Luzes inéditas
CAPITULO 20 - Tomo I
OS NOVE MESES DA GRAVIDEZ DE SANT'ANA. ATOS DE MARIA SANTÍSSIMA E SUA MÃE DURANTE ESSE TEMPO
A contemplação da Virgem jamais se interrompeu
312. Concebida Maria Santíssima sem pecado original - como fica dito -
naquela primeira visão que recebeu da Divindade, seu espírito ficou absorto e
atraído por aquele objeto de seu amor. No estreito tabernáculo do seio materno, desde
o primeiro instante em que foi criada, sua alma ditosíssima começou o que continuaria
sem interrupção durante a vida mortal, e prosseguiria na suprema glória que goza a destra de seu Filho Santíssimo,
agora e por toda a eternidade.
Da primeira visão da Santíssima Trindade, redundaram-lhe espécies infusas de outras coisas criadas, inspirando-lhe
muitos atos de virtudes que então podia exercer.
Para que fosse sempre crescendo na contemplação e amor divino, renovou-Ihe o Senhor a graça daquela manifestação
abstrativa de sua Divindade mais duas Vezes. Deste modo, antes de nascer, teve s vezes aquele gênero de visão: uma no
instante em que foi concebida, outra pela Metade dos nove meses, e a terceira um dia antes de seu nascimento.
Não se pense que, por não lhe ser contínua esta espécie de visão, lhe haja faltado outra inferior, mas altíssima, com a
qual via a Deus pela fé e por especial iluminação.
Este modo de contemplação foi incessante em Maria Santíssima, superior à contemplação que tiveram todos os
viadores juntos.
A alma de Maria, independente dos sentidos corporais
313. Apesar de não ser alheia ao estado de viadora, aquela visão abstrativa
da Divindade era elevadíssima e imediata à visão intuitiva. Não poderia ser contínua
para quem devia merecer a glória intuitiva por outros atos. Não obstante, constituía
sublime benefício da graça para esse fim, porque deixava impressa na alma espécies
do Senhor, elevava-a e absorvia toda no incêndio do divino amor.
Estes afetos eram renovados na alma de Maria Santíssima por essas visões
enquanto esteve no seio de Sant*Ana.
Disto resultou que, possuindo uso da razão e ocupando-se em contínuas petições pelo gênero humano, em atos heróicos de
reverência, adoração, amor de Deus e trato com os anjos, não sentiu a sua natural prisão. Não lhe fez falta o uso dos sentidos,
nem lhe foram mortificantes os naturais gravames daquele estado. Nada percebeu, estando mais em seu amado, do que no seio
materno e em si mesma.
Oração de Maria antes de nascer
314. Na última destas visões, recebeu novos e mais admiráveis favores do
Senhor, que lhe manifestou haver chegado o tempo de sair à luz do mundo para conviver com os mortais.
Obedecendo à divina vontade, disse a Princesa do céu: - Deus altíssimo e Senhor de todo meu ser, alma de minha
vida e vida de minha alma, infinito em atributos e perfeições, incompreensível e rico em misericórdias, Rei e Senhor meu;
do nada me destes o ser que tenho sem ter merecido, me enriquecestes com os tesouros de vossa divina graça e luz
para que logo conhecesse vosso Ser imutável e divinas perfeições, e conhecendo-vos fosseis o primeiro objeto de
minha vista e amor, para não procurar outro bem fora de Vós, sumo e verdadeiro bem. todo meu consolo.
Mandais-me, Senhor meu, que saia à luz material e convívio com as criaturas;
em vosso mesmo ser, onde tudo se conhece como em claríssimo espelho, vi o perigoso estado da vida mortal e suas
misérias. Se nela - por minha frágil natureza - hei de faltar um só instante ao vosso serviço e amor e assim morrer, morra aqui,
agora, antes de passar ao estado onde vos possa perder.
Se no entanto, Senhor meu, vossa vontade há de se cumprir, enviando-me ao tempestuoso mar deste mundo, suplico-
vos, altíssimo e poderoso bem de minha alma, governeis minha vida, guieis meus passos, e torneis todas as minhas ações
conforme ao vosso maior agrado. Ordenai em mim a caridade (Ct 2, 4) para que convosco e com o uso das criaturas ela se
aperfeiçoe. Conheci em vossa visão a ingratidão de muitas almas e temo, com razão pois sou da mesma natureza, cometer a
mesma culpa.
Nesta estreita prisão do seio de minha mãe gozei dos espaços infinitos de vossa Divindade, aqui possuo todo o
bem que sois Vós, meu amado; sendo agora Vós só a minha herança (SI 72,26) não sei se fora deste encerramento a
perderei, na visão de outra luz e no uso de meus sentidos. Se fosse possível e conveniente renunciar ao exercicio da
vida que me aguarda, de boa vontade o faria e dela me privaria; porém não se faça a minha vontade, mas a vossa. E
como assim o quereis, dai-me vossa bênção para nascer e não afasteis de mim, no século onde me pondes, a vossa
divina proteção.
Feita esta oração pela amável menina Maria, o Altíssimo lhe deu sua bênção e mandou-a vir à luz deste sol
visível, instruindo-a sobre o que deveria fazer, em cumprimento de seus desejos.
SantAna durante a gravidez
315. A feliz mãe Sant*Ana passava o tempo da gravidez toda
espiritualizada, com divinos efeitos e suavidades espirituais. Entretanto, para
maior coroa e segurança de sua próspera navegação, ordenou a Providência que
levasse algum lastro de trabalhos, porque sem eles não se colhem em abundância os frutos da graça e do amor.
Para melhor entender o que sucedeu a esta matrona santíssima, deve-se advertir que o demônio, depois de haver
sido precipitado do céu com seus maus anjos nas penas eternas, andava sempre solícito, observando e espreitando as
mais santas mulheres da antiga lei. Queria encontrar aquela cujo sinal vira (Ap 12, 1; Gn 3, 15) e cujo pé o havia de
pisar, esmagando-lhe a cabeça.
Tão ansiosa era a indignação de Lúcifer, que nestas diligências não se fiava só de seus inferiores. Auxiliado por
eles, ele mesmo vigiava e rodeava dentre algumas mulheres virtuosas, as que mais se distinguiam nas virtudes e graça do
Altíssimo.
O demônio desconfia de SantAna
316. Com esta maligna astúcia notou muito a extrema santidade da grande matrona Ana, em tudo quanto podia
perceber que nela se passava. Ainda que não pôde conhecer o valor do tesouro que seu ditoso seio encerrava, porque o
Senhor lhe ocultava este e outros mistérios, sentia desprender-se da santa uma grande força contra ele.
A impossibilidade de penetrar a causa daquela virtude, punha-o perturbado e sufocado em furor. As vezes
sossegava um pouco, julgando que aquela gravidez procedia da mesma ordem e causas naturais das outras, e não havia
novidade para temer. O Senhor o deixava enganar-se com a própria ignorância, e andar flutuando nas ondas de sua soberba
indignação.
Apesar disso, seu perverso espírito escandalizava-se de ver tanta serenidade em SantAna, e talvez sabia
que era assistida por muitos anjos. Acima de tudo despeitava-se com a fraqueza que sentia no resistir à força que emanava
da bem-aventurada SantAna, pelo que suspeitava que tal fato não procedia dela apenas.
O demônio tenta SantAna
317. Perturbado o dragão com estes receios, determinou tirar a vida à ditosíssima Ana, e se não fosse possível,
procuraria ao menos que viesse a ser mal sucedida no parto. Tão destemida era a soberba de Lúcifer que
acreditava poder vencer ou tirar a vida - se não lhe fosse oculta - daquela que seria Mãe do Verbo humanado, e até ao
próprio Messias redentor do mundo.
Baseava esta suma arrogância em sua natureza angélica, superior em poder e capacidade à humana, como se a graça
não fosse superior a ambas, e como se não estivessem subordinadas à vontade de seu Criador.
Com esta audácia animou-se a tentar SantAna com muitas sugestões, sobressaltos e dúvidas sobre a realidade
de sua gravidez, representando-lhe a tardança desta, e sua avançada idade.
Tudo isto fazia o demônio para explorar a virtude da Santa, e ver se o efeito destas sugestões lhe abriria uma
brecha por onde pudesse entrar e assaltar-lhe a vontade com algum consentimento.
Outros ardis do demônio
318. A corajosa matrona, porém, resistiu a estes golpes varonilmente, com humilde fortaleza, paciência, contínua
oração e viva fé no Senhor. Deste modo desvaneceu os fabulosos enredos do dragão, e os transformou em maiores
aumentos da graça e proteção divina.
Além dos grandes merecimentos que a santa mãe acumulava, defendiam-na os anjos que guardavam sua Filha
santíssima e expulsavam os demônios de sua presença.
Mas nem por isto desistiu a insaciável malícia do inimigo e, como sua arrogância e soberba excede-lhe a fortaleza,
procurou valer-se de meios humanos, pois com tais instrumentos sempre se promete maiores vitórias.
Procurou fazer desabar a casa de S. Joaquim e Sant'Ana para alterá-la com o susto. Como, impedido pelos anjos,
não o pôde conseguir, irritou umas mulherzinhas, conhecidas de Sant'Ana, para brigarem com ela. Assim o fizeram
com grande ira, injuriando-a com palavras descomedidas e contumeliosas. Entre estas, mofaram muito de seu estado de
gravidez, dizendo-lhe que tal coisa, depois de tantos anos de idade, não passava de embuste do demônio.
Incita criaturas contra SantAna. Não se alterou Sant'Ana com esta tentação. Com toda mansidão e
caridade suportou as injúrias, afagou a quem lhas fazia, e daí em diante nutriu por aquelas mulheres maior afeição e lhes
fez mais extensos benefícios. A ira delas, entretanto, não se abrandou logo, por tê-las o demônio dominado com aceso
ódio pela santa.
Uma vez que alguém se entregue a este cruel tirano, ele cobra mais forças para dominar a quem se lhe sujeita.
Incitou aqueles maus instrumentos para mover algum atentado contra a pessoa e a vida de Sant'Ana.
Não puderam, contudo, executá-lo, porque a virtude divina tomou mais débeis e ineptas as fracas forças daquelas
mulheres, e nada puderam fazer contra a Santa. Pelo contrário, foram vencidas pelas suas admoestações, e convertidas
com suas orações ao conhecimento e emenda de suas vidas.
SantAna vence todas as tentações
320. Com isto ficou vencido o dragão, mas não capitulou. Valeu-se de uma criada que servia ao santo casal, e
a irritou contra Sant'Ana, de sorte que esta veio a ser pior que as outras mulheres, por ser inimigo doméstico e portanto
mais pertinaz e perigoso.
Não me detenho em referir o que o inimigo intentou por meio desta criada, por ter sido quase o mesmo das outras
mulheres, ainda que com maior moléstia e risco da santa matrona. Com o favor divino, porém, alcançou vitória desta
tentação mais gloriosamente que das outras.
Não dormitava o guarda de Israel na custódia de sua santa cidade, (Sl 120, 4) e a mantinha guarnecida com
numerosas sentinelas. as mais valentes de sua milícia. Afugentaram Lúcifer e seus ministros, para não molestarem mais a
ditosa mãe. que aguardava o felicíssimo parto, já próximo, da Princesa do céu, e para ele se preparava com os atos heróicos
das virtudes e merecimentos adquiridos nesses combates.
Eu também desejo o fim destes capítulos para ouvir a salutar doutrina de minha Senhora e Mestra. Ainda que me
administra tudo quanto escrevo, a mim mais me convém sua maternal admoestação, e assim a aguardo com sumo gozo e
júbilo de meu espírito.\
A escritora pede esclarecimento à Virgem
321. Falai, portanto. Senhora, que vossa serva ouve (Gn 18,17). Se me derdes licença, ainda que sou pó e cinza, apresentarei
uma dúvida que se me deparou neste capítulo, pois em todas me remeto à vossa benevolência de Mãe, Mestra e Senhora minha.
A minha dúvida é a seguinte: Sendo vós Senhora de toda a criação, concebida sem pecado e com tão alto conhecimento
de todas as coisas na visão da Divindade que vossa alma santíssima gozou, como podiam ser compatíveis com
estas graças os grandes temores e ânsias que sentíeis para não perder a amizade de Deus e não o ofender?
Se no primeiro instante de vosso ser fostes prevenida com a graça, como mesmo antes de existir já temies perdê-la?
Se o Altíssimo vos eximiu da culpa, como podíeis cair em outras e ofender quem vos guardou da primeira?
DOUTRINA E RESPOSTA DA RAINHA DO CEU.
322. Minha filha, ouve a resposta a tua dúvida.
Ainda que na visão da Divindade, no primeiro instante houvera conhecido minha inocência e que estava concebida sem pecado, estes benefícios e dons do
Altíssimo são de tal natureza que, quanto mais certeza e conhecimentos comunicam, tanto maior cuidado e atenção despertam
para conservá-los e não ofender seu Autor que, unicamente por sua bondade, os concede às criaturas.
Trazem consigo tanta convicção de que se derivam unicamente do alto, pelos méritos de meu Filho Santíssimo, que
fazem a criatura conhecer apenas a própria indignidade e insuficiência.
Levam-na a entender, claramente, estar recebendo o que não merece, bens alheios que não pode atribuir a si mesma.
Compreende que seu dono e causa suprema, assim como liberalmente os concede, também pode tirá-los e os dar a quem quiser.
Daqui, forçosamente, nasce a solicitude e cuidado de não perder o que se recebeu gratuitamente, e o desvelo para
conservá-lo fazendo render o talento (Mt 25,16). Entende-se que este é o único meio para não perder o depósito, dado à criatura
para que o faça frutificar, trabalhando na glória de seu Criador. Zelar por este fim é condição necessária para conservar os
benefícios da graça recebida.
Temor para não perder a graça
323. Além disso, ali se conhece a fragilidade da natureza humana, e sua vontade livre para fazer o bem e o mal.
Este conhecimento não me foi tirado pelo Altíssimo, que dele não priva ninguém enquanto é viador. Deixa-o em todos,
como convém para os arraigar no santo temor de não cair em culpa, ainda que seja pequena.
Em mim esta luz foi maior, porque compreendi que uma pequena falta dispõe para outra maior, e a segunda é
castigo da primeira.
Verdade é que, pelos benefícios e graças que o senhor havia prodigalizado à minha alma, não me era possível
cair em pecado. Sua providência, porém, de tal modo dispôs este benefício, que me ocultou a segurança absoluta de não
pecar. Conhecia que, só por mim, era possível cair, e somente dependia da divina vontade o não fazê-lo.
Deste modo, reservou para si o conhecimento de minha impecabilidade, e a mim, viadora, deixou o santo temor
de pecar, que desde minha concepção até a morte não perdi, antes crescia com a passagem do tempo.
Amor e temor
324. Deu-me também o Altíssimo discrição e humildade para não inquirir nem examinar este mistério. Somente
atendia em confiar na sua bondade e amor com que me assistiria para não pecar.
Daqui resultavam dois efeitos necessários à vida cristã: um, manter a tranqüilidade da alma e outro não perder
o temor e desvelo de guardar seu tesouro.
Como o temor era filial, não diminuía meu amor, antes o aumentava. Amor e temor produziam em minha alma harmonia
divina para ordenar todas as minhas ações, afastar-me do mal e unir-me ao sumo bem. 1
Sinais do bom espírito
325. Amiga minha, o meio mais certo de provar as coisas espirituais é ver se trazem a verdadeira luz e sã doutrina; se
ensinam a maior perfeição das virtudes, e com grande energia estimulam a procurá-la.
Estes são os efeitos que acompanham os dons que descem do Pai das luzes: dão segurança, produzindo humildade; humilham
sem levar à desconfiança; com a confiança comunicam solicitude e desvelo,
e com a solicitude, tranqüilidade e paz, para que nenhum destes sentimentos embaracem o cumprimento da vontade divina.
Quanto a ti, oferece humilde e fervoroso agradecimento ao Senhor por ter sido tão liberal contigo, havendo-o tu
obrigado tão pouco. Ilustrou-te com sua divina luz, abriu-te o arquivo de seus segredos e te preveniu com o temor de perder sua graça.
Usa, porém, do temor com medida e excede-te mais no amor. Com estas duas asas eleva-te acima do que é terrestre e de
ti mesma. Procura afastar logo qualquer exagerado sentimento, que te leve ao excessivo temor. Entrega teu interesse ao
Senhor e assume o d*Ele como se fosse o teu.
Teme, até que sejas purificada de tuas culpas e ignorâncias: ama o Senhor até seres toda transformada nele, e em tudo
seja Ele o dono e árbitro de tuas ações, e tu de nenhuma.
Não te fies de teu próprio juízo, nem sejas sábia contigo mesma (Pr 3,7). 0 próprio ditame deixa-se facilmente cegar
pelas paixões que o arrastam consigo para arrebatar a vontade. Daqui se vem a temer o que não se deveria temer, e empreender
o que não convém.
Não te deixes levar por qualquer leve gosto interior; duvida e teme até que com solícita serenidade, encontres em tudo o meio conveniente.
Encontrá-lo-ás sempre, se te sujei tares à obediência de teus prelados e ao que o Altíssimo te ensinai e fizer contigo.
Ainda que os fins desejados sejam bons, todos devem ser conferidos com a obediência c conselho, pois sem esta orientação, costumam terminar deformados
e sem proveito. Em tudo hás de procurar o mais santo e perfeito.
VÍDEO DA AULA
AFLIÇÕES DE JESUS E DE MARIA.
Ficava as vezes muito aflito, ao ver como reinava a iniqüidade sobre a terra, como meu Pai era por todos tão gravemente ofendido, e prorrompia em copioso pranto. Oferecia as lágrimas e a dor destas ofensas ao Pai, e pedia-lho se dignasse impedir a enchente da iniquidade e da malícia, que corria precipitosa à guisa de uma torrente a inundar o mundo inteiro, submergindo até o fundo toda espécie de pessoas, isto, de todo sexo e de todo idade. Minha querida Mãe estava muito angustiada ao ver me assim aflito e lacrimoso. Eu volvia es olhos para ela e no intuito de consolá-Ia falava-lhe com afeto e dizia-lhe: "Somente vós, cara Mãe, entre tantas angústias, trazei me consolo ao Coração, porque sois a única perfeita, sempre inocente e santa, portanto, somente vós sois sempre minha amiga isenta da culpa original.¨ Com tais palavras consolava a querida Mãe e aliviava também a minha humanidade, oprimida de pesar e dor.
Oferecia aquela pena ao Pai, e pedi-lhe inserisse no peito e na mente de todos os meus irmãos idêntico sentimento de pesar pelas ofensas que fazem contra a Divina Majestade. Pedia-lhe igualmente que, assim como eu encontrava muita consolação ao encontrar minha Mãe dileta e tratar com ela. Ele se dignasse fazer o mesmo favor a todas as almas aflitas, isto é, inspirar-lhes que fossem também ao encontro da oração à minha Mãe e recorressem a ela em vista do serem também consoladas; ao recorrerem à ela, encontrassem nela todo conforto e consolação. O Pai prometeu fazê-lo e o fez. Sem dúvida ninguém, por mais aflito e atribulado que esteja, ao recorrerem e ela com fé e amor, ficarão sem achar o consolo esperado e muito mais ainda. Agradecia ao Pai por isso, em nome de todos, máxime por aqueles Ingratos que encontram em Maria todo consolo e graça e não rendem depois graças e meu Pai, embora saibam muito bem que toda graça lhes vem de suas divinas mãos.
AO VESTIR A TÚNICA
Tendo chegado a
idade adequada, disse a minha Mãe me tirasse das faixas, tendo já ficado bastante tempo amarrado. Aprouve à Mãe querida cumprir quanto lhe pediram, e pôs-me uma tunicazinha bem pobre que tecera com suas mãos, vestiu-me, ficando eu livre e solto daquelas faixas que, na verdade, se me tornavam muito penosas, por ter inteiro uso da razão e conhecimento perfeito, que só costuma ter um homem de idade. Vestido, juntei as mãos, dobrei os joelhos por terra, agradeci ao Pai por se ter dignado libertar-me daquelas faixas e prover-me de roupa. Fiz nesta ocasião muitas súplicas e numerosas ofertas ao Pai, em prol de meus irmãos. Em primeiro lugar pedia que assim como se dignara libertar-me daqueles laços. se dignasse livrar dos nexos do pecado todas as almas miseráveis, envolvidas em culpas, e depois revesti-las da graça. Em seguida, ofereci-lhe aquele primeiro ato de orar genuflexo em terra e pedia-lhe que, em virtude daquele ato que lhe era tão grato e tão de seu agrado, se dignasse dar virtude a todos os meus irmãos. a fim de poderem exercitar e praticar semelhante ato e maneira de orar, que lhe era tão aceitável e grata. Supliquei não fosse negada qualquer graça a quem lhe pedisse prostrado daquela forma; tanto mais se pedisse em meu nome e por meus méritos. Depois, rezei que se dignasse fazer-me ver todas as nações assim prostradas em sua presença, adorarem-no como verdadeiro Deus e Senhor de todo ❑ criado. A estas minhas súplicas condescendeu benignamente meu Pai e então disse aquelas palavras: "Eis meu Filho muito amado era quem ponho minha afeição", Foram ouvidos só por minha querida Mãe. pois estava ela apenas a assistir a minha pessoa. Logo pedi, como Filho verdadeiro e obediente, licença ao Pai de servir-me de todos os meus membros e sentidos, mas em tudo e por tudo para realizar a sua vontade, o seu serviço, e sua maior glória. O Pai tudo me concedeu, e eu, com sua bênção, me ergui.
OS PRIMEIROS PASSOS
E comecei a dar os primeiros passos, que eram de um menino tenro, e um pouco hesitantes. Ofereci-os ao Pai e supliquei-lhe que, em virtude daqueles passos, formados para sua glória, desse tanta força e virtude a todos os meus irmãos que se encaminhassem para a perfeição, e regessem e regulassem os próprios passos de tal maneira que jamais o fizessem para desagrado de meu Pai em prejuízo da própria alma, mas só para sua glória, a fim de cumprirem a sua vontade e para o próprio proveito espiritual.
AS PRIMEIRAS PALAVRAS
Formei depois as primeiras palavras, em presença de minha querida Mãe e de seu esposo José. Como acontecera com o caminhar, minhas primeiras palavras foram de louvor a meu Pai. Proferia-as com tanta graça e amabilidade, que a Mãe querida e José desfaziam-se em lágrimas de consolação. Depois saudei os dois, e agradeci-lhes tudo o que haviam feito e sofrido por meu amor. Pus-me inteiramente às suas ordens, submetendo-me em tudo e por tudo à obediência a eles. Declarando querer viver sujeito a eles durante todo a tempo que estivesse morando com os mesmos. Retirei-me, em seguida, a sós, para orar. Este era, pois, o meu contínuo exercício, a saber, rezar ao Pai. Oferecia minhas primeiras palavras e aqueles louvores que lhe havia dado, e pedi-lhe que, pelo agrado que elas lhe causaram, se dignasse perdoar a todos os meus irmãos que com este órgão o houvessem ofendido, e se dignasse perdoar, abençoar e santificar as línguas deles. No intuito que não se desatassem para proferir palavras ofensivas a Ele nem ao próximo; por aquelas minhas palavras, a Ele tão agradáveis, se dignasse aplacar-se em relação a meus irmãos, contra os quais muito se irritara pela gravidade das ofensas que recebera, mais por meio deste órgão do que por todos os outros.
O Pai se aplacava, mas fazia-me ver a multidão e a gravidade das ofensas que recebia de meus irmãos desta forma. Oh, esposa minha! Que grande multidão de ofensas recebeu o Pai por meio deste órgão! Na verdade, quase todos a empregam para tudo, menos em vista do fim para o qual o Pai o concedeu. Oh, quanto me afligia esta grande ofensa que faziam e fazem todos os meus irmãos a meu Pai! Vede que, tendo Ele lhes dado o uso da língua para o louvarem, bendizerem, agradecerem-lhe, e ensinarem a todos e agirem de modo semelhante, eles pela contrário, com aquele órgão, ofendem-nos com murmurações, detrações, juramentos. blasfémias, injúrias. etc. Oh! que coisa monstruosa é esta que fazem as criaturas! Oh, quanto, esposa minha, afligia-me a gravidade e a multidão dessas culpas! Chorava copiosamente tal Iniqüidade, oferecia-me e apresentava ao Pai a vontade de eternamente louvar, bendizer, agradecer, e satisfazer em nome de todos e por parte de todos os meus irmãos, que nisto houvessem errado. O Pai aceitava estas ofertas e súplicas, que lhe agradavam muito, e mostrava-se um tanto aplacado para com meus irmãos. Prometia-me suspender o castigo merecido pelas ditas culpas e aguardar a penitência. Com isto, portanto, ia me consolando um pouco, e aplicava-me muito mais a suplicar ao Pai por eles, e a oferecer-lhe todas as minhas obras em satisfação de suas culpas e em impetração de graças.
A ORAÇÃO DE JESUS
Pedia-lhe ainda que, assim como se dignara prover-me daquela pobre roupa com a qual estava vestido, se dignasse revestir as almas com a veste de sua graça, libertando-as primeiro de todo liame de culpa, Era, sem dúvida, esposa minha, coisa maravilhosa, ver-me, menino tão pequenino, coberto daquele vestido, com as mãos juntas, os joelhos em terra, orar ao Pai! Estavam ali admirados os espíritos angélicos: minha dileta Mãe e José se desfaziam em lágrimas, pela compaixão e alegria que experimentavam em olhar-me. Meu Pai, pois, contemplava-me com tanto amor, como um rico tesouro de sua divindade, e como pessoa na qual havia colocado todos os tesouros de sua riqueza e bondade. Frequentemente dizia-me para consolar-me, quando me via naquela postura. tão aflito, triste e humilhado, e repetia-me amiúde: "Pede-me, Filho amado, o que desejas de mim; estou pronto a dar-te tudo o que queres." Dizia-me ainda com frequência as palavras do salmo: "Pede-me: dar-te-ei por herança todas as nações" (SI. 2:8). Estas palavras causaram-me grande consolo_ Eu, então animado pela bondade e liberalidade do Pai, pedia-lhe instantemente a salvação do género humano. O Pai. por sua vez, prometia-me dar tanta graça a todos que pudesse se salvar quem quisesse fazer o que respeita à própria salvação. Fazia-me conhecer bem que não se salva. efetivamente, quem não quer se salvar; não é meu Pai que deixa de dar a todos graça bastante, tendo-a prometido a mim, e fazendo-o com toda a liberalidade. Tanto mais me afligia ver a multidão das almas que abusam da referida graça, a qual eu lhes obtive com súplicas e suspiros. Portanto, elas mesmas São a causa de sua própria perdição. Agradecia ao Pai por sua grande bondade e liberalidade, de novo oferecia-me inteiramente a Ele, e pedia-lhe que se cumprisse a sua vontade já conhecida por mim, a qual consist
ia em que todas as criaturas se salvassem e todas se tornassem perfeitas e santas, Mas, quão pouco se realiza esta vontade de meu Pai, pois a maior parte procura fazer o contrário. Isto me afligia. Consolava-me, porém, com realizar perfeitamente a sua vontade e oferecia-lhe esta minha prontidão de vontade em cumprir tudo o que de mim exigia, em suplência por todos os que não querem de modo algum fazer sua santa vontade, e com isto recusam ao Pai a glória e a honra, e a si mesmos o prémio. Assim ficava meu Pai suficientemente honrado e glorificado por minhas ofertas e só as próprias almas se privavam do mérito e do bem que lhes resultaria se cumprissem a vontade divina.
MÚTUA PRIVAÇÃO
Estando já assim revestido e liberto dos laços das faixas e com liberdade, apartava-me freqüentemente de minha querida Mãe, e a sós punha-me genuflexo a orar. Renunciava à consolação que sentia em estar nos braços da Mãe querida, e além disto privava-a da alegria e consolação de que fruia, quando me sustentava ao colo. Sentia eu, e também ela, grande pesar de ficar sem aquela companhia amável e amada. Mas, a eia renunciava por querer ainda naquela idade tenra sofrer de todos os modos. Assim fazia, porque dava gosto maior a meu Pai. Oferecia-lhe depois aquela minha pena e privação do prazer, em suplência por todos os meus irmãos que, apegados às próprias comodidades e gotos, não sabem jamais abandoná-los e nada querem sofrer para cumprir a vontade de meu Pai, ou para praticar obras virtuosas e santas. Ao se tratar de sofrer qualquer incômodo, ou renunciar a alguma satisfação, não querem saber disso, deixar as obras de piedade e quanto de bom se apresenta para ser feito, privando-se de tão grande bem. Suplicava ao Pai que, em virtude daquilo que eu fazia, concedesse luz e graça a todos para imitarem-me nisto, e eles não dessem tanta atenção ao amor próprio e à própria satisfação. Prometia-me fazer o Pai quanto dele reclamava. De fato, assim vai fazendo, e embora a maioria não dê ouvidos ao que Ele lhes inspira, muitos todavia são os que executam a vontade divina, e servem-se de sua graça, operando admiravelmente tudo o que Ele lhes inspira, para sua maior glória e proveito deles. Alegrava-me muito, ao ver a respeito disso o fruto de minhas súplicas, máxime tantas almas que na mais tenra idade renunciam a todas as comodidades e satisfações para dedicarem-se às obras virtuosas, à oração e à piedade. Agradeci ao Pai por parte delas e pedia-lhe continuasse com a Sua santa graça a enchê-las de bênçãos celestes. Isto me prometia fazer o dileto e amoroso Pai. Pedia-lhe depois quisesse consolar minha querida Mãe e dar-lhe total resignação a sua divina vontade. Ela, de fato, era em tudo sumamente resignada. por aquelas almas que, Oferecia-lhe esta sua resignação em suplência achando-se carentes de algum consolo, por não saberem jamais aquietar-se e entregar-se em tudo e por tudo ao que Deus dispõe, e apegadas ao próprio gosto e satisfação, perturbam-se, inquietam-se e lamentam-se ao se verem disto despojadas. Por esta razão orava muito ao Pai amado que lhes desse a graça e elas se entregassem à vontade do Pai, a fim de não ficarem sem o mérito que em semelhantes situações se adquire. Prometia-me o Pai fazê-lo. Mas em muitas almas, sua graça não causa impressão, porque seguem a própria vontade e estão apegadas em demasia ao próprio gosto.12-26
Novembro 20, 1917
Jesus fará reaparecer a santidade de viver em sua Vontade.
(1) Continuando meu estado ainda mais doloroso, meu sempre amável Jesus vem e foge como
um relâmpago, e não me dá tempo nem sequer de rogar-lhe pelos tantos males que a pobre
humanidade sofre, especialmente minha amada pátria. Que golpe para o meu coração a
entrada dos estrangeiros nela, acreditava que Jesus me havia dito antes para me fazer rezar; e
se ao vir lhe suplico me diz: "Serei inexorável". E se eu insistir dizendo-lhe: "Jesus, não queres
ter compaixão? Não vês como as cidades são destruídas, como as pessoas ficam nuas e
famintas? Ah Jesus, como você ficou duro!" Ele me responde:
(2) "Minha filha, a Mim não me interessam as cidades, as grandezas da terra, senão me
importam as almas. As cidades, as igrejas e tudo o mais, depois de destruídas, se poderão
refazer; no dilúvio, não destruí eu tudo? E depois, e não refez de novo? Mas as almas, se se
perdem é para sempre, não há quem as dê novamente. Ah, Eu choro pelas almas! Através da
terra eles têm desconhecido o Céu, Eu destruirei a terra, farei desaparecer as coisas mais belas
do que como correntes amarram o homem".
(3) E eu: "Jesus, o que dizes?"
(4) E Ele: "Coragem, não te abatas, seguirei em frente; tu vem no meu Querer, vive nele, a fim
de que a terra não seja mais o tua habitação, mas que a tua habitação seja eu mesmo, assim
estarás totalmente seguro. Meu Querer tem o poder de tornar à alma transparente, e então,
como a alma é transparente, o que Eu faço se reflete nela: se Eu penso, meu pensamento s
reflete em sua mente e se faz luz, e o seu como luz se reflete no meu; se olho, se falo, se amo,
etc., como tantas luzes se refletem nela, e ela em Mim, assim que estamos em contínuos
reflexos, em comunicação perene, em amor recíproco, e como Eu me encontro em todas
partes, os reflexos destas almas me chegam no Céu, na terra, nas hóstias sacramentais, nos
corações das criaturas; onde quer que eu dê e luz me envie, amor dou e amor me dão, são os
minhas habitações terrestres onde me refugio das náuseas que me dão as outras criaturas.
Oh! o belo viver em meu Querer, me agrada tanto, que farei desaparecer todas as demais
santidades, sob qualquer outro aspecto de virtude nas futuras gerações, e farei reaparecer a
santidade de viver em minha Vontade, que são e serão não as santidades humanas, mas
divinas, e sua santidade será tão alta, que como sóis eclipsarão as estrelas mais belas dos
santos das passadas gerações, por isso quero purgar a terra, porque é indigna destes portentos
de santidade".
13-27
Outubro 23, 1921
As verdades acerca do Divino Querer, são canais que se abrem desde o mar da Divina
Vontade para proveito de todas as criaturas.
(1) Sentia-me toda imersa no Querer Divino, e meu amável Jesus ao vir me disse:
(2) "Filha de meu Querer, olhe em seu interior como corre pacífico o mar imenso de minha
Vontade, mas não creia que este mar corre em você há pouco tempo só porque agora me ouve
falar freqüentemente de minha Vontade, senão desde muito, muito, sendo meu costume
primeiro fazer e depois falar. É verdade que seu princípio foi o mar de minha Paixão, porque
não há santidade que não passe pelo porto de minha Humanidade; há santos que ficam no
porto de minha Humanidade, outros passam além. Mas depois enxertado imediatamente o mar
da minha Vontade, e quando te vi disposta e me cedeste o teu querer, o meu tomou vida em ti e
este mar corria e crescia sempre, cada ato teu de mais feito no meu Querer era um crescimento
maior; eu pouco te falei disto, mas os nossos amores estavam unidos e compreendiam-se sem
se falar, e além disso, só de nos vermos nos entendíamos. Eu me fazia feliz em você, sentia as
delícias do Céu em nada diferente das que me dão os santos, que enquanto Eu os parabenizo
a eles, eles me parabenizam a Mim; porque estando imersos em meu Querer não podem fazer
menos que me dar alegrias e delícias.
Mas minha felicidade não estava completa, queria que
também meus outros filhos participassem de um bem tão grande, por isso comecei a te falar de
meu Querer num modo de surpreender-te, e por quantas verdades, por quantos efeitos e
valores te dizia, tantos canais abria desde o mar da minha Vontade em favor deles, a fim de que
estes canais dessem água abundante a toda a terra. Meu agir é comunicativo e sempre está em
ação sem jamais deter-se, mas estes canais das criaturas muitas vezes são sujos, em outros
lançam pedras e a água não corre, corre com dificuldade; não é que o mar não queira dar a
água, nem porque não estando limpa possa penetrar em todas as partes, mas que é a parte
das criaturas que se opõe a tão grande bem; por isso se lerem estas verdades e não estiverem
dispostos não entenderão nada, ficarão confundidos e deslumbrados pela luz de minhas
verdades; para os dispostos será luz que os iluminará e água que, tirando-lhes a sede, não
quererão separar-se jamais destes canais pelo grande bem que sentem e pela nova vida que
corre neles.
Por isso também tu deverias estar contente em abrir estes canais em favor de teus
irmãos, não descuidando nada de minhas verdades, nem a menor, porque por mais pequena
que seja pode servir a um irmão teu para tomar água. Por isso, esteja atenta em abrir estes
canais e em contentar o teu Jesus que tanto fez por ti".
14-25
Abril 25, 1922
Milhares de anjos guardam os atos feitos no Querer Divino.
(1) Continuando o meu estado habitual, sentia-me toda imersa no Divino Querer, e o meu doce
Jesus disse:
(2) "Minha filha, assim como o sol não deixa a planta, a acaricia com sua luz, a fecunda com
seu calor, no entanto não produz flores e frutos, e zeloso os faz amadurecer, os conserva com
sua luz e só deixa o fruto quando o agricultor o toma para fazê-lo seu alimento, assim dos atos
feitos em meu Querer, é tanto meu amor, meu zelo por eles, que a graça os acaricia, meu amor
os concebe e os fecunda, os amadurece, coloco milhões de anjos à guarda de um só ato feito
em meu Querer, porque, estes atos feitos no meu Querer , sendo sementes para que a minha
vontade se faça na terra como no céu, todos são zelosos destes atos. O seu orvalho é o meu
alento, a sua sombra é a minha luz, os anjos são arrebatados e venerados, porque vêem nestes
atos a Vontade eterna que merece toda a sua adoração, e estes atos são deixados só quando
encontro outras almas que, tomando-os como frutos divinos, fazem deles alimento para as suas
almas. Oh! a fecundidade e multiplicidade destes atos, a mesma criatura que os faz não pode
numerá-los".
(3) Então pensava entre mim: "Será possível que estes atos sejam tão grandes; e por que os
mesmos anjos ficam arrebatados? E Jesus me apertando mais forte entre seus braços
acrescentou:
(4) "Minha filha, são tão grandes estes atos, que conforme a alma os vai cumprindo, não há
coisa nem no Céu nem na terra que não tome parte, e ela fica em comunicação com todas as
coisas criadas, todo o bem, os efeitos, o valor do céu, do sol, das estrelas, da água, do fogo,
etc., estão não só em contínuas relações com ela, senão que são coisas suas; ela harmoniza
com todo o criado, e o criado harmoniza nela. O que é isso? Porque quem vive em meu Querer
são as depositárias, as conservadoras, as sustentadoras, as defensoras de minha Vontade,
elas prevêem o que quero e sem que Eu o ordene cumprem o que quero, e compreendem a
grandeza, a santidade de meu Querer, zelosamente o guardam e o defendem.
Como não deveriam ficar todos envoltos ao ver estas almas que formam o sustento de seu Deus, em
virtude do prodígio de minha Vontade? Quem pode defender meus direitos senão quem vive em
meu Querer? Quem pode me amar de verdade, com amor desinteressado semelhante ao meu,
senão quem vive em minha Vontade? Sinto-me mais forte nestas almas, mas forte da minha
própria força. Sou como um rei rodeado de fiéis ministros, que se sente mais forte, mais
glorioso, mais sustentado no meio destes seus fiéis ministros do que só; se fica só chora a seus
ministros porque não tem com quem desafogar e a quem confiar a sorte do reino. Assim sou
Eu, e quem pode ser mais fiel do que quem vive em Minha Vontade? Sinto minha Vontade
duplicada, portanto me sinto mais glorioso, desabafo com elas e delas me confio".
15-26
Maio 29, 1923
Deus é sempre o primeiro a agir na alma.
(1) Estava acompanhando meu doce Jesus em suas penas, especialmente nas que sofreu no horto
do Getsémani, e enquanto o compadecia, movendo-se em meu interior me disse:
(2) " Minha filha, o primeiro a formar o trabalho de minhas penas em minha Humanidade foi meu
Pai Celestial, porque só Ele tinha a força e o poder de criar a dor, e de pôr nele quantos graus de
dor se necessitavam para poder satisfazer-se da dívida das criaturas; as criaturas foram
secundárias, porque não tinham nenhum poder sobre Mim, nem virtude de criar a dor por quanta
intensidade queriam. Isto acontece em todas as criaturas, como ao criar ao homem, o primeiro
trabalho tanto na alma como no corpo o fez meu Pai Divino, quanta harmonia, quanta felicidade
não formou com suas próprias mãos na natureza humana? Tudo é harmonia e felicidade no
homem, só a parte externa, quantas harmonias e felicidades não contém?
O olho vê, a boca fala, os pés caminham, as mãos agem e tomam as coisas que há até onde chegaram os pés. Se o olho
pudesse ver e não tivesse a boca para expressar-se, se tivesse os pés para caminhar e não
tivesse as mãos para agir, não seria uma infelicidade, uma desarmonia na natureza
humana? Logo, as harmonias e felicidade da alma humana, a vontade, a inteligência, a memória,
quantas harmonias e felicidade não contêm? Basta dizer que são partes da felicidade e harmonia
do Eterno, Deus criava o verdadeiro Éden pessoal na alma e no corpo do homem, Éden todo
celestial, e depois lhe deu por habitação o Éden terreno; tudo era harmonia e felicidade n
natureza humana, e se bem que o pecado transtornou esta harmonia e felicidade, mas não
destruiu de tudo, todo o bem que Deus tinha criado no homem.
(3) Assim como Deus criou com suas próprias mãos toda a felicidade e harmonia na criatura, assim
criou em Mim todas as dores possíveis para refazer-se da ingratidão humana e fazer sair do mar de
minhas dores a felicidade perdida, e o arranjo à harmonia transtornada. E isto acontece a todas as
criaturas quando devo escolhê-las a santidade distinta ou a desígnios especiais meus, são minhas
próprias mãos que trabalham na alma, e agora crio nelas a dor, agora o amor, agora os
conhecimentos das verdades celestiais; é tanto meu zelo, que não quero que ninguém as toque, e
se permito que as criaturas lhes façam alguma coisa, é sempre em ordem secundária, mas o
primado o tenho Eu e me vou formando segundo meu desígnio".
16-26
Outubro 30, 1923
Quem vive no Divino Querer cresce alimentado pelas chamas de Jesus. A luz da Divina Vontade filtra tudo.
(1) Vivo sempre amarga e com o coração petrificado pela dor da privação de meu doce Jesus,
sinto-me sem vida porque Aquele que é a verdadeira vida não está comigo. Pois, oh! como eu frequentemente repito:
"Diga-me, oh meu único e sumo Bem, para onde você dirigiu seus passos?
E assim eu, seguindo-os, posso encontrá-lo. Ah! Ah! de longe eu beijo aquelas mãos que com tanto
amor me abraçavam e me estreitavam a teu coração; adoro e beijo aquele rosto que com tanta
graça e beleza se fazia ver, e que agora se oculta e está longe de mim, diga-me, onde você está?
Que caminho devo tomar para ir te encontrar? Diga-me o que devo fazer? Em o que te ofendi que
foge longe de mim? me dizia que jamais me deixaria, e agora me Você deixa? A. Ah! Jesus, Jesus,
volta para quem não pode viver sem Ti, para a sua pequena filha, para a pobre exilada". Mas quem
pode dizer todos os lamentos e desatinos que dizia? Enquanto me encontrava nisto, senti perder
os sentidos e via uma pomba, toda fogo, que tremia, e uma pessoa junto com seu hálito ardente
dava à pomba suas chamas para alimentá-la, e impedi-la de tomar outro alimento, tendo-a estrei-
tado e tão perto de sua boca que não podia fazer mais que respirar e absorver as chamas que
daquela saíam, e a pobre pomba sofria e se convertia naquelas chamas pelas que era alimentada.
eu tenho Fiquei maravilhada ao ver isto, e meu doce Jesus movendo-se em meu interior me disse:
(2) "Minha filha, porque receias que te deixe? Deveria deixar-me a mim mesmo para te deixar, e
isso não posso fazer; por quanto potência tenha, não tenho o poder de separar-me de Mim mesmo.
Assim é para quem faz minha Vontade, fazendo-se inseparável de Mim me falta o poder de me se-
parar dela; e não só isto, senão que a vou alimentando com minhas mesmas chamas, não viu
aquela pomba toda fogo? era a imagem de sua alma, e aquele que a alimentava com seu sopro de
fogo era Eu, que tanto me deleito em nutrir a quem vive de meu querer só das chamas que faz sair
do meu coração por meio de meu alento. Não sabe que quem vive em minha Vontade deve ser filtrada
na luz puríssima dela? E ser filtrado é mais que ser posto sob uma prensa,
porque a imprensa, embora faz tudo em pedaços, mas deixa tudo junto, cascas e polpa, que, precipitando-se para
baixo fazem com que fique sempre um pouco turvo. Em vez disso, quando uma coisa é filtrada, em
especial se é filtrada pela fina luz de minha Vontade, não há perigo de que faça depósito de alguma
coisa turva, mas que tudo é claro, semelhante à clareza da luz na qual foi filtrada, e isto é uma
grande honra para a alma que vive em meu Querer, que tudo o que faz, se pensa, se fala, se ama,
etc., minha Vontade toma o trabalho de filtrá-lo na sua puríssima luz, e isto é necessário, a fim de
que em tudo o que faça não haja nenhuma distinção com o que Nós fazemos, mas todas as coisas
devem ser dadas entre elas a mão e a semelhança".
(3) Agora, enquanto dizia isto, encontrei-me fora de mim mesma, dentro de um jardim, e eu, cansa-
da, sentei-me sob uma árvore para descansar, mas os raios do sol me dardejavam de tal maneira
que eu me sentia queimar, e eu queria ir sob outra árvore mais densa, que fizesse mais sombra,
para que o sol não me queimasse, mas uma voz (eu acho que era meu querido Jesus) me impediu
dizendo:
(4) "Quem vive na minha Vontade deve estar exposto aos raios de um sol ardente e eterno para
viver de luz, para não ver outra coisa senão luz, para não tocar senão luz, e isto leva à deificação
da alma; então se pode dizer que a alma vive em minha Vontade, quando fica toda deificada em
Deus. Antes, saia de debaixo dessa árvore e passeie neste paraíso celestial de meu querer, a fim
de que o sol, invadindo-te toda te converta em luz e te dê a última pincelada da deificação em
Deus".
(5) Eu me pus a passear, mas enquanto isso fazia a obediência me chamou em mim mesma.
17-25
Dezembro 8, 1924
Acerca da Imaculada Conceição. Prova à qual foi submetida a Virgem.
(1) Estava pensando sobre a Imaculada Conceição de minha Soberana Rainha Mãe, a minha
mente afluíam os méritos, as belezas e os prodígios de sua Imaculada Conceição, prodígio que
supera todos os demais prodígios feitos por Deus em toda a Criação. Agora, enquanto pensava
isto, dizia entre mim: "Grande é o prodígio da Imaculada Conceição, mas minha Mãe Celestial não
teve nenhuma prova em sua Conceição, tudo lhe foi propício, tanto da parte de Deus como da
parte de sua natureza criada por Deus tão feliz, tão santa, tão privilegiada; então, Qual foi seu
heroísmo e sua prova? Se da prova não foi excluído o anjo no Céu, nem Adão no Éden, acaso só a
Rainha de todos devia ser excluída da auréola mais bela, que a prova devia colocar sobre sua
cabeça augusta de Rainha e de Mãe do Filho de Deus?" Enquanto pensava nisto, o meu amável
Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(2) "Minha filha, ninguém pode ser aceitável a Mim sem a prova. Se não tivesse havido a prova
teria tido uma Mãe escrava, não livre, e a escravidão não entra em nossas relações nem em
nossas obras, nem pode tomar parte em nosso livre amor. Minha Mãe teve sua primeira prova
desde o primeiro instante de sua Concepção, assim que teve seu primeiro ato de razão, conheceu
sua vontade humana por um lado e a Vontade Divina por outro, e foi deixada livre para escolher a
qual das vontades devia aderir, e Ela, sem perder um instante e conhecendo toda a magnitude do
sacrifício que fazia, nos doou sua vontade sem querer conhecê-la mais, e Nós lhe fizemos dom da
nossa, e nesta troca de doação de vontades por ambas as partes, concorreram todos os méritos,
as belezas, os prodígios, os mares imensos de graça na Imaculada Conceição da mais privilegiada
de todas as criaturas.
(3) É sempre a vontade que tenho costume de provar; todos os sacrifícios, mesmo a morte, sem a
vontade me dariam asco e não atrairiam nem sequer um de meus olhares. Mas queres saber tu
qual foi o maior prodígio operado por Nós nesta criatura tão santa, e o maior heroísmo que
ninguém, ninguém poderá jamais igualar de tão bela criatura?
A sua vida começou com a nossa Vontade, seguiu-a e cumpriu-a, assim que se pode dizer que cumpriu desde que começou, e
começou desde que cumpriu; e o nosso maior prodígio foi que em cada pensamento seu, palavra,
respiro, bater, movimento e passo, nosso Querer desabafava sobre Ela e Ela nos oferecia o
heroísmo de um pensamento, de uma palavra, de um respiro, de um palpitar divino e eterno
obrante Nela, isto a elevava tanto, que o que Nós éramos por natureza, Ela o era por graça; todas
as suas outras prerrogativas, os seus privilégios, a sua própria Imaculada Conceição, teriam sido
um belo nada em comparação com este grande prodígio; pelo contrário, foi isto que a confirmou e a
tornou estável e forte durante toda a sua vida. Minha Vontade continua, transbordante sobre Ela,
lhe participava a Natureza Divina, e seu contínuo recebê-la a fez forte no amor, forte na dor, distinta
entre todos. Foi esta nossa Vontade que operou n'Ela que atraiu o Verbo à terra, que formou a
semente da fecundidade divina para poder conceber um Homem e Deus sem obra humana, e a fez
digna de ser Mãe do seu próprio Criador. Por isso Eu insisto sempre sobre minha Vontade, porque
conserva a alma bela como saiu de nossas mãos, a faz crescer como cópia original de seu Criador;
e por quantas obras grandes e sacrifícios um possa fazer, se minha Vontade não entra dentro, Eu
os rechaço, não os reconheço, não é alimento para Mim; e as obras mais belas sem Minha
Vontade chegam a ser alimento da vontade humana, da própria estima e da avidez da criatura"..
19-27
Junho 15, 1926
Assim como o conhecimento deu vida aos frutos da
Redenção, assim dará vida aos frutos da Divina Vontade.
(1) Sentia-me toda cheia de defeitos, especialmente pela grande repugnância que sinto quando se
trata de escrever as coisas íntimas entre Nosso Senhor e eu, é tanto o peso que sinto, que não sei
o que faria para não fazê-lo, mas como a obediência de quem está sobre mim se impõe, Eu
gostaria de me opor, gostaria de dizer minhas razões para não fazê-lo, mas acabo sempre
cedendo. Agora, tendo passado uma oposição semelhante me sentia cheia de defeitos e toda má,
por isso ao vir o bendito Jesus lhe disse:.
(2) "Jesus, minha vida, tem piedade de mim, olha para mim como estou cheia de defeitos e quanta
maldade há em mim".
(3) E Ele todo bondade e ternura me disse:.
(4) "Minha filha, não temas, eu te vigio e estou à guarda de tua alma, a fim de que o pecado, ainda
mínimo, não entre em tua alma, e onde tu ou outros vêem defeitos e maldade em ti, Eu não a
encontro, mas bem vejo que teu nada sente o peso do Todo, porque quanto mais te elevo
intimamente a Mim e te faço conhecer o que quer fazer o Todo do teu nada, tanto mais sentes a
tua nulidade, e quase espantada, esmagada sob o Todo desejarias não manifestar nada e muito
menos pôr no papel o que o Todo quer fazer deste nada, muito mais do que por quanto relutância
você sente, Eu venço sempre e te faço fazer o que quero. Isto aconteceu também à minha Mãe
Celestial quando lhe foi dito: Saúdo-te Maria, cheia de graça, Tu conceberás o Filho de Deus'. Ao
ouvir isso, ela ficou apavorada, tremeu e disse: Como isso pode acontecer?
' Mas ela acabou dizendo: Fiat Mihi Secundum Verbum Tuum'. Ela sentiu todo o peso do Todo sobre seu nada e
naturalmente se assustou. Portanto, quando vos manifesto o que quero fazer de vós, o vosso nada
se espanta; vejo repetir o espanto da Soberana Rainha, e Eu, compadecendo-vos, levanto o vosso
nada, reforço-o, para que possa resistir para sustentar o Todo. Por isso, não pense nisso, mas
pense em fazer com que o Tudo em você seja feito".
(5) Depois estava fazendo meus acostumados atos no Querer Supremo, abraçando tudo e todos
para poder levar ao meu Criador os atos de todos como um ato só; agora, enquanto isso fazia, meu
doce Jesus saiu de dentro de mim, e abraçando tudo junto comigo, se unia comigo fazendo o que
eu fazia, e depois todo amor me disse:.
(6) "Minha filha, amo tanto os atos feitos em meu Querer, que eu mesmo tomo o empenho de
guardá-los na unidade de minha luz suprema, de modo a torná-los inseparáveis de Mim e de meus
mesmos atos. Se tu soubesses como sou zeloso destes atos, como me glorificam em modo todo
divino, pode-se dizer que cada um destes atos é uma nova festa que se inicia em toda a Criação e
em toda a Pátria Celestial; onde quer que se encontra minha Vontade, estes atos, correndo nela
como raios de luz, trazem novas alegrias, festas e felicidade, estes atos são as alegrias, a festa e a
felicidade que forma a criatura na Vontade de seu Criador, e te parece pouco que a criatura possa
formar e levar a festa, a alegria, a felicidade ao seu Criador, e por todos os lugares onde reina a
nossa Vontade? Isto sucedeu à minha Mãe Rainha, Ela, porque operou sempre na unidade da luz
do Querer Supremo, todos os seus atos, o ofício de Mãe, os direitos de Rainha, ficaram
inseparáveis do seu Criador, assim é verdade, que a Divindade quando faz sair fora os atos da
bem-aventurança para fazer feliz a toda a Pátria Celestial, faz sair junto todos os atos da Mãe
Celestial, assim que todos os santos se sentem investidos não só de nossas alegrias e bem-
aventuranças, mas são também revestidos pelo amor materno da sua Mãe, pela glória da sua
Rainha e por todas as suas obras, que se tornaram alegrias para toda a Jerusalém celeste, Assim
que todas as fibras do seu coração materno amam com amor de mãe todos os filhos da Pátria
Celestial, e os faz partícipes em todas as alegrias de Mãe e a glória de Rainha. Assim que Ela foi
Mãe de amor e de dor na terra para seus filhos, que lhe custaram tanto, quanto lhe custou a Vida
de seu Filho Deus, e em virtude da unidade da luz do Querer Supremo que possuía, seus atos
permaneceram inseparáveis dos nossos; é Mãe de amor no Céu, de alegrias e de glória para todos
os seus filhos celestiais, assim que todos os santos têm um amor maior, glória e alegrias de mais
pela virtude de sua Mãe e Soberana Rainha. “Por isso, amo tanto a quem vive em minha Vontade
que Eu me abaixo até ela para fazer junto com ela o que ela faz, para elevá-la até o seio do Eterno,
para fazer um seu ato com seu Criador".
(7) Depois disto fiquei pensando na bendita Vontade de Deus, e muitas coisas giravam em minha
mente, que não é necessário dizê-las, e meu doce Jesus, voltando acrescentou:.
(8) "Minha filha, o triunfo de minha Vontade está unido com a Criação e com a Redenção, pode-se
chamar triunfo único; e assim como uma mulher foi a causa da ruína do homem, depois de quatro
mil anos uma Virgem mulher foi a causa de que, fazendo nascer dela a minha humanidade unida
ao Verbo Eterno, deu o remédio à ruína do homem caído. Agora o remédio do homem está
formado, e só minha Vontade deve ficar sem seu pleno cumprimento, enquanto Ela tem seu ato
primeiro tanto na Criação como na Redenção? Eis por que depois de outros dois mil anos
escolhemos outra virgem como triunfo e cumprimento de nossa Vontade. Assim que nossa
Vontade, formando seu Reino em tua alma e fazendo-se conhecer, com este conhecimento te deu
a mão para te elevar a viver na unidade de sua luz, de modo de formar tua vida nela e que Ela
forme sua Vida em ti, e tendo formado em ti seu domínio, forma a conexão para comunicar seu
domínio às outras criaturas; e assim como ao descer o Verbo no seio da Imaculada Virgem não
permaneceu só para Ela, senão que formei a conexão de comunicação para as criaturas e me dei a
todas e para remédio de todas;
Assim te sucederá, porque com o ter formado em ti o seu Reino, o
meu Supremo Querer forma as comunicações para fazer-se conhecer às criaturas; tudo quanto te
tenho dito sobre Ele, os conhecimentos que te dei, o modo e o modo de viver no meu Querer, o
fazer-te conhecer como quer, suspira que o homem regresse em seus braços, que volte a entrar
em seu princípio do Querer Eterno de onde saiu, tudo são vias de comunicação, vínculos de união,
transmissão de luz, brisa para fazê-los respirar o ar de minha Vontade, e portanto desinfetar o ar da
vontade humana, e vento impetuoso para apoderar-se e desarraigar as vontades mais rebeldes.
Cada conhecimento que te dei sobre minha Vontade contém uma potência criadora, e o todo está
em pôr fora estes conhecimentos, que a potência que contêm saberá fazer brecha nos corações
para submetê-los a seu domínio. Não aconteceu talvez o mesmo na Redenção? Até quando estive
com minha mãe em minha Vida escondida de Nazaré, tudo se calava em torno de Mim, se bem
que este meu esconderijo junto com a Celestial Rainha serviu admiravelmente para formar a
substância da Redenção, e poder-me anunciar que já estava no meio deles; mas os frutos dela,
quando se comunicaram no meio dos povos?
Quando saí em público, fiz-me conhecer, falei com a
Potência da minha palavra criadora, e conforme tudo o que Eu fiz e disse se divulgou e se divulga
ainda agora no meio dos povos, Assim os frutos da Redenção tiveram e têm seus efeitos. Na
verdade, minha filha, se ninguém tivesse conhecido que Eu vim à terra, a Redenção teria sido uma
coisa morta para as criaturas e sem efeitos; assim que o conhecimento deu a vida aos frutos dela.
Assim será da minha vontade, o conhecimento dará a vida aos frutos da minha vontade e por isso
quis renovar o que fiz na Redenção, escolher outra virgem, estar com ela escondido por quarenta
anos e mais, Afastando-a de todos como dentro de uma nova Nazaré para estar livre com ela e
dizer-lhe toda a história, os prodígios, os bens que há na minha Vontade e assim poder formar em
ti a Vida da minha Vontade.
E assim como, juntamente comigo e com a minha mãe, escolhi São
José, juntamente conosco, como nosso cooperador, guardião e vigilante sentinela de Mim e da
Rainha Soberana, assim pus perto de ti a assistência vigilante dos meus ministros como
cooperadores, tutores e depositários dos conhecimentos, bens e prodígios que há em minha
Vontade, e como Ela quer estabelecer seu reino no meio dos povos, quero por meio de ti depor em
meus ministros esta doutrina celestial, como a novos apóstolos, a fim de que primeiro forme com
eles o anel de conjunção com a minha Vontade, e depois a transmitam entre os povos. Se isto não
fosse, ou não devesse ser, não teria insistido tanto em te fazer escrever, nem teria permitido a
vinda diária do sacerdote, senão que teria deixado todo meu agir entre você e Eu. Por isso seja
atenta e deixe-me livre em você de fazer o que quero"..
(9) Agora, quem pode dizer como fiquei confusa com este falar de Jesus? Fiquei muda e do fundo
do meu coração repetia: "Fiat, Fiat, Fiat"..
20-26
Novembro 19, 1926
Como a Divina Vontade está agonizante no meio das criaturas, e como quer sair deste estado.
(1) Meu sempre amável Jesus, atraindo-me na sua adorável Vontade, fazia-me ver e sentir as
condições dolorosas nas quais a colocam as ingratidões das criaturas, e suspirando de dor disse-
me:
(2) "Minha filha, as penas de minha Vontade Divina são inenarráveis e inconcebíveis à natureza
humana. Ela está em todas as criaturas, mas está sob a opressão de uma tremenda e dilacerante
agonia, porque em vez de lhe dar o poder para fazê-la desenvolver sua vida nelas, a têm reprimida
sem lhe dar liberdade de agir, de respirar, de pulsar.
Assim, a vontade humana trabalha, respira livremente, pulsa como quer, e a minha está só para servi-la, para contribuir a seus atos e estar
agonizante dentro desses atos, sufocada sob o estertor de uma agonia de longos séculos. Minha
Vontade se agita na criatura sob a opressão de uma agonia dilacerante, e sua agitação são os
remorsos de consciência, as desilusões, os reveses, as cruzes, o cansaço da vida e tudo o que
pode dar incômodo às pobres criaturas, porque é justo que tendo elas a uma Vontade Divina na
cruz e sempre sob o estertor da agonia, Ela com seu agitar as chame, não podendo fazer
diversamente porque não tem domínio, quem sabe se entrando nelas mesmas, ao verem a
infelicidade que lhes dá sua má vontade, possam dar um pouco de descanso e de trégua a sua
dolorosa agonia. É tão dolorosa esta agonia da minha Vontade, que a minha humanidade, que a
quis sofrer no jardim do Getsemaní, chegou a buscar ajuda dos meus próprios apóstolos, que não
obteve, e foi tanto o espasmo que suei sangue vivo e sentindo-me sucumbir sob o peso enorme de
uma agonia tão longa e tremenda de minha Vontade Divina, invoquei a meu Pai Celestial que me
ajudasse dizendo-lhe: „Pai, se é possível passe de mim este cálice.‟
Em todas as outras penas da minha Paixão, por quão atrozes, eu nunca disse:
Se é possível passar esta pena'; mas bem sobre
a cruz eu gritei “lugar”, tenho sede de penas. Ao contrário, nesta pena da agonia da Vontade
Suprema senti todo o peso de uma agonia tão longa, todo o rasgo de uma Vontade Divina que
agoniza, que se agita nas gerações humanas. Que dor!
Não há dor que possa igualar. Agora o Fiat Supremo quer sair, está cansado e a qualquer custo quer sair desta agonia tão prolongada, e se tu
ouves de flagelos, de cidades derrubadas, destruições, não são outra coisa que as fortes
sacudidas de sua agonia, porque não podendo mais, quer fazer sentir à família humana seu estado
doloroso e quão fortemente se agita nelas sem que ninguém tenha compaixão, e fazendo violência,
com sua agitação quer fazer sentir que existe nelas, mas que não quer estar mais em agonia, quer
a liberdade, o domínio, quer desenvolver sua Vida nelas. Que desordem minha filha na sociedade
porque não reina minha Vontade! Suas almas são como habitações sem ordem, tudo de cabeça, a
peste é tão horrível, mais que cadáver putrefato, e minha Vontade com sua imensidão que não lhe
é dado retirar-se nem sequer de um batimento de criatura, agoniza em meio a tantos males, e isto
é na ordem geral de todos; na ordem particular há mais ainda, nos religiosos, nos clérigos, em
quem se diz católico, minha Vontade não só agoniza, mas sim a têm em estado de letargia, como
se não tivesse vida.
Oh! como é mais duro, porque na agonia ao menos me agito, tenho um
desabafo, faço sentir que existo neles, embora agonizante, mas no estado de letargia está a total
imobilidade, o estado de morte contínuo e por isso só se veem as aparências, os vestidos de vida
religiosa, porque a minha Vontade a têm em letargia, e como a têm em letargia seu interior está
adormecido, como se a luz, o bem não fosse para eles e se alguma coisa fazem ao exterior, está
vazia de Vida Divina e se resolve em fumaça de vanglória, de estima própria e de agradar às
outras criaturas, e meu Supremo Querer enquanto estiver dentro, fica fora de seu trabalho. Minha
filha, que afronta, como gostaria de fazer sentir a todos minha tremenda agonia, o estertor
contínuo, a letargia na qual põem a minha Vontade, a causa é porque querem fazer sua vontade,
não a minha, não a querem fazer reinar, não a querem conhecer, e por isso quer romper os diques
com suas sacudidas, a fim de que se não a querem conhecer e receber por amor, a conheçam por
via de justiça. Portanto, a minha Vontade cansada desta agonia de séculos quer sair, e por isso
prepara dois modos: o modo triunfante, que são os seus conhecimentos, os seus prodígios e todo
o bem que o Reino do Fiat Supremo levará, e o modo de justiça para quem não a quer conhecer
triunfante, portanto estará nas criaturas escolher o modo como a queiram receber".
21-1
Fevereiro 23, 1927
Como viver no Querer Divino é formar uma visita de surpresa a Jesus.
(1) O meu pobre coração sentia-o sob um pesado peso pela privação do meu doce Jesus; oh!
como gemia e sofria, e fazendo meu habitual giro Criação para seguir os atos de sua Vontade nela,
ao chegar ao mar o chamava e lhe dizia: "Jesus meu, vem, volta, tua pequena filha te chama no
mar, te chamo junto com a vastidão destas águas, com seu murmúrio, te chamo no serpentear dos
peixes, te chamo com a potência de tua mesma Vontade que neste mar se estende; se não queres
escutar minha voz que te chama, Escuta as tantas vozes inocentes que se desprendem deste mar
que te chamam. Ah! Não me faça mais sofrer que não posso mais". Mas que, apesar de todas as
vozes do mar, Jesus não vinha, por isso devo ter passado a girar no sol, e o chamava no sol,
chamava-o com a imensidão da sua luz, Assim, onde quer que girasse, ele o chamava em nome
de cada coisa criada e de sua própria Vontade que dominava nelas. Então, tendo chegado debaixo
da abóbada azul do céu lhe disse: "Olha, ó Jesus, trago-te todas as tuas obras, não ouves a voz de
todo o céu, as vozes inumeráveis das estrelas que te chamam? Todas querem circundar-te e fazer-
te uma visita como a seu Criador e Pai delas, e Tu queres rejeitar-nos a todos?" Agora, enquanto
dizia isto, o meu doce Jesus saiu, e pondo-se como no meio de todas as suas obras me disse:
(2) "Minha filha, que bela surpresa me fez hoje, me trouxe todas minhas obras para me fazer uma
visita, me sinto duplicada minha glória, minha felicidade ao me ver rodeado por todas minhas
obras, que reconheço como tantos filhos meus. Hoje fizeste como um filho que ama muito a seu pai
e que sabe que ele goza quando se vê cercado e visitado por todos os seus filhos; este os chama a
todos, um por um os reúne a todos juntos, irmãos e irmãs e vai dar sua surpresa a seu pai, o qual,
estando rodeado por todos os seus filhos, não falta nenhum, reconhece a todos os membros da
sua família, oh! como se sente glorificado por todos os seus filhos, sua felicidade é plena, e por
cumprimento de sua alegria prepara um suntuoso banquete e festejam todos juntos, pai e filhos,
mas na plenitude de sua felicidade reconhece o filho que reuniu toda sua família para dar a
surpresa ao pai e fazê-lo gozar tanto, este filho será amado demais, porque ele tem sido a causa
de tanta felicidade. Agora, minha pequena filha, enquanto me chamavas no mar com todas as suas
vozes, eu ouvia-te e dizia: ‘Deixe que eu gire por todas as coisas criadas, a fim de que as reúna
todas juntas e depois me farei encontrar, assim poderei receber a visita de todas as minhas obras,
que são como tantos filhos meus, assim eles me farão feliz, e Eu a eles'.
Então, viver em minha Vontade contém surpresas indescritíveis, posso dizer: Onde Ela reina a alma se torna minha
felicidade, minha alegria, minha glória, e Eu preparo a ela o banquete de seus conhecimentos, a
fim de que nos fazendo felizes juntos, estendamos o Reino do Fiat Supremo, e assim seja
conhecido, amado e glorificado'. Por isso espero frequentemente estas surpresas da pequena filha
que me traz a visita de toda a família que me pertence.
(3) Além disso, assim como na Criação estão como espalhadas todas as nossas qualidades
divinas, e cada coisa criada ocupa um ofício de nossos atributos, portanto: Quem é filho de nossa
potência, quem da justiça, quem da luz, quem da paz, quem da bondade, em suma, cada coisa
criada é filha de algum de nossos atributos. Então quando você me traz toda a Criação, é a
portadora da minha felicidade espalhada nela, e eu reconheço a meu filho da luz no sol, a meu filho
da justiça no mar, aquele do meu império no vento, aquele da paz na terra florida, em suma, em
todas as coisas criadas reconheço algum parto de meus atributos, e Eu gozo ao reconhecer meus
filhos que me traz a pequena filha de meu Querer. Faço como aquele pai que tem muitos filhos e
cada um deles ocupa um ofício de honra: Quem é príncipe, quem é juiz, quem deputado, quem
senador, quem governador; o pai sente-se mais feliz ao reconhecer no parto de suas entranhas
cada um dos ofícios e a dignidade dos próprios filhos, e como todas as coisas criadas foram feitas
porque deviam servir para fazer felizes aos filhos do Fiat Supremo, ao verte trazer a Nós nossas
obras, reconhecemos em ti nossa finalidade, e oh! como gozamos ao ver-te girar para reunir todas
as nossas obras para nos trazer a nossa felicidade espalhada por toda a Criação. Por isso seu vôo
em minha Vontade seja contínuo".
(4) Depois disso, tendo recebido a Santa Comunhão, estava dizendo ao meu amado Jesus: "Meu
amor e minha vida, tua Vontade tem virtude de multiplicar tua Vida por quantos seres existem e
existirão sobre a terra, e eu em teu Querer formar tantos Jesus para te dar todo inteiro a cada alma
do purgatório, a cada bem-aventurado do Céu, a cada vivente sobre a terra". Agora, enquanto dizia
isto, meu celestial Jesus me disse:
5) "Minha filha, para quem vive em meu Querer, isto é exatamente o que faz, multiplica os atos da
alma em virtude sua por quantos são os seres criados, a alma recebe a atitude divina, e seu ato se
faz ato de todos. É precisamente este o agir divino: Um ato que faz multiplica-se em tantos, que
todos podem fazer seu aquele ato como se tivesse sido feito por cada um, enquanto o ato foi um,
assim que a alma onde reina meu Querer se põe nas condições do próprio Deus, seja de glória,
seja de dor, conforme as criaturas o recebam ou o rejeitem; a glória que seu ato pode levar, o bem
e a Vida de Jesus a todos, é grande, exuberante, infinito; a dor de que nem todas as criaturas
tomem aquele bem e de que minha própria Vida fique suspensa, sem levar o útil de minha Vida
Divina, é dor que supera toda dor".
Nenhum comentário:
Postar um comentário