VOLUME 1
Recordo que às vezes quando não vinha logo, me lamentava com Ele dizendo: "Ah, Esposo Santo, como me fez esperar
tanto que não podia resistir mais, me sentia morrer sem Ti". E enquanto assim dizia, era tanta a
pena que sentia que chorava, e Ele compadecia-me toda, me enxugava as lágrimas, me beijava,
me abraçava e dizia:
(188) "Não quero que chore. Olhe, agora estou contigo, me diga o que quer".
(189) Eu dizia-lhe: "Não quero outra coisa senão a Ti, e só deixarei de chorar quando me
prometeres que não me farás esperar tanto".
(190) E Ele me dizia: "Sim, sim, te contentarei".
(191) Um dia, enquanto estávamos nisto e era tanta a pena que eu sentia que não podia deixar de
chorar, meu bom Jesus me disse:
(192) "Quero te contentar em tudo, sinto-me tão atraído por você que não posso fazer menos que
fazer o que você quer. Se até agora te tirei a vida exterior e me manifestei a ti, agora quero atrair
tua alma para Mim, a fim de que onde quer que eu vá possas vir junto Comigo, assim poderás
desfrutar mais e te estreitar mais intimamente a Mim, o que não fizeste no passado.
(193) Uma manhã, não me lembro muito bem, creio que tinham passado cerca de três meses
desde que comecei a estar continuamente na cama, enquanto estava no meu estado habitual, veio
meu doce Jesus com um aspecto todo amável, como um jovem, como de dezoito anos. ¡ Oh como
era belo! , com sua cabeleira dourada e toda encaracolada, parecia que encadeava os
pensamentos, os afetos, o coração. Sua fronte serena e ampla, onde se olhava como dentro de um
cristal o interior de sua mente, e se descobria sua infinita sabedoria, sua paz imperturbável. ¡ Oh
como me sentia tranquilizar minha mente, meu coração, aliás, minhas mesmas paixões diante de
Jesus caíam por terra e não se atreviam a me dar o mínimo incômodo. Eu acredito, não sei se
estou errada, que não se pode ver a este Jesus tão belo se não se está na calma mais profunda
que o mínimo assombro de intranquilidade impede ter uma vista tão bela.
Ah sim! Ao ver a serenidade de sua fronte adorável, é tanta a infusão de paz que se recebe no interior, que creio
que não há desastre, guerra mais feroz que diante de Jesus não se acalme. Ó meu todo e belo
Jesus, se por poucos momentos que te manifestas nesta vida comunicas tanta paz, de modo que
se podem sofrer os mais dolorosos martírios, as penas mais humilhantes com a mais perfeita
tranquilidade, me parece uma mistura de paz e de dor, o que será no Paraíso? Oh, como são belos
seus olhos puríssimos, cintilantes de luz; não é como a luz do sol que querendo olhá-la danifica
nossa vista, não, em Jesus enquanto é luz, pode-se muito bem fixar o olhar, e só de olhar o interior
de sua pupila, de uma cor celeste escura oh, quantas coisas me dizia. É tanta a beleza de seus
olhos, que um só olhar seu basta para me fazer sair de mim mesma, e me fazer correr atrás Dele
por caminhos e por montes, pela terra e pelo céu, basta um só olhar para me transformar Nele e
sentir descer em mim algo de Divino. Quem pode dizer além da beleza de seu rosto adorável? Sua
tez branca semelhante à neve tingida de uma cor de rosas, das mais belas; em suas bochechas
rosadas descobre-se a grandeza de sua pessoa, com um aspecto majestoso e todo Divino, que
infunde temor e reverência, e ao mesmo tempo dá tanta confiança, que quanto a mim jamais
encontrei pessoa alguma que me dê ao menos uma sombra da confiança que dá meu amado
Jesus, nem em meus pais, nem nos confessores, nem nas minhas irmãs. Ah sim, esse rosto santo,
enquanto é tão majestoso, ao mesmo tempo é tão amável, e essa amabilidade atrai tanto, de modo
que a alma não tem a mínima dúvida de ser acolhida por Jesus, por quão feia e pecadora se veja.
Belo é também o seu nariz afilado, proporcional ao seu rosto. Graciosa é sua boca, pequena, mas
extremamente bela, seus lábios finíssimos de uma cor escarlate, enquanto fala contém tanta graça
que é impossível poder descrevê-lo.
É doce a voz de meu Jesus, é suave, é harmoniosa, enquanto
fala sai de sua boca um perfume tal, que parece que não se encontra sobre a terra, é penetrante,
de modo que penetra tudo, sente-se descer pelo ouvido ao coração, e oh, quantos afetos produz,
Mas quem pode dizer tudo? Além disso, é tão agradável que acho que não se pode encontrar
outros prazeres como os que se podem encontrar numa só palavra de Jesus. A voz de meu Jesus
é potentíssima, é obrante, e no mesmo ato que fala faz o que diz. Ah sim, é formosa sua boca, mas
mostra mais sua formosa graça no ato de falar, então se vêem seus dentes tão nítidos e bem
alinhados, e exala seu sopro, amor que incendeia, setas são lançadas, consome o coração. Belas
são suas mãos, suaves, brancas, delicadíssimas, com seus dedos proporcionados, e os move com
uma maestria tal, que é um encanto. Oh, como você é bonito, todo bonito, oh meu doce
Jesus! O que eu disse sobre sua beleza é nada, é mais, eu acho que disse muitos desatinos. Mas
o que queres de mim? Perdoe-me, é a obediência que assim o quer, por mim não me teria atrevido
a dizer nem uma palavra, conhecendo minha incapacidade.
2-29
Junho 3, 1899
Jesus derrama suas amarguras em Luisa.
(1) Esta manhã me encontrava num mar de aflição porque Jesus ainda não tinha vindo, sentia
tanta pena, que me sentia arrancar o coração. Quando o confessor veio para chamar-me à
obediência porque devia celebrar a santa missa, e Jesus sem fazer-se ver, nem sequer uma
sombra como é seu costume, que quando não vem se faz ver uma mão ou um braço,
especialmente quando é dia de receber a comunhão, Como esta manhã, Ele mesmo vem,
purifica-me, prepara-me para o receber a Ele mesmo sacramentalmente. E dizia entre mim:
"Esposo santo, Jesus amável, por que não vens tu mesmo preparar-me? Como poderei
receber-te?" Enquanto isso, o tempo chegou, o confessor veio, e Jesus sem vir. Que pena
dilacerante, quantas lágrimas amargas!
(2) O confessor disse-me: "Vê-lo-ás na comunhão e perguntar-lhe-ás por obediência o porque
não vem e o que quer de ti".
(3) Depois da comunhão vi o meu bom Jesus, sempre benigno com esta miserável pecadora.
Transportou-me para fora de mim mesma e eu tinha-o nos braços, era como uma criança, todo
aflito. Eu, rapidamente comecei a dizer-lhe: "Meu menino, único e só Bem meu, como é que
não vens? Em que te ofendi? O que queres de mim que me faça chorar tanto?" Mas no ato de
dizer isto, era tanta a pena, que com tudo e que o tinha entre meus braços continuava
chorando. Mas mesmo antes de terminar de dizer a última palavra, Jesus, aproximando a sua
boca da minha, derramou as suas amarguras, sem me responder uma só palavra. Quando
acabava de verter eu começava de novo a dizer, mas Jesus, sem me prestar atenção, voltava a
verter em mim. Depois disto, sem me responder nada do que eu queria me disse:
(4) "Faze-me derramar em ti, de outra maneira, assim como destruí com o granizo outros
lugares, assim destruirei os vossos; por isso me faz verter e não pense em outra coisa".
(5) Assim, sem me dizer mais nada, acabou.
3-29
Janeiro 17, 1900
A maldade e astúcia do homem.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus ia e vinha, mas sempre em silêncio. Depois senti-me sair de
mim mesma, e ouvia Jesus dizer-me por detrás:
(2) "O homem diz - porque já não há retidão - : "Até que as coisas estejam deste modo não
poderemos ter nenhum êxito em nossos planos, finjamos virtude, finjamos ser retos, mostremo-
nos verdadeiros amigos externamente, porque assim será mais fácil tecer as nossas redes e atraí-
los ao engano, e quando sairmos para apanhá-los e fazer-lhes mal, cada um, acreditando-nos
amigos, tê-los-emos em nossas mãos". Vai um pouco até onde chega a astúcia do homem".
(3) Depois disto o bendito Jesus querendo um ato de reparação especial, parecia que me tirava a
vida oferecendo-me à divina justiça. No momento em que isso acontecia, eu acreditava que Jesus
me fazia terminar esta vida, então lhe disse: "Senhor, não quero ir para o Céu sem suas insígnias,
primeiro me proteja e depois me leve".
(4) Assim me trespassou as mãos e os pés com os pregos, e enquanto isso fazia, com grande
amargura minha, Ele desapareceu e eu me encontrei em mim mesma, e disse para mim: "Aqui
estou eu ainda. Ah! Quantas vezes me fez meu amado Jesus, tem uma arte especial para sabê-lo
fazer, porque me faz crer que devo morrer, e então eu rio-me do mundo, das penas, rio-me de Ti
mesmo porque terminou o tempo de estar separados, não haverá mais intervalos de separação.
Mas apenas começo a rir quando me encontro outra vez atada pelas correntes da prisão deste
frágil corpo, e esquecendo o ter começado a rir, continuo o pranto, os gemidos, os suspiros da
minha separação de Ti. Ah Senhor, faça-o logo, porque me sinto impelida fortemente a ir!"
4-30
Novembro 11, 1900
Saindo do Divino Querer se perde o conhecimento de Deus e de si mesmo.
(1) Parece que o Senhor bendito quer exercitar-me na paciência, não tem compaixão nem de
minhas lágrimas nem de meu dolorosíssimo estado. Eu sem Ele me vejo imersa nas maiores
misérias, creio que não haja alma mais perversa que a minha, se bem que estando com Jesus me
vejo mais que nunca má, mas como me encontro com Ele que possui todos os bens, minha alma
encontra o remédio a todos os males. Assim que faltando Ele, tudo para mim termina, não há
nenhum remédio para minhas grandes misérias, muito mais me oprime o pensamento de que não
seja mais Vontade sua, meu estado, e não estando em seu Querer me parece estar fora do centro,
e Muitas vezes penso em como sair. Agora, estando com estas disposições ouvi-o atrás de minhas
costas que me dizia:
(2) "Cansaste-te, não é verdade?"
(3) E eu: "Sim Senhor, sinto-me bastante cansada".
(4) E Ele continuou: "Ah! minha filha, não saias de meu Querer, porque saindo de dentro Dele vens
a perder meu conhecimento, e não conhecendo-me vens a perder o conhecimento de ti mesma,
porque só se distingue com clareza se há ouro ou lama com os reflexos da luz, porque se tudo é
trevas facilmente se podem confundir os objetos. Agora, luz é meu Querer, que te dando meu
conhecimento, aos reflexos desta luz vem a conhecer quem você é, e vendo a tua fraqueza, o teu
puro nada, agarras-te aos meus braços e junta-te ao meu Querer, vives comigo no Céu. Mas se
quiser sair de meu Querer, a primeira coisa que perderá é a verdadeira humildade, e depois virá a
viver sobre a terra e será obrigada a sentir o peso terreno, a gemer e suspirar como todos os
outros desventurados que vivem fora de minha Vontade".
(5) Dito isto foi retirado sem sequer ser visto. Quem pode dizer o rasgo da minha alma?
5-27
Outubro 29, 1903
Quando a alma tem em si mesma impresso o fim da Criação,
Jesus lhe corresponde dando-lhe parte da felicidade celestial.
(1) Esta manhã meu adorável Jesus se fazia ver em meu interior, como se tivesse encarnado em
minha mesma pessoa, e olhando para mim disse:
(2) "Minha filha, quando vejo na alma impressa o caráter do fim de minha Criação, sentindo-me
satisfeito dela, porque vejo cumprida muito bem a obra criada por Mim, sinto-me em dever, isto é,
não dever, acrescentou rapidamente, porque em Mim não há deveres, mas o meu dever é um
amor mais intenso de corresponder-lhe, antecipando para ela parte da felicidade celestial, isto é,
manifestando a sua inteligência o conhecimento de minha Divindade, e atraindo-a com o alimento
das verdades eternas; a sua vista recreando-a com minha beleza; a seu ouvido fazendo ressoar a
suavidade de minha voz; à boca com meus beijos; ao coração os abraços e todas as minhas
ternuras, e isto corresponde ao fim de havê-la criado, que é: conhecer-me, amar-me servir-me".
(3) E desapareceu.
(4) Então eu, encontrando-me fora de mim mesma, via o confessor e lhe dizia o que o bendito
Jesus me disse; perguntava-lhe se estava certo, e me dizia: "Sim". Não só isto, mas acrescentava
que se conhecia bem o falar Divino, porque quando Deus fala e a alma o relata, quem escuta não
só vê a verdade das palavras, senão que sente em seu interior uma emoção que só o Espírito
Divino possui.
6-29
Abril 9, 1904
Basta um ato perfeito de resignação à Vontade Divina para ficar
purgado de todas as imperfeições nas quais a alma não tem posto nada do seu.
(1) Tendo recebido esta manhã a comunhão, estava pensando comigo: "Que dirá meu bendito
Jesus quando vier a minha alma? Dirá: "Como é feia esta alma, má, fria, abominável". Quão rápido
vai consumir as espécies para não estar em contato com esta alma tão feia, mas o que queres de
mim? Embora eu seja tão ruim, você ainda deve ter paciência para vir, porque de qualquer forma
você é necessário para mim, e eu não posso fazer outra coisa". Enquanto dizia isto, saiu de dentro
de mim e disse-me:
(2) "Minha filha, não queira te afligir por isto, não se requer nada para remediá-lo, basta um ato
perfeito de resignação à minha Vontade para poder ficar purgado de todas estas fealdades que
você diz, e Eu te direi o contrário do que pensa, te direi: "Como é bela, sinto o fogo do meu amor
em ti, e o perfume das minhas fragrâncias, em ti quero fazer a minha perfeita morada.”
(3) E desapareceu. Então, vindo o confessor, contei-lhe tudo, e ele me disse que não estava bem,
porque é a dor que purga a alma, e que a resignação não entrava nisto. Por isso, depois de ter
recebido a comunhão, disse: "Senhor, o padre disse-me que não está bem o que me disseste,
então, mostra-te melhor e faz-me conhecer a verdade". E Ele bondosamente adicionou:
(4) "Minha filha, quando se trata de pecado voluntário, então se requer a dor, mas quando se trata
de imperfeições, de fraquezas, de frialdades e outras coisas, e que a alma não tem posto nada do
seu, então basta um ato de perfeita resignação, e se tem necessidade também deste estado para
ficar purgado, porque a alma ao fazer este ato primeiro se encontra com a Vontade Divina que
purga a vontade humana e a embeleza com suas qualidades, e depois se funde comigo".
7-30
Julho 12, 1906
Tudo o que a criatura serve de sofrimento, toca a Deus.
(1) Tendo sofrido muito ao esperar pelo meu bendito Jesus, sentia-me cansada e sem forças.
Então veio quase de fuga e me disse:
(2) "Minha filha, tudo o que à criatura serve de sofrimento ou de dor, por um lado fere a
a criatura, e por outro lado toca a Deus; e Deus sentindo-se tocado, dá sempre a cada toque
que sente dá alguma coisa de divino à criatura".
(3) E desapareceu.
+ + + +
7-31
Julho 17, 1906
Como a quem vive na Vontade de Deus, Jesus lhe dá a chave de seus tesouros, e não há graça que
saia de Deus em que ela não tome parte.
(1) Esta manhã, via o bendito Jesus com uma chave na mão e dizia-me:
(2) "Minha filha, esta chave é a chave da minha Vontade; para quem vive nela convém-lhe que
tenha a chave para abrir e fechar como lhe agrade, e tomar o que lhe agrade de meus tesouros,
porque vivendo do meu Querer terá cuidado deles mais do que se fossem seus, porque tudo o
que é meu é seu, e não fará desperdício disso, mas os dará a outros e tomará para ela
o que pode me dar mais honra e glória. por isso te entrego a chave e tenha cuidado de meus
tesouros".
(3) Enquanto dizia isto, sentia-me toda imersa na Divina Vontade, tanto que não via
outra coisa que Vontade de Deus, e passei todo o dia neste paraíso de Sua Vontade.
Que felicidade, que alegria! E durante a noite, encontrando-me fora de mim mesma, continuava
(4) "Olha, amada minha, para quem vive no meu Querer não há graça que saia da minha Vontade
para com todas as criaturas do Céu e da Terra, em que ela não seja a primeira a participar. E
isto é natural, porque quem vive na casa de seu pai abunda de tudo, e se os que estão
fora recebem alguma coisa, é do que sobra para aqueles que vivem dentro".
(5) Mas quem pode dizer o que compreendia desta Divina Vontade? São coisas que não se
podem explicar. Seja tudo para glória de Deus.
8-27
Março 9, 1908
As vidas de todos palpitavam no coração de Jesus.
(1) Continuando o meu habitual estado, assim que chegou o bendito Jesus, parecia que se
aproximava de mim e me fazia ouvir os batimentos de seu coração, os ouvia muito forte, e em seu
batimento palpitavam muitos outros pequenos batimentos. E Ele disse-me:
(2) "Minha filha, neste estado encontrava-se o meu coração no momento da minha Paixão. Em
meu coração palpitavam todas as vidas humanas, que com seus pecados estavam todas em
atitude de me dar a morte, e meu coração apesar de sua ingratidão, levado pela violência de amor
restituía a todos a vida, por isso palpitava tão forte, E no meu batimento cardíaco Todas as batidas
humanas, fazendo-os ressurgir em batidas de graça, de amor e de delícias divinas".
(3) E desapareceu. Depois disto, tendo passado um dia de muitas visitas, sentia-me cansada, e em
meu interior lamentava-me com Nosso Senhor dizendo: "Afasta de mim as criaturas; sinto-me
muito oprimida, não sei o que encontram ou querem de mim, tem piedade da violência que faço
continuamente para me entreter Contigo em meu interior e com as criaturas no exterior". Nesse
momento veio a Rainha Mãe e me disse levantando sua mão direita e apontando para o meu
interior no qual parecia que estava o amável Jesus:
(4) "Filha amada minha, não te oprimas, as criaturas correm para onde está o tesouro, e como em
ti está o tesouro dos sofrimentos, onde está encerrado meu doce Filho, por isso veem a ti. Mas tu,
enquanto lidas com eles, não te distraias do teu tesouro, fazendo amar a cada um o tesouro que
em ti contem, qual é a cruz e meu Filho, assim os demais irão enriquecidos".
9-28
Fevereiro 26, 1910
Antes de morrer, a alma deve fazer morrer tudo no Divino Querer e no amor.
(1) Mantém-se o meu estado de privação habitual, e talvez ainda pior. Oh Deus, que baixo caí,
jamais imaginaria chegar a tal termo, mas espero ao menos não sair nunca jamais do cerco de seu
Santíssimo Querer, isto é tudo para mim!. Gostaria de chorar por meu estado lastimoso, e alguma
vez o faço, mas Jesus me censura dizendo:
(2) "Queres tu ser sempre menina? Se vê que tenho que tratar com uma menina, não posso confiar
em ti, esperava encontrar em ti o heroísmo do sacrifício por Mim, em troca encontro as lágrimas de
uma menina que não quer o sacrifício".
(3) E assim, se eu chorar, ele se mostrar mais duro e fizer uma de suas bravuras, ele não virá
nesse dia. Por isso devo forçar-me para não chorar, e digo a Jesus: "Tu dizes que por amor me
privas de Ti, e eu por amor teu aceito a tua privação, por amor teu não choro". E se chegar a fazê-
lo mostra-se um pouco mais indulgente, de outra maneira castiga-me mais forte fazendo-me morrer
continuamente e viver com sua privação. Então, tendo passado uma jornada semelhante, por
quanto fiz não pude deter as lágrimas, e Jesus me fez pagar como o merecia; até que avançada a
noite, tendo compaixão de mim, como se se tivesse aberto uma janela de luz em minha mente,
Jesus se fez ver e me disse:
(4) "Não queres entendê-lo, que antes de morrer deves morrer a tudo, ao sofrer, aos desejos, aos
fervores, a tudo, e tudo deve morrer em meu Querer e em meu amor. O que é eterno no Céu é
minha Vontade e o amor, todas as outras virtudes terminam: Paciência, obediência, sofrimento,
desejos, só minha Vontade e o amor não terminam jamais, por isso em minha Vontade e no amor
deves fazer morrer tudo antecipadamente. A todos os meus santos, e eu mesmo, não quis evitar-
me de ser abandonado pelo Pai, para morrer em tudo no Querer e no amor do Pai. Oh, como teria
querido sofrer mais! Oh, quanto desejava fazer mais pelas almas! Mas tudo isto morreu na
Vontade e no amor do Pai, e assim fizeram as almas que verdadeiramente me amaram, e tu não o
queres compreender".
10-30
Outubro 10, 1911
Jesus a atrai a fazer seu Querer.
(1) Sinto-me morrer pela dor e vou repetindo frequentemente o meu refrão: "Pobres irmãos meus,
pobres irmãos meus". Jesus aumentou minha dor fazendo-me ver a tragédia da guerra; quanto
sangue parecia que se derramava e se derramaria. Jesus parecia inexorável e dizia:
(2) "Não posso mais, quero terminar com isto, tu farás o meu querer, não é verdade?"
(3) "Certo, como Tu quiseres, mas posso esquecer que são teus filhos saídos de tuas mesmas
mãos?"
(4) E Jesus: "Mas estes filhos fazem-me sofrer muito, e não só querem matar o seu próprio Pai,
mas querem tornar-se homicidas deles mesmos. Se você soubesse o quanto me fazem sofrer,
você estaria Comigo".
(5) E enquanto dizia isto, parecia que me amarrava as mãos e me apertava Consigo, e me sentia
tão transformada em seu Querer, que perdia a força de lhe fazer violência, e acrescentou:
(6) "Assim está bem, toda em minha Vontade".
(7) Eu, vendo minha inabilidade e ao mesmo tempo a tragédia, rompi em pranto e dizia: "Meu
Jesus, como farão? Não há meios para salvá-los, salve ao menos suas almas, quem poderá
resistir? Ao menos leve-me primeiro".
(8) E Jesus: "Você viu? Se você continuar chorando Eu vou embora e te deixo sozinha, você
também quer me afligir. Eu salvarei a todos aqueles que estão dispostos, por isso não chore, te
darei suas almas, fique contente. Talvez Eu não possa levá-la mais para o Céu, e será por isso que
você está tão aflita? Tu sabes porque não te levo?"
(9) E como eu continuava a chorar, Jesus fingia que se retirava, e eu tive que gritar alto e dizer:
"Jesus, não me deixes, que não choro mais".
11-26
Julho 19,1912
O verdadeiro amor deve ser só.
(1) Esta manhã, encontrando-me no meu estado habitual, assim que veio o bendito Jesus disse-
me:
(2) "Minha filha, sinto teu alento e recebo consolo, e não só quando estou junto a ti teu alento me
dá consolo, mas também quando os demais falam de ti e das coisas ditas por Mim para seu
bem, sinto por meio deles teu alento e me agrado, e meu consolo se duplica e digo: "Também
por meio dos outros minha filha me envia seu consolo, porque se não tivesse estado atenta em
me escutar, jamais teria podido fazer o bem aos demais, por isso é sempre ela que me dá este
consolo". Por isso te amo mais e me sinto inclinado a vir a conversar contigo".
(3) Depois ele adicionou: "O verdadeiro amor deve ser só; ao contrário, quando está apoiado em
algum outro, ainda que seja santo, ainda que seja pessoa espiritual, me dá náuseas e em lugar
de contentamento me dá amargura e aborrecimento, porque o amor só quando é só me dá
completo domínio e posso fazer o que quero da alma; Além disso, o ser só é da natureza do
verdadeiro amor. Ao contrário, quando não é só, uma coisa se pode fazer, mas outra não; é um
domínio restrito que não me dá plena liberdade, e portanto o amor se encontra a desgosto e
restringido".
MEDITAÇÃOOUÇA O AUDIO DOS CAPÍTULOS
29. Nascimento de Jesus. Eficácia salvífica da divina maternidade de Maria
6 de junho de 1944.
Vejo ainda o interior deste pobre refúgio rochoso, onde José e Maria encontraram o abrigo que compartilham com animais. Um pequeno fogo está cochilando junto ao seu guardião. Maria levanta um pouco a cabeça da enxerga, e olha. Vê José com a cabeça inclinada sobre o peito, como se estivesse pensando, e ela também acha que o cansaço deva ter vencido a sua boa vontade em ficar acordado todo o tempo. Maria sorri com um sorriso cheio de bondade e, fazendo menos barulho do que pode fazer uma borboleta ao pousar sobre uma rosa, se põe sentada e, depois de sentada, se põe de joelhos. Reza com um sorriso feliz em seu rosto. Reza de braços abertos, não propriamente cruzados, mas quase, e com as palmas viradas Para o alto e para a frente. Nem parece ficar cansada naquela penosa posição. Depois, se prostra com o rosto contra o feno, em uma oração ainda mais intensa. Uma longa oração. José desperta. Vê que o fogo está quase apagado e a gruta está ficando escura. Joga um punhado de gravetos bem finos, e a chama se ergue de novo; procura depois uns galhos mais grossos, porque o frio deve ser de gelar. E o frio da noite serena de inverno, que entra por todos os lados da gruta. O pobre José, perto da porta (chamamos assim de porta a abertura sobre a qual está estendido seu manto) deve estar se enregelando. Ele aproxima as mãos da chama, desata as sandálias, aproxima também os pés. Procura aquecer-se' E, quando o fogo já está bem vivo, sua luz firme, vira as costas. Mas agora não vê nada, nem mesmo a brancura do véu de Maria, que antes formava uma linha clara sobre o feno escuro. Põe-se de pé e, lentamente, vai-se aproximando da enxerga. - Não estás dormindo, Maria?, ele pergunta. Faz a mesma pergunta três vezes, até que Maria estremece, e lhe responde:
- Estou rezando. - Não estás precisando de nada? - Não, José.
- Procura dormir um pouco. Ou, pelo menos, descansar.
- Vou procurar. Mas rezar não me cansa.
- Até logo, Maria.
- Até logo, José.
Maria volta à sua posição. José, para não cair de novo no sono, põe-se de joelhos perto do fogo, e reza. Reza apertando as mãos sobre o rosto. Tira-as, cada vez que precisa alimentar o fogo, voltando à sua fervorosa oração. Com exceção do barulho da lenha que crepita no fogo e o do burrinho que, de vez em quando, bate um casco no chão, não se ouve mais nada. Um pouco de luar está entrando por uma fenda do teto, e parece a lâmina de alguma prata imaterial, que vai-se aproximando de Maria. A lâmina vai-se alongando, à medida que a lua vai ficando mais alta no céu e, finalmente a alcança. Agora, já está sobre a cabeça da orante, ornando-a com uma auréola de luz. Maria levanta a cabeça, corno se tivesse sido chamada por uma ' voz do céu, e se põe de novo de joelhos. Oh! Como é belo aqui. Maria ergue de novo a cabeça, que parece estar brilhando, à luz branca da lua, e um sorriso não humano a transfigura. Que é que ela estará vendo? Que estará ouvindo? Que estará experimentando? Somente Ela poderia dizer o que está vendo, ouvindo e o que experimentou na hora esplendorosa de sua maternidade.
Eu vejo apenas a luz crescendo sempre mais, ao redor dela. Parece descer do Céu, saindo das pobres coisas que estão ao redor, e parece emanar dela mesma, ainda mais.
Sua veste, de um azul escuro, parece agora de um suave celeste de miosótis, Suas mãos e seu rosto parecem ficar de um azul muito deli-;do, como os de alguém que fosse colocado sob o foco de uma imensa safira clara. Esta cor, ainda mais tênue, me faz lembrar as cores das minhas visões do santo Paraíso, e também a cor da chegada dos gagos, urna cor que vai-se difundindo sobre as coisas e as vestes, purificando tudo, e tornando-as resplandecentes. A luz, que se desprende sempre mais do corpo de Maria, absorve a luz da lua, e parece que ela atraia a si toda a luz do Céu. Agora ela é a depositária da Luz. É ela que deve dar esta Luz ao mundo. E esta Luz beatífica, incontrolável, imensurável, eterna e divina, está para ser dada, e se anuncia como uma luz de aurora crescendo, um coro de átomos aumentando, a maré subindo, a nuvem do incenso espalhando-se, para descer depois como uma enchente e estender-se como um véu... O teto, cheio de fendas, teias de aranha, entulhos que em cima se estendem para a frente, estão em equilíbrio por um milagre da estática, esse teto que antes era tão enegrecido, enfumaçado e repelente, está parecendo agora o teto de uma sala real. Cada uma das grandes pedras é um bloco de prata, cada fenda é um lampejar de opalas, cada teia de aranha é um baldaquim precioso, confeccionado com rata e diamantes. Uma lagartixa grande e verde, que está dormindo em letargia entre duas pedras, parece um colar de esmeraldas esquecido por alguma rainha. Um cacho de morcegos, também em letargia, parece um precioso lampadário de ônix. O feno, que está na manjedoura de cima, já não é mais uma erva: são fios e mais fios de rata Pura, que tremulam no ar com a graça de uma cabeleira solta. A manjedoura de baixo está com sua madeira de cor escura transformada em bloco de prata brunida. As paredes estão cobertas de um brocado no qual a alvura da seda desaparece sob o bordado opalino do relevo e o solo... o que é o solo agora? É um cristal que possui uma luz branca acesa em si mesmo. As saliências são como rosas de luz homenagem ao solo; e os próprios buracos são vasos preciosos, de onde devem emanar aromas e perfumes.
A luz vai se tornando cada vez mais forte, e fica insuportável para a vista, A virgem desaparece nela, com se tivesse sendo absorvida por um véu incandescente... e dele surge a mãe.
Sim. Quando a luz volta a ser suportável aos meus olhos, vejo Maria com o Filho recém-nascido nos braços. Um pequenino, todo róseo e gorducho, que agita os braços e esperneia. Tem as mãozinhas do tamanho de botões de rosa e seus pezinhos caberiam na corola de uma rosa. Ele solta vagidos com sua vozinha trêmula, cordeirinho que acaba de nascer, abrindo a boquinha, que mais parece um moranguinho selvagem, e mostrando a linguinha que bate repetidamente contra o véu palatino. Move a cabecinha loira me parece quase sem cabelos, essa cabecinha redonda que a mamãe sustenta na palma de sua mão, enquanto olha o Menino e o adora chorando e rindo ao mesmo tempo, e se inclina para beijá-lo não em sua cabecinha, mas em seu peito, onde está batendo seu coraçãozinho, batendo por nós... é nesse coração em que um dia haverá uma ferida. E Maria, com antecipação, já medica tal ferida, com seu beijo imaculado de mãe. O boi, despertado pela claridade, levanta-se, fazendo um grande barulho com seus cascos, e muge, enquanto o burrinho vira a cabeça e urra. É a luz que os desperta, mas eu gosto de pensar que eles quiseram saudar o seu Criador, por si mesmos, mas também por todos os animais.
Também José que, quase extasiado, estava rezando de um modo tão recolhido, que nem notou o que estava acontecendo ao redor, volta a si da oração, vendo filtrar-se aquela estranha luz entre os dedos das mãos, que estão unidas sobre o rosto. Tira, então, as mãos do rosto, levanta a cabeça e se vira para trás. O boi, que agora se pôs de pé, está escondendo Maria. Mas ela diz:
- José, vem cá.
José se aproxima dela. E, ao ver, pára dominado por um sentimento de reverência, e está para cair de joelhos lá mesmo lugar em que está. Mas Maria insiste, dizendo
-Vem cá, José, e, firmando a mão sobre o feno, com a direita ela segura apertado contra o seu coração o Menino. Levanta-se então, indo ao encontro de José, que caminha tropegamente embaraçado pelo contraste do seu desejo de aproximar-se e o temor de ser irreverente.
Aos pés do catre, os dois esposos se encontram e olham um para o outro, num só e feliz pranto.
-Vem, vamos oferecer Jesus ao Pai, diz Maria.
Enquanto José se ajoelha, ela se põe de pé entre dois troncos que tentam o teto, levanta o Filho em seus braços, e diz. aqui, Senhor. Por Ele, ó Deus, eu te digo palavra. Eis me aqui para fazer a tua vontade. Com Ele estamos eu, Maria, e José, meu esposo. Eis-nos aqui, teus servos, Senhor! A tua vontade seja feita sempre por nós, em toda hora e em todos os acontecimentos, para a tua glória e pelo teu amor.
Depois, Maria se inclina e diz:
- Toma-o, José, oferecendo-lhe o Menino.
- Eu? Tu o entregas a mim? Oh! não! Eu não sou digno. José está completamente apavorado, e se sente aniquilado, só diante da idéia de ter que tocar em Deus.
Mas Maria insiste com ele, sorrindo:
- Tu és bem digno disso, sim. Ninguém mais do que tu. Por isso é que o Altíssimo te escolheu. Toma-o, José, e segura-o, enquanto eu vou buscar as roupinhas. José, vermelho como escarlate, estende os braços e pega aquele embrulhinho de carne que está gritando de frio e, quando já está com ele nos braços, não se deixa mais levar pela vontade de tê-lo afastado do seu corpo pelo respeito, mas o aperta ao coração, dizendo numa grande explosão de pranto:
-Ó Senhor! Ó meu Deus!
Ao inclinar-se para beijar-lhe os pezinhos, percebe que eles estão frios e, então, senta-se no chão e o põe em seu colo procurando co-bri-1,o com a veste marrom e as mãos, aquecendo-O e defendendo-O do vento frio da noite. Ele bem que gostaria de ir para perto do fogo, mas passaporte lá aquela corrente de ar da entrada. É melhor ficar por aqui mesmo. É melhor, aliás, ficar entre os animais, que servem de escudo contra o ar, e que produzem calor. Assim pensando, coloca-se entre o boi e o jumento, com as costas para a porta, inclinando-se sobre o Recém-Nascido, fazendo do seu peito um nicho, cujas paredes laterais sâo: uma cabeça cinzenta com longas orelhas e um grande focinho branco com um nariz que solta vapor quente, e olhos úmidos, cheios de bondade.
Maria abriu o baú, tirando linhos e cueiros. Depois foi para perto do fogo, e aqueceu os panos. Vai então a José, envolvendo o Menino naqueles tecidos mornos e no seu véu para proteger-lhe a cabecinha .
- Onde vamos colocá-lo agora?, ela pergunta.
José está pensativo.. olhando ao redor.
-Espera!, diz ele. - Vamos afastar um pouco os animais e o feno deles. Depois jogamos para baixo aquele feno que está no alto colocando-o aqui dentro. A madeira da beirada protegerá o menino do ar frio, o feno lhe servirá de travesseiro, e o boi com o seu hálito o aquecerá um pouco. Para isso, é melhor o boi. Ele é mais paciente e sossegado. José põe mãos à obra, enquanto Maria nina o seu menino, apertando-o ao coração, conservando sua face sobre a cabecinha para dar-lhe mais algum calor. José atiça o fogo, sem economizar mais a lenha, para conseguir uma boa chama, esquentar o feno, e à medida que o feno se enxuga, ele o coloca no peito, para que não se esfrie. Depois, quando já apanhou o bastante para fazer um colchãozinho para o Menino, vai até a manjedoura e o põe, de modo a tomar a forma de um pequeno berço.
- Está pronto!, diz ele.
- Agora precisaríamos de uma coberta, para cobrir o Menino, pois o frio está forte...
- Toma o meu manto, diz Maria.
- Mas tu ficarás com frio.
- Oh! Não faz mal! O cobertor é áspero demais. O manto é macio e quente. Eu não tenho frio algum. Mas quero que Ele não sofra mais'. José pega, então o grande manto de lã macia, de cor azul clara, e o coloca dobrado sobre o feno, com uma beirada que fica pendurada para fora da manjedoura. Assim, o primeiro leito do Salvador ficou pronto. E a mãe o leva, com passos cheios de graça e doçura, a fim de colo-, na manjedoura cobrindo-O com a beirada do manto, que ajeita também ao redor da cabecinha descoberta que começou a afundar-se no feno, e estava protegida apenas pelo leve véu de Maria contra esta aspereza. Permanece descoberto somente o rostinho do tamanho do punho, e os dois, inclinados sobre a manjedoura, o ficam olhando felizes, enquanto ele dorme o seu primeiro sono, porque o calor bom dos cueiros e do feno lhe acalmou o choro, e o doce Jesus conciliou o sono.
'Maria diz:
Eu te havia prometido que Ele te traria a paz. Estás lembrada da paz que havia em ti nos dias do Natal? De quando me vias com o meu Menino? Aquele era o teu tempo de paz. Agora é o teu tempo de sofrimento. Mas tu o sabes. É no sofrimento que se conquista a paz e toda a graça para nós e o próximo. Jesus-Homem revelou-se Jesus-Deus, depois do tremendo sofrimento da Paixão. Revelou-se como a paz. Paz no Céu, do qual Ele tinha vindo, derramada sobre aqueles que no mundo o amam. Mas, nas horas da paixão, Ele, a Paz do mundo, foi privado dela. Não teria sofrido, se tivesse tido a paz. Mas devia sofrer. Sofrer de modo completo.
Eu, Maria, redimi a mulher com a minha maternidade divina. Mas isso não foi mais que o início da redenção da mulher. Negando-me a quaisquer esponsais pelo voto de virgindade, eu tinha rejeitado todo prazer de concupiscência, e merecido a graça de Deus. Isso, porém ainda não bastava. Porque o pecado de Eva era uma árvore de quatro ramos: soberba, avareza, gula e luxúria.
Todos os quatro deviam ser cortados, a fim de esterilizar a árvore desde as raizes. 'Humilhando-me profundamente, eu venci a soberba.
Humilhei-me diante de todos. Não estou falando da minha humildade para com Deus. Esta é devida ao Altíssimo por toda criatura. O Verbo de Deus a teve. Eu, uma mulher, a devia ter. Mas terás já refletido por quantas humilhações da parte dos homens eu tive que passar, sem me defender de modo nenhum? Até José, que era justo, me havia acusado em seu coração. Os outros, que não eram justos, tinham pecado por murmuração a respeito do meu estado, e o barulho dessas palavras veio, como uma onda amarga, quebrar-se contra a minha natureza humana. Foram estas as primeiras das infinitas humilhações que a minha vida, como mãe de Jesus e do gênero humano, me fizeram sofrer. Humilhações de pobreza, humilhações de uma fugitiva, humilhações Pelas censuras dos parentes e amigos que, não sabendo a verdade, julgavam fraco o meu modo de ser mãe para com o meu Jesus, quando Ele se tornou jovem. Humilhações durante os três anos do seu ministério humilhações cruéis na hora do Calvário, humilhações até em ter que reconhecer que eu não tinha com que comprar o lugar e os aromas, para a sepultura do meu Filho.
Venci a avareza dos Progenitores, renunciando antecipadamente ao meu Filho.
Urna mãe não renuncia nunca ao seu filho, a não ser que seja forçada. Se essa renúncia for solicitada ao seu coração pela Pátria amor de uma esposa, ou até pelo próprio Deus, ela ela sente o desejo de insurgir-se contra a separação. É natural. O filho cresce em nosso ventre, e nunca é completamente cortada a ligação que sua pessoa tem com a nossa. Mesmo depois de cortado o canal vital que é o cordão umbilical, sempre fica um elo espiritual, que nasce no coração da mãe, mais vivo e sensível do que um elo físico, o qual se introduz no coração do filho, esticando até à dor, se o amor de Deus, de uma criatura, da Pátria afasta o filho da própria mãe. Este elo se despedaça, dilacerando o coração, se a morte arrebata o filho de sua mãe. Eu renunciei ao meu Filho, desde o momento em que O tive.
Dei- o a Deus. Dei-O a vós. Eu me despojei do Fruto do meu ventre, para reparar o furto cometido por Eva, do fruto de Deus.
Eu venci a gula, tanto do saber como do gozar, aceitando saber unicamente o que Deus queria que eu soubesse, sem perguntar a mim mesma nem a Ele nada mais, além do que foi dito. Acreditei sem investigar. Venci a gula do gozar, porque neguei a mim mesma todo sabor de sensualidade. Pus minha carne debaixo dos meus pés. Confinei a carne, instrumento de satanás, colocando satanás debaixo de meu calcanhar, a fim de fazer da carne um degrau para aproximar-me do Céu. O Céu! Ele era a minha meta. Era lá que estava Deus. Deus, a minha única fome. Fome esta que não é gula, mas sim, necessidade abençoada por Ele, o qual quer que a tenhamos.
Eu venci a luxúria, que é a gula, convertida em voracidade, porque todo vício não contido conduz a um vício maior. A gula de Eva, além de reprovável em si mesma, a conduziu à luxúria. Não lhe bastou procurar a satisfação sozinha. Quis levar o seu delito até uma refinada intensidade, conhecendo e se fazendo mestra de luxúria para o companheiro. Eu inverti os termos e, em lugar de descer, sempre subi. Em lugar de fazer descer, eu sempre atraí para o alto, e do meu companheiro, um homem honesto fiz um anjo. Agora que eu possuía Deus, e com Ele as Suas riquezas infinitas'. apressei-me a despojar-me delas, dizendo: "Que seja feita a tua vontade para Ele e por Ele". Casto é aquele que se auto contém, na só na carne, mas também nos afetos e nos pensamentos. Eu devia ser a casta, para anular a impudica da carne, do coração e da mente. Não saí da minha reserva, para d. dizer a respeito do meu único filho na terra e único Filho de Deus no Céu: "Ele é meu, e eu O quero." Contudo, isso não bastava para obter para a mulher, a paz perdida por Eva.
Aquela paz eu vo-la obtive aos pés da Cruz. Ao ver morrer Aquele que tu viste nascer. Ao sentir minhas entranhas sendo arrancadas, ao grito do meu Filho que estava morrendo, fiquei vazia de todo feminismo: não mais carne, mas anjo. Maria, a virgem desposada com O Espírito, morreu naquele momento. Ficou a mãe da graça, aquela que do seu tormento gerou e vos deu a graça a Graça. O gênero da mulher que eu tinha voltado a consagrar na noite de Natal, aos pés da Cruz conseguiu se tornar criatura dos Céus. Fiz isso por vós, negando-me qualquer satisfação, ainda que santa. Eu fiz de vós, se o desejais, santas de Deus, vós que fostes reduzidas por Eva a fêmeas não superiores às companheiras dos animais. Por vós eu subi. Como fiz com José, eu vos levei para o alto. A rocha do calvário é o meu Monte das Oliveiras. Foi dali que eu tomei o impulso para levar a alma da mulher aos céus. de novo santificada, junto com minha carne glorificada, por ter trazido o Verbo de Deus, e anulado em mim todo vestígio de Eva. Ela foi a última raiz daquela arvore dos quatro ramos venenosos, com a raiz fincada na sensualidade. que arrastou a humanidade à queda e que haverá de morder as vossas entranhas.
Até ao fim dos séculos, até à última mulher. De lá, de onde agora eu brilho no raio do Amor, eu vos chamo, e vos indico remédio para vós vencerdes a vós mesmas: a graça do meu Senhor e sangue do meu Filho. 'E tu, minha porta voz, repousa a tua alma na luz desta aurora de Jesus, a fim deque tenhas força para as futuras crucificações, que não te serão poupadas, porque te queremos aqui, para onde se vem através da dor; e para tão mais alto se vem, quanto mais se suporta o sofrimento, a fim de obter graça para o mundo. Vai em paz. Eu estou contigo".
CAPÍTULO 22
SANTANA, EM SEU PARTO, CUMPRIU A L E I DE MOISÉS. COMO A MENINA MARIA PROCEDIA EM SUA INFÂNCIA.
0 preceito da purificação
345. Era preceito da lei, no capítulo 12 do Levítico (v. 5-6), que a mulher
dando à luz uma filha seria considerada impura duas semanas, e devia permanecer
na purificação do parto sessenta e seis dias, o dobro dos dias para o filho do sexo
masculino. Terminando o prazo pela filha ou pelo filho, deveria oferecer à porta do
tabernáculo um cordeiro de um ano em holocausto, e uma pomba ou rola pelo
pecado. Entregava-os ao Sacerdote para oferecê-los ao Senhor, e aquele rezaria por
ela, ficando assim purificada.
O parto da felicíssima Ana foi tão puro e limpo qual convinha à sua divina
Filha, pois desta procedia a pureza da mãe.
Ainda que não tinha necessidade de purificação, contudo, saldou a dívida da lei,
cumprindo-a pontualmente. Aos olhos humanos passou por impura, quem estava
isenta do que a lei mandava purificar.
Simeão
346. Passados os sessenta dias da purificação, dirigiu-se SantAna ao
templo, levando a mente inflamada no divino amor, e nos braços sua bendita
Filha. Com a oferenda, acompanhada de inumeráveis anjos, chegou à porta do
tabernáculo e falou com o sumo sacerdote, que então era o santo Simeão.
Por permanecer longamente no templo, mereceu ele o favor de, em sua
presença e por suas mãos, oferecer a menina Maria todas as vezes que foi apresentada
no templo e oferecida ao Senhor.
Ainda que nestas ocasiões o santo sacerdote não conheceu a dignidade desta
divina Senhora, como adiante diremos ", todavia sempre sentiu fortes pressentimentos
de que aquela Menina era grande aos olhos de Deus.
Apresentação da Menina Maria
347. Ofereceu-lhe SantAna o cordeiro, a rola e o mais que levava, e
com humildes lágrimas, pediu-lhe que orasse por ela e por sua Menina, para
serem perdoadas pelo Senhor, caso tivessem culpa. Nada houve que ser
perdoado em filha c mãe, nas quais a graça era tão copiosa, mas sim o que ser
premiado: a humildade de se apresentarem como pecadoras, sendo santíssimas.
O santo sacerdote recebeu a oblação, e seu espírito se encheu de extraordinário
júbilo. Sem compreender a causa, nem se manifestar, disse consigo:
- Que será esta novidade? Porventura serão estas mulheres parentes do Messias
que há de vir? Nesta admiração e alegria mostrou-lhes grande benevolência.
Sant*Ana entrou com sua Filha Santíssima nos braços e a ofereceu ao
Senhor com devotíssimas e temas lágrimas, como a única pessoa no mundo
conhecedora do tesouro que lhe fora confiado em depósito.
SantAna renova seu voto
348. Renovou o voto, que antes fizera, de oferecer no templo sua
primogênita quando chegasse à idade conveniente. Nesta renovação foi ilustrada
com nova graça e luz do Altíssimo.
Sentiu em seu coração uma voz que lhe dizia que se cumprisse o voto de oferecer
sua Filha no templo, dentro de três anos. Esta inspiração foi o eco da voz da
santíssima Rainha, cuja súplica tocou o coração de Deus e ressoou no de sua Mãe.
Ao entrarem ambas no templo e vendo a doce Menina com seus olhos
corporais, aquela majestade e grandeza dedicadas ao culto e adoração da Divindade,
sentiu admiráveis efeitos em seu espírito, e quisera prostrar-se para beijar
a terra e adorar o Senhor. O que não pôde fazer com ações exteriores, supriu
com o afeto interior. Adorou e bendisse a Deus com o amor mais sublime e a
reverência mais profunda que, nem antes nem depois, outra pura criatura o pôde
fazer. Falando em seu coração com o Senhor, fez esta oração:
Oração da Menina Maria
349. - Altíssimo e incompreensível Deus, Rei e Senhor meu, digno de
toda glória, louvor e reverência; eu, humilde pó, mas obra vossa, adoro-vos
neste vosso santo templo, exalto-vos e vos glorifico pelo vosso ser e perfeições
infinitas. Quanto me é possível, agradeço à vossa dignação, por me concederdes
ver com meus olhos este santo templo e casa de oração, onde vossos profetas,
meus antigos pais vos louvaram e bendisseram, e onde vossa liberal
misericórdia operou com eles grandes maravilhas e mistérios. Aceita-me, Senhor,
para que possa servir-vos nele quando for vossa santa vontade.
Sant'Ana volta ao templo
350. Fez este humilde oferecimento ao modo de escrava do Senhor,
aquela que ora Rainha de todo o universo.
Em testemunho da aceitação divina, veio do céu uma claríssima luz que sensivelmente
envolveu a Menina e sua Mãe.
Enchendo-as de resplendores e graça. Tornou a compreender SantAna
que. ao terceiro ano, devia apresentar sua Filha no templo, porque a complacência
que 0 Altíssimo receberia daquela oferenda, e o afeto com que a Menina a
desejava ,nào permitiam mais longa demora.
Seus santos anjos da guarda e outros que assistiram a este ato, cantaram
suavíssimos louvores ao Autor dessas maravilhas. Somente filha e mãe
santíssimas tiveram conhecimento desses prodígios, sentindo interior e
exteriormente o que respectivamente era espiritual ou sensível. Só o santo Simeão
percebeu um pouco da luz sensível.
Depois de tudo. voltou SantAna para casa. enriquecida com seu tesouro e
novos dons do Deus Altíssimo.
O demônio se engana
351. À vista destes sucessos, a antiga serpente enchia-se de ansiedade.
O Senhor ocultava-lhe o que não devia entender, e permitia-lhe ver somente o
que convinha, para que falhando seus planos de destruição, viesse a servir de
instrumento na execução dos ocultos desígnios do Altíssimo.
Fazia este inimigo muitas conjecturas sobre as novidades que observava
em mãe e filha. Vendo que levavam a oferenda ao templo, e como
pecadoras praticavam quanto mandava a lei, pedindo ao sacerdote rezar para que
fossem perdoadas, enganou-se e sossegou seu furor. Acreditou que aquela f i -
lha e mãe estavam incluídas entre as demais mulheres, e que eram da mesma
condição, ainda que mais perfeitas e santas que as outras.
Tratamento dado à Menina Maria
352. A soberana Menina, era tratada como as demais crianças de sua
idade. Seu alimento era o comum, ainda que em quantidade muito pequena, assim
como o sono. mesmo que a pusessem para dormir. Não era impertinente, nem
jamais chorou com irritação, como as demais crianças, mas era extremamente
agradável e aprazível. Algumas vezes dissimulava, chorando e soluçando - qual
Rainha e senhora, de acordo com aquela idade - pelos pecados do mundo e para
obter o remédio deles e a vinda do Redentor dos homens.
Ordinariamente, mesmo naquela infância, tinha o semblante alegre e ao
mesmo tempo grave, com peregrina majestade, sem jamais admitir ação pueril,
ainda que às vezes aceitava carícias. As que não procediam de sua mãe, e por
isso eram menos comedidas, moderava as com a especial virtude e severidade
que demonstrava.
Sua prudente mãe tratava-a com incomparável cuidado, amor e carinho.
Seu pai Joaquim também a amava como pai e como santo, apesar de ignorar o
mistério, e a Menina mostrava-se com ele mais amorosa, como quem o conhecia
por pai e tão amado de Deus. Ainda que dele aceitava mais carinhos que de
outros, a todos infundiu Deus tão extraordinária reverência e respeito por aquela
que escolhera para Mãe sua, que ainda o cândido afeto e amor de seu pai era
sempre muito reservado nas demonstrações sensíveis.
Comunicações da Menina Maria com Deus
353. Em tudo, era a Menina rainha graciosa, perfeitíssima e admirável.
Se bem passou pelas leis comuns da natureza, estas não impediram as da
graça. Se dormia, não cessava nem interrompia as ações interiores do amor,
e outras que não solicitam os sentidos exteriores. Sendo possível este benefício
ainda em outras almas a quem o poder divino favoreceu, é certo que com
aquela que escolhera por Mãe e Rainha de toda a criação, faria o que está acima
de todo o pensamento.
Durante o sono natural Deus falou a Samuel (lRs 3, 4) e a outros
santos e profetas. A muitos deu sonhos misteriosos ou visões (Gn 37,
5-9) porque ao seu poder pouco importa que os sentidos durmam com o
sono natural, ou sejam suspensos com a força do êxtase. Tanto num como no
outro caso ficam suspensos, e sem eles o espírito ouve, entende e fala com os
objetos a ele proporcionados.
Esta lei, perpétua para a Rainha desde sua conceição até agora, e
por toda a eternidade, porque mesmo em seu estado de viadora, estas graças
não lhe foram dadas com intervalos como às outras criaturas.
Quando estava só ou a punham para dormir, sendo-Ihe o sono tão
curto, conferia os mistérios e louvores do Altíssimo com seus santos anjos, e
gozava de divinas visões e colóquios com Deus. Como o trato com os anjos
lhe era tão freqüente, direi no capítulo seguinte os modos deles se lhe manifestarem,
e algumas de suas excelências.
Pergunta da escritora
354. Rainha e Senhora do céu, se como piedosa Mãe e Mestra me
ouvirdes, sem vos ofender com minha ignorância, exporei à vossa benignidade
algumas dúvidas que neste capítulo encontrei.
Se minha ousadia resvalar para o erro, corrigi-me com vossa maternal misericórdia.
Minha dúvida é a seguinte: Se, em vossa infância, sentíeis a necessidade e
fome que pela ordem natural sentem as demais crianças, e sendo tão admirável
vossa paciência, como pedíeis o alimento e socorro necessário, quando às outras
crianças o pranto serve de linguagem?
Também ignoro se vos eram penosas as exigências daquela idade, como enfaixar
vosso virginal corpo, alimentar-vos e outras coisas que as crianças recebem
inconscientemente, enquanto vós Senhora, tudo compreendíeis?
Parece-me quase impossível que no modo, tempo, quantidade e outras
circunstâncias, não houvesse "excesso ou falta, já que na idade éreis menina, mas
na capacidade adulta para considerar tudo com devida ponderação. Vossa
prudência celestial conservava digna majestade e compostura; vossa idade e
natureza pediam o necessário; não o pedíeis como as crianças, chorando, nem
como adulto, falando; ninguém sabia que possuíeis perfeito conhecimento, nem
vos tratavam segundo o vosso uso da razão.
Além disso, vossa santa mãe não poderia acertar tudo, ignorando o
tempo' t o modo exato de o fazer, tampouco em todas as coisas poderia ela
vos servir. Tudo isto me causa admiração e desperta-me o desejo de conhecer
os mistérios encerrados em tais circunstâncias.
RESPOSTA E DOUTRINA DA RAINHA DO CÉU.
Paciência e sobriedade
355. Minha filha, à tua admiração respondo com benevolência. Verdade
é que tive a graça e o perfeito uso da razão desde o primeiro instante de minha
conceição, como tantas vezes te mostrei.
Não obstante, passei pelas necessidades da infância como as outras crianças,
e fui tratada pela ordem comum de todas.
Senti fome. sede. sono e penalidades em meu corpo e, como filha de Adão, estive
sujeita a tais acidentes. Era justo imitar meu Filho Santíssimo, que aceitou estas
contingências e penas, para assim merecer e dar exemplo aos mortais.
Governada pela divina graça, usava alimentos e sono com peso e medida,
recebendo menos que os outros, e apenas o necessário para o crescimento
e conservação da vida e saúde. A desordem nestas coisas não só é contra a
virtude, mas contra a própria natureza que se altera com semelhantes excessos.
Por causa da minha compleição, era mais sensível à fome e à sede do que as outras
crianças, e para mim era mais nociva esta falta de alimento. Se não me davam
a tempo, ou se nele se excediam, tinha paciência até que, oportunamente, com
alguma discreta demonstração o solicitava.
Sentia menos a falta de sono, pela liberdade que me deixava de gozar a sós
da visão dos anjos e de sua conversação sobre os mistérios divinos.
Mortificação por amor de Cristo crucificado
356. Permanecer envolta em panos, apertada e atada, não me causava
pena, porém muita alegria, por saber que o Verbo humanado sofria o opróbrio de
ser atado e padeceria morte ignominiosa.
Quando estava só, naquela idade, punha-me em forma de cruz a orar para
imitá-lo, porque sabia que meu amado assim morreria, ainda que, por então ignorava
que o crucificado seria meu Filho.
Em todas as incomodidades que padeci, senti-me conformada e alegre,
porque nunca deixei de fazer, interiormente, aquela consideração que desejo
guardes inteira e perpetuamente. Pesa na mente e coração essas retíssimas verdades
que eu contemplava, e julga todas as coisas sem errar, dando a cada qual o
valor que lhe é devido. Nesse erro e cegueira incorrem ordinariamente os filhos de Adão,
e não quero que a ti, minha filha, aconteça o mesmo.
Ingratidão e presunção das criaturas
357. Assim que nasci no mundo, vendo a luz que me iluminava,
sentindo os efeitos dos elementos, os influxos dos planetas e astros, a terra
que me recebia, o alimento que me sustentava, e todas as outras causas da
conservação da vida, dei graças ao Autor de tudo.
Reconheci suas obras, por benefício que me era prodigalizado e não
por direito que me fosse devido. Assim, quando acontecia me faltar alguma coisa
necessária, sem desgosto mas com alegria, confessava que se fazia comigo o
que era justo. Tudo me era dado de graça, sem merecê-lo, e portanto sua
privação estava dentro da justiça.
Dize-me pois, alma, se eu reconhecia isto, confessando uma verdade
que a razão humana não pode ignorar ou negar, onde está o juízo dos mortais?
Que pensam eles quando, faltando-lhes alguma coisa que cobiçam e talvez não
lhes convém, entristecem-se e enfurecem-se uns contra os outros, e se irritam com
Deus, como se Dele estivessem recebendo algum agravo? Perguntem-se a si
mesmos: - Que tesouros e riquezas possuíam antes de receberem a vida? Que
serviços prestaram ao Senhor para lhe serem devidas?
Se o nada não pode granjear senão o nada, nem merecer a existência
que do nada lhe deram, que obrigação há de se lhe conservar por justiça, o que
lhe foi dado gratuitamente? A criação do homem não foi benefício que Deus fez a
si mesmo, mas foi muito grande para a criatura, pelo ser e fim a que é destinada.
Se, com a existência, contraiu a dívida que jamais poderá pagar, diga-me: que
direito alega agora para que, tendo-lhe sido dada a vida sem a merecer, lhe dêem
a conservação dela, depois de tantas vezes a desmerecer? Onde tem o documento
de garantia e abono para que nada lhe falte?
O pecado priva o homem de todos os direitos
358. Se a sua origem já constituiu dívida com que se empenhou, como
pede com impaciência o mais a que não tem direito? Se, apesar de tudo isto, a
suma bondade do Criador lhe proporcionou graciosamente o que necessita,
porque se perturba quando lhe falta o supérfluo? .
Pelo que lhes nega com justiça, e às vezes por grande misericórdia,
inquietam-se, revoltam-se e o procuram por meios injustos e ilícitos, e se
precipitam atrás do mesmo perigo que deles foge.
Com o primeiro pecado que o homem comete, perdendo a amizade de
Deus, perde juntamente a amizade de todas as criaturas. Se o mesmo Senhor
não as impedisse, todas se voltariam para vingar a ofensa do Criador, e negariam
ao homem as operações e obséquios com que lhe sustentam a vida. O céu o privaria
de sua luz e influências, o fogo de seu calor, o ar lhe negaria a respiração e
todas as outras coisas, a seu modo, fariam o mesmo, porque assim seria justo.
Quando, pois, a terra lhe negar seus frutos, os elementos seu controle e
atividade, e as outras criaturas se armarem para vingar os desacatos contra o
Criador (Sb 5, 18), humilhe-se o homem desagradecido e vil. Não entesoure a ira
do Senhor (Rm 2, 5) para o dia infalível das contas, quando o ajuste se tomará
tão assustador.
Humildade e alegria nas privações
359. Tu, minha amiga, foge de tão pesada ingratidão e reconhece humildemente
que de graça recebeste a vida, e de graça te é conservada pelo Autor
dela. Sem méritos recebes gratuitamente todos os outros benefícios. Recebendo
tanto e pagando tão pouco, cada dia te fazes menos digna deles c, à medida que
cresce contigo a liberalidade do Senhor, aumenta a tua dívida para com Ele. Quero
que esta consideração seja contínua em lhe mover muitos atos de virtude.
Se as criaturas irracionais te faltarem, quer ele que você no Senhor,
agradeças por elas e a elas abençoes, porque obedecem
ao Senhor. Quando as racionais te perseguirem, ama-as de todo o coração, e
estima-as como instrumento da justiça divina que, de algum modo, a satisfazem pelo
que lhe deves. Abraça-te com os trabalhos e alegra-te com as adversidades e tribulações
que, além de mereceres por tuas culpas, são adorno da alma e jóias muito ricas de
teu Esposo.
Observância na vida religiosa
360. Esta foi a resposta de tua dúvida. Agora quero dar a doutrina que
prometi para cada um dos capítulos. Considera a pontualidade de minha santa mãe
Ana em cumprir o preceito da lei do Senhor, a cuja grandeza muito agradou
esta solicitude. Deves imitá-la, guardando inviolaveimente todos e cada um dos
mandatos de tua Regra e Constituições, porque Deus remunera liberalmente esta
fidelidade, enquanto da negligência se ofende.
Concebida sem pecado, não me era necessário ir pedir ao sacerdote para
ser purificada pelo Senhor. Minha mãe tampouco tinha pecado, porque era muito
santa. Entretanto, obedecemos à lei com humildade, e com isso merecemos
grande aumento de virtudes e graças.
Desprezar as leis justas e bem ordenadas, dispensá-las a cada passo, prejudica
o culto e temor de Deus, altera e destrói a boa ordem da organização humana.
Guarda-tc dc dispensar facilmente, quer para ti, quer para as outras,
as obrigações da vida religiosa. Quando a enfermidade ou alguma justa causa o
exigir, seja, com medida, conselho de teu confessor e aprovação da obediência,
justificando o fato diante de Deus e dos homens. Se te encontrares cansada e sem
forças, não mitigues logo o rigor, que Deus te sustentará segundo tua fé. Por
ocupações nunca dispenses; dá preferência ao mais importante, e mais ao
Criador do que às criaturas.
Sendo superiora terás menos desculpa ainda, pois na observância das
leis deves ser a primeira a dar o exemplo.
Para ti jamais hão de valer motivos humanos, ainda que algumas vezes os leves
em consideração para tuas irmãs e súditas. Lembra-te, caríssima, que de ti
quero o melhor e mais perfeito, razão deste rigor, porque a observância dos
preceitos é dívida para com Deus e os homens. Ninguém pense que basta justificar-
se diante do Senhor, se diante do próximo continuar em falta, pois a este
se deve dar bom exemplo, e evitar matéria e ocasião de escândalo.
- Rainha e Senhora de toda a criação, eu quisera conseguir a pureza e
virtude dos espíritos angélicos, para que a parte inferior que oprime a alma (Sb 9,
15) fosse dócil em praticar esta celestial doutrina. Sou pesada a mim mesma (Jó
7, 20), porém, com a vossa intercessão e a graça do Altíssimo procurarei obedecer
à vossa vontade e à sua santíssima, com prontidão e afeto de coração. Não
me falte vossa intercessão, amparo e o ensinamento de vossa santa e altíssima
doutrina.
O QUE O FILHO DE DEUS PRATICOU EM SEU INTIMO DA PARTIDA DO EGITO ATE A CHEGADA A NAZARE
A ORDEM DE RETORNO
Morto Herodes e cessado inteiramente o morticínio dos inocentes, agradeci ao Pai, que com tão elevada Providência se dignara por termo aquela ingente perseguição. O dileto Pai ordenou-me então que voltasse a Nazaré minha pátria, querendo que eu estabelecesse ali residência. Adorei as ordens divinas e agradeci-lhe a enorme bondade de se dignar chamar-me novamente do exílio e fazer-me voltar a pátria. Em semelhante ocasião supliquei-lhe que, pela mesma bondade, se dignasse reconduzir a si àquelas almas quo, exiladas do Paraíso por causa da culpa, vivem no mal de seus cruéis inimigos e estão na escravidão do demônio. Por graça particular, não só as chamasse de novo de tão misera escravatura, mas além disso Ihes tirasse todas as ocasiões a as impedimentos que se interpõem para obstacularizar-Ihes o retorno amizade com Ele e ao estado de vida perfeita. O Pai prometeu-me faze-lo. E de fato o executa com providencia paterna. enquanto muitas almas deixam a escravidão do demônio a do pecado por esta divina providencia. Muitas, contudo, não o fazem, visto que efetivamente não o querem. Agradeci ao Pai por tudo o quo se dignara dispor em proveito a para a salvação de meus irmãos. Alegrava-me muito par aqueles que retornam a sua amizade a verdadeira liberdade de filhos diletos. Sentia a mesma tempo grande pesar par aqueles que preferiam permanecer na própria miséria a escravidão. Via tudo isso. Oferecia esta minha alegria a este meu pesar ao Pai, em virtude do que eu sentia, pedia lhe se dignasse dar aqueles que se convertiam nova graça a fim de não mais se afastarem dela. Aqueles que permaneciam em misera escravidão, se dignasse chama-los novamente com voz mais poderosa e auxílios mais válidos, usando também para com quem não dava ouvidos ao seu amoroso convite e a sua paterna Providencia, as violências e os castigos próprios para fazê-los cair em si mesmos, a fazerem, por causa das ameaças e para se libertarem dos castigos, o que não queriam fazer par amor. Vi que meu Pai tudo faria bem, com grande misericórdia.
Via ainda a obstinação de muitos, que não teriam dado ouvidos nem aos benefício, nem aos castigos: sentia grande pesar. Consolava-me, porém, porque muitos se converteriam do próprio erro e retornariam ao Pai. Por este motive agradecia de novo ao Pai. Tendo-me Ele já assinalado sua vontade acerca de minha partida daquela nação, transmiti a este respeito aviso à José, por meio de um anjo. Louvei a adorei esta paterna providência a disposição divina, a pedia a que se portasse de medo semelhante com mais irmãos. Ao querer uns vez chamar ao estado de grata a alguma alma, por divina misericórdia, desse ajudar e fazê-la voltar a e fazê-la retornar a sua pátria, que é o Paraíso, prevenisse a quem pudesse ajudar a voltar a ele, fizesse com as divinas inspirações que executasse sua vontade, como fez José que logo me reconduziu a Nazaré para cumprir a vontade divina. O Pai prometeu-me fazer tudo isso e eu lhe rendi as devidas graças também por parte de meus irmãos.
ALEGRIA E CONFORMIDADE DE MARIA E JOSÉ
Ouvida a ordem divina, José logo Preveniu a sua esposa e juntos se alegraram de terem de retornar à pátria, Renderam graças ao meu Pai e com a mesma conformidade com a qual haviam recebido a ordem de partir de sua pátria, receberam a ordem de voltar para lá. Coisa semelhante fiz eu em relação ao Pai, e ofereci-lhe a pronta obediência deles e a conformidade a sua vontade, unidas às minhas e pedi-lhe que em virtude delas, se dignasse inserir no coração de todos os meus irmãos semelhante conformidade em todas as coisas, tanto prósperas como adversas. Suplicava-lhe que recebesse minhas ofertas em suplência aqueles que não sabem acomodar-se ao querer divino, e só obedecem e se conformam com a vontade divina no que lhes satisfaz, mas nas situações adversas se portam com grande dureza e não querem submeter-se às disposições divinas.
Meu Pai acolheu com grande contentamento estas minhas ofertas e recebeu a satisfação relativa àquela dureza e pouca conformidade de meus irmãos. Fez-me ver ainda. como por aquelas minhas súplicas e ofertas daria a todos os meus irmãos nova graça para se poderem conformar em tudo com as suas divinas disposições e obedecerem prontamente a sua vontade. Eu já via que muitos se serviriam da graça agindo virtuosamente, portando-se como filhos obedientes e submissos à vontade do Pai celeste. Disto me alegrei muito, agradeci ao Pai e impetrei-lhes graça maior. Via ainda que muitos se mostravam nessa questão cada vez mais duros e pertinazes, sem dar importância alguma á graça concedida por meu Pai; afligia-me por isso e rogava ao Pai que retirasse de mim a satisfação devida por causa da dureza deles: suplicava-lhe que usasse de misericórdia para com eles, não desistisse de dar sua graça para que, prevenidos por ela, finalmente se rendessem a sua vontade e ás divinas disposições. O Pai prometia-me fazê-lo para consolar-me naquelas aflições. Na verdade, muitos por fim, reconhecendo seu erro, emendar-se-iam e entregar-se-iam a tudo o que a respeito deles dispunha o Pai. Agradeci-lhe mais uma vez esta nova graça e misericórdia que usava para com eles por minha causa, bendizia-o e louvava a sua infinita bondade em condescender em tudo o que eu reclamava dele para benefício de meus irmãos e para sua maior glória.
A DESPEDIDA
Antes de partir, a querida Mãe e José se despediram de alguns amigos. Freqüentemente vinham visitar minha Mãe para serem por ela instruídos, atraídos pelo odor de suas raras virtudes. Não podiam apartar-se dela. A querida Mãe os confortou, animou e exortou à perseverança na adoração do verdadeiro Deus e firmeza na fé ensinada por ela. Assegurou-lhes continua proteção, e pediu-me que os abençoasse e impetrasse-lhes de meu Pai as graças necessárias à eterna salvação. Filo com todo amor e benignidade. Desfazia-se em pranto os seus corações, visto que, iluminados por luz superior, reconheciam de algum modo o grande mérito da querida Mãe e sabendo que não a teriam mais, para sempre, não podiam consolar-se e aceitar tamanha perda. Ofereci ao Pai aquelas lágrimas e aflição de seus corações e pedi-lhe se dignasse consolá-los e assisti-los sempre com graça particular.
Roguei-lhe conceder idêntico sentimento a todos os meus irmãos em ocasiões semeIhantes; tendo conhecimento de que não hão de perder sua santa graça e a de minha querida Mãe, por meio do pecado, sintam aquela dor e arrependimento que verdadeiramente devem sentir. Com isto cheguem a livrar-se de tão grande desgraça, isto é, conhecendo o mal, possam libertar-se dele e não Ficar privados de sua graça e da proteção de minha querida Mãe. Pedia-lhe se dignasse ter cuidado particular de toda aquela nação. Uma vez que eu havia estado ali todo aquele tempo, e em vista da caridade de alguns deles para comigo. se dignasse iluminá-la e fazer com que se convertesse e reconhecesse o verdadeiro Deus. Supliquei ainda não permitisse que aquela casa, onde havia habitado. fosse receptáculo de seus inimigos: tendo sido já consagrada e santificada pela minha permanência, ficasse sempre no estado em que eu a deixava e todos os que lá entrassem tossem iluminados e ficassem persuadidos das verdades eternas; os que lá ingressassem com fim reto, fossem confortados e animados à perseverança na fé, o infiel se convertesse, e a quem queria ficar na infidelidade não lhe fosse permitido ali entrar. Tudo me concedeu o Pai. Obtido isso. pedi-lhe ainda que se dignasse conceder graça idêntica a todas as almas, nas quais estabeleci morada. isto é, que se tornem incapazes de dar asilo ao Inimigo, o pecado, Já estando santificadas por minha continua permanência nelas. Quem tratar com as mesmas, fique iluminado e confirmado na fé e na verdade, de maneira a poder afirmar: Esta alma é verdadeiramente habitação de Deus e nela se encontra a graça divina! Instrua-se com a palavra dela e aprenda através dos seus exemplos. O Pai amoroso prometeu fazê-lo com grande liberalidade. Efetivamente, não deixa de realiza-lo, enquanto uma alma fiel, onde estabeleci morada por meio da graça e do amor, se torna uma consolo, serve de exemplo para todos, ilumina qualquer um que trate com ela, e persuade-o, porque verdadeiramente aquela alma é trono da Sabedoria divina e nela habito. Se muitas, depois de terem sido durante longo tempo habitação minha, são ocupadas por meus inimigos, Isto sucede porque elas efetivamente o querem á força e não porque meu Pai não lhes conceda graça para se conservarem no estado no qual, por sua Infinita bondade, as havia colocada Ao ver que muitas haveriam de cair, sentia dor insofrível, e ofereci este imenso pesar ao Pai, suplicando-lhe que, em virtude deste, se dignasse iluminá-las para que conhecessem o próprio erro, lhes desse simultaneamente tanta graça que pudessem voltar ao primitivo estado. Por ser-lhes coisa muito difícil de conseguir, fiz novas instancias ao Pai e roguei-lhe com súplicas reiteradas, de modo que, finalmente, condescendeu o querido e benigno Pai, e prometeu-me quanto eu lhe pedia, apesar de que muitas abusariam até desta nova graça. Agradeci-lhe por aquelas que a aproveitariam e supliquei-lhe ter piedade das míseras que dela abusavam.
AGRADECE AO PAI. BENÇÃO.
Havendo chegado o dia marcado para a partida. Pus-me de Joelhos em terra: juntaram-se a mim a dileta Mãe e José. e assim agradeci ao Pai todas as naquele graças que naquele lugar me havia dispensado, os cuidadas paternos que me dedicara a mim, à querida Mãe e a Jose, por sua providência em conservar-nos e governar-nos com tão grande amor. Agradeci-lhe por todos os benefícios que havia feito àquela nação por meu intermédio, e como Já se cumprira a sua promessa de chamar ao Egito para salvar aquele povo. Roguei-lhe dar paterna assistência a todos aqueles que criam nele e conceder-lhes tanta virtude e graça que pudessem converter os outros e reconduzi-los à adoração do verdadeiro Deus Agradeci-lhe ainda em nome de todos daquela nação, por se ter dignado mandar-me para lá, a fim de habitar no meio deles. Desconhecendo eles o benefício singular, deixavam de dar a meu Pai a devida glória, faltando ao conveniente agradecimento: o isto supri por parte de todos. Recebeu o Pai minhas ofertas e condescendeu aos meus rogos. prometendo-me o que lhe pedia; mostrando ter por meu intermédio todo o agrado a que almejava, declarava-se satisfeito em relação a lodos os meus irmãos, por aquilo que eu fazia em nome e lugar deles. Pedia-lhe a bênção, como Filho em tudo submisso e obediente. Rogava-lhe abençoasse minha querida Mãe e seu esposo José. Fê-lo com a plenitude de sua graça. Obtido isto, roguei-lhe se dignasse realizar coisa semelhante em favor de todos os meus irmãos, quando se encontrassem em idêntica situação, isto é, cumprissem a sua vontade e obedecessem às suas ordens. Por Ele abençoados, tudo lhes sairia com perfeição e executariam a vontade do Pai perfeitamente para sua maior glória e proveito deles e para alcançarem o prêmio preparado aos verdadeiros obedientes e aos que praticam as suas obras com toda a perfeição requerida. O Pai prometeu-me realizar tudo isso, e com grande liberalidade. Dai. quem se mostra esquivo à obediência e à execução de sua vontade, fica privado de sua bênção, como ainda do prêmio, e causa desgosto a meu Pai, o qual não deve ser desgostado, nem contraditado, seja o que for que possa acontecer no mundo; e ainda a custo da própria vida devem meus irmãos obedecer-lhe em tudo, agradar-lhe pela prática perfeita daquilo que Ele requer. Via, porém, que muitos nisto falhariam; sentia grande pesar e oferecia, em suplência, mi-nhas ações, nas quais muito se comprazia o dileto Pai_ Agradecia-lhe por esta complacência, como também agradecia-lhe em lugar daqueles que lhe dão prazer e executam perfeitamente suas ordens e divinos mandamentos.
Tomo 2 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo_compressed-30
Tomo 2 Vida Intima de Ns Senhor Jesus Cristo_compressed-31
Parte 1`Parte2Parte3
12-28
Dezembro 6, 1917
Por que a Jesus jamais podem agradar os atos feitos fora de seu Querer.
(1) Depois de ter recebido Jesus no sacramento, estava dizendo: "Beijo-te com o beijo de teu
Querer, Tu não estás contente se te dou somente meu beijo, senão que queres o beijo de todas
as criaturas, e eu por isso te dou o beijo em teu Querer, porque nele encontro todas as
criaturas, e sobre as asas de teu Querer tomo todas as suas bocas e te dou o beijo de todos, e
enquanto te beijo, te beijo com o beijo de teu amor, a fim de que não com meu amor te beije,
senão com teu mesmo amor, e Tu sintas o contentamento, as doçuras, a suavidade do teu
mesmo amor nos lábios de todas as criaturas, de modo que atraído por teu mesmo amor, te
forço a dar teu beijo a todas as criaturas". Mas quem pode dizer as minhas loucuras que dizia
ao meu amável Jesus? Então meu doce Jesus me disse:
(2) "Minha filha, como me é doce ver, sentir a alma em meu Querer; sem que ela o perceba se
encontra nas alturas de meus atos, de minhas orações, do modo como Eu fazia estando sobre
esta terra, se põe quase a meu nível. Eu em meus pequenos atos encerrava todas as criaturas,
passadas, presentes e futuras, para oferecer ao Pai atos completos em nome de todas as
criaturas, nem sequer um respiro de criatura me escapou de ficar fechado em Mim, de outra
maneira o Pai poderia ter encontrado exceções em reconhecer as criaturas e todos os atos
delas, por não ter sido feitos por Mim nem saído de Mim, e poderia ter-me dito: "Não fizeste
tudo nem por todos, tua obra não está completa, não posso reconhecer a todos porque não a
todos os reincorporaste em Ti, e Eu quero reconhecer só o que fizeste Tu". Por isso na
imensidão de meu Querer, de meu amor e poder, fiz tudo e por todos. Então, como posso
gostar das demais coisas, por mais belas que sejam, fora de meu Querer?
São sempre atos baixos e humanos e limitados; em troca os atos em meu Querer são nobres, divinos, sem
termo, infinitos, qual é meu Querer, são semelhantes aos meus e Eu lhes dou o mesmo valor,
amor e poder de meus mesmos atos, os multiplico em todos, Estendo-os a todas as gerações, a
todos os tempos. Que me importa que sejam pequenos, são sempre meus atos repetidos e
basta; e além disso, a alma se põe em seu verdadeiro nada, não na humildade, na qual sempre
se sente algo de si mesma, e como nada entra no Todo e obra Comigo, em Mim e como Eu,
toda despojada de si, não prestando atenção nem ao mérito nem ao interesse próprio, mas toda
atenta em dar-me satisfação, dando-me domínio absoluto em seus atos, sem querer saber o
que faço com eles, só um pensamento a ocupa, viver em meu Querer, pedindo-me que lhe dê
tal honra. Eis por que a amo tanto, e todas as minhas predileções, meu amor, são para esta
alma que vive em meu Querer; e se amo as demais é em virtude do amor com que amo esta
alma e que descende dela, tal como o Pai ama as criaturas em virtude do amor com que me
ama a Mim".
(3) E eu: "Como é certo o que Tu dizes, que em teu Querer não se quer nada, nem se quer
saber nada. Se se quer fazer algo é só porque o fizeste Tu, sente-se o desejo ardente de repetir
as tuas coisas, todo o resto desaparece, não se quer fazer mais nada!".
(4) E Jesus: "E Eu a faço fazer tudo, e lhe dou tudo".
13-30
Novembro 4, 1921
A santidade na criatura deve ser entre ela e Jesus, Ele, dando a sua Vida e como fiel
companheiro comunicando-lhe a sua Santidade, e ela como fiel e inseparável companheira recebendo-a.
(1) Sentia-me toda fundida com meu doce Jesus, e ao vir me lancei em seus braços,
abandonando-me toda n'Ele como a meu centro; sentia uma força irresistível de estar em seus
braços e meu doce Jesus me disse:
(2) "Minha filha, é a criatura que busca o seio de seu Criador e repousar em seus braços. É teu
dever vir aos braços do teu Criador e repousar naquele seio de onde saíste, porque tu deves
saber que entre a criatura e o Criador correm muitos fios elétricos de comunicação e de união,
que a tornam quase inseparável de Mim, desde que não tenha se subtraído de meu Querer,
porque subtrair-se não é outra coisa que romper os fios de comunicação, despedaçar a união; a
Vida do Criador, mais que eletricidade corre na criatura e ela corre em Mim, minha Vida está
aspergida na criatura; ao criá-la encadeei minha sabedoria a sua inteligência, a fim de que não
fosse outra coisa que o reflexo da minha, e se o homem chega a tanto com sua ciência, que da
o inacreditável, é o reflexo da minha que se reflete na sua; se seu olho é animado por uma luz,
não é outra coisa que o reflexo de minha luz eterna que se reflete em seu olho.
(3) Entre as Divinas Pessoas não temos necessidade de falar-nos para entender-nos, na
Criação quis usar a palavra e disse Fiat, e as coisas foram feitas; a este Fiat atava e dava o
poder para que as criaturas tivessem a palavra para entender-se. Assim, também as vozes
humanas estão ligadas como fios elétricos à minha primeira palavra, da qual todas as demais
descendem; e, enquanto criei o homem, o animei com o meu fôlego, infundindo-lhe a vida, mas
nesta vida que lhe infundi coloquei toda minha Vida segundo a capacidade humana podia
conter, mas tudo pus, não houve coisa minha da que não o fizesse partícipe. Olha, também a
sua respiração é o reflexo da minha respiração, com a qual dou vida contínua, e a sua reflete-se
na minha e sinto-o continuamente em Mim.
Vê então quantas relações há entre a criatura e Eu, por isso a amo muito, porque a vejo como meu parto,
exclusivamente meu. E depois, como enobreci a vontade do homem?
Acorrentei-a com a minha, dando-lhe todas as minhas
prerrogativas, libertei-a como a minha, e se ao corpo tinha dado duas pequenas luzes,
limitadas, circunscritas, que partiam da minha luz eterna, à vontade humana a fiz toda olho.
Então, quantos atos a vontade humana faz, tantos olhos pode dizer que possui, ela olha para a
direita e para a esquerda, para frente e para trás, e se a vida humana não está animada por
esta Vontade, não fará nada de bem; eu ao criá-la lhe disse: "Você será minha irmã na terra,
meu Querer do Céu animará o seu, estaremos em contínuos reflexos, e o que eu farei é por
natureza e você por graça de meus contínuos reflexos; seguirei como sombra, não te deixarei
jamais. Ao criar a criatura minha única finalidade foi que ela fizesse em tudo o meu Querer, com
isto queria dar à existência novos partos de Mim mesmo; queria fazer dela um prodígio
portentoso, digno de Mim e tudo semelhante a Mim; Mas, ai de Mim, a primeira a se opor a Mim
devia ser a vontade humana!
Olhe um pouco, todas as coisas se fazem entre dois: você tem um
olho, mas se não tivesse uma luz exterior que te iluminasse nada poderia ver; você tem mãos
mas se não tivesse as coisas necessárias para formar os trabalhos nada faria, e assim de todo
o resto. Agora, assim quero a santidade na criatura, entre ela e Eu, entre dois, Eu por um lado e
ela por outro, Eu a dar a minha Vida e como fiel companheiro a comunicar-lhe a minha
santidade, e ela como fiel e inseparável companheira a recebê-la. Assim, ela seria o olho que
vê, e eu o sol que lhe dou a luz; ela a boca, e eu a palavra; ela as mãos, e eu que lhe forneço o
trabalho para operar; ela o pé, e eu o passo; ela o coração, e eu o batimento. Mas sabe quem
forma esta santidade? Minha Vontade, é a única que mantém em ordem a finalidade da
Criação, a santidade em meu Querer é a que mantém o perfeito equilíbrio entre criaturas e
Criador, porque são as verdadeiras imagens saídas de Mim".
14-28
Maio 12, 1922
A santidade no Divino Querer: Não fazer nada próprio, mas fazer o que Deus faz.
(1) Estava pensando entre mim: "Quem sabe em que o ofendi, que meu doce Jesus não vem
segundo seu costume? Como pode ser possível que, sem razão alguma, a bondade do seu
Santíssimo Coração, que facilmente cede a quem o ama, deva resistir a tantas chamadas
minhas?" Agora, enquanto estas e outras coisas pensava, saiu de meu interior, cobrindo-me
toda sob um manto de brilhantíssima luz, de modo que eu não via outra coisa que luz, e me disse:
(2) "Minha filha, de que temes? Olha, para te fazer estar segura e bem defendida, circundei-te
sob este manto de luz, a fim de que nenhuma criatura, nem nada te possa fazer mal, e além
disso, por que queres perder tempo com pensar que me ofendeste? Para quem vive em meu
Querer, o veneno da culpa não entrou, e além disso teu Jesus te fulminaria se te visse ainda
com pequenas manchas de pecados e te colocaria fora do cerco de minha Vontade, e você
perderia rapidamente a atitude de obrar em meu Querer.
Ah! filha, a santidade em meu Querer
ainda não é conhecida; cada espécie de santidade tem seu distintivo especial, muitos, ao ouvir
que venho tão freqüentemente a ti se admiram, não tendo sido meu costume fazê-lo com outras
almas. A santidade em meu Querer é inseparável de Mim, e para elevar a alma ao nível divino
me é necessário tê-la, ou ensimesmada com minha Humanidade, ou na luz de minha
Divindade, de outra maneira como poderia ter a alma a atitude de seu obrar em meu Querer, se
o meu agir e o seu não fosse um só? Agora, a alma que vive em meu Querer toma parte em
todos meus atributos e junto Comigo corre em cada ato meu, portanto deve correr Comigo
mesmo nos atos de justiça. Eis por que quando quero castigar-te oculto minha Humanidade, a
qual é mais acessível à natureza humana, e tu aos reflexos da minha Humanidade sentes o
amor e a compaixão que tenho pelas almas, e me arrancas os flagelos com os quais quero
castigá-las, mas quando elas fazem tanto que me obrigam a castigá-las, escondendo-te minha
humanidade te elevo na luz de minha Divindade, que, absorvendo-te e fazendo-te feliz nela, tu
não sentes os reflexos da minha humanidade, e Eu ficando livre castigo às criaturas, assim que,
ou te manifesto a minha humanidade fazendo-te convergir junto Comigo aos atos de
misericórdia para com as criaturas, ou absorvo-te na luz da minha Divindade fazendo-te
concorrer aos atos de justiça. É sempre Comigo que estás, aliás, quando te absorvo na luz de
minha Divindade, é maior a graça que te faço, e tu porque não vês minha Humanidade te
lamentas de que te privo de Mim, e não aprecias a graça que recebes".
(3) E quando eu ouvi que ele estava fazendo justiça, com medo, eu disse: "Meu amor, agora
que você está punindo as criaturas derrubando as casas, eu estou junto com você para fazer
isso? Não, não, o Céu me poupe de tocar meus irmãos! Quando Tu quiseres castigá-los eu me
farei pequena em teu Querer, não me difundirei Nele, para não tomar parte no que fazes Tu; em
tudo quero fazer o que Tu fazes, mas nisto de castigar as criaturas, não, jamais".
(4) E Jesus: "Por que te assustas? No meu Querer não podes eximir-te de fazer o que faço Eu,
a coisa é conatural e é propriamente esta a santidade no meu Querer, não fazer nada próprio,
senão fazer o que faz Deus. E além disso, minha justiça é santidade e amor, é equilibrar os
direitos divinos; se não tivesse a justiça faltaria toda a plenitude da perfeição a minha
Divindade, assim que se você quer viver em meu Querer e não quer tomar parte nos atos de
justiça, a santidade feita em meu Querer não teria seu pleno cumprimento, são duas águas
fundidas juntas, em que uma está obrigada a fazer o que faz a outra; ao contrário, se estão
separadas, cada uma faz seu caminho. Assim minha Vontade e a tua são as duas águas
fundidas juntas, e o que faz uma deve fazer a outra, por isso sempre na minha Vontade te
quero".
(5) Então me abandonei toda em sua Vontade, mas sentia grande repugnância pela justiça, e
meu doce Jesus retornando me disse:
(6) "Se soubesses como me pesa usar a justiça e quanto amo as criaturas. Toda a Criação é
para Mim como o corpo à alma, como a casca ao fruto, Eu estou em contínuo ato imediato com
o homem, mas as coisas criadas me ocultam, como o corpo esconde a alma, mas se não fosse
pela alma o corpo não teria vida, assim se me retirasse das coisas criadas todas ficariam sem
vida, assim que em todas as coisas criadas Eu visito ao homem, o toco e lhe dou a vida: Estou
escondido no fogo e o visito com o calor, se Eu não estivesse, o fogo não teria calor, seria fogo
desenhado e sem vida, e enquanto Eu visito o homem no fogo, ele não me reconhece nem me
dá uma saudação. Estou na água e o visito com tirar-lhe a sede, se Eu não estivesse, a água
não tiraria a sede, seria água morta, e enquanto eu o visito, ele me passa por diante sem me
fazer nem uma inclinação.
Estou escondido no alimento e visito ao homem com dar-lhe a
substância, a força, o gosto, se Eu não estivesse, o homem tomando o alimento ficaria em
jejum, não obstante, ingrato, enquanto se alimenta de Mim me volta as costas. Estou escondido
no sol e o visito com minha luz quase a cada instante, mas ingrato me corresponde com
contínuas ofensas. Em todas as coisas o visito, no ar que respira, na flor que perfuma, na brisa
quue refresca, no trovão que cai, em tudo; minhas visitas são inumeráveis, vê quanto o amo? E
você estando em minha Vontade está junto Comigo em visitar ao homem e em dar-lhe a vida,
por isso não se assuste se alguma vez concorrer à justiça".
15-28
Junho 10, 1923
Para viver no Divino Querer, a porta para entrar é a Humanidade de Jesus. Ofício de vítima, e que significa ser deposto.
(1) Estava me lamentando com meu doce Jesus por suas privações, e pensava entre mim: "Quem
sabe qual será a causa pela qual não virá? E se é verdade, como alguma vez me fez entender, que
não vem pelos castigos, pois pelo estado de vítima no qual me tem, ao vir, e devendo-me
comunicar as penas pelo ofício que tenho, sente-se debilitar os braços, e como a justiça quer
castigar, Pois a criatura a força a isso, por isso não vem, então, se assim for, melhor me tirar do
estado de vítima contanto que venha, pouco me importa todo o resto, o que me interessa é Jesus,
minha vida, meu tudo, todo o resto é nada para mim". Agora, enquanto isto e outras coisas
pensava, meu doce Jesus movendo-se em meu interior, e pondo seu braço no meu pescoço me
disse:
(2) " Minha filha, o que dizes? Tirar-te do ofício? Você não sabe o que significa perder o domínio,
perder o direito de mandar, não poder dispor de mais nada, porque quando uma pessoa está em
ofício pode sempre dispor: Se é juiz pode julgar, tem o direito de estabelecer a condenação e
também de absolver, ou pode ser que por dias ou semanas ele não exerça seu ofício porque não
se apresenta a ocasião, mas apesar disso ele recebe seu pagamento, mantém seus direitos e
assim que se apresentam os réus ou os inocentes, ele em seu posto de juiz defende e condena,
mas se for destituído perde todos os direitos e se reduz à inabilidade; assim de todos os outros
ofícios, por isso é melhor aceitar estar privada de Mim alguma vez, antes de querer ser deposta de
seu ofício, de outra maneira perderá também o direito de fazer perdoar em parte os merecidos
flagelos, e se te parece que pela falta das penas por alguns dias você não faz nada, estar em seu
ofício é sempre alguma coisa, e o que não faz um dia, com o vir a ti, encontrando-te no teu ofício,
podes fazê-lo outro dia.
(3) E isto não é tudo, é a última parte; a parte mais essencial é que para viver em meu Querer, a
porta para entrar, o primeiro anel de união é minha Humanidade, foi Ela a primeira e verdadeira
vítima, que por ofício dado a Mim por meu Celestial Pai, viveu sacrificada e completamente
crucificada na Divina Vontade, e em virtude da Potência de meu Eterno Querer pôde multiplicar
minha Vida por todos e por cada um, e assim como com a potência de um só Fiat multiplicava
tantas coisas criadas, dando a cada criatura o direito de as fazer próprias, assim a potência de
minha Vontade multiplicava uma só Vida, a fim de que cada um me tivesse para si só por ajuda,
por defesa, por refúgio, como eu gostaria; esta é toda a grandeza, o bem, o todo, a distância infinita
entre o viver em meu Querer ou viver em modo diverso, mesmo que seja bom e santo:
Multiplique um ato em tantos atos por quantos se queiram, suficientes para quantos queiram desfrutá-los. '
Agora, se te tirasse do ofício, não só não ocuparias meu ofício sobre a terra, e não estando em
minha Humanidade, que apesar de que fez muito, conseguindo tanto bem ao homem, mas não
retirei os direitos, a honra, o decoro a minha justiça, quando requeria castigar justamente ao
homem me resignava; assim, faltando-te o anel de união não poderia viver em meu Querer,
perderias o domínio, teus atos passariam a simples intenções, e quando dizes: „Meu Jesus, em teu
Querer te amo, te bendigo, te agradeço por todos, me luto por cada uma das ofensas, etc.', não
voariam sobre cada um dos atos humanos para fazer-se ato de cada ato humano, amor por cada
amor que me deveriam dar as criaturas, não seguirias todos meus atos que estão em meu Querer,
ficarias atrás, no máximo seriam intenções pias que podem fazer algum bem, mas não atos por
todos que possam dar vida e que contenham a potência de nossa Vontade criadora, porém
quantas vezes não me dizes: Já que me chamaste no teu Querer não me deixes para trás, oh!
Jesus, faz com que Contigo siga os atos da Criação para te corresponder pelo amor que puseste
em todas as coisas criadas, aquelas da Redenção e aquelas da Santificação, a fim de que onde
quer que estejam os teus atos, o teu amor, esteja a correspondência do meu. E agora queres que
te deixe para trás?"
(4) Eu fiquei confusa e não soube o que responder. O bom Jesus dispõe do que lhe agrada, e tudo
seja para sua glória.
16-28
Novembro 8, 1923
Assim como Jesus ao vir à terra aboliu e aperfeiçoou as leis antigas para estabelecer as novas, assim agora com a santidade do "Fiat Voluntas Tua".
(1) Suas privações continuam, no máximo vem como um relâmpago fugitivo, que enquanto parece
que queira fazer luz, fica um mais escuro que antes. Agora, enquanto nadava na amargura de sua
privação, meu doce Jesus se fazia ver em meu interior todo ocupado em escrever, não com pena,
mas com seu dedo, que enviando raios de luz, lhe servia essa luz como pena para escrever no
fundo da minha alma; eu queria dizer-lhe quem sabe quantas coisas da minha pobre alma, Mas
ele, levando o dedo à boca fazia-me compreender que me calasse, que não queria ser distraído.
então, depois de que terminou me disse:
(2) "Filha do meu Supremo Querer, estou escrevendo em sua alma a lei da minha Vontade e o bem
que Ela leva. Primeiro quero escrevê-la em tua alma, e depois pouco a pouco te explicarei".
(3) E eu: "Meu Jesus, quero dizer-te o estado da minha alma, oh! como me sinto mal, diz-me, por
que me deixa? o que devo fazer para não te perder?"
(4) E Jesus: "Não te aflijas minha filha. Tu deves saber que quando vim à terra, vim a abolir as leis
antigas, outras a aperfeiçoá-las, mas com aboli-las não me isentei de observar aquelas leis, aliás,
observei-as no modo mais perfeito, como não o faziam os outros, mas tendo de unir em Mim o antigo
e o novo, quis observá-las para dar cumprimento às leis antigas, colocando-lhes o selo da abo-
lição e dar início à nova lei que eu vim para estabelecer sobre a terra, lei de graça e de amor, na
qual encerrava todos os sacrifícios em Mim, que devo ser o verdadeiro e o único sacrificado,
portanto todos os outros sacrifícios não eram mais necessários, porque sendo Eu Homem e Deus, era
mais que suficiente para satisfazer por todos.
(5) Agora minha querida filha, querendo fazer de ti uma imagem mais perfeita de Mim e dar
princípio a uma santidade tão nobre e Divina, qual é o Fiat Voluntas Tua como no Céu assim na terra,
quero concentrar em você todos os estados de ânimo que houve até agora no caminho da
santidade, e como você os passa e os sofre, fazendo no meu Querer, Eu lhes dou o cumprimento, os
coroo e embelezando-os ponho o selo. Tudo deve terminar em minha Vontade, e onde as outras
santidades terminam, a santidade de meu Querer sendo nobre e divina, as tem por escabelo a todas e
dá a ela seu princípio, por isso deixa-me fazer, faz-me repetir minha Vida, e o que fiz na Redenção
com tanto amor, agora com mais amor quero repetir em ti, para dar início a que minha Vontade,
suas leis, sejam conhecidas, mas quero tu querer unido e perdido no meu".
17-27
Janeiro 4, 1925
Todo o Céu vai ao encontro da alma que se funde na Vontade de Deus, e todos querem depositar nela seus bens. Como se forma o nobre martírio da alma.
(1) Transcorrido todo o dia, estava pensando entre mim: "Que mais me resta fazer?" E no meu
íntimo ouvi-me dizer:.
(2) "Você tem que fazer a coisa mais importante, seu último ato de fundir-se na Vontade Divina".
(3) Então pus-me, segundo o meu costume, a fundir todo o meu pobre ser na Vontade Suprema, e
enquanto isso fazia me parecia que se abrissem os céus e eu ia ao encontro de toda a corte
celeste e todo o Céu vinha a meu encontro, e meu doce Jesus me disse:.
(4) "Minha filha, fundir-te na minha Vontade é o ato mais solene, maior, mais importante de toda a
tua vida. Fundir-te em minha Vontade é entrar no âmbito da eternidade, abraçá-la, beijá-la e
receber o depósito dos bens que contém a Vontade Eterna; Aliás, enquanto a alma se funde no
Supremo Querer todos vão ao seu encontro para depor nela tudo o que têm de bens e de glória; os
anjos, os santos, a mesma Divindade, todos depõe, sabendo que colocando naquela mesma
Vontade tudo está seguro. A alma ao receber estes bens, com suas ações na Vontade Divina os
multiplica e dá a todo o Céu dupla glória e honra, assim que com o fundir-se em minha Vontade
põe em movimento Céu e terra, é uma nova festa para todo o empírico. E, como fundir-se na minha
Vontade é amar e dar por todos e por cada um, sem excluir a ninguém, a minha bondade, para não
me deixar vencer por amor da criatura, ponho nela os bens de todos, e todos os bens possíveis
que em Mim contenho; não pode faltar o espaço onde colocar todos os bens, porque minha
Vontade é imensa e se presta a receber tudo. Se você soubesse o que faz e o que acontece com o
fundir-se em minha Vontade, te derreteria pelo desejo de fundir-se continuamente".
(5) Depois estava pensando se devia ou não escrever o que está escrito aqui em cima, eu não o
via necessário, nem uma coisa importante, muito mais porque a obediência não me havia dado
nenhuma ordem de fazê-lo. Então meu doce Jesus se movendo dentro de mim me disse:
(6) "Minha filha, como não é importante fazer saber que fundir-se na minha Vontade é viver nela?
A alma recebe como depósito todos os meus bens divinos e eternos; os mesmos santos competem
para depor os seus méritos na alma fundida na minha vontade, porque sentem nela a glória, a força
da minha vontade, e sentem-se glorificados de modo divino pela pequenez da criatura. Escuta
minha filha, viver em minha Vontade supera em mérito ao mesmo martírio; aliás, o martírio mata o
corpo, viver em minha Vontade é fazer com uma mão divina, que a própria vontade fique morta, e
lhe dá a nobreza de um martírio divino. E cada vez que a alma se decide a viver em minha
Vontade, meu Querer prepara o golpe para matar a vontade humana e assim forma o nobre
martírio da alma, porque vontade humana e Vontade Divina não fazem aliança juntas, uma deve
ceder o posto à outra, e a vontade humana deve contentar-se em permanecer extinta sob a
potência da Vontade Divina, assim que cada vez que te dispõe a viver em meu Querer, te dispõe a
sofrer o martírio de sua vontade. Veja então o que significa viver, fundir-se em minha Vontade: „Ser
o mártir continuado de minha Vontade Suprema. 'E a você parece pouco e coisa de nada?".
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