PARTE1PARTE2 PARTE 3
LIVRO DO CÉU VOLUME 1
(221) Às vezes também Jesus queria brincar, e eis como: Enquanto estava com estas ânsias,
vinha apressado e me dizia: "Queres vir?" E eu lhe dizia: "Onde?" E Ele: "Ao Céu". E eu: "Dizes-
me de verdade?" E Ele: "Apresse-se, venha, apresse=se". E eu: "Está bem, vamos, mas temo que
queira brincar comigo". E Jesus: "Não, não, de verdade quero levar-te Comigo". E enquanto assim
dizia sentia minha alma sair do corpo, e junto com Jesus tomava o vôo ao Céu. Oh! como me
sentia contente então acreditando que devia deixar a terra, a vida me parecia um sonho, o sofrer
pouquíssimo! Enquanto chegávamos a um ponto alto do Céu, eu ouvia o canto dos bem-
aventurados, eu apressava Jesus a me introduzir nessa bem-aventurada morada, mas Jesus o
tomava com calma. Em meu interior começava a suspeitar que não era verdade e dizia: "Quem
sabe se não é uma brincadeira que me fez?" De vez em quando lhe dizia: "Meu Jesus, amado, fá-
lo depressa". E Ele me dizia: "Espera mais um pouco, desçamos outra vez à terra, olha, aí está por
perder-se um pecador, vamos, talvez se converta. Peçamos juntos ao Eterno Pai que tenha
misericórdia dele. Não queres que Ele seja salvo? Não estás disposta a sofrer qualquer pena pela
salvação de uma só alma?" E eu: "Sim, tudo o que quiseres que ela sofra, estou disposta, desde
que a salves". Assim íamos a esse pecador, tentávamos convencê-lo, púnhamos ante sua mente
as mais poderosas razões para rende-lo, mas em vão. Então Jesus todo aflito me dizia: "Minha
esposa, volta outra vez a teu corpo, toma sobre ti as penas que lhe são merecidas, assim a Divina
Justiça, aplacada, poderá usar com ele misericórdia. Você viu, as palavras não o abalaram, nem
sequer as razões, não resta outra coisa que as penas, que são os meios mais poderosos para
satisfazer a Justiça e para render o pecador". Assim me levava de volta ao corpo. Quem pode dizer
os sofrimentos que me vinham? Só o Senhor sabe que deles era testemunha. Depois de alguns
dias me fazia ver aquela alma convertida e salva, oh, como estava contente Jesus e eu também.
(222) Quem pode dizer quantas vezes Jesus fez estes jogos? Quando se chegava ao ponto de
entrar no Céu, e às vezes mesmo depois de ter entrado, agora dizia que não tinha a obediência do
confessor, e por isso era conveniente voltar à terra, e eu lhe dizia:
"Enquanto estive com o confessor fui obrigada a obedecer-lhe, mas agora que estou Contigo, devo obedecer-te a Ti,
porque Tu és o primeiro de todos. E Jesus dizia-me: "Não, não, quero que obedeças ao confessor".
Então, para não me alongar muito, agora por um pretexto, agora por outro, me fazia voltar à terra.
(223) Muito dolorosos me resultavam estes jogos, basta dizer que me tornei tão impertinente, que
o Senhor para castigar minhas impertinências não permitia tão freqüentemente estas brincadeiras.
2-33
Junho 11, 1899
Efeitos que receberão aqueles que se aproximarem de Luisa.
(1) Meu doce Jesus continua a fazer-se ver pouquíssimas vezes e quase sempre em silêncio.
Minha mente me sentia toda confusa e cheia de medo de perder a mim só e único Bem e por
tantas outras coisas que não é necessário dizer aqui. ¡ Oh Deus, que pena! Enquanto estava
neste estado, assim que se fez ver, parecia que trazia uma luz, e desta luz saíam muitos balões
de luz e Jesus me disse:
(2) "Tira todo temor de teu coração. Olha, eu trouxe este globo de luz para colocar entre você e
eu e aqueles que se aproximam de você. Aos que se aproximarem de ti com coração reto e
para fazer-te o bem, estes globitos de luz que saem penetrarão em suas mentes, descerão em
seus corações e os encherão de alegria e de graças celestiais e compreenderão com clareza o
que faço em ti; aqueles que vierem com outras intenções experimentarão o contrário, e por
estes globitos de luz ficarão deslumbrados e confundidos." Assim fiquei mais tranqüila. Seja
tudo para glória de Deus.
3-32
Janeiro 28, 1900
A mortificação.
(1) Continua o mesmo. Esta manhã Jesus me transportou para fora de mim mesma, e depois de
tanto tempo parece que vi Jesus com clareza, mas me via tão má que não me atrevia a dizer uma
só palavra, nos olhávamos, mas em silêncio; Naqueles olhares mútuos, compreendia que o meu
bom Jesus estava cheio de amargura, mas não me atrevia a dizer-lhe que as derramasse em mim.
Então Ele mesmo se aproximou e começou a derramá-las, e eu não podia contê-las, conforme as
recebia, lançava-as por terra. Então ele me disse:
(2) "O que você faz? Você não quer mais participar de minhas amarguras? Você não quer me dar
mais alívio nas minhas dores?"
(3) E eu: "Senhor, não é a minha vontade, eu mesma não sei o que me aconteceu, sinto-me tão
cheia que não tenho onde as conter, só um prodígio teu pode alargar o meu interior e assim
poderei receber as tuas amarguras".
(4) Então Jesus me marcou com um grande sinal de cruz e derramou de novo, assim parece que
pude contê-las, e depois acrescentou
(5) "Minha filha, a mortificação é como o fogo que faz secar todos os humores; assim a mortificação
seca todos os humores maus que há na alma e a inunda de um humor santificante, de modo que
faz germinar as mais belas virtudes".
4-37
Novembro 23, 1900
Modo no qual estão as almas em Jesus.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu amante Jesus me transportou para fora de mim
mesma, e saindo de dentro de meu interior se fazia ver tão grande que absorvia nele toda a terra, e
estendia tanto sua grandeza que minha alma não encontrava o termo, sentia-me dispersa em
Deus, não só eu, mas todas as criaturas ficavam dispersas; e, oh, como parecia impróprio, que
afronta se faz a Nosso Senhor, que nós, pequenos vermes, vivendo n'Ele ousemos ofendê-Lo! Oh,
se todos pudessem ver o modo como estamos em Deus, como se cuidariam de não lhe dar nem
sequer a sombra de um desgosto! Depois se fazia tão alto que absorvia nele todo o Céu, assim
que em Deus mesmo via a todos os anjos e santos, ouvia seu canto, entendia muitas coisas da
felicidade eterna. Depois disto via que de Jesus Saíam muitos ribeiros de leite e eu bebia deles,
mas sendo eu muito restrita, e Jesus tão grande e alto que não tinha limite nem de grandeza nem
de altura, não conseguia absorver tudo em mim; muitos corriam fora, embora permanecessem em
Deus mesmo, e eu sentia um desgosto por isso e teria querido que todos corressem a beber
destes ribeiros, mas escassíssimo era o número dos viadores que bebiam; nosso Senhor
desgostoso também por isso me disse:
(2) "Isto que vês é a misericórdia contida, e isto irrita principalmente a justiça; como não devo fazer
justiça, enquanto eles mesmos me impedem de misericórdia?"
(3) E eu, segurando as mãos dele, apertei-o e disse: "Não Senhor, não podes fazer justiça, não o
quero eu, e não querendo eu também Tu o queres, porque a minha vontade não é mais minha,
mas tua, e sendo tua, tudo o que eu não quero também Tu o queres; não me disseste Tu mesmo,
que devo viver em tudo e por tudo do teu Querer?"
(4) O meu falar desarmou o meu doce Jesus, diminuiu de novo e fechou-se dentro de mim, e eu
encontrei-me em mim mesma.
6-33
Abril 14, 1904
Se a alma dá a Deus o alimento do amor paciente, Deus dará o pão doce da Graça.
(1) Continuando meu estado habitual, mas sempre com imensa amargura em minha alma pela
privação do bendito Jesus, e que no máximo vem quando já não posso mais, e depois de que
quase estou persuadida de que não virá mais. Então, quando eu mal o vi carregando um cálice na
mão me disse:
(2) "Minha filha, se além do alimento do amor me der o pão de sua paciência, porque o amor
paciente e sofredor é alimento mais sólido, mais substancioso e tonificante, porque se o amor não
é paciente se pode dizer que é amor vazio, leve e sem nenhuma substância, Então, pode ser dito
que faltam as matérias necessárias para formar o pão da paciência. Portanto, se me deres este
pão, eu te darei o pão doce da graça".
(3) E enquanto dizia isto, deu-me a beber o que estava dentro do cálice que tinha na mão, que
parecia doce, como uma espécie de licor que não sei distinguir, e desapareceu.
(4) Depois disto, vi ao redor do meu leito muitas pessoas estranhas: sacerdotes, homens de bem,
mulheres que pareciam que deviam vir ao meu encontro, e alguns deles pareciam dizer ao
confessor: "Dá-nos notícias desta alma, de tudo o que o Senhor lhe manifestou, as graças que lhe
tem feito, porque nos manifestou o Senhor desde 1882 que escolhia uma vítima, e o sinal desta
vítima seria que o Senhor a teria mantido sempre neste estado como jovenzinha, tal como quando
a escolheu, sem envelhecer ou mudar a mesma natureza". Agora, enquanto isso diziam, não sei
como eu me via tal como quando me deitei na cama, sem que tivesse mudado em nada por ter
estado tantos anos neste estado de sofrimento.
7-34
Julho 28, 1906
Audácia da alma, Jesus a defende.
(1) Continuando meu habitual estado, por breve tempo veio o bendito Jesus, e eu assim que o vi
o detive e o abracei, mas tão forte como se quisesse encerrá-lo em meu coração. Enquanto eu
estava aqui, eu via pessoas ao meu redor dizendo: "Como é ousada, você tem muita confiança,
e quando se trata com confiança você não tem a estima e o respeito que você deve ter". Eu me
sentia envergonhado ao ouvir isto, mas não podia fazer de outra maneira; e o Senhor lhes disse:
(2) "Só se pode dizer que se ama, se estima e se respeita um objeto, quando se quer torná-lo
próprio; e quando não se quer torná-lo próprio, significa que não o ama, e portanto não se lhe
tem estima nem respeito, como por exemplo: Se se quer conhecer se alguém ama as riquezas,
falando delas vê-se que as tem em grande estima, respeita as pessoas ricas, não por outra coisa
mas porque são ricas, e todas as riquezas gostaria de as fazer suas; se em troca não as ama, ao
só ouvir falar delas se aborrece, e assim por todas as outras coisas.
(3) Então, em vez de criticá-la merece elogios, e se me quer fazer seu significa que me ama, me
estima e me respeita".
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7-35
Julho 31, 1906
Jesus fala da simplicidade.
(1) Continuando o meu habitual estado, por pouco tempo veio o bendito Jesus, e abraçando-me
disse:
(2) "Minha filha, a simplicidade é às virtudes como o tempero às refeições. Para a alma simples
não há nem chaves nem portas para entrar em Mim, nem Eu para entrar nela, porque por todas
as partes pode entrar em Mim e Eu nela, antes, para dizer melhor, encontra-se em Mim sem
entrar, porque por sua simplicidade vem a assemelhar-se a Mim que sou Espírito simplíssimo, e
que só porque sou simplíssimo encontro-me por toda parte e nada pode fugir de minha mão. A
alma simples é como a luz do sol, que apesar de qualquer névoa, ou de que seus raios passem
por qualquer imundícia, permanece sempre luz, e dá luz a todos, mas jamais se muda. Assim a
alma simples, qualquer mortificação ou desgosto que possa receber, não cessa de ser luz para si
mesma e para aqueles que a mortificaram, e se vê coisas más, ela não fica manchada, fica
sempre luz, nem jamais se muda, porque a simplicidade é a virtude que mais se assemelha ao
Ser Divino, e só por esta virtude se vem a participar das outras qualidades divinas, e só na alma
simples não há impedimentos nem obstáculos para que entre a operar a Graça Divina, porque
sendo luz uma e luz a outra, facilmente uma luz se une, transforma-se na outra luz".
(3) Mas quem pode dizer o que compreendia desta simplicidade? Sinto em minha mente como
um mar, e que apenas posso manifestar uma gotinhas deste mar, e desconectadas entre elas.
(4) Graças a Deus.
8-33
Abril 5, 1908
Tudo o que contém a Rainha Mãe, tem seu princípio no Fiat.
(1) Continuando a minha condição habitual, encontrei-me fora de mim mesma dentro de um jardim,
no qual via a Rainha Mãe sentada sobre um altíssimo trono. Eu ardia pelo desejo de subir até
acima para lhe beijar a mão, e enquanto me esforçava por subir, Ela veio a meu encontro me
dando um beijo no rosto. Olhando para ela, vi-a como um globo de luz, e dentro daquela luz estava
a palavra Fiat, e dessa palavra desciam tantos, diversos, intermináveis mares de virtude, de
graças, de grandezas, de glória, de alegrias, de belezas, e de tudo o que contém nossa Rainha
Mãe, assim que tudo estava radicado em aquele Fiat, e do Fiat tinham princípio todos seus bens.
Oh, Fiat onipotente, fecundo, santo, quem te pode compreender? Eu me sinto muda; é tão grande
que não sei dizer nada; por isso ponho ponto. Então eu a olhava maravilhada e Ela me disse:
(2) "Minha filha, toda a minha Santidade saiu de dentro da palavra Fiat. Eu não me movia nem
sequer para um respiro, para um passo, nem nenhuma outra ação, se não o fazia dentro da
Vontade de Deus; minha vida era a Vontade de Deus, meu alimento, meu tudo, e isto me produzia
santidade, riquezas, glórias, honras, mas não humanos senão Divinos. Então, quanto mais a alma
está unida, fundida com a Vontade de Deus, tanto mais se pode dizer santa, tanto mais é amada
por Deus, e por quanto mais amada mais favorita, porque a vida dessa alma não é outra coisa que
a reprodução da Vontade de Deus, e poderá não amá-la se for Ela mesma? Assim não se deve
olhar o muito ou o pouco que se faz, mas sim se é querido por Deus, porque o Senhor olha mais o
pequeno fazer se é segundo sua Vontade, que o grande sem ela".
9-32
Março 23, 1910
O viver na Divina Vontade, é mais que a mesma comunhão.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, e lamentando-me por suas privações, apenas como
de fugido veio e me disse:
(2) "Minha filha, te recomendo que não saia de dentro de minha Vontade, porque minha Vontade
contém tal poder, que é um novo batismo para a alma, e mais, que o mesmo batismo, porque nos
sacramentos há parte de minha Graça, em troca em minha Vontade está toda a plenitude; no
batismo é removida a mancha do pecado original, mas permanecem as paixões, fraquezas; na
minha Vontade, destruindo a alma o próprio querer, destrói as paixões, as fraquezas e tudo o que é
humano, e vive das virtudes, da fortaleza e de todas as qualidades divinas".
(3) Eu ao ouvir isto dizia entre mim: "Dentro de pouco dirá que sua Vontade é mais que a mesma
comunhão". E Ele acrescentou:
(4) "Certo, certo, porque a comunhão sacramental dura poucos minutos; a minha Vontade é
comunhão perene, antes é eterna, que se eterniza no Céu. A comunhão sacramental está sujeita a
obstáculos por doenças, por necessidades, ou por parte de quem a deve administrar, enquanto a
comunhão de minha Vontade não está sujeita a nenhum estorvo, só para que a alma a queira e
tudo está feito, ninguém pode impedir-lhe um bem tão grande, que forma a felicidade da terra e do
Céu, nem os demônios, nem as criaturas, nem minha onipotência. A alma é livre, ninguém tem
direito sobre ela neste ponto da minha Vontade. Por isso eu a insinuo, quero tanto que a tomem
minhas criaturas, é a coisa que mais me importa, que mais me interessa; todas as outras coisas
não me interessam, nem mesmo as coisas mais santas, e quando obtenho que a alma viva de
minha Vontade me sinto triunfante, porque encerra o maior bem que pode haver no Céu e na
terra".
10-36
Outubro 17, 1911
Jesus toma mais gosto do amor da alma viadora que do dos santos.
(1) O meu dulcíssimo Jesus parece ter vindo um pouco mais do que o habitual. Parecia que tinha a
coroa de espinhos, e eu, tirando-a cravei-a na minha cabeça, mas depois de um pouco, olhando
para Jesus, via-o de novo coroado de espinhos:
(2) "E Jesus: "Olha minha filha como me ofendem, uma coroa me tiraste e outra mais me teceram,
não me deixam livre, continuamente me tecem coroas de espinhos".
(3) E eu lho tirei de novo, e Jesus, alegrando-se, aproximou-se da minha boca e derramou um
pouco de licor dulcíssimo, e eu: "Jesus, que fazes? Você está cheio de amarguras, e a mim me dá
doçuras? Isto não convém".
(4) E Jesus: "Deixa-me fazer a Mim, também tu tinhas necessidade de ser confortada, aliás, quero
que tomes um pouco de repouso no meu coração".
(5) Oh, como estava bem! Depois me pôs fora, e eu: “Por que me pôs fora? Estava tão bem em seu
coração, como era belo!"
(6) E Jesus: "Quando te tenho dentro de Mim, Eu te gozo sozinho, quando te ponho fora te gozam
todos, e tu podes tomar a defesa de teus irmãos, podes perorar, podes fazer que os perdoe, tão é
verdade, que os santos dizem que Eu te contento mais a ti que a eles, que tomo mais gosto de teu
amor que do deles, e Eu lhes digo que isto o faço com amor e com justiça, porque contigo posso
dividir minhas penas, com eles não, pois tu sendo viadora podes tomar as penas de outros e as
minhas sobre ti, e com isso tens a força para desarmar-me, a menos que Eu não quisesse, como
ontem que te amarrei fortemente os braços para fazer que não te se opusesse ao meu Querer,
enquanto eles, estas armas não as têm mais em seu poder, tanto que quando devo castigar
escondo-me de ti, pois podes fazer-me alguma força, deles não me escondo".
(7) E eu: "Certo, certo! Jesus que deves tomar mais contento de meu amor que do deles, porque
seu amor é de habitantes do Céu, veem-te, gozam-te continuamente e estão absorvidos em teu
Santíssimo e Divino Querer, todos se perderam em Ti, por isso, que grande coisa é seu amor,
recebendo vida contínua de Ti? Enquanto eu, pobrezinha de mim, que só as tuas privações me dão
morte contínua".
(8) E Jesus: "Pobre filha minha, tens razão".
11-31
Agosto 17,1912
O pensamento de si mesmo diminui a alma.
(1) Orando, meu bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, o pensamento de si mesmo diminui a alma, e desde sua pequenez mede minha
grandeza, e quase gostaria de me restringir, ao contrário quem não pensa em si mesmo,
pensando em Mim se engrandece em minha imensidão e me dá a honra devida a Mim".
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11-32
Agosto 20,1912
Deve-se chamar Jesus em tudo para obrar junto com Ele. O homem propõe e Deus dispõe.
(1) Continuando, meu sempre amável Jesus mal se fez ouvir e me disse:
(2) "Minha filha, quanto me desagrada ver a alma encolhida em si mesma, vê-la atuar sozinha,
enquanto eu, ao lado dela, olho para ela, e vendo-a muitas vezes que não sabe fazer bem o que
faz, Eu estou esperando que me chame e me diga: "Quero fazer esta coisa e não sei fazê-la,
Venha você fazê-la junto comigo, e tudo saberei fazer bem". Por exemplo: "Quero amar, vem
comigo amar; quero rezar, vem Tu rezar junto comigo; quero fazer este sacrifício, vem Tu a dar-
me tua força pois eu me sinto fraco". E assim de tudo o resto, e Eu com muito prazer, com
grande prazer meu me prestaria a tudo. Eu sou como um mestre que tendo dado o tema a um
aluno seu, está ao lado dele para ver o que faz seu discípulo, e o aluno não sabendo fazer bem
se zanga, se cansa, se perturba, talvez chora, mas não diz: "Mestre, me ensina como devo fazer
isto". Qual não será a mortificação do mestre vendo-se tratado pelo aluno como um nada? Tal é
minha condição".
(3) Depois acrescentou: "Diz-se: "O homem propõe e Deus dispõe". Enquanto a alma se propõe
a fazer um bem, ser santa, Eu imediatamente disponho ao seu redor as coisas que são
necessárias: Luz, graças, conhecimento de Mim, desapegos, e se com isso não conseguir, então
por mortificações nada lhe faço faltar para lhe dar a coisa que a alma se propôs, mas, oh,
quantas pela força se saem deste trabalho que meu Amor lhes teceu ao redor! Poucas são as
que resistem e me fazem cumprir meu trabalho".
34. Adoração dos Magos. É “Evangelho da fé”.
28 de fevereiro de 1944.
34.1Meu monitor interior me diz:
– Dá a estas contemplações
[57] que terás, e ao que irei te ditar o nome de “evangelhos da fé”, porque
virão ilustrar o poder da fé e dos seus frutos, a ti e aos outros, confirmando-vos na fé em Deus.
34.2 Vejo Belém pequena e branca, toda recolhida como uma ninhada, sob a luz das estrelas. Duas ruas
principais a cortam em cruz, uma que vem de fora da cidade, e é a rua mestra que depois prossegue além da cidade, e a outra, que vai de uma à outra extremidade da cidade, mas sem ultrapassá-la. Outras vielas repartem esta pequena cidade, sem a menor norma de um plano de ruas como nós o concebemos, pelo contrário, adaptam-se a um solo cheio de desníveis e às casas que surgem aqui e ali, segundo os caprichos do solo e de seus construtores. De tal modo que possam servir de esquinas para a rua que passa ao lado, obrigando esta a ficar como uma fita que vai-se desenrolando sinuosamente, em vez de seguir uma linha reta, que vai daqui até lá, sem desvios. De vez em quando, aparece uma pracinha: ou é a pracinha de uma feira, ou por ali há alguma fonte, ou, então, por causa do costume de construir aqui e ali sem nenhuma regra, sobrou um resto enviesado de terreno, sobre o qual já não é possível construir mais nada.
No ponto em que tive a idéia de parar um pouco, há um exemplo dessas pracinhas irregulares. Ela
deveria ser quadrada ou, pelo menos, retangular. Mas, ao contrário, saiu um trapézio tão estranho, que
ficou parecendo um triângulo agudo, cortado perto do vértice. No lado mais longo, o da base do triângulo, há uma construção ampla e baixa. É a maior construção da cidade. Por fora passa um paredão liso e nu, no qual se abrem apenas dois portões que estão bem fechados. Por dentro, ao invés, no seu largo quadrado, abrem-se muitas janelas no primeiro plano, enquanto embaixo ficam os pórticos, que cercam os pátios cheios de palha e de detritos espalhados pelo chão, com tanques, onde os cavalos e outros animais são levados para beber. Nas rústicas colunas dos pórticos existem argolas às quais ficam amarrados os animais, e há também um grande telheiro para abrigar os rebanhos e cavalgaduras. Compreendo que aqui é o albergue de Belém.
Sobre os dois lados iguais há casas e casinhas, tendo algumas hortas à frente, porque entre elas há uma
que está com a fachada para a praça, e outra com os fundos da casa para a mesma praça. Do lado mais
curto, defronte ao caravançará, há uma casinha isolada com uma pequena escada externa que, ao meio da fachada, dá entrada para os quartos dos moradores. Os quartos estão todos fechados, porque agora é noite.
E a esta hora, não há ninguém pelas ruas.
34.3 Vejo que a noite vai-se tornando mais clara pela luz das estrelas que descem do céu; são tão belas no céu do Oriente, tão vivas e grandes, que até parecem estar perto de nós, e que nos será fácil alcançá-las e tocar com a mão essas flores que brilham no veludo do firmamento. Elevando o olhar, tento compreender qual será a fonte deste aumento de luz. É uma estrela, de grandeza extraordinária, que a faz parecer uma pequena lua, que vem avançando pelo céu de Belém. As outras estrelas parecem eclipsar-se, abrindo caminho para ela, como servas diante de sua rainha que vai passando, pois a tal ponto ela as supera em brilho, que as faz desaparecer! Do corpo da estrela, que parece uma grande safira clara e acesa por um sol que está no seu interior, sai uma esteira de luz, na qual fundem-se o loiro dos topázios, o verde das esmeraldas, o leitoso das opalas, o sanguíneo fulgor dos rubis e o suave cintilar das ametistas, com a cor predominante da safira. Todas as pedras preciosas da terra estão naquela esteira de luz, que vem varrendo o céu, num movimento veloz e ondulante, como se fosse viva. Mas a cor que predomina é a que desce do corpo da estrela: uma cor celeste de safira clara, que tinge de prata azulada as casas, as ruas e o chão de Belém, berço do Salvador. Já não é mais a pobre cidade, que para nós era menos importante do que um povoado rural. Agora, é uma fantástica cidade dos contos de fada, na qual tudo é de prata. Até a água das fontes e dos tanques parece de diamante líquido.
Emitindo um fluxo de luz mais vivo, a estrela paira sobre a pequena casa, que está do lado mais curto da pracinha. Nem os moradores da casa, nem os habitantes de Belém a vêem, porque estão dormindo, e suas casas estão fechadas; mas a estrela acelera as suas palpitações de luz, faz vibrar sua cauda, e solta
ondulações luminosas mais fortes, traçando pequenos semicírculos no céu, que se ilumina todo com esta rede de astros que ela arrasta consigo, numa rede de pedras preciosas, que esplendem, tingindo nas mais indistintas cores as outras estrelas, como para comunicar-lhes uma palavra de alegria.
A casinha está toda iluminada por este fogo líquido de gemas. O teto do pequeno terraço, a escadinha de pedra escura, a pequena porta, tudo virou um bloco de pura prata, polvilhado com pó de diamantes e
pérolas. Nenhum palácio real da terra jamais teve, ou terá, uma escada como esta, feita para receber a
passagem dos anjos, feita para ser usada pela mãe, que é mãe de Deus. Seus pequenos pés de virgem
imaculada podem pousar sobre aquele cândido esplendor, os seus pequenos pés destinados a pousar sobre os degraus do trono de Deus. Mas a virgem ainda não está sabendo de nada. Ela está velando sobre o berço de seu Filho, rezando. Sua alma tem esplendores que superam a estrela que está embelezando as coisas.
34.4 Da rua mestra, vem chegando uma cavalgada. Cavalos arreados ou conduzidos a mão, dromedários e camelos, montados ou carregados com suas cargas. O barulho dos cascos faz um rumor como o da água, quando cai sobre as pedras de um riacho. Reunidos na praça, todos param. A cavalgada, vista sob a luz da estrela, é fantástica em seu esplendor. Os ornamentos de primeira classe sobre as cavalgaduras, as vestes dos cavaleiros, o seu aspecto, as bagagens, tudo está brilhando, unindo e reavivando, o esplendor do metal, do couro, da seda, das pedras preciosas, dos pelos, ao brilho da estrela. Os olhos também cintilam, as bocas se enchem de riso, porque um outro esplendor brilhou nos corações: o esplendor de uma alegria sobrenatural.
Enquanto os servos se põem a caminho do caravançará com os animais, três da caravana desmontam de suas cavalgaduras, que um servo logo leva para outro lugar, dirigindo-se a pé para a casa. Prostram-se com a fronte até o chão, beijando o pó. São três poderosos. Isto é o que nos estão dizendo as suas vestes, riquíssimas. Um, de pele muito escura, tendo apeado de um camelo, envolve-se todo num manto de seda brilhante, ajustado à cinta por um aro precioso do qual pendem um punhal ou uma espada, tendo esta o punho cravejado de pedras preciosas. Os outros, que apearam de dois esplêndidos cavalos, estão vestidos, um de um tecido listrado muito bonito, no qual predomina a cor amarela, com uma veste feita como um longo dominó, ornado com capuz e cordão, parecendo um só trabalho de filigrana de ouro, com muitos pespontos de bordados em ouro. O terceiro traz uma espécie de camisa de seda, calças largas e longas, que se estreitam perto dos pés e se envolve com um xale muito fino, que mais parece um jardim florido, de tão vivas que são as flores com que está todo decorado. Na cabeça traz um turbante preso por uma correntinha feita de engastes, com diamantes.
Depois de terem venerado a casa onde está o Salvador, eles se levantam, e vão até o caravançará, onde
os servos já bateram à porta, fazendo-a abrir.
Aqui cessa a visão, 34.5que recomeça, três horas depois, com a cena da adoração de Jesus pelos Magos.
Agora, já é dia. Um belo sol resplende no céu da tarde. Um dos três servos atravessa a praça e sobe a
escadinha da pequena casa. Depois, entra. Torna a sair. Volta ao albergue.
Saem os três sábios, acompanhados cada um pelo próprio servo. Atravessam a praça. Os raros
transeuntes viram-se para olhar os pomposos personagens que passam pela praça lentamente e com
solenidade. Entre a entrada do servo e aquela dos três, passou-se um bom quarto de hora, e esse tempo
serviu aos moradores da casinha para se prepararem a receber os hóspedes.
Eles se mostram agora mais ricamente vestidos do que na tarde anterior. As sedas resplendem, as
gemas brilham, um grande penacho de penas preciosas entremeadas com fragmentos ainda mais preciosos, tremula e cintila sobre a cabeça daquele que está com o turbante.
Os servos vão levando, um deles um cofre todo marchetado, cujas partes mais reforçadas são de ouro
burilado; o segundo leva um cálice muito bem trabalhado, coberto com uma tampa ainda mais artística,
toda de ouro; o terceiro leva uma espécie de ânfora larga e baixa, também de ouro, tampada com uma peça em forma de pirâmide, com um brilhante no vértice. Devem ser coisas pesadas, porque os servos que as transportam estão fazendo muita força, especialmente o que transporta o cofre.
Os três sobem a escada e entram. Entram em um quarto, que se estende da rua até os fundos da casa.
Vê-se a pequena horta na parte posterior da casa, por uma pequena janela aberta ao sol. Outras portas se abrem nas duas outras paredes, e olhando de soslaio, lá estão os proprietários: um homem e uma mulher, três ou quatro adolescentes e crianças.
34.6Maria está sentada com o Menino no colo, perto dela, em pé, está José. Mas ela também se levanta e se inclina, quando vê entrar os três Magos. Maria está toda vestida de branco. Tão bonita na sua simples veste cândida, que a cobre da base do pescoço até aos pés, dos ombros aos delicados pulsos, tão bonita em sua cabeça pequena e coroada de tranças loiras, no rosto que a emoção faz ficar vivamente rosado, nos olhos que sorriem com doçura, na boca que se abre para a saudação, dizendo: “Deus esteja convosco”, que, por um instante, os três se detêm, impressionados. Depois, eles dão mais alguns passos para a frente, indo prostrarem-se aos seus pés. Pedem a ela que se assente.
Eles, por sua vez, não se sentam, por mais que ela lhes peça. Ficam de joelhos, apoiados sobre os
calcanhares. Atrás deles, também de joelhos, estão os três servos. Estes estão logo atrás da soleira. Eles
puseram diante de si os três objetos que levaram, e estão esperando.
Os três sábios contemplam o Menino, que me parece ter de nove meses a um ano, de tão esperto e
robusto que está! Ele está sentado no colo da mamãe, sorri e balbucia com uma vozinha de passarinho. Ele também está todo vestido de branco, como a mamãe, com sandalinhas nos pés minúsculos. Sua veste é muito simples: uma pequena túnica, da qual saem os pezinhos irrequietos, as mãozinhas gorduchas que gostariam de apanhar tudo o que os olhos vêem, e, sobretudo seu rostinho muito bonito, no qual brilham os olhos de um azul escuro, enquanto a boca faz umas covinhas aos lados, quando ele ri, descobrindo os primeiros dentinhos pequenos. Os caracoizinhos de seus loiros cabelos parecem ouro puro em pó, de tão leves e brilhantes que são.
34.7 O mais velho dos sábios fala por todos. Explica a Maria que eles viram, numa noite no mês de
dezembro passado, acender-se uma nova estrela no céu com esplendor fora do comum. Nunca os mapas do céu tinham trazido aquele astro, nem falado nele. O seu nome não era conhecido, porque não tinha nome.
Tendo, então, nascido do seio de Deus, aquela estrela teria aparecido para vir dizer aos homens alguma
verdade bendita, algum segredo de Deus. Mas os homens não lhe haviam dado importância, estando eles com a alma presa na lama. Não eram capazes de levantar o olhar para Deus, não sabendo ler as palavras escritas por Ele, eterno bendito, com seus astros de fogo na abóbada dos céus.
Eles a tinham visto, e se esforçaram para escutar sua voz. Deixando, pois, de lado, mas com alegria, o
pouco descanso do sono que concediam aos seus membros, esquecendo-se até de comer, eles se haviam aprofundado no estudo do zodíaco. As conjugações dos astros, o tempo, a estação, o cálculo das horas passadas e das combinações astronômicas lhes haviam dito o nome e o segredo da estrela. O seu nome:
“Messias.” E o seu segredo: “O Messias veio ao mundo.” Então, partiram para adorá-lo. Cada um deles, sem os outros dois saberem. Por montes e desertos, vales e rios, viajando de noite, foram tomando o rumo da Palestina, porque este era o rumo da estrela. Para cada um deles, vindo de três pontos diferentes da terra, ela ia naquele rumo. Eles se tinham encontrado depois, além do Mar Morto. A vontade de Deus os tinha reunido lá, e continuaram a viagem, juntos, se entendiam, ainda que cada um falasse a sua própria língua, entendendo e podendo falar a língua de cada região em que se achassem, por um milagre do Eterno.
Juntos tinham ido a Jerusalém, porque o Messias devia ser o Rei de Jerusalém. O Rei dos judeus. Mas lá a estrela se tinha escondido, sob o céu daquela cidade, e eles sentiram seus corações partirem-se de dor, começando então a examinar suas consciências, para descobrirem se não teriam deixado de merecer a proteção de Deus. Mas, tranqüilizadas suas consciências, haviam se dirigido ao rei Herodes – perguntando lhe em que palácio havia nascido o Rei dos judeus, pois eles o tinham vindo adorar. O rei, tendo reunido os príncipes dos sacerdotes e os escribas, lhes perguntou onde se esperava que nascesse o Messias. Eles lhe
responderam: “Em Belém de Judá.”
Tomaram, pois, os Magos o rumo de Belém, e a estrela tornou a aparecer aos seus olhos. Quando
deixaram a Cidade Santa, na tarde anterior, a estrela tinha aumentado seus esplendores, e o céu parecia
um incêndio. Depois, a estrela parou, reunindo toda a luz das outras estrelas com a sua luz, sobre esta casa.
Então, eles compreenderam que ali estava o Filho de Deus. E agora o estavam adorando, oferecendo-lhe os seus pobres presentes e, mais do que tudo, oferecendo-lhe os seus corações, que nunca mais cessariam de bendizer a Deus pela graça concedida, nem de amar o seu Filho, cuja Humanidade eles estavam vendo.
Depois, iriam, na volta, informar ao rei Herodes, porque ele também queria adorar o Menino.
34.8 – Aqui tens o ouro, como convém a um rei; aqui tens o incenso, como convém a Deus; e aqui tens, ó mãe, a mirra, pois o teu Filho é Homem, além de Deus e da carne e da vida humana conhecerá a amargura e a lei inevitável da morte. Nosso amor não queria dizer-lhe estas palavras, mas ficar sempre pensando que Ele é eterno, até em sua carne, como eterno é o seu Espírito. Mas, ó mulher, se os nossos mapas, e também as nossas almas, não erram, Ele é o teu Filho, é o Salvador, o Cristo de Deus, e por isso deverá, para salvar a terra, tomar para Si o seu mal, um dos quais é o castigo da morte. Esta resina é para aquela hora. Para que os corpos que são santos não conheçam a putrefação da corrupção, e conservem sua integridade até o dia da ressurreição. Que por estes nossos presentes Ele se lembre de nós e salve a estes seus servos, dando-lhes o seu Reino. Por enquanto, para que sejamos santificados, que a mãe, conceda o seu Pequenino ao nosso amor, para que, beijando os seus pés, desça sobre nós a bênção celestial.
Maria, passada a angústia em que as palavras do sábio a haviam mergulhado, esconde, com um sorriso,
a tristeza daquelas fúnebres evocações, e lhes apresenta o Menino. Coloca-o nos braços do mais velho, que o beija e é por ele acariciado, e depois o passa para os outros dois.
Jesus sorri, e brinca com as correntinhas e as franjas dos três e olha com curiosidade o cofre aberto,
cheio de uma coisa amarela que brilha, e ri, ao ver que o sol faz uma espécie de arco-íris, ao bater sobre a brilhante tampa da mirra.
34.9 Depois, os três entregam a Maria o Menino, e se levantam. Maria também se levanta. Inclinam-se
reciprocamente, depois que o mais novo da ordens ao seu servo, que sai. Os três falam ainda um pouco.
Não conseguem decidir-se a se afastarem daquela casa. Em seus olhos há lágrimas de emoção. Por fim, eles se dirigem à saída, acompanhados por Maria e José.
O Menino quis descer e dar a mãozinha ao mais velho dos três, e caminha assim, ajudado pela mão de
Maria e do sábio, que se inclinaram para pegá-lo pela mão. Jesus dá um passinho ainda incerto como fazem os pequeninos e ri, batendo os pezinhos sobre os riscos que a luz do sol faz sobre o pavimento.
Chegando à soleira (não se deve esquecer que o salão tinha o mesmo comprimento da casa) os três se
despedem, ajoelhando-se mais uma vez e beijando os pezinhos de Jesus. Maria, inclinada sobre o
Pequenino, toma-lhe a mãozinha, e a vai guiando, fazendo-o traçar um gesto de bênção sobre a cabeça de cada um dos Magos. É já um sinal da cruz
[58], traçado pelos dedinhos de Jesus, guiados por Maria.
Depois, os três descem a escada. A caravana já pronta os está esperando. Os cavalos já estão arreados e
seus arreios ornados brilham aos últimos raios do sol, que está para se pôr. O povo se aglomerou na
pracinha para presenciar aquele espetáculo único.
Jesus ri e bate as mãozinhas. A mamãe o ergueu e colocou sobre o parapeito, que limita o patamar,
segurando-o com um dos braços para que não caia. José desceu com os três e segura para cada um deles o estribo, enquanto eles sobem em seus cavalos e no camelo.
Agora os servos e os patrões estão montados. É dada a ordem de partir. Os três se inclinam até o
pescoço da cavalgadura, em uma última saudação. José também se inclina. Maria também o faz, e torna a guiar a mãozinha de Jesus, em um gesto de adeus e de bênção.
34.10 Jesus diz:
– E agora? Que vos direi, ó almas, que percebeis que a fé está morrendo? Aqueles sábios do Oriente
nada tinham que lhes desse a certeza da verdade. Nada tinham de sobrenatural. Tinham apenas os cálculos astronômicos e as suas reflexões, que a vida íntegra, que eles levaram, tornava perfeitas. Contudo, tiveram fé. Fé em tudo: fé na ciência, fé na consciência, fé na bondade divina.
Pela ciência, acreditaram no sinal da nova estrela, que não podia deixar de ser “aquela”, que era
esperada, havia séculos, pela humanidade: o Messias. Pela consciência, tiveram fé na voz da mesma que, recebendo “vozes” celestes, lhes dizia: “É aquela estrela que assinala a chegada do Messias.” Pela bondade, tiveram fé que Deus não os teria enganado e, visto que a sua intenção era reta, Ele os teria ajudado, de todos os modos, a chegar até à meta desejada.
E eles tiveram êxito. Só eles, entre tantos estudiosos de sinais, compreenderam aquele sinal, porque só
eles tinham na alma a ânsia de conhecer as palavras de Deus com um fim reto, que consistia antes de tudo em dar imediata honra e louvor a Deus.
34.11 Não procuravam sua própria utilidade. Ao contrário, eles vão de encontro a fadigas e despesas, e não pedem nenhuma compensação humana. Pedem somente que o seu Deus se lembre deles e os salve para a eternidade.
Assim como não têm nenhum pensamento de futura compensação humana, não têm, quando decidem a
viagem, nenhuma preocupação humana. Se fôsseis vós, teríeis pensado em mil dificuldades: “Como poderei fazer uma viagem tão grande, através de países e povos de línguas tão diferentes? Será que vão acreditar em mim, ou irão prender-me como espião? Que ajuda me darão, quando tiver que atravessar desertos, rios e montanhas? E o calor? E os ventos dos planaltos? E as febres dos pantanais? E as cheias das águas fluviais? E as comidas diferentes? E a linguagem diferente? E… e… e…”. Assim é que raciocinais. Eles não raciocinam assim. Mas dizem, com uma sincera e santa ousadia: “Tu, ó Deus, lês os nossos corações, e vês qual o fim que perseguimos. Em tuas mãos nos entregamos. Concede-nos a alegria sobre humana de adorar a tua Segunda Pessoa, que se fez Carne para a salvação do mundo”.
Basta. Eles se põem a caminho, partindo das longínquas Índias [59]. (Jesus me diz depois que por Índias querem dizer Ásia meridional, onde agora está a Turquia, o Afeganistão e a Pérsia). Das cadeias de montanhas da Mongólia, sobre as quais voam somente águias e abutres, onde Deus fala pelo zumbido dos ventos, pelo estrondo das torrentes, escrevendo mistério sobre as páginas imensas das geleiras. Das terras onde nasce o Nilo, que vai deslizando como uma veia verde-azul, ao encontro do coração azul do Mediterrâneo, nem os picos, nem as selvas, nem os desertos, oceanos secos mais perigosos do que os marinhos, nada disso detêm a marcha deles. A estrela brilha sobre a noite deles, não lhes permitindo dormir. Quando se procura a Deus, os hábitos animais devem ceder às impaciências e às necessidades sobre humanas.
A estrela os chama, ora do Norte, ora do Oriente, ora do Sul, e, por um milagre de Deus, vai guiando os
três para um certo ponto, como por um outro milagre, os reúne, depois de tantos milhares de quilômetros, naquele ponto, e, por um outro milagre ainda, lhes dá, antecipando a sabedoria pentecostal, o dom de se entenderem e de se fazerem entender, assim como é no Paraíso, onde se fala uma única língua: a de Deus.
34.12 Um único momento de aflição os assalta, e é quando a estrela desaparece, e eles, humildes, porque são realmente grandes, não pensam que isto tenha acontecido por causa da maldade de outrem, já que os corruptos de Jerusalém não mereceram ver a estrela de Deus. Mas, o que eles pensam é que eles próprios não mereçam a ajuda de Deus, pondo-se a examinarem suas consciências com tremor e com uma contrição, pronta a pedir perdão. Mas a sua consciência os tranqüiliza. Almas acostumadas à meditação, eles têm uma consciência muito sensível, aperfeiçoada por uma atenção constante, por uma introspecção aguda, que faz do seu interior um verdadeiro espelho sobre o qual refletem as menores sombras dos acontecimentos diários. Eles fizeram da
voz que os adverte a própria mestra, voz que grita, não só ao menor erro, mas até a uma simples
possibilidad põem diante desta mestra, diante deste espelho tão severo e tão nítido, sabem que ele não lhes mente, mas os encoraja, tomando novo alento.
“Oh! Que doce coisa é sentir que nada há em nós de contrário a Deus! Sentir que Ele olha com
complacência o ânimo do filho fiel e o abençoa. Deste sentimento provém o aumento de fé e de confiança,de esperança, fortaleza e paciência. Agora é hora de tempestade. Mas ela passará, porque Deus me ama e sabe que eu o amo, e não deixará de ajudar-me ainda.” Assim é que falam os que têm aquela paz, que provém de uma consciência reta, que é a rainha de todas as suas ações.
34.13 Eu disse que eles eram “humildes, porque verdadeiramente grandes.” Em vossa vida, ao invés, que é que acontece? Acontece que um, não porque seja grande, mas porque é mais prepotente, se faz poderoso por sua prepotência, nunca humilde, pela vossa insensata idolatria,. Há pobres coitados que, só por serem mordomos de alguém arrogante, ou porteiros de algum gabinete, funcionários de alguma repartição, servos afinal, de quem assim os fez, costumam tomar a pose de semideuses. Tem-se pena até de vê-los!…
Eles, os três sábios, eram realmente grandes. Em primeiro lugar, por virtude sobrenatural; em segundo
lugar, pela ciência; e, por último, pela riqueza. Mas eles se julgam nada: pó sobre o pó da terra, se
comparados com Deus Altíssimo, que cria os mundos com um sorriso, espalhando-os pelo espaço, como grãos de trigo, para alegrar os olhos dos anjos com os colares de estrelas.
Mas eles se consideram nada, diante de Deus Altíssimo, que criou o planeta, sobre o qual eles vivem, e
como Escultor infinito em sua ilimitada obra fez tudo bem diversificado, colocando, aqui uma série de
colinas de suave declive, com a força do seu polegar, acolá uma ossatura de picos e escarpas, iguais as
vértebras da terra, neste corpo desmesurado, do qual os rios são as veias, os lagos são as pelves, os
oceanos são os corações, tendo as florestas como vestes, as nuvens como véus, as geleiras de cristal como decorações, as turquezas e as esmeraldas como gemas, as opalas e os berilos de todas as águas que descem cantando, com as selvas e os ventos, formando o grande coro de louvor ao seu Senhor.
Eles se consideram nada em sua sabedoria, diante do Deus Altíssimo, do qual vem a sua sabedoria, pois foi Ele quem lhes deu olhos, ainda mais poderosos que suas duas pupilas, pelas quais eles vêem as coisas: os olhos da alma, que sabem ler a palavra não escrita por mão humana nas coisas, onde esta palavra foi gravada pelo pensamento de Deus.
Eles se consideram nada em sua riqueza: um átomo, diante da riqueza do Dono do universo, que espalha metais e pedras preciosas nos astros e planetas, e abundâncias sobrenaturais, riquezas inesgotáveis, no coração de quem O ama.
34.14Tendo eles chegado diante de uma pobre casa, na mais insignificante das cidades de Judá, não
sacodem a cabeça dizendo: “Impossível”, mas dobram as costas, os joelhos, e especialmente o coração, e adoram. Lá, atrás daquela pobre parede, está Deus. Aquele Deus que eles sempre invocaram, não ousando nunca, nem de longe, esperar que o haveriam de ver. Mas que por eles foi invocado pelo bem de toda a humanidade e pelo bem eterno “deles” mesmos. Oh! Só isto é o que eles desejavam para si. Poderem vê-lo, conhecê-lo, possuí-lo naquela vida que não tem nem auroras, nem crepúsculos!
Ele está lá, atrás daquela pobre parede. Quem sabe se o seu coração de Menino, que é também o
coração de um Deus, não ouça estes três corações que, inclinados no pó da estrada, bradam: “Santo, Santo, Santo. Bendito o Senhor nosso Deus. Glória a Ele nos Céus altíssimos, e paz aos seus servos. Glória, glória, glória e bênção”? Isto eles perguntam, tremendo de amor. Por toda a noite, e na manhã seguinte preparam com a mais viva oração, o seu espírito, para entrarem em comunhão com o Deus-Menino.
Eles não vão a este altar, que é um seio virginal, que traz em si a Hóstia Divina, como vós ides a eles
com a alma cheia de solicitudes humanas. Eles se esquecem do sono e do alimento e se usam suas mais
belas vestes, não é para ostentação humana, mas para prestar honra ao Rei dos reis. Nos palácios dos
soberanos, os dignitários se apresentam com suas mais belas vestes. Então, não deveriam eles ir
apresentar-se a este Rei com suas vestes de gala? Que festa maior podia haver para eles do que esta?
Oh! Lá em suas terras longínquas, muitas e muitas vezes precisaram se adornar para prestar honras e
oferecer seus préstimos a homens como eles. Era, pois, justo que se humilhassem aos pés do Rei supremo e lá depositassem as suas púrpuras e jóias, sedas e plumas preciosas. Pôr-lhe aos pés, diante daqueles benditos pezinhos, as fibras da terra, as gemas da terra, as plumas da terra, os metais da terra — que são ainda obras dele — para que também elas, essas coisas da terra, adorem o seu Criador. Seriam felizes se a Criancinha lhes ordenasse que se estendessem no chão, como se fossem um tapete vivo, aos seus passinhos de Menino, e os pisasse, Ele que deixou as estrelas por amor deles, que nada mais são do que pó.
34.15 Humildes e generosos. Obedientes às “vozes” do Alto. Essas vozes mandam que eles levem presentes ao Rei recém-nascido. Eles levam presentes. Não dizem: “Ele é rico, e não precisa disso. Ele é Deus, e não conhecerá a morte”. Eles obedecem. São os primeiros que acodem à pobreza do Salvador. Como chegou em boa hora aquele ouro, para quem amanhã deveria sair de sua terra como fugitivo! Como foi significativa aquela mirra, para quem, dentro em breve, seria morto. Como foi piedoso aquele incenso, para quem teria que sentir o mau cheiro da luxúria humana fervendo ao redor de sua infinita pureza!
Humildes, generosos, obedientes e respeitosos um para com o outro. As virtudes geram outras virtudes.
Das virtudes voltadas para Deus, nascem virtudes para o próximo. Respeito que, no fim, é caridade.
Combinaram com o mais velho que lhe tocaria falar por todos, recebendo o primeiro beijo do Salvador,
segurando-o pela mãozinha. Os outros ainda poderão vê-lo outras vezes. Mas ele, não. Ele está velho, e o dia de sua volta para Deus está perto. Ele verá o Cristo, depois de sua terrível morte, e o acompanhará junto com os outros que serão salvos, no dia da volta do Cristo para o Céu. Mas não o verá mais nesta terra.
Então, para seu viático, que lhe fique o calor daquela mãozinha, que se confiou à sua mão enrugada.
Não há nenhuma inveja nos outros. Pelo contrário, há até um aumento de veneração para com o mais
velho dos sábios. Mais do que eles, mereceu na certa, e por mais tempo. O Deus-Menino sabe disso. Ainda não fala, Ele que é a Palavra do Pai, mas os Seus atos são palavras. E seja bendita a sua inocente palavra, que mostra ser o seu predileto este velho.
34.16Mas, ó filhos, há outros dois ensinamentos nesta visão.
A postura de José, que sabe ficar em “seu” lugar. Ele está presente como guarda e tutor da Pureza e da
Santidade. Mas não é um usurpador dos direitos delas. É Maria, com o seu Jesus, que está recebendo
homenagens e palavras. José se alegra por ela, não ficando amargurado por ser uma figura secundária. José é um justo: o Justo. É justo sempre, também nesta hora. As fumaças da festa não lhe sobem à cabeça. Ele continua humilde e justo.
Ele se sente feliz pelos presentes. Não por si mesmo. Mas porque pensa que com eles poderá fazer a
vida de sua esposa e do doce Menino mais cômoda. Não existe avidez em José. Ele é um trabalhador, e
continuará a trabalhar. Contanto que “Eles”, os seus dois amores, tenham o necessário, e algum conforto.
Nem ele nem os magos sabem que aqueles presentes vão servir durante uma fuga e uma vida no exílio, nas quais as substâncias desaparecem como uma nuvem impelida pelo vento… mas eles vão servir também para quando voltarem à pátria, depois de terem perdido tudo o que tinham deixado, os clientes, os móveis, salvando-se somente as paredes da casa, protegida por Deus, porque nela é que Ele se uniu à virgem e se fez Carne.
José é humilde, ele, que é guarda de Deus e da mãe de Deus, esposa do Altíssimo, chega até a segurar o
estribo para estes vassalos de Deus. José é um pobre carpinteiro, porque a prepotência humana despojou os herdeiros de Davi de suas propriedades reais. Mas ele é sempre da estirpe de Davi e tem traços de rei.
Também em relação a ele vale aquele dito: “Era humilde, porque era realmente grande.”
34.17 Ainda um último, suave e significativo ensinamento.
É Maria, que segura a mão de Jesus, que ainda não sabe abençoar, e a guia no gesto santo.
É sempre Maria que segura a mão de Jesus e a guia. Ainda hoje é assim. Agora, Jesus sabe abençoar.
Mas, às vezes, sua mão traspassada cai, cansada e sem poder mais confiar, pois Ele sabe que é inútil
abençoar. Na verdade, vós destruís a minha bênção. Ela cai também indignada porque vós me maldizeis.
Então, é Maria que tira o desprezo feito a esta mão, ao beijá-la. Oh! O beijo de minha mãe! Quem pode
resistir a esse beijo? Depois, ela segura o meu pulso, com seus dedos delicados, mas que são amorosamente tão imperiosos e me força a abençoar.
Eu não posso repelir a minha mãe. Mas é preciso que vós vades à procura dela, para fazê-la vossa
advogada. Ela é minha rainha, antes de ser vossa, e o seu amor por vós tem indulgências tais, que nem o meu conhece. Ela, mesmo sem palavras, mas só com as pérolas do seu pranto e com a lembrança da minha Cruz, cujo sinal ela me faz traçar no ar, defende a vossa causa, e ainda me admoesta: “Tu és o Salvador. Salva!”
34.18 Eis, meus filhos, o “Evangelho da fé”, na aparição da cena dos
Magos. Meditai e imitai. Para o vosso bem.
[57] estas contemplações, a primeira das quais é a única a fazer parte da obra. As outras, chamadas igualmente “evangelhos da fé”, não são episódios propriamente do “Evangelho come me foi revelado” e encontram-se no volume I Quaderni del 1944 (Os cadernos de 1944).
[58] um sinal da cruz, que é o Tau, como Maria Valtorta anota entre parêntesis sobre uma cópia dactilografada. Letra do alfabeto grego em forma de cruz,
o “tau” é o sinal dos salvados indicado em: Ezequiel 9,4-6. Encontrá-lo-emos ainda, por exemplo, em: 397.3 -413.6 -491.3 -567.15 -635.4.11.
[59] longínquas Índias, Jesus me diz depois -assim anota Maria Valtorta em rodapé na página do caderno autógrafo -que por Índias quer dizer Ásia meridional, onde agora se encontra o Turkemenistão, o Afganistão e a Pérsia; e acrescenta: explicações a incluir em rodapé na folha
CAPITULO 2
ESPECIAL FAVOR QUE O ALTÍSSIMO CONCEDEU A MARIA SANTÍSSIMA, LOGO APÓS SUA ENTRADA NO TEMPLO
Primeiros atos de Maria no templo
429. Tendo partido os pais da divina Menina, e ficando Ela a residir no
templo, a mestra indicou-lhe a cela que, entre as demais virgens, lhe estava reservada, semelhante a grandes alcovas ou
pequenos aposentos individuais.
Prostrou-se em terra a Princesa do céu e beijou-a, por ser solo e lugar do
templo. Adorou ao Senhor, dando-lhe graças pelo novo benefício de a ter recebido
ali, e à mesma terra por sustentá-la, quando se considerava indigna de a pisar.
Dirigiu-se a seus santos anjos, dizendo: - Príncipes celestiais, mensageiros do Altíssimo, fídelíssimos amigos e
companheiros meus, suplico-vos de todo coração que neste templo de meu Senhor,
exerciteis comigo o ofício de vigilantes sentinelas, avisando-me de tudo o que
devo fazer. Ensinai-me e dirigi-me como guias e mestres de minhas ações, para que
acerte a cumprirem tudo a perfeita vontade do Altíssimo, a comprazer aos santos sacerdotes e a obedecer à minha mestra e
companheiras.
Falando em particular com os 12 anjos os quais - como dissemos acima eram os doze do Apocalipse, disse-lhes: -
E a vós, embaixadores meus, peço-vos, se o Altíssimo vos permitir, consoleis meus santos pais em sua aflição e soledade.
A Virgem é levada ao céu empíreo
430. Obedeceram à sua Rainha estes doze anjos. Ficando Ela com os demais em divinos colóquios, sentiu a força
superior que a movia forte e suavemente, espiritualizando-a elevando-a em ardente
êxtase. O Altíssimo ordenou aos serafins que a assistiam, que preparassem e iluminassem sua alma santíssima.
Foi-lhe dada uma luz, ou qualidade divina, que aperfeiçoou e proporcionou suas potências com o objeto
que lhe queriam manifestar. Assim preparada, acompanhada de todos os seus
anjos e outros muitos, vestida por uma refulgente nuvenzinha, foi levada em
corpo e alma até o céu empíreo, onde a Santíssima Trindade a acolheu com digna benevolência e agrado.
Prostrou-se ante a presença do poderosíssimo e altíssimo Senhor, como costumava nas demais visões, e adorou-o
com profunda humildade e reverência. Em seguida, foi iluminada novamente com
outra qualidade ou luz, na qual viu a Divindade intuitiva e claramente, sendo esta a
segunda vez que lhe foi manifestada por este modo intuitivo. Contava então três
anos de idade.
Palavras do Eterno Pai a Maria
431. Não há sentido nem língua que possam manifestar os efeitos desta
visão e participação na divina essência. A pessoa do eterno Pai falou à futura Mãe de
seu Filho: - Pomba e dileta minha, quero que vejas os tesouros de meu ser imutável
e perfeições infinitas, e os ocultos dons que destino para as almas que escolhi
como herdeiras de minha glória, depois de serem resgatadas pelo sangue do cordeiro,
que por elas há de morrer.
Verifica, minha filha, quão liberal ,sou com as criaturas que me conhecem e
amam; quão verdadeiro em minhas palavras, quão fiel em minhas promessas, quão
poderoso e admirável em minhas obras.
Adverte, esposa minha, quão infalível é esta verdade: quem me seguir não viverá
em trevas. Quero que tu, minha escolhida, sejas testemunha ocular dos tesouros que
tenho preparado para elevar os humildes, remunerar os pobres, exaltar os desprezados, e premiar tudo quanto pelo meu nome
fizerem ou padecerem os mortais.
Resposta de Maria santíssima
432. Outros grandes mistérios conheceu a Menina Santíssima nesta visão da Divindade. Ainda que em outra
vez se lhe houvesse manifestado claramente, sendo infinito o objeto, sempre
ficam novas imensidades para serem comunicadas, com maior admiração e
amor de quem recebe este favor.
Respondeu Maria Santíssima ao Senhor: - Altíssimo e supremo Deus eterno, sois incompreensível em vossa
grandeza, rico em misericórdias, pródigo em tesouros, inefável nos mistérios
fidelíssimo nas promessas, verdadeiro nas palavras, perfeitíssimo em vossas obras,
porque sois Senhor infinito e eterno em vosso ser e perfeições.
Que fará minha pequenez, altíssimo Senhor, na visão de vossa grandeza?
Reconheço-me, indigna de contemplar vossa grandeza, vendo-me necessitada de que com ela me olheis. Se,
em vossa presença se aniquila toda a criatura, que fará vossa serva que é pó?
Cumpri em Mim todo o vosso querer e beneplácito. Se a vossos olhos são tão
estimáveis os trabalhos e desprezos, a humildade, paciência e mansidão dos
mortais, não permitais, amado meu, que Eu me prive de tão rico tesouro e penhores de vosso amor. Quanto à recompensa,
dai-a a vossos servos e amigos que a merecerão melhor que eu, pois nada tenho feito em vosso serviço e agrado.
Maria faz voto de castidade
433. Muito se agradou o Altíssimo com esta petição da divina Menina, e fê-la
compreender que lhe concederia trabalhar e sofrer por seu amor, no decurso da vida,
sem lhe revelar, por então, a ordem e o modo como tal sucederia.
Deu graças a Princesa do céu pelo benefício e favor, de ser escolhida para
trabalhar e padecer pelo nome e glória do Senhor. Manifestou fervoroso desejo de
alcançar permissão de Sua Majestade para fazer, em sua presença, quatro votos: de
castidade, pobreza, obediência e perpétuo encerramento no templo, para onde o Senhor a trouxera.
A este pedido, respondeu-lhe o Senhor:
- Esposa minha, meus pensamentos elevam-se acima de todas as criaturas,
e Tu, minha eleita, desconheces agora o que no decurso de tua vida te pode suceder, e que não será possível satisfazer teus
fervorosos desejos, em tudo e no modo como pensas agora.
Aceito e quero que faças o voto de castidade e que também renuncies, desde já, às riquezas terrenas. Quanto aos
demais votos e suas matérias, é minha vontade que, quanto possível procedas
como se os tivesses feito. Teu desejo se cumprirá em outras muitas donzelas que,
no tempo futuro da lei da graça, por te imitarem e me servirem, farão os mesmos
votos, vivendo reunidas em congregações.
Deste modo, serás mãe de muitas filhas.
Não fez voto de pobreza e obediência, mas praticou essas virtudes
434.Fez a Menina Santíssima, em presença do Senhor, o voto de castidade.
Sem obrigar-se aos demais, renunciou à afeição de tudo quanto é terrestre e criado,
propondo-se obedecer, por amor de Deus, a todas as criaturas. No cumprimento destes propósitos foi mais pontual, fervorosa
e fiel, de quantos, por voto, o prometeram ou prometerão.
Com isto cessou a visão intuitiva e clara da Divindade, mas não foi logo
restituída à terra. Em estado menos elevado, recebeu outra visão imaginária do
mesmo Senhor, estando sempre no céu empíreo; de maneira que à visão da Divindade, seguiram-se outras imaginárias.
Os serafins preparam a Virgem para o desposórío com Deus
435. Nestas visões, aproximaram-se alguns serafins, dos mais
imediatos ao Senhor, que a seu mandato a adornaram, na seguinte forma: primeiro, todos os seus sentidos
foram iluminados com uma claridade ou lume, que os enchia de graça e formosura.
Em seguida, vestiram-lhe uma túnica preciosíssima e refulgente; cingiram-na com
um cinto cravejado de diferentes pedras multicores, brilhantes e transparentes,
que a embelezavam acima de toda imaginação, significando a imaculada pureza e
demais virtudes heróicas de sua alma santíssima.
Puseram-lhe também um colar, de inestimável e subido valor, com três grandes pedras, símbolo das três maiores e mais
excelentes virtudes: a fé, a esperança e a caridade; pendiam do colar, sobre o peito,
como indicando o lugar onde repousam tão ricas jóias. Deram-lhe depois sete anéis
de rara beleza, colocados em seus dedos
pelo Espírito Santo, em testemunho de que
a adornava com seus dons, em grau eminentíssimo. Como remate de todo este
ornato, a Santíssima Trindade pôs-lhe sobre a cabeça uma coroa imperial, de matéria
e pedras inestimáveis, constituindo-a Esposa sua e Imperatriz do céu.
Por garantia destes títulos, sua branca e refulgente veste estava semeada
de letras ou dísticos de ouro finíssimo e mui brilhante, que diziam: Maria, filhado eterno
Pai, Esposa do Espírito Santo e Mãe da verdadeira Luz. Este último título não foi
entendido pela divina Senhora, mas sim pelos anjos que, admirados no louvor do
seu Autor, assistiam a acontecimento tão novo e peregrino.
Em confirmação de tudo o que se realizara, o Altíssimo despertou mais vivamente a atenção dos espíritos angélicos.
Do trono da beatíssima Trindade saiu uma voz que assim falava a Maria: - Por toda a
eternidade serás nossa Esposa, querida e escolhida entre todas as criaturas; os anjos te servirão e todas as nações e gerações
te chamarão bem-aventurada (Le 1, 48).
Celebra-se o desposório de Maria com o Altíssimo
436. Ataviada a soberana Menina com as galas da divindade, celebrou-se
o mais célebre e maravilhoso desposório,que jamais puderam imaginar os mais elevados querubins e serafins.
O Altíssimo a recebeu por Esposa singular e única. Constituiu-a na mais suprema dignidade que pode caber em pura
criatura, para nela depositar sua mesma divindade na pessoa do Verbo e, com Ele,
todos os tesouros de graça que a tal dignidade convinha. Mantinha-se humilíssima
entre todos os humildes, absorta no abismo de amor e admiração que lhe causavam
tais favores e benefícios. Na presença ao Senhor, disse:
A Virgem exprime seus sentimentos
437. Altíssimo Rei e Deus incompreensível, quem sois Vós e quem sou eu
para que vossa dignação olhe a quem é pó indigna de tais misericórdias? Em Vós, meu
Senhor, como em claro espelho, conheço vosso ser imutável e vejo, sem engano, a
baixeza e vileza do meu, contemplo vossa imensidade e meu nada.
Neste conhecimento, fico aniquilada e desfeita em admiração, de que a Majestade infinita se
incline a tão humilde vermezinho, que só pode merecer o desprezo de todas as criaturas.
Oh! Senhor e todo meu bem, quanto sereis glorificado e engrandecido
por isso! Que admiração produzis em vossos espíritos angélicos, conhecedores de vossa infinita bondade, grandeza
e misericórdia, por levantardes do pó quem é tão pobre e a colocardes entre os príncipes (SI 112, 7). .
Recebo-vos, meu Rei e Senhor, por Esposo e ofereço-me por vossa escrava. Não terá meu entendimento outro
objeto, nem minha memória outra imagem, nem minha vontade outro alvo, nem
desejo, fora de Vós, sumo, verdadeiro e único bem e amor meu. Meus olhos não
se erguerão para ver outra criatura humana, nem minhas faculdades e sentidos
se ocuparão de ninguém, fora de vós e no que Vossa Majestade quiser. Somente Vós, meu amado, existireis para vossa
Esposa (Ct 2,16), e Ela será só para vós, imutável e eterno bem.
Maria faz diversas súplicas a Deus, e e reconduzida ao templo
438. Recebeu o Altíssimo, com inefável prazer, esta aceitação feita pela
soberana Princesa, do novo desposório celebrado com sua alma santíssima. Como
a verdadeira Esposa e Senhora de toda a criação, pôs-lhe nas mãos todos os
tesouros de seu poder e graça, mandando-lhe pedir quanto desejasse, que nada
lhe seria negado.
Assim o feza humilíssima pomba.
Pediu ao Senhor, com ardentíssima caridade, enviasse seu Unigênito ao mundo, para
salvação dos mortais; que a todos chamasse ao conhecimento verdadeiro de sua
Divindade; que a seus pais naturais, Joaquim e Ana. aumentasse o amor e dons de
sua divina destra; que aos pobres e aflitos, consolasse e confortasse em seus trabalhos. Para si mesma, pediu o cumprimento
e beneplácito de sua divina vontade. Estas foram as petições mais particulares que fez
a nova esposa Maria, nesta ocasião, à beatíssima Trindade.
Entoaram os espíritos angélicos novos cânticos em louvor do Altíssimo.
Os designados por Deus, com celestial harmonia, trouxeram de novo a Menina
Santíssima do céu empíreo ao templo donde a tinham levado.
A Menina Maria despoja-se de todas as coisas materiais
439. Para começar logo a praticar o que prometera na presença do Senhor,
dirigiu-se à sua mestra e lhe entregou tudo quanto sua mãe SantAna lhe deixara para
suas necessidades e bem-estar, até roupas e alguns livros. Pediu-lhe que distribuísse
aos pobres, ou como lhe parecesse bem, e lhe ordenasse quanto deveria fazer.
A discreta mestra - que, como disse, era Ana a profetisa - com divina
inspiração, aceitou e aprovou o que a formosa menina Maria oferecia e a deixou
pobre e sem nada além da roupa que vestia.
Propôs-se ter por ela particular cuidado, visto ser a mais pobre e destituída, porquanto as demais meninas tinham pecúlios,
enxovais e outras coisas de que podiam dispor livremente.
A escritora confessa sua incapacidade para narrar estes mistérios.
440. Deu-lhe também a mestra o regulamento de vida, tendo primeiro consultado o sumo sacerdote. Com este
despojamento e submissão, conseguiu a Rainha e Senhora de todas as criaturas,
ficar solitária, destituída e despojada de todas elas e de si mesma, sem reservar
outro afeto e propriedade senão o ardentíssimo amor do Senhor, e seu próprio
abatimento e humilhação.
Confesso minha suma ignorância, pobreza e insuficiência, sentindo-me
totalmente indigna de explicar mistérios tão soberanos e ocultos. Se nem as expeditas línguas dos sábios e a ciência e o amor
dos supremos querubins e serafins seriam suficientes, que poderá dizer uma mulher
inútil e ignorante? Estou convencida do quanto ofenderia a grandeza de sacramentos tão veneráveis,
se não tivesse a desculpa da obediência. Mas, ainda com ela
temo, e conheço que ignoro e calo o mais importante, e só digo o que é o mínimo de
cada um dos mistérios e sucessos desta cidade de Deus, Maria Santíssima.
DOUTRINA DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA.
Origem da vida religiosa
441. Minha filha, entre os grandes e inefáveis favores que, no decurso de
minha vida, recebi da destra do Todo poderoso, um deles foi o que acabas de
conhecer e descrever.
Na visito clara da divindade e do incompreensível ser do Altíssimo, conheci
ocultíssimos sacramentos e mistérios.
Naquele ornato e desposório, recebi incomparáveis benefícios c dulcíssimos
efeitos em meu espírito. O meu desejo de fazer os quatro votos: de pobreza, obediência, castidade e clausura, agradou muito
ao Senhor. Por ele mereci que se estabelesse na Igreja e lei da graça, os mesmos votos
para as religiosas, como hoje se costuma.
Essa foi a origem do que agora fazeis, vós as religiosas, segundo o que
disse Davi: "Após dela as virgens serão conduzidas ao Rei", no salmo 44,15. Ordenou o Altíssimo que meus desejos
constituíssem o fundamento dos institutos religiosos da lei evangélica.
Tudo o que propus diante do Senhor cumpri, inteira e perfeitíssimamente,
quanto era possível ao meu estado de vida.
Jamais olhei para o rosto de homem algum, nem sequer ao de meu esposo José, ou dos
anjos quando me apareciam em forma humana, mas em Deus vi e conheci a todos.
A nenhuma coisa criada ou racional, a nenhuma ação ou inclinação humana
fui apegada. Não tive vontade própria, sim ou não, farei ou não farei, porque em tudo
fui governada pelo Altíssimo, diretamente ou pela obediência às criaturas, a quem
voluntariamente me sujeitava.
Seriedade da vida religiosa
442. Não ignores, caríssima, que o estado da vida religiosa é sagrado e
ordenado pelo Altíssimo, para nele se conservar a doutrina da perfeição cristã e a
perfeita imitação da vida santíssima de meu Filho. Por esta razão, encontra-se sumamente indignado com as almas religiosas
que dormem esquecidas de tão alto benefício, vivendo tão descuidadas e mais
relaxadamente que muitos mundanos. Mais do que a eles aguarda-lhes severo julgamento c castigo.
Também o demônio, antiga e astuta serpente, para tentar e vencer aos
religiosos e religiosas, usa de mais zelo e sagacidade do que para perverter o resto
dos mundanos. Quando derriba uma alma religiosa, há grande vigilância e solicitude
cm todo o inferno, para impedi-la de levantar-se mediante os recursos que o estado
religioso lhes oferece com tanta facilidade, tais como a obediência, os piedosos exercícios, o uso freqüente dos sacramentos.
Para que tudo se tome inútil e não aproveite ao religioso infiel, usa o inimigo
de tantas artes e ardis, que causaria espanto conhecê-los. Grande parte se deixa
perceber nos esforços e diligências que emprega a alma religiosa para defender
suas relaxações. Desculpa-as quanto pode, e se não, acrescenta-lhes maiores desobediências, desordens e culpas.
A religiosa deve sublimar a natureza
443. Fica avisada, pois, minha
filha, e teme tão desastroso perigo. Com o auxílio da divina graça, procura elevar-te
acima de ti mesma, sem consentir, voluntariamente, em qualquer afeto ou movimento
desordenado. Quero que trabalhes em morrer inteiramente para tuas paixões e em te
espiritualizar, para extinguir em ti tudo o que é terrestre, e adquirir em tua vida e
conversação o estilo da natureza angélica.
Para ter direito ao nome de esposa de Cristo, hás de ultrapassar o modo humano de ser, para subir a outro divinizado;
ainda que sejas terra, deverás ser terra abençoada, sem espinhos de paixões, e
cujo copioso fruto seja todo para o Senhor, a quem pertence.
Se tens por esposo aquele supremo Senhor, Rei dos reis e Senhor dos
senhores, dedigna-te de voltar os olhos, e ainda menos o coração, aos vis escravos
que são as criaturas humanas. Até os anjos te amam e respeitam pela tua dignidade de
esposa do Altíssimo. Entre os mortais, considera-se temerária e desmedida ousadia, que um homem vil ponha os olhos na
esposa do príncipe. Que delito será pô-los na esposa do Rei celestial e Todo-poderoso? E não será menor culpa, ela aceitar e
consentir.
Fica certa e não esqueças que é desmedido e terrível o castigo que para
este pecado está preparado. Não te mostro, porque tua fraqueza não o suportaria.
Quero que baste meu ensinamento, para executares tudo o que te ordeno. Imita-me
como discípula, quanto for possível às tuas forças, e sê solícita em instruir e fazer
que tuas monjas pratiquem esta doutrina.
- Senhora e Rainha piedosíssima, com júbilo de minha alma ouço vossas
dulcíssimas palavras, cheias de espírito e vida. Desejo gravá-las no íntimo do coração, com a graça de vosso Filho santíssimo,
que vos suplico me alcanceis. Se me derdes licença, falarei em vossa presença, como
discípula ignorante à sua Mestra e Senhora: - Minha Mãe e amparo, ordenais que eu
cumpra os quatro votos de minha profissão, conforme é minha obrigação e vontade.
Ainda que tíbia e indigna, peço-vos alguma doutrina mais extensa, para me orientar
no cumprimento deste dever, de acordo com o desejo que à minha alma inspirastes
NA GRUTA.
Havendo empreendido a caminhada para Belém, e tendo sido acompanhada desta maneira de sofrimentos aquela longa e atribulada viagem, redobrei as habituais ofertas a meu Pai; cheguei enfim à gruta onde nasci. Entrei lã com minha querida Mãe e José, seu esposo, que de gáudio se desfaziam em dulcíssimas lágrimas e nos prostramos para venerar aquele lugar consagrado pela minha pessoa. De fato, meu dileto Pai ordenou a uma multidão de anjos que de novo cantassem o Gloria excelsis Deo, e abertos os céus, descessem, Coro por Caro, para adorar-me como Deus humanado, Estavam naquele tempo a querida Mãe e José elevados em dulcíssimo êxtase. privados dos próprios sentidos, e eu apreciei aqueles aplausos e louvores que me davam os anjos e os doces amplexos de meu dileto Pai. Enquanto fruis de tantas delicias, recordei-me logo de meus irmãos, pedindo ao Pai se dignasse usar de semelhante liberalidade para com eles. Quando empreendessem alguma coisa em seu serviço e nisto muito se afadigassem e suportassem sofrimentos, no fim se dignasse consolá-los, fazendo-os experimentar a doçura de suas divinas consolações. Corno também conseguissem a ambicionada meta de suas fadigas e dores. Prometeu ouvir-me o dileto Pai, como realmente não deixa de consolar todos aqueles que assim agem, e de tal modo que muitas vezes são forçados a exclamar: — Basta, Senhor! — Sua fraqueza não pode sustentar tanta alegria e tanta consolação de espirito, as quais redundando até no corpo, fá-los ébrios de amor divino. Oh, quão fiel é meu Pai em suas promessas! Por esta razão sentia grande pena ao ver meus irmãos tão inconstantes e tão propensos a faltar no que lhe prometem. Ver seu Criador cumprir as promessas feitas a eles em minha pessoa, e em seguida a criatura tão instável e inconstante em cumprir o que promete a seu Criador! Oh, isto, volto a dizer, muito me cruciava e afligia! Oferecia esta minha pena ao Pai com a minha constância e fidelidade em fazer tudo aquilo que eu lhe havia prometido para sua maior glória, em suplência de todas as falhas de meus irmãos, Pedia-lhe não se irritasse contra eles, mas se compadecesse de sua fraqueza e instabilidade. Meu Pai, diante de semelhantes preces, mostrava-se muito compassivo e inclinado ao perdão. por minhas instancias, e manifestava-se aplacado para com eles. por meio daquilo que eu lhe oferecia. Vendo tanta bondade, animava-me cada vez mais a pedir graças e favores para os mesmos, louvava-o e agradecia-lhe tanto amor e caridade. Fazia-o também por parte de todos os meus irmãos e dom benigno e gran a de amor. Tanto mais que conhecia suas faltas para com amoroso Pai.
LOUVOR DE MARIA, JOSÉ E JESUS.
A querida Mãe e seu esposo José, depois de recuperarem o uso dos sentidos, e eu, juntos louvamos a meu Pai, agradecendo-lhe o amor e a liberalidade demonstrados para conosco. Oferecia-lhe aqueles louvores e ações de graças em suplência pelos que deixam de rendê-los ao Pai ao receberem alguma graça particular. Como via que neste ponto meus irmãos seriam muito negligentes, uns por falta de gratidão, outros por deficiência de amor, outros por não reconhecerem o beneficio, procurava, como em tudo o mais. suprir por todos e meu Pai ficava inteiramente satisfeito.
A GRUTA-SANTUÁRIO.
Resolvidos já a partir para alcançar Nazaré. minha pátria, roguei ao Pai, já que aquela gruta onde nascera ficara santificada e consagrada por minha presença, porque ali permanecera, e nela se operara tão grande mistério, o de minha Natividade, se dignasse fazer com que naquele lugar jamais acontecesse coisa inconveniente; ela fosse guardada por anjos e homens, e no mencionado lugar Ele fizesse descer o seu espirito para comunicar a multidão de suas graças a todos aqueles que lá fossem para venerar o pavimento, o primeiro a receber-me em carne humana. Tudo me prometeu realizar meu Pai e obtive muito mais do que pedira.
PADECIMENTOS NA VIAGEM
Havendo tomado algum alimento que encontramos de esmola, e rendidas novamente as devidas graças ao Pai, partimos para Nazaré. Foram muitas as tribulações nesta tão longa viagem! Algumas vezes consolou-nos meu Pai enviando o alimento por mãos de seus anjos; outras, porém, deixava-nos sofrer fome, sede, frio e cansaço, alegrando-se muito de ver-nos assim resignados a sua vontade e contentes no meio de tantos sofrimentos. Regozijava-me de ver meu Pai se comprazer tanto em mim. Agradecia-lhe e suplicava-lhe por aquele prazer que em mim tinha, se dignasse comprazer-se também nas obras de meus irmãos, praticadas por seu amor, e quando sofrem algo para cumprir a sua vontade. Embora a meu Pai agradem pouco as obras e sofrimentos deles por serem cheios de imperfeições, não obstante, se unidos ás minhas obras e àquilo que eu sofri, meu Pai muito se há de comprazer, porque já a recordação do que eu operei e sofri por seu amor, apraz-lhe muitíssimo e não é possível não lhe agradarem e não o regozijarem as obras que lhe são oferecidas, unidas às minhas. Agradeci ao dileto Pai tanto amor e complacência demonstrados para comigo, porque pelo amor que me dedica digna-se aprazer-se também nas obras ofertadas por meus irmãos, embora imperfeitas e indignas de agradar-lhe, porque a meu Pai, perfeitíssimo. não Pode agradar coisa alguma maculada de imperfeições; mas se unidas às minhas obras e aos meus méritos, agradam-lhe e Ele nelas se compraz.
SANTISSIMOS DISCURSOS DE JESUS.
Prosseguindo assim nossa viagem com a habitual pobreza, mas alegres e contentes, sabendo que tal era o gosto e a vontade de meu Pai, ia pela viagem discorrendo com minha querida Mãe e com José sobre a bondade, magnificência e liberalidade de meu dileto Pai. Eles revigorados no espírito e no corpo pela suavidade de minhas palavras, continuavam a viagem com grande gosto. Fazia lhes experimentar que de fato, assim é, a saber, a uma criatura unida ao seu criador, que a mantém em sua companhia pela graça e caridade, todos os sofrimentos, as fadigas, as tribulações não servem senão para aumentar o amor a seu Criador, e fazer sentir prazer no próprio sofrimento, e unir mais estreitamente a Ele.
EM NAZARÉ.
Avizinhando-nos da cidade de Nazaré, alegrava-se muito o meu Coração, por estar prestes a entrar ali, Amava-a com afeto particular, por ser minha pátria, e lá se haver operado o mistério inefável de minha Encarnação. Alegrava-me ainda por ver o contentamento de minha querida Mãe e do fidelíssimo José, e com grande júbilo apressávamos o passo. Oferecia ao Pai este contentamento, como também a pressa de ali entrar, e roguei-lhe que por isso se dignasse dar a todos os meus irmãos, enviados à própria pátria, que é o Paraíso, nova solicitude de lá chegar depressa. e renovado júbilo e contentamento de se verem próximos e prestes a entrar. Tivessem pressa, sim, de fazer obras santas. de praticar as verdadeiras e sólidas virtudes. 'de crescer no fervor e no amor a meu Pai e de imitar-me perfeitamente no desprendimento total de todas as coisas do mundo e no amor às coisas celestes. E como eu, avizinhando-me de minha pátria, Nazaré, mais me distanciava do Egito, assim eles, aproximando-se do Paraíso, sua pátria, mais se afastem do Egito do mundo e de suas ilusões e falsos ditames. Cresça neles um vivo desejo de entrar na celeste pátria. Prometeu-me fazê-lo o Pai, como realmente não deixou, nem deixa de realizá-lo, com tanto amor. Muitos de meus irmãos o experimentam com grande consolação de suas almas. Agradeci, portanto, ao dileto e amoroso Pai, também por parte de todos os meus irmãos, e principalmente por aqueles que, por negligência própria não o fazem, os quais eu via distintamente. Ao Pai apraziam muito meus agradecimentos e todos os atos que eu realizava em suprimento das faltas deles: e pedia-lhe nova graça para eles.
12-35
Fevereiro 17, 1918
O calor do Querer Divino destrói as imperfeições.
(1) Sentia-me um pouco distraída e fundindo-me no Santo Querer de Deus, pedia perdão de
minha distração, e Jesus me disse:
(2) "Minha filha, o sol com seu calor destrói os odores fétidos, a parte infecciosa que há no
esterco quando este é espalhado na terra para fecundar as plantas, de outra maneira se
apodreceriam e terminariam por secar. Agora, o calor de minha Vontade, enquanto a alma entra
nela, destrói a infecção, os defeitos que a alma contraiu em sua distração, por isso assim que
adverte a distração, não fique em si mesma, senão de imediato entra em meu Querer, para que
o meu calor te purifique e impeça que te sequem".
13-33
Novembro 16, 1921
O pecado é cadeia que ata o homem, e Jesus quis ser atado para romper suas cadeias.
(1) Esta manhã, meu sempre amável Jesus se fazia ver todo atado, atadas as mãos, os pés, a
cintura; do pescoço lhe descia uma dupla corrente de ferro, mas estava atado tão fortemente,
que tirava o movimento a sua Divina Pessoa. Que posição dura era esta, de fazer chorar até as
pedras, e meu sumo bem Jesus me disse:
(2) "Minha filha, no curso de minha Paixão todas as outras penas faziam competição entre elas,
mas uma cedia o lugar à outra, e se mantinham vigilantes para me fazer sofrer o pior, para dar-
se a vanglória de que uma tinha sido mais dura que as demais, mas as cordas não me tiraram
jamais, desde que me prenderam até o monte calvário estive sempre atado, aliás,
acrescentavam sempre mais cordas e cadeias por temor de que pudesse fugir, e para fazer
mais zombaria e escárnio de Mim; quantas dores, confusões, Humilhações e quedas me
causaram estas correntes. Mas deves saber que nestas cadeias havia um grande mistério e
uma grande expiação: O homem, ao começar a cair no pecado fica atado com as mesmas
cadeias de seu pecado, se é grave são cadeias de ferro, se venial são cordas; então, se quer
caminhar no bem, sente as travas das cadeias e fica impedido em seu caminho, o estorvo que
sente o esgota, o debilita, e o leva a novas quedas; se obra sente o impedimento nas mãos e
quase fica como se não tivesse mãos para fazer o bem; as paixões, vendo-o tão atado fazem
festa e dizem: "É nossa a vitória". E de rei que é o homem, o tornam escravo de paixões
brutais. Como é abominável o homem no estado de culpa, e eu para romper suas correntes
quis ser atado, e não quis estar em nenhum momento sem cadeias, para ter sempre prontas as minhas para romper as suas, e quando os golpes, os empurrões me faziam cair, Eu estendia- lhe as mãos para desamarrá-lo e torná-lo livre de novo".
(3) Mas enquanto dizia isto, eu via quase todas as pessoas amarradas por correntes, que
davam piedade, e rogava a Jesus que tocasse com suas correntes as cadeias delas, a fim de que pelo toque das suas ficassem quebradas as das criaturas.
14-36
Junho 15, 1922
O batimento divino é a célula da alma que vive no Querer Divino, e Este harmoniza tudo na criatura.
(1) Continuando meu habitual estado, estava pensando no Santo Querer de Deus, e enquanto
me fundia nele, meu sempre amável Jesus me disse:
(2) "Minha filha, minha Vontade eterna foi o ponto central de minha Vida, desde o primeiro ato
de minha concepção até o último respiro me precedeu, me acompanhou, fazendo-se vida de
cada ato, e me seguia, encerrando meu ato no âmbito eterno de meu Querer, do qual não
encontrava a saída; e como minha Vontade eterna era imensa, não havia ponto que não
abarcasse, nem geração na qual Ela não devia dominar, assim que era para Ela como conatural
formar meus atos, multiplicá-los por todos como se fosse para um só. Um pode dar o que tem,
por quanto poder tenha não pode dar mais do que possui; agora, minha Vontade possuía a
Imensidão, o poder da multiplicação dos atos por quantos queria, possuía a eternidade na qual
envolvia todas as coisas presentes a todos, como no início de todas as coisas como até o fim.
Eis por que, desde o primeiro instante de minha concepção, o poder de meu Querer formava
tantas concepções minhas por quantas criaturas saíam à existência; minhas palavras, os
pensamentos, as obras, os passos, os multiplicava, os estendia desde o primeiro até o último
dos homens.
O poder do Querer eterno, meu sangue, minhas penas, as convertia em mares
imensos dos que todos podiam servir-se, se não fosse pelo prodígio do Querer Supremo, minha
própria Redenção teria sido individual, circunscrita e só para alguma geração.
(3) Agora, minha Vontade não mudou, tal qual era, é e será, muito mais pois tendo vindo Eu à
terra, vim a atar novamente a Vontade Divina à humana, e quem não foge deste nó e se dá em
poder dela, fazendo-se preceder, acompanhar e seguir, encerrando seu ato dentro de meu
Querer, o que sucedeu Comigo, sucede na alma. Eis que, na medida em que fundias os teus
pensamentos, as tuas palavras, as tuas obras, os teus reparos, o teu pequeno amor no meu
querer, os estendia, multiplicava-os e tornava-se antídoto de todos os pensamentos, de todas
as palavras, de todas as obras, para todas as ofensas, amor por cada amor que me é devido, e
se isto não acontece é por defeito da vontade humana, que não deixando-se de todo em poder
da Vontade Divina, não toma tudo nem pode dar-se a todos, portanto sente as sensações do
humano que a fazem infeliz, a limitam, a empobrecem e a fazem parcial. Eis por que todo meu
interesse é que seu querer faça vida no meu, e que compreenda bem o que significa viver nele,
quanto à criatura é possível, porque se fizer isto terá obtido tudo e me dará tudo".
(4) Dito isto, ele desapareceu. Mas depois acrescentou de novo e se fazia ver todo chagado,
mas essas chagas formavam tantas celas nas quais Jesus chamava as almas para encerrá-las
nelas e pô-las em segurança, então eu lhe disse: "Meu amor, e minha cela qual é? A fim de que
me fechando nela não saia mais".
(5) E Jesus: "Minha filha, para ti não há celas no meu corpo, porque quem vive no meu Querer
não pode viver num apartamento meu, senão deve viver no bater do meu coração. O batimento
cardíaco é o centro e a vida do corpo humano, se cessa o batimento cardíaco cessa a vida, o
batimento cardíaco mantém a circulação do sangue, o calor, a respiração, portanto a força, a
atividade dos membros; se o batimento cardíaco não regular toda a atividade humana está em
desordem, até a própria inteligência perde a vivacidade, o engenho, a plenitude da luz
intelectual, porque ao criar o homem pus no coração um som especial, ao qual amarrei a
harmonia eterna, de modo que se o batimento está são, tudo é harmonia na criatura. Agora,
minha Vontade é como o bater na criatura, se Ela bate harmoniza a santidade, harmonizam as
virtudes, harmoniza entre o Céu e a terra; sua harmonia se estende até a Trindade
Sacrossanta, eis porque para ti é o meu batimento que se oferece como cela para te fechar
dentro, e pulsando com um só batimento harmonioso entre o Céu e a terra, circules no
passado, no presente e no futuro, em tudo te encontres tu circulante em Mim e Eu em ti".
15-36
Julho 14, 1923
Expectativa de uma nova era. O sinal seguro de que está próxima.
(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu bom Jesus veio, mas todo aflito; parecia-me que
não sabia separar-se de mim, e todo bondade me disse:
(2) "Minha filha, vim para fazer-te sofrer; não te lembras que quando querendo castigar ao homem,
tu não querias que o fizesse, querendo sofrer tu em vez deles, e Eu para te contentar te disse que
}em vez de fazer por dez, por amor teu faria só por cinco? Agora as nações querem lutar, e as que
se acham as mais poderosas estão se armando até os dentes para destruir as nações débeis,
trata-se de destruição completa minha filha, por isso vim te fazer sofrer, para te dar aquele cinco
que te prometi. Ao fogo e à água minha justiça dará o poder do ofício que contêm para destruir
nações e cidades inteiras, por isso é necessário um pouco de teu sofrer, para diminuir estes
castigos".
(3) Agora, enquanto dizia, mexeu-se em meu interior, como se tivesse em suas mãos vários
instrumentos, e como os movia, assim se formavam penas e dores, com tal estiramento de todos
meus membros, que não sei como fiquei viva; e quando via que pela força das penas eu gemia,
tremia, Jesus, com ar de quem triunfou em tudo me dizia: " "Você é minha vida, e da minha Vida
posso fazer o que quero". E continuava seu trabalho de me fazer sofrer. Seja tudo para glória de
Deus, para o bem da minha alma e para a salvação de todos. Depois disto acrescentou:
(4) "Minha filha, todo mundo está transtornado e todos estão à espera de mudanças, de paz, de
coisas novas; eles mesmos se unem para conferenciar e se admiram de que não sabem concluir
nada, nem chegar a sérias decisões, Assim, a verdadeira paz não desponta e tudo fica em
palavras, mas nada nos atos, e esperam que outras conferências possam servir para decisões
sérias, mas em vão esperam. E entretanto, neste esperar estão todos com temor, e quem se
prepara para novas guerras, quem espera novas conquistas; mas com tudo isto os povos
empobrecem, despojam-se vivos, e enquanto esperam, cansados da era triste que os envolve,
Obscura e sangrenta, esperam e têm a esperança de uma nova era de paz e de luz. O mundo
encontra-se precisamente no ponto como quando Eu devia vir à terra, todos estavam à espera de
um grande acontecimento, de uma era nova, como de fato aconteceu. Assim agora, havendo que
vir o grande advento, a era nova em que a Vontade de Deus se faça na terra como no céu, todos
estão à espera de uma era nova, cansados da presente, mas sem saber qual é esta novidade, esta
mudança, como não sabiam quando Eu vim à terra. Esta expectativa é um sinal certo de que a
hora está próxima, mas o sinal mais seguro é que Eu vou manifestando o que quero fazer, e que
dirigindo-me a uma alma, como me dirigi a minha Mãe ao descer do Céu à terra, comunico-lhe
minha Vontade e os bens, os efeitos que Ela contém, para fazer disso um dom a toda a
humanidade".
16-42
Janeiro 23, 1924
Assim como Jesus entrelaçou com seu Fiat Redentor ,o Fiat Criador, assim quer que o terceiro Fiat fique entrelaçado com o Fiat Criador e Redentor. A Humanidade de Jesus é menor que a sua Vontade Eterna.
(1) Estava a abandonar-me toda no Santo Querer de Deus, e pensava entre mim: "O Fiat formou todo o universo, e no Fiat a Divindade fez alarde de seu amor para com o homem, apontando-o em cada coisa criada, de modo que em cada coisa criada se vê aquele Fiat impresso, que com tanta maestria, potência e harmonia brotou do seio Divino para a criatura. O Fiat formou a Redenção, tanto, que em cada coisa que fez o Verbo Eterno está o Fiat, que fazendo coroa lhe dá vida, assim que o Fiat Criador e o Fiat Redentor estão entrelaçados juntos, e um ecoa no outro e formam um só; então não há ato criado em que o meu doce Jesus não tenha entrelaçado com seu Fiat. Agora, meu adorado Jesus me disse tantas vezes que é necessário o terceiro Fiat para fazer a obra da Criação e da Redenção sejam completadas, mas, como será feito? Quem formará tantos Fiat para entrelaçar o Fiat Criador ao Fiat Redentor?" Enquanto isso pensava, meu amável Jesus movendo se em meu interior me disse:
(2) "Minha filha, se a Majestade Suprema fez sair tanto amor em todas as coisas criadas por seu
Fiat Onipotente sobre o gênero humano, era justo que Eu, Filho seu, em seu próprio Fiat fizesse
tantos outros atos para retribuí-lo por seu amor, entrelaçando os seus com os meus, para fazer que
da terra se elevasse outro Fiat, humano e Divino, para dar-se o beijo, entrelaçar-se e substituir
a correspondência do amor de todas as criaturas. Enquanto Eu não vim à terra, o Fiat espalhado em todo o criado estava sozinho; assim que vim não esteve mas sozinho, foi o meu primeiro objetivo, formar tantos atos no Fiat Eterno por quantos tinha feito meu Pai na Criação, assim que com meu Fiat, o Fiat Criador teve sua doce e harmoniosa companhia. Agora, este Fiat não quer que sejam apenas dois, quer o terceiro Fiat, quer estar em três, e este terceiro Fiat o fará você, por isso muitas vezes te atraí fora de você mesma, coloquei-a naquele mesmo Fiat Criador e Redentor a fim de que fizesse seu vôo e entrelaçando o teu ao nosso, o Fiat Criador e Redentor ficarão entrelaçados pelo teu terceiro Fiat. Quanto mais você trabalhar em nosso Fiat, mais cedo você vai chegar ao caminho de nosso Fiat, e assim como no Fiat da Criação saíram de Nós tantas coisas prodigiosas e belas, como é todo o universo, e o Fiat da Redenção substituiu a todos os atos da criatura, segurando a mão de seu filho perdido para conduzi-lo novamente ao seio de seu Pai Celestial, assim o terceiro Fiat, quando tiver feito seu caminho, se verá os efeitos: O meu Querer ser conhecido e amado e tomar o seu domínio para ter o seu reino sobre o terra'. Cada ato teu de mais que entrelaçadas com nosso Fiat será um beijo humano que fará dar ao nosso Fiat, um vínculo maior que formará entre a Vontade Divina e humana, de maneira que concordam, não tenha reserva de se fazer conhecer e tomar seu real domínio; tudo está em fazer-se conhecer, o resto virá por si só.
Por isso tantas vezes te tenho recomendado que ao escrever não omitas nada do que concerne a minha Vontade, porque o conhecimento é o caminho, e a luz serve de trombeta para chamar os ouvintes para fazer-se ouvir, e quanto mais soar a trombeta, e mais soa por quanto mais conhecimento tem que manifestar, tantas mais pessoas vêm. O conhecimento agora é colocado em atitude de cátedra, agora como professor, agora como pai piedoso e amante excessivo, em suma, tem em seu poder todos os caminhos para entrar nos corações para conquistá-los e triunfar sobre Tudo. E por quanto mais conhecimento contém, tantos mais caminhos tem em seu poder".
(3) Então eu, quase confusa pelo que Jesus me dizia, disse: "Doce Amor meu, Tu sabe como sou
miserável e em que estado me encontro, por isso sinto que para mim é impossível que com meus
atos possa fazer o mesmo caminho do Fiat Criador e do Fiat Redentor".
(4) E Jesus: "Assim, o nosso Fiat não contém todo o poder que quer? Se o fez na Criação e na Redenção, como não pode fazer em você? Requer-se seu querer, e Eu imprimirei meu Fiat no seu, como imprimi meu Fiat Divino no querer de minha Humanidade, e assim faremos o mesmo caminho. Minha Vontade pode tudo, em minha Onividência te fará presente os atos da Criação e Redenção, e você facilmente se entrelaçará com seus atos o terceiro Fiat a Nosso Fiat, não está contente?"
(5) Então eu, vendo que meu adorado Jesus conforme falava da sua Vontade me desaparecia e ficava como eclipsado em uma luz imensa, como quando o sol faz desaparecer as estrelas eclipsando-as em sua luz, disse: "Jesus, vida minha, não me fale de sua vontade porque Você se eclipsa em sua luz e eu te perco e fico sozinha sem Ti. Como pode ser que o teu Querer me faça perder a minha Vida, a mim tudo?"
(6) E Jesus acrescentou: "Minha filha, a minha humanidade é menor que a minha vontade Eterna, tem seus confins, seus limites, e por isso minha Vontade interminável aproximando-se de você com os seus conhecimentos, faz com que a minha humanidade fique perdida na sua luz e como eclipsada, e por isso você não me vê, mas eu fico sempre em ti e gozo, porque vejo a pequena nascida de minha Vontade eclipsada na mesma luz de minha Humanidade, assim que estamos juntos, mas como a nossa visão é deslumbrada pela Luz resplandecente do Querer Supremo, não nos vemos".
17-37
Abril 15, 1925
A missão da Divina Vontade é eterna, e é propriamente a missão do nosso Pai Celestial.
(1) Escrevo só por obediência e com grande repugnância. Havendo um santo sacerdote lido meus
escritos, tinha-me mandado dizer que em certos capítulos o bendito Jesus me exaltava demasiado,
até chegar a dizer-me que me punha próxima a sua Mãe Celestial para que fosse meu modelo. Ao
ouvir isto me senti confusa e turbada, lembrava tê-lo escrito só por obedecer e com suma
repugnância, já que estava ligada à missão de fazer conhecer a Divina Vontade, e me lamentava
com meu Jesus por ter-me dito isto, enquanto eu sou tão má, e que só Ele sabe todas minhas
misérias. Isto me confundia e me humilhava tanto, que não podia estar em paz; sentia tal distância
entre mim e a Mãe Celestial, como se houvesse um abismo de distância entre eu e Ela. Então,
enquanto me encontrava tão perturbada, meu amável Jesus saiu de dentro de mim e me apertando
forte entre seus braços, para infundir-me a paz me disse:.
(2) "Minha filha, por que te perturbas tanto? Você não sabe que a paz é o sorriso da alma, é o céu
azul e sereno onde o Sol Divino faz resplandecer mais vívida sua luz, tanto, que nenhuma nuvem
pode aparecer no horizonte e ocultar a luz? A paz é o orvalho benéfico que vivifica tudo e adorna a
alma de uma beleza raptora, e atrai o beijo contínuo de meu Querer sobre ela. E além disso, o que
há que se oponha à verdade? Onde está esse exaltar-te demasiado? Só porque te disse que te
punha junto a minha Divina Mãe, Porque, tendo sido Ela depositária de todos os bens da redenção,
e como minha Mãe, como Virgem, como Rainha, a punha à cabeça de todos os remidos, dando-lhe
uma missão distinta, única e especial, que a nenhum outro lhe será dada, os mesmos apóstolos e
toda a Igreja dela dependem e dela recebem, não há bem que Ela não possua, todos os bens
saem dela, era justo que como minha Mãe, devia confiar a seu coração materno tudo e a todos,
abraçar tudo, e poder dar tudo a todos, Esta missão era só da minha mãe. Agora te repito, que
assim como a minha Mamãe Eu a punha à cabeça de todos e punha nela todos os bens da
Redenção, assim escolhia a outra virgem, à qual a punha junto a minha Mãe, dando-lhe a missão
de fazer conhecer minha Divina Vontade. E se grande é a Redenção, maior ainda é a minha
Vontade; e assim como na Redenção houve um princípio no tempo, não na eternidade, assim
também a minha Vontade Divina, se bem que eterna, devia ter o seu princípio no tempo para se
fazer conhecer, portanto, sendo minha Vontade que existe no Céu e na terra, e sendo a só, a única
que possui todos os bens, devia escolher uma criatura na qual devia confiar o depósito de seus
conhecimentos, como a uma segunda mãe lhe fazer conhecer os méritos, o valor, as prerrogativas,
a fim de que a amasse e ciumenta conservasse o depósito; e assim como minha Mãe Celestial,
verdadeira depositária dos bens da Redenção, é magnânima em dá-los a quem os queira, assim
esta segunda mãe será magnânima em fazer conhecer a todos o depósito de meus ensinamentos,
sua santidade, e o bem que quer dar minha Divina Vontade, Como Ela vive desconhecida no meio
das criaturas e como desde o princípio da criação do homem Ela suspira, roga e suplica que o
homem regresse ao seu princípio, isto é em minha Vontade, e que lhe sejam restituídos os direitos
de sua soberania sobre as criaturas. A minha Redenção foi uma e eu servi-me da minha amada
Mãe para a cumprir; a minha Vontade é também uma e deveria servir-me de outra criatura, que
pondo-a como à cabeça e fazendo nela o depósito, deveria me servir para fazer conhecer meus
ensinamentos e cumprir os desígnios de minha Divina Vontade. Portanto, onde está esse exaltar-te
demasiado? Quem pode negar que sejam duas missões únicas e similares, a Redenção e o
cumprimento de minha Vontade, que dando a mão as duas, minha Vontade fará completar os
frutos da Redenção e restituir-nos os direitos da Criação, pondo nela o selo à finalidade pela qual
todas as coisas foram criadas? Por isso nos interessa tanto este conhecimento da missão de nossa
Vontade, porque nenhuma outra fará tanto bem às criaturas como esta, será como cumprimento e
coroa de todas nossas obras.
(3) Além disso, diz-se de Davi que foi imagem minha, tanto que todos os seus salmos revelam a
minha Pessoa, de São Francisco de Assis, que foi uma cópia fiel minha. No santo evangelho diz se,
nem mais nem menos, que sejam perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus;
acrescenta-se também que nenhum entrará no Reino dos Céus se não for semelhante à imagem
do Filho de Deus, e muitas outras coisas. De todos estes não se diz que foram exaltados demais, e
que não são coisas segundo a verdade dita por minha mesma boca; agora, só porque disse que a
ti te queria comparar à Virgem, fazer-te sua cópia fiel, te exaltei demasiado? Assim, comparada a
Mim não era exaltar-te, nem tinham dúvidas nem dificuldades, ao comparar-te à Virgem, é muita
exaltação. Isto significa que não compreenderam bem a missão do conhecimento da minha
Vontade; mas antes te repito que não só te ponho como pequena filha junto a Ela em seu regaço
materno a fim de que te guie, te ensine como deve imitá-la para chegar a ser sua cópia fiel com
fazer sempre a Divina Vontade, e assim de seu regaço passar ao colo da Divindade, porque a
missão de minha Vontade é eterna, e é propriamente a missão de Nosso Pai Celestial, que não
quer outra coisa, mas ordena, exige que sua Vontade seja conhecida e amada a fim de que se faça
como no Céu assim na terra. Assim tu, fazendo tua esta missão eterna e imitando o Pai Celestial,
não deves querer outra coisa sobre ti e sobre todos, senão que minha Vontade seja conhecida,
amada e cumprida. E além disso, quando a criatura se exalta a si mesma, há muito que pensar,
mas quando ela está em seu lugar e Eu a exalto, a Mim tudo é lícito, de fazer chegar onde quero e
como quero, por isso fia-te de Mim e não se preocupe".
19-34
Julho 5, 1926
Jesus faz-se ver que escreve no fundo da alma o que diz sobre sua Vontade, e depois dá um resumo em palavras.
(1) Sentia-me investida e em poder da luz suprema do Querer Eterno, e meu sempre amável Jesus
fazia-se ver no fundo de minha alma em pé, com uma pena de luz na mão, em ato de escrever
sobre uma luz densa que parecia pano, mas era uma luz estendida em minha alma, e Jesus
escrevia, escrevia no fundo desta luz; como era bonito vê-lo escrever com uma mestria e
velocidade indescritíveis! Depois de ter escrito, como se abrisse as portas do meu interior, com a
sua mão chamava o confessor dizendo-lhe:.
(2) "Venha ver o que eu mesmo escrevo no fundo desta alma. Eu não escrevo jamais sobre papel
ou sobre tela, porque estão sujeitos a perecer, senão que me deleito em escrever sobre a luz posta
nesta alma em virtude de minha Vontade, minha escritura de luz é incansável e de valor infinito.
Agora, quando devo manifestar-lhe as verdades sobre minha Vontade, primeiro faço o trabalho de
escrevê-las no fundo dela e depois falo-lhe, dando-lhe a entender o que nela escrevi. Eis por que
quando ela diz o que Eu lhe disse o diz com poucas palavras, em troca quando escreve se alonga
muito, é meu escrito que transbordando fora de sua alma, não só dá um pequeno resumo, mas
minha verdade estendida como Eu mesmo a escrevi no íntimo de seu interior"..
(3) Eu fiquei maravilhada e com uma alegria indescritível ao ver meu doce Jesus escrever dentro
de mim, e compreendia claramente por que ao falar pouco sei dizer do que Ele me diz, mas bem
me parece que somente me deu o título do tema, e depois ao escrever parece interesse seu
ajudar-me a desenvolvê-lo como a Ele lhe agrada, e Jesus todo bondade me disse:.
(4) "Minha filha, não te admire que enquanto escreves sintas surgir em ti, como de uma fonte, as
verdades, é o trabalho de teu Jesus feito em ti, que transbordando de todas as partes de tua alma
põe a ordem no papel e as verdades em ti escritas e seladas com caracteres de luz, por isso deixa
teus temores, não queiras te ater ao pequeno resumo de minhas palavras, nem queiras resistir
quando Eu quero me estender e fazer-te escrever sobre o papel o que Eu com tanto amor escrevi
em tua alma; quantas vezes me obrigas a usar a força e a atropelar-te para que tu não resistas
tanto a escrever o que quero. Por isso deixa-me fazer, será trabalho do teu Jesus que em tudo
resplandeça a verdade"..
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