas.
Não posso chegar a pensar que esses negadores da inviolabilidade de Maria pensem que ela tenha
podido mentir. Os meus próprios parentes a teriam podido desmentir, se ela tivesse tido outros filhos, pois
Tiago, Judas, Simão e José eram condiscípulos de Mateus. Por isso seria fácil confrontar as versões, se
outras houvessem. Mateus nunca diz: “Levanta e pega tua mulher”; ele diz: “Pega a mãe Dele.” Antes diz:
“Virgem desposada a José”, “José, seu esposo”.
35.11 Não me venham dizer que isso era um modo de falar dos hebreus, como se dizer a palavra “mulher”
já fosse uma infâmia. Não, negadores da Pureza. Desde as primeiras palavras do Livro
[60], se lê: “… e se
unirá à sua mulher”. Ela é chamada “companheira”, até o momento da consumação sexual do casamento;
mas depois é chamada “mulher”, em diversas passagens e em diversos capítulos. E assim acontece com as
esposas dos filhos de Adão. É assim que Sara é chamada “mulher” de Abraão: “Sara, tua mulher”; e: “Toma
tua mulher e as tuas duas filhas” foi dito a Ló. E no livro de Rute está escrito: “A moabita, mulher de
Maalon.” E no primeiro livro dos Reis está dito: “Elcana teve duas mulheres”; e, ainda mais: “depois, Elcana
conheceu sua mulher Ana”; e ainda: “Eli abençoou Elcana e a mulher dele.” E sempre no livro dos Reis foi
dito: “Bate-Seba, mulher de Urias, o heteu, tornou-se mulher de Davi, e lhe deu um filho.” O que se lê no
livro azul de Tobias, aquilo que a Igreja canta para vós nas vossas núpcias, para aconselhar-vos a serem
santos no matrimônio? Lê-se: “Ora, quando Tobias chegou, com a mulher e com o filho…”; e ainda: “Tobias
conseguiu fugir com o filho e com a sua mulher.”
Nos Evangelhos, isto é, nos tempos de Cristo, nos quais se escrevia relativamente àqueles tempos
antigos em linguagem moderna, não havendo, portanto necessidade de se pensar em erros de transcrições,
foi dito pelo próprio Mateus no cap. 22: “… o primeiro, tendo-a tomado por mulher, morreu e deixou a
mulher ao irmão.” Marcos, no cap. 10: “Quem repudia a mulher…” Lucas chama Isabel de mulher de
Zacarias, quatro vezes em seguida, e no oitavo capítulo diz: “Joana, mulher de Cusa.”
Como estais vendo, não era este nome um vocábulo proscrito para quem estava nos caminhos do
Senhor, um vocábulo imundo que não era digno de ser proferido e, muito menos, escrito onde se trata de
Deus e das suas admiráveis obras. O anjo, dizendo: “o Menino e a mãe Dele”, vos demonstra que Maria foi
mãe verdadeira, mas não foi mulher de José. Ela permaneceu sempre: a virgem desposada a José.
Este é o último ensinamento destas visões. É uma auréola que resplende sobre a cabeça de Maria e de
José. A virgem imaculada. O homem justo e casto. Os dois lírios entre os quais eu cresci, ouvindo só
fragrâncias de pureza.
35.12 A ti, pequeno João
[61], eu poderia falar sobre a dor de Maria por seu duplo afastamento de sua casa e
de sua pátria. Mas não há necessidade de palavras. Compreendo que seja isso, e disso desfaleces. Dá-me a
tua dor. Só quero isto. É mais do que qualquer outra coisa que me possas dar. Hoje é sexta-feira, Maria.
Pensa na minha dor e na de Maria sobre o Gólgota, para que possas suportar a tua cruz.
A paz e o nosso amor fiquem contigo.
[60] do Livro, ao qual seguem (em apoio aos passos citados por: Matteo 1,16.19; 2, 13.20) citações de: Génesis 2,24; 3,17; 17,15; 19,15; Rute 4,10; 1 Samuel
1,1-2.19; 2,20; 2 Samuel 11,27; Tobias 1,9.20.
[61] pequeno João, é o mais recorrente entre os nomes dados a Maria Valtorta. A sua explicação encontra-se em 70.8/9 e em 638.2.
VIDEO DE AULA
CAPÍTULO 3
INSTRUÇÃO QUE M E DEU A RAINHA DO CÉU SOBRE OS QUATRO VOTOS DE MINHA PROFISSÃO.
Voto é compromisso
444. Minha filha e amiga, não quero negar-te o ensinamento que me pedes
com desejo de o praticar. Recebe-o, pois, com apreço e ânimo devoto e disposto
para executá-lo.
Diz o Sábio (Pr 6,1): "Filho, se prometeste por teu amigo, prendeste tua
mão a um estranho, com tua boca te ligaste, e por tuas palavras ficaste preso". De
acordo com esta verdade, quem fez votos a Deus, cravou a mão da própria vontade,
para não ficar livre de escolher outras obras, fora daquelas às quais se obrigou. Deverá
seguir a vontade e escolha daquele a quem, por sua mesma boca, se atou, mediante as
palavras da profissão.
Antes de fazer votos, estava em sua mão escolher o caminho; havendo-se,
porém, ligado e comprometido, saiba a alma religiosa que perdeu totalmente sua
liberdade e a entregou a Deus, na pessoa de seu superior. Toda a ruína ou salvação
das almas consiste no modo de usar a liberdade. Porque o maior número delas
usa-a mal e se perde, ordenou o Altíssimo o estado permanente da vida religiosa,
mediante os votos. Usando uma vez da liberdade, com perfeita e prudente escolha,
a criatura entrega a Deus, por esse ato, o que com outros muitos perderia, caso fi-'
casse livre e independente para querer ou não querer.
As grandes vantagens dos votos
445. Pelos votos, perde-se felizmente a liberdade para o mal, e assegura-se
para o bem, como rédea que desvia do perigo e adestra pelo caminho plano e
seguro. Liberta-se a alma da servidão de suas paixões e, adquirindo poder sobre
elas, reina como senhora em seus domínios.
Fica subordinado somente à graça e moções do Espírito Santo, que a
governará em suas operações, se ela empregar toda sua vontade em só fazer o que
prometeu a Deus. Com isto, a criatura passa da qualidade de escrava à excelente
dignidade de filha do Altíssimo, e da condição terrena à angélica. Os defeitos
corruptíveis e o castigo do pecado não a atingem em cheio.
Não é possível, na vida mortal, compreender quais e quantos bens e tesouros conquista a alma que se dispõe,
com todas as forças e afetos, a cumprir perfeitamente os votos de sua profissão.
Asseguro-te, caríssima, que as religiosas perfeitas e pontuais podem chegar, e ainda
exceder, ao mérito dos mártires.
Exortação à fidelidade
446. Tu, minha filha, conseguiste o feliz princípio de tantos bens, no dia em
que escolheste a melhor parte. Adverte, porém, muitíssimo, que te obrigaste a um
Deus eterno e poderoso, que conhece o mais íntimo do coração.
Se mentir aos homens, e faltar lhes às promessas, é coisa tão feia e
reprovável, quanto pesará ser infiel a Deus, em promessas justíssimas e santíssimas?
Sendo teu criador, conservador e benfeitor, deves-lhe gratidão; sendo pai, reverência;
sendo esposo, lealdade. Por ser amigo, merece fiel correspondência, p0 r
veríssimo, fé e esperança. Sumo e eterno bem espera amor, onipotente a obediência,
e justíssimo juiz o temor santo e humilde.
Contra estes, e outros muitos títulos, cometerás traição e aleivosia se
faltares e quebrares as promessas de tua profissão. Se a qualquer religiosa, que vive
com obrigação de trato e vida espiritual, é tão monstruoso chamar-se esposa de Cristo
e ser membro e escrava do demônio, muito mais será em ti. Havendo recebido
mais que todas, deves excedê-las no amor, trabalho e fidelidade a tão incomparáveis
benefícios e favores.
Gravidade da ofensa a Deus
447. Adverte, pois alma, quão aborrecível esta culpa te faria ao Senhor, a
mim, aos santos e aos anjos. Todos somos testemunhas do amor e fidelidade que ele
tem mostrado, como rico, amoroso e fidelíssimo esposo. Trabalha, pois, com
sumo desvelo para não o ofender, quer no muito quer no pouco. Não o obrigues a te
desamparar, deixando-te entregue às bestas das paixões e do pecado.
Não ignoras que isto seria maior infelicidade e castigo, do que se te entregasse
ao furor dos elementos ou à ira de todas as feras e animais brutos. Se ainda os
demônios sobre ti desafogassem sua raiva, e o mundo te propinasse todas as penas
e desonras que pudesse te causar; tudo fôra menor dano para ti, do que cometer
uma só culpa venial contra Deus, a quem deves servir e amar em tudo e por tudo.
Qualquer pena desta vida é menos que a culpa, porque as penas se acabarão com a
vida mortal, enquanto a culpa pode ser eterna, e com ela o será o castigo.
Fuga do pecado
448. Na vida presente, muito atemoriza e assusta os mortais qualquer
sofrimento e tribulação, porque os percebem pelos sentidos. Não os atemoriza
nem acaba a culpa porque, embaraçados com as coisas visíveis, não pensam que
a ela segue imediatamente a pena eterna do inferno. Apesar desta pena vir tão
infiltrada no pecado, o coração humano é de tal modo pesado, que se deixa embriagar
pela culpa e não adverte no castigo, por não sentir o inferno pelos
sentidos. E, podendo vê-lo e tocá-lo pela fé, deixa-a ociosa e morta como se não a
tivesse.
Óh! infeliz cegueira dos mortais! Óh! dureza e negligência que a tantas
almas, capazes de razão e de glória, mantêm enganosamente escravizados!
Não há palavras, nem razões suficientes,para encarecer este formidável e tremendo
perigo.
Minha filha, foge e afasta-te, com santo temor, deste infeliz estado. É preferível
abraçares todos os trabalhos e tormentos da vida que logo passa, a te
expores a ele, pois nada te faltará se não perderes a Deus. Grande meio para tua
segurança, será a consideração que não há culpa pequena para ti e teu estado. O
pouco hás de temer muito, porque o Altíssimo conhece que o desprezo pelas
pequenas faltas abre o coração da criatura para admitir outras maiores. Não é amor
louvável o que não poupa qualquer desgosto à pessoa que ama.
Primeiro a obrigação, depois a devoção
449. A ordem que as almas religiosas
devem guardar em seus desejos será:
em primeiro lugar, com solicitude e pontualidade, cumprir as obrigações de seus
votos e todas as virtudes que exigem.
Depois disto, em segundo lugar, vêm as obras livres, chamadas de super-rogação.
Enganadas pelo demônio, algumas almas, com indiscreto zelo da perfeição,
costumam inverter esta ordem. Faltando gravemente em coisas obrigatórias de seu
estado, querem acrescentar outras ocupações de sua escolha, ordinariamente inúteis
ou sem importância. Nascem-lhes da presunção e singularidade, com que desejam
ser vistas e distinguidas por mais zelosas e perfeitas que outras, quando estão muito
longe de começar a sê-lo.
Em ti, não quero esta falta repreensível, mas desejo que, em primeiro lugar,
cumpras com a observância de teus votos e vida comum, e depois acrescentes o que
puderes, com a divina graça e na medida de tuas forças. Com esta ordem, tudo
aformoseia a alma e a toma perfeita e agradável aos divinos olhos.
O voto de obediência
450. O voto de obediência é o mais importante da vida religiosa, porque
contém a renúncia e negação total da própria vontade. À religiosa não fica jurisdição
nem direito algum sobre si mesma, para dizer quero ou não quero, farei ou não farei.
A tudo isto renunciou pela obediência, colocando-o nas mãos do superior. Para
cumpri-la é necessário que não te consideres sábia, nem te imagines senhora de teu
gosto, querer e entender.
A obediência verdadeira gera-se na fé. Deve-se estimar, reverenciar e crer no
que o superior manda, sem pretender examinar nem compreender. De acordo com
isto, para obedecer, considera-te sem razão, sem vida nem raciocínio. Semelhante
a um corpo morto, deixa-te mover e governar, estando viva somente para executar,
com presteza, tudo o que for da vontade do superior.
Nunca discutas contigo as ordens que recebes, somente reflete como
executarás o que te é mandado. Sacrifica teu próprio querer, degola todos os teus
apetites e paixões, e depois de estares morta a teus movimentos, seja a obediência,
vida e alma de tuas obras. Na vontade de teu superior deve estar incluída a tua,
com todos teus movimentos, palavras e ações. Pede que em tudo tirem o teu ser
próprio e te dêem outro novo que em nada seja teu, mas todo da obediência, sem
contradição nem resistência alguma.
Obediência perfeita
451. O mais perfeito modo de obedecer é aquele que não desgosta o
superior com resistência e contrariedade, mas sim o compraz com pronta execução
do que manda, sem réplicas, murmurações, ou outros atos discordantes. O
superior representa a Deus, e quem obedece aos prelados obedece ao mesmo
Senhor que está neles, para os governar e iluminar no que mandam, para o bem e
salvação da alma dos súditos. O desprezo que se faz do superior atinge a Deus
(Lc 10, 16), que por eles e neles, está ordenando e manifestando sua vontade.
Deves entender que é o próprio Senhor quem lhes move a língua, ou que são a
palavra do mesmo Deus Onipotente..
Minha filha, esforça-te por ser obediente e cantarás vitórias (Pr 21, 28).
Não temas obedecer. É caminho tão seguro, que os erros dos obedientes não serão
lembrados por Deus no dia das contas.
Ainda mais: Ele lhes apagará até os outros pecados, em consideração do sacrifício da
sua obediência.
Meu Filho Santíssimo ofereceu ao eterno Pai sua preciosíssima paixão e
morte, com particular afeto pelos obedientes.
Quis que fossem mais beneficiadas no perdão, na graça e no acerto e perfeição de
tudo quanto fizessem por obediência.
Ainda agora, muitas vezes, p a r a aplacar ao Pai, representa-lhe que p e i 0 s
homens morreu obedecendo até a cruz (F| 2, 8), e com isto aplaca-se o Senhor. De
igual modo, pelo agrado que recebeu da obediência de Abraão e seu filho, obrigou se
(Gn 22, 16) não somente a impedir a morte de Isaac, que tão obediente se mostrava,
mas ainda a constituir Abraão pai da ascendência humana de seu Unigênito,
fazendo-o Patriarca cabeça e fundamento de tantas bênçãos.
O voto de pobreza
452. O voto de pobreza é generosa abstenção e desembaraço da pesada
carga das coisas temporais. É desafogo do espírito, alívio para a humana fraqueza,
nobre liberdade do coração capaz de bens eternos e espirituais. É satisfação e fartura,
que sossega o apetite sedento de tesouros terrenos; é domínio, posse e uso nobilíssimo
de todas as riquezas. Tudo isto, minha filha, e outros maiores bens estão
contidos na pobreza voluntária.
São bens desconhecidos pelos filhos do século, amadores das riquezas e
inimigos da rica e santa pobreza. Não percebem, ainda que o padeçam, quão pesado
é o gravame das riquezas. Oprime-os até o solo, e ainda até às entranhas da terra, onde
procuram o ouro e a prata com cuidados, desvelos, trabalhos e suores não de homens
de razão, mas de brutos irracionais que ignoram o que fazem e sofrem.
Se, antes de as adquirir, as riquezas são tão pesadas, quanto o serão depois
de conseguidas? Digam-no todos quantos com esta carga caíram no inferno. Digam no
os desmedidos afãs para conservá-las, e muito mais as intoleráveis leis que elas e
os ricos introduziram no mundo.
Vantagens da pobreza
453. Tudo isto afoga o espírito, tiraniza sua fraqueza e envilece a nobilíssima
capacidade que a alma possui, para os bens eternos e para o próprio Deus. Ao
contrário, é certo que a pobreza voluntária restitui à criatura seu primitivo e nobre
estado, liberta-a de baixíssima servidão e a coloca na singela liberdade em que foi
criada para senhora de todas as coisas.
Nunca é mais senhora, do que quando as despreza. Quando as distribui
ou as deixa voluntariamente, tem a maior posse e faz o mais excelente uso das riquezas.
O apetite só acalma, quando se satisfaz por não as ter. Acima de tudo, o coração
vazio toma-se disposto para acolher os tesouros da divindade, para os quais Deus
o criou com capacidade quase infinita.
As transgressões da pobreza
454. Desejo, minha filham que estudes muito esta filosofia e ciência divina.
É muito esquecida pelo mundo, e não só por ele, mas ainda por muitas almas religiosas
que a prometeram a Deus, cuja indignação é grande por esta culpa. Os
transgressores deste voto não percebem o merecido e pesado castigo que recebem.
Tendo rejeitado a pobreza voluntária, perderam o espírito de Cristo, meu
Filho Santíssimo, aquele espírito que viemos ensinar aos homens em despojamento
e pobreza. Ainda que agora não o sintam, porque o justo Juiz dissimula, e eles gozam
da abundância que desejam, na prestação de contas que os aguarda, se acharão
confusos e espantados com o rigor da divina justiça, da qual não quiseram lembrar
nem meditar.
Os bens temporais e os eternos
455. O Altíssimo criou os bens temporais para servirem de sustento à vida
dos homens, conseguido este fim, cessa a necessidade que, sendo limitada, em breve
se acaba e com pouco se satisfaz. A alma, porém, é imortal. Não é, pois, justo que o
cuidado dos homens por ela seja passageiro, enquanto fazem perpétuo o desejo e afã
de adquirir riquezas.
É suma perversidade trocar assim os fins pelos meios, em coisa tão duradoura
e importante: que o homem dê à breve e insegura existência do corpo todo o tempo,
cuidado e trabalho de suas forças e desvelos de seu entendimento; e que à pobre
alma, não queira dar mais que uma hora em muitos anos de vida, e essa, muitas vezes,
a última e a pior da vida.
Desapego material e espiritual
456. Aproveita-te, pois, minha filha caríssima, da verdadeira luz e compreensão
que, a respeito de tão perigoso erro, te deu o altíssimo. Renuncia a toda a afeição
a qualquer coisa terrena. Ainda que seja com pretexto e aparência de necessidade,
e porque teu convento é pobre, não sejas desordenadamente solícita em procurar
as coisas necessárias para o sustento da vida, Quando nisto puseres o moderado
cuidado que deves, seja de modo a não te perturbares se faltar o que desejas.
Nada desejes com apego, ainda que te pareça ser para o serviço de Deus,
Semelhança com Cristo
460. Ainda que nenhuma virtude deve faltar, àquela que se chama e faz
profissão de esposa de Cristo, a castidade é a que mais a assemelha a seu esposo. Esta
virtude a espiritualiza e afasta da corrupção terrena, elevando-a ao ser angélico e a
certa participação do mesmo Deus.
Embelece e adorna todas as demais virtudes, eleva o corpo a um estado superior,
esclarece o entendimento e conserva nas almas a sua nobreza superior a todo o
corruptível. Diz-se que as virgens acompanham o Cordeiro (Ap 14, 4), porque esta
virtude foi precioso fruto da redenção, operada por meu Filho Santíssimo na cruz,
onde tirou os pecados do mundo.
Voto de clausura
461.0 voto de clausura é o muro de proteção para a castidade e todas as
virtudes, o engaste onde se conservam e resplandecem. E privilégio do céu para
eximir as religiosas, esposas de Cristo, dos pesados e perigosos tributos pagos, pela
liberdade do mundo, ao príncipe de suas vaidades. Por este voto, as religiosas vivem
em porto seguro, enquanto outras almas naufragam e perecem, a cada passo,
na tormenta dos perigos.
Com tantas vantagens, a clausura não é estreita prisão. Oferece às religiosas
os espaçosos campos das virtudes, do conhecimento de Deus e suas infinitas
perfeições, de seus mistérios e das admiráveis obras que realizou e realiza pelos
homens. Nestes extensos campos e espaços, podem e devem espairecer e se recrear.
Só quando não o fazem, é que a maior liberdade vem a dar impressão de opressivo
cárcere.
Para ti, filha, não haja outra expansão, nem quero que te confines à pequenez
da terra, ainda que seja o mundo inteiro. Sobe às alturas do conhecimento e
do amor divino onde, sem confins e limites que te aprisionem, viva em ampla liberdade.
Dali verás quão mesquinhas, vis e desprezíveis são todas as coisas criadas,
para com elas ocupares tua alma.
Clausura dos sentidos
462. A esta inevitável clausura do corpo, acrescenta a de teus sentidos.
Armados de fortaleza, conservem eles tua pureza interior e nela o fogo do santuário
(Lv 6,12), que deves sempre alimentar e vigiar, para que não se apague. A fim de
guardar os sentidos e auferir as vantagens da clausura, nunca chegues à porta, nem à
grade ou janela, nem te lembres que elas existem no convento, se não for para cumprir
o teu ofício, ou por obediência. Nada apeteças, porque não o conseguirás, nem
trabalhes pelo que não deves apetecer. No retiro, recato e cautela estará o teu bem e
paz, o meu agrado, e merecerás o copioso fruto e recompensa do amor e graça que
desejas.
VIDEO DA AULA
Cap 8 - Tomo 3
O QUE O FILHO DE DEUS PRATICOU EM SEU INTIMO DA CHEGADA A NAZARÉ ATÉ A IDADE DE DOZE ANOS QUANDO NO TEMPLO DISPUTOU COM OS DOUTORES
AGRADECIMENTOS E OFERTAS.
Tendo já chegado à cidade de Nazaré, minha pátria, antes de lá entrar, de joelhos em terra, eu, minha querida Mãe e o fidelíssimo José demos graças ao Pai pelo amor, a solicitude e a providência que havia empregado para conosco durante toda aquela longa e atribulada viagem. Oferecemos-lhe todos os padecimentos por que passamos, os quais foram numerosos e agradecemos-lhe ainda por se ter dignado dar-nos um termo feliz. Ofereci ao Pai todas aquelas ações de graças também por parte de todos os meus irmãos, principalmente por aqueles que, havendo chegado ao porto da salvação eterna, foram considerados dignos de entrar na pátria bem-aventurada. Agradeci-lhe por todas as ajudas a eles concedidas, por todas as graças, por sua infinita misericórdia e bondade em conduzi-los à salvação, pela correspondência e cooperação deles ã graça, sendo que esta é ainda uma graça especial, outorgada pela bondade de meu amoroso Pai. Roguei-lhe que, por aquele gosto que tinha por causa de minhas súplicas e agradecimentos, se dignasse conceder a todos nova graça e jamais deixasse de beneficiá-los, assisti-los e confortá-los em tão duro e áspero caminho, conforme na realidade é para os sentidos e a natureza corrompida. O Pai prometeu-me fazê-lo e, de fato, não deixa de cumpri-Io. Em tudo se mostra incansável, principalmente para com aqueles que não abusam das graças, ao invés com isto se tornam cada vez mais capazes de receber novas graças, favores e assistência. Agradeci de novo ao Pai, abençoei toda a cidade antes de lá entrar e pedi-lhe confirmasse aquela minha bênção, dignando-se também abençoá-la, como na realidade o fez.
NO LUGAR DA ENCARNAÇÃO.
Havendo ingressado na cidade e me dirigido à casinha onde havia assumido carne humana, ali, junto com a dileta Mãe e José prostrei-me de novo por terra para adorar meu Pai. Agradecemos-lhe novamente juntos; com grande júbilo de coração, rendemos-lhe ainda graças pelos benefícios feitos ao gênero humano por minha Encarnação, e eu, assim genuflexo, em terra, com as mãos juntas, ofereci-me novamente ao Pai, dizendo-lhe: "Eis-me aqui, Pai amantíssimo, prostrado a vossos pés! Consagro-me todo a vós e ofereço-me, pronto a cumprir a vossa adorável e santíssima vontade. A vós me sacrifico pela salvação de todo o gênero humano. Protesto na vossa presença não ter vindo ao mundo senão para fazer a vossa vontade. Não retornei a este lugar para de algum modo descansar, mas para cumprir a vossa vontade. Eis-me pronto para sofrer todas as incomodidades. Abraço de boa vontade todos os padecimentos: fome, sede, frio, tribulações, perseguir., desprezos, afrontas, detrações, escárnios, vilipêndios, angústias, tudo o que vos agradar enviar-me, protestando sofrer tudo de boa vontade e por vosso amor e pela salvação do gênero humano". Agradou muito a meu Pai esta oferta e em sinal de complacência disse: "Tu és meu Filho meu amado, em ti ponho minha afeição". Estas palavras foram ouvidas por minha dileta Mãe e por José, que logo foram elevados em dulcíssimo êxtase pela suavidade das mencionadas palavras. Então supliquei ao Pai que, em virtude da complacência que em mim tivera, se dignasse aceitar ainda todas as ofertas de si mesmos que lhe fizessem os meus irmãos e lhes concedesse a graça de pra devem ter. Além disso pedi-lhe se dignasse inspirá-lo a todos aqueles que não o fazem por falta de conhecimento e por própria negligência. Prometeu-me fazê-lo o querido Pai. De novo rendi-lhe graças e pedi-lhe quisesse receber minhas ofertas em suplência por todos aqueles que nisto falham. Recebeu-as meu Pai — e muito lhe agradaram — demonstrando-se satisfeito por tudo.
REPOUSAM E ALIMENTAM-SE.
Terminadas a oferta e a súplica feitas por mim ao Pai e rendidas as devidas graças, ergui-me; sentado, junto com a minha Mãe e José, repousamos um pouco, porque estávamos muito cansados da longa viagem e áspera caminhada, com tantos sofrimentos, Encontrando-me, esposa minha, assim cansado, necessitado quanto à minha humanidade de algum reconforto, e igualmente a minha querida Mãe e José, esperava alguma provisão da parte de meu Pai. Eis que de súbito, peia mão dos anjos, preparou a todos nós o alimento necessário. Alegres, portanto, e ingerida a comida enviada por meu Pai com tanto amor, juntos agradecemos ao amoroso Pai. Terminadas as ações de graças, ofereci-lhe aqueles louvores em nome de meus irmãos e pedi-lhe se dignasse dar a todos o indispensável para o próprio sustento. Se eles se achassem em grande necessidade, se dignasse ajudá-los em tudo e isto o fizesse pelo amor que me tinha e por minha gratidão para com Ele. Quando eles menos o pensarem, seja pródigo de suas graças, socorrendo-os com a sua altíssima providência. Ademais, roguei-lhe se dignasse auxiliar as almas e restaurá-las com as divinas luzes, ajudas e socorros, e que ao se encontrarem elas em extrema penúria e sem qualquer conforto, se dignasse consolá-las, alimentá-las e fortificá-las. O amoroso Pai tudo me prometeu, como de fato o realiza. Depende das criaturas que não cuidam de tal providência, nem a esperança, ou a procuram. Meu Pai, porém, está sempre pronto a consolá-las e confortá-las. Mas tão grande é o fastio que alguns não pensam em semelhantes reconfortos. Ao contrário, se lhes tornam fastidiosos e mais estimam uma comida material do que o suavíssimo alimento da refeição espiritual, a saber, as consolações divinas, as luzes, as graças e outras coisas, todas muito salutares para a alma que segue o caminho da virtude e da perfeição. Vendo eu tal negligência em meus irmãos sentia muito pesar, tanto ao ver por eles tão pouco estimadas e procuradas as graças de meu Pai , como também do dano que derivava para eles. Oferecia esta pena a meu dileto Pai, e pedia para ter com eles uma compaixão bem grande, e receber tudo aquilo que eu operava em suplência de suas omissões. Em virtude das minhas ofertas, desse-lhes novos estímulos e novas graças a fim de poderem despertar da tibieza e negligência. Prometeu-me tudo o Pai amoroso e assim ficava eu um tanto consolado. Rendia-lhe por isso novas graças, exaltava e louvava sua infinita bondade. Nisto muito se comprazia o Pai; eu me alegrava com sua complacência o desejava com grande ardor, que encontrasse tal agrado em todos os meus Irmãos. Ao verificar que não somente não encontrava neles prazer, mas que, ao Invés. eles lhe causavam muito desgosto, sentia grande pesar, de modo que era amargurada toda a consolação que havia recebido. O Pai, vendo-me tão aflito. prometia-me maior graça e novos auxílios a meus irmãos, a fim de que se esforçassem por agir de maneira a dar-lhe satisfação e prazer em suas obras. Fez-me ver muitos que seguiriam este caminho: neles muito se comprazia o dileto Pai. Com isto consolava-me e agradecia a sua infinita bondade e misericórdia.
A TRANQÜILIDADE DOMÉSTICA.
Havia já retornado a nossa pátria, habitava em casa de minha Mãe e de José, e permanecia ali com toda a tranquilidade. sem perseguição alguma. Por Isso agradecia ao Pai e rogava-lhe se dignasse conceder graça semelhante a todos aqueles que havendo suportado perseguições e tribulações por seu amor, por fim fizesse com que fruíssem de algum repouso e tranqüilidade para neste tempo prepararem-se a sofrer novas tribulações, todas as vezes que à divina Majestade aprouvesse lhes enviar. Encontrei o Pai muito inclinado a atender-me nesta prece e por isto lhe rendi as devidas graças, também por parte de todos aqueles aos quais concederá tal graça.
ABRAÇA A VONTADE DO PAI.
Perguntei depois ao Pai de que modo queria ser servido por mim no tempo em que lá morasse. O dileto Pai declarou-me abertamente e com grande amor a sua vontade. Eu de bom grado e de todo coração a abracei. Ficou com isto meu Pai muito contente, mostrando-me suma complacência por minha submissão e obediência a sua vontade. Rendi-lhe graças pela complacência que em mim punha e roguei-lhe que, em virtude desta, se dignasse comprazer-lhe ainda a submissão e obediência a Ele prestadas por todos os meus irmãos. Como por muitos isto é feito da modo assaz imperfeito, supliquei-lhe que recebesse em suplência a perfeição com a qual eu o fazia e que por meu mérito se contentasse em não olhar sua carência de méritos. Além disso pedi-lhe que, se meus irmãos procurassem entender sua vontade para segui-la, se digne fazer com que a entendam, por meio de vivas inspirações, ou por intermédio de seus ministros, ou pessoas relacionadas com eles, e simultaneamente lhes conceda a graça necessária para poderem cumprir perfeitamente sua vontade. O amoroso e benigno Pai atendeu-me em tudo e agradeci-lha tanto amor e caridade, demonstrados para com meus irmãos. Supliquei-lhe depois que me declarasse sua vontade acerca de minha dileta Mãe e José, seu esposo, como se deviam comportar no tempo que deviam estar comigo e como queria ser por eles servido. Nisto ainda atendeu-me amorosamente o dileto Pai; e apesar de já saber tudo isso, não obstante sempre fazia estas preces a meu Pai, em sinal de minha submissão e obediência a sua Majestade. Em todas as minhas obras, primeiro procurava a sua vontade e depois agia puramente para sua maior glória e para utilidade de meus irmãos. Havendo recebido a ordem. agradeci-lhe, exaltei sua infinita bondade e supliquei-lhe que se as almas que lhe são mais caras e também os seus ministros lhe pedirem que faça conhecer a sua vontade acerca das almas dos súditos ou das que se lhes recomendaram, se digne manifesta-la abertamente a fim de que as pobres almas dos súditos, não sejam enganadas e o Pai seja servido e honrado do modo que lhe apraz. Nisto ainda atendeu-me o Pai e eu de novo lhe agradeci por parte de todos aqueles que receberiam estas graças e luzes divinas.
SUBMISSÃO DE MARIA E JOSÉ.
Havendo passado algum tempo nestas conversas com meu Pai, quis declarar a dileta e a São José, qual a vontade de meu Pai, e como se deviam comportar no tempo em que permaneceríamos juntos, Para tal, chamei primeiro a mãe querida e depois José, e entre eles ajoelhei-me. Eles também dobraram os joelhos em terra, e unidos adoramos a meu Pai. Levantei-me depois, enquanto eles ficavam de joelhos para receberem as ordens de meu Pai. Declarei-lhes sua vontade, a qual era por eles ouvida com grande devoção e júbilo de coração. Manifestei-lhes ser vontade de meu Pai que permanecessem ali comigo até nova ordem e que José ficaria até a morte e ali morreria, assistido por minha Mãe e por mim. Esta grata noticia trouxe grande devoção e júbilo ao coração do afortunado José, que se desfazia todo em lágrimas de alegria. Mas, era bem razoável que meu Pai lhe concedesse esta consolação, pois havia suportado tantas tribulações na fuga para o Egito e na volta, a fim de livrar-me da morte que o ímpio Herodes havia maquinado. Era justo ter antecipadamente o consolo da certeza de encontrar junto de si, por ocasião da morte, aquele ao qual ele com tanto sofrimento havia salvado a vida. Meu Pai é muito liberal em dar o cêntuplo na vida presente a todos os que se afadigam por sua maior glória. Vendo eu que os meus irmãos ingratos não reconhecem esta sua liberalidade e por Isso não lhe agradecem e vivem dela esquecidos, agradecia ainda ao Pai por parte de José que reconhecia o favor particular, e depois agradecia-lhe por parte de todos os meus irmãos e principalmente por aqueles que não o reconhecem e vivem dele esquecidos. Tais agradecimentos foram muito agradáveis a meu Pai, que com muita razão exige de cada um estes devidos agradecimentos.
TRABALHO, ORAÇÃO, OBEDIÊNCIA.
Continuei depois a declarar-Lhes corno deviam, tanto José como a minha querida Mãe, ganhar o pão com o trabalho de suas mãos e que eles o deviam fazer ordenadamente, tanto quanto bastasse a seu sustento e o de minha pessoa, e nada mais. Assinalei-lhes o tempo determinado aos louvores divinos, que eram sete vezes ao dia, e isto o deviam fazer unidos a mim; embora sua mente sempre estivesse unida a Deus, louvando-o e bendizendo-o continuamente com todo o afeto do coração, não obstante estava determinado que aquelas sete vezes ao dia, devíamos fazê-lo todos os três conjuntamente. Esta segunda notícia causou grande contentamente ao coração de minha dileta Mãe que, amando imensamente os louvores divinos, jamais se saciava de louvar e bendizer a seu Criador. Manifestei-lhes ainda ser vontade de meu Pai, que eu lhes fosse submisso e portando, deviam mandar-me livremente, porque eu seria em tudo filho obedientíssimo. Nisto se entregaram à Vontade de meu Pai, mas foi-lhes motivo de grande dor ouvir que eu sendo verdadeiro filho de Deus, devia ser-lhes submisso à eles, que desejavam estar em tudo e por tudo sujeitos às minhas ordens. Mas a tanta consolação já experimentada, quis meu pai se misturasse alguma amargura. Minha dileta mãe e seu esposo José, jamais tiveram consolo algum na vida que não fosse misturado a alguma amargura ou tribulação, pois o Pai queria dar-lhes sempre ocasião de maior merecimento, tanto mais que estavam em tudo entregues à vontade de meu pai, abraçando de boa vontade tudo quanto lhes enviava a divina providência.
Também eu me submeti de bom grado à vontade de meu Pai e declarei querer viver submisso a Maria e a José. Agradou muito ao Pai esta minha pronta obediência. Ofereci-a em suplência por todos os meus irmãos que se mostram tão rebeldes em sujeitar-se a seu querer naquelas coisas que lhes acarretam diminuição. Além disso, ofereci-a em suprimento por aqueles filhos audaciosos e desobedientes que não querem viver sujeitos a seus genitores e nisto contrariam a ordem de meu pai, que o reclama com tanto vigor. Supliquei-lhe que, em virtude daquela minha obediência e submissão, desse a todos os filhos um verdadeiro espírito de sujeição e obediência a seus genitores. Pedi-lhe ainda que desse a todos os súditos um verdadeiro espírito de submissão e obediência para com seus superiores e maiores, e o fizessem para cumprir a sua divina vontade, e imitar-me a mim, que não só fui obediente a meu Pai celeste e a minha Mãe e a José, porém mais ainda aos juízes iníquos e aos homens malvados. Agradaram as minhas ofertas ao Pai e cumpriu os meus desejos, comprazendo-me em tudo o que eu reclamava para o bem de meus irmãos. Agradeci-lhe tanto amor e caridade empregados para com eles; e por parte daqueles ingratos que não só não lhe agradecem tal benefício, mas ainda dele abusam, não querendo cumprir a sua vontade, e rejeitam seus divinos impulsos e santas inspirações. Ofereci-lhe a minha gratidão e perfeita obediência não só a Ele, mas a tudo aquilo que Ele me ordenava. Via então muito bem e distintamente todos aqueles que, em relação a esta obediência e submissão, faltariam e abusariam das graças de meu Pai. Conhecia o desprazer que por isto lhe causaria e sentia imenso pesar, enquanto todo o meu desejo era que se cumprisse a vontade de meu dileto Pai, e que se tivesse a devida estima a suas graças e favores. Ora, vendo os meus irmãos tão descuidados disto, afligia-me muito. Oferecia ao Pai esta minha pena e o meu desejo em suplência por todos aqueles que lhe ocasionavam desgosto, ou que não queriam sujeitar-se e submeter-se ao querer de outrem, ocorrendo-lhes obrigação a este respeito, por serem súditos ou inferiores. Apraziam ao Pai as minhas ofertas e ficava com isto muito aplacado e pronto ao perdão, cada vez que meus irmãos recorrem a Ele com confiança e entrega de verdadeiros filhos. Tendo ficado já satisfeito, por meu intermédio, em prol de todos eles, trazia-me grande consolação ver meu dileto Pai logo aplacado e contente por aquilo que eu lhe oferecia. Entre tantas penas, isto me consolava e animava-me cada vez mais a redobrar as ofertas e as súplicas a meu Pai em benefício de meus irmãos. Fazia-o tanto mais porque sabia estar fazendo coisa tão grata a meu Pai, e na qual muito se comprazia.
DECLARA AOS SEUS A VONTADE DO PAI.
Havendo eles já ouvido qual a vontade do Pai sobre o meu modo de viver, naquela casinha junto com minha querida Mãe e José, seu esposo, não deixei logo de declarar a ambos a vontade de meu Pai, apesar de minha querida Mãe já estar informada; mas, para agradar-lhes, repeti-o, pois ela experimentava muito Contentamento ao lhe explicar eu a vontade de meu Pai, embora já o soubesse. Ao ouvirem qual era a vontade divina, juntos genuflexos em terra, adoravam as disposições divinas e lhe rendiam graças, por ter secundado nisto os desejos de seus corações, ansiosos inteiramente de viver em minha companhia. Vendo eu os seus desejos, ofereci-os ao Pai; e assim fez também minha Mãe querida unida a mim. Pedi-lhe se dignasse instilar em todos os meus irmãos, vivo desejo de viver na minha companhia, isto e, de terem-me sempre presente em todas as ações e de ansiarem por serem sempre assistidos, jamais abandonados por mim. Ofereci-me prontamente para estar sempre com eles, e embora por eles expulso, estar pronto a voltar, todas as vezes que por eles fosse, com ardentes súplicas, chamado de novo. Prometeu-me o Pai dar a cada um este desejo; mais ou menos, segundo as disposições do coração e da vontade. De fato, vi, esposa minha, que muitos receberiam este anelo como cumprimento daquilo que desejavam, isto é, estar em minha companhia. Esta, obtêm-na as almas desapegadas do afeto das criaturas e do desejo das coisas mundanas. Agradavam-me muito e mais desejava eu estar em companhia delas do que elas ansiavam por estar em minha companhia. Trazia-me grande pesar a multidão daquelas que não cuidam de mim e mais se deleitam em estar em companhia de vil criatura do que em estar comigo. Estas não atendem ao desejo que o Pai lhes comunica de estar comigo, porque o seu coração está apegado à criatura e pouca impressão lhes causa o desejo de mim; querem com ela deleitar-se e entreter-se, pospondo-me à criatura ou a outra coisa por elas amada. Fazem grande injustiça a meu Pai, recusando o desejo que Ele lhes transmite e fazem-me grande afronta e grande injúria. Desgostam-me e privam-me daquelas delícias que declarei experimentar ao estar com os filhos dos homens. Em seguida, privam-se elas a si mesmas de tão grande bem. Meu Coração ardia de amor para com as criaturas e por isto trazia-me tanta pena ver o coração delas tão desafeiçoado a mim. Muito mais me afligia por darem com isto sumo desgosto a meu Pai que desejava fosse eu, seu dileto Filho, conhecido e amado. Não deixava, porém, de aplacar a meu Pai, pedindo por elas e escusando-as. Mas a malícia destas tornava-as inescusáveis em sua presença, principalmente aquelas que me conhecem, tendo dele recebido muitas graças e luzes divinas para conhecerem-me e amarem-me. Meu Pai, não obstante, ficava muito aplacado por minhas súplicas e olhava a todos com amor e compaixão, tanto mais que com isto atendia a meu grande desejo de vê-lo benigno e amoroso para com meus irmãos e aplacado em relação a eles, por meu amor e em virtude das súplicas e ofertas que a todo instante lhe fazia. Não deixava de continuamente agradecer-lhe tantas graças, favores e misericórdias dispensadas a meus irmãos, por meu amor.
PRONTA OBEDIÊNCIA DE JESUS. Já tendo sido compreendido e declarado por mim a minha querida Mãe e a José, seu esposo, qual a vontade de meu Pai, agradecemos juntos ao Pai. Comecei logo a cumprir a sua ordem e vontade, com grande júbilo e alegria de coração. Ofereci esta pronta obediência a meu Pai e esta alegria e júbilo em executar a sua vontade, em suplência por aqueles que cumprem a vontade do Pai, mas com tristeza e melancolia, e assim não lhe agradam por realizarem as suas disposições de má vontade. O Pai ficou consolado com esta minha oferta. Pedi-lhe desse a todos os meus irmãos idêntica alegria e júbilo ao fazerem-lhe a vontade. O Pai mo prometeu; de fato, não deixa de realizá-lo com todo amor, enquanto quem pratica prontamente as suas ordens experimenta alegria inexplicável e júbilo de coração, que tornam a criatura muito consolada.
PARTE 1PARTE 2 PARTE 3
12-52
Junho 20, 1918
Jesus fazendo o ofício de Sacerdote consagra as almas que vivem em seu Querer.
(1) Continuando o meu habitual estado, o meu doce Jesus fazia-se ver ao meu redor todo cheio
de atenções, parecia que me vigiava em tudo, e conforme o fazia saía do seu coração uma
corda que vinha ao meu coração; e, se eu estava atenta, a corda ficava fixa no meu coração, e
Jesus movia esta corda e se divertia. E o meu amado Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, Eu sou todo atenção para as almas, se me correspondem e fazem outras
tantas atenções para Mim, as cordas de meu amor ficam fixas em seus corações, e Eu
multiplico minhas atenções e me divirto; de outra maneira as cordas ficam soltas, e meu amor
rejeitado e desolado".
(3) Depois acrescentou: "Para quem faz minha Vontade e vive nela, meu amor não encontra
obstáculo, e Eu o amo e o prefiro tanto que reservo para Mim só o fazer tudo o que se necessita
para eles, e ajuda, direção, socorros inesperados, graças imprevistas. Mas também sou
ciumento de que outros lhe façam alguma coisa; quero fazer tudo Eu, e chega a tanto meu zelo
de amor, que se dou a potestade aos sacerdotes de consagrar-me nas hóstias sacramentais
para fazer-me dar às almas, em troca a estas almas, conforme vão repetindo seus atos em
minha Vontade, conforme se resignam, conforme fazem sair o querer humano para fazer entrar
o Querer Divino, Eu mesmo me reservo o privilégio de consagrar a estas almas, e o que faz o
sacerdote sobre a hóstia faço Eu com elas, e não uma só vez, senão cada vez que repete seus
atos em minha Vontade, como um poderoso imã me chama, e eu, qual hóstia privilegiada a
consagro, vou repetindo-lhe as palavras da Consagração, e isto faço-o com justiça, porque a
alma com fazer a minha Vontade se sacrifica mais do que as que comungam e não fazem a
minha Vontade, aquelas se esvaziam de si mesmas para me pôr a Mim, me dão pleno domínio,
e se for necessário estão dispostas a sofrer qualquer pena para fazer minha Vontade, e Eu não
posso esperar, meu amor não resiste para dar-me em comunhão a elas até que o sacerdote
queira dar-lhes uma hóstia sacramental, por isso faço tudo por Mim. Oh! quantas vezes me dou
em comunhão antes que o sacerdote queira me dar ele, se isto não fosse assim, meu amor
ficaria como impedido e atado nos sacramentos. Não, não, Eu sou livre, os sacramentos eu os
tenho em meu coração, Eu sou o proprietário e posso exercitá-los quando eu quiser".
(4) E enquanto dizia isto, parecia que girava por toda parte para ver se havia almas que faziam
sua Vontade para consagrá-las. Como era bonito ver o amável Jesus girar como de pressa,
para fazer o ofício de sacerdote e ouvi-lo repetir as palavras da consagração sobre aquelas
almas que faziam e viviam em seu Querer. Oh! bem-aventuradas as almas que recebem a
consagração de Jesus, fazendo seu Santíssimo Querer.
12-53
Julho 2, 1918
Enquanto a alma se abandona em Jesus, Ele abandona-se na alma.
(1) Eu estava dizendo ao meu amado Jesus: "Jesus, eu te amo, mas meu amor é pequeno, por
isso te amo em seu amor para torná-lo grande; eu quero adorá-lo com suas adorações, rezar
em sua oração, agradecer-lhe em seus agradecimentos". Agora, enquanto dizia isto, o meu
amável Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, assim que puseste o teu amor no meu para me amar, o teu amor ficou fixo no
meu e se ampliou e se ampliou no meu, e me senti amar como queria que a criatura me
amasse; e conforme adoravas nas minhas adorações, rezavas, agradecias, assim ficavam fixos
em Mim, e sentia-me a adorar, rezar e agradecer com as minhas adorações, orações e
agradecimentos. ¡ Ah! minha filha, é preciso grande abandono em Mim, e à medida que a alma
se abandona em Mim, assim Eu me abandono nela, e enchendo-a de Mim faço Eu mesmo o
que ela deve fazer para Mim; mas se não se abandona em Mim, então o que faz fica fixado
nela, não em Mim, e sinto o obrar da criatura cheio de imperfeições e misérias, o que não
poderá me agradar".
+ + + +
12-54
Julho 9, 1918
Quem vive no Divino Querer faz vida na fonte de amor de Jesus.
(1) Continuando meu habitual estado, meu doce Jesus veio e me disse:
(2) "Minha filha, Eu sou todo amor, sou como uma fonte que não contém outra coisa que amor,
e tudo o que poderia entrar nesta fonte perde suas qualidades e se torna amor, assim que em
Mim a justiça, a sabedoria, a bondade, a fortaleza, etc., não são outra coisa que amor, mas
quem dirige esta fonte, este amor e todo o resto? Meu Querer! Meu Querer domina, rege,
ordena; assim que todas minhas qualidades levam o selo de meu Querer, a Vida de minha
Vontade, e onde encontram meu Querer fazem festa, se beijam mutuamente; onde não,
zangadas se retiram. Agora minha filha, quem se deixa dominar por minha Vontade e vive em
meu Querer, faz vida em minha mesma fonte, sendo quase inseparável de Mim, e tudo nele se
muda em amor, assim que amor são os pensamentos, amor a palavra, o batimento, a ação, o
passo, tudo; para ele é sempre dia, mas se se separa de minha Vontade, para ele é sempre
noite e todo o humano, as misérias, as paixões, as fraquezas, saem em campo e fazem seu
trabalho, mas que tipo de trabalho, trabalho para chorar".
13-34
Novembro 19, 1921
Os dois apoios. Para conhecer as verdades é necessário que haja a vontade e o desejo de conhecê-las. As verdades devem ser simples.
(1) Estava fazendo companhia ao meu Jesus agonizante no Horto do Getsêmani, e por quanto
me era possível compadecia-o, estreitava-o forte ao meu coração tratando de secá-lo o suor
mortal, e meu sofredor Jesus, com voz apagada e agonizante me disse:
(2) "Minha filha, dura e penosa foi minha agonia no Horto, talvez mais penosa que a da cruz,
porque se esta foi o cumprimento e o triunfo sobre todos, aqui no Horto foi o princípio, e os
males se sentem mais ao princípio do que quando estão por terminar, nesta agonia, a pena
mais dilacerante foi quando todos os pecados me foram trazidos um a um, a minha humanidade
compreendeu toda a enormidade deles e cada delito levava o selo de "morte a um Deus", e
estava armado com espada para me matar. Diante da Divindade a culpa me aparecia tão
horrenda e mais horrível que a própria morte; só ao compreender o que significa pecado, Eu me
sentia morrer e morria em realidade, gritei ao Pai e foi inexorável, não houve um só que ao
menos me desse uma ajuda para não me fazer morrer, gritei a todas as criaturas que tivessem
piedade de Mim, mas em vão, assim que minha Humanidade definhava e estava por receber o
último golpe da morte. Mas sabes quem impediu a execução e sustentou a minha humanidade
para não morrer? Primeiro foi minha inseparável Mamãe, Ela ao ouvir-me pedir ajuda voou a
meu lado e me sustentou, e Eu apoiei meu braço direito nela, olhei-a quase agonizante e
encontrei nela a imensidão de minha Vontade íntegra, sem ter havido nunca ruptura alguma
entre minha Vontade e a sua. Minha Vontade é Vida, e como a Vontade do Pai era inamovível,
e a morte me vinha das criaturas, outra criatura que encerrava a Vida de minha Vontade me
dava a vida. E eis que a minha Mãe, que no portento da minha Vontade me concebeu e me fez
nascer no tempo, e agora me dá pela segunda vez a vida para fazer-me cumprir a obra da
Redenção. Depois olhei para a esquerda e encontrei a pequena filha de meu Querer, te
encontrei como primeira, com o séquito das outras filhas de minha Vontade, e assim como a
minha Mamãe a quis Comigo como primeiro elo da misericórdia, com o qual devíamos abrir as
portas a todas as criaturas, por isso quis apoiar nela a direita; Eu te quis como primeiro elo da
justiça, para impedir que se descarregasse sobre todas as criaturas como merecem, por isso
quis apoiar a esquerda, a fim de que a segurasse junto Comigo. Então, com estes dois apoios
Eu me senti dar novamente a vida, e como se nada tivesse sofrido, com passo firme fui ao
encontro de meus inimigos, e em todas as penas que sofri em minha Paixão, muitas delas
capazes de me dar a morte, estes dois apoios não me deixavam jamais, e quando me viam a
ponto de morrer, com minha Vontade que continham me sustentavam e me davam como tantos
goles de vida. ¡ Oh! os prodígios de meu Querer, quem pode jamais numerá-los e calcular seu
valor? Por isso amo tanto a quem vive de meu Querer, reconheço nela meu retrato, meus
nobres traços, sinto nela meu mesmo alento, minha voz, e se não a amasse me defraudaria a
Mim mesmo, seria como um pai sem geração, sem o nobre cortejo de sua corte e sem a coroa
de seus filhos, E se eu não tivesse a geração, a corte, a coroa, como poderia chamar-me
Rei? Então o meu reino é formado por aqueles que vivem na minha Vontade, e deste reino eu
escolho a Mãe, a Rainha, os filhos, os ministros, o exército, o povo, Eu sou tudo para eles e
eles são tudo para Mim".
(3) Depois estava a pensar no que Jesus me dizia, e dizia entre mim: "Como se faz para pôr em
prática isto?" E Jesus regressando acrescentou:
(4) "Minha filha, as verdades para as conhecer, é necessário que haja vontade e o desejo de as
conhecer. Supõe uma estadia com as persianas fechadas, por quanto sol haja fora a
permanência está sempre em escuridão; agora, abrir as persianas significa querer a luz, mas
isto não basta se não se aproveita a luz para reordenar a permanência, sacudi-la, pôr-se a
trabalhar, porque se não, é como matar essa luz e fazer-se ingrato pela luz recebida. Assim não
basta ter vontade de conhecer as verdades, se à luz da verdade que o ilumina não busca
sacudir-se de suas fraquezas e reordenar-se segundo a luz da verdade que conhece, e junto
com a luz da verdade pôr-se a trabalhar fazendo dela substância própria," em modo de
transparecer por sua boca, por suas mãos, por seu comportamento, a luz da verdade que tem
absorvido, então seria como se matasse a verdade, e não pondo-a em prática seria estar em
plena desordem diante dessa luz. Pobre estadia, cheia de luz mas toda desordenada,
transtornada e em plena desordem, e uma pessoa dentro que não se preocupa em reordená-la,
que compaixão não daria? Tal é quem conhece as verdades e não as põe em prática.
(5) Deve saber que em todas as verdades, como primeiro alimento entra a simplicidade, se as
verdades não fossem simples, não seriam luz e não poderiam penetrar nas mentes humanas
para iluminá-las, e onde não há luz não se podem distinguir os objetos; a simplicidade não só é
luz, mas é como o ar que se respira, que embora não se veja dá a respiração a tudo, e se não
fosse pelo ar, a terra e todos ficariam sem movimento, assim que se as virtudes, as verdades,
não levam a marca da simplicidade, serão sem luz e sem ar".
14-35
Junho 11, 1922
A vida natural simboliza a vida espiritual.
(1) Estava pensando entre mim: "Como será que também a vida espiritual sofre tantas
mudanças, enquanto se está convencido de que este deve ser meu caminho, quando menos se
pensa já se saltou a outro lado, sofrendo quem sabe quantos rasgos dolorosos que fazem
sangrar o coração, pode-se dizer que pelas tantas mudanças que se sofre, é um contínuo
martírio". Então meu doce Jesus movendo-se dentro de mim me disse:
(2) "Minha filha, é verdade que a vida espiritual deve ser um contínuo martírio, porque deve ser
semelhante ao primeiro e maior dos mártires, o qual fui Eu, e se não for assim, não se pode dar
verdadeiro nome de vida espiritual, senão larva e sombra dela. Além disso, é necessário que
sofra várias mudanças, e isto é para fazê-la chegar a devida estatura e para torná-la nobre, bela
e perfeita. Se a mesma natureza humana, menos importante, sofre quem sabe quantas
mudanças para fazê-la chegar à devida estatura, muito mais a espiritual que é mais importante
e superior à vida natural, aliás, a vida natural simboliza a vida espiritual. Observa um pouco
quantas mudanças sofre a vida natural: ela é concebida dentro do seio materno e está ali por
nove meses para formar bem o corpinho, e quando está formado é obrigado a sair, e se
quisesse continuar dentro morreria, porque sem espaço para crescer, sufocaria, arriscando a
vida e a da mãe. Agora, se esta concepção se formasse fora de um seio materno, quem deveria
emprestar o sangue, o calor para formar o corpinho? E além disso, sendo os membros
terníssimos, o ar mesmo o mataria; então, quanta cautela não se necessita para o recém-
nascido? O calor, o frio, a mesma estreiteza do ventre materno lhe podem ser de morte; eis por
que de fraldas, berço, leite; se se quisesse dar outro alimento, o pequeno não saberia como
mastigá-lo, assim se poria em perigo a sua vida; mas depois chega o tempo em que se faz
capaz de tomar outro alimento, de tirar as fraldas, e se aprende a dar os primeiros passos.
Olhe, não estamos mais que na infância e já sofreu três mudanças; agora, o que se diria se
este pequeno vendo-se em terra para lhe fazer dar o primeiro passo, temendo ser liberado
pelos braços da mamãe, grita, chora e não quer saber nada? Seria de lamentar, porque nos
braços da mãe jamais se faria homem, sem movimento não se tornaria forte nem desenvolvido.
(3) Agora vamos à verdadeira vida espiritual, ela se concebe em meu seio; meu sangue, meu
amor, meu alento a formam; depois a alimento a meu peito, a enfaixo com minhas
graças; depois passo a fazê-la caminhar com minhas verdades, mas não é meu propósito
formar uma menina brincalhona, mas formar uma cópia toda semelhante a Mim, por isso entram
as mudanças, que não são para outra coisa que para fazê-la chegar a idade madura e dar-lhe
todos aqueles privilégios e prerrogativas que contém a verdadeira vida espiritual, de outra
maneira permanecerá como menina em fraldas, que em vez de formar minha honra e minha
glória, formaria minha dor e desonra, e quantas há que permanecem somente recém-nascidas,
ou ao mais em fraldas, e pouquíssimas são as que trabalham junto Comigo para fazer delas
uma cópia de Mim".
19-38
Julho 18, 1926
Por que o Nosso Senhor, ao vir à terra, não manifestou o Reino do seu Querer.
(1) Minha pobre mente estava pensando no que está escrito aqui em cima, e meu doce Jesus
continuou sobre o mesmo argumento dizendo-me:.
(2) "Minha filha, olha então o por que ao vir à terra não dei o Reino de meu Querer nem o fiz
conhecer, pois havia uma necessidade, quis submeter a uma nova prova à criatura, quis dar-lhe
coisas menores daquelas que lhe dei na Criação, remédios e bens para curá-la, porque, criando-o,
o homem não estava doente, mas são e santo, portanto podia muito bem viver no Reino do meu
Querer, mas subtraindo-se do Querer Supremo adoeceu, e Eu vim à terra como médico celestial
para ver se aceitava os remédios, os medicamentos para a sua doença, e depois de tê-lo
experimentado nisso, então lhe teria dado a surpresa de manifestar o Reino de minha Vontade, que
em minha Humanidade tinha preparado para ele.
(3) Enganam-se aqueles que pensam que nossa suma bondade e sabedoria infinita teriam deixado
ao homem só com os bens da Redenção, sem levantá-lo de novo ao estado primeiro criado por
nós; se assim fosse, nossa Criação teria ficado sem sua finalidade e portanto sem seu pleno efeito,
o que não pode ser nas obras de um Deus, no máximo faremos passar e girar os séculos, dando
agora uma surpresa, agora uma outra, agora confiando-lhe um pequeno bem, agora outro maior;
faremos como um pai que quer herdar a seus filhos, mas estes filhos muito têm desperdiçado os
bens do pai, mas contudo e isto está decidido a herdar a propriedade a seus filhos, assim que
pensa em outra estratégia, não dá já a seus filhos as somas grandes senão pouco a pouco, peso a
peso, e conforme vê que os filhos conservam o pouco assim vai aumentando as pequenas somas.
Com isto os filhos vêm a reconhecer o amor do pai e a apreciar os bens que lhes confia, o que não
faziam antes quando tinham as somas grandes, isto serve para os reafirmar e para lhes ensinar a
saber conservar os bens recebidos; então o pai, quando os formou, confirma sua decisão e dá suas
propriedades a seus filhos. Agora, assim está fazendo a paterna bondade, na Criação pôs o
homem na opulência dos bens, sem restrição alguma, mas somente porque quis prová-lo colocou
uma só restrição, que a ele não teria custado grande coisa, mas com um ato de sua vontade
contrária à minha desperdiçou todos estes bens, mas meu amor não se deteve, comecei, mais que
pai, a dar-lhe pouco a pouco, e primeiro a curá-lo. Com o pouco muitas vezes se usa mais atenção
que quando se possuem as coisas grandes, porque se possuem grandes propriedades e se se
esbanja, há sempre de onde tomar, mas se esbanja o pouco fica em jejum; mas a decisão de dar o
Reino da minha Vontade ao homem não a mudei, o homem muda, Deus não se muda. Agora a
coisa é mais fácil, porque os bens da Redenção fizeram o caminho, fizeram conhecer muitas
surpresas do meu amor pelo homem, como os amei, não só com o Fiat mas com dar-lhe a minha
própria Vida, se bem que meu Fiat me custe mais que minha própria humanidade, porque o Fiat é
Divino, Imenso e Eterno, minha humanidade é humana, limitada e no tempo tem seu princípio, mas
a mente humana não conhecendo a fundo o que significa o Fiat, seu valor, sua potência, e o que
pode fazer, se deixam impressionar mais por tudo o que fiz e sofri ao vir redimi-los, sem saber que
sob minhas penas e minha morte estava escondido meu Fiat, que dava vida a minhas penas.
Agora, se eu quisesse manifestar o Reino da minha Vontade, tanto quando vim à terra, como antes
de que os bens da Redenção fossem conhecidos e em grande parte possuídos pelas criaturas,
meus maiores santos teriam ficado atemorizados, todos teriam pensado e dito: Adam inocente e
santo não soube viver, nem perseverou neste Reino de luz interminável e de santidade divina,
como podemos nós fazê-lo? E tu, quantas vezes não te assustaste? E tremendo diante dos bens
imensos e da santidade toda divina do Reino do Fiat Supremo querias retirar-te dizendo-me: Jesus,
pensa em qualquer outra criatura, eu sou incapaz'. Não te espantou tanto o sofrer, ao contrário,
muitas vezes me rogaste, incitando a que te fizesse sofrer, e por isso minha mais que paterna
bondade, como a uma segunda mãe minha, à qual ocultei que ia conceber-me em seu seio,
primeiro a preparei, a formei, para não fazê-la espantar, e quando chegou o tempo oportuno, no
mesmo momento em que Eu devia conceber-me, então o fiz saber por meio do anjo, e se no
primeiro momento tremeu e se conturbou, mas logo se serenou, porque estava habituada a viver
junto com seu Deus, em meio a sua luz e diante de sua santidade. Assim te fiz, por tantos anos e
anos te ocultei que queria formar em ti este Reino supremo, te preparei, te formei, me encerrei em
ti, no fundo de tua alma para formá-lo, e quando tudo estava feito te manifestei o segredo, te falei
de tua missão especial, pedi-te em modo formal se querias aceitar o viver em minha Vontade, e
enquanto tu temias e tremias, Eu te alentava e te tranquilizava dizendo-te: Por que te perturbas?
Talvez não tenha vivido até agora junto Comigo no Reino de meu Querer? ' E você se acalmando
tomava mais prática em viver nele e Eu me deleitava em ampliar sempre mais os confins de meu
Reino, porque está estabelecido até onde a criatura deve tomar posse neste Reino, posto que são
intermináveis seus confins, e a criatura é incapaz de poder abraçá-los todos, porque é limitada"..
(4) E eu: "Meu amor, não obstante meus temores não cessaram de todo, e às vezes me espanto
tanto, que temo chegar a ser um segundo Adão".
(5) E Jesus: "Minha filha, não temas, tu tens mais ajuda que a que tinha Adão, tens a ajuda de um
Deus Humanado e todas as suas obras e penas para tua defesa, para teu sustento, para teu
cortejo, o que ele não tinha, por que então queres temer? Mas fica atenta à santidade que convém
para viver neste Reino celestial, à tua felicidade e fortuna, pois vivendo nele te basta um olhar,
ouvir uma só palavra minha para compreender seus bens, enquanto que quem está fora, se pode
dizer que entendem só que existe o Reino de minha Vontade, mas do que está dentro, e o que se
necessita para fazê-lo compreender, apenas o alfabeto de minha Vontade podem entender"..
+ + + +
19-39
Julho 20, 1926
A palavra de Jesus é trabalho, o seu silêncio é repouso.
O repouso de Jesus no meio das suas obras.
(1) Continuava me sentindo toda abandonada no Supremo Querer, meu sempre amável Jesus se
fazia ver tudo em silêncio, em ato de olhar toda a Criação, todas suas obras, e enquanto as olhava
ficava como arrebatado profundamente ante a magnificência, santidade, multiplicidade e grandeza
de suas obras, e eu junto com Jesus guardava um profundo silêncio ao olhar suas obras, muitas
coisas se compreendiam, mas tudo ficava no fundo da inteligência, sem palavras para poder dizê-
las. Como era bonito estar junto com Jesus em profundo silêncio! Depois disto meu amado bem,
minha doce vida me disse:.
(2) "Minha querida filha, tu deves saber que a minha palavra é trabalho, o meu silêncio é repouso, e
não somente para Mim é trabalho a minha palavra, mas também para ti, e é meu costume que
depois de ter trabalhado quero repousar no meio das minhas próprias obras, Elas são o leito mais
brando no meu repouso, e como tu ouviste a minha palavra e trabalhaste comigo, por isso
juntamente comigo descansa.
Olha minha filha como é bela toda a Criação, foi a palavra de teu
Jesus que com um Fiat a trabalhou, mas sabes tu qual é o meu encanto que me rapta? Seu
pequeno eu te amo' sobre cada uma das coisas criadas; com este teu pequeno amor te amo'
impresso sobre cada uma delas, todas me falam de teu amor, me falam de minha recém nascida
de minha Vontade, escuto o eco harmonioso de toda a Criação que me fala de ti; oh! como me
rapta, como estou contente ao ver que meu Fiat na Criação e aquele que te ensinei se dão a mão,
se entrelaçam juntos e cumprindo minha Vontade me dão repouso. Mas não estou contente em
repousar sozinho, quero junto comigo aquela que me dá repouso, a fim de que ela descanse e
gozemos juntos os frutos de nosso trabalho. Não te parece mais bela toda a Criação e todas as
obras da minha Redenção com o teu amor, com a tua adoração e com a tua vontade fundida na
minha, que faz vida entre as esferas celestes? Assim, não há mais solidão nem silêncio sepulcral
que havia antes nas esferas celestes e em todas as minhas obras, mas há a pequena filha do meu
Querer que faz companhia, que faz ouvir a sua voz, que ama, que adora, que reza, e que
mantendo seus direitos dados a ela por minha Vontade, possui tudo, e quando há quem possui não
há mais solidão nem silêncio de tumba. Eis por que depois de te haver falado muito faço silêncio, é
o repouso que se requer para Mim e para ti, para depois poder retomar de novo o falar-te e assim
continuar meu e teu trabalho. Mas enquanto descanso contemplo todas as minhas obras, meu
amor surge em Mim e refletindo em Mim mesmo e agradando-me, concebo em Mim outras
imagens minhas semelhantes a Mim, e minha Vontade as põe fora como triunfo de meu amor e
como geração predileta de meu Fiat Supremo, Assim, no meu repouso, gero os filhos à minha
Vontade, todos semelhantes a Mim, e na minha palavra os dou à luz e lhes dou o desenvolvimento,
a beleza, a altura, por isso a minha palavra os vai formando dignos filhos do Fiat Supremo. Por isso
minha filha, cada palavra minha é um dom que te faço, e se te chamo ao repouso é para que tu
contemples o meu dom, e agradando-te e amando-o faça surgir de ti outros dons semelhantes
àqueles que te dei, e pondo-os fora formarão junto a geração dos filhos do Fiat Supremo, oh, como
estaremos contentes!".
19-40
Julho 23, 1926
Temores de ser deixada por Jesus. Quem vive no Querer Divino perde toda via de saída, nem Jesus pode deixá-la nem ela pode
deixá-lo. A Criação é espelho, a Vontade Divina é Vida.
(1) Tendo esperado e suspirado muito a vinda de meu doce Jesus, pensava entre mim: "Como
farei, se quem forma minha vida me deixa só e abandonada, poderia eu viver? E se eu vivo, porque
agora entendo que não são as penas que fazem morrer, pois se assim fosse, depois de tantas
privações suas estaria morta, as penas ao mais fazem sentir a morte, mas não a sabem dar, fazem
viver esmagada e esmagada como debaixo de uma prensa, mas o poder da morte pertence
apenas ao Querer Supremo". Enquanto eu pensava assim, o meu adorável Jesus mexeu-se dentro
de mim, e fez-se ver que tinha uma corrente de ouro nas mãos e se deleitava em fazê-la passar
entre mim e Ele, de modo que ficávamos atados juntos, e com um amor e bondade toda paterna
me disse:.
(2) "Minha filha, por que teme que te deixe? Escuta, Eu não posso tolerar este temor em ti, tu
deves saber que nas condições em que te pus, o mar de meu Querer que dentro e fora de ti corre,
no qual tu voluntariamente, não forçada, te ofereceste nele, tem ampliado tanto seus confins, que
nem eu nem tu encontraremos o caminho para sair. Então, se você quiser me deixar, não
encontrará o caminho, e por quanto queiras girar, girarás sempre nos confins intermináveis de
minha Vontade, muito mais que teus atos feitos nela te fecharam todo caminho de saída. E se eu
quisesse deixar-te, não o poderia fazer, porque não saberia para onde ir para me afastar dos
confins da minha Vontade, ela está em todo o lado, e para onde quer que vá, encontrar-me-ia
sempre contigo. Quanto mais eu faço com você como uma pessoa que possui um quarto grande, e
amando a outra pessoa inferior a ela, de mútuo acordo a toma e a outra vai, mas como a casa é
grande, se esta se afasta e gira em sua casa, aquela a perde de vista e se lamenta, mas sem
razão, pois se a casa é sua, poderá deixá-la? As coisas próprias não são deixados, portanto, ou ele
vai voltar para casa em breve, ou talvez ele está em algum quarto de sua própria casa. Por isso, se
te dei a minha Vontade para tua habitação, como posso deixar-te e separar-me d‟Ela? Por quanto
sou potente, nisto sou impotente, porque sou inseparável de meu Querer, por isso ao máximo me
afasto em meus confins e você me perde de vista, mas não é que te deixe, e se você girasse em
nossos confins logo me encontraria, por isso em lugar de temer, me espere, e quando menos
pensares, vais encontrar-me todo apertado a ti".
(3) Depois disto estava fazendo meus acostumados atos no Supremo Querer, e diante de minha
mente se fazia presente toda a ordem que convém ter na Divina Vontade, o que se deve fazer e até
onde se pode chegar, em suma, tudo o que Jesus mesmo me ensinou, e pensava entre mim:
"Como poderão fazer tudo isto as criaturas? Se eu que tomo da fonte me parece que não faço
tudo, muitas coisas deixo para trás e não chego àquela altura que Jesus diz, o que será daqueles
que tomarão de minha pequena força?" E Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:.
(4) "Minha filha, muitas coisas que criei na Criação, nem todas te servem a ti, nem as gozas, muitas
outras não as conheces, mas se não te servem a ti servem aos demais, se não as gozas e as
conheces tu, gozam e conhecem os demais, e se as criaturas não tudo tomam, Todas servem à
minha grande glória e para fazer conhecer minha força, minha majestade, meu grande amor, e a
multiplicidade de tantas coisas criadas fazem conhecer a sabedoria, o valor do Artífice Divino, que
é tão hábil que não há nada que não saiba fazer. Agora, se tantas coisas tirei fora na criação do
mundo, que devia servir à natureza e que devia ser como espelho no qual o homem, olhando-se,
devia reconhecer seu Criador, e todas as coisas criadas deviam ser caminhos para retornar ao seio
paterno de onde tinha saído, muito mais é necessário fazer conhecer mais coisas do Reino de
minha Vontade, que deve servir como vida da alma e como centro onde Deus deve ter seu trono.
Agora, a multiplicidade das coisas que te fiz conhecer serve para mostrar quem é esta Vontade
Divina, como não há coisa mais importante, mais santa, mais imensa, mais potente, mais benéfica
e que tem virtude de dar vida, que Ela.
Todas as outras coisas, por quanto boas e santas, são sempre na ordem secundária,
só Ela tem sempre o primeiro lugar, e onde não está Ela não pode
haver vida. Por isso, os muitos conhecimentos sobre a minha Vontade servirão a minha própria
Vontade como glória e triunfo, e servirão às criaturas como caminho para encontrar a vida e
recebê-la, e a sua altura e imensidão servirão às criaturas para que jamais se detenham, mas que
sempre caminhem para alcançá-la, por quanto possam, e a multiplicidade dos conhecimentos
servirá à liberdade de cada uma para tomar aqueles que quiserem, porque cada conhecimento
contém a Vida, e se se rompe o véu do conhecimento encontrarão dentro, como rainha, a Vida da
minha Vontade; portanto, conforme tomam e fazem, Tanto mais crescerá a Vida da Minha Vontade
neles. Por isso se atenta em manifestar os méritos, as riquezas infinitas que possui, a fim de que o
Céu de meu Querer seja mais belo, mais atrativo, mais majestoso, como o é, que o céu da Criação,
a fim de que arrebatados por sua beleza, pelos bens que contém, possam todos suspirar o vir a
viver no Reino da minha Vontade"..
20-37
Dezembro 15, 1926
A nota de amor. Como cada ato de Vontade de Deus feito pela criatura é um ato a mais de bem-aventurança.
(1) Estava seguindo meu giro na Criação para seguir a Vontade Suprema em todas as coisas
criadas, mas enquanto isso fazia pensava na minha mente: "Que bem faço, que glória dou a este
Fiat adorável ao percorrer, como passando lista, todas as coisas criadas, para pôr nelas ainda que
seja um pequeno te amo meu? Quem sabe se não é uma perda de tempo o que faço". Agora,
enquanto pensava nisso, o meu doce Jesus mexeu-se dentro de mim e disse-me:
(2) "Minha filha, o que dizes? Com minha Vontade não se perde jamais o tempo, mais bem
seguindo-a se ganha o tempo eterno. Agora você deve saber que cada coisa criada contém um
deleite, distinto um do outro, e estes deleites foram postos por Nós porque deviam servir-nos para
deleitar-nos a Nós e à criatura. Agora, em cada coisa criada corre o nosso amor, e conforme tu
passas nelas, assim fazes correr a nota do teu; não queres tu, então, a tanto amor nosso pôr as
tuas pequenas notas, os teus pontos, as tuas vírgulas, as tuas cordinhas que digam amor, que
harmonizando com o nosso formem o deleite por Nós querido para Nós e para ti? Um deleite se
desfruta mais quando há companhia, o isolamento faz morrer o gosto, assim que com sua
companhia que nos faz girando na Criação, faz-nos recordar nossos tantos deleites que foram
postos por Nós em cada coisa criada, faz-nos reviver nossos gostos, e enquanto tu nos deleitas,
Nós te deleitamos. E além disso, queres tu também deixar isolada a nossa Vontade? Não, não,
convém que a pequena filha não deixe jamais sozinha a sua Mãe, que esteja sempre em seus
joelhos para segui-la em todos os seus atos".
(3) Depois disto minha pobre mente nadava no mar imenso do Eterno Fiat, e meu amável Jesus
adicionou:
(4) "Minha filha, entre tantas qualidades e prerrogativas que contém meu Querer, contém um ato
jamais interrompido de beatitude, e a alma, por quantos atos faz n'Ele, tantos atos de beatitude
distintos toma em sua alma. Assim, por quantos atos extras faz neste Fiat, tanto mais se torna
proprietária e forma um capital maior nela destas beatitudes, as quais lhe dão suma paz na terra, e
no Céu sentirá todos os efeitos e gozos destas beatitudes que se formaram nela. Olhe, a coisa é
como conatural, enquanto você está na terra, minha Vontade no Céu faz sair de Si um ato sempre
novo de beatitudes infinitas, agora, quem toma este novo ato seu que jamais cessa? Os santos, os
anjos, que vivem no Céu da Vontade Divina. Agora, quem está no exílio e vive n‟Ela, não é justo
que perca todos estes atos de beatitude, mas sim que com justiça são postos como reserva em
sua alma, a fim de que quando parta a sua Pátria Celestial se os goze todos juntos, para se pôr ao
nível dos outros de receber aquele ato novo de beatitude jamais interrompido. Vê então o que
significa fazer um ato a mais ou um ato a menos em minha Vontade? É ter tantos atos a mais de
beatitude, por quantas vezes demais fez a minha Vontade, e perdê-los por quantas vezes fez a
sua. E não só toma tantos atos de beatitude, mas tantos atos de santidade, de ciência divina,
tantos atos distintos de beleza, de amor, por quantas vezes fez minha Vontade. E se sempre
esteve no meu Eterno Fiat, terá em si a santidade que se assemelha ao seu Criador, oh! como será
bela, nesta afortunada criatura se ouvirão no Céu o eco de nossas beatitudes, o eco de nossa
Santidade, o eco de nosso amor, em suma, terá sido nosso eco na terra e nosso eco na Pátria
Celestial".
21-4
Março 5, 1927
Volume 21
Como a firmeza no bem é somente de Deus, o qual tendo feito uma vez um ato, este não
cessa mais. Efeitos da firmeza. Como a Humanidade de Nosso Senhor foi vínculo de tempos,
remédio e modelo. Como quer salvo os direitos do Querer Divino.
(1) Sentia-me no máximo da aflição pela privação de meu doce Jesus, e em meu íntimo lhe dizia:
"Meu amor e Minha Vida, como é que partiste de mim sem me dizer adeus, nem me ensinar para
onde dirigir os meus passos, nem o caminho que devo percorrer para te reencontrar, mas bem me
parece que Tu mesmo me impediste os caminhos para não te deixar encontrar, e por quanto possa
girar e chamar-te Tu não me escutas, os caminhos estão fechados, e eu extenuada pelo cansaço
estou obrigada a deter-me e choro por Aquele que a qualquer custo quisesse encontrar e não
encontro. Ah! Jesus, Jesus, regressa, vem àquela que não pode viver sem Ti". Mas enquanto
desabafava minha dor, mal se moveu em meu interior, e eu ao sentir que se movia lhe disse: "Meu
Jesus, minha Vida, por que me faz esperar tanto, até não poder mais? Se te faz ver é apenas como
relâmpago, e sem me dizer nada se faz mais obscuro que antes e eu fico mais em meus desvarios,
e delirando de dor te busco, te chamo, mas em vão te espero". E Jesus compadecendo-me disse-
me:
(2) "Minha filha, não temas, estou aqui contigo, o que quero é que jamais saias de dentro de minha
Vontade, que sempre continue teus atos sem jamais te apartar dos confins do Reino do Fiat
Supremo, e isto te dará a firmeza que te assemelhará a teu Criador, o qual, tendo feito uma vez um
ato, esse ato tem vida contínua sem cessar jamais. Um ato sempre continuado é só de Deus, o
qual não sofre interrupções em seus atos, por isso nossa firmeza é inabalável e se estendendo
onde quer com nossa imensidão, torna sem interrupção nossos atos e onde quer que nos
apoiemos encontramos nossa firmeza que nos faz a maior honra, nos faz conhecer como o Ente
Supremo, Criador de tudo, e torna inabalável nosso Ser e nossos atos, Porque, onde quer que
queiramos apoiar-nos, encontramos a nossa firmeza que tudo sustenta; minha filha, a firmeza é
natureza e dom divino, e é justo que demos esta participação e dote de natureza divina a quem
deve ser filha do nosso Fiat Divino e viver no nosso Reino. Assim que continuar seus atos nEle
sem interrompê-los jamais, faz saber que já está em posse do dote de nossa firmeza. Quantas
coisas diz a firmeza! Diz que a alma se move só por Deus; diz que se move com razão e com puro
amor, não com paixão e interesse próprio, diz que conhece o bem que faz e Por isso se mantém
firme nele sem jamais interrompê-lo; a firmeza diz com caracteres indeléveis: Aqui está o dedo de
Deus'. Por isso sê firme em teus atos e terás nossa firmeza divina em teu agir".
(3) Depois disto continuava meus atos no Supremo Querer, e chegando ao ponto de seguir os atos
de Jesus desde que foi concebido no seio da Imaculada Rainha, até que morreu sobre a cruz, meu
amável Jesus, fazendo-se ouvir de novo em meu interior me disse:
(4) "Minha filha, minha Humanidade veio à terra como em meio dos tempos, para reunir o passado,
quando a plenitude de minha Vontade reinava no homem; na Criação tudo era seu, onde quer que
tivesse seu Reino, sua Vida obrante e Divina, e eu encerrei em Mim esta plenitude de meu Querer
Divino, e vinculando os presentes me fiz primeiro modelo para formar os remédios que se
requeriam, as ajudas, os ensinamentos que se necessitavam para curá-los, e depois vinculava os
futuros à plenitude daquela Vontade Divina que reinava nos primeiros tempos da Criação. Assim
que minha vinda à terra foi vínculo de reunião dos tempos, foi remédio para formar este vínculo
para fazer que o Reino do Fiat Divino pudesse retornar no meio das criaturas, foi modelo que fazia
para todos, os que se modelando ficavam retomados nos vínculos feitos por Mim. Eis por que
antes de te falar de minha Vontade te falei de minha vinda à terra, do que Eu fiz e sofri, para te dar
os remédios e o modelo de minha própria Vida, e depois te falei de meu Querer, eram vínculos que
formava em ti, e nestes vínculos formava o Reino de minha Vontade, e sinal disto são os tantos
conhecimentos que te manifestei acerca dela, a sua dor porque não reina com toda a sua plenitude
no meio das criaturas, e os bens que promete aos filhos do seu Reino".
(5) Depois eu continuava a rezar e me sentia meio sonolenta, quando de improviso ouvia falar em
voz alta dentro de mim, pus atenção e vi meu amado Jesus com os braços no alto, em ato de me
abraçar, que com voz forte me dizia:
(6) "Minha filha, eu não peço outra coisa de ti senão que sejas a filha, a mãe, a irmã da minha
Vontade, que ponhas a salvo em ti os seus direitos, a sua honra, a sua glória".
(7) E isto dizia-o com voz alta e forte; depois, baixando a voz e abraçando-me acrescentou:
(8) "O motivo minha filha pelo qual quero a salvo os direitos de meu eterno Fiat, é porque quero
encerrar na alma a Santíssima Trindade, e só minha Vontade Divina pode nos dar o lugar e a glória
digna de Nós, e só por meio dela podemos operar livremente e estender em ti todo o bem da
Criação, formar coisas ainda mais belas, porque com nossa Vontade na alma podemos tudo, sem
Ela nos faltaria o lugar onde nos colocarmos e onde estender nossas obras; portanto, Não sendo
livres, permanecemos em nossos apartamentos celestiais. Acontece como a um rei, que amando
com amor excessivo a um súbdito seu quer abaixar-se a fazer vida em seu pequeno cortiço, mas
quer ser livre, quer pôr no pequeno cortiço suas coisas reais, quer mandar, quer que coma junto
com ele seus bons e delicados alimentos, em suma, quer fazer sua vida de rei, mas o súdito não
quer que o rei ponha suas coisas reais, nem que mande, nem quer adaptar-se aos alimentos do
rei. O rei não se sente livre e por amor à liberdade volta-se ao seu palácio real. Onde não reina
minha Vontade não sou livre, a vontade humana põe contínua oposição à minha e por isso não
tendo a salvo nossos direitos, não podemos reinar e por isso estamos em nossa morada real".
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