ESCOLA DA DIVINA VONTADE - VIGÉSIMA OITAVA SEMANA DE ESTUDOS

 LUZES INEDITAS!

LIVRO DO CÉU VOL 1.

(194) Agora, enquanto via Jesus com o aspecto já descrito, de sua boca me enviou um alento que
me investía toda a alma, e me parecia que Jesus me atraía com esse alento a Ele e comecei a
sentir que a alma saía do corpo, me sentia realmente sair de todas partes, da cabeça, das mãos e
até dos pés, sendo esta a primeira vez que me sucedia dentro de mim comecei a dizer: "Agora
morro, o Senhor veio para me levar". Quando me vi fora do corpo, a alma tinha a mesma sensação
do corpo, com esta diferença, que o corpo contém carne, nervos e ossos, a alma não, é um corpo
de luz, portanto senti um temor, mas Jesus continuava a enviar-me esse alento e me disse:

(195) "Se te dá tanta pena estar privada de Mim, agora vem junto Comigo porque quero consolar-
te".

(196) E Jesus tomou o seu vôo e eu tomei o meu junto, a Ele, giramos por toda a abóbada do céu.
Oh! Como era bonito passear junto com Jesus, agora apoiava a cabeça sobre seu ombro e com
um braço atrás de suas costas e com a outra mão em sua mão, agora se apoiava Jesus em mim,
quando chegávamos a certos lugares onde a iniquidade mais abundava, oh, quanto sofria meu
bom Jesus! Eu via com mais clareza os sofrimentos de seu coração adorável, via-o quase
desmaiar, e lhe dizia: "Apoie se em mim e faz-me partícipe de tuas penas, pois não resiste minha
alma ver-te sofrer sozinho". E Jesus me dizia:
(197) "Amada minha, ajuda-me que não posso mais".
(198) E, enquanto assim dizia, aproximava os seus lábios aos meus, e via uma amargura tal, que
sentia penas mortais quando entrava em mim esse licor tão amargo; sentia entrar como tantas
facas, pontas, flechas que me trespassavam de lado a lado, em suma, em todos os meus membros
se formava uma dor atroz e voltando a alma ao corpo participava estes sofrimentos ao corpo, quem
pode dizer as penas? Só o próprio Jesus que era testemunha, porque Os outros não podiam
mitigar minhas penas estando naquele estado de perda dos sentidos, e se esperava quando estava
presente o confessor, porque também com a obediência se mitigavam. Portanto só Jesus me podia
ajudar quando via que minha natureza não podia mais e que chegava propriamente aos extremos e
não me restava mais que dar o último respiro. Oh, quantas vezes a morte zombou de mim, mas
virá um dia em que eu me rirei dela! Então Jesus vinha, me tomava em seus braços, me
aproximava de seu coração, e oh, como me sentia voltar a vida, depois, de seus lábios vertia um
licor dulcíssimo, e assim se mitigavam as penas. Outras vezes, enquanto me levava junto com Ele
girando, se eram pecados de blasfêmias, contra a caridade e outros, vertia esse amargo venenoso;
se eram pecados de desonestidade, derramava uma coisa de podridão malcheirosa, e quando
voltava em mim mesma sentia tão bem aquela peste, e era tanto o fedor que me revolvia o
estômago e me sentia desfalecer, e às vezes tomando o alimento, quando o devolvia, sentia que
saía da minha boca aquela podridão misturada com o alimento. Uma vez levava-me às igrejas, e
também ali o meu bom Jesus era ofendido. Oh, como chegavam mal a seu coração aquelas obras,
santas, sim, mas descuidadamente feitas, aquelas orações vazias de espírito interior, aquela
piedade fingida, aparente, parecia que mais bem insultavam a Jesus em vez de lhe dar honra. Ah!
Sim, aquele coração santo, puro, reto, não podia receber essas obras tão mal feitas. Oh! quantas
vezes se lamentava dizendo:
(199) "Filha, também há gente que se diz devota, olha quantas ofensas me fazem, mesmo nos
lugares mais santos, ao receber os mesmos Sacramentos, em vez de sair purificados saem mais
enlameados ".
(200) " Ah! Sim, quanta pena dava a Jesus ver pessoas que comungavam sacrílegamente,
sacerdotes que celebravam o Santo Sacrifício da missa em pecado mortal, por costume, e alguns,
dá horror dizer, por fins de interesse. ¡¡ Oh! Quantas vezes meu Jesus me fez ver estas cenas tão
dolorosas. Quantas vezes, enquanto o sacerdote celebrava o Sacrossanto Mistério, Jesus é
obrigado a descer, porque era chamado pelo poder sacerdotal, às mãos do sacerdote, se viam
aquelas mãos que gotejavam podridão, sangue, ou então estavam sujas de lama. Ah! Como dava
compaixão o estado de Jesus, tão santo, tão puro, naquelas mãos que davam horror só de olhá-las,
parecia que Jesus queria fugir daquelas mãos, mas era obrigado a permanecer até que se
consumissem as espécies do pão e do vinho. Às vezes, enquanto permanecia ali, com o sacerdote,
ao mesmo tempo vinha-se apressadamente a mim e lamentava-se, e antes de que eu o dissesse,
Ele mesmo me dizia:
(201) "Filha, deixa-me derramar em ti, porque não posso mais, tem compaixão do meu estado que
é demasiado doloroso, tem paciência, soframos juntos".

2-30
Junho 5, 1899

Luisa reza com Jesus.

(1) Continua ainda o estado de aniquilação, mas a tal ponto que não ousava dizer uma palavra
ao meu amado Jesus. Mas esta manhã, Jesus, tendo compaixão do meu miserável estado, Ele
mesmo quis aliviar-me, e eis que: Enquanto me fez ver e eu me sentia toda aniquilada e
envergonhada diante dele, Jesus aproximou-se de mim, mas tão intimamente, que me parecia
que Ele estava em mim e eu nele, e me disse:
(2) "Minha filha amada, que tens que estás tão aflita? Diz-me tudo, que te contentarei e
remediarei tudo".
(3) Mas como continuava a ver-me a mim mesma, como disse no dia anterior, então vendo-me
tão mal, nem sequer ousei dizer-lhe nada, mas Jesus replicou: "Logo, logo, diga-me o que
quer, não demore".
(4) Vendo-me quase forçada e rompendo em abundante pranto lhe disse: "Jesus santo, como
queres que não esteja afligida, depois de tantas graças não devia ser tão má, às vezes até as
obras boas que busco fazer, nas mesmas orações, misturo tantos defeitos e imperfeições que
eu mesma sinto horror. O que será de você que é tão perfeito e santo? E além disso, o
escassíssimo sofrer em comparação com o de antes, sua grande demora em vir, tudo me diz
claramente que meus pecados, minhas grandes ingratidões são a causa, e que Você, zangado
comigo, me nega também o pão cotidiano que Você concede a todos geralmente, como é a
cruz; assim que depois terminará com me abandonar de todo. Pode dar-se talvez maior aflição
que esta?" Jesus, compadecendo-me toda, me apertou a seu coração e me disse:
(5) "Não temas, esta manhã faremos as coisas juntos, assim Eu suprirei as tuas".
(6) Então me pareceu que Jesus continha uma fonte de água e outra de sangue em seu peito,
e nessas duas fontes tem submergido minha alma, primeiro na água e depois no sangue.
Quem pode dizer como minha alma ficou purificada e embelezada? Depois nos pusemos a
rezar juntos recitando três "Gloria Patri" e isto me disse que o fazia para suprir a minhas
orações e adorações à Majestade de Deus. ¡ Oh, como era belo e comovedor rezar junto com
Jesus! Depois disto Jesus me disse:
(7) "Não te aflija não sofrer, queres tu antecipar a hora designada por Mim? Meu agir não é
apressado, mas tudo a seu tempo, cumpriremos cada coisa, mas a seu devido tempo".
(8) Depois, por um fato todo providencial, inesperadamente, tendo saído o viático da igreja para
ir a outros enfermos, recebi também eu a comunhão. Quem pode dizer tudo o que aconteceu
entre Jesus e eu, os beijos, as carícias que Jesus me fazia? É impossível poder dizer tudo.
Parecia-me que depois da comunhão via a sagrada partícula, e agora via na partícula a boca
de Jesus, agora os olhos, agora uma mão e depois fez-se ver todo Ele. Transportou-me para
fora de mim mesma e agora encontrava-me na abóbada dos céus e agora encontrava-me
sobre a terra, no meio dos homens, mas sempre junto com Jesus. Ele de vez em quando ia
repetindo:
(9) "Oh, como és bela minha amada, se tu soubesses quanto te amo! E tu, quanto me amas?"
(10) Ao ouvir-me dizer estas palavras, senti tal confusão que me sentia a morrer, mas com tudo
isto tive a coragem de lhe dizer: "Meu Jesus, belo, sim, amo-te muito, e Tu, se verdadeiramente
me amas tanto, diz-me também: Tu perdoas-me por todo o mal que fiz? E também concede-me
o sofrer".
(11) E Jesus: "Sim, perdoo-te e quero-te contentar com derramar em abundância as minhas
amarguras em ti".
(12) Assim Jesus derramou suas amarguras. Parecia-me que tinha uma fonte de amargura em
seu coração, recebidas pelas ofensas dos homens, e a maior parte a derramava em mim.
Depois Jesus me disse:
(13) "Diz-me que mais queres?"
(14) E eu: "Jesus santo, confio-te ao meu confessor, santifica-me e dá-lhe também a saúde do
corpo, e além disso, é vontade tua que venha este sacerdote?"
(15) E Jesus: "Sim".
(16) E eu: "Se fosse a tua vontade, fá-lo-ias bem".
(17) E Ele: "Fique quieta, não queira investigar muito meus julgamentos".
(18) E nesse mesmo instante me fazia ver a melhora da saúde do corpo e a santidade da alma
do confessor, e acrescentou:
(19) "Tu queres ser apressada, mas eu faço tudo a seu tempo".
(20) Depois confiei-lhe as pessoas que me pertencem e pedi pelos pecadores dizendo a Jesus:
"Oh, quanto desejo que o meu corpo se reduzisse em pequeníssimos pedaços, desde que os
pecadores se convertessem!" E beijei a testa, os olhos, o rosto, a boca de Jesus, fazendo
várias adorações e reparos pelas ofensas que lhe faziam os pecadores.  Oh, como estava
contente Jesus e eu também! Depois, fazendo-me prometer por Jesus que não voltaria a me
deixar, voltei em mim mesma e assim terminou.

3-30

Janeiro 22, 1900

Correspondência à graça.

(1) Depois de ter passado dias amargos de privação, meu pobre coração lutava entre o temor de
havê-lo perdido e a esperança de talvez poder vê-lo de novo. Oh! Deus, que guerra sangrenta teve
que sustentar este meu pobre coração; era tanta a pena que agora se congelava e agora era
espremido como sob uma imprensa e gotejava sangue. Enquanto estava neste estado, senti-me
próximo do meu doce Jesus, que tirando um véu que me impedia de vê-lo, finalmente pude fazê-lo.
Logo lhe disse: "Ah Senhor, já não me amas?"
(2) E Ele: "Sim, sim, o que te recomendo é a correspondência à minha graça, e para ser fiel deves
ser como aquele eco que ressoa dentro de um vazio, que não apenas começa a emitir-se a voz,
imediatamente, sem o mínimo atraso se ouve ressoar o eco. Assim você, não apenas comece a
receber minha graça, sem nem sequer esperar que a termine de dar, imediatamente começa o eco
de sua correspondência".

4-31
Novembro 13, 1900

Vê as muitas misérias humanas, o rebaixamento e despojamento da Igreja a mesma degradação dos sacerdotes.

(1) Depois de ter passado vários dias de privações amargas, tendo recebido a santa comunhão,
no meu íntimo vi três crianças; era tanta a sua beleza e igualdade, que pareciam os três nascidos
de um mesmo parto. Minha alma ficou surpreendida e estupefata ao ver tanta beleza encerrada no
círculo de meu interior tão miserável, e mais crescia meu assombro porque via a estes três
Meninos como se tivessem na mão muitas cordas de ouro, com as quais se amarravam totalmente
a mim e ligavam todo o meu coração a eles. Então, como se cada um tomasse seu lugar,
começaram a discutir entre eles; mas eu não entendia e não encontro palavras para poder repetir
sua altíssima linguagem, só posso dizer que em um abrir e fechar de olhos vi as tantas misérias
humanas, a degradação e despojamento da Igreja, a mesma degradação dos sacerdotes, que em
vez de ser luz para os povos, são trevas, então toda amarga por estas cenas tenho dito:
"Santíssimo Deus, dá a paz à Igreja, faz que lhe restituam o que lhe tiraram, não permitas que os
maus riam nas costas dos bons". E Enquanto dizia isto, as crianças disseram:
(2) "São arcanos incompreensíveis de Deus".
(3) Dito isto desapareceram e eu retornei em mim mesma.

5-28
Outubro 30, 1903

Ensinamentos sobre a paz.

(1) Esta manhã, não vindo meu adorável Jesus, estava pensando em meu interior: "Quem sabe se
era verdade que era nosso Senhor que vinha, ou melhor, o inimigo para me enganar; como Jesus
Cristo devia me deixar tão feiamente sem nenhuma piedade?" Agora, enquanto eu pensava nisso,
por alguns instantes ele se fez ver levantando sua destra, e apertando minha boca com o polegar
ele me disse:
(2) "Cale-se, cale-se, e além disso, seria engraçado que um que viu o sol, só porque ele não vê diz
que não era sol o que tinha visto; não seria mais verdadeiro e razoável se dissesse que o sol se
escondeu?" E desapareceu.
(3) Mas embora não o visse, sentia que com suas mãos ia me tocando toda e esfregando a boca, a
mente e demais coisas, e me deixava toda luminosa; e como não o via, a mente seguia duvidando,
e Ele fazendo-se ver de novo acrescentou:
(4) "Ainda não quer terminar com isto? Tu queres fazer desaparecer a minha obra em ti, porque
duvidando não estás em paz, e sendo Eu fonte de paz, não te vendo em paz farás duvidar a quem
te guia, que não é o Rei da paz que habita em ti. Ah, não queres estar atenta! É verdade que Eu
faço tudo na alma, de modo que sem Mim não faria nada, mas é também verdade que deixo
sempre um fio de vontade à alma, para que também ela possa dizer: "Tudo faço por minha própria
vontade". Então, estando inquieta quebras aquele fio de união Comigo, e me amarras os braços
sem que Eu possa operar em ti, esperando até que te ponhas em paz para voltar a tomar o fio de
tua vontade e continuar minha obra".

6-30
Abril 10, 1904
As três cordas que amarram por todos os lados e estreitam mais intimamente a Jesus
com a alma, são: sofrimentos assíduos, reparação perpétua, amor perseverante.

(1) Esta manhã, encontrando-me com o temor de que o bendito Jesus, vendo-me ainda tão má, me
tivesse deixado, senti-o sair de dentro de mim e disse-me:
(2) "Minha filha, por que te ocupas em pensamentos inúteis e em coisas que não existem? Deves
saber que há três títulos diante de Mim que como três cordas me amarram por toda parte e me
estreitam mais intimamente a ti, de modo que não posso deixar-te, e são: sofrimentos assíduos,
reparação perpétua, amor perseverante. Se você como criatura é contínua nisto, talvez o Criador
seja menos que a criatura? Ou se deixará vencer por ela? Isto não é possível".

7-32
Julho 21,1906

A reta intenção purifica a ação

(1)Tendo chegado por pouco tempo, o bendito Jesus disse-me:

(2) "Minha filha, todas as ações humanas, mesmo santas, feitas sem uma intenção especial
para mim, saem da alma cheias de trevas, mas feitas com reta e especial intenção de
me agradar, saem cheias de luz, porque a intenção purifica a ação".

+ + + +

7-33
Julho 27, 1906

Na cruz Jesus dotou as almas, e as desposou a Ele.

(1) Esta manhã fez-se ver o meu adorável Jesus abraçando a cruz, e eu pensava
interiormente quais tinham sido seus pensamentos ao recebê-la".
(2) E Ele disse-me: "Minha filha, quando recebi a cruz abracei-a como ao meu mais amado
tesouro, porque na cruz dotei as almas e as desposei Comigo. Agora, olhando a cruz, sua altura
e largura, Eu me alegrei porque via nela os dotes suficientes para todas as minhas esposas, e
nenhuma podia temer não poder casar-se comigo, tendo eu em minhas próprias mãos, na cruz,
o preço de seu dote, mas com esta única condição, que se a alma aceita os pequenos donativos
que Eu lhe envio, os quais são as cruzes, como penhor de que me aceita por Esposo, o
desposório é formado e faço-lhe a doação do dote. Mas se não aceita os donativos, isto é, não
se resignando a minha Vontade, fica tudo anulado, e apesar de que Eu quero dota-la não posso,
porque para formar um esponsal se necessita sempre a vontade de ambas partes, e a alma não
aceitando os donativos, significa que não quer aceitar o noivado".

8-28
Março 13, 1908
O calor da união com Jesus, dissipa da alma o frio das inclinações humanas.

(1) Estando no meu estado habitual veio um demônio que fazia coisas estranhas. Assim que ele
desapareceu, não pensei mais nele, tanto em esquecer suas estranhezas, cuidando apenas do
meu único e supremo Bem. Mas depois veio-me o pensamento: "Como sou má, insípida, nada me
causa impressão". E o bendito Jesus me disse:
(2) "Minha filha, há certas regiões nas quais as plantas não estão sujeitas aos frios, às geadas, às
nevadas, e por isso não são despojadas de suas folhas, de suas flores e de seus frutos, e se têm
épocas de repouso é por breve tempo, porque quando se colhem os frutos leva-se pouco tempo
para fazer crescer outros frutos, porque o calor as fecunda admiravelmente e não estão sujeitas a
longos períodos de inatividade, como o estão as plantas nas regiões frias, porque as pobres
plantas pelas geadas e as nevadas a que estão sujeitas por longos meses, são obrigadas a dar por
breve tempo pouquíssimos frutos, quase cansando a paciência do agricultor que os deve recolher.
Assim são as almas que chegaram à união Comigo, o calor de minha união dissipa delas o frio das
inclinações humanas, que como frio para as plantas as torna estéreis e despojadas de folhas e de
frutos divinos.

As geadas das paixões, as nevadas das perturbações, impedem na alma os frutos
da Graça. Estando a alma à sombra de minha união nada lhe faz impressão, nada entra em seu
interior que perturbe nossa união e nosso repouso, toda sua vida gira em torno de meu centro,
assim que suas inclinações, suas paixões, são para Deus, e se alguma vez se faz uma breve
pausa, não é outra coisa que um simples ocultamento meu para dar-lhe depois uma surpresa de
maiores alegrias e assim poder saborear nela frutos mais refinados de paciência e de heroísmo,
que exerceu durante meu ocultamento. O oposto acontece com as almas imperfeitas, parecem as
plantas nascidas nas regiões frias, estão sujeitas a todas as impressões, assim que sua vida vive
mais de impressões do que de razões e de virtudes; as inclinações, as paixões, as tentações, as
perturbações e todos os eventos da vida são tantos frios, gelados, nevados, granizados, que
impedem o desenvolvimento de minha união com elas, e quando parece que fizeram uma bela
floração, basta um novo acontecimento, uma coisa que lhes faça impressão, para fazer que se
murche esta bela floração e fazê-la cair por terra; assim que se encontram sempre no princípio, e
pouquíssimos frutos produzem, e quase cansam minha paciência em cultivá-las".

9-29
Março 8, 1910

A reta intenção é luz à alma.

(1) Esta manhã, brevemente o bendito Jesus veio e me disse:
(2) "Minha filha, a reta intenção é luz à alma, converte-a em luz e lhe dá o modo de agir ao divino.
A alma não é outra coisa que uma estadia obscura, e a reta intenção é como sol que entra e a
ilumina; com esta diferença, que o sol não converte os muros em luz, e o reto obrar transforma tudo
em luz".

10-30
Outubro 10, 1911

Jesus a atrai a fazer seu Querer.

(1) Sinto-me morrer pela dor e vou repetindo frequentemente o meu refrão: "Pobres irmãos meus,
pobres irmãos meus". Jesus aumentou minha dor fazendo-me ver a tragédia da guerra; quanto
sangue parecia que se derramava e se derramaria. Jesus parecia inexorável e dizia:
(2) "Não posso mais, quero terminar com isto, tu farás o meu querer, não é verdade?"
(3) "Certo, como Tu quiseres, mas posso esquecer que são teus filhos saídos de tuas mesmas
mãos?"
(4) E Jesus: "Mas estes filhos fazem-me sofrer muito, e não só querem matar o seu próprio Pai,
mas querem tornar-se homicidas deles mesmos. Se você soubesse o quanto me fazem sofrer,
você estaria Comigo".
(5) E enquanto dizia isto, parecia que me amarrava as mãos e me apertava Consigo, e me sentia
tão transformada em seu Querer, que perdia a força de lhe fazer violência, e acrescentou:
(6) "Assim está bem, toda em minha Vontade".
(7) Eu, vendo minha inabilidade e ao mesmo tempo a tragédia, rompi em pranto e dizia: "Meu
Jesus, como farão? Não há meios para salvá-los, salve ao menos suas almas, quem poderá
resistir? Ao menos leve-me primeiro".
(8) E Jesus: "Você viu? Se você continuar chorando Eu vou embora e te deixo sozinha, você
também quer me afligir. Eu salvarei a todos aqueles que estão dispostos, por isso não chore, te
darei suas almas, fique contente. Talvez Eu não possa levá-la mais para o Céu, e será por isso que
você está tão aflita? Tu sabes porque não te levo?"
(9) E como eu continuava a chorar, Jesus fingia que se retirava, e eu tive que gritar alto e dizer:
"Jesus, não me deixes, que não choro mais".

11-28
Agosto 12,1912

O Amor de Deus simbolizado pelo sol.

(1) Esta manhã, quando veio o meu sempre amável Jesus disse-me:
(2) "Minha filha, meu Amor está simbolizado pelo sol: O sol surge majestoso, mas enquanto
parece que surge, ele está sempre fixo e não surge nunca, com sua luz invade toda a terra, com
seu calor fecunda todas as plantas, não há olho que dele não goze, Poder-se-ia dizer que quase
não há bem na terra que não venha de sua benéfica influência, quantas coisas não teriam vida
sem ele? Não obstante faz tudo sem estrondo, sem dizer nem sequer uma palavra, sem
pretender nada, não dá incômodo a ninguém, e mais, não ocupa espaço algum da mesma terra
que invade com sua luz; o homem pode fazer o que quiser com ela, Além disso, enquanto gozam
do bem do sol não lhe dão atenção nenhuma e o têm não observado no meio deles. Assim é
meu Amor simbolizado pelo sol: Como sol majestoso surge no meio a todos, não há mente que
não esteja iluminada com minha luz, não há coração que não sinta meu calor, não há alma que
não esteja abraçada por meu Amor.

Mais do que o sol, estou no meio de todos, mas!
Como poucos me prestam atenção, estou quase inobservado no meio deles, não sou correspondido e
continuo dando luz, calor, amor; mas se alguma alma me presta atenção, então Eu fico louco,
mas sem estrondos, porque meu Amor, sendo sólido, fixo, voraz, não está sujeito a fraquezas.
Assim queria teu amor para Mim, e se assim fosse viria a ser também sol para Mim e para todos,
porque o verdadeiro amor tem todas as qualidades do sol, em troca o amor não sólido, não fixo,
não verdadeiro, é símbolo do fogo daqui abaixo, sujeito a variedade, sua luz não é capaz de
iluminar a todos, e é uma luz muito fraca, misturada com fumaça, seu calor é limitado, e se não
se alimenta com a lenha se apaga e se transforma em cinzas, e se a lenha é verde faz estrondo
e fumaça. Assim são as almas que não são todas para Mim, nem meus verdadeiros amantes, se
fazem um pouco de bem é mais o estrondo que fazem e mais a fumaça que sai de suas ações
que a luz, e se não são alimentadas com algum afã humano, mesmo sob aspecto de santidade,
de consciência, se apagam e se tornam frias, mais que cinzas, sua característica é a
inconstância: ora fogo, ora cinzas".



30. 0 anúncio aos pastores, que se tornam os primeiros adoradores do Verbo feito homem

07 de junho de 1944. Vigília de Corpos Christi.

Mais tarde, vejo um extenso campo. A lua está no zênite e navega  mansamente por um céu apinhado de estrelas. Parecem broches de diamantes fincados em um enorme baldaquim de veludo azul escuro; ali no meio, sorri com sua cara toda branca, da qual descem rios de uma luz leitosa que torna branca também a terra..... As árvores, sem folhas, parecem mais altas e escuras, sobre um solo esbranquiçado, enquanto os pequenos muros, que vão surgindo aqui e al, parecer cor de leite, e uma casinha, que se vê ao longe, parece uma bloco de mármore de Carrara.

À minha direita, vejo um lugar cercado por uma sebe de espinheiros e um muro baixo ao lado de outros dois. Este muro sustenta o teto de uma espécie de alpendre largo e baixo, que, na parte hl terna do recinto está construído: uma parte com paredes, e outra com madeira, de modo que, no verão, as partes em madeira possam ser removidas, transformando-se o alpendre em um grande pórtico. Desse pórtico fechado, sai, de vez em quando um balir intermitente e curto. Devem ser ovelhinhas que estão sonhando, ou talvez achando que já esteja próximo o dia, pela claridade da lua. Uma claridade excessiva, tal é a intensidade, está crescendo, como se o satélite estivesse se aproximando da terra, ou brilhando por algum mistérioso incêndio.

Um pastor chega até à porta; levando o braço sobre a fronte para proteger os olhos, olha para cima. Parece impossível que ele tenha de se proteger da claridade da lua. Mas está mesmo uma claridade tão viva que ofusca os olhos, especialmente os olhos de quem acaba de sair de um lugar fechado e escuro. Tudo está calmo. Mas aquela luz causa espanto. O pastor chama os companheiros. Todos vão até à porta. É um grupo de homens cabeludos e de idades diferentes. Alguns ainda são adolescentes, e outros já estão de cabelos brancos. Estão comentando aquele fato estranho. Os mais jovens estão com medo, especialmente um menino dos seus doze anos, que começa a chorar, tornando-se alvo das brincadeiras dos mais velhos.  De que estás com medo, seu tolo? -Lhe diz o mais velho.
— Não estás vendo o ar assim parado? Nunca viste a claridade do luar? Será que estiveste sempre debaixo da saia da mamãe, como um pintinho sob as asas da galinha choca? Mas ainda terás que ver coisas! Uma vez eu tinha caminhado até as montanhas do Líbano, e continuei até além destas montanhas. Eu era jovem e andar não era pesado para mim. Naquele tempo eu também era rico... Uma noite, vi uma luz tão clara, que pensei que Elias estivesse voltando com seu carro de fogo. O céu parecia um grande incêndio. Um velho, daquela época, me disse: ¨Algum acontecimento está para sobrevir ao mundo.¨

Mas para nós o que de verdade veio foi uma grande desventura: os soldados de Roma. Oh! Mas tu verás, se sobreviveres!...

0 pastorzinho, porém, não o está escutando mais. Parece que não tem mais medo, pois deixa a soleira da porta, escapa por detrás das costas do musculoso pastor, onde se refugiou, e sai na paragem cheia de erva, que está na frente do alpendre. Olha para o alto, e vai. caminhando como sonâmbulo, ou hipnotizado por algo que o atrai fortemente. Chegando a um certo ponto, ele grita: "Oh!", e fica como que petrificado, com os braços um pouco abertos. os outros olham-se assombrados. - Mas, que é que tem aquele tolo?, diz um deles. - Amanhã eu o mando embora, de volta para sua mãe. Não quero doidos para guardar as ovelhas, diz outro. E o velho, que falou há pouco, diz: Vamos ver, antes de julgar. Chamai também os outros que estão dormindo, e pegai os bastões. Que não seja alguma fera ruim, ou malandros... Eles entram, chamando os outros pastores, e saem com tochas e bastões. Chegam até onde está o menino.

- Lá, lá, ele murmura sorrindo.

-Por cima da árvore, olhai aquela luz que está vindo. Parece que ela vem caminhando sobre o raio da lua. Eis que se aproxima. Como é bela!

- Eu só estou vendo um grande clarão.
- Eu também. - Eu também, dizem os outros.
- Não. Eu estou vendo algo como um corpo, diz um dos pastores, no qual eu reconheço ser aquele que deu a escudela de leite para Maria.
- É um... é um anjo! grita o menino.
- Eis que ele vem descendo e chegando para perto... Ajoelhemo-nos, diante do anjo de Deus! Um "Oh!" longo e cheio de respeito se levanta do grupo de pastores, que, prostrando-se com o rosto por terra, parecem estar tanto mais esmagados por aquela aparição fulgente, quanto mais velhos são. Os jovens estão de joelhos, mas estão olhando para o anjo, que se aproxima cada vez mais e, finalmente, paira suspenso no ar, agitando suas grandes asas, candura de pérola na alvura do luar que o circunda, acima do muro do recinto.: Não temais. Não vos trago desventura... Eu .vos anuncio uma grande alegria para o povo de Israel e para todo o povo da terra.

A voz do anjo é como uma harmonia de harpa, que acompanha o canto dos rouxinóis.

Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador. Ao dizer isso, o anjo abre ainda mais as suas grandes asa move, como se tivesse sentido um sobressalto de alegria, e, nesse e as mento uma chuva de centelhas de ouro e de pedras preciosas e sair dele. Um verdadeiro arco-íris, um arco de triunfo que se forma sobre as pastagens.
-... o Salvador, que é Cristo.

O anjo cintila, com redobrada luz. Suas duas asas, agora para das e estendidas, com as pontas viradas para o céu, como duas veia; imóveis sobre a safira do mar, parecem duas chamas, que sobem ardendo.

-... Cristo, o Senhor!

O anjo recolhe as suas duas fúlgidas asas, e se veste com elas, como se fossem uma sobreveste de diamante sobre uma veste de pérola; inclina-se, como quem está adorando, com os braços cruzados sobre o coração e o rosto, que ai desaparece, porque está inclinado sobre o peito e sob a sombra das pontas das asas que o anjo agora dobrou. Não se vê mais que uma alongada forma luminosa, imóvel, pelo espaço de tempo de um "Glória." Mas ele se move de novo. Reabre as asas, levanta o rosto, no qual a luz se funde com um sorriso paradisíaco, e diz: Vós o reconhecereis por estes sinais: em uma pobre estrebaria, do outro lado de Belém, encontrareis um menino envolto em faixas, numa manjedoura de animais, porque, para o Messias, não foi encontrado um teto na cidade de Davi. Ao dizer isso, o anjo ficou sério, ou melhor, ficou triste.  Mas dos Céus vieram muitos, muitíssimos outros anjos, semelhantes àquele primeiro, como por uma escada de anjos que descem exultantes, e superando a luz da lua com o seu esplendor do paraíso.

Eles se reúnem ao redor do anjo anunciador, com um grande agitar de asas e um intenso exalar de perfumes, com um arpejar de notas, nas quais todas as vozes mais belas da criação encontram uma recordação, mas levado à perfeição, quanto à pureza e beleza do som. Se a pintura é o esforço da matéria para se transformar em luz. Aqui a melodia. é o esforço da música para fazer brilhar aos homens a beleza de Deus. Ouvir esta melodia é conhecer o paraíso, onde tudo é harmonia do amor que se desprende de Deus, alegrando os bem-aventurados, que, por sua vez, se dirigem a Deus, dizendo: -Nós te amamos!"

O "Glória" dos anjos se espalha, sempre mais ao longe, pelo campo silencioso e com ele vai o clarão da luz. Os passarinhos unem seu canto, como saudação a esta luz que chegou antes da hora, e as ovelhas dão os seus balidos, por este antecipado sol. Mas eu gosto de pensar que são os animais que saúdam ao seu Criador, como também o boi e o jumento na gruta. Saúdam o próprio Criador que veio até eles, para amá-los como Homem, além de amá-los como Deus. O canto vai diminuindo, e a luz também, enquanto os anjos vão subindo, de volta para os céus... Os pastores também voltam a si.

- Ouviste?

- Vamos lá ver?

- E as ovelhas?

- Oh! Não acontecerá nada com elas! Nós vamos para obedecer à palavra de Deus! ...

- Mas, aonde iremos? - Ele não disse que nasceu hoje? E que não achou alojamento em Belém? É o pastor que deu a escudela de leite, o que está falando agora.

- Vinde comigo, eu sei: encontrei a mulher, e ela me causou pena. Ensinei um lugar para ela, pois imaginava que não iriam encontrar alojamento. Entreguei ao homem uma escudela de leite para ela. É tão jovem e bela, deve ser boa como o anjo que nos falou. Vinde. Vinde. Vamos apanhar leite, queijos, cordeiros e peles curtidas. Eles devem ser muito pobres e... que frio não estará passando Aquele cujo nome não ouso pronunciar! E pensar que eu falei à mãe como a uma pobre esposa!... Vão, então, até o alpendre, saindo de lá pouco depois. Um deles com pequenas botijas de leite, outro com cestinhas de esparto trançadas, contendo queijinhos redondos, outros com cestos nos quais se encontram, um cordeiro balindo e peles de ovelha curtidas. Eu levo uma ovelha. Há um mês que ela deu cria. O leite dela está bom. Ela lhes poderá ser útil, se a mulher não tiver leite. Pois me parecia uma menina, tão branca! ... É um rosto de jasmim, à luz da lua - diz o pastor da escudela. E ele que vai guiando os outros. Saem todos à luz da lua e das tochas, depois de terem fechado o alpendre e o recinto. Vão pelas trilhas campestres por entre sebes de espinheiros, que estão sem folhas, por ser inverno. Dão a volta por detrás de Belém. Chegam à estrebaria, indo lado oposto que foi Maria, de modo a não passarem diante das  estrebarias mais bonitas, sendo esta a primeira que encontram.
Aproximam-se da abertura.

- Entra!

- Eu não tenho coragem.

- Entra tu. Não.

- Olha lá dentro, pelo menos.

- Tu, Levi, que viste o anjo primeiramente, sinal de que és melhor do que nós, olha! Na verdade, antes disseram que ele era doido... mas agora convém que ele tenha a coragem que eles não têm. O menino vacila, mas depois se decide. Aproxima-se da abertura, afasta um pouquinho o manto, olha... e fica extasiado.

- Que é que estás vendo? Perguntam-lhe ansiosos, em voz baixa.

- Vejo uma mulher jovem e bela e um homem curvados sobre uma manjedoura, e ouço... ouço chorar um menino pequeno, e a mulher lhe fala com uma voz... oh! que voz!

- Que está ela dizendo?

- Ela está dizendo assim: "Jesus pequenino! Jesus, amor da tua mamãe! Não chores meu filhinho!" Ela diz ainda: "Oh! Se eu pudesse dizer-te: 'Toma o leite, meu pequenino!' Mas ainda não o tenho."
Ela diz: "Tem tanto frio, meu amor! E o feno te está espinhando. Que dor para tua mamãe ouvir-te chorando assim, e não poder dar-te conforto!"
Ela está dizendo: "Dorme, minha alma! Parte-me o coração ao ouvir-te chorar, e ao ver-te derramar lágrimas!" E o beija e o aquece certamente nos pezinhos com suas mãos, pois ela está inclinada, com as mãos para dentro da manjedoura.

- Chama! Faça com que te ouçam! Eu, não. Chama tu, que até conheceis, que aqui nos conduzistes e que a com o pastor abre a boca, e se limita a dar um gemido. José se vira, e vai à um em vida.
- Quem sois vós?
- Somos pastores. Viemos trazer-vos alimento e lã. Viemos adorar o Salvador.
- Entrai.

Eles entram, e a estrebaria se torna mais clara por causa da luz das tochas. Os velhos empurram os novos à sua frente.
-Vinde, ela diz. - Vinde! E os convida com um gesto e um sorriso, segurando aquele que viu o anjo e puxando-o para perto de si, junto à manjedoura. O menino olha, feliz.
Os outros, convidados também por José, vão à frente com os seus presentes, e os colocam todos, com breves e comovidas palavras, aos pés de Maria. Depois se detêm em olhar o Menino Jesus, que está chorando baixinho, e sorriem, emocionados e felizes. Um deles, mais corajoso, diz:

- Toma, ó mãe. É macia e limpa. Eu a tinha preparado para o meu filho que está para nascer. Mas te dou. Envolve o teu Filho com esta lã delicada e quente. E lhe oferece a pele de uma ovelha, uma pele muito bonita, com muita lã, uma lã muito clara e comprida. Maria soergue Jesus e o enrola nela. E o mostra aos pastores que, de joelhos sobre o feno do chão, o contemplam enlevados. Tornam-se agora mais corajosos, e um deles propõe: Seria necessário dar-lhe um pouco de leite, ou melhor, água e mel. Mas nós não temos mel, que é muito bom para os bebês. Tenho sete filhos, e sei disso...

- Aqui está o leite. Toma-o, ó mulher.

- Mas está frio. Precisa ser quente. Onde está o Elias? Ele tem a ovelha. Elias deve ser aquele da escudela de leite e não está. Ficou parado lá fora, olhando por uma fenda e não podendo ser visto, por causa da escuridão da noite. - Quem vos guiou até aqui? - Um anjo, que nos disse para virmos e junto com Elias, nos guiou até aqui. Mas onde estará ele agora?  A ovelha de Elias é que, com o seu balido, denuncia-o.

- Venha para a frente, que te estamos esperando. Ele entra com sua ovelha, envergonhado, porque todos estão de olhos nele. Então, és tu?, diz José, ao reconhecê-lo. E Maria lhe sorri, dizendo;

- És bom. Tiram o leite da ovelha e, com a ponta de um pano mergulhado no leite quente e espumoso, Maria molha os lábios do Menino Jesus, que suga aquela doçura cremosa. Todos sorriem, ainda mais, com o bom calor da l.
- Mas aqui não podeis ficar . Aqui faz frio e é muito úmido. E depois...... aqui tem um cheiro forte de animais. Isto não faz bem..... e não fica bem para o Salvador.
-  Eu sei, diz Maria com para nós em Belém.

- Coragem, Mulher! Nós vamos procurar uma casa para ti.

- Vou falar com minha patroa, diz Elias.

- Ela é boa, e vos acolherá, ainda que precisasse ceder-vos o seu quarto. Logo que raiar o dia, vou falar com ela. Ela está com a casa cheia de gente. Mas vos arranjará um lugar.

- Pelo menos para o meu Menino. Eu e o José estamos dormindo no chão. Mas para o Pequenino...

- Não fiques suspirando, mulher. Nisso penso eu. Vamos dizer a muitos o que nos disseram. Não vos faltará nada. Por enquanto, tomai o que a nossa pobreza vos pode dar. Nós somos pastores...

- Nós também somos pobres. E não vos podemos pagar, diz José.

- Oh! Nem nós queremos! Ainda que o pudésseis, nós não quereríamos! O Senhor já nos pagou. Ele prometeu a paz a todos. Os anjos diziam assim: "Paz aos homens de boa vontade." Mas a nós,. Ele já a deu, porque o anjo disse que este Menino é o Salvador, que é o Cristo, o Senhor. Nós somos pobres e ignorantes, mas sabemos que os profetas dizem que o Salvador será o Príncipe da Paz. E a nós Ele disse que viéssemos adorá-lo. Com isso nos deu a Sua paz. Glória a Deus nos céus altíssimos e glória ao seu Cristo, e bendita sejas tu, mulher, que o geraste! Es santa, porque mereceu carregá-lo no seio! Dá-nos tuas ordens, como nossa rainha, que seremos felizes em podermos servir-te. Que é que podemos fazer por ti?

- Amar o meu Filho, e ter sempre no coração os pensamentos que tendes agora.

- Mas, e para ti? Não desejas nada? Não tens parentes aos quais desejas comunicar que Ele nasceu?

- Sim, eu os teria. Mas não moram perto daqui. Moram em Hebron.

- Eu vou até lá, diz Elias.Quem são eles? - Zacarias, o sacerdote e Isabel, minha prima.
- Zacarias?! Oh! Eu o conheço bem. Durante o verão, eu vou por aqueles montes pois as pastagens deles são muito boas e bonitas, e sou amigo do pastor... Quando eu souber que estás alojada, irei à casa de Zacarias.
- Obrigada Elias.
- Não precisas agradecer. Grande honra é para mim, um pobre pastor, ir falar ao sacerdote, e dizer-lhe: Nasceu o Salvador.¨
- Não tu dirás assim: "Maria de Nazaré, tua prima, manda que vades a Belém¨
- Assim eu direi.
- Deus te recompense por isso. Eu me recordarei de ti, e de todos vós.
- Falarás de nós ao teu Menino?
- Sim, falarei.
-Eu sou Elias.
-Eu sou Levi. 
-Eu sou Samuel.
-Eu sou Jonas.
-Eu sou Isaque.
-Eu sou Tobias.
-Eu sou Jônatas.
- Eu sou Daniel.
-Eu sou Simeão.
-Eu me chamo João.
-Eu José e meu irmão Benjamim, somos gêmeos.
-Eu me lembrarei dos vossos nomes.
-Precisamos ir... Mas voltaremos... E te traremos outros, que virão para adorar! Como voltar ao ovil, deixando este Menino?
- Glória a Deus, que já no-lo mostrou! Deixa-nos beijar a roupinha dele, diz Levi com o sorriso de um anjo.

Maria ergue Jesus devagar e, sentada sobre o feno, oferece os pezinhos envolvidos no linho, para que os beijem. Os pastores se inclinam até o chão e beijam aqueles pés minúsculos, cobertos por um tecido. Quem tem barba ajeita-a primeiro, quase todos choram e, quando chega no momento de partir,  saem, relutantes, deixando ali o coração.. A visão cessa aqui, com Maria sentada sobre o feno com o Menino no colo, e José que, apoiado com um cotovelo sobre a manjedoura

Jesus diz: Hoje sou Eu que falo. Estás muito cansada, mas tem ainda um pouco de paciência.
Estamos na Vigília de Corpus Christi. Eu poderia falar-te da Eucaristia e dos santos que se fizeram apóstolos do seu culto, assim como já te falei dos santos que foram apóstolos do Sagrado Coração. Mas eu quero falar-te de uma outra coisa e de uma categoria de adoradores do meu Corpo, precursores do culto a Ele prestado os pastores são os primeiros adoradores do Corpo de Verbo feito homem.

Uma vez Eu te disse isto, que é dito. também pela minha Igreja. Os Santos Inocentes são os protomártires de Cristo. Agora te digo que, os pastores são os primeiros adoradores do Corpo de Deus. Neles se encontram todos os re.quisitos exigidos para vos tornardes adoradores do meu corpo. Ó almas Eucarísticas,.

Fé firme: eles crêem pronta e cegamente no anjo. Generosidade: eles dão toda a sua riqueza ao Senhor. Humildade: eles se aproximam dos que humanamente são mais pobres do que eles, com uma modéstia tal em seus atos, que não rebaixam os pobres, mas se confessam seus servos. Desejo: tudo o que não podem dar por si mesmos, esforçam-se para encontrá-lo com apostolado e fadiga. Prontidão na obediência: Maria deseja que Zacarias seja avisado e Elias vai sem demora, sem pedir nenhum prazo. Amor: enfim, eles não sabem como afastar-se, e tu dizes: "deixam ali o coração."

E dizes bem. Não seria necessário fazer assim também com o meu Sacramento? Uma outra coisa, e essa é toda para ti: observa bem, a quem o anjo primeiro se revela, e quem merece ouvir as efusões de Maria?
O menino Levi. A quem tem alma de criança, permitindo-lhe ouvir Deus Se mostra e a Seus mistérios, as palavras divinas e as palavras de Maria. Quem tem alma de criança, tem também a santa coragem de Levi, para dizer: "Deixa-me beijar o vestidinho de Jesus." Isto ele diz a Maria. Porque é sempre Maria que vos dá Jesus. Ela é a portadora da Eucaristia. Ela é a píxide viva.
Quem vai a Maria Me encontra. Quem me pede a ela, recebe. O sorriso de minha mãe, quando uma criatura lhe diz: "Dá-me o teu. Jesus, para que eu o ame", faz que os céus mudem de cor, em um mais vivo esplendor de alegria, pois tal é a altura do grau da sua feilicidade.

Diz-lhe, pois: "Deixa-me beijar a veste de Jesus. Deixa-me beijar as suas chagas." Procura ter coragem para dizer ainda mais que isso. Diz assim: "Deixa-me repousar a cabeça sobre o Coração do teu Jesus, para que isso me faça feliz." Vem. E repousa. Como Jesus no berço, entre Jesus e Maria.


CAPÍTULO 23
INSÍGNIAS QUE OS SANTOS ANJOS DA GUARDA DE MARIA SANTÍSSIMA TRAZIAM QUANDO LHE APARECIAM; SUAS PERFEIÇÕES.

Os mil anjos custódios de Maria

Já fica dito  que o número destes anjos era mil, enquanto para as
demais pessoas é apenas um. Devemos ainda entender que, pela dignidade de
Maria Santíssima, seus mil anjos a guardavam e assistiam, com maior vigilância
do que qualquer anjo custódio guarda a alma que lhe foi confiada.
Fora destes mil que formavam sua guarda ordinária e mais contínua, serviam na
em diversas outras ocasiões outros muitos, especialmente depois que concebeu
em seu seio o Verbo divino humanado.

Disse também acima que a escolha destes mil anjos foi feita por Deus no
princípio, por ocasião da criação deles, após a justificação dos bons e a queda dos
maus. Sendo ainda viadora, foi-lhes proposto reconhecerem por superiores a eles:
primeiro a Divindade, depois a humanidade santíssima que o Verbo assumiria, e em
seguida, sua Mãe puríssima.

Diferença entre os anjos

362. Nesta ocasião, quando os apóstatas foram castigados e os obedientes
premiados, guardando o Senhor a devida proporção segundo sua justíssima
eqüidade, eu escrevi : na recompensa acidental houve alguma diferença entre
os santos anjos, conforme os diversos sentimentos que demonstraram aos mistérios
do Verbo humanado e de sua Mãe puríssima, à medida que os foram conhecendo,
antes e depois da queda dos maus anjos.
Consistiu este prêmio acidental em serem escolhidos para assistir e servir
Maria Santíssima e o Verbo humanado, e no modo e forma de se manifestarem
quando apareciam visivelmente à Rainha para servi-la. É isto que pretendo
explicar neste capítulo, confessando minha incapacidade, pois é difícil traduzir
em razões e termos materiais as perfeições e operações de tão elevados
espíritos intelectuais.
No entanto, se passasse em silêncio este assunto, omitiria nesta
História uma grande parte das mais excelentes ocupações da Rainha do céu,
enquanto foi viadora. Depois dos atos que exercia com o Senhor, seu mais contínuo
trato era com seus ministros, os espíritos angélicos. Sem esta importante
exposição ficaria incompleta a descrição desta santíssima Vida.

Forma visível dos anjos

363. Supondo tudo o que já disse sobre as ordens, hierarquias e diferenças
destes mil anjos, direi aqui a forma na qual apareciam corporalmente à
sua Rainha e Senhora. Remeto as aparições intelectuais e imaginárias para
outros capítulos , onde intencionalmente falarei das diversas espécies de visões
que a Senhora gozava.
Os novecentos anjos escolhidos dos nove coros, cem de cada um, foram
nomeados entre aqueles que mais se distinguiram na estima, amor e admirável
reverência por Maria Santíssima. Quando lhe apareciam, vinham na forma de
jovem de extrema formosura e agrado, o corpo quase nada demonstrava de terreno,
porque era claríssimo e como um cristal animado e banhado de glória
imitando os corpos gloriosos e refulgentes.
À beleza uniam grande compostura e amável gravidade. As vestes eram
roçagantes, translúcidas, semelhantes a brilhante ouro esmaltado com matizes de
finíssimas cores, formando admirável e belíssimo conjunto para o olhar. Todo
aquele ornato visível, ainda que perceptível aos olhos, não era materialmente
tangível, nem se poderia pegar com a mão. Era semelhante à luz do sol quando
entra por uma janela e deixa ver os átomos do ar, mas incomparavelmente mais
bela e vistosa.

Beleza dos anjos

Traziam na cabeça coroa de finas e vivíssimas flores que desprendiam
suavíssima fragrância de perfumes não terrenos, suaves e espiritualizados.
Nas mãos levavam palmas tecidas de variedade e formosura, significando as
virtudes que Maria Santíssima praticaria e as coroas que conquistaria com tanta
santidade e glória. Coroas e palmas que estavam como a lhe oferecer antecipadamente,
de modo velado, mas com júbilo e alegria.
- No peito traziam certa divisa ou dístico, mais ou menos como os distintivos
dos hábitos das Ordens militares, com as palavras "Maria Mãe de Deus".
Para aqueles santos príncipes eram de muita glória, adorno e beleza, mas a
Rainha não foram manifestados, até o momento em que concebeu o Verbo
encarnado.

Maria, Mãe de Deus

365. Esta divisa era admirável lo grande brilho que irradiava, salientando-
se entre os refulgentes adornos dos anjos. Variavam também nos reflexos
e raios, que representavam os diferentes mistérios e excelências desta
santa Cidade de Deus. Continham o maior renome e o mais sublime título e dignidade
que pode caber em pura criatura: "Maria Mãe de Deus".
Com este elogio prestavam a suprema homenagem à sua Rainha e nossa,
ficando eles também honrados por lhes pertencer, e recompensados por se haverem
distinguido na devoção e veneração à criatura mais digna de ser
venerada entre todas. Mil vezes ditosa as que merecerem a singular correspondência
do amor de Maria e de seu Filho Santíssimo

profunda humildade, afetos tão ternos, que não se podem dignamente encarecer,
pois considerava-se inepta e indigna para tão inefável mistério e dignidade de
Mãe de Deus.

Os setenta serafins

367. Os setenta serafins, dos mais próximos ao trono e que assistiam
à Rainha, foram os que se salientaram na devoção e complacência da união
hipostática das duas naturezas, divina e humana, na pessoa do Verbo. Estando
mais próximos a Deus pelo conhecimento e amor, tiveram particular desejo de
que este mistério se realizasse no seio de uma mulher. A este sentimento lhes
correspondeu o prêmio de glória essencial e acidental. A esta última, de que
vou falando, pertenceu o encargo de assistir Maria Santíssima e aos mistérios
que nela se operaram.

Senhora do céu, mas de natureza humana e terrena. Cobriam-na em sinal de
veneração, reconhecendo-a suprema criatura entre todas, de incompreensível
dignidade e grandeza, imediata ao mesmo Deus, acima de todo o entendimento
e juízo criado. Também por isto encobriam os pés, significando que os passos
de tão elevados serafins, não podiam ser comparados aos de Maria por sua dignidade
e excelência.

Os serafins refletiam a divindade

Com as duas asas do peito voavam ou as estendiam, dando a entender
seu incessante movimento e vôo de amor para Deus, e o louvor e profunda
reverência que lhe prestavam. No interior do peito, como num espelho puríssimo
no seu modo de ser e agir, refletiam para Maria Santíssima os reflexos da Divindade,
pois enquanto viadora não era possível que Deus se lhe mostrasse continuamente
em si mesmo. Por este motivo ordenou a beatíssima Trindade que sua
Filha e Esposa tivesse nestes serafins, as criaturas mais próximas de sua Divindade,
uma viva imagem do original que Ela nem sempre podia ver claramente.

Comunicação angélica

370. Deste modo, gozava a divina Esposa, na ausência de viadora, do
retrato de seu amado. Abrasava-se toda a chama de seu santo amor, na vista e
comunicação com estes inflamados e supremos príncipes.
O modo de se comunicar com eles, além do sensível, era o mesmo que
eles usam entre si, os superiores ilustrando aos inferiores, como outras vezes
tenho dito . Não obstante, a Rainha lhes ser superior em dignidade e graça
em a natureza - como disse David, salmo 8, 6 - o homem foi feito inferior aos anjos,
e a ordem comum de transmitir e receber estas influências divinas, segue
a natureza e não a graça.

Os doze anjos das doze portas

371. Os outros doze anjos são os das doze portas de que S. João falou
no capítulo 21 do Apocalipse (v. 12) como acima disse . Distinguiram-se no afeto e
louvor de que Deus se encarnasse, a fim de ser mestre e companheiro dos homens,
para depois redimi-los e lhes abrir, com seus merecimentos, as portas do céu, tendo
por coadjutora sua admirável Mãe.
Consideraram particularmente estes santos anjos, as maravilhosas obras
e caminhos que Deus ensinaria para os homens alcançarem a vida eterna, simbolizados
nas doze portas correspondentes à doze tribos.
A recompensa desta singular devoção, foi serem por Deus nomeados
para testemunhas e secretários dos mistérios da Redenção, e colaboradores da
Rainha do céu no privilégio de ser mãe de misericórdia e medianeira dos que a Ela
recorrem para se salvar. Por isto. disse, acima que a Rainha se serve principalmente
destes doze anjos para amparar, esclarecer e defender seus devotos, e em
particular para os tirar do pecado, quando juntamente com Maria, eles invocam estes
anjos.

Ofícios dos doze anjos

Estes doze anjos lhe apareciam corporalmente, como falei dos primeiros, mas
levavam muitas coroas e palmas, reservadas para os devotos desta
Senhora. Serviam-na dando-lhe a conhecer a inefável piedade do Senhor
Io gênero humano. Inspiravam-na a louvá-lo e a pedir-lhe que usasse dessa
piedade com os homens. Para este fim enviava-os como portadores de suas
súplicas ao trono do eterno Pai.
Estes anjos eram mandados também para inspirar e socorrer os devotos
que A invocavam ou que Ela queria acudir e proteger. Mais tarde isso
aconteceria muitas vezes com os santos Apóstolos, a quem, por ministério dos
anjos, auxiliava nos trabalhos da primitiva Igreja. Até hoje, do céu, exercem estes
doze anjos o mesmo ofício, assistindo aos devotos de sua e nossa Rainha.
das e petições para o bem das almas.

Os anjos da Paixão
373. Os dezoito anjos que faltam para completar o número de mil, foram
os que se distinguiram na compaixão pelos sofrimentos do Verbo humanado;
por isto, foi grande seu prêmio e glória.
Apareciam a Maria Santíssima com admirável beleza, levando como ornamento
muitos distintivos da Paixão e de outros mistérios da Redenção. Tinham
o particular ornato de uma cruz no peito e outra no braço, ambas de singular formosura
e refulgente esplendor.
A vista de tão peregrino hábito despertava na Rainha grande admiração, a
mais tema e compassiva lembrança do que o Redentor do mundo haveria de padecer,
assim como fervorosa gratidão pelos benefícios que os homens receberiam dos
mistérios da Redenção e resgate de seu cativeiro. Servia-se a grande Princesa destes
anjos para enviá-los muitas vezes a seu Pilho Santíssimo, com diversas embaixada e
petições para o bem das almas.

Perfeições angélicas

374. Com a descrição das formas e divisas destes anjos, declarei
alguma coisa das perfeições e operações destes espíritos celestiais, porém muito
menos do que possuem. São uns invisíveis raios da Divindade, agilíssimos em
seus movimentos e operações, fortíssimos no poder, perfeitíssimos no entender sem
errar, imutáveis em suas capacidades e vontade; o que uma vez aprendem nunca
mais esquecem nem perdem de vista.
Acham-se repletos de graça e glória sem perigo de perdê-las. Sendo
incorpóreos e invisíveis, quando o Altíssimo quer conceder aos homens o
favor de os ver, tomam corpo aéreo e aparente, adequado ao sentido e à finalidade
para a qual o assumem.
Todos estes mil anjos da Rainha Maria eram dos superiores, de suas
respectivas ordens e coros, consistindo esta superioridade principalmente no grau
de graça e glória.
Assistiram à guarda desta Senhora, sem faltar um instante, durante sua
vida santíssima, e agora no céu têm especial e acidental gozo com sua vista e
companhia. Ainda que alguns deles são distintamente enviados por Ela, todos mil
servem para este ministério, em algumas ocasiões que a disposição divina determina.

DOUTRINA QUE ME DEU A RAINHA DO CÉU.

Gratidão a Deus por nos ter dado anjos custódios

Minha filha, em três recomendações quero te dar a doutrina deste capítulo. A primeira, para seres agradecida,
com eterno louvor e reconhecimento, ao benefício de Deus em te dar anjos
para te assistir, ensinar e guiar em tuas tribulações e trabalhos.
Ordinariamente esquecem os mortais esta graça, com odiosa ingratidão
e detestável grosseria. Não consideram a divina misericórdia e benignidade
do Altíssimo em mandar estes santos príncipes para assistir, guardar e
defender criaturas terrenas, cheias de misérias e culpas, sendo eles de natureza
tão superior e espiritual, cheios de tanta glória, dignidade e beleza. Com este esquecimento
privam-se os ingratos homens de muitos favores dos mesmos anjos, e irritam ao Senhor. Tu, porém,
caríssima, reconhece esta graça e a ela corresponde com todas as tuas forças.

Respeito à presença do Anjo

376. A segunda recomendação seja que, sempre e em todo lugar, tenhas
amor e reverência a estes divinos espíritos, como se os visse com os olhos do
corpo. Vive advertida e circunspecta na presença dos cortesãos do céu, e não te
atrevas a proceder diante deles como não procederias diante de outras criaturas.
Não deixes de fazer no serviço do Senhor o que eles fazem e de ti desejam.
Lembra-te que eles estão sempre vendo a face de Deus (Mt 18, 10), como
bem-aventurados, e quando ao mesmo tempo te olham, nada vejam menos decente.
Agradece-lhes por te guardarem defenderem e ampararem.

Docilidade às inspirações do anjo

A terceira recomendação, é para viveres atenta aos chamamentos,
avisos e inspirações com que eles te despertam, movem e iluminam, para dirigir tua
mente e coração à lembrança do Altíssimo, e ao exercício de todas as virtudes. Considera
quantas vezes tu os chamas e eles te atendem. Sempre que os procuras os encontras.
Todas as vezes que lhes pediste notícias de teu amado as têm dado. Quantas
outras te chamaram ao amor de teu Esposo e repreenderam bondosamente teus descuidos
e omissões!
E, quando por tuas fraquezas e tentações perdeste a direção da luz, eles
te esperaram, suportaram e te esclarecendo trouxeram de novo ao caminho
certo das justificações e testemunhos do Senhor. Não esqueças quanto deves a
Deus por este benefício, mais do que muitas nações e gerações. Esforça-te por
ser grata a teu Senhor e aos anjos, seus ministros.



A PARTIDA.

Chegada a hora da partida, tomou-me a dileta Mãe pela mão, junto com José. Saímos daquela cidade, sem qualquer provisão, mas só confiados na providência de meu Pai. Havendo saído da cidade, voltei-me para trás, e alçando a destra, abençoei-a, suplicando ao Pai confirmasse sobre ela a bênção que dera e de novo lha recomendei. Começando a viagem, disse à querida Mãe que cantasse um novo canto de ação de louvor e graças ao Pai. Logo começou a cantar tão suavemente e com tanto gosto de meu Pai, meu e de José, que caminhamos um grande trecho da estrada sem sentirmos cansaço algum. Ofereci estes cânticos ao dileto Pai e pedi-lhe que por aquela sua e minha complacência se dignasse dar a todos os meus irmãos tanta graça que, ao ouvirem os louvores divinos, ficassem consolados no íntimo, e não sentissem cansaço no seu serviço. Assim se animem cada vez mais à fadiga e a todas aquelas ações que, em seu serviço, lhes possam trazer tédio e cansaço. O Pai prometeu-me fazê-lo, embora em muitos não cause estes efeitos a graça que Ele lhes comunica, porque a intenção deles não é inteiramente sincera, a vontade está manchada de amor próprio e o motivo de agir não é só para a glória e o serviço de meu Pai. Em conseqüência, não sentem aqueles efeitos admiráveis que a graça divina costuma causar numa alma verdadeiramente fiel,

COMBINAM O PASSO

Eu andava minha esposa, embora sendo menino pequeno, com passo igual à de minha e José, enquanto eles se acomodavam à minha fraqueza de criança e eu a sua condição; Esforçava-se por segui-los, . Ofereci ainda isso ao Pai e embora fosse uma coisa assim mínima, era contudo muito grande, porque feita por mim. Estando a minha humanidade unida à divindade, qualquer obra minha era de mérito e valor Infinitos. Pedi ao Pai que, em virtude daquela união que procurava obter, acomodando-me aos passos da divina Mãe e José, se dignasse dar graça e virtude a todos os meus irmãos, e de fazer cada um deles se acomodar à vontade de outrem naquelas coisas que são para sua glória e gosto: fazer com que cada um deles se acomodasse à debilidade e fraqueza do irmão enfermo e débil, e que este se esforce o mais possível por seguir a robustez de quem é mais forte e válido do que ele. Assim, unidos, acomodando-se um à condição do outro, sirvam ao Pai com paz e tranquilidade de espirito e cheguem ao fim visado: à aquisição da glória eterna.

Via que nisto muitos falhariam; e pedia com grande instância ao Pai que inserisse em seus corações essa bela virtude e união, da qual depende todo o proveito que deve uma alma tirar do serviço divino; se faltar essa virtude, tudo falta. O Pai me prometia fazê-lo. Mas, eu bem via que muitos e muitos haveriam de falhar: deixar-se-iam enganar nisto pelo amor próprio e pelo inimigo infernal, que com todo o seu poder se afadiga e empenha por abolir do mundo essa virtude de caridade e união com o próximo. Pedia-o com mais instancia ao Pai, e oferecia-lhe o pesar que experimentava, o qual na verdade era muito grande, porquanto este é um vicio assaz contrario à virtude e aquilo que eu viera ensinar. Meu Pai aceitava aquilo que eu fazia e oferecia-lhe com grande amor. Mostrava-se pronto a dar a todos nova graça em troca daquilo que recebia de mim e aplacava-se. Os meus irmãos muito o excitavam à ira pela pouca caridade e unanimidade entre si, pois não queriam compadecer-se mutuamente, nem suportar um a fraqueza do outro, enquanto meu Pai suporta inúmeras falta, imperfeições e defeitos de todos, e acomoda-se à vontade deles nas coisas que lhes são proveitosas. Pedia-lhe ainda se dignasse conceder luz a todos para conhecerem esta verdade, e assim à minha imitação, soubessem acomodar-se e concordar entre si: muito mais se animassem a fazê-lo ao ver que não só não desdenhei praticá-lo, mas cumpri-o com tanto gosto, amor e resignação; e isto por amor deles e para deixar-lhes um exemplo perfeito. Rogava ao Pai abençoasse e desse nova graça a todos aqueles que me tivessem imitado. Tinha a todos presentes, olhava-os com amor e impetrava-lhes muitas graças, em particular a perseverança final, nesta como em todas as haverem tido, muitas vezes faltam outras virtudes. Meu Pai benignamente mo concedeu e agradeci-lhe por parte de todos, também por aqueles que ainda não tinham o ser, e depois de o haverem tido, ainda faltam neste ponto. Por isso supri a omissão de todos. Ficou meu Pai inteiramente satisfeito.

 

AS BÊNÇÃOS DE JESUS

Prosseguindo assim nossa viagem, ia dando a benção por todos os lugares por onde passava e pedia a meu Pai se dignasse fazer com que aquelas estradas e lugares fossem habitados por pessoas que lhe dessem muita glória, lá o servissem fielmente, imitassem a minha vida e praticassem as minhas virtudes. O Pai prometeu-me fazer, como efetivamente fez depois, enquanto por seu particular impulso, muitos, tendo deixado o mundo e todas as suas comodidades e riquezas, se retiraram a estes desertos e campos para poderem levar uma vida mais angélica do que humana, e aqueles lugares se transformaram em escolas de toda a virtude e perfeição. Quanto me alegrava, esposa minha, ao ver que nisto se realizaria a promessa de meu Pai pelo pedido que fiz,  de modo que eu, por gratidão para com o Pai, prostrei-me por terra e, genuflexo, adorei-o e agradeci-lhe tamanho beneficio.

Orei por uma assistência e cuidado particular para com todos aquelas que ali fossem levados por Impulso divino, com intenção de lá fazerem sua morada em vigílias e penitências, para glória de meu Pai e imitação minha, a fim de depois conseguirem o prêmio, prometido por meu Pai a quem deixar tudo para seguir me e imitar-me. Supliquei-lhe ainda para todos o dom da perseverança. porque via que muitos haveriam de faltar quanto a isto por instigação do Inimigo infernal, o qual, com várias espécies de tentações e muitas astúcias, se empenharia por fazê-los retroceder do bem iniciado. Por isso, rezei ainda a meu Pai se dignasse freiar a besta infernal, dar aqueles tanta luz que pudessem conhecer as suas astúcias e lisonjas e simultaneamente graça para superarem-nas. O dileto Pai tudo me prometeu, como de fato o realizou e ainda o vai executando, não deixando jamais de dar luz, graça e virtude àqueles todos que se acham em semelhante estado, a fim de que possam preservar-se das insídias e sibilas do inimigo tentador, que odeia ferozmente todos aqueles que se põem a seguir-me e a imitar-me, porque sabe quão grande é o bem que eles fazem e a grande recompensa que lhes está preparada, como ainda o dano e ruína que a esse inimigo advém pelas perdas que assim sofre. Por isto jamais repousa, sempre gira e regira, e como cão raivoso tenta morder quem se opõe a seus perversos desígnios. Mas, efetivamente a imundíssima fera nada pode fazer, se não lho permite meu Pai. Assim todas as suas fraudes e insídias servem a meus irmãos para aumentar-lhes o mérito e a glória, enquanto eles as superam e vencem com a graça de meu Pai.

JESUS NOS BRAÇOS DE JOSÉ E DE MARIA

Havendo já caminhado um grande trecho, estava muito cansado; percebeu-o minha dileta Mãe enquanto participante de todos os padecimentos que sentia em minha humanidade. Ofereceu-se junto com José para levar-me sucessivamente nos braços. Aceitei para dar-lhes aquela consolação, unia vez que também eles estavam muito atribulados pela viagem. Consenti que primeiro minha querida Mãe me carregasse nos braços por algum tempo, depois José, no intuito de, em tal ocasião, consolar um e outro. Roguei, portanto, ao Pai fizesse que não sentissem peso nem fardo algum, e ainda que os consolasse e revigorasse mais para poderem prosseguir viagem, pois estavam eles igualmente muito cansados e sem conforto humano. Havendo minha Mãe me tomado nos braços, entendeu logo o favor da virtude divina que em mim habitava e cheia de alegria e revigorada quanto às forças corporais, andava sem dar atenção a isso, sem sentir fardo, nem peso, ao invés, com muita alegria e consolação. Depois de algum tempo entregou-me a José, pois assim lhe ordenei. Operaram-se os mesmos efeitos em José, mas não com aquela sublimidade de efeitos que minha dileta Mãe experimentava. Assim, tanto um como outro, prosseguiram o caminho com regozijo, sem fadiga, nem cansaço. Eu, no entanto, ofereci aquela caridade e amor a meu Pai e supliquei-lhe se dignasse conceder graça idêntica a todos os meus irmãos. principalmente aqueles que se exercitam de meu Pai, em semelhantes atos de caridade, isso é, todos os que por amor querem assumir as fadigas insustentáveis para o próximo enfermo e débil, e que, visando proporcionar- lhe refrigério e aliviá-lo nas tribulações, substituíam-no nas fadigas ou em outras obras que o irmão não pode suportar. Por eles pedi ao Pai que, visto fazerem-no eles por amor seu e para imitar-me, desse-lhes graças para não sentirem fadiga ou tédio ou peso que a obra lhes possa trazer. Concedesse-lhes tanta graça que naquela ação, e obra de caridade experimentassem muita consolação e conforto de espírito.  E se aquilo, que se faz por amor de uma criatura não causa enjôo ou tédio a quem ama, convém muito mais que as obras feitas por amor de meu Pai não provoquem tédio, fastio ou cansaço. Ao invés. encha-se a alma de celeste consolo espiritual, de virtude e força para praticar coisas cada vez maiores para a glória do Pai e para proveito próprio, e utilidade do próximo necessitado e angustiado.

Tudo isto me prometeu fazer o Pai com particular cuidado e providência, como de fato o vai realizando. Pode a respeito dar verdadeiro testemunho quem nisto se vai exercitando, e verdadeirameme o faz por amor de meu Pai, sem outro interesse. Quem assim age, não pode negar ter sentido todos aqueles efeitos que já mencionei; e se não os experimente é por não ser a sua vontade inteiramente perfeita, nem o amor verdadeiro. Pois, onde se encontra genuíno amor e boa vontade, encontra-se ainda tudo o que referi. Eu o impetrei de meu Pai e Ele, tendo me prometido, não pode falhar, nem falhará jamais. Via, porém. que muitos falhariam nisto, por ai misturarem fins peculiares não inteiramente retos. Sentia pesar por ver que não davam a meu Pai aquele gosto que lhe teriam dado se agissem com reta intenção e também, porque eles perdem o mérito da obra, e ao agirem, não recebem o prémio por eles esperado, devido ao defeito inerente. Disto sentia pesar e rogava com grande instância ao Pai se dignasse purificar-lhes a intenção, aperfeiçoar-lhes a vontade, a fim de que, tendo-se afadigado, não fossem depois frustrados do prêmio preparado. Também nisto atendeu-me o Pai. E, em verdade, não deixa de insinuar continuamente ao coração daqueles que nisto se exercitam, que purifiquem a própria intenção, aperfeiçoar-lhes a vontade, afim de que tendo se afadigado, não fossem frustrados do prêmio esperado.

Também nisto atendeu-me o Pai, e em verdade não deixa de insinuar continuamente ao coração daqueles que nisto se exercitam, que purifiquem a própria intenção e mantenham liberta a vontade de qualquer complacência, vaidade, e outras que lhes possa fazer perder o mérito das próprias ações. Muitos deles aproveitavam, e executavam quanto meu Pai sugeria-lhes com as divinas inspirações. Disto me alegrava e rendia graças ao Pai. Impetrava-lhes nova graça e virtude. Porém entristecia-me, por causa dos que abusavam e não davam ouvidos à divina inspiração, mas seguiam seus ditames e faltas atenções. Para suprir-lhes a falta, oferecia ao Pai as minhas retas intenções, ao agir só para a sua maior gloria e satisfação, que por estes últimos lhe era negada. Muito aprazia meu dileto Pai, tudo o que eu fazia e frequentemente me dizia: ¨Meu filho amado e dileto! Encontro em ti todas as minhas delícias e complacências e de ti recebo toda a glória, e mais me alegro em ti sozinho do que em todas elas juntas, mesmo se fossem perfeitas e santas¨. Eu ao ouvir estas palavras, experimentava na alma, e também em minha humanidade novo gáudio pela complacência de meu dileto Pai.

Oferecia-lhe este gáudio que experimentava e por ele suplicava-lhe não se irar contra meus irmãos delinquentes, mas suportá-los e sustentá-los com longanimidade e provê-los com seu amor paterno. Pedia-lhe, por aquele gáudio e aquele prazer que Ele experimentava em mim, que se dignasse consolar todos os meus irmãos aflitos e angustiados no caminho da virtude, dos quais via muitos. O Pai benigno e amoroso me atendeu em quanto lhe pedi, com todo amor e solicitude



12-29
Dezembro 12, 1917

O sol dá uma semelhança dos atos feitos no Divino Querer.

(1) Continuando o meu estado habitual, eu estava me fundindo toda no Santo Querer do meu
doce Jesus, e rezava, amava e reparava; e Ele me disse:
(2) "Minha filha, queres uma semelhança dos atos feitos no meu Querer? Olhe para o alto e aí
encontrará o sol, um círculo de luz que tem seus limites, sua forma, mas a luz que sai deste sol,
de dentro dos limites de seu arredondamento, enche a terra, se estende em qualquer lugar, não
em forma redonda mas onde encontra terra, montes, mares para iluminar e para revestir com
seu calor; tanto que o sol com a majestade de sua luz, com o benéfico influxo de seu calor e
com investir a todos, se torna o rei de todos os planetas e tem a supremacia sobre todas as
coisas criadas. Agora, assim são os atos feitos em meu Querer, e ainda mais, a criatura ao agir,
seu ato é pequeno, limitado, mas conforme entra em meu Querer se faz imenso, inviste a todos,
dá luz e calor a todos, reina sobre todos, adquire a supremacia sobre todos os outros atos das
criaturas, tem direito sobre todos; assim que impera, governa, conquista, não obstante seu ato é
pequeno, mas com fazê-lo em meu Querer sofreu uma transformação incrível, que nem ao anjo
lhe é dado compreendê-lo, só Eu posso medir o justo valor destes atos feitos em minha
Vontade, são o triunfo de minha glória, o desabafo de meu amor, o cumprimento de minha
Redenção, e me sinto como compensado da mesma Criação, por isso sempre adiante em meu
Querer".

13-31
Novembro 8, 1921
Viver no Divino Querer significa multiplicar a Vida de Jesus com todo o bem que contém.

(1) Encontrando-me em meu habitual estado, meu sempre amável Jesus se fez ver tomando
uma luz que estava em meu interior e a levava. Eu gritei: "Jesus, o que estás a fazer, queres
deixar-me às escuras?" E Ele com toda doçura me disse:
(2) "Minha filha, não temas, levo tua pequena luz e te deixo a minha. Esta pequena luz não é
outra coisa que tua vontade, que tendo posto de frente à minha recebeu o reflexo da minha
Vontade, por isso se fez luz. Eu a levo para fazê-la girar, a levarei ao Céu como a coisa mais
rara e mais bela, qual é a vontade humana que recebeu o reflexo da Vontade de seu Criador; a
farei girar entre as Divinas Pessoas, a fim de que recebam as homenagens, as adorações de
seus reflexos, só dignos delas, e depois a mostrarei a todos os santos, a fim de que também
eles recebam a glória dos reflexos da Vontade Divina na vontade humana, e depois a farei
correr por toda a terra, a fim de que todos tomem parte em tão grande bem".
(3) Em seguida acrescentei: "Meu amor, perdoa-me, acreditava que me querias deixar às
escuras, por isso disse: que fazes? Mas quanto à minha vontade, leva-a e faz o que
quiseres". Agora, enquanto Jesus levava esta pequena luz em suas mãos, não sei dizer o que
acontecia, faltam-me as palavras para expressar-me, só recordo que a pequena luz a punha de
frente a sua pessoa, e a pequena luz recebia todos seus reflexos, de modo que formava outro
Jesus, e cada vez que minha vontade repetia os atos, tantos Jesus se multiplicavam. E o meu
Jesus disse-me:
(4) "Vês o que significa viver no meu Querer? É multiplicar minha Vida por quantas vezes se
quer, é repetir todo o bem que minha Vida contém".
(5) Depois disto estava dizendo a meu Jesus: "Minha vida, entro no teu Querer para poder
estender-me a todos e a tudo, desde o primeiro ao último pensamento, da primeira à última
palavra, da primeira à última ação e passo que fizeram, fazem e farão; Quero selar tudo com
teu Querer a fim de que recebas de tudo a glória de tua santidade, de teu amor, de tua
potência, e tudo o que é humano fique coberto, escondido, marcado por teu Querer, a fim de
que nada, nada fique de humano em que Tu não recebas glória divina".
(6) Enquanto isto e outras coisas fazia, meu doce Jesus veio todo jubiloso, acompanhado de
inumeráveis bem-aventurados, e Ele me disse:
(7) "Toda a Criação me diz glória minha, glória minha".

(8) E todos os santos responderam: "Eis, ó Senhor, que por tudo te damos glória divina". Ouvia-
se um eco por toda parte que dizia: "De tudo te damos amor e glória divina". E Jesus acrescentou:
(9) "Bendita sois vós, e todas as gerações vos chamarão bem-aventurada. Meu braço fará
obras de poder em ti; serás o reflexo divino, que enchendo toda a terra me farás resgatar de
todas as gerações a glória que elas me negam".
(10) Eu fiquei confusa e aniquilada ao ouvir isto, e não queria escrever; e Ele me acariciou me
disse:
(11) "Não, não, você o fará, eu o quero; o que eu disse servirá para honra de minha Vontade,
eu mesmo quis prestar a homenagem justa que convém à santidade em meu Querer; antes não
disse nada em comparação ao que poderia dizer".

15-31
Junho 21, 1923
Diferença entre quem reza e trabalha no Divino Querer tendo conhecimento do que faz, e
entre quem se encontra nele porque a Divina Vontade o envolve e que por sua natureza se

encontra por toda parte.

(1) Estava a fazer a minha adoração ao crucificado bem minha, e estava a dizer-lhe: "Entro no teu
Querer, aliás, dá-me a tua mão e põe-me tu mesmo na imensidão da tua Vontade, a fim de que
nada faça que não seja efeito do teu Santíssimo Querer". Agora, enquanto isto dizia entre mim:
"Como, a Vontade Divina está por toda parte, portanto já me encontro nela, e eu digo entro em teu
Querer?" Mas enquanto pensava assim, o meu doce Jesus, movendo-se dentro de mim, disse-me:
(2) "Minha filha, no entanto há grande diferença entre quem reza ou obra porque minha Vontade o
envolve e por sua natureza se encontra em todas partes, e entre quem por sua própria vontade,
tendo em si conhecimento do que faz, entra no ambiente divino de minha Vontade para obrar e
rezar. Sabes o que se passa? Acontece como quando o sol enche a terra de sua luz, mas nem em
todos os pontos a luz e o calor são iguais; em alguns pontos há sombras, em outros pontos há luz
direta e o calor é mais intenso; agora, quem goza mais luz, quem sente mais calor, quem está na
sombra ou quem está nos pontos onde a luz não está coberta pela sombra? Embora não se possa
dizer que onde há sombra não há luz, mas onde não está a sombra a luz é mais viva, o calor é
mais intenso, é mais, os raios do sol parece que invistam o lugar, E se o sol tivesse razão e uma
criatura por sua espontânea vontade se expusesse a seus ardentes raios, e em nome de todos
dissesse ao sol: Obrigado, oh! sol por sua luz, por todos os bens que faz com encher a terra, por
todos quero te dar a correspondência pelo bem que faz'. Que glória, honra, complacência, não
receberia o sol? Agora, é verdade que minha Vontade está por toda parte, mas a sombra da
vontade humana não deixa sentir a vivacidade da luz, o calor e todo o bem que contém; em troca,

45
querendo entrar em minha Vontade, a alma deponha a sua e tira a sombra de seu querer, e a
minha Vontade faz resplandecer a sua vívida luz, investe-a, transforma-a na mesma luz, e a alma
abismada no meu Querer Eterno diz-me: Obrigado, oh! Santo Querer Supremo por sua luz, por
todos os bens que faz com encher Céu e terra de seu Eterno Querer, por todos quero te dar a
correspondência do bem que faz'. E eu sinto tal honra, glória e complacência, que nenhum outro a
iguala. Minha filha, quantos males faz a sombra da própria vontade: Esfria a alma, produz o lazer, o
sono, o entorpecimento. Diversamente é quem vive na luz do meu Querer".
(3) Depois disto me encontrei fora de mim mesma, e via como se devessem vir doenças
contagiosas, e muitos eram levados aos lazaretos; reinava um espanto geral, e tantos outros males
de novo gênero, mas espero que Jesus queira aplacar-se pelos méritos de seu preciosíssimo
sangue.

19-28
Junho 20, 1926
Ecce Homo. Jesus sentiu tantas mortes por quantos gritaram crucifica-o. Quem vive na
Divina Vontade toma o fruto das penas de Jesus. O ideal de Jesus na Criação era o reino de sua Vontade na alma.

(1) Depois de ter passado dias amargos pela privação de meu doce Jesus, sentia que não podia
mais, eu gemia sob uma prensa que me triturava alma e corpo e suspirava por minha pátria
celestial, onde nem por um instante teria ficado privada Daquele que é toda minha vida e meu
sumo e único bem. Logo, quando me reduzi aos extremos sem Jesus, senti-me encher toda Dele,
de modo que eu ficava como um véu que o cobria, e como estava pensando e acompanhando-o
nas penas de sua Paixão, especialmente no momento em que Pilatos o mostrou ao povo dizendo:
"Ecce Homo", meu doce Jesus me disse:.
(2) "Minha filha, quando Pilatos disse Ecce Homo', todos gritaram: „Crucifica-o, crucifica-o, o
queremos morto'. Também meu Pai Celestial e minha inseparável e trespassada Mãe, e não só
aqueles que estavam presentes mas todos os ausentes e todas as gerações passadas e futuras, e
se alguém não o disse com a palavra, disse-o com as ações, porque não houve um só que
dissesse que me queriam vivo, e o calar é confirmar o que querem os outros. Este grito de morte
de todos foi para Mim dolorosíssimo, Eu sentia tantas mortes por quantas pessoas gritaram
crucifica-o, me senti como afogado de penas e de morte, muito mais que via que cada uma de
minhas mortes não levava a cada um a vida, e aqueles que recebiam a vida por causa da minha
morte não recebiam todo o fruto completo da minha paixão e morte.

Foi tanto minha dor, que minha Humanidade gemente estava por sucumbir e dar o último respiro, mas enquanto morria, minha
Vontade Suprema com sua Onividência fez presentes a minha Humanidade Morrente a todos
aqueles que teriam feito reinar neles, com domínio absoluto ao Eterno Querer, os quais tomariam o
fruto completo de minha Paixão e morte, entre os quais estava, à cabeça, minha amada Mãe, Ela
tomou todo o depósito de todos os meus bens e dos frutos que há em minha Vida, Paixão e Morte
nem sequer um respiro meu perdeu e do qual não guardasse o precioso fruto, e dela deviam ser
transmitidos à pequena recém-nascida da minha Vontade e a todos aqueles nos quais o Supremo
Querer teria tido a sua Vida e o seu Reino. Quando minha Humanidade expirante viu posto a salvo
e assegurado o fruto completo de minha Vida, Paixão e Morte, pôde retomar e continuar o curso da
dolorosa Paixão. Portanto, é só a minha Vontade que leva toda a plenitude dos meus bens e o fruto
completo que há na Criação, Redenção e Santificação.

Onde Ela reina, nossas obras estão todas cheias de vida, nada está à metade ou incompleta, em troca onde Ela não reina, embora houvesse
alguma virtude, tudo é miséria, tudo é incompleto, e se produzem algum fruto é amargo e sem
amadurecimento, e, se tiram os frutos da minha redenção, tomam-nos com medida e sem
abundância, e por isso crescem fracos, doentes e febris, e por isso, se fazem pouco de bem, mal o
fazem e se sentem esmagados sob o peso daquele pouco de bem que fazem; em troca minha
Vontade esvazia a vontade humana e põe nesse vazio a força divina e a vida do bem, e por isso
quem a faz reinar nela faz o bem sem cansaço, e a Vida que a contém a leva a operar o bem com
uma força irresistível, Assim que minha Humanidade encontrou a vida em minha Paixão e Morte e
em quem devia reinar minha Vontade, e por isso a Criação e a Redenção estarão sempre
incompletas, até que minha Vontade não tenha seu Reino nas almas"..

(3) Depois disto estava fazendo meus acostumados atos no Querer Supremo, e meu doce Jesus
saindo de dentro de mim seguia com seu olhar tudo o que eu fazia, e como via que todos meus
atos se fundiam com os seus, e em virtude do Querer Supremo faziam o mesmo caminho de seus
atos e repetiam o mesmo bem e a mesma glória a nosso Pai Celestial, tomado por uma ênfase de
amor me estreitou a seu coração e me disse:.

(4) "Minha filha, embora sejas pequena e recém-nascida na minha Vontade e vivas no reino do
meu Querer, a tua pequenez é o meu triunfo, e quando te vejo a trabalhar nele Eu encontro-me no
Reino da minha Vontade como um rei que travou uma longa guerra, e como o seu ideal era a
vitória, ao ver-se vitorioso se sente aliviado da sangrenta batalha, das fadigas sofridas e das feridas
ainda impressas em sua pessoa, e seu triunfo vem formado ao ver-se circundado das conquistas
que fez. O rei quer olhar tudo, seu olhar quer recrear-se no Reino conquistado, e triunfante sorri e
faz festa.

Assim sou Eu, meu ideal na Criação era o Reino de minha Vontade na alma da criatura;
meu primeiro fim era fazer do homem outras tantas imagens da Trindade Divina em virtude do
cumprimento de minha Vontade sobre ele, mas assim que o homem se subtraiu d'Ela Eu perdi meu
Reino nele, e durante seis mil anos tive que manter uma longa batalha, mas por quanto longa não
deixei afastado meu ideal nem minha primeira finalidade, nem a deixarei, e se vim na Redenção,
vim para realizar meu ideal e minha primeira finalidade, isto é, o Reino de minha Vontade nas
almas, tão é verdade, que para vir formei meu primeiro Reino do Querer Supremo no coração de
minha Mamãe Imaculada, fora de meu Reino jamais teria vindo à terra; assim que sofri cansaço e
penas, fiquei ferido e finalmente assassinado, mas o Reino de minha Vontade não foi realizado,
lancei os fundamentos, Fiz os preparativos, mas a batalha sangrenta entre a vontade humana e a
Divina continuou ainda. Agora minha pequena filha, quando te vejo operar no Reino da Minha
Vontade, e conforme obras, o Reino dela se estabelece sempre mais em ti, Eu me sinto vitorioso
de minha longa batalha e tudo toma a atitude em torno de Mim de triunfo e festa, minhas penas,
meus cansaços, As feridas, sorriem para mim e a minha própria morte dá-me novamente a Vida da
minha Vontade em ti. Assim que Eu me sinto vitorioso da Criação, da Redenção, mas bem, Elas
servem para formar os longos giros à recém nascida de minha Vontade, os rápidos vôos, os

intermináveis passeios no Reino de minha Vontade, e Eu por isso a levo como triunfo, e fazendo-
me feliz sigo com meu olhar todos os passos e atos de minha pequena filha. Olha, todos têm seu

ideal e quando o realizam, então estão contentes, Mesmo o pequeno menino tem seu ideal de
agarrar-se ao peito da mamãe, e enquanto chora e soluça, só que a mãe lhe abra o seio, o menino
cessa de chorar, sorri e lançando-se se cola ao peito da mamãe e vitorioso chupa, chupa até
saciar-se, e enquanto chupa, triunfante toma seu doce sono; tal sou Eu, depois de longo pranto,
quando vejo o seio da alma que me abre as portas para dar lugar ao Reino da Vontade Suprema,
minhas lágrimas se detêm e lançando-me a seu seio me pego a ela, e, sugando o seu amor e os
frutos do reino do meu Querer, tomo o meu doce sono, e vitorioso me repouso. Até o pequeno
passarinho, seu ideal é a semente, e quando a vê agita as asas, corre, precipita-se sobre a
semente e vitorioso a engole e triunfante empreende seu vôo; tal sou Eu, vôo e alvoroço, giro e
volto a girar para formar o Reino de minha Vontade na alma, a fim de que ela me forme a semente
para me alimentar, porque Eu não tomo outro alimento senão o que é formado em meu Reino, e
quando vejo esta semente celestial, mais que passarinho vôo para fazer dela meu alimento. Assim
que o todo está no cumprir cada um seu ideal que se prefixou, Eis por que quando te vejo operar
no Reino de minha Vontade vejo meu ideal realizado e me sinto correspondido pela obra da
Criação e da Redenção e o triunfo de minha Vontade estabelecido em ti. “Por isso, fica atenta e faz
com que a vitória do teu Jesus seja em ti permanente".

(5) Depois disto o meu doce Jesus moveu-se dentro de mim e todo ternura me disse:.
(6) "Minha filha, dize-me, e o teu ideal, a tua finalidade, qual é?".
(7) E eu: "Meu amor, Jesus, meu ideal é cumprir tua Vontade, e toda minha finalidade é de chegar
a que nenhum pensamento, palavra, batimento e obra, jamais saiam fora do Reino de tua Suprema
Vontade, antes, que nela sejam concebidos, nutridos, crescidos e formem sua vida, e se for
necessário, até a sua morte, embora eu saiba que em seu Querer nenhum ato morre, mas
nascidos uma vez vivem eternamente, assim que é o reino de seu Querer em minha pobre alma o
que suspiro, e isto é todo o meu ideal e meu primeiro e último fim". E Jesus, todo amor e festa
acrescentou:.
(8) "Minha filha, assim que meu ideal e o teu são o mesmo, e portanto única nossa finalidade,
bravo, bravo à filha de minha Vontade! E como seu ideal e o meu são um só, também tu travaste a
batalha de longos anos para conquistar o Reino da minha Vontade, deves suportar penas,
privações e tens estado até prisioneira em teu quarto, atada a teu pequeno leito para conquistar
esse Reino tão querido e suspirado por Mim e por ti; a ambos nos custou muito e agora somos os
dois triunfadores e conquistadores, assim também tu és a pequena rainha no Reino de minha
Vontade, e ainda que pequena és sempre rainha, porque és a filha do grande Rei, de nosso Pai
Celestial; por isso, como conquistadora de tão grande Reino toma posse de toda a Criação, de toda
a Redenção e de todo o Céu, tudo é teu, porque onde quer que reina a minha Vontade íntegra e
permanente, se estendem os teus direitos de possessão, todos te esperam para te dar as honras
que convêm a tua vitória.

(9) Também és a pequena menina que tanto choraste e suspiraste a teu Jesus, e não apenas me
viste, tuas lágrimas cessaram e, lançando-te em meu seio, agarraste-te a meu peito e vitoriosa
sugasse minha Vontade e meu amor, e como em triunfo tomaste repouso em meus mesmos
braços, e eu te embalava para que fosse mais longo teu sono e assim poder gozar a minha recém-
nascida em meus mesmos braços, e triunfante estendia em ti o Reino de minha Vontade. Também
és a pequena pombinha que giraste, e giraste em torno de Mim, e conforme eu te falava de Querer,
te manifestava o conhecimento d‟Ele, os seus bens, os seus prodígios e até a sua dor, tu agitavas
as asas e precipitavas-te sobre as tantas sementes que Eu te punha diante, tu as engolias e
triunfante empreendias teu vôo em torno de Mim, esperando outras sementes de meu Querer que
Eu te pusesse diante, E tu, comendo-as, alimentavas-te e vitoriosa empreendias o teu voo
manifestando o reino da minha Vontade.
“Assim que minhas prerrogativas são as tuas, meu Reino
e o teu é um só, sofremos juntos, é justo que juntos desfrutemos nossas conquistas".
(10) Eu fiquei surpreendida ao ouvir isto e pensava entre mim: "Mas será realmente verdade que
em minha pobre alma esteja este Reino da Vontade Suprema?" E me sentia toda confusa, e se isto
o escrevi, o escrevi por obedecer, mas enquanto escrevo Jesus me surpreendeu, e, saindo de
dentro de mim, pôs os seus braços à volta do meu pescoço, apertando-me com força, com força,
de tal maneira que não pude escrever mais, porque a minha pobre cabeça já não estava em mim,
mas Jesus depressa desapareceu e eu retomo a escrita. Depois, enquanto eu temia, Jesus me
disse:.
(11) "Minha filha, minha Mãe Celestial pôde me dar aos demais porque me concebeu em Si
mesma, me cresceu e me alimentou. Ninguém pode dar o que não tem, e se me deu aos outros era
porque me possuía. Agora, jamais te teria dito tanto sobre o meu Querer se não quisesse formar
em ti o seu Reino, nem tu o terias amado tanto se não fosse teu; as coisas que não são próprias se
têm de má vontade e dão incômodo e peso, e se não tivesses em ti a fonte que surge do Reino do
meu Querer, não saberias dizer o que te tenho dito, nem pô-lo no papel, faltando-te a posse te
faltaria a luz e o amor de as manifestar, assim que se o sol brilha em ti e com seus raios te põe as
palavras, os conhecimentos e o como quer reinar, é sinal que o possuis, e por isso seu trabalho é
de fazê-lo conhecer, como foi trabalho da Soberana Rainha me fazer conhecer e me dar para a
salvação de todos"..

20-28
Novembro 21, 1926

Ternura de Jesus no ponto da morte. Como quem vive no Querer Divino tem a primazia sobre tudo.

(1) Sentia-me toda aflita pela morte de improviso de uma irmã minha, o temor de que meu amável
Jesus não a tivesse Consigo me dilacerava o ânimo e ao vir meu sumo Bem Jesus lhe disse minha
pena, e Ele todo bondade me disse:
(2) "Minha filha, não temas, acaso não está minha Vontade que supre a tudo, aos mesmos
Sacramentos e a todas as ajudas que se podem dar a uma pobre moribunda? Muito mais quando
não há a vontade da pessoa de não querer receber os Sacramentos e todas as ajudas da Igreja,
que como mãe dá naquele ponto extremo. Deves saber que o meu Querer ao arrebatá-la da terra
de improviso a circundei pela ternura da minha humanidade, o meu coração humano e divino
colocou em campo de ação as minhas fibras mais ternas, de modo que seus defeitos, suas
fraquezas, suas paixões, foram olhadas e pesadas com tal fineza de ternura infinita e divina, e
quando Eu ponho em campo minha ternura não posso fazer menos que ter compaixão e deixá-la
passar a bom porto, como triunfo da ternura de seu Jesus. E além disso, não sabe você que onde
faltam as ajudas humanas abundam as ajudas divinas? Você teme porque não havia ninguém ao
seu redor e se quis ajuda não teve a quem pedir.
Ah, minha filha, naquele ponto as ajudas humanas cessam, não têm nem valor nem efeito,
porque a alma entra no ato único e primeiro com seu Criador, e neste ato primeiro a ninguém é dado entrar,
e além disso, a quem não é um perverso, a morte repentina serve para não fazer pôr em campo a ação diabólica, suas tentações,
os temores que com tanta arte lança nos moribundos, porque se os sente arrebatar sem poder
tentá-los nem seguir, por isso o que se crê infelizmente pelos homens, muitas vezes é mais que
graça".
(3) Depois disso, eu abandonei tudo no Supremo Querer e meu doce Jesus continuando a sua fala
me disse:
(4) "Minha filha, quem vive em meu Querer tem a primazia sobre tudo e sobre todos os atos das
criaturas, tem diante de seu Criador o ato primeiro no amor, assim que se as outras criaturas
amam, a alma que vive em meu Querer é a primeira a amar, as demais vêm, quem em segundo,
quem em terceiro, quem em quarto, segundo a intensidade de seu amor; se as outras criaturas me
adoram, me glorificam, me pedem, a alma que vive em meu Querer é a primeira a me adorar, a
glorificar-me, a pedir-me. Isto é conatural, porque minha Vontade é vida e ato primeiro de todas as
criaturas, portanto quem vive n‟Ela encontra-se em seu ato primeiro, e é a primeira sobre todas as
criaturas diante de Deus a fazer todos os atos delas e a fazer todos os atos que elas não fazem.

Assim, a Soberana do Céu que nunca deu vida a seu querer, mas teve toda sua vida no Meu, tem
como direito a primazia, por isso é Ela a primeira a nos amar, em nos glorificar, em nos pedir; se
vemos que as outras criaturas nos amam, é atrás do amor da Celeste Rainha; se nos glorificam e
rezam, é por trás da glória e oração daquela que tem a primazia e por consequência o império
sobre tudo. Como é bonito vê-la, que conforme as criaturas nos amam, Ela não cede jamais seu
primeiro lugar no amor, mas sim enquanto se põe como ato primeiro, faz correr seu mar de amor
em torno da Majestade Suprema, de modo que as outras criaturas ficam atrás do mar de amor da
Mãe Celestial com suas gotas de amor, e assim de todos os demais atos. Ah minha filha, viver em
minha Vontade é uma palavra, mas é uma palavra que pesa tudo quanto pesa a eternidade, é uma
palavra que abraça tudo e a todos".

21-3
Março 3, 1927
Onde reina o Divino Querer chama a Deus junto com seu agir. O oferecimento a Deus das próprias ações as purifica e as desinfeta.

(1) Estava oferecendo meus pequenos atos como homenagem de adoração e de amor ao
Supremo Querer, e pensava entre mim: "Mas será certo que o que faz a alma que faz a Divina
Vontade, o faz o mesmo Deus? Que glória pode ele receber, se eu lhe oferecesse o meu pequeno
trabalho e tudo o que posso fazer, o viesse fazer comigo?" E o meu doce Jesus a mover-se dentro
de mim disse-me:
(2) "Minha filha, não me sentes em ti que estou a seguir os teus atos? Porque onde reina minha
Vontade, todas as coisas, até as mais pequenas e naturais se convertem em deleite para Mim e
para a criatura, porque são efeito de uma Vontade Divina reinante nela, que não sabe fazer sair de
Si nem sequer a sombra de alguma infelicidade. Além disso, você deve saber que na Criação
nosso Fiat Supremo estabeleceu todos os atos humanos, investindo-os de deleite, de alegria e de
felicidade, assim que o mesmo trabalho não devia provocar nenhum peso ao homem, nem causar-
lhe a mínima sombra de cansaço, porque possuindo meu Querer possuía a força que jamais se
cansa nem diminui. Olhe, também as coisas criadas são símbolo disto, cansa-se talvez o sol de dar
sempre a sua luz? Certamente que não; cansa-se o mar de murmurar continuamente, de formar as
suas ondas, de nutrir e de multiplicar os seus peixes? Certamente que não; cansa-se o céu de
estar sempre estendido, a terra de florescer? Não. Mas por que não se cansam? Porque está
dentro deles o poder do Fiat Divino, que tem a força que não se esgota jamais. Então todos os atos
humanos entram na ordem de todas as coisas criadas e todos recebem a marca da felicidade: o
trabalho, o alimento, o sono, a palavra, o olhar, o passo, tudo. Agora, até que o homem se
mantenha em nosso Querer, se mantém santo e são, cheio de vigor e de energia incansável, capaz
de saborear a felicidade de seus atos e de fazer feliz Aquele que lhe dava tanta felicidade; mas
assim que se subtraiu, adoeceu e perdeu a felicidade, a força incansável, a capacidade e o gosto
de saborear a felicidade de seus atos que o Divino Querer com tanto amor havia investido. Isto
acontece também entre quem está são e entre quem está doente: O primeiro saboreia o alimento,
trabalha com mais energia, toma prazer em divertir-se, em passear, em conversar; o enfermo se
desagrada do alimento, não sente força para trabalhar, se aborrece das diversões, estragam lhe
as conversas, tudo lhe faz mal;

A doença mudou sua natureza, seus atos em dor. Agora supõe que
o enfermo voltasse ao vigor de sua saúde, se restabeleceria nas forças, no gosto, em tudo. Assim,
a causa de sua enfermidade tem sido o sair de minha Vontade; o retornar e fazê-la reinar será
causa de que volte a ordem da felicidade nos atos humanos, e fazer que minha Vontade tome sua
atitude nos atos da criatura. E enquanto oferece seu trabalho, o alimento que toma, e tudo o que
faz, desde dentro daqueles atos humanos brota a felicidade colocada por meu Querer nesses atos
e sobe a seu Criador para dar-lhe a glória de sua felicidade. Eis por que onde reina minha Vontade,
não só me chama junto com Ela a agir, mas dá-me a honra, a glória daquela felicidade com a qual
investimos os atos humanos, e ainda que a criatura não possua toda a plenitude da unidade da luz
da minha Vontade, desde que ofereça todos os seus atos ao seu Criador como homenagem e
adoração, como a doente é ela, não Deus, Deus recebe a glória da felicidade de seus atos
humanos. Suponha um enfermo que fizesse um trabalho, ou que preparasse um alimento e o
desse a outro que está são, este que goza a plenitude da saúde não percebe nada, nem do
cansaço daquele trabalho, nem da fadiga que o enfermo sentiu ao fazê-lo, nem o desgosto desse
alimento que teria sentido se o tivesse tomado o enfermo, mas sim goza na plenitude de sua saúde
do bem, da glória e da felicidade que lhe levará aquele trabalho e gosta do alimento que lhe foi
oferecido. Assim o oferecimento das próprias ações purifica, desinfeta as ações humanas e Deus
recebe a glória devida a Ele, e por correspondência faz descer novas graças sobre aquela que
oferece a Ele suas ações".

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